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ECONOMIA POLÍTICA Filipe Prado Macedo da Silva Globalização Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o processo de globalização desde a sua origem. Reconhecer a globalização em seu processo histórico de desenvol- vimento capitalista. Identificar as influências atuais presentes no processo de globalização. Introdução O fenômeno da globalização, também denominado mundialização ou internacionalização, foi determinante no processo histórico de desen- volvimento capitalista, em especial, após a Revolução Industrial. Nesse contexto, a construção de mercados globais possibilita que o capital seja acumulado e reproduzido com mais rapidez e com maior escala. É isso que vai fazer com que a globalização, nos dias atuais, ainda que com problemas sociais e políticos, continue sendo importante para o capitalismo. Neste capítulo, você conhecerá o processo de globalização desde a sua origem, entre os séculos XV e XVII, reconhecendo-o em seu pro- cesso histórico de desenvolvimento capitalista e identificando as suas influências atuais. O processo de globalização desde a sua origem A globalização, também chamada de mundialização e internacionalização, da economia não é algo novo no mundo. A humanidade, desde sempre, buscou e continua buscando estabelecer interconexões com outros humanos locali- zados em espaços geográfi cos mais longínquos. Disso, advém a ideia de que esse processo de integração tenha iniciado de maneira mais consciente e se sistematizado no início da primeira modernidade europeia. A primeira modernidade europeia refere-se a um período que se inicia no ano de 1.500 d. C., coincidindo com o início da expansão dos impérios euro- peus pelo mundo (da época). Esse foi o período marcado pelo mercantilismo e pelo colonialismo europeu. Assim, a origem da globalização situa-se entre os séculos XV e XVII, quando se constituem os primeiros impérios transoceânicos europeus — como o Império Português, o Império Espanhol, o Império Britânico, o Império Francês e o Império Holandês, para citar os mais importantes (MARTÍN- -CABELLO, 2013). São eles que gerenciam e desenvolvem as primeiras rotas com caráter verdadeiramente planetário. Nessa primeira fase da globalização, ocorre uma grande intensificação do comércio de matérias-primas, como o ouro, a prata, o café, o chá, o café, o algodão, entre outros. Esse movimento acontecia em direção à Europa, onde as matérias-primas eram transformadas em produtos manufaturados que seguiam em direção às colônias europeias espalhadas pelas Américas, pela Ásia e pela África. Nesse momento, a mundialização do comércio era resultado de grandes avanços nos transportes da época. Melhoras nos navios (ou barcos à vela) e nos instrumentos de navegação foram determinantes na facilitação dessa interconexão, e esse avanço dos transportes não era apenas de mercadorias, mas incluía igualmente o transporte de pessoas — com destaque para o co- mércio internacional de negros africanos, que totalizou cerca de 12 milhões de escravos que se deslocaram da África para as Américas — tudo em navegações europeias (MARTÍN-CABELLO, 2013). Tudo isso originou-se da própria propensão de troca dos seres humanos com que a modernidade europeia ampliou-se a partir de suas “novas” instituições — conectando comercialmente os impérios da Europa com as partes mais distantes do planeta. Em outras palavras, o desejo dos seres humanos e as instituições com forma e substância para viabilizar o intercâmbio foram determinantes para a origem da globalização. Isso revela que a origem do processo de globalização só foi possível a partir do desenvolvimento de uma dimensão técnica, capaz de sistematizar o intercâmbio comercial e, logo, detonar o processo de acumulação capitalista primitivo (ou originário). Globalização2 Além da dimensão comercial ou econômica, essa fase originária da globa- lização foi viabilizada também por aspectos políticos e culturais. Mas em que sentido? Os impérios europeus, sem dúvida, induziram por inúmeras razões o surgimento dessas primeiras rotas transoceânicas de trocas comerciais. Sendo assim, no aspecto político, desenvolveram-se as estruturas de- mocráticas, o fortalecimento das leis e o controle imperial da violência física; no aspecto cultural, a secularização da vida e o desenvolvimento do individualismo. Logo, a globalização foi viabilizada a partir de um modelo civilizatório que deveria ser levado a todo o planeta — seja no Ocidente ou no Oriente. É importante destacar que, nesse período — entre o século XV e XVII —, a modernidade europeia produzia um conjunto variado de transformações socioeconômicas de grande complexidade. Primeiro, o contexto já revelava as introdutórias condições de industrialização — a manufatura avançava a passos largos e com uma expansão tecnológica e energética jamais vista (BECK, 1999). Segundo, a manufatura e os primeiros passos da industrialização alimentavam o processo de acumulação primitiva dos capitais — criando as condições para, no futuro, os burgueses se converterem em capitalistas. Esse processo ainda levaria pelo menos mais um século, mas foi na origem da globalização — ou seja, nesse momento — que se constituíram as bases históricas para que o processo alcançasse o nível atual. O terceiro aspecto refere-se à formação dos primeiros Estados nacionais e de uma vigilância forçosa a partir da constituição do poder militar. Esse elemento garantiria a segurança necessária para o progresso do processo de globalização, que exige ordem e garantias para que se realize em longas dis- tâncias. Não seria possível que as navegações comerciais funcionassem sem a garantia dos poderes militares dos impérios da época, dado que os mares estavam repletos de riscos. Tudo isso somado permitiu o que Adam Smith observou em sua obra inaugural da economia como uma ciência. A internacionalização das manu- faturas, o progresso dos transportes, a garantia de um poder central sobre os lucros e as propriedades privadas (seja a propriedade de produção e a própria produção) garantiram o surgimento da “divisão internacional do trabalho” (MARTÍN-CABELLO, 2013, p. 10). 3Globalização Alguns estudiosos — historiadores, geógrafos ou economistas — afirmam que o pro- cesso de globalização é algo muito antigo e que surgiu desde as primeiras civilizações humanas. Nesse contexto, a globalização seria um fenômeno já observado desde 400 a. C. Aqui, o significado de globalização seria muito mais impreciso — ou simples —, dando ênfase somente à capacidade de intercambiar bens e informações a partir de seres humanos. A ênfase estaria no comércio como motor e razão das interações entre civilizações relativamente distantes. Isso já ocorria desde os primórdios, com a agricultura e a pecuária primitiva. Por exemplo, é habitual mencionar nesse argumento a extensa rota da seda entre o Oriente e o Ocidente, ou os intercâmbios de cobre ou estanho durante a Idade do Bronze. Ambos os exemplos citados envolviam rotas comerciais de milhares de quilômetros. Outros autores descrevem que, na antiguidade greco-romana, já existia a consciência de uma crescente interconexão global, pelo menos nos centros dos impérios. Logo, já existia um mundo em que as barreiras da geografia se diluíam com as interconexões entre os seres humanos e as suas mercadorias (MARTÍN-CABELLO, 2013). Em suma, a origem da globalização é marcada por um conjunto de avan- ços de dimensões institucionais. Mesmo que os aspectos culturais sejam importantes, foram as garantias institucionais que possibilitaram os avanços mercantis da globalização. Como já citamos, como seria possível um mer- cado de escravos sem qualquer garantia? Qual seria o burguês da época que investiria seu ouro e sua prata em um comércio sem qualquer retorno? Como comerciantes teriam força legal e militar para transportar mercadorias por mares revoltos, abertos e perigosos? As respostas paraessas perguntas — e, logo, para entender a globalização como fenômeno que nascia — passam pelo surgimento dos impérios europeus, sob a forma de Estados nacionais. Essa lógica ao longo da história — até os dias de hoje — foi aprimorada, em virtude dos riscos envolvidos em qualquer relação de longo alcance em um mundo diverso politicamente, economicamente, socialmente e culturalmente. Globalização4 A globalização em seu processo histórico de desenvolvimento capitalista O processo histórico de desenvolvimento capitalista envolve duas fases da globalização: uma que ocorreu entre os anos 1870 e 1914 e outra fase, de 1915 até 1980. É a fase entre a Primeira Revolução Industrial e a Segunda Revolução Industrial, justamente, a época em que o capitalismo fi nca suas raízes em todos os continentes do planeta. Ambos os períodos de globalização foram marcados pela grande aceleração dos mecanismos de troca e de comércio, ainda que ligados a modus operandis arcaicos. A força dos tratados comerciais assinalava esse período, ainda com resquícios do colonialismo. Nascia a era do imperialismo, que seria liderado pelos EUA. Vejamos, a seguir, a diferença entre ambas as fases da globalização (BENKO, 2002). Primeiro, é importante frisar que a globalização da dimensão que a conhe- cemos hoje teve seu ponto de partida na Revolução Industrial. Isso quer dizer que ela está diretamente ligada às melhorias físicas geradas pelo progresso socioeconômico da industrial: isso inclui, por exemplo, a máquina a vapor, que permitiu o uso de embarcações a vapor e as locomotivas. Na época, esses dois meios de transportes foram essenciais para detonar o processo de mundialização da economia europeia. Em outras palavras, as embarcações a vapor intensificaram o comércio in- ternacional e as locomotivas, o comércio intranacional (MARTÍN-CABELLO, 2013). Além disso, o avanço dos meios de transporte, com o avanço dos meios de comunicação (telegrafo, telefone, etc.), proporcionou a expansão do trânsito (ou a migração) de pessoas — sobretudo, da Europa para as Américas. Dados da época revelam que o comércio mundial cresceu 5 vezes mais, e o transporte de mercadorias (por oceanos) quase 3 vezes mais. No que se refere ao movimento de pessoas, por exemplo, entre 1820 e 1920, calcula-se que somente os EUA recebeu mais de 30 milhões de imigrantes, em sua maioria do continente europeu. A Europa ainda era um continente central, mas o mundo estava maior para as ambições imperiais dos povos europeus. 5Globalização Foi ao longo da história que o capitalismo teceu as suas principais características. A transição do feudalismo para o capitalismo deu início ao desenvolvimento e à evolução gradual do modo de produção capitalista. Uma das fases do capitalismo é aquela em que o capitalismo torna-se essencialmente financeiro. Esse capitalismo financeiro surgiu com o avanço do grande capital industrial. O capital financeiro passou a ter um importante papel na produção industrial, em especial, para os bancos, que eram capazes de financiar as expansões produtivas, as fusões e as incorporações. Todas essas estratégias ampliavam ainda mais a monopolização ou a oligopolização de diferentes setores da economia. É nesse período, a partir de 1945, que acontece a expansão em nível mundial dos mercados de capitais. Ou seja, não bastava somente produzir, era fundamental o desenvolvimento de mercados aglutinadores das mais diferentes acumulações de capital. Juntos, esses variados capitais produziriam mais e mais acumulação, levando o capitalismo a um novo patamar de expansão. Essa fase ainda prossegue, mas associada ao novo capitalismo informacional (SANDRONI, 2005). Sintetizando, o capitalismo está cada vez mais “virtualizado” e cada vez menos “realizado”. Isso não quer dizer que o mundo “real” ou a economia “real” não são importantes, mas que, claramente, ao longo das últimas seis décadas, perderam o protagonismo que tinham da Revolução Industrial até o final da Segunda Guerra Mundial. Na segunda fase, de 1915 até 1980, as transformações do capitalismo são mais intensas e, por ajuste, as transformações do movimento de mundialização ou internacionalização da economia são tão intensas. É nesse período que ocorrem transformações na lógica do capitalismo, nos modelos econômicos, nos meios de transporte e no próprio processo de industrialização. Tudo isso faz com que o mundo se encolha mais ainda em relação às trocas comerciais e aos movimentos de pessoas. É a expansão do movimento globalizante que possibilita a conversão do capitalismo comercial em um capitalismo industrial. O núcleo duro do pro- cesso de acumulação de capitais passa da atividade mercantil de compra e venda para a científica e complexa atividade de produzir em larga escala bens estandardizados e sofisticados. É nesse momento que o capitalismo assiste à Segunda Revolução Industrial, com um foco nas indústrias americanas e em setores com foco em petróleo, energia, química, engenharia mecânica, etc. A intensidade da globalização também muda com a introdução de avanços nos meios de transporte. O mundo começa a assistir ao surgimento de aviões por propulsão e a embarcações movidas a combustíveis, o que aumenta a velocidade do deslocamento e, logo, reduz a distância dos espaços a partir da Globalização6 compreensão do tempo. A mesma viagem pode ser feita mais rapidamente e, assim, mais viagens podem ser feitas no mesmo tempo (BENKO, 2002). Soma-se a isso a consolidação do modelo de produção (ou de industrialização) fordista/taylorista. Esse modelo de produção sedimentou a produção de massa, em larga escala, em grandes fábricas, com produtos estandardizados, centenas de operários e estoques gigantescos, o que alterou para sempre o consumo e as suas lógicas em todo o mundo (BENKO, 2002). Nunca na história da humanidade tinha havido tantos bens e serviços (MARTÍN-CABELLO, 2013). Nesse período, podemos destacar também as transformações relativas aos modelos econômicos adotados. Lembre-se de que na origem do processo de globalização o mundo vivia no modelo mercantilista, em que o colonialismo (metrópole e colônias) garantia uma relação de troca internacional. Por exem- plo, o Império Português tinha uma forte rota comercial para a sua colônia brasileira e para as suas colônias africanas. No final do século XIX e começo do século XX, esse modelo econômico começou a ser substituído. O capitalismo industrial e a expansão da globa- lização encontraram aderência no modelo econômico de base liberal, com suporte da “violência política e ideológica” do modelo imperialista. Questões históricas são fundamentais para compreender esse momento do desenvolvi- mento do capitalismo. Até o final da Primeira Guerra Mundial, a hegemonia do mundo estava nas mãos do Império Britânico. Em seguida, o Império Norte-Americano passou a ser a nação líder do processo econômico global. Logo, a lógica envolvia levar o liberalismo e a economia de mercado para o maior número de países, criando em larga escala um mercado consumidor para os bens e serviços dos impérios dominantes. Com a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento do capitalismo e os avanços da globalização ficaram em xeque. O modelo econômico liberal encontrava problemas políticos em um cenário em que as nações estão des- confiadas e em permanente conflito ideológico. Nesse novo momento, os modelos econômicos foram ajustados para uma logica keynesiana, com forte intervenção dos Estados nacionais sobre a economia nacional ou sobre um conjunto de parceiros supranacionais. É um período em que os impérios tornam-se mais suaves (soft power), com destaque para o processo de descolonização de vários países nas Américas, na África e na Ásia. Nesse mesmo período, o capitalismo ensaia — a partir dos anos 1950 — seus primeiros avanços para a Terceira Revolução Industrial, que continua sendo, nos dias atuais, importante para o desenvolvimento da globalização (SANDRONI, 2005). 7GlobalizaçãoObserve que, desde a origem até os anos 1980, o processo de desenvolvi- mento dos mercados globais (de produtos e de fluxos de pessoas) ganha cada vez mais dinâmica. Novos avanços tecnológicos dão um salto de progresso em cada vez menos tempo, ou seja, são necessários menos anos, ou menos décadas, para um grande progresso estrutural do modo de produção capitalista. As influências atuais presentes no processo de globalização O período de globalização em que vivemos atualmente iniciou-se no fi nal da década de 1980, início dos anos 1990. Esse período coincide do ponto de vista político com o fi m da contrautopia capitalista, que era o socialismo liderado pela União Soviética. Com a queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, o capitalismo abriu as portas para o progresso sem precedentes da globalização. Somam-se a esse fenômeno político de dimensões globais os avanços internacionais em relação às TIC (tecnologias de informação e comunicação), a intensificação das comunicações físicas e as transformações do sistema fi- nanceiro internacional. Tudo isso ganhou força com o novo modelo econômico neoliberal, que restaurou as liberdades como virtudes para o desenvolvimento capitalista. Mais uma vez, a globalização está sob a égide do pensamento (neo)liberal, o que possibilita que as trocas globais se intensifiquem a um ritmo jamais visto — aliado a uma tecnologia que diminuiu os espaços e os tempos. O mundo ficou mais aberto, mais perto e mais rápido nas suas trocas comerciais. Essa globalização da economia contemporânea veio acoplada com um novo modelo de produção — o toyotismo, cujo foco estava na flexibilidade produtiva. Essa flexibilidade permitia uma produção com maior qualidade, menos estoques e descentralizada do ponto de vista das plantas industriais; tudo isso junto a um conjunto de novas tecnologias de informática, robótica e telecomunicações. Outro aspecto fundamental no final do século XX e começo do século XXI foram as transformações, ou melhorias, no conjunto total dos meios de transportes. A aviação civil tornou-se de massa, as embarcações comerciais ficaram maiores e mais seguras, e os transportes sob trilhos mudaram a forma de deslocar bens e pessoas dentro dos países e/ou dos continentes. Em relação ao foco do processo de acumulação capitalista, esse novo período deslocou as “energias” do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro. Em outras palavras, as grandes indústrias passaram a se unir com Globalização8 o capital financeiro. O capital financeiro passou a ter um importante papel na produção industrial, especialmente, para os bancos, que eram capazes de financiar as expansões produtivas, as fusões e as incorporações. É nesse período que acontece a expansão em nível mundial dos mercados de capitais. Juntos, esses variados capitais produziriam mais e mais acumulação, le- vando o capitalismo a um novo patamar de expansão. Essa fase ainda prossegue, mas associada ao novo capitalismo informacional, com um grau extraordinário de tecnologia e robótica envolvidos (SANDRONI, 2005). No entanto, essa globalização contemporânea, digital e financeirizada tem sido objeto de muitas críticas. Nunca antes uma ala contrária ao regime global foi tão forte e organizada — isso porque a globalização tem sido um “poço” de desigualdade social, econômica e política. Ao mesmo tempo que elevou os fluxos de capitais, de mercadorias e de investimentos diretos, elevou também a desigualdade entre os países ricos e os países pobres, e, dentro desses mesmos países, entre as classes mais ricas, a classe média, os pobres e os miseráveis. Ou seja, a globalização globalizou riqueza, mas também internacionalizou a pobreza e a miséria. Numericamente, constata-se o seguinte: [...] de um lado, temos um seleto grupo de países de alta renda per capita, que abriga cerca de 1 bilhão de pessoas. Esse grupo não chega a representar um sexto da população do planeta, mas detém mais da metade da renda mundial. De outro lado, temos 2,5 bilhões de pessoas que vivem em países de baixa renda, cuja fatia no bolo da renda mundial não chega a um terço (TUROLLA, 2004, p. 19). Nesse contexto de globalização e capitalismo financeiro, qual é a situação do Brasil? O Brasil é mais um exemplo de como a globalização, hoje, é um assunto controverso e complexo. Turolla (2004, p. 20) afirma que “[...] o Brasil vem participando ativamente do processo de globalização. Embora o país tenha elevado o padrão de vida médio de seus cidadãos, não reduziu a desigualdade de forma significativa”. Sob o ponto de vista do crescimento econômico, o Brasil aparentemente se beneficiou do processo de globalização (TUROLLA, 2004). Em vários aspectos, o país avançou na abertura comercial e financeira da economia — em especial, a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso. Ou seja, o Brasil está em maior exposição à globalização. Em suma, no Brasil, a maior exposição à globalização, em especial ao longo dos anos 1990, não foi acompanhada de uma redução das desigualdades socioeconômicas. Em alguns países, isso foi diferente. Na China, a entrada no 9Globalização processo de globalização detonou um crescimento surpreendente, mas o país asiático também reduziu em níveis gigantescos a desigualdade e a pobreza do país, sobretudo, nas zonas rurais. Isso leva ao fato de que a maior abertura econômica coincidiu com o sucesso na redução das desigualdades. Assim, destaca-se o quanto o processo de globalização na atualidade é desigual e vem distanciando os países de maneira muito brusca. Alguns encontraram sucesso na globalização, enquanto outros fracassaram e outros permanecem esquecidos. Aparentemente, os asiáticos tiveram mais sucesso na globalização, já os latino-americanos em geral fracassaram em generalizar as riquezas na sociedade e, por fim, os africanos continuam esquecidos do processo global, como se não estivem presentes no planeta. O que fazer, então? De acordo com Turolla (2004, p. 21), cabe [...] a países como o Brasil buscar uma participação no movimento de glo- balização que considere as oportunidades que o processo pode oferecer. Em outras palavras, deve-se buscar a abertura da economia de forma seletiva, observando o interesse nacional. Assim, se nosso processo de abertura esbarrar em resistências por parte de nossos parceiros, é preferível não abrir, ou buscar setores menos protegidos de atuação. Outra desigualdade produzida pela globalização é o chamado dumping social. Logo, à medida que as produções se globalizam, isto é, a produção e o fornecimento de produtos se aprofundam em escala mundial, os trabalhado- res não o acompanham. Isso quer dizer que capitais, bens e tecnologias são globais — e pouquíssimos trabalhadores o são. Os países que vêm perdendo condições competitivas — os países mais ricos —, especialmente em face daqueles que contam com mão de obra barata e pagam encargos sociais muito baixos, acusam estes últimos de prática de dumping social, isto é, sacrificar seus trabalhadores (em seu bem-estar) para conquistar mercados de seus vizinhos (SANDRONI, 2005, p. 187). Resumindo, a globalização é cada vez mais diversa. Embora tenha aproxi- mado, também distanciou os povos. Aproximou do ponto de vista do consumo, mas nem sempre da riqueza; aproximou do ponto de vista de um consumo cultural, mas distanciou do ponto de vista social e humano. O avanço sobre o século XXI vem revelando que esse processo vive um impasse, e parece em vários aspectos temporariamente estagnado. Globalização10 Globalização, atualmente, é um termo que designa, para alguns autores, o fim das economias nacionais e a integração cada vez maior dos mercados, dos meios de comunicação e dos meios de transportes. Um exemplo interessante, segundo Sandroni (2005), é o processo de global sourcing, isto é, o abastecimento de uma empresa ocorre mediante fornecedores que se encontram em várias partes do mundo, cada um produzindo e oferecendo as melhorescondições de preço e qualidade — ou seja, cada um com uma vantagem comparativa. BECK, U. O que é globalização? Equívocos do globalismo, respostas à globalização São Paulo: Paz e Terra, 1999. BENKO, G. Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2002. MARTÍN-CABELLO, A. Sobre los Orígenes del processo de globalización. Methaodos. Revista de Ciencias Sociales, v. 1, n. 1, p. 7-20, 2013. SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005. TUROLLA, F. A. Globalização e desigualdade. RAE Executiva, v. 2, n. 4, p. 17-21, nov. 2003/jan. 2004. Leituras recomendadas MÉSZÁROS, I. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo, 2009. PIKETTY, T. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. 11Globalização