Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESPECIAÇÃO Prof. Dr. Marcos A. N. de Sousa Especiação Anotações de Darwin (1837) Primeira ilustração da especiação nos tentilhões de Galápagos. Especiação Definição: divisão de uma espécie em duas reprodutivamente isoladas. restrição: não é aplicável a espécies sem reprodução sexuada. O evento crucial: isolamento reprodutivo. Seres com relativa baixa complexidade e dotados de reprodução assexuada Bactérias Vírus Então, como se identifica as diferentes espécies desses seres? • por meio de análises morfológicas, bioquímicas, fisiológicas, genética, etc. Especiação O processo de origem de novas espécies é denominado especiação, que pode ser compreendido sob a luz do conceito biológico de espécie, como o aparecimento do isolamento reprodutivo entre duas populações. Esta divisão de populações resulta em unidades evolutivas independentes, que chamamos de espécies. Neste processo dinâmico, as espécies correspondem a estágios provisórios de uma sucessão de gerações de populações em constante diferenciação. Especiação O fato de se utilizar o isolamento reprodutivo como definidor do processo de especiação entre espécies sexuadas se deve a um consenso entre cientistas de que o isolamento reprodutivo promove a independência evolutiva dos táxons. Podemos reconhecer inúmeras unidades taxonômicas no ambiente ao nosso redor que possuem isolamento reprodutivo completo entre elas, embora existam alguns eventos de transferência horizontal de genes. A transferência horizontal de genes é um mecanismo não darwiniano para transferir genes sem o artifício da reprodução (transferência vertical), sendo muito comum em bactérias e archea. No entanto em 2008 foi encontrada transferência horizontal repetida de transposons de DNA em mamíferos e outros tetrápodes, os autores do artigo compararam sequencias de transposons de vários animais, incluindo ratos, morcegos e até marsupiais. De forma surpreendente, os pesquisadores encontraram sequencias idênticas em oito espécies de animais. Transposons são segmentos de DNA que podem se mover dentro de um mesmo genoma fazendo uma cópia de si mesmo e a inserindo em outro local ou “recortando-se” de um local para se inserir em outro ponto do genoma e neste processo podem carregar genes adjacentes e causar mutações. Podem ter surgido nestas espécies por infecções virais. Especiação Especiação Membros de espécies diferentes possuem diferenças genéticas, ecológicas, comportamentais e morfológicas. Como surgem as barreiras (sejam biológicas ou comportamentais) ao intercâmbio de genes entre duas populações? Especiação O surgimento das barreiras podem ser explicado pelos diferentes modos pelos quais as espécies surgem (modos de especiação), e se mantêm (mecanismos de isolamento reprodutivo). Há várias classificações dos processos de especiação. Alguns deles são baseados na relação geográfica entre a população ancestral e as duas populações descendentes (especiação alopátrica, parapátrica e simpátrica.) Outros são qualificados pelos aspectos genéticos, tal como diminuição do fluxo gênico, mutações cromossômicas, poliploidização, inviabilidade dos híbridos, etc. MODELOS DE ESPECIAÇÃO Três modelos principais: 1 Especiação Alopátrica – • vicariante (divisão de populações - espécies) – • peripátrica (isolados periféricos - efeito fundador) 2 Especiação Parapátrica 3 Especiação Simpátrica Evolução de barreiras reprodutivas entre populações que estão geograficamente separadas. A barreira física reduz o fluxo gênico (migração) entre as populações. Esta barreira pode aparecer por mudanças geológicas e geomorfológicas (rios, cursos d'água, cadeias de montanhas, deriva continental, vulcões, etc) ou por eventos de dispersão (deslocamento de populações para locais distantes, dispersão provocada pelo vento, correntes marinhas, etc.) • Alopatria é definida por uma severa redução do movimento dos indivíduos ou de seus gametas entre as populações, e não necessariamente significa uma maior distância geográfica (ex: curso de rio, cânion, etc). Todo biólogo evolucionista concorda que a especiação alopátrica ocorre e muitos sustentam que ela é o principal modelo de especiação em animais (Mayr 1963, Futuyma e Mayer 1980). Especiação Vicariante Ocorre quando duas populações são divididas pelo surgimento de uma barreira extrínseca. Especiação Vicariante Ocorre quando duas populações são divididas pelo surgimento de uma barreira extrínseca. Eurolophosaurus (imagens A e B) que habitam margens opostas do rio São Francisco Especiação Peripátrica (ou alopátrica com “efeito fundador”) Ocorre quando há formação de uma colônia periférica a partir da população original, por dispersão e, após várias gerações, ocorre isolamento reprodutivo. a. Correspondência entre descontinuidade biológica e topográfica. ◦ i) animais aquáticos mostram uma maior diversidade regional em regiões montanhosas onde há sistemas de rios isolados, ◦ ii) Em ilhas, espécies que são homogêneas em termos de variação continental podem divergir em aparência, ecologia e comportamento. b. O Registro fóssil mostra o aparecimento súbito de uma espécie distinta, sugerindo que ela invadiu a partir de uma outra região, na qual ela surgiu (Eldredge, 1971). c. Experimentos de laboratório demonstram que o isolamento reprodutivo incipiente pode se desenvolver entre populações isoladas de Drosophila sp. e Musca domestica. Diane Dodd foi capaz de demonstrar especiação alopátrica por isolamento reprodutivo em Drosophila pseudoobscura após apenas oito gerações usando diferentes tipos de comida, amido e maltose Ocorre sem que haja isolamento geográfico. Neste modelo, as populações se divergem por adaptação a ambientes diferentes dentro de um continuum na faixa de dispersão da espécie ancestral. A adaptação a ambientes/nichos distintos que ocorrem ao longo da grande faixa de dispersão da espécie ancestral parece ser a mais importante etapa neste processo de especiação. Muitas vezes pode ser criada uma zona híbrida entre as duas espécies "incipientes" derivadas, cujos híbridos podem possuir diferentes graus de viabilidade ou fertilidade. Esta zona híbrida pode funcionar como barreira ao fluxo gênico entre as duas espécies que se estão se diferenciando. Podemos observar as primeiras etapas da especiação parapátrica em espécies gramíneas da espécie Anthoxanthum odoratum. Algumas destas plantas vivem próximas a minas onde o solo foi contaminado com metais pesados. As plantas em torno das minas sofreram seleção natural para os genótipos que são tolerantes a metais pesados. Enquanto isso, plantas vizinhas que não vivem em solos contaminados não foram submetidas à seleção para este caráter. Os dois tipos de plantas estão próximas o suficiente para que os indivíduos tolerantes e não tolerantes possam potencialmente fertilizar um ao outro — assim eles parecem cumprir a primeira exigência de especiação parapátrica, de uma população contínua. No entanto, os dois tipos de plantas evoluíram diferentes épocas de floração. Esta mudança pode ser o primeiro passo para cortar inteiramente o fluxo gênico entre os dois grupos. Anthoxanthum odoratum especiação parapátrica É um modelo que não envolve isolamento geográfico em populações habitando a mesma área restrita. Se dá quando uma barreira biológica ao intercruzamento se origina dentro dos limites de uma população, sem nenhuma segregação espacial das "espécies incipientes" (que estão se diferenciando). Se uma simples mutação ou alteração cromossômica (tal como poliploidia) confere um isolamento reprodutivo completo em um passo, a reprodução não terá sucesso, a não ser que haja um endocruzamento (autofertilização ou cruzamento com irmãos, que também podem carregar a nova mutação). Uma hipótese são os casos de seleção disruptiva, em que novas espécies podemsurgir em uma mesma região geográfica. Um exemplo é o da especiação instantânea, por poliploidia, que ocorre em plantas. duas espécies de flores de anêmonas e seus cromossomos. Moscas que vivem no mesmo local, mas se alimentam de frutos diferentes. Alguns mecanismos incomuns envolvem eventos de hibridização entre espécies, quando o isolamento reprodutivo não é completo. Estes mecanismos de especiação são frequentes em algumas famílias de plantas, associados a eventos de aloploidização, isto é, híbridos resultados da combinação de gametas de espécies diploides, que duplicam seu número cromossômico, formando tetraploides viáveis e férteis. No entanto, não é adequado chamar um híbrido recém-formado de espécie, mesmo com isolamento reprodutivo completo de seus parentais, já que o conceito de espécies deve-se aplicar a populações e não a indivíduos. Estes alopoliploides são geralmente isolados reprodutivamente das duas espécies parentais, e podem formar uma população estável na natureza após várias gerações, constituindo então uma nova espécie. Retrocruzamento com uma das espécies parentais Mais comum em plantas; mas pode ser encontrado exemplos em animais. Normalmente a F1 híbrida é pouco viável, mas a introgressão que gera prole F2, F3 etc possibilita equalizar o cariótipo (no caso de híbridos com cromossomos não pareados) e estes indivíduos introgredidos podem também encontrar um nicho alternativo não explorado por nenhuma das espécies parentais, se estabelecendo como uma população viável na natureza. Parece ser o caso do lobo-vermelho, que é uma população introgredida, resultante da hibridização entre lobos-cinza e coiotes. Se a associação entre duas espécies é muito próxima, elas podem sofrer especiação em paralelo. Isso é chamado coespeciação. E especialmente provável de acontecer entre parasitas e seus hospedeiros. Para ver como isso funciona, imagine uma espécie de piolho vivendo em uma espécie de gopher. Quando os gophers se juntam para acasalar, os piolhos têm a oportunidade de mudar de gophers e talvez acasalar com piolhos em outro gopher. A troca de gopher permite o fluxo gênico entre as espécies de piolho. Considere o que acontece com os piolhos se a linhagem de gopher se separar em linhagem A e B: Os piolhos têm poucas oportunidades de trocar de gopher e os piolhos da linhagem A não acasala com os piolhos que vivem na linhagem B. Esse isolamento “geográfico” das linhagens de piolho pode torná-los reprodutivamente isolados e, portanto, espécies separadas. Biólogos evolutivos podem sempre dizer quando linhagens coespeciaram porque a filogenia do parasita irá “espelhar” a filogenia do hospedeiro. Cientistas raramente encontram hospedeiros e parasitas cujas filogenias coincidam exatamente. Entretanto, às vezes as filogenias indicam que coespeciação acontece com algumas trocas de hospedeiros. Filogenias paralelas observadas em hospedeiros e parasitas é uma evidência da coespeciação. O aparecimento de isolamento reprodutivo marca teoricamente a formação de novas espécies de acordo com o Conceito Biológico de Espécie - CBE. No entanto, há vários mecanismos distintos que podem restringir ou impedir o intercruzamento de espécies recém-formadas. Estas barreiras biológicas impedem o fluxo gênico, separando os conjuntos gênicos das unidades evolutivas que chamamos de espécies. Algumas barreiras aparecem antes da cópula, outras antes ou depois da formação do zigoto. Caso haja a formação de híbridos entre espécies reconhecidas pelo CBE, estes geralmente serão inviáveis ou estéreis, pois há uma grande incompatibilidade devido às diferenças genéticas entre espécies, que é chamada de depressão exogâmica. Estas barreiras ao intercruzamento devem aparecer de forma gradual na população, que após algumas gerações podem ser fixadas em todos os membros, impedindo o intercruzamento com outra população relacionada. Portanto, de acordo com o CBE, espera-se que algum mecanismo incipiente de isolamento reprodutivo exista entre subespécies, gerando algum tipo de depressão exogâmica na prole devido à menor inviabilidade ou fertilidade dos híbridos entre estas populações da mesma espécie. Os mecanismos que levam ao isolamento reprodutivo foram classificados por Ernest Mayr em 1993, de acordo o tipo de isolamento e a etapa em que se dá o impedimento ao inter- cruzamento, dividido em dois momentos diferentes: Mecanismos pré e pós copulatórios. Parceiros em potencial não se encontram (isolamento sazonal ou de hábitat). Ex: Pássaros vivem em ambientes diferentes. Parceiros em potencial encontram-se, mas não copulam (isolamento comportamental). Ex: várias espécies de aves que têm rituais ou cantos diferentes durante a corte ou vagalumes que emitem padrões distintos de luminescência que atraem especificamente suas fêmeas. A cópula é tentada, mas não há transferência de espermatozoides (isolamento mecânico). Ex: espécies de libélulas que possuem órgãos copuladores ligeiramente diferentes, que impedem a transferência de esperma. isolamento comportamental Os pássaros jardineiros constroem caramanchões elaborados e os decora com diferentes cores para cortejar as fêmeas. Se duas espécies desenvolvem diferenças em seu ritual de acasalamento, essas podem isolá-las permanentemente e completar o processo de especiação. Os Satin bowerbird (à esquerda) constrói um canal entre varas verticais, e decora com objetos azuis brilhantes, enquanto que o MacGregor’s Bowerbird (à direita) constrói uma torre alta de varas e a decora com pequenos pedaços de carvão. Pênis de libélula Reduzem o completo sucesso dos cruzamentos inter-específicos: Pré-zigóticos A. transferência de espermatozóides ocorre, mas o ovo não é fertilizado (mortalidade gamética, incompatibilidade, etc). Pós-zigóticos b. O ovo é fertilizado, mas o zigoto morre (mortalidade zigótica por incompatibilidade de cariótipos, etc.) c. O zigoto produz uma F1 de híbridos inviáveis ou com viabilidade reduzida (inviabilidade do híbrido) d. Os zigotos dos híbridos da F1 são completamente viáveis, mas parcial ou completamente estéreis ou ainda produzem uma F2 deficiente (esterilidade do híbrido). Esterelidade do híbrido A égua (Equus caballus) possui 64 cromossomos, enquanto que o jumento (Equus asinus) possui 62, resultando em 63 cromossomos nas mulas.
Compartilhar