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ACADÊMICO(S): AMANDA ALVES E THAYNARA CASTRO Resumo: A História da Loucura começa com um cenário vazio, os lugares de exclusão na Europa. Ao final da Idade Média, desapareceu a lepra, provavelmente em razão da forte segregação à qual os leprosos haviam sido condenados. Convém acrescentar a isso o fato de que, com o fim das Cruzadas, enfraqueceu-se o contato com o Oriente, provável fonte de infecção. A verdade da lepra era a manifestação de Deus na Terra. Era uma amostra da cólera e da bondade divinas. Deus castiga os pecados dos homens com a lepra. Mas é tão misericordioso que não os priva de sua graça. O leproso é separado da Igreja. No entanto, pode conseguir sua salvação na exclusão, e graças a ela. O espaço deixado pelo leproso é ocupado pelos pobres, vagabundos e também pelos “loucos”. Simbolicamente, esta prática social significa exclusão e reintegração espiritual. Tanto a pobreza quanto a loucura são entendidos como desígnios de Deus e aqueles que aceitassem estes desígnios estariam, na verdade, assumindo o seu fardo e, em troca, receberiam a tão almejada purificação espiritual. A exclusão não é uma invenção moderna. Na Idade Média, uma das formas de excluir os loucos eram embarcá-los em certos navios. A nau dos loucos é tematizada por pintores e escritores. Não foi somente um espaço de exclusão imaginário, mas existiu realmente. Contudo, esse tipo de supressão ou era mais virtual que real ou se produzia esporadicamente. De qualquer forma, não ocorreu como fenômeno social generalizado. A exclusão do leproso era uma manifestação de que há seres vivos cuja presença aterrorizante antecipa os espantos da morte. Mas a loucura presta-se melhor ao jogo. A lepra altera o corpo, a loucura transtorna o espírito. Agora, a articulação é dupla. No seu pano de fundo, o discurso sobre a loucura é discurso sobre a morte. Mas o louco, em última instância, ri da morte. Os gritos dos loucos são mais fortes que os cantos triunfais da morte. Eis aqui a apoteose da loucura. Segundo Foucault (1972, p. 12), o louco era "prisioneiro da mais aberta das estradas", comparando, assim, a pequenez duma prisão à imensidão do mar. O lugar para onde o insano estava indo não era a sua terra, muito menos era aquela que ficou para trás. A terra do louco se limita à distância entre ambas as terras, a que foi sua e a que nunca será. Dessa forma, a água simboliza esta territorialidade com a qual a loucura será presenteada pelo Ocidente. Literalmente, o louco não tinha chão. Ou tinha água em volta de si, ou tinha grades. A mudança da temática da morte para a da loucura é a descoberta de que a negação da vida não está somente em seu final, ou seja, na morte biológica. Manifesta-se, até mesmo, no macabro da loucura, como antes se manifestou no fato aterrorizante da lepra. A Idade Média considerou prudente alertar o homem sobre a iminência da morte. Sua presença espreitava cada ato vital. A morte está sempre disposta a ganhar o jogo. Enquanto os profissionais da saúde não conhecerem a origem das práticas sociais e dos discursos que repetem, dificilmente, criarão condições propícias para que o doente assuma o leme da nau de sua vida. Não cabe ao Psiquiatra, ao Psicólogo, ao Enfermeiro, ao Assistente Social ou a qualquer outro profissional escolher o destino em que esta nave vai aportar. Podem, no máximo, garantir ao sofredor e à sua família que existe um porto seguro. O Renascimento descobriu que existe uma presença da morte, que se mostra nos olhos fixos, na carne fria e nos músculos rijos do defunto. Mas há outra, mais próxima, que está presente nos olhos vidrados, nas bocas repletas de baba e nas palavras delirantes dos insensatos. As viagens às quais os loucos estavam submetidos, seja como exclusão real, seja como expulsão ritual, no imaginário das naus dos loucos tinham um sentido de viagem ao além, de onde não se volta. Havia uma forte relação entre loucura e morte. Em alguns lugares da Europa, nas portas das cidades, existiam casas de prisão para loucos. O louco é alojado nos limites. Está no limite entre a cidade e o inabitado, entre a terra e a água, entre a evidência da verdade e a nulidade do não ser. Atracar a nave não significa silenciar o sofrimento ou mesmo negá-lo. Atracar a nave é dar ao portador de sofrimento mental a oportunidade de construir, ao seu modo, o porto seguro em que deseja lançar sua âncora, seja ela a âncora do delírio, das perturbações do humor ou dos desajustamentos de conduta. Conclusão: As sociedades da época eram ignorantes e incapazes de aceitar as diversidades que lhe eram apresentadas, principalmente quando se tratava de pessoas que sujavam as ruas, atrapalhavam a economia ou pessoas que apresentavam riscos de contaminação como os doentes venéreos, os leprosos, entre outros que eram moradores de rua, pobres, dissipadores, homossexuais, os loucos e qualquer outra pessoa que fosse indesejada na visão da sociedade. Estes indivíduos eram embarcados em navios sem destinos, sendo prisioneiros da própria embarcação que ficava somente vagando nos mares. A partir do século XVII começaram a surgir casas de internação e logo após este movimento obteve o nome de A Grande Internação que passou a expandir estas casas pelas cidades, neste período os indivíduos indesejados que atrapalhavam o planejamento urbano não foram mais embarcados em navios sem destino, foram recolhidos das ruas e internados no hospital geral onde prestavam serviços baratos e forçados, sem qualquer tipo de tratamento para seus respectivos problemas. No século XVIII a loucura passou a fazer parte da economia, sendo todos devolvidos aos seus lares, porém reféns de um inovado aprisionamento, suas respectivas famílias eram obrigadas a mantê-los em casa sob ameaça de multas por deixar seu louco sair pelas ruas e incomodar as pessoas, o outros que não tinham problemas perambulavam sem rumo pelas cidades em troca de doações e pequenos serviços. O movimento da A Grande Internação teve seu fim decretado com o surgimento da psiquiatria, porém as internações não pararam, pelo contrário passou a ser uma forma de tratamento, movimento diferente da antiga A Grande Internação, os loucos ganharam o direito à se tratar mas continuaram a perder sua liberdade e o contato com a realidade. O texto tem o intuito de nos mostrar as inúmeras mudanças sofridas ao longo do tempo na história da loucura e os desdobramentos que lhe ocorreram, mas ao longo de toda história o louco foi excluído das relações sociais, pois sempre foram vistos como ameaça a sociedade por serem diferentes, suas singularidades não eram aceitas, foram proibidos de serem eles mesmo, com sua própria essência, sendo hoje em dia vistos como anormais e sua loucura como patológica.
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