Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 1 PRINCÍPIOS DIREITO PENAL CONCEITO É o ramo do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e prevê medidas de segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadas. Por outro lado, o Direito Penal é um importante instrumento de preservação dos direitos e garantias do indivíduo em face do Estado Punidor. É nesse contexto que se verifica a relevância dos princípios do Direito Penal, que servem como limitadores do poder punitivo estatal. Diante da importância do tema, os princípios mais relevantes para o Direito Penal e, consequentemente, para os concursos públicos serão comentados a partir de agora. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE MUITO IMPORTANTE CONCEITO O princípio da legalidade é a exigência de lei, em sentido estrito, para a criação de crimes ou contravenções e cominação de penas. Tal princípio é previsto no art. 1º do Código Penal: Art. 1º do Código Penal - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. DÚVIDA: O que é lei em sentido estrito? Lei em sentido estrito é a espécie normativa que atenda, cumulativamente, ao critério material (conteúdo) e critério formal (processo legislativo) de lei. MEDIDAS PROVISÓRIAS Medidas provisórias são espécies de normas editadas pelo Presidente da República, quando preenchidos os requisitos constitucionais de urgência e relevância. Apesar de terem força de lei, as medidas provisórias não são lei em sentido estrito, já que não preenchem o critério formal (processo legislativo). Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria I - relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; DÚVIDA: MEDIDAS PROVISÓRIAS podem tratar sobre Direito Penal? Da literalidade do art. 62, §1º, I, “b”, da CF/88, a resposta seria NÃO. Contudo, conforme jurisprudência do STF, a resposta é DEPENDE. A vedação se restringe à possibilidade de criar crimes e cominar penas. A ideia é simples: não se pode criar crimes ou cominar penas (agravar a situação do réu) por meio de medida provisória. Contudo, caso a medida provisória, que disciplina matéria de Direito Penal, seja benéfica do ponto de vista do réu, nada impede sua utilização. Ex: prorrogação da abolitio criminis temporária para a posse ilegal de arma de fogo de uso permitido. Em suma, medida provisória in bonam partem, ou seja, benéfica, é permitida. ANALOGIA Espécie de integração legislativa, sua finalidade é preencher as lacunas legislativas. CRITÉRIO MATERIAL (CONTEÚDO) CRITÉRIO FORMAL (PROCESSO LEGISLATIVO) LEI EM SENTIDO ESTRITO Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 2 A lógica a ser aplicada é a mesma em relação à medida provisória, portanto, é possível a utilização da analogia em benefício do réu (in bonam partem). ANALOGIA IN MALAM PARTEM É aplicada analogia em desfavor do réu, sua aplicação é proibida no Direito Penal brasileiro. Ex: furto de sinal de TV a cabo (art. 155, §3º, do CP) IN BONAM PARTEM É aplicada em benefício do réu, sua aplicação é admitida no Direito Penal brasileiro. Ex: aborto sentimental (CP, art. 128, II) no estupro de vulnerável (CP, art. 217-A). IMPORTANTE: O art. 20 da Lei nº 7.716/89 e a criminalização da homofobia Recentemente, o STF decidiu pela criminalização da homofobia (Info 944) com base no art. 20 da Lei nº 7.716/89. Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. Da leitura do dispositivo legal, verifica-se que não consta a discriminação em relação a orientação sexual. Dessa forma, ao criminalizar a homofobia ao arrepio do princípio da taxatividade, o STF decidiu com aplicação da analogia in malam partem. Não há dúvidas de que o tema vai ser abordado nos concursos públicos, contudo, em uma questão do tipo certo/errado, sugiro que assinalem o entendimento clássico, ou seja, a analogia é aplicada apenas em benefício do acusado. Entretanto, caso o enunciado seja específico e trate do julgamento acima, a resposta deverá ser aquela de acordo com a decisão do STF. COSTUMES Os costumes são fontes informais do Direito Penal, trata-se de condutas reiteradas cuja obrigatoriedade é acredita pelos indivíduos. DÚVIDA: É possível a atipicidade com fundamento nos costumes? A resposta é NÃO. Se a criação do tipo penal (crime) exige uma lei em sentido estrito, da mesma forma, a revogação deverá obedecer ao mesmo meio, tudo isso, em respeito ao princípio da simetria. Por exemplo, apesar de ser muito comum, até tolerada pelo Poder Público, o comércio de DVD’s piratas, tal conduta continua a ser típica (criminosa) e, portanto, deve sofrer a repressão do Direito Penal. PRINCÍPIO DA SIMETRIA: Por tal princípio, não é possível a revogação de um tipo penal por meio de costume jurídico, ou seja, não é possível alegar a adequação social como circunstância apta a não tipificar o crime/contravenção. MANDADO DE CRIMINALIZAÇÃO TEMA DE APROFUNDAMENTO Como é sabido, o Direito Penal brasileiro adota a lei ordinária como instrumento legislativo apto a criar tipos penais. A opção é coerente e bastante prática, na medida em que é a espécie de lei mais “fácil” de ser aprovada, requerendo, apenas, a chamada maioria simples. Dessa forma, o legislador consegue “acompanhar” a evolução de novas condutas potencialmente lesivas à sociedade, tipificando-as por meio de um processo legislativo menos dificultoso. DÚVIDA: A CF/88 (Constituição) criou algum crime (tipo penal)? A resposta é NÃO. Apesar da CF/88 até tratar de crimes, como ocorre no art. 5º, XLII, a verdade é que a Constituição não cria nenhum tipo penal. XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 3 Como é possível observar, segundo a Constituição, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível, mas cabe ao legislador infraconstitucional criar o tipo penal correspondente. DÚVIDA: Pode o legislador deixar de tipificar (criminalizar) uma conduta que a Constituição expressamente diz ser crime? A resposta é NÃO. A Constituição, ao afirmar que determinada conduta é criminosa, cria uma obrigação, ou seja, “manda” que o legislador a tipifique penalmente, a isso se dá o nome de MANDADO DE CRIMINALIZAÇÃO. Em suma, apesar da Constituição não criar crimes, a Lei Maior obriga o legislador a agir, sob pena de incorrer em omissão inconstitucional. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE CONCEITO Não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de lesão ao bem jurídico1. CRIME DE LESÃO X CRIME DE PERIGO Trata-se de uma classificação que leva em conta a existência de efetiva lesão ao bem jurídico ou a exposição deste à uma situação de perigo (concreto ou abstrato). CRIME DE LESÃO: É aquele cuja consumação somente se produz coma efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: Homicídio (CP, art. 121). CRIME DE PERIGO ABSTRATO: É aquele cuja consumação ocorre pela prática da conduta descrita no tipo penal independentemente de lesão ao bem jurídico. Ex: porte ilegal de arma de fogo (Lei nº 10.826/03, art. 14). CRIME DE PERIGO CONCRETO: É aquele cuja consumação exige a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo. Ex: direção perigosa (CTB, art. 311). 1 MASSON, CLEBER. DIREITO PENAL VOLUME 1, 2015, 53 P. PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE (INTRANSCENDÊNCIA DA PENA) CONCEITO A pena não passará da pessoa do condenado, ou seja, uma vez que o agente infrator morra, as penas a ele aplicadas não podem ser estendidas aos seus sucessores. Art. 5º, XLV, da CF/88: ”nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido". EFEITO PENAL X EFEITO CÍVEL Há muita confusão entre os efeitos penais e cíveis da condenação penal. Por exemplo, um efeito penal seria o condenado deixar de ser considerado primário (reincidência), por outro lado, um efeito cível seria o dever do criminoso de reparar os danos causados à vítima. Segundo o princípio da intranscendência da pena, apenas o efeito penal se restringe à pessoa do condenado (“morre” com ele), ao passo que o efeito cível pode ser estendido aos sucessores, desde que no limite do valor da herança. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA CONCEITO A sanção penal deve levar em consideração as circunstâncias pessoais do agente. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE CRIME DE PERIGO ABSTRATO CONCRETO CRIME DE LESÃO Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 4 Art. 5º, XLVI, da CF/88: ”(…) a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: (...)” PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA MUITO IMPORTANTE CONCEITO A aplicação do Direito Penal só será legítima quando a criminalização de um fato se constitui meio indispensável à proteção de determinado bem jurídico. SUBPRINCÍPIOS PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE - A atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da ordem pública. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE - Nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas apenas os que atentam contra valores fundamentais da sociedade. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU PRINCÍPIO DA BAGATELA MUITO IMPORTANTE CONCEITO É o princípio que visa descriminalizar condutas formalmente típicas, ou seja, que se adequam formalmente ao tipo penal, mas não materialmente (atipicidade material). REQUISITOS OBJETIVOS De início, é importante esclarecer que o princípio da insignificância não possui previsão legal, ou seja, foi construído por meio da doutrina e da jurisprudência. Nesse sentido, coube ao STF definir os requisitos de aplicação do princípio da insignificância: OBS: É possível perceber que todos os requisitos são associados a adjetivos diminutivos. REQUISITOS SUBJETIVOS Além dos requisitos objetivos, a incidência do princípio da insignificância exige a análise das circunstâncias subjetivas do autor e vítima. Em relação ao autor, não é possível a aplicação do princípio da insignificância para o criminoso habitual, ou seja, para aquele que faz da prática de crimes seu meio de vida. DÚVIDA: É possível a aplicação do princípio da insignificância para o reincidente? A resposta é SIM. Segundo a jurisprudência do STF, é possível a aplicação do princípio da insignificância para o reincidente. Contudo, a regra é a não incidência do princípio da insignificância ao reincidente ou caso o agente já responda por outros inquéritos ou ações penais. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE MÍNIMA ofensividade da conduta NENHUMA periculosidade social REDUZIDO grau de reprovabilidade do comportamento INEXPRESSIVIDADE da lesão jurídica provocada Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 5 Por outro lado, as circunstâncias subjetivas (pessoais) da vítima também devem ser levadas em consideração no que tange ao princípio da insignificância. Dessa forma, ainda que o bem seja de valor econômico irrelevante, não é possível aplicar o princípio da bagatela caso a lesão jurídica, do ponto de vista da vítima seja considerável. Por exemplo, um cão vira-latas, apesar de não apresentar valor econômico aferível, jamais será considerado insignificante para seu dono, razão pela qual não é possível aplicar o princípio da insignificância para o agente que furta o animal. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AOS DIVERSOS TIPOS PENAIS Inicialmente, é importante recordar que, por não haver previsão legal, o princípio da insignificância é avaliado no caso concreto, ou seja, são as características do fato ocorrido que vão ensejar, ou não, sua incidência. Em suma, ainda que seja admitida a incidência do princípio da insignificância para determinado tipo penal, sempre será necessário analisar as circunstâncias do caso concreto. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Os crimes contra o patrimônio, em regra, admitem a incidência do princípio da insignificância. A exceção é a inaplicabilidade do princípio para os tipos penais que contenham como elementos a violência ou grave ameaça. Por exemplo, é possível aplicar o princípio da bagatela para o crime de apropriação indébita (CP, art. 168), contudo, situação diversa ocorre para o crime de roubo (CP, art. 157), isso por conta da violência ou grave ameaça que envolve este tipo penal. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Os crimes praticados contra a Administração Pública envolvem a violação de diversos bens jurídicos, com especial destaque à moralidade e probidade, bens jurídicos intransigíveis, ou seja, que não podem ser relativizados. Sob tal fundamento, o princípio da insignificância seria incompatível com os crimes contra a Administração Pública, entendimento, inclusive, sumulado pelo STJ. MUITO IMPORTANTE: Súmula nº 599 - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. Por outro lado, cumpre salientar que o STF, em situações excepcionais, já permitiu a aplicação do princípio da insignificância para crimes contra a Administração Pública. MUITO IMPORTANTE: De toda forma, para fins de concurso público, sobretudo, para a Banca CESPE, adotem o entendimento sumulado do STJ. DÚVIDA: É possível aplicar o princípio da insignificância para o crime de descaminho (CP, art. 334)? CRIMINOSO HABITUAL Não se aplica o princípio da insignificância REINCIDENTE Pode se aplicar o princípio da insignificância REGRA Aplicabilidade do princípio da insignificância EXCEÇÃO Inaplicabilidade para os crimes que envolvam violência ou grave ameaça STF Em situações excepcionais, aplica-se o princípio da insignificância STJ Não se aplica o princípio da insignificância (Súmula nº 599) Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 6 A resposta é SIM. Não obstante ocrime de descaminho estar no capítulo “dos crimes praticados por particular contra a Administração em geral”, tanto STF, quanto STJ, admitem a aplicação do princípio da insignificância. A justifica passa pelo forte viés arrecadatório/tributário do tipo penal do art. 334 do CP, razão pela qual, como ocorre nos crimes tributários, admite-se a bagatela para o descaminho. CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER (LEI MARIA DA PENHA) Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes/contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Aliás, é exatamente o entendimento apresentado na Súmula nº 589 do STJ, conforme: MUITO IMPORTANTE: Súmula nº 589 - É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. CRIMES DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO A aplicação do princípio da insignificância para os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento sempre esbarrou na classificação de crime de perigo abstrato, ou seja, a mera conduta típica seria suficiente para colocar em risco o bem jurídico protegido. Contudo, segundo as reiteradas e recentes decisões dos Tribunais Superiores, percebe-se que há uma inclinação à possibilidade de aplicação do princípio da insignificância, principalmente, para os casos em que o indivíduo é surpreendido na posse de pequena quantidade de munição de uso permitido e sem a arma de fogo. CRIMES AMBIENTAIS A proteção ambiental é um tema muito atual na comunidade internacional e, não por outro motivo, é importante tecer alguns comentários acerca da tutela do meio ambiente por meio do Direito Penal, inclusive, da possibilidade de aplicação do princípio da insignificância. De início, é possível afirmar que o princípio da insignificância é aplicável aos crimes contra o meio ambiente (Lei nº 9.605/98). Contudo, o aluno deve ficar atento que, hoje, a aplicação do princípio da insignificância para os crimes ambientais vem perdendo força, principalmente, por conta do fenômeno classificado como crime de acumulação. O crime de acumulação envolve fatos que, individualmente, poderiam ser classificados como irrelevantes, mas a prática reiterada acabaria por violar os bens jurídicos tutelados, como exemplo, cita- se a pesca de apenas 01 peixe no período do defeso, contudo, se vários pescadores praticarem a mesma infração, o dano ambiental, analisado em conjunto, será penalmente relevante. NORMAS PENAIS EM BRANCO CONCEITO Trata-se de uma norma incompleta que, para ter sentido, exige uma complementação por meio de lei ou outro ato normativo. É uma técnica bastante interessante para evitar a ineficácia prática de dispositivos legais que regulam matérias sujeitas à rápida evolução/alteração. É o que ocorre, por exemplo, com o art. 33, caput, da Lei de Drogas: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Percebe-se que o dispositivo legal tipifica o tráfico de drogas, mas sem informar quais substâncias poderiam ser classificadas como tais. Diante disso, coube a uma portaria editada pela ANVISA trazer o rol dessas substâncias. A razão é simples: é muito mais célere a alteração de uma portaria para fazer incluir uma nova substância entorpecente do que ser obrigado a deflagrar o Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 7 processo legislativo, caso o conceito de “droga” constasse em lei. CLASSIFICAÇÕES O tema é bastante recorrente em provas de concurso público, razão pela qual é importante o aluno se atentar às diversas classificações da norma penal em branco. NORMA PENAL EM BRANCO HOMOGÊNEA (IMPRÓPRIA) A norma penal em branco homogênea é aquela cujo complemento se dá por meio da mesma espécie normativa, no caso, a lei. Tal espécie se subdivide em: HOMOVITELÍNEA ou HETEROVITELÍNEA. A norma penal em branco homogênea homovitelínea é aquela cujo complemento se dá por meio da mesma lei da norma incompleta. Por exemplo, é o art. 312, caput, do Código Penal (peculato): Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. O conceito de “funcionário público” consta no art. 327 do Código Penal, ou seja, mesmo diploma legal do tipo penal incompleto. Por outro lado, norma penal em branco homogênea heterovitelínea é aquela cujo complemento se dá por meio de uma lei diferente. É o que ocorre com o art. 237 do Código Penal: Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano. As causas de impedimento para o casamento encontram-se elencadas no art. 1.521 do Código Civil, ou seja, em diploma legal diverso do Código Penal. NORMA PENAL EM BRANCO HETEROGÊNEA (PRÓPRIA) A norma penal em branco heterogênea é aquela que o complemento se dá por meio de espécie normativa diversa da norma penal incompleta, por exemplo, por meio de um decreto ou portaria. É o que ocorre com o art. 33 da Lei de Drogas, já mencionada anteriormente. NORMA PENAL EM BRANCO AO AVESSO (INVERTIDA) Em regra, a complementação da norma penal em branco ocorre no preceito primário (descrição do tipo penal). Contudo, quando a necessidade de complemento se dá no preceito secundário (pena), tem-se a norma penal em branco ao avesso. Por exemplo, é o que ocorre no crime de genocídio (Lei nº 2.889/56): Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: (Vide Lei nº 7.960, de 1989) a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; NORMA PENAL EM BRANCO HOMOGÊNEA HOMOVITELÍNEA HETEROVITELÍNEA HETEROGÊNEA Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 8 Com as penas do art. 148, no caso da letra e; NORMA PENAL EM BRANCO AO QUADRADO Segundo Luiz Flávio Gomes, a norma penal em branco ao quadrado é aquela que ocorre quando a lei penal exige um complemento normativo para sua compreensão e este complemento faz referência a outro ato normativo. Por exemplo, o art. 38 da Lei 9.605/98 tipifica a conduta de destruir ou danificar florestas de preservação permanente. Ao seu turno, o conceito de área de preservação permanente é dado pelo Código Florestal. Por fim, dentreas hipóteses constantes no Código Florestal, há aquela que pode ser declarada por ato normativo do Chefe do Poder Executivo. NORMA PENAL EM BRANCO HETEROGÊNEA X PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DÚVIDA: O fato do complemento da norma penal não se dar por meio de lei em sentido estrito violaria o princípio da legalidade? A resposta é NÃO. Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, ainda que o complemento da norma penal em branco não seja lei em sentido estrito (por exemplo, portaria), tal circunstância não viola o princípio da legalidade. Dito de outra forma, é admissível a técnica da norma penal em branco, desde que a norma incompleta tenha densidade suficiente para satisfazer o princípio da taxatividade, deixando para o complemento apenas a função de complementar os elementos essenciais do tipo penal. EXERCÍCIOS 1. (CESPE – 2019/PRF - Agente) O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue. O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar medida provisória para agravar a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação da medida pelo Congresso Nacional. 2. (CESPE – 2019/PGE-PE - Procurador) - João, valendo-se da sua condição de servidor público de determinado estado, livre e conscientemente, apropriou-se de bens que tinham sido apreendidos pela entidade pública onde ele trabalha e que estavam sob sua posse em razão de seu cargo. João chegou a presentear diversos parentes com alguns dos referidos produtos. Após a apuração dos fatos, João devolveu os referidos bens, mas, ainda assim, foi denunciado pela prática de peculato- apropriação, crime para o qual é prevista pena privativa de liberdade, de dois anos a doze anos de reclusão, e multa. A partir dessa situação hipotética, julgue o item subsecutivo, considerando a disciplina acerca dos crimes contra a administração pública. De acordo com o entendimento do STJ, se João for réu primário e o prejuízo ao erário causado por ele tiver sido de pequena monta, será possível a aplicação do princípio da insignificância. 3. (CESPE – 2019/PRF - Agente) - O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue. A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar ou alterar a pena. 4. (CESPE – 2019/PC-SE - Delegado) - Julgue o item seguinte, relativo aos direitos e deveres individuais e coletivos e às garantias constitucionais. O princípio da individualização da pena determina que nenhuma pena passará da pessoa do condenado, razão pela qual as sanções relativas à restrição de liberdade não alcançarão parentes do autor do delito. 5. (CESPE – 2015/TCE-RN - Inspetor) - Acerca do concurso de pessoas e dos princípios de direito penal, julgue o item seguinte. Segundo o princípio da intervenção mínima, o direito penal somente deverá cuidar da proteção dos bens mais relevantes e imprescindíveis à vida social. Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:24.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 9 Comentário da questão 1: O princípio da legalidade afirma que a criação de crimes e cominação de penas exige lei em sentido estrito. Dessa forma, medida provisória não é apta para criar crimes, até mesmo diante da vedação constitucional prevista no art. 62, §1º, I, b, do Código Penal. Contudo, segundo pacífica jurisprudência do STF, a vedação constitucional deve ser restrita às hipóteses em que a medida provisória veicule matéria penal de forma gravosa ao acusado, ou seja, caso a MP seja benéfica, não há óbice para tratar sobre o tema. Na questão, percebe-se que a medida provisória seria utilizada para gravar a pena do tipo penal, razão pela qual não seria vedada (medida provisória in malam partem). Comentário da questão 2: Apesar de decisões do STF admitindo a aplicação do princípio da insignificância para os crimes contra a Administração Pública, o entendimento a ser adotado na banca CESPE é o prescrito na Súmula nº 599 do STJ, que veda, expressamente, a princípio da bagatela para os crimes contra a Administração Pública. Súmula nº 599 do STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública.” Registra-se que mesmo o STJ admite a aplicação do princípio da insignificância para o crime de descaminho (CP, art. 334), que se classifica como crime praticado por particular contra a Administração em Geral. Comentário da questão 3: De fato, a norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito. Contudo, a doutrina e jurisprudência entendem ser cabível a analogia (hipótese de integração legislativa) no Direito Penal, desde que seja em benefício do acusado, ou seja, analogia in bonam partem. Assim, a vedação não é absoluta, mas restrita à analogia in malam partem, razão pela qual a questão está errada. Comentário da questão 4: O enunciado descreve o princípio da intranscendência da pena (pessoalidade). Por outro lado, o princípio da individualização da pena, prevista no art. 5º, XLVI, da CF/88, afirma que a pena deve ser individualizada para cada agente infrator, conforme a gravidade do delito praticado. Comentário da questão 4: Do princípio da intervenção mínima, decorre 02 subprincípios: a) fragmentariedade; b) subsidiariedade. Nesse sentido, o princípio da fragmentariedade afirma que o Direito Penal deve cuidar da proteção dos bens jurídicos mais relevantes. GABARITO 1. Errado 2. Errado 3. Errado 4. Errado 5. Certo
Compartilhar