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A TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA E O DIREITO PENAL BRASILEIRO

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PÓS-GRADUAÇÃO PUC MINAS – PRAÇA DA LIBERDADE
CIÊCIAS PENAIS
Aluna: Andreza Rosa Roberto
Professora: Flávia Siqueira Costa
A TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
Autor do artigo: João Paulo Orsini Martinelli
O objetivo do presente artigo é realizar o esquadrinhamento das principais teorias da causalidade e da imputação objetiva e exame do artigo 13 do Código Penal Brasileiro.
Premissa maior: aceitação de que a teoria do delito necessita da conjugação da causalidade e imputação objetiva.
Premissa menor: possibilidade de interpretar a lei no sentido da teoria da imputação.
1 - TEORIA DA CAUSALIDADE
1.1 Nexo de causalidade
É de entendimento doutrinário que para responsabilizar o agente por sua conduta, seja ela ação ou omissão, deve-se perpassar pela análise da existência do pressuposto “nexo de causalidade”. 
Este, pela teoria funcionalista, não é interligado tão somente pela ação e resultado, mas há também o elemento “imputação objetiva”.
Com o intuito de aprofundar na temática, imperioso é o estudo das principais teorias que circundam as condições de causalidade. 
A primeira, trata-se da Teoria da “conditio sine qua non”, sendo esta a dominante na doutrina atual brasileira e jurisprudência.
Em palavras simples, a presente teoria preconiza que, havendo probabilidade nítida do resultado acontecer, ainda que sem a conduta do agente, então não é possível responsabilizá-lo.
“Simplificando a explicação, a teoria pode ser reduzida a seus dois conceitos centrais7: a) todas as condições determinantes de um resultado são necessárias e, por isso, equivalentes; b) causas são as condições que não podem ser excluídas hipoteticamente sem excluir o resultado. ” 
 É possível concluir se o fato é causa ou não, a partir da eliminação mentalmente deste, pois, a partir disto, conseguimos analisar se o resultado ocorreria do mesmo modo ou não.
Neste sentido, cada causa é avaliada como autônoma, pois o que importa não é a totalidade das condições, e sim a comprovação do nexo entre a conduta e o resultado.
ROXIN e JAKOBS criticam a presente teoria, visto que, argumentam que esta leva a erros e gera confusão, respectivamente.
Para o primeiro, podem haver casos concretos em que o agente seja absolvido mesmo após incorrer em delitos, pois ao executar a eliminação hipotética, o resultado aconteceria mesmo sem a ação daquele, como verificamos no exemplo a seguir:
II) “A e B, atuando independentemente um do outro, acrescentam veneno ao café de C. Se C morrer por isso, mas a dose posta por A ou por B havia provocado por si só a morte exatamente do mesmo modo, pode-se suprimir mentalmente a conduta de cada um sem que desapareça o resultado”.
Já para o segundo, a eliminação hipotética conduz a um ciclo vicioso (regressus ad infinitum), pois, a condição que, sendo eliminada, gera o resultado, não estaria em posição de equivalência em detrimento às outras.
Neste momento, inicia-se o estudo breve da Teoria da Adequação, sob a qual, em sua origem, era possível extrair que, para que ação seja causal, é necessário que o resultado em detrimento daquela seja provável. Portanto, a condição deve-se adequar ao resultado, permitindo induzir que aquela é capaz de produzir este.
 
Atualmente, após aperfeiçoamento, a presente teoria preconiza que a condição é adequada “se a mesma aumentou a possibilidade do resultado de modo relevante, é dizer, se realmente a conduta realiza um resultado dado. ”
Na atual vertente, há pontos positivos, como a limitação do regresso que pairava na teoria do “sine qua non”, além de induzir a jurisprudência e doutrina avaliarem a necessidade de aplicar aos casos concretos normas que personificam a imputação.
Para a Teoria da Relevância, a conduta somente será causal se há eminente e geral inclinação de ocasionar o resultado.
A Teoria da Condição Conforme a Uma Lei Natural, fundada por PUPPE, dispõe que a busca pela causa de um resultado é inepta, pois faz-se necessário definir, seguramente, o conceito daquele.
Para o Direito, o conceito de resultado é aquele que de fato ocorreu, com todas as suas circunstâncias e características inclusas.
Para PUPPE, o conceito jurídico de resultado é a alteração antagonista de um bem protegido por lei. A causa seria todo elemento necessário de uma condição suficiente para provocar esse resultado a partir de uma normalidade (leis naturais).
Será causa somente aquele fato que, uma vez eliminado, não possa derivar o resultado.
2 - IMPUTAÇÃO OBJETIVA E O TIPO PENAL
O fato, para se adequar à tipicidade (em sentido estrutural/objetivo), necessita de elementos como ação, causalidade, imputação objetiva (causa típica) e resultado.
Nesse segmento, é perquirida a correlação entre a imputação objetiva e a teoria do delito.
Para entender a temática, é importante circundar brevemente o desenvolvimento da imputação objetiva que impactou na construção de lições atuais, como a de ROXIN, que prevalece na doutrina estrangeira e nacional.
 HONIG abraçava a ideia de que tão somente as ações humanas possuem relevância para o Direito Penal, sendo estes os elementos de juízo da imputação. Deve, portanto, haver relação jurídica entre ação e resultado, não bastando a constatação de relação de causalidade.
ROXIN preconiza que um resultado causado por um agente pode ser imputado ao tipo objetivo se a conduta do autor criou um perigo para um bem jurídico não coberto pelo risco permitido e esse perigo também foi realizado no resultado concreto.
Assim, se o autor realiza um perigo criado por ele e este ato gera um resultado, há configuração da imputação, caso a conduta se adeque a um tipo.
O nexo de causalidade pressupõe somente a correlação entre o a ação e o resultado. Faz-se necessária para imputar um crime à alguém, mais do que fatos tão somente naturalísticos. Não é possível basear exclusivamente na conclusão da causalidade.
É preciso que estejam presentes todos os elementos objetivos e subjetivos do tipo.
A imputação objetiva tem o papel de delimitar o poder punitivo do Estado, não podendo este ultrapassar os limites da norma penal, sob pena de infração ao princípio basilar e constitucional da legalidade. 
Para exemplificar, vejamos:
1) A dispara tiros contra B, atingindo-o no peito. Durante a prestação de socorro, a ambulância colide com outro veículo e B vem a falecer.
Neste caso, é eminente que é imprescindível análise minuciosa quanto à causa da morte, pois, não ocorrendo a fatalidade por conta dos disparos que foram feitos, não se pode imputar à B o tipo do art.121 do CP que prevê homicídio consumado. 
Decursa a exemplificação, é feito estudo sobre a teoria geral da imputação elaborada por ROXIN (teoria do risco), partindo da premissa de que a causa está diretamente ligada à probabilidade de a conduta do agente criar, ou não, um risco que seja capaz ocasionar lesão típica à um bem jurídico tutelado pelo Código Penal.
Greco discorre sobre a presente teoria alicerçado em quatro perspectivas, quais sejam:
1) Diminuição do risco
Não pode incorrer em crime o indivíduo que, através de ação ou omissão, diminui perigo já existente para a vítima.
Neste sentido, a conduta do agente, na tentativa de amenizar o risco bem jurídico, pode se arrazoar no estado de necessidade e, consequentemente, se tornar atípica.
2) Ausência de criação de riscos (ou riscos juridicamente irrelevantes)
Neste caso, o indivíduo deixa de incorrer ao tipo objetivo, se sua conduta não apresentou modificação no grau de risco ao bem jurídico. Assim ocorre também, caso já há perigo e este não sofre aumento.
As nossas atividades rotineiras possuem seus próprios riscos e o direito não interfere nisto.
3) Aumento do risco
Neste tópico, a análise é feita no tocante ao aumento de risco provocado pelo agente, através de sua conduta. ROXIN defende que, caso seja observado que o resultado seria igual, mesmo com conduta diferente, a imputação não ocorre.
O resultado deve estar adequado ao tipo, perfazendo o princípio da reserva legal. Assim, a conduta do agente deve enquadrar-se na eminente atuação de lesaro bem jurídico.
Exclui-se da imputação os seguintes casos:
1) Ajuda para autocolocação em perigo dolosa:
No presente contexto, não se pode imputar à alguém o resultado de ação intencional autoperigosa de outrem que conhece seus riscos.
2) Colocação em perigo de terceiro que aceita a condição:
Aqui, a vítima se expõe, de forma consentida, à risco criado por outrem. Portanto, o dano deve ter notório nexo com o risco consentido.
3) Imputação à esfera da responsabilidade alheia:
Neste caso, a profissão/cargo do indivíduo é interligada a exposição de perigo. À título de exemplo, ROXIN cita o evento em que um indivíduo, ao coloca fogo em seu imóvel, não pode ser responsabilizado pela morte de um bombeiro que está lá em operação para conter o incêndio.
Passada a sucinta consideração a despeito da imputação objetiva para ROXIN, será abordado adiante a percepção de JAKOBS.
Para este doutrinário, a função do direito penal é garantir o equilíbrio social, mantendo as expectativas elencadas pelos indivíduos que a o compõe. Neste sentido, a liberdade comportamental de cada um, está correlacionada à responsabilidade por suas consequências.
Neste sentido, para ele, a imputação de um tipo a alguém é válida quando este funda um risco que frustre as expectativas dentro de um contrato social.
Assim, todos os elementos que violem os limites dentro da obrigatoriedade social, são irrelevantes.
Há duas divergências entre as teorias de ROXIN e JAKOBS, quais sejam:
a) JAKOBS não leva em consideração os cursos causais hipotéticos na determinação da realização do risco; b) também JAKOBS não adotou o fim de proteção da norma, por considerar este topos impreciso.
 Na teoria da imputação objetiva de JAKOBS, esta será excluída quando há criação de risco permitido, pois o contrato social envolve riscos; na percepção do princípio da confiança em detrimento ao contrato social, pois espera-se que cada um compra sua função social; na proibição do regresso, na medida em que o autor de um comportamento socialmente neutro não pode ser responsabilizado quando outrem o utiliza com intento delituoso; em hipóteses que o risco é percebido pela vítima, e não pelo autor.
Para FRISH, a doutrina majoritária priorizou a imputação de resultados, esquecendo o pressuposto, qual seja, a conduta proibida do autor.
Neste sentido, constrói, incialmente, a sua teoria do comportamento típico que se subdivide no estudo da necessidade de intervenção estatal no direito de liberdade e no plano penal, no qual é avaliada, sob ótica do princípio da proporcionalidade, se a reprovação social é passível de sanção penal.
Quanto à concretização do resultado, esta é analisada em relação aos comportamentos imediatamente perigosos ao bem jurídico; comportamentos que permitem autocolocações em perigo da vítima e comportamentos que motivam conduta lesiva de terceiro.
Perfazendo, ainda, a edificação dogmática, FRISH parte para a teoria da imputação do resultado. Aqui, o resultado reprovável deve ser justificado pela relação entre a insegurança jurídica e vigência da norma, devendo observada, também, se o risco criado fora antes do resultado e se este alcança o tipo.
Por fim, se faz necessária trazer à baila a teoria da imputação de PUPPE.
A sua ideia é corrigir os erros da causalidade, através do uso de leis probabilísticas, e não deterministas, pois estas não têm o condão de afirmar a ocorrência de resultado. Essa questão é fundamentada na notória falta de ciências naturalísticas que disponham uma verdade absoluta e eterna sobre determinado fato.
Assim, tem-se que nem todos os acontecimentos não são em sua totalidade analisados, por isso, é necessário o uso de leis naturalísticas para que o julgador consiga alcançar mais perto a causa real de um resultado.
Quanto ao fim da proteção da norma, PUPPE, diz que é necessário valer-se do uso de conceitos genéricos para a solução de conflitos jurídicos.
3 - O ARTIGO 13 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
O Código Penal Brasileiro assume a vertente da equivalência das condições ao tratar da teoria da causalidade, ao elencar em seu art.13 que se considera causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Assim, a eliminação hipotética é instrumento para destrinchar a causa de um resultado.
Em seu parágrafo primeiro, há instrumento que coíbe o regresso das causas e os ciclos viciosos de erros que podem surgir com a teoria utilizada.
CIRINO DOS SANTOS, defende que o tipo penal é construído por elementos objetivos e subjetivos, quais sejam, a tipicidade, a causalidade, a imputação objetiva e o resultado.
Quanto à interpretação do artigo 13, esta deve ser feita como instrumento único de causalidade e imputação. Eliminar causas independentes é confirmar que estas não fazem parte do risco criado e não se adequam ao tipo.
Ainda, trata a equivalência das condições como mera etapa de análise da imputação. Assim, só pode o agente responder pelo resultado, quando a causa deste se deu pela criação de um risco proibido.
O caput do artigo 13 é meio para descobrir qual o fato que deu causa ao resultado. Já o parágrafo primeiro auxilia na análise da imputação.
Sendo assim, é relevante paro o direito penal os riscos criados pelo agente e realizados em caso concreto, não sendo utilizado as causas independentes, ou seja, os riscos que não foram criados por aquele.
Entende-se que, a doutrina e jurisprudência brasileira estão interligadas ao positivismo, dando grande valor ao confronto entre causalismo e finalismo, esquecendo o valor notório da imputação objetiva quanto ao reforço para o princípio da legalidade.
A imputação objetiva traz à baila este princípio, pois, não é suficiente a relação entre conduta e resultado do agente, ao contrário, é imprescindível que que esta relação se adeque ao ordenamento jurídico.
Imputar um crime a alguém analisando tão somente a causalidade (que é algo naturalístico) é algo frágil.
Para aperfeiçoar o estudo quanto à imputação objetiva e trazer à tona esta temática com maior profundidade, é necessário atentar-se às teorias pós-finalistas que afastam a ideia de rigidez quanto ao positivismo.

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