Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PORTO ALEGRE/RS
NF Nº XXX
REPRESENTANTE: GUILHERME VARGAS
REPRESENTADO: FMP ELETRÔNICOS LTDA.
FATO: INOBSERVÂNCA À DIREITO CONSUMERISTA EM RELAÇÕES NÃO PRESENCIAIS
I. RELATÓRIO
Aos 09 (nove) dias do mês de março de 2020, às 21 horas, nesta Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, compareceu Guilherme Vargas, brasileiro, casado, aposentado, nascido em 10/12/1940, RG 12345678, CPF n.º 000.000.000.00, residente na Avenida Brasil, n.º 100, bairro Divino, nesta Cidade, telefone n.º 99123456, meuemail@hotmail.com, que prestou as seguintes declarações: 	
Informa que, no dia 02 de março de 2020, pretendendo adquirir um aparelho celular, solicitou que seu filho deixasse a internet “ligada” para efetuar a compra, já que é pessoa idosa e pouco conhece sobre o uso do computador. Alega ter acessado o website fmpeletronicos.com e, tendo em vista sua falta de familiaridade com internet, acabou por efetuar três compras do mesmo produto, conforme documento anexo. Trata-se de celular do modelo Xiaomi III, de cor azul, 64gb de memória, no valor unitário de R$ 1.913,00. O montante dos três aparelhos restou em R$ 5.739,00, o qual foi pago por meio de boleto bancário, conforme documento anexo. Alega o comparecente ter tido a intenção de adquirir somente um aparelho, mas, diante do excesso de informações do site, que apresentava pop-ups, ou seja, várias novas janelas com ofertas de mais produtos, acabou por confundir-se e efetuar a compra indesejada de todos os aparelhos. Afirma que só percebeu o erro cometido após conversar com seu filho na quarta-feira, 04 de março, quando o mesmo lhe informou que havia saído de sua conta um valor maior do que imaginara e isso ocorreu tendo em vista a quantidade incorreta de celulares comprados. Informa, também, que no momento de efetuar o pagamento do boleto na lotérica, não verificou que estava pagando o valor de R$ 5.739,00, ao invés de R$ 1.913,00 pretendidos. Verificado o equívoco, o depoente entrou em contato com o vendedor dos celulares, através de ligação telefônica para o número xxxx-xxxx, disponível no site da empresa, às 14 horas, e obteve a informação de que a empresa não efetua cancelamentos de compras pela internet. Informa que, ao acessar o site, não encontrou canal efetivo para efetuar o cancelamento, de modo que este restou frustrado.
Sendo, portanto, a representação apresentada à esta Procuradoria, o fato motivador do presente Despacho.
O atendimento aos preceitos e regras estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor por parte dos fornecedores de serviços e produtores/distribuidores de produtos é postura básica, necessária e esperada a ser praticada por estes nas relações de consumo. Estes devem sempre prezar suas práticas e condutas visando o princípio da boa-fé, que deve ser o princípio norteador das relações sociais, bem como pelo pleno atendimento às normais legais aplicáveis às relações de consumo.
No presente caso, busca-se analisar as condutas praticadas pela Representada, para fins verificação quanto ao cumprimento das normas dispostas no Código de Defesa do Consumidor, aplicáveis aos contratos celebrados de forma não presencial quais sejam, contratações por telefone, domicílio ou internet. Situação que motivou a representação do consumidor Guilherme Vargas à Promotoria de Justiça de Porto Alegre/RS, contra a sociedade comercial FMP Eletrônicos Ltda.
Vieram os autos conclusos.
Ao exame.
II. PRELIMINARMENTE
Quanto à legitimidade ativa do Ministério Público ao caso em questão, registra-se que, nos termos do Art. 1º, do Provimento nº 71/2017 do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, a representação de fato que enseja possível lesão ao direito transindividual legítima a atuação do Ministério Público nos termos de suas competências. Cumpre esclarecer que, ao Ministério Público, incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, em atenção ao caput do Art. 129 da Constituição Federal, motivo pelo qual a representação do consumidor Guilherme Vargas face a empresa FMP Eletrônicos Ltda., torna necessária e legitima a atuação desta Procuradoria para fins de análise, averiguação e resguarda de direito transindividual consumerista.
Vieram os autos conclusos.
Ao exame.
III. DO MÉRITO
É sabido que o caput do artigo 170 da Constituição Federal, assim como seu inciso V, erigiram a defesa do consumidor como um dos princípios orientadores da ordem econômica. Já o código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 4º, enumera o Princípio do Reconhecimento e da Vulnerabilidade do Consumidor, que é a parte mais frágil da relação de consumo e necessita de proteção especial do Estado. Razão que motivou o Representado a procurar este meio. Senão, vejamos:
 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
V - defesa do consumidor;
Art. 4º - A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (...)
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.
Como se não bastasse, amparando o pleito, o instituto de direito ao arrependimento está previsto no artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, que assim dispõe: 
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
Dessa forma, o Consumidor se torna ainda mais vulnerável quando adquire um produto ou serviço fora do estabelecimento empresarial, modalidade, esta, que torna a relação mais frágil a determinados públicos, visto suas especificidades, como no presente caso que motivou a manifestação do Ministério Público.
Embora o artigo 49 não mencione, as compras realizadas pela internet através de websites, marketplaces e rede sociais, integram igualmente o conceito de “fora do estabelecimento”, trazido pelo referido artigo para assim classificar e tratar de forma diferente aquelas relações das quais a aquisição ou contratação de produtos e serviços se dá de forma não presencial. 
Veja-se que, no caso em tela, o Representante percebeu que houve equívoco em relação a quantidade de produtos e, tão logo, entrou em contato com a empresa, que sequer apresenta em sua plataforma digital a possibilidade de cancelamento de compras de produtos e/ou serviços pela internet, sendo essa conduta enquadrada em prática abusiva, vedada pelo Código de Defesa do Consumidor.
Ora, em havendo possibilidade de efetuar compras online, deve-se, igualmente, disponibilizar ferramenta de cancelamento das mesmas, seja na aquisição de produtos e/ou serviços.
Além disso, há muito se observa que diversas empresas se valem da vulnerabilidade de perfis específicos de consumidores como idosos para realização de vendas de seus produtos em condições prejudiciais ao consumidor. A relação de distância pré-existente a este tipo de contratação torna aqueles que trazem consigo a diminuição ou perda de determinadas aptidões físicas ou intelectuais, mais suscetíveis a práticas abusivas e até mesmo a realização de operações fraudulentas. 
Neste sentido, o artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor esclarece que é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticasabusivas, prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços.
É preciso que fornecedores estejam atentos às particularidades dessa crescente faixa da população que passa a valer-se deste tipo de contratação e aquisição de produtos ou serviços para que mantenham postura e condições coerentes com seu público consumidor e principalmente em concordância com a legislação. 
Vejamos o inciso III do artigo 6 do citado código, que assim dispõe: 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) Vigência
Evidente é a obrigação por parte daquele que oferta a contratação de serviços ou fornecimento/produção de produtos em prestar informações claras, corretas e verdadeiras quanto aos produtos, formas de aquisição/contratação, e, ainda, cancelamento ou exercício do direito de arrependimento à celebração, aquisição ou contratação dos mesmos.
Ressalta-se, ainda, que o uso da publicidade como um meio de divulgação de produtos e serviços não é uma imposição legal, ao contrário, é uma faculdade do fornecedor. Porém, se este opta por fazê-la, deve atender todos os dispositivos que a regulam, a fim de que os consumidores não sejam induzidos a erro. 
É possível perceber que, o consumidor está constantemente assediado pelo mercado publicitário. Para que se estabeleça um equilíbrio das relações se faz necessário avaliar a conduta dos agentes envolvidos.
Analisando, tem-se que de um lado há o consumidor que está submetido ao estímulo da aquisição de bens e serviços e do outro o fornecedor cujo objetivo é a obtenção de lucro.
Nesse sentido, a norma consumerista objetiva o equilíbrio das relações entre as partes, não em detrimento econômico, mas visando minimizar as incongruências que desestabilizam os contratos que as partes firmam.
Pois bem, motivado pela Representação apresentada à esta Procuradoria, à análise dos dispositivos legais e práticas adotadas pela Representada, evidente a necessidade de instauração de Inquérito Civil para apurar a conduta da Representada, bem como para a elaboração de projeto e/ou proposta de adequação do sítio eletrônico da Representada, nos termos da Lei Consumerista, para regularização quanto à forma de contratação e oferta de produtos, devendo a mesma providenciar iguais condições e formas tanto para a contratação, como para o cancelamento da aquisição de produto ou serviço por ela ofertado.
Salienta-se, novamente, que o entendimento pela necessidade de instauração de Inquérito Civil em desfavor da Representada busca não somente o pleno atendimento aos deveres do Ministério Público, mas principalmente à guarda dos direitos transindividuais consumeristas. 
	CONCLUSÃO
Assim, pelos fatos e fundamentos acima expostos determino: 
IV.1 – seja instaurado inquérito civil regional para apurar o fato, lavrando-se a respectiva portaria de instauração, nos termos do Art. 10, do Provimento nº 71/2017 do MP/RS, devendo a respectiva Portaria atentar-se quanto à forma prescrita no Art. 15 do mesmo provimento, bem como seja realizado o respectivo registro no sistema informatizado do Ministério Público;
IV.2 – seja autuada a Representada FMP Eletrônicos Ltda. na pessoa de seu representante legal, acerca da instauração de Inquérito Civil;
IV.3 – seja expedida recomendação a FMP Eletrônicos Ltda. para fins de adequação a Lei Consumerista, em atenção às formas de contratação e cancelamento da aquisição de produtos e serviços, nos termos do art. 49 do Código de Defesa do Consumidor; 
IV.4 – seja o presente Despacho atendido de forma integral;
Porto Alegre, 16 de março de 2020.
Nome do Promotor de Justiça,
Promotor de Justiça,
Promotoria de Justiça de Porto Alegre.

Mais conteúdos dessa disciplina