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1FASCÍCULO JUSTIÇACURSO JUSTIÇA E CIDADANIA CONHECENDO O FUNCIONAMENTO DO JUDICIÁRIO GUSTAVO RAPOSO P. FEITOSA NA SALA DE AULA Copyright © 2018 by Fundação Demócrito Rocha Todos os direitos desta edição reservados a: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 fundacaodemocritorocha.com.br fundacao@fdr.com.br FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência: João Dummar Neto Direção Geral: Marcos Tardin UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerência pedagógica: Viviane Pereira Coordenação geral: Ana Paula Costa Salmin CURSO JUSTIÇA NA SALA DE AULA Concepção e coordenação geral: Cliff Villar Coordenação pedagógica: Ana Cristina Pacheco de Araújo Barros Gerência de marketing e projetos: Ricardo Pinheiro Coordenação adjunta: Rebeca Sabóia Direção de marketing: Cliff Villar Analista de marketing: Sarah Dummar Estratégia e relacionamento: Adryana Joca e Alexandre Medina Direção administrativa: Cecília Eurides Gerência de produção: Gilvana Marques Produção: Ana Luisa Duavy Coordenação de conteúdo: Gustavo Brígido Edição de design e projeto gráfico: Amaurício Cortez Editoração eletrônica: Marisa Marques de Melo Ilustrações: Rafael Limaverde Revisão de texto: Jonas Viana Catalogação na fonte: Edvander Pires Este fascículo é parte integrante do “Curso Justiça na Sala de Aula – Ferramentas Pedagógicas para Difusão e Promoção de Temas e Conteúdos Sobre o Papel da Justiça no Ambiente Escolar, composto por 12 fascículos oferecido pela Universidade Aberta do Nordeste (UANE), em decorrência do contrato celebrado entre Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJ/CE) e a Fundação Demócrito Rocha (FDR), sob o nº 40/2017. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Fundação Demócrito Rocha Ficha catalográfica elaborada por: Francisco Edvander Pires Santos (CRB-3/1212) C984 Curso Justiça na Sala de Aula: ferramentas pedagógicas para difusão e promoção de temas e conteúdos sobre o papel da justiça no ambiente escolar / Gerência pedagógica: Viviane Pereira; coordenação de conteúdo: Gustavo Brígido; ilustrações: Rafael Limaverde. – Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha/Universidade Aberta do Nordeste, 2018. 192 p. : il. color. Dividido em 12 fascículos. ISBN 978-85-7529-868-8 ISBN 978-85-7529-872-5 Concepção, coordenação geral e direção de marketing: Cliff Villar. Coordenação pedagógica: Ana Cristina Pacheco de Araújo Barros. Gerência de marketing e projetos: Ricardo Pinheiro. Coordenação adjunta: Rebeca Sabóia. 1. Direito. 2. Poder Judiciário. 3. Organização judiciária. 4. Tribunais. 5. Ministérios públicos. 6. Defensorias públicas. I. Pereira, Viviane. II. Brígido, Gustavo. III. Limaverde, Rafael. IV. Fundação Demócrito Rocha. V. Universidade Aberta do Nordeste. VI. Título. CDD 340 SUMÁRIO 1- Introdução ............................................................................................................................................... 4 2- Supremo Tribunal Federal ............................................................................................................6 3- Superior Tribunal de Justiça ........................................................................................................8 4- Tribunais de Justiça ..........................................................................................................................9 5- Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais ............................................................... 10 6- Tribunais Superior do Trabalho, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Trabalho e Vara do Trabalho ............................................................................. 10 7- Tribunais Militares............................................................................................................................. 11 8- Justiça Estadual de Primeiro Grau, Juizados Especiais e Turmas Recursais ...12 9- Ministério Público e Defensoria Pública ...............................................................................13 10- Procuradorias Estaduais e Municipais e Advocacia da União ................................14 Síntese do Fascículo ........................................................................................................................... 15 Referências .............................................................................................................................................. 15 Perfi l do Autor ........................................................................................................................................ 15 OBJETIVO DO FASCÍCULO Apresentar a estrutura de funcionamento do Sistema de Justiça, de modo a auxiliar na compreensão sobre as funções e a importância do Judiciário. Este fascículo preparará o estudo para os demais textos. 1 INTRODUÇÃO Se perguntassem quantos tribu- nais o Brasil possui, qual seria sua resposta? Numa realidade de gran- de exposição pública das decisões judiciais e da crescente importân- cia política daquilo que se julga nas cortes, parece muito claro que o Ju- diciário possui uma grande dimen- são. Mas você acreditaria que o Bra- sil possui 91 tribunais. Não estamos falando de tipos de justiça ou de número de juízes. Mas de Tribunais com magistrados com poder de decidir recursos, de reformar sen- tenças de juízes de primeiro grau e de impactar diretamente na vida de milhões de pessoas. Sem dúvida, não se pode asso- ciar a força atual do Judiciário ao nú- mero de tribunais e juízes. Mas para compreender melhor como ela fun- ciona, os limites das suas decisões e o percurso dos processos judiciais precisamos estudar um pouco sobre o grande quadro organizacional do Judiciário brasileiro. Entender toda essa rede de atribuições e competên- cias não consiste em tarefa fácil. Por esta razão, o presente fascículo inicial destina-se a auxiliar o leitor a se situ- ar neste mar de informações legais e institucionais que cercam as análises e notícias sobre a Justiça no Brasil. E para entender a estrutura judiciária nacional precisamos saber como se dá a organização política do Estado brasileiro. O Brasil organiza-se na forma de uma República Federativa, o que signifi ca contar com uma distribuição descentralizada de poder. Ao invés de atribuir todo o poder para um único conjunto de instituições nacionais centralizadas, optamos por assegurar aos entes federados (estados e municípios) uma parcela maior deste poder. As- sim, os estados como Ceará, Piauí, São Paulo ou Rio Grande do Sul possuem uma divisão poderes parecida com a divisão da União Federal, com capaci- dade de legislar, administrar e julgar. Enquanto em Brasília temos uma praça dos três poderes que representa de maneira signifi cativa esta organização (Executivo, Legislativo e Judiciário), nos estados membros também mante- mos esta estrutura espelhada A forma federativa adotada pelo Brasil implica em assegurar a existência das Assembleias Legislativas estaduais, dos Tribunas de Justiça e do Poder Execu- tivo (exercido por um governador). Logo, cada estado brasileiro contará obriga- toriamente com um Tribunal de Justiça (TJ), como órgão de cúpula do Poder Judiciário dos estados. Como existem 27 estados, encontram-se em atuação 27 tribunais estaduais (falaremos mais adiante sobre suas funções e organização). STF STJ TRF VARAS FEDERAIS VARAS ESTADUAIS VARAS DO TRABALHO JUÍZES ELEITORAIS CONSELHO DE JUSTIÇA TRETRETRTTJ TST TSE STM QUADRO RESUMIDO DA ESTRUTURA JUDICIÁRIA NACIONAL 4 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Todavia, a organização judiciária nacional não se explica unicamen- te pelo princípio federativo.Existem também divisões relacionadas às es- pecifi cidades de matérias e pessoas. A mais conhecida destas divisões é a Justiça do Trabalho. Com atribuições muito específi cas relacionas às rela- ções de emprego (trataremos melhor deste assunto adiante) possui 24 tribu- nais e centenas de varas do trabalho espalhadas por todo o país. O número não reproduz exatamente a quanti- dade de estados, pois a criação destas cortes relaciona-se mais diretamente à dinâmica econômica regional e ao volume de ações. Estados como Acre e Rondônia ou Roraima e Amazonas possuem um tribunal para cobrir o território de dois estados, enquanto São Paulo apresenta dois tribunais que cobre separadamente a capital e o interior. Outra divisão interessante decor- re da criação uma justiça especiali- zada, para as ações contra ao União Federal, suas fundações, empresas e autarquias, entre outras competên- cias. Trata-se da Justiça Federal, or- ganizada na forma de cinco regiões judiciais, cada uma com um Tribu- nal Regional Federal. Não se segue exatamente o modelo político das regiões brasileiras, como se pode ob- servar. Estados como Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe submetem-se ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), enquanto Bahia, Piauí e Maranhão vinculam-se ao Tribu- nal Regional Federal da 1ª Região (TRF1). Quando o assunto envolve o processo eleitoral, também temos tribunais espe- cializados para a matéria. Existem no Brasil 27 Tribunais Regionais Elei- torais (TRE), ou seja, uma para cada estado. Um nível acima destes tribu- nais encontra-se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estabelecido em Bra- sília e com poder para julgar, entre outras questões, os recursos oriun- dos dos TREs. As matérias envolvendo os crimes militares, por sua vez, seguem para a Justiça Militar. Quando a questão se relaciona, de maneira sintética, às Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), competem ao braço federal da justiça militar. Quando se tratam de militares dos estados (poli- cias militares e bombeiros militares), há órgãos específi cos ou varas da jus- tiça estadual com competência so- bre tais temas. Por razões históricas, existem apenas três tribunais de Jus- tiça Militar dos estados (Rio de Janei- ro, São Paulo e Minas Gerais). No topo do sistema judicial bra- sileiro estão os tribunais superiores e o Supremo Tribunal Federal (STF). São eles: Superior Tribunal de Justiça (STJ); Superior Tribunal Militar (STM) e Superior Tribunal Eleitoral (TSE). Essa grande rede de tribunais atua e se organiza na forma de níveis co- nhecidos como instâncias. Os juízes que lidam diariamente com os pro- blemas das pessoas, realizam audi- ências e julgam a grande maioria das causas atuam na primeira instância, também chamado de primeiro grau de jurisdição. Com frequência se fala de decisões de um “juiz de primeiro grau”. Ao se usar esta expressão, indi- ca-se que a decisão não foi proferida diretamente por tribunal, mas por um magistrado nos primeiros níveis da carreira. Eles compõem a imensa maioria dos magistrados brasileiros e somavam aproximadamente 18 mil membros até o começo de 2017. Os órgãos judiciários de primeiro grau recebem, em geral, o nome de “vara”, por esta razão ouvimos falar das “varas de família”, “varas do traba- lho” ou “varas federais”. Sempre que essa palavra vier associada ao traba- lho de um juiz, sabemos que se trata de um magistrado atuando no pri- meiro grau de jurisdição. Quando al- guém tem um direito violado, como regra geral, terá seu pedido julgado por um juiz atuando numa vara com atribuições específi cas sobre aquele tipo de caso. As decisões proferidas no chama- do “segundo grau de jurisdição” ou CURSO JUSTIÇA NA SALA DE AULA 5 na segunda instância decorrem do trabalho direto dos tribunais, como o Tribunal de Justiça do Estado do Ce- ará ou Tribunal Regional Federal. Os membros destes tribunais de segun- da instância são chamados de “de- sembargadores” e se encontram em níveis mais avançados da carreira. A maior parte do seu trabalho é julgar recursos apresentados por pessoas que não aceitaram ou consideraram incorretas as sentenças proferidas em primeiro grau. 2 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL O Supremo Tribunal Federal é a corte mais importante do Brasil. Sua função principal consiste em assegurar o respeito à Constituição Federal brasileira. A criação do STF decorreu diretamente do fi m da monarquia e da adoção do mode- lo Republicado, sob forte infl uência do constitucionalismo norte-ame- ricano. Tratava-se de uma inovação importante no cenário de criação de uma federação, organização es- tatal que precisa de uma institui- ção responsável pelo arbitramento dos confl itos entre os diversos esta- dos federados. Ao mesmo tempo, este modelo de corte contemplava a possibilidade do cidadão recorrer ao Judiciário para evitar algumas formas de abuso de poder governa- mental em face dos direitos funda- mentais previstos na constituição. A previsão formal do STF ocor- reu por meio do Decreto no. 510 de 1890, mas a verdadeira criação do tribunal se deu após a promulgação da Consti- tuição Federal de 1891. Em 28 de fevereiro de 1891 a cor- te foi instalada. Na sua forma- ção original contava com quinze juízes indicados pelo Presidente da República e avaliados pelo Senado. Durante a Era Vargas, em 1931 teve o número de membros reduzi- do para 11 juízes, composição que se manteve até 1965, quando o Regime Militar ampliou para 16 o número de magistrados. Esta mudança ocorreu por meio do Ato Institucional no. 2 e visava ampliar o controle dos milita- res sobre o Judiciário, a fi m de evitar que o tribunal interviesse e criasse obstáculos aos atos arbitrários da repressão política. Em 1969, o Ato Institucional no. 6 restaurou o nú- mero de onze m i n i s t r o s , A palavra “vara” muito utilizada na justiça parece estranha para quem não está acostumado com o mundo do direito, mas seu uso tem uma origem bem antiga e curiosa. Os magistrados romanos da antiguidade utilizavam uma espécie de feixe de varas quando circulavam pelas ruas e em meio à população. O bastão simbolizava o poder daquela autoridade e também poderia servir de arma. Com o passar dos séculos, essa “vara” continuou sendo utilizada no direito português, contudo como insígnia da autoridade. Hoje os juízes não portam mais bastões, mas atuam em divisões judiciais conhecidas como “varas”. E aqueles cidadãos que se recusam a comparecer a uma convocação da justiça podem ser conduzidos mediante ordem da autoridade judicial ou “debaixo de vara”. VOCÊ SABIA? 6 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE mudança que veio em conjun- to com a saída forçada de vários membros considerados contrários ao regime militar. Com a nova ordem democrática e a Constituição Federal de 1988, o STF passou a contar com sua atual forma de organização e competências. Na transição para a democracia foram mantidos os mesmos magistrados anteriormente escolhidos durante o regime militar. Os membros do STF são chamados de ministros e ocu- pam seus cargos até completar 75 anos, quando alcançam o tempo da aposentadoria compulsória. A escolha dos ministros é feita pelo Presidente da República entre os brasileiros “com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber ju- rídico e reputação ilibada.” (art. 101, Constituição Federal de 1988). Pode parecer estranho, mas não se exige especifi camente a graduação em Direito para ser ministro do STF. O constituinte estabelece como um dos requisitos o chamado “notável saber jurídico” e não o bacharela- do em Direito.Os nomes indicados pelo Presidente seguem para o Se- nado Federal, onde se sujeitam a uma longa sessão de perguntas e a uma votação que exige a chamada “maioria absoluta”. Com a aposenta- doria de um ministro, cabe ao Pre- sidente no exercício do mandato naquele momento indicar para o Senado um substituto. Há muitas críticas em torno deste modelo de escolha e avaliação, contudo sua organização decorre do sistema de Separação de Poderes. Como se pode perceber, os mais importan- tes membros do Poder Judiciário nacional são escolhidos e avaliados num processo que envolve o Poder Executivo e o Poder Legislativo. avaliar se uma lei ou um ato norma- tivo em sentido amplo viola a Cons- tituição Federal. São as chamadas ações diretas de inconstitucionalida- de e ação declaratória de constitucio- nalidade. Se uma Assembleia Legisla- tiva do Estado, por exemplo, aprovar uma lei que entra em choque com o texto constitucional, caberá ao STF assegurar que isso não ocorra. Outra atribuição de crescente im- portância no cenário político brasi- leiro consiste na competência para julgar os crimes comuns cometidos pelo Presidente da República, Vice- -Presidente, membros do Congresso Nacional, Ministros de Estado, den- tre diversas autoridades nos postos mais altos da República. Entregou- -se, assim, nas mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal a respon- sabilidade para defi nir, em muitos momentos, os destinos do país, com grande potencial para intervir, por meio de suas decisões, nos processos políticos nacionais. A lista de competência é muito grande como se pode ver no artigo 102 da Constituição. Porém, esse enorme feixe de atribuições acaba por sobrecarregar o Tribunal e gerar um volume monumental de ações e recursos nas mãos dos 11 ministros. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Mi- nistros, escolhidos dentre cida- dãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presi- dente da República, depois de aprovada a escolha pela maio- ria absoluta do Senado Federal. O STF possui uma longa lista de atribuições. A mais importante, certamente, consiste em proteger a Constituição. Como decorrência desta função, o Supremo acaba por receber dezenas de milhares de re- cursos todo ano em que as pessoas alegam que seus direitos constitu- cionais foram violados. Estes recursos originam-se de processos que trami- taram em todo o país e tratam de questões pequenas envolvendo jui- zados especiais até grandes causas com impacto de bilhões de reais. Com este mesmo objetivo, diri- gem-se ao STF ações cujo objetivo é Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamen- te, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originaria- mente: a) a ação direta de inconstitu- cionalidade de lei ou ato nor- mativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitu- cionalidade de lei ou ato nor- mativo federal; CONTINUA >> CURSO JUSTIÇA NA SALA DE AULA 7 centrava as questões constitucionais no STF, atribuía ao STJ a competên- cia para as matérias relacionadas à legislação federal e criava tribunais regionais federais (TRFs). 3 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA O Superior Tribunal de Justiça cui- da da uniformização da aplicação das leis federais no território brasilei- ro. O núcleo da sua atribuição con- siste em evitar que uma mesma lei produzida no Congresso Nacional receba aplicações completamente diferentes (ou não seja aplicada) nos diversos estados da federação. Sua origem guarda, assim, estreita liga- ção com a criação da forma federa- tiva de estado e com a existência de uma Justiça Federal. Durante a Monarquia, o Brasil pos- suía uma única Justiça nacional, com juízes integrando uma mesma carrei- ra e tendo como tribunal de cúpula o Supremo Tribunal de Justiça (substi- tuído pelo STF em 1891). Com a Re- pública, criou-se uma Justiça Fede- ral distinta da Justiça Estadual. Esta Justiça Federal deveria julgar causas envolvendo a administração pública federal, a Fazenda Nacional ou os lití- gios que confrontassem mais de um estado. Com o Estado Novo (1937), a Justiça Federal foi extinta e as cau- sas de sua competência transferidas para as varas da Justiça Estadual. So- mente durante o Regime Militar a Justiça Federal foi recriada. Todavia, já em 1946, a nova Constituição pre- viu a criação de um Tribunal Federal de Recursos (TFR). O TFR continuou em funciona- mento até a instauração da nova or- dem constitucional de 1988, sendo sucedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O modelo pensado ao longo dos debates constituintes con- b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vi- ce-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus pró- prios Ministros e o Procurador- -Geral da República; [...] b) o crime político; III - julgar, mediante recurso ex- traordinário, as causas decidi- das em única ou última instân- cia, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionali- dade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de go- verno local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contes- tada em face de lei federal. COMPOSIÇÃO DO STJ – CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros. Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça se- rão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e me- nos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputa- ção ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I - um terço dentre juízes dos Tri- bunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indica- dos em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indi- cados na forma do art. 94. A palavra competência utilizada no campo do Direito pode confundir muitas vezes um leitor não especializado. Não se trata de afi rmar que alguém é hábil ou inábil para realizar certas tarefas. A competência diz respeito à distribuição de poderes e atribuições feitas pela legislação e pela constituição entre os diversos segmentos da Justiça. Um juiz que atua numa “vara de família” tem competência para julgar divórcios e arbitrar pensões alimentícias, contudo é “incompetente” para julgar crimes. VOCÊ SABIA? 8 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE mente às necessidades da Coroa em administrar, vigiar e disciplinar regi- ões de maior importância econômi- ca e política. O deslocamento do eixo de po- der e riqueza no Brasil levou à cria- ção do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro em 1751. Na esteira da transferência da Corte para o Brasil, surgiu um novo Tribunal da Relação no Maranhão em 1813 e outro em Recife em 1821. Com a Independên- cia e a Constituição de 1824, abriu-se a possibilidade de criação de novos tribunais em outras regiões do país, dentre eles, o Tribunal da Relação de Porto Alegre, instalado em 1874, e o Tribunal da Relação da Província do Ceará, estabelecido no mesmo ano. Apesar de representarem o ponto de partida para a criação das cortes estaduais, esses tribunais vincula- vam-se ainda ao modelo de organi- zação da justiça do Império. Somen- te com a República e a criação da Justiça Estadual tornou-se necessá- riocriar um tribunal para cada um dos estados membros. Desde então houve grande variação de nomes, tamanhos e competências, sempre em compasso com as alterações po- líticas e constitucionais do país. Em 1934, a Constituição nomeou as cor- tes estaduais de Corte de Apelação; em 1937, a Constituição adotou a de- signação: Tribunal de Apelação; e so- mente em 1946, assumiu-se a atual nomenclatura: Tribunal de Justiça. Os tribunais de Justiça correspon- dem ao segundo grau de jurisdição ou segunda instância do Judiciário estadual. As decisões proferidas pe- los juízes de primeiro grau (nas va- ras de família, varas criminais, varas da fazenda pública, entre outras) podem ser rediscutidas por meio de recursos dirigidos ao Tribunal de Justiça. Os principais recursos utiliza- dos chamam-se apelação e agravo. Contudo, também é possível buscar nos tribunais de justiça proteção por meio de habeas corpus ou, ainda, de ações como o mandado de seguran- ça, a depender do tipo de direito ata- cado ou ainda de quem é responsá- vel pela ilegalidade. No modelo constitucional bra- sileiro, cabe à Justiça Estadual a maior parte das competências (maioria das questões patrimoniais, familiares, grande parte dos crimes etc.). Todas as competências dos demais ramos da Justiça precisam estar detalhadamente previstas na Constituição e funcionam como ex- ceção, como veremos a seguir. Tudo que não contar com expressa previ- são constitucional segue para julga- mento no Judiciário Estadual. 5 TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS E JUÍZES FEDERAIS A Justiça Federal como nós co- nhecemos hoje ganhou sua forma fi nal na Constituição de 1988. Após 4 TRIBUNAIS DE JUSTIÇA O Tribunal de Justiça (TJ) constitui o órgão máximo do Poder Judiciá- rio estadual. Cada um dos estados possui organização judiciária própria como expressão típica da autono- mia inerente aos entes federados. Não obstante a adoção do modelo federativo ter ocorrido somente com a República, verifi ca-se que vários tri- bunais estaduais apresentam datas de surgimento anteriores ao fi m da Monarquia. Isso se deve aos desdo- bramentos da história que deu ori- gem ao sistema judicial brasileiro e encontra raízes mais longínquas na estrutura colonial portuguesa. Em 1609, Portugal estabeleceu em Salvador o Tribunal da Relação com competência para julgar recur- sos e apelações, além de múltiplas funções não tipicamente judiciais. Dentro dos domínios portugueses, foram criados outros tribunais seme- lhantes que se relacionavam direta- CURSO JUSTIÇA NA SALA DE AULA 9 ORGANIZAÇÃO DOS TRFs Tribunal Regional Federal da 1ª Região: AC, AM, AP, BA, DF, GO, MA, MG, MT, PA, PI, RO, RR Tribunal Regional Federal da 2ª Região: ES, RJ Tribunal Regional Federal da 3ª Região: MS, SP Tribunal Regional Federal da 4ª Região: PR, RS, SC Tribunal Regional Federal da 5ª Região: AL, CE, PB, PE, RN, SE ser extinta durante o Estado Novo (1937), foi gradualmente reconstruí- da depois da redemocratização de 1946, com o estabelecimento do TFR. Todavia, somente no Regime Militar ressurgiu a Justiça Federal de primeiro grau. Seu reestabele- cimento derivou, em grande medi- da, de um esforço para aprimorar a gestão das questões relacionadas à arrecadação de tributos federais e auxiliar a União no tratamento dos litígios em que fi gurava como parte. O Judiciário Federal organiza-se na forma de Tribunais Regionais Fe- derais, com jurisdição sobre vários estados. Os juízes de primeira ins- tância ou de primeiro grau que atu- am nestas varas têm como principal competência o julgamento de cau- sas em que a União Federal, autar- quias federais ou empresas públicas federais forem interessadas. A essa competência se juntam questões envolvendo indígenas, tráfi co inter- nacional, estrangeiros, ilegalidades cometidas por autoridades federais, entre outras. Getúlio Vargas, e se inser ia muito diretamente n o ambiente conturbado de reformas sociais e po- líticas que deveriam prepa- rar o país para um cenário de maior desenvolvimento econô- mico, crescimento das cidades e expansão do trabalho livre industrial nos centros urbanos. Na sua concepção inicial, a Justi- ça do Trabalho vinculava-se ao Poder Executivo, ou seja, não fazia parte da estrutura do Poder Judiciário bra- sileiro. A primeira instância era for- mada pelas Juntas de Conciliação e Julgamento, a segunda instância pe- los Conselhos Regionais do Trabalho e a terceira instância pelo Conselho Nacional do Trabalho. O modelo pre- via uma composição paritária, com a presença de representantes dos trabalhadores e dos empregado- res, bem como de juízes togados ou alheios aos interesses das partes. Somente com o fi m do Esta- do Novo e com o advento da nova Constituição em 1946, a Justiça do Trabalho passou a integrar os qua- dros do Poder Judiciário. Os Conse- lhos regionais foram transformados em Tribunais Regionais do Trabalho e o Conselho Nacional converteu-se em Tribunal Superior do Trabalho. No primeiro grau, as causas eram julgadas nas Juntas de Conciliação e Julgamento composta por um re- presentante dos trabalhadores, um representante patronal e por um juiz togado. Em 1999, por meio da Emen- da Constitucional nº 24, extinguiu-se a fi gura do juiz classista, que repre- sentava patrões ou empregados, e Os recursos contra as decisões pro- feridas por juízes federais de primei- ro grau seguem para o TRF. O Ceará submete-se à jurisdição do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, situ- ado em Recife. Esses tribunais têm competência para analisar recursos, mas também analisam ações em pri- meiro grau, como nos casos de crime cometido por juiz federal, de manda- do de segurança contra atos de juízes federais, dentre outras competências. A maioria das pessoas somente conhece a Justiça Federal quando precisa ingressar com ações contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), contra a Caixa Econômica Fe- deral (CEF) ou contra alguma outra instituição federal. Nesses casos, as ações serão ajuizadas na justiça fede- ral de primeiro grau, tendo em vista que são, em linhas gerais, entidades vinculadas ou pertencentes à União. 6 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO E VARA DO TRABALHO A primeira metade do século XX foi marcada por grandes confl itos ar- mados internacionais e pela rápida transformação no mundo do traba- lho. O Brasil não passou ao largo des- sas agitações e mudanças, na medi- da em que avançavam os processos de urbanização e industrialização. A criação da Justiça do Trabalho ocor- reu em 1941, durante o governo de 10 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE as Juntas foram convertidas em Varas do Trabalho, comandadas por um Juiz do Trabalho. As Varas do Trabalho possuem como principal competência o julgamento dos confl itos envolvendo relações de trabalho, como disputas sobre paga- mento de hora extra, férias, décimo terceiro salário, entre outras verbas (para conhecer as competências da Justiça do Trabalho, recomenda-se a leitura do artigo 114 e seguintes da Constituição Federal de 1988). Trata- -se de uma justiça bem próxima do cotidiano das pessoas, especialmen- te dos mais pobres. Os recursos relacionados às deci- sões de primeiro grau da Justiça do Trabalho seguem para os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT). O Brasil conta com 24 tribunais regionais do trabalho. A maioria dos estados pos- sui um TRT com competência sobre todo o seu território, todavia alguns estados menores ou com menos mo- vimentação processual são abrangi- dos em conjunto por um único TRT, como Acre e Rondônia (TRT14), Pará e Amapá (TRT8). O caso de São Pau- lo segue em sentido oposto. No mes- mo estado,existem dois tribunais, um na cidade de Campinas (TRT15), com competência para o interior, e outro na cidade de São Paulo (TRT2), com competência para a capital. Em Brasília, por sua vez, situa-se o Tribunal Superior do Trabalho (TST) cuja atribuição mais importante con- siste em manter a uniformidade da aplicação da legislação trabalhista no território brasileiro. Evita-se, assim, que o direito do trabalho receba apli- cações completamente divergentes em diferentes cidades ou estados. 7 TRIBUNAIS MILITARES Um dos ramos menos conheci- dos do Judiciário é a Justiça Militar. Esta justiça especializada dedica-se, principalmente, ao julgamento dos crimes militares previstos no Código Penal Militar. As características pe- culiares das organizações militares, como o Exército e a Marinha, sempre exigiram um tratamento diferencia- do, especialmente quando se está diante de questões que podem re- percutir futuramente na hierarquia e disciplina das corporações. O Brasil possui uma Justiça Militar da União, com competência para tra- tar, em linhas gerais, dos casos envol- vendo militares da Marinha, Exército e Aeronáutica, e uma Justiça Militar Estadual dedicada aos casos envol- vendo policiais e bombeiros milita- res. A chamada “Justiça Castrense” de primeiro grau é exercida no âmbito da União por meio dos Conselhos de Justiça compostos por quatro ofi ciais (militares) e um juiz (de direito) audi- tor. Estes conselhos são distribuídos dentro do território brasileiro em di- visões chamadas de Auditorias. E as Auditorias, por sua vez, agrupam-se em Circunscrições Judiciárias Milita- res (CJM). As decisões proferidas em primeira instância podem ser reava- liadas por meio de recursos remetidos ao Superior Tribunal Militar (STM). No âmbito estadual, a Justiça Militar apresenta forma assemelha- da, com a atuação e o julgamento por meio dos Conselhos de Justiça (compostos por militares e um juiz) ou por meio de um juiz civil isola- damente, dependendo da natureza do caso. Os recursos contra as suas decisões seguem para o Tribunal de Justiça Militar nos estados em que eles existem (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) ou para os Tri- bunais de Justiça Estaduais. 8 JUSTIÇA ESTADUAL DE PRIMEIRO GRAU, JUIZADOS ESPECIAIS E TURMAS RECURSAIS Quando vivenciamos problemas cotidianos que exigem a busca pela Justiça, precisamos, na maioria das vezes, de uma decisão ou da media- ção feita no âmbito do primeiro grau CURSO JUSTIÇA NA SALA DE AULA 11 de jurisdição. Juizados especiais (an- tigos juizados de pequenas causas), varas de família ou varas cíveis são divisões judiciais que tratam de pro- blemas como relações de consumo, pensões e divórcios ou indenizações e reparações. Para entender melhor como esta organização funciona, precisamos em primeiro lugar apren- der um pouco sobre a nomenclatura. A primeira coisa que precisa- mos aprender é o signifi cado do termo“comarca”. A comarca corres- ponde aos limites territoriais sobre os quais incidem o poder de deci- são dos juízes de primeiro grau. A área de um pequeno município, normalmente, corresponde ao limi- te da comarca, seja a cidade gran- de ou pequena. Fortaleza inteira corresponde a uma única comarca e a cidade de Guaramiranga, muito menor, também. Por razões de ra- cionalização administrativa relacio- nada ao movimento processual e à disponibilidade de recursos fi nan- ceiros, também é possível encontrar mais de uma cidade agrupada na forma de uma só comarca. A dimensão da cidade e a quan- tidade de processos pode fazer com que a comarca tenha apenas um juiz, com competência para julgar quase todo tipo de matéria. Por sua vez, em comarcas maiores, ocorre a divisão do trabalho em múltiplas varas. Em comarcas grandes, como Fortaleza, há várias dezenas de va- ras especializadas em que o juiz trata apenas de um conjunto deter- minado de matérias ou pessoas. As chamadas Varas da Fazenda Públi- ca, por exemplo, lidam, entre outros temas, com ações movidas contra o estado do Ceará. Se alguém pre- tende litigar contra a administração pública estadual, precisa se utilizar de uma dessas varas especializadas. E como saber a quem procurar? A resposta sobre onde e a quem re- correr depende de conhecimentos técnicos especializados. Somente os advogados saberão corretamente in- dicar aos interessados qual caminho seguir. Conhecer essa subdivisão aju- da, contudo, a entender como os lití- gios são encaminhados e resolvidos dentro da estrutura judiciária. Todavia, existe um espaço na justi- ça dedicado e aberto ao público em geral: os juizados especiais. A Lei nº 9.099/95 criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais (JECC), como um aprimoramento dos antigos juizados especiais de pequenas causas, cria- dos em 1984. Com um modelo guia- do por princípios como oralidade, simplicidade e informalidade, per- mitiu o acesso à justiça sem o auxílio de advogados (em causas de até 20 salários-mínimos). Criou-se, assim, um espaço para o tratamento de todo um conjunto de litígios que possivelmente jamais chegariam ao Judiciário. Brigas de vizinhos, problemas com produtos, reclamações contra prestadoras de serviços diversos, colisões de veícu- los, dentre outros casos, passaram a chegar aos milhões nestes juizados. Aos poucos, eles se tornaram muito populares e, em alguma medida, so- freram com seu próprio sucesso. De todo modo, verifi ca-se a exis- tência de uma ampla rede de Juiza- dos Especiais em todo o país, atuan- do especialmente em questões de menor valor, cuja solução não demandaria instrumen- tos jurídicos e probatórios mais complexos, e em infrações pe- nais de menor potencial ofensivo. A possibilidade de ir diretamente ao juizado para apresentar de pronto a sua demanda se mostra um instru- mento bastante interessante para a maioria das pessoas que não pode pagar um advogado ou, pelo valor, não teria vantagens no litígio. LEI 9.099/95 Art. 61. Consideram-se infra- ções penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Por suas características, o legis- lador optou por manter os juizados num sistema relativamente distin- to das varas tradicionais da Justiça. Os recursos dentro dos juizados são muito limitados e são julgados por uma Turma Recursal composta por magistrados de primeiro grau. Essas turmas funcionam como um equiva- lente dos Tribunais de Justiça, contu- do não possuem desembargadores em seus quadros e se organizam de maneira mais simples. 12 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE que não conseguiriam arcar com os custos do processo sem grave prejuí- zo para seu próprio sustento, ou ainda grupos mais vulneráveis como idosos, pessoas com defi ciência, entre outros. As questões que envolvem a com- petência da Justiça Estadual devem ser encaminhadas por meio da De- fensoria Pública do Estado, enquan- to os problemas e litígios sujeitos à competência da Justiça Federal con- tam com a assistência da Defensoria Pública da União.9 MINISTÉRIO PÚBLICO E DEFENSORIA PÚBLICA O Sistema de Justiça brasileiro con- ta com um grande grupo de institui- ções e agentes públicos que atuam, direta ou indiretamente, na garantia dos direitos dos cidadãos e na preser- vação do interesse público. Uma das mais importantes instituições dedica- das à defesa dos direitos dos cidadãos é a Defensoria Pública. O seu atual de- senho nasceu com a Constituição Fe- deral de 1988, passando a contar com estrutura e corpo próprio permanente dedicado à defesa dos necessitados. Num passado não muito distante, quem precisasse ingressarna justiça para defesa dos seus direitos e não ti- vesse recursos fi nanceiros difi cilmente encontraria assistência jurídica gratui- ta. Por força da previsão constitucio- nal, considera-se um dever do Estado oferecer assistência gratuita a todos aqueles que precisem de amparo jurídico e comprovem que não dis- põem de recursos para tal. Não se tra- ta somente de uma assistência para os muito pobres, pois o conceito mais amplo de necessitado inclui pessoas Outra instituição que ganhou grande dimensão com a Constitui- ção de 1988 foi o Ministério Público (MP). O constituinte decidiu atribuir ao MP a reponsabilidade pela garan- tia, em sentido amplo, dos interesses CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 5º. [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica in- tegral e gratuita aos que com- provarem insufi ciência de re- cursos; Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, es- sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, funda- mentalmente, a orientação ju- rídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coleti- vos, de forma integral e gratui- ta, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. dos cidadãos e dos valores básicos do regime democrático. Ao longo da história brasileira, sua função se encontrava associada ao papel de acusador nos processos criminais ou de um guardião da lei no curso das demandas judiciais (função chama- da de “custos legis”, na linguagem jurídica). Essa posição relativamente modesta se manteve, mas foi acres- cida de enormes responsabilidades. A nova posição do MP dentro do Sistema de Justiça pode ser clara- mente percebida na sua constante presença em ações e investigações envolvendo o mau uso de recursos públicos ou na defesa de direitos coletivos de grande impacto para a população. No âmbito estadual, a carreira dos Membros do Ministério Público se inicia com a função de Promotor de Justiça, com atuação em comarcas pequenas, normalmente no interior do país. Após vários anos de traba- lho, depois de circular por diversas comarcas, setores do MP e varas es- pecializadas, é possível chegar à po- sição de Procurador de Justiça. Este cargo equivale em termos profi ssio- nais à posição de Desembargador dentro do Judiciário Estadual. Já na esfera da União, a carreira dos membros do MP se iniciar como Procurador da República, normal- mente com atuação nas varas fede- rais (primeiro grau de jurisdição). Com o avanço na carreira, podem se tornar Procurador Regional da República e Subprocurador-Geral da República. O MP também é composto pelo Ministério Público do Trabalho, com procuradores que atuam no âmbito da Justiça do Trabalho, e pelo Minis- tério Público de Contas, com mem- bros que atuam nos diversos tribu- nais de contas do país (TCU, TCE etc.). CURSO JUSTIÇA NA SALA DE AULA 13 10 PROCURADORIAS ESTADUAIS E MUNICIPAIS E ADVOCACIA DA UNIÃO A representação judicial da União, dos estados, dos municípios e de toda uma cadeia de entidades relacionadas a estes é realizada, na maioria dos casos, por procuradores que atuam na chamada “advocacia pública”. Apesar de muitas dessas funções serem ocupadas por “pro- curadores”, os advogados não fazem parte do Ministério Público. Quan- do alguém ingressa com uma ação contra o estado do Ceará ou contra o município de Fortaleza, no lado oposto, haverá um procurador do estado ou um procurador do mu- nicípio realizando a defesa judicial destes entes. Na esfera federal, a defesa judicial da administração di- reita e indireta é realizada por car- reiras como a da Advocacia Geral da União, Procuradoria da Fazenda Na- cional e Procuradoria Federal. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essen- cial à função jurisdicional do Es- tado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses so- ciais e individuais indisponíveis. O Tribunal de Contas da União e os tribunais de contas dos estados, apesar do nome, não fazem parte do Poder Judiciário. Outra confusão acontece com o Ministério do Trabalho. Muitas pessoas falam que “vão ao Ministério do Trabalho”, quando, na realidade, se referem à Justiça do Trabalho. Também não integra o Judiciário a chamada “polícia judiciária” que é a Polícia Civil. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA A Ementa Constitucional nº 45 de 2004, que tratava da Reforma do Judiciário, trouxe como uma das suas principais mudanças a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Coube a este Conse- lho a tarefa de criar, implementar e acompanhar políticas públicas para o Sistema de Justiça brasilei- ro, além de realizar o controle ad- ministrativo e disciplinar dos atos da Justiça em todo o país. Desde sua criação, o CNJ vem realizando iniciativas destinadas a compre- ender melhor o funcionamento da máquina judiciária e elaboran- do planos destinados a solucionar problemas. Esse conjunto de políticas trou- xe para o Judiciário iniciativas como a expansão do uso de novas tecnologias novas tecnologias, os processos judiciais eletrônicos (sem papel), o fortalecimento da me- diação e da conciliação, o fi m do nepotismo (prática de empregar familiares), entre outras inovações. Outro lado importante da atuação do CNJ relaciona-se à punição de juízes que cometem desvios. Se os magistrados falham e se os tribu- nais não forem efi cazes na punição, caberá ao CNJ a punição discipli- nar. A competência do CNJ na cor- reção de equívocos e ilegalidades estende-se inclusive para os atos administrativos dos tribunais, o que gera um efeito potencialmente transformador. Sobre o CNJ falare- mos adiante em outro fascículo. VOCÊ SABIA? 14 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE SÍNTESE DO FASCÍCULO O Brasil possui 91 tribunais. A organização federa- tiva implica na existência de um Poder Judiciário es- tadual em cada um dos estados da federação, com competência geral. O Tribunal de Justiça é a mais alta instância da Justiça estadual. No âmbito das ações contra a União, suas autarquias e fundações, em al- guns crimes específi cos e em outros casos previstos na Constituição, existe a Justiça Federal. O Tribunal Regio- nal Federal atua na segunda instância da Justiça Fe- deral. A relações de emprego seguem para a Justiça do Trabalho, composta de varas do trabalho, Tribunal Regional do Trabalho e Tribunal Superior do Trabalho. Os crimes militares são julgados na Justiça Militar, que tem como tribunal máximo o Superior Tribunal Militar. A uniformização da aplicação da lei federal é feita pelo Superior Tribunal de Justiça e a garantia da aplicação da Constituição Federal é realizada, em última instân- cia, pelo Supremo Tribunal Federal. PERFIL DO AUTOR Gustavo Raposo Pereira Feitosa Graduado em Direito pela UFC, mestrado em So- ciologia e doutorado em Ciências Sociais pela UFC. Atualmente é professor Titular do Programa de Pós- -Graduação em Direito Constitucional - Mestrado e Doutorado - e do Centro de Ciências Jurídicas da Uni- for. É professor adjunto de Direito Processual Civil na UFC. Coordena o Mestrado Profi ssional em Direito e Gestão de Confl itos da Unifor. Atuou como “Professeur Invité na Université du Havre” (França). Foi Coordena- dor de Pesquisa do Centro de Ciências Jurídicas da Unifor. É editor do periódico Pensar - Revista de Ciên- cias Jurídica, qualifi cado como B1 no sistema Qualis- -Capes. Lidera o grupo de Pesquisa “JET - Justiça em Transformação”. Atua desde 2004 como mediador profi ssional e como instrutor e formador de novos me- diadores. Tem experiênciana área de Direito, com ên- fase em Reforma e Transformação do Sistema de Jus- tiça, Gestão de Confl itos, Magistratura e Democracia, Direitos Humanos, Política e Segurança Internacional, Ciência Política, Políticas Públicas e Sociologia Jurídi- ca, atuando principalmente nos seguintes temas: di- reitos humanos, “democratização, reforma do Judici- ário e do processo”, magistratura, segurança nacional e internacional, governo eletrônico e novas metodolo- gias para Direito e para a Justiça. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Disponí- vel em: <http://www.cnj.jus.br>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Bra- sil de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. Superior Tribunal Militar – STM. Disponível em: <https://www.stm.jus.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. Supremo Tribunal Federal – STF. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho – 2ª Região – TRT2. Disponível em: < http://www.trtsp.jus.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho – TST. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2018. BRASIL. LEI Nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 15 de abril de 2018. CEARÁ. Tribunal de Justiça do Estado do Ceará – TJCE. Disponível em: <http://www.tjce.jus.br/>. Acesso em: 15 de abril de 2018. KOERNER, Andrei. Judiciário e cidadania na construção da República Brasileira. São Paulo: Hucitec; Departamento de Ciência Política, USP, 1998. SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial – A Suprema Corte da Bahia e seus Juízes: 1609- 1751. São Paulo: Perspectiva, 1979. Apoio Realização Promoção
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