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Imunoprofilaxia das doenças infecciosas

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Imunoprofilaxia das Doenças Infecciosas
Imunoprofilaxia é a prevenção/vacinação contra doenças infecciosas. Vacinação é um procedimento de imunização ativa, que promove o contato do hospedeiro com o agente infeccioso ou com seus antígenos, objetivando a elaboração da resposta imune adaptativa que garanta uma resposta imune o mais duradoura possível. É colocar um indivíduo que deve ser protegido da infecção em contato com o agente infeccioso, pode ser o agente infeccioso inteiro ou os antígenos importantes desse agente, para estimular o sistema imune desse indivíduo para que esse sistema imune responda como se estivesse frente a uma infecção real. Se o antígeno for imunogênico ele vai induzir formação de linfócito T e B de memória (que produzem uma resposta mais rápida e eficaz) e plasmócitos de vida longa (que produzem anticorpos de forma continua, anticorpos que estão prontos para neutralizar o agente infeccioso, ativar o complemento, opsonizar) garantindo uma proteção caso o indivíduo encontre novamente o patógeno. 
Imunização ativa é estimular o sistema imunológico da pessoa para que esse sistema imunológico formar efetores imunes (anticorpos, células de memória). Imunização passiva na amamentação quando a criança recebe IgA através do leite materno e IgG através da placenta, recebe o efetor imune já pronto. Transferência adotiva é quando recebe a células do sistema imunológico prontas, é uma estratégia para combate de tumores, transferência de TCD8 que vai ser retirada do infiltrado tumoral e multiplicada in vitro(?) na presença da IL2 e reinserida no paciente para combater o combater o tumor, são mais células de defesa específicas. 
Princípios imunológicos da vacinação:
Indução de células de memória pela vacinação: se o indivíduo entrar em contato com esses ag para quais essas células são específicas essas células serão ativadas mais rapidamente, vão produzir citocinas ou AC de uma forma mais intensa, a resposta atingirá o ápice mais rápido. No caso do linfócito B ele não vai mais produzir IgM, vai produzir outros anticorpos com alta afinidade pelo ag, que por sua vez é muito importante para neutralizar e opsonizar o patogeno (o AC não solta). Esse processo sempre vai envolver os linfócito T, para induzir o B de memória. Induzindo uma resposta de linfócitos T ativa melhor os macrófagos através da resposta TH1 e a produção de interferon-gama que potencializa as funções microbicidas do macrófago. É através da ativação do Tcd4 que ativa o B, só assim produz AC de alta afinidade. Tcd8 é importante para prevenir as infecções intracelulares como as infecções virais. Induzir plasmócito de vida longa e B de memória vai garantir a produção de anticorpos circulantes e secretórios na mucosa que é importante para neutralizar o agente infeccioso, anticorpo ativa complemento (IgG e IgM), no caso das respostas que serão induzidas pela vacinação não terá IgM será sempre IgG circulante. Ativação do complemento opsoniza e ativa os fagócitos e a IgG é uma opsonina direta.
Indução de células de memória
· Ativação de linfócitos de memória (resposta secundária)
· Envolve linfócitos T
· Começa mais rapidamente
· É mais intensa
· Atinge o ápice mais rápido
· Leva diretamente a produção de outras classes
Princípios imunológicos da vacinação
Indução da resposta celular (mediada pelos linfócitos T CD4 e CD8): 
· Ativação de macrófagos 
· colaboração com células B, T CD8
Indução de anticorpos circulantes e secretórios
· Neutralização do agente infeccioso 
· Ativação do sistema complemento (a fim de promover recrutamento de neutrófilos e opsonização do agente infeccioso – fagocitose) 
· Opsonização
Imunização de rebanho: Quanto mais gente é imunizada mais indivíduos ficarão protegidos a aquela infecção, então haverão menos pessoas para transmitir e consequentemente aquele patogeno irá circular menos naquela população. Alguns patogenos podem estar presentes no organismo de determinados indivíduos e não causar a doença, são os portadores sadios ( por exemplo: streptococcus pneumoniae, neisseria meningitidis, haemophilus influenzae), entretanto é possível transmitir a doença. Se você se vacina você deixa de carregar esses microorganismos e consequentemente deixa de transmitir. 
Redução do número de portadores sadios: reduz as taxas de circulação e, consequentemente, a transmissão dessas bactérias na comunidade, papel relevante na imunidade coletiva.
Características de vacinas efetivas:
A vacina precisa ter algumas características básicas, ela não pode causar a doença ou grandes efeitos colaterais que não compensem a vacinação. Ela tem que proteger, o grau de proteção que ela oferece tem que compensar o esforço em elaborar e aplicar a vacina. A proteção tem que ser duradoura o suficiente. Precisa induzir anticorpo neutralizante, principalmente pras infecções virais, principalmente para infecções que o tempo de incubação é curto (entrou em contato com o patógeno rapidamente ele já vai causar a doença, manifestação dos sintomas). Induzir célula T, porque sem T não auxilia nenhuma outra célula. E algumas considerações práticas como aplicação custo-benefício. Estabilidade de vacina biologicamente, a vacina precisa ser estável o suficiente. Efeito colateral e facilidade de administração também são levados em conta.
Eficácia da vacina:
Depende de fatores que são inerentes ao hospedeiro: Idade, estado nutricional e estado imunitário. 
A forma de administrar essa vacina também é importante pode ser oral, intramuscular, subcutânea, isso tudo diz respeito à melhor rota pela qual essa vacina irá induzir uma imunização. A dose da vacina também importa, pode ser inteira ou fracionada.
Fatores intrínsecos do agente infeccioso: 
Imunogenicidade do antígeno: o ag precisa ser imunogênico, ou seja, induzir uma boa resposta imune. 
Variação antigênica: Patógenos não podem apresentar muita variação antigênica, que sofrem muitas mutações e mudam a estrutura dos antígenos, como os vírus, pois os anticorpos serão produzidos contra os ag. 
Composição das vacinas:
Primeira geração:
Microorganismos inteiros, mortos ou vivos atenuados 
Segunda geração:
Antígenos purificados obtidos de agentes infecciosos ou obtidos por processos de síntese ou como proteínas recombinantes. O ag pode ser conjugado. 
Terceira geração:
Vacinas gênicas constituídas de genes que codificam antígenos relevantes do agente infeccioso clonados em plasmídeos de DNA. O imunizante é o gene que codifica o antígeno, esse tipo de vacina ainda não é utilizado. 
Vacina de primeira geração (vacinas celulares):
Algumas dessas vacinas são com o microorganismo morto, é preciso fazer estratégias no laboratório para matar o microorganismo, porém, é preciso preservar os antígenos para estimular o sistema imune do individuo vacinado. É dito que o patogeno foi morto ou inativado. Ele pode ser morto através de agentes químicos (formol, aldeído) ou físicos (temperatura, radiação). Ex: coqueluche, raiva, gripe e salk (poliomielite).
Vacina da gripe é feita com três sorotipos que transmitem a gripe, dois sorotipos da influenzae A (H1N1 H3N2) e dois sorotipos da influenzae B. É preciso fazer o levantamento anual das cepas circulantes, portanto a vacina pode mudar todo ano. Grau de proteção é variável em torno de 60%. A presença do vírus pode gerar sintomas, devido a suas estruturas ativarem a resposta inata, porém esse vírus está morto ele não vai replicar. 
À medida que vamos montando a resposta imunológica para a vacina a tendência é eliminar a vacina (ou o patogeno), quando o patogeno está morto isso será muito mais fácil para o sistema imunológico, pois ele não irá se reproduzir, consequentemente ele, não fica tanto tempo presente no organismo estimulando a resposta. Por isso a proteção tende a não ter uma duração muito longa. É preciso ser aplicados reforços de tempos em tempos. Na febre amarela o vírus está atenuado, vivo, fica por mais tempo no organismo porque ele está replicando, estimulando mais o sistema imunológico. Vacinas com microorganismo vivos também tem que passar pelo laboratóriopara que esse microorganismo perca a capacidade de causar a doença. É a atenuação da virulência, são estratégias de cultivo do microorganismo em laboratório que fazem com que ele vá deixando de expressar uma série de genes que ele não precisa para a sobrevivência dele, mas que são associados à presença dele no hospedeiro e é com isso que ele consegue causar a doença. Existem estratégias de cultivar o patogeno em condições diferentes das condições ótimas do hospedeiro, fazendo que ele economize energia deixando de produzir aquelas proteínas. 
O processo de atenuação pode ser reversível e o patogeno pode recuperar a virulência. A vacina atenuada dá uma imunização muito eficiente. Ex de vacinas com microorganismos vivos: BCG contra formas graves da tuberculose (cepa de Mycobacterium bovis) e as virais rubéola, caxumba, sarampo, catapora (varicela)/herpes-zoster, febre amarela, poliomielite (Sabin - VOP)
A maioria dessas vacinas são para microorganismos intracelulares, o ag vai estar no citoplasma, apresentação via MHC de classe I, a dendrítica é capaz de fazer apresentação cruzada, é capaz de fagocitar a célula infectada, apresentando via MHC de classe II então vai ativar TCD4 e TCD8. TCD8 protege contra infecções virais e bactérias intracelulares. Só é ativado TCD8 quando tem uma vacina que o microorganismo consegue entrar na célula, isso só é possível se ele estiver vivo. Todos os braços da resposta imune são ativados: Ativa TCD4 E TCD8, vírus ta vivo e sai da célula os antígenos podem chegar lá pro linfócito B e B recebe auxilio do T gerando anticorpo. 
Vantagens: Vacina com microorganismo atenuado simula a infecção, induz uma resposta mais eficiente e não tem necessidade de reforço. 
Desvantagens: risco de reversão da atenuação – Infecção pela vacina. Ex: poliomielite vacinal. 
A exceção que precisa de reforço é a vacina da Sabin que é uma vacina oral, portanto existe uma competição entre a vacina e os vírus que estão na microbiota e isso dificulta a pega da vacina, porque os sorotipos da vacina eles precisam competir com os vírus da microbiota e nem sempre conseguem se estabelecer com uma primeira imunização, é preciso dar mais de uma dose para garantir que ela irá ser efetiva. A vírus-transmissão da poliomielite é oro-fecal. A Sabin por ser uma vacina oral ela coloca um vírus na mucosa e imuniza a mucosa, a Sabin imuniza a porta de entrada protegendo contra a poliomielite na porta de entrada. É vacina de escolha nos surtos. 
A poliomielite está erradicada no Brasil, então não é necessário o uso da Sabin e expor a população ao risco de poliomielite vacinal (através da reversão da atenuação), então a imunização começa com a Salk que tem os 3 principais vírus da poliomielite mortos e tem 3 doses. O reforço é com a Sabin, para imunizar a mucosa, porque a poli não foi erradicada do mundo e o Brasil recebe imigrantes de todo mundo é preciso proteger a mucosa das pessoas. O indivíduo pode ser portador sadio, a Sabin elimina essa possibilidade estando com a mucosa protegida. A vacina Sabin faz imunização de rebanho. Todo mundo que toma Sabin elimina os vírus vacinais nas fezes imunizando outras pessoas. 
Mesmo acabando com a poli no mundo e a vacina Sabin ainda existe, ela tem o vírus (mesmo que atenuado) e o vírus eliminado no meio (nas fezes) e esse vírus pode sofrer mutações no ambiente e essa mutação pode ajudar ele a recuperar a virulência. O ideal é acabar com todo tipo de poli que existe, até o vírus vacinal. 
Hoje no Brasil a imunização é iniciada com Salk, pois não tem poli no Brasil e o reforço com a Sabin porque ainda tem poli no mundo, a meta é eliminar até a Sabin e não ter vírus de poliomielite em nenhuma espécie nem o selvagem e nem o vacinal. 
Vacinas de segunda geração (vacinas acelulares):
Exemplos: Tetáno, difteria. DT / dT
Essas doenças são causadas pelas toxinas que essas bactérias liberam, essas toxinas são imunogênicas, se é produzido anticorpo neutralizante para essa toxina o anticorpo vai bloquear a infecção. As vacinas se baseiam na geração de anticorpo neutralizante contra as toxinas que essas bactérias produzem.
As toxinas sofrem manipulações em laboratório para perdem a toxicidade, mas ainda serem capazes de serem reconhecidas e estimular o sistema imune, essas são as toxóides, toxinas modificadas quimicamente para perder o efeito tóxico. D maiúsculo: para criança e d minúsculo para adulto é relacionado a quantidade de toxóide que a vacina pede para cada faixa etária. 
Contra coqueluche é uma vacina celular. Existe uma vacina contra coqueluxe que é acelular é dada para gestantes (dpta).
Outro exemplo de vacina acelular: vacina conjugada elaboradas com os polissacarídeos capsulados como: streptococcus pneumoniae, neisseria meningitidis C (ACWY) e haemophilus influenzae b (Hib). A vacina é feita pra imunizar contra patogeno cuja os ag são polissacarídeos, os polissacarídeos são acoplados quimicamente a um toxóide e isso que é usado para imunizar o indivíduo. 
Vacina anti-streptococcus para crianças é a deca-valente (10-valente) ela tem 10 conjugados imuniza contra 10 sorotipos, a criança não tem B de ZM do baço então precisa da vacina conjugada. 
“Hapteno-carreador” Hapteno: Componente fracamente imunogênico; Carregador: Proteína.
Existem estratégias mais elaboradas para vacinas baseadas em biologia molecular, é preciso conhecer a proteína do vírus que induz a formação de anticorpos se conhece a sequência de aminoácidos que forma ela chega a sequência gênica de nucleotídeos que codificam essa proteína e ai é possível clonar essa sequência de nucleotídeos no plasmídeo (DNA circular) e introduzir esse plasmídeo em um vetor de replicação e cultiva esse microorganismo onde foi colocado o plasmídeo (que tem o gene do antígeno que interessa) e ai esse microorganismo vai produzir o ag e é colocada também uma sequência para ele excretar essa proteína. 
Vacina contra hepatite B e HPV é elaborada clonando o gene que codifica a proteína antigênica num vetor de expressão e esse vetor vai produzir a proteína antigênica.
Vacinas acelulares não têm risco de causar doença é apenas o antígeno sendo inoculado. Tem tendência de ser menos reatogênica.
Desvantagens: Nas vacinas acelulares só tem ag e não tem PAMPs para ativar a ativação inata e desencadear a reação adaptativa, essas vacinas precisam ser dadas com adjuvante, que é um hidróxido de alumínio (sal) o sal arrasta o ag e deposita o ag no ponto de inoculação no tecido. O ag permanece mais tempo ali, não sendo eliminado tão rápido. Os adjuvantes causam a necrose celular, as células que morrem liberam os DAMP’s induzindo uma resposta inflamatória. As vacinas celulares podem ter ou não adjuvantes. As grávidas não podem tomar com adjuvantes porque as citocinas pró-inflamatórias passam pela placenta e a inflamação não deve ser estimulada durante a gravidez. 
Vacinas de terceira geração (vacinas gênicas):
Segue o mesmo raciocínio da vacina da hepatite B a vacina gênica é injetar o plasmídeo na pessoa e as células do tecido (musculares) captura o plasmídeo e transcrevem o gene. Essa vacina estimula toda a resposta imunológica, o plasmídeo vai parar dentro do citoplasma das células e a célula transcreve o plasmídeo e o ag no citoplasma é apresentado via MHC de classe I e ativa TCD8. Essas vacinas envolvem todos os efetores imune, TCD8, TCD4 e anticorpo. 
Vantagens: baixo custo, não tem que purificar o ag; Possibilidade de incluir genes de vários antígenos no plasmídeo – vacinas multivalentes; Sustentam proteção duradoura devido à produção contínua do antígeno; Sem necessidade de refrigeração – plasmídeos são estáveis em temperatura ambiente;
Desvantagem: não tem PAMP e DAMP precisa de algo para estimular a resposta inflamatória (adjuvante); o plasmídeo pode se inserir no DNA cromossômico podendo levar a mutações nas células e levar a processos neoplásicos; Dificuldade de obter-se a introdução e captação do plasmídeo por um número grande de células para que haja uma resposta imunológica de grande magnitude, a eficiência de captura do plasmídeoé pequena, a célula muscular não é um fagócito.
Contra indicação das vacinas:
· Vacina com MO vivo em imunodeficientes graves, pois podem manifestar a doença. Com atenção aos contactantes vacinados.
· Alergia grave (anafilática) a algum componente da vacina
· Reação grave após a dose anterior
· Vacina viva em gestante
· Indivíduos com histórico de reações alérgicas sistêmicas e graves a componentes da vacina (conservantes, estabilizadores, antibióticos para impedir a contaminação de outros microorganismos do ambiente) 
Alergia a ovo e vacinas: só acontece em vacinas que imunizam contra infecções virais, para o vírus existir ele precisa infectar alguma célula pra sobreviver, para trabalhar com os vírus tem que fazer a infecção das células (neoplásicas) em cultura in vitro ou cultivar o vírus em um ovo embrionado (ovo de galinha). Muitas vacinas são feitas cultivando vírus em ovo embrionado. Traços de ovalbumina acabam ficando presentes na vacina que é prejudicial ao individuo alérgico. Ex: vacina sarampo, caxumba, gripe, febre amarela.
As vacinas não têm unicamente um agente imunizante tem conservante, estabilizadores antibióticos etc. 
Vacinas contra-indicadas a gestantes e imunodeprimidos: Anti-amarílica, tríplice/tetra viral, BCG, Sabin. Essas vacinas têm o microorganismo vivo atenuado.
A gravidez deve ser evitada por um mês após a vacinação.
A tríplice viral é dada partir dos 12 meses, depois que a criança já não tem os anticorpos da mãe na circulação, pois os anticorpos neutralizariam a vacina.

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