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1 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL INFRAÇÃO PENAL Infração penal é o objeto de estudo do Direito Penal que trata das condutas contrárias ao ordenamento jurídico, que atacam o pacto social e a vida em comunidade, ou seja, são contrárias à sociedade. Portanto, o Direito Penal elege essas infrações penais para puni-las. Vale destacar que a infração penal possui uma subdivisão. No ordenamento jurídico brasi- leiro, adota-se o chamado sistema dualista, também chamado de sistema binário ou dicotô- mico. Em outras palavras, a infração penal irá se dividir em duas espécies: crime, também chamado de delito, e contravenção penal. A diferença entre crimes e contravenções penais é estabelecida pelo Art. 1º da Lei de Introdução do Código Penal. Nesse caso, o dispositivo define que crimes são condutas às que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, cumulativamente ou alternativamente, com a pena de multa também. Já nas contravenções penais há pena de prisão simples ou de multa, ou somado um com outro. Logo, quando se estiver diante de uma infração penal que tenha como pena a reclusão ou detenção, se está diante do crime. Porém, quem decide o que é crime e o que é contravenção penal é o legislador e o Con- gresso Nacional. Isso porque, o que é considerado crime hoje, amanhã pode virar uma con- travenção penal e vice-versa, basta uma lei alterando o preceito secundário e alterando a pena combinada àquela conduta. Por exemplo, antigamente, o porte ilegal de arma de fogo era uma contravenção penal. Na década de 1990, passou a ser um crime. NORMA PENAL É importante frisar que dentro da norma penal existe o preceito primário e o preceito secundário. O preceito primário da norma penal é a descrição da conduta criminosa, enquanto o preceito secundário é a sanção penal. 5m 2 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Exemplo: Código Penal Art. 121. Matar alguém. Pena – reclusão, de seis a vinte anos. O delito mais simples do Código Penal brasileiro e um dos mais conhecidos que é o Art. 121, que trata do homicídio. Nesse caso, o preceito primário do homicídio é matar alguém, ou seja, a descrição da conduta. Já a pena de reclusão é de 6 a 20 anos, isto é, o preceito secundário e a sanção penal imposta em relação àquela conduta. PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL Existem dois grande grupos de princípios, os princípios explícitos e os princípios implíci- tos. Os princípios explícitos são aqueles que estão positivados no ordenamento jurídico, isto é, está expresso na lei ou na Constituição Federal. Já o princípio implícito se trata de uma construção da doutrina ou da jurisprudência, sendo pacífico, mas não se encontra escrito na lei ou na Constituição Federal. Um não é mais importante que o outro, logo, todos os princí- pios guiarão o ordenamento jurídico e o operador do direito. O princípio da dignidade da pessoa humana é conhecido como super princípio do Direito Penal, porque todos os demais princípios de Direito Penal obedecerão à dignidade da pessoa humana. Por exemplo, não são admitidas penas cruéis, de torturas físicas, pois elas vão de encontro ao princípio da dignidade da pessoa humana. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Apesar princípio da dignidade da pessoa humana ser um super princípio, o princípio da legalidade é, provavelmente, o mais cobrado em prova. É importante frisar que o princípio da legalidade é um princípio explícito, uma vez que possui previsão constitucional, inclusive, previsão legal no Art. 5º, inc. XXXIX, da Constituição Federal, que possui o mesmo teor do Art. 1º do Código Penal. 10m 3 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) Previsão constitucional e legal CF, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia comina- ção legal;”. CP, Art. 1º “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Obs.: trata-se de cláusula pétrea – Art. 60, § 4º, CF – “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV – os direitos e garantias individuais.” Logo, não há crime sem uma lei anterior que o defina aquele, ou seja, não pode alguém vir a ser punido por uma conduta sem que a lei já prevista expressamente que aquela con- duta era considerada crime. Quando se utiliza o termo crime em ambos os artigos, deve-se entender como infração penal. Portanto, não se pode ter uma contravenção penal sem lei anterior que a defina. Já sobre o termo pena, deve-se compreender como uma sanção penal. Isso porque a sanção penal é um gênero que tem duas espécies: a pena e as medidas de segurança que são aplicáveis aos inimputáveis que apresentem periculosidade. Princípio da legalidade: • Princípio da reserva legal ou estrita legalidade. • Princípio da anterioridade. É fundamental frisar que o princípio da legalidade também é um princípio gênero, porque a partir dele existem outras duas espécies de princípios. Sendo assim, o princípio da legali- dade tem uma subdivisão, que é o princípio da reserva legal ou estrita legalidade e o princípio da anterioridade, que são distintos. É importante estar atento, pois se aparecer na questão que ambos são sinônimos, não se dirá que a questão está errada, até porque um é decorrên- cia do outro, mas, tecnicamente, o entendimento majoritário da doutrina é de que o princípio da legalidade é um gênero que possui duas espécies. DIRETO DO CONCURSO 1. (CESPE/AGU/ADVOGADO DA UNIÃO/2009) O princípio da legalidade, que é desdobrado nos princípios da reserva legal e da anterioridade, não se aplica às medidas de segu- rança, que não possuem natureza de pena, pois a parte geral do Código Penal apenas se refere aos crimes e contravenções penais. 15m 4 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES COMENTÁRIO O princípio da legalidade é desdobrado nos princípios da reserva legal e da anterioridade. Entretanto, quando se trata de sanção penal sem prévia cominação legal, existem duas espécies, pena e medida de segurança. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL OU DA ESTRITA LEGALIDADE Somente lei ordinária ou lei complementar pode criar crimes ou agravar penas Para o Princípio da Reserva Legal ou estrita legalidade somente é possível a criação de crimes ou o agravamento de penas por meio de lei. Não existe outro instrumento jurídico pelo qual se possa criar um crime, isto é, não há crime sem lei que o defina. Portanto, só pode haver a criação de um crime ou agravamento de penas por meio de Lei Ordinária ou Lei complementar. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a Direito Penal (CF, Art. 62, § 1º, I, b) seja para prejudicar ou beneficiar o réu. Entretanto, o STF tem admitido medidas provisórias que versem sobre direito penal favorável ao réu (RHC 117.566/ SP, julgado em 24/09/2013). É fundamental ressaltar que medida provisória não é lei, porém, aprovadas pelo Con- gresso Nacional, as medidas provisórias se transformam em lei. Mesmo após se transformar em lei, ela não poderá versar sobre Direito Penal. Nesse caso, o Supremo Tribunal Federal apresenta uma exceção. O STF afirmou que medida provisória não pode criar crimes e agra- var penas, mas, se for uma medida provisória que venha beneficiar o réu, poderá. A razão disso é que o princípio da reserva legal é válido quando surgem novas normas que venham a prejudicar o réu. Já normas que venham a descriminalizar condutas ou beneficiar o réu não estão sujeitas ao princípio da reserva legalou da estrita legalidade. 20m 5 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Inadmissível que lei delegada verse sobre direito penal Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacio- nal, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal e sobre direitos individuais (Art. 68, § 1º, e II, CF) Nesse caso, não há hipótese de haver uma norma incriminadora ou o agravamento de uma pena por meio de uma lei delegada. Vale frisar que tratados internacionais, ainda que internalizados e ratificados no Brasil, não podem criar crimes e agravar penas. Nesse sen- tido, existe uma polêmica a respeito dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos, pois esses têm um caráter de supralegalidade e, se eles forem aprovados interna- lizados com o quórum das emendas constitucionais, eles têm, inclusive, status de Emenda Constitucional. 2. (CESPE/CEBRASPE/PC-BA/INVESTIGADOR DE POLÍCIA/2013) Para fins de observân- cia do princípio da legalidade penal, o presidente da República está autorizado consti- tucionalmente a definir condutas criminosas por meio de medida provisória. COMENTÁRIO O presidente da República não pode definir condutas criminosas por meio de medida pro- visória. Isso porque definir condutas criminosas seria a criação de crimes por meio de me- dida provisória, situação que não é admitida. 3. (CESPE/PRF/POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL/2019) O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar medida provisória para agravar a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação da medida pelo Congresso Nacional. DIRETO DO CONCURSO 6 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) COMENTÁRIO Mesmo que a medida provisória se torne lei, ela não pode criar crimes e agravar penas, em nenhuma hipótese. 4. (CESPE/CONSULTOR LEGISLATIVO/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014) O princípio da reserva legal aplica-se, de forma absoluta, às normas penais incriminadoras, excluindo- -se de sua incidência as normas penais não incriminadoras. COMENTÁRIO O principio da reserva legal se aplica de forma absoluta às normas incriminadoras, normas que criam crimes que, consequentemente, criam delitos e infrações penais. Já em relação às normas não incriminadoras, o princípio da reserva legal não tem aplicação. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL OU DA ESTRITA LEGALIDADE Como decorrência deste princípio, não é permitida a analogia in malam partem no Direito Penal, tampouco o uso de costumes para criar infrações penais. A analogia in malam partem é quando se deseja aplicar uma norma penal por analogia a um outro fato distinto do que está dizendo a norma penal. Para prejudicar, jamais será válida, porém, para beneficiar, é possível fazer isso. Por exemplo, é inviolável as comunicações tele- fônicas, caso faça isso, o sujeito responderá pelo crime previsto na Lei n. 9.296/1996. Outra situação, se o indivíduo lê o diário escrito por outra pessoa, violando a intimidade dela. Nesse caso, ele não está cometendo um crime, pois não existe uma conduta na legislação penal definindo que é crime ler o diário alheio. Além disso, não se pode aplicar uma outra norma penal no caso de quem leu o diário de uma pessoa, porque há uma analogia in malam partem, ou seja, uma analogia para preju- dicar o réu. Entretanto, no Direito Penal, é possível que exista a analogia in bonam partem, isto é, que beneficia o réu. Por exemplo, se a esposa subtrair bens do seu marido não há crime. Isso porque o Art. 181 do Código Penal estabelece que não há crime contra o patri- mônio quando não à violência e quando ele é praticado contra o cônjuge na constância da sociedade conjugal. 25m 7 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Contudo, o Art. 181 não cita sobre a companheira que subtrai bens do companheiro ou daqueles que vivem em união estável. Nessa situação, é possível aplicar o artigo e uma isen- ção de pena escusa absolutória à esposa e também à companheira, porque haverá in bonam partem. Todavia, é preciso estar atento, pois existe uma polêmica no caso se o companheiro subtrai bens da companheira, já que poderia incidir a Lei Maria da Penha. Além disso, os costumes também não podem criar infrações penais. É entendido pela sociedade que ler o diário alheio é algo antiético e reprova a conduta, porém, não está defi- nido na lei como crime. Em contrapartida, os costumes eles podem vir a beneficiar o réu. 5. (CESPE/DETRAN/DF/ANALISTA DE TRÂNSITO/ÁREA LEGISLAÇÃO/2009) O princípio da legalidade veda o uso da analogia in malam partem, e a criação de crimes e penas pelos costumes COMENTÁRIO O princípio da legalidade veda o uso da analogia in malam partem e veda também a cria- ção de crimes e penas pelos costumes. 6. (CESPE/TJES/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA APOIO ESPECIALIZADO/ESPECIALIDA- DE: EXECUÇÃO PENAL/2011) Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à proibição de se realizar incriminações vagas e indeterminadas, visto que, no preceito primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de definição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo vedada, com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos. 30m DIRETO DO CONCURSO 8 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES COMENTÁRIO O preceito primário do tipo penal incriminado trata-se da descrição da conduta do crime e da infração penal. Nesse caso, o princípio da legalidade deve ser anterior e ser criado por lei, além de ser claro e específico. É proibida a criação de crimes com disposições vagas. Ainda nesse sentido, o princípio da taxatividade é uma decorrência do princípio da legalida- de, o qual define que os tipos penais, o preceito primário e a descrição da conduta devem ser claros e específicos. Ou seja, o legislador, quando cria um crime, apresenta uma dispo- sição abstrata, mas é o juiz que aplicará aquela conduta ao caso concreto. O princípio da taxatividade nem sempre é obedecido pelo legislador. Existem alguns tipos penais, chamados tipos penais abertos, que exigirão algum tipo de interpretação do apli- cador do direito e, às vezes, apresentam algum tipo de problema. Por exemplo, o Art. 233 do Código Penal, que trata sobre a prática de ato obsceno em local público, exposto ao público ou aberto ao público. Todavia, nesse caso, o legislador falhou quanto à taxatividade ao não especificar o que é ato obsceno. GABARITO 1. E 2. E 3. E 4. C 5. C 6. C 35m ���������������������������������������������������������������������������������Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Érico de Barros Palazzo. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu- siva deste material. 1 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL II PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE Previsão constitucional e legal CF, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia comina- ção legal”; CP, Art. 1º “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. A incriminação daconduta deve ser anterior à sua prática. Antigamente, a realidade não era dessa forma. O rei absoluto, se não gostava de alguém, acusava a pessoa de cometer algo que era crime e a mandava para a guilhotina. Sendo assim, os dispositivos acima representam uma conquista em relação aos direitos humanos e garantias fundamentais, de que o crime deve estar previsto em lei, mas a mesma precisa ser anterior à prática da conduta pelo agente. Supondo que o fato de cumprimentar outra pessoa sem utilizar previamente álcool em gel na mão ocorreu em 16 de Janeiro. O legislador cria, por meio de uma lei, que quem cumpri- mentar sem passar álcool em gel na mão haverá um crime de pena de detenção de 15 dias. A Lei Incriminadora foi publicada e entrou em vigor em 17 de Janeiro. Logo, se o fato acontecer no dia 16 de Janeiro, não se caracteriza crime, portanto é um fato atípico. Porém, se o ato for praticado em 18 de Janeiro, será um fato típico, ou seja, é crime. Em 16 de Janeiro, o fato é atípico, isto é, não é crime. Em 17 de Janeiro, a Lei Incrimi- nadora é publicada, porém, ela tem uma vacatio legis, ou seja, a lei é publicada, mas os efeitos dela passam a valer somente depois de um determinado tempo. Por exemplo, a lei é publicada hoje, mas somente entrará em vigor daqui a um mês. Na hipótese apresentada, a lei produziria efeitos apenas em 17 de Fevereiro. Supondo que um dia após a publicação da lei, mas, antes da sua entrada em vigor, alguém cumprimenta a mão de outra pessoa sem a utilização de álcool em gel. Nesse caso, se há a prática da conduta prevista na lei durante o prazo da vacatio legis, não há crime, logo, será um fato atípico. 5m 2 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES O princípio da anterioridade não leva em consideração a publicação da lei, e sim a vigên- cia da lei. Ou seja, o princípio da anterioridade estará sendo respeitado e o agente somente será incriminado por aquela conduta após a entrada em vigor da referida lei. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA CF, Art. 5º, XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a. privação ou restrição da liberdade; b. perda de bens; c. multa; d. prestação social alternativa; e. suspensão ou interdição de direitos. É importante frisar que a pena deve ser individualizada. Isso significa que o juiz, ao apli- car a pena, ele observa a pena em abstrato no crime de homicídio, com reclusão de 6 a 20 anos, aplica o caso concreto. Nessa situação, ele analisará as circunstâncias judiciais, as circunstâncias em que o crime foi praticado, os antecedentes do réu, se ele é reincidente ou não, analisará as agravantes ou atenuantes até chegar em um quantitativo X. Supondo que, em um crime de homicídio simples, o juiz chega à conclusão e sentencia uma sentença con- denatória transitada em julgado de pena de 10 anos de reclusão. Ou seja, o juiz individuali- zou a pena para o caso concreto. Outro aspecto da individualização da pena é o aspecto do Judiciário, porque, quando editar as normas para criar os crimes, o Congresso Nacional utiliza-se da individualização da pena para estabelecer os intervalos das penas. Por exemplo, o crime de homicídio tem pena de reclusão de 6 a 20 anos e o crime de furto tem pena de reclusão de 1 a 4 anos, porque o legislador compreendeu que é mais grave cometer um homicídio do que cometer um furto. Este princípio deve ser observado nos seguintes planos: 1. Plano legislativo: estabelecimento das penas em abstrato; 2. Plano judicial: aplicação da lei ao caso concreto; 3. Plano administrativo: execução da pena. 10m 3 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Depois que o indivíduo é condenado, ele sofre uma sentença condenatória transitada em julgado e inicia o cumprimento à execução da pena, essa execução é individualizada também. Isso porque, se o sujeito estiver preso e trabalhar, ele terá remidos dias da sua pena, ele pode se beneficiar do indulto presidencial, pode se beneficiar da saída temporária. DIRETO DO CONCURSO 1. (CESPE/TCE/PR/AUDITOR/2016) Do princípio da individualização da pena decorre a exi- gência de que a dosimetria obedeça ao perfil do sentenciado, não havendo correlação do referido princípio com a atividade legislativa incriminadora, isto é, com a feitura de normas penais incriminadoras. COMENTÁRIO A dosimetria é o juiz aplicando a pena ao caso concreto. Sobre a questão, primeiramente, o examinador falou no plano judicial onde há a dosimetria aplicada ao caso concreto. En- tretanto, depois, cita que não há correlação do princípio da individualização da pena com o Legislativo. Porém, na verdade, há relação do princípio da individualização da pena com o Legislativo, quando esse cria normas incriminadoras. PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA INTRANSCENDÊNCIA CF, Art. 5º, XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos su- cessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. O princípio da personalidade ou da intranscendência corresponde ao fato de que nenhuma pena passará da pessoa do condenado. Por exemplo, se o pai do sujeito é condenada a um crime, o indivíduo não poderá cumprir a pena no lugar dele. Lembrando que pena se refere à sanção penal e se dividir em penas e medidas de segurança. Contudo, a pena por si só também apresenta uma subdivisão, porque dentro da pena se consideram as penas privati- vas de liberdade, as penas restritivas de direito e a pena de multa. 4 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES A principal polêmica é em relação à possibilidade de a pena de multa poder passar aos herdeiros do condenado. Supondo que o sujeito foi condenado há 10 anos de prisão e paga- mento de R$ 100 mil de multa. Porém, ele faleceu e deixou uma herança aos seus herdeiros de R$ 100 mil. Todavia, essa herança não pode ser utilizada para pagamento dessa multa. O que pode passar da pessoa do condenado é a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens, que possui caráter extrapenal. 2. (CESPE/PREFEITURA DE VITÓRIA/ES/AUDITOR FISCAL DO TESOURO MUNICI- PAL/2007) O princípio da intranscendência ou responsabilidade pessoal figura na Constituição Federal, que dispõe que nenhuma pena passará da pessoa do condena- do, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidos aos sucessores e contra eles executados, até o limite do valor do patrimônio transferido. COMENTÁRIO Princípio da intranscendência ou responsabilidade pessoal é outro nome dado ao princípio da personalidade ou da intranscendência. O item faz referência ao Art. Art. 5º, inc. XLV, da Constituição Federal. 3. (CESPE/PC/TO/DELEGADO DE POLÍCIA/2008) Prevê a Constituição Federal que nenhu- ma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. Referido dispo- sitivo constitucional traduz o princípio da intranscendência. COMENTÁRIO Conforme o princípio da personalidade ou da intranscendência, nenhuma pena poderá passar da pessoa do condenado. 15m DIRETO DO CONCURSO 5 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) 4. (CESPE/DELEGADO PCSE/2018) Julgue o item seguinte, relativo aos direitos edeveres individuais e coletivos e às garantias constitucionais. O princípio da individualização da pena determina que nenhuma pena passará da pes- soa do condenado, razão pela qual as sanções relativas à restrição de liberdade não alcançarão parentes do autor do delito. COMENTÁRIO A questão está tratando do princípio da intranscendência da pena, e não da individualização. 5. (CESPE/TJ/MA/JUIZ/2013) A obrigação de pagar a quantia em dinheiro determinada na pena de multa é transmissível aos herdeiros do condenado. COMENTÁRIO A quantia determinada na pena de multa é pena, se aplica à pena o princípio da intranscen- dência. Logo, a pena de multa não é transmissível aos herdeiros do condenado. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE Não há que se falar em infração penal se a conduta não causar uma lesão ao bem jurí- dico tutelado ou, ao menos, o perigo de lesão. É possível haver crime, infração penal e a aplicação do Direito Penal apenas se um agente pratica uma conduta que gera uma efetiva lesão ou, ao menos, um perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Por exemplo, o estudante aponta uma arma de água para o professor, diz que irá matá-lo e começa a atirar água contra o professor. Nesse caso, não foi gerado um tipo de lesão ao bem jurídico da vida dessa pessoa, portanto, não houve a prática de um crime. Nesse sentido, o princípio da ofensividade e da lesividade está muito próximo também da ideia do crime impossível previsto no Art. 17 do Código Penal. O dispositivo define que se o agente utiliza um meio absolutamente ineficaz para a prática do crime ou se houver absoluta impropriedade do objeto sobre o qual recai a conduta, se está diante de um crime impossível. Ou seja, um crime impossível nada mais é do que uma representação no Código Penal do princípio da ofensividade e da lesividade. 20m 6 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Entretanto, é preciso atento, pois, nos últimos tempos, o Direito Penal começou a crimi- nalizar condutas que não necessariamente geram um tipo de perigo. Por exemplo, porte de arma de fogo de maneira ilegal andando na rua, no supermercado e em outros lugares. O sujeito não está gerando uma lesão ou um perigo concreto de lesão. Nesse momento, surge, no Direito Penal, alguns crimes que irão punir o perigo abstrato. Nessa situação, a conduta o fato de ele estar carregando a arma não está gerando risco de lesão a ninguém, mas o fato dele carregar essa arma pode vir a gerar algum risco. ATENÇÃO Espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens jurídicos no Direito Penal O Direito Penal passa a se antecipar e punir condutas perigosas que têm potencial de gerar uma lesão futura. Ex.: crimes ambientais, crimes de perigo abstrato. 6. (CESPE/TCE/PR/AUDITOR/2016) Ao se referir ao princípio da lesividade ou ofensividade, a doutrina majoritária aponta que somente haverá infração penal se houver efetiva le- são ao bem jurídico tutelado. COMENTÁRIO Haverá infração penal se tiver a efetiva lesão a bem jurídico tutelado ou se tiver o perigo de lesão. Nesse caso, é importante frisar que se punem os crimes tentados, pois mesmo que ele não tenha se consumado e não houve a lesão ao bem jurídico, ao praticar atos executórios, o agente gerou um perigo de lesão ao bem jurídico. 7. (CESPE/TJ/BA/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO/2019) O princípio da ofensividade, se- gundo o qual não há crime sem lesão efetiva ou concreta ao bem jurídico tutelado, não permite que o ordenamento jurídico preveja crimes de perigo abstrato. COMENTÁRIO O princípio da ofensividade vai prever crimes de efetiva lesão ou perigo concreto de lesão. Apesar disso, não impede que haja no ordenamento jurídico a previsão de crimes de peri- go abstrato. 25m 7 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE Ninguém será punido por ofender somente bens jurídicos próprios. O princípio da alteridade é uma decorrência do princípio da lesividade e da ofensividade, sendo que algumas provas, às vezes, até tratam eles como sinônimos. Quanto a isso, é essencial compreender que para que haja a incidência do Direito Penal, é preciso da lesão, da efetiva lesão ou perigo de lesão a bem jurídico tutelado pela norma penal. Nesse sentido, o princípio da autoridade define que a lesão e o perigo de lesão deve se dar em relação a um bem jurídico alheio, ou seja, que pertence a outra pessoa. Se a pessoa pratica condutas contra seus próprios bens jurídicos, o Direito Penal não pode o sujeito. Por exemplo, não existe crime de autolesão. Se um sujeito tenta praticar sui- cídio, não será crime, porque ele está lesionando a própria integridade física. Se o indivíduo joga o próprio carro da ribanceira, destruindo-o por completo, também não haverá crime, porque ele está lesionando o próprio bem jurídico. 8. (CESPE/TJ/DFT/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE REGISTROS/2019) Aplicado no direito penal brasileiro, o princípio da alteridade: a. determina que o juiz analise as especificidades do fato e do autor do fato durante o processo dosimétrico. b. assevera que a pena não passará da pessoa do condenado. c. afasta a tipicidade material de fatos criminosos, ao definir que não haverá crime sem ofensa significativa ao bem tutelado. d. reconhece que o direito penal deve abarcar o máximo de bens possíveis para pro- mover a paz. e. assinala que, para haver crime, a conduta humana deve colocar em risco ou lesar bens de terceiros, e é proibida a incriminação de atitudes que não excedam o âmbito do próprio autor. COMENTÁRIO a) O item trata sobre o princípio da individualização da pena. b) Esse é o conceito do princípio da pessoalidade ou da intranscendência. c) Corresponde ao princípio da insignificância. d) O direito penal deve abarcar o mínimo de bens possíveis para promover a paz, além disso, o item discorre sobre o princípio da intervenção mínima. 30m DIRETO DO CONCURSO 8 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal II DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES GABARITO 1. E 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. E 8. E ���������������������������������������������������������������������������������Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Érico de Barros Palazzo. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu- siva deste material. 1 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL III PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA O Direito Penal é a ultima ratio na proteção dos direitos, ele só deve atuar quando a crimi- nalização de uma conduta for indispensável para proteger bens e interesses. O Direito Penal subdivide-se em outros dois princípios: • Princípio da subsidiariedade; • Princípio da fragmentariedade. Ultima ratio significa a última opção, o último recurso a ser utilizado pelo Estado. O Estado deve evitar utilizar o Direito Penal, pois o Direito Penal é muito gravoso às pessoas. Portanto, o ordenamento jurídico busca outros meios para coibir condutas indevidas. Somente quando não há outra opção é que deve ser utilizado o Direito Penal e em relação àqueles bens jurídi- cos mais valiosos para a vida em sociedade. O princípio da intervenção mínima se subdivide em outros dois princípios, o princípio da subsidiariedade e o princípio da fragmentariedade. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADESó será objeto do Direito Penal os ilícitos que mais prejudicam a vida em sociedade. Os demais ilícitos não devem ser abarcados pelo Direito Penal. Em outras palavras, o Direito Penal é o último recurso a ser lançado pelo Estado. O princípio da subsidiariedade é uma decorrência do princípio da intervenção mínima. Os demais ilícitos não devem ser abarcados pelo Direito Penal. Existem ilícitos que são pra- ticados e se utiliza o Direito Penal como último recurso, ou seja, o Estado não deve utilizar o Direito Penal para criminalizar condutas de qualquer maneira. Por exemplo, um desacerto comercial. Um sujeito contratou outro para fazer algum tipo de obra na sua residência. A pessoa contratada, após receber R$ 1 mil, fez a construção, mas a obra fica mal feita. Nesse caso, não é possível dizer que ela praticou um crime, mas, possivelmente, praticou ilícito, que no início será resolvido na esfera cível. 2 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE Nem todos os ilícitos configuram ilícitos penais. Serão considerados ilícitos penais os que forem previstos em lei e que atentem contra valores fundamentais dos indivíduos e da sociedade. Existe o mundo dos ilícitos e, dentro dele, existem os ilícitos que são civis, tributários, financeiros, administrativos, entre outros. E além desses ilícitos, uma parcela deles serão ilícitos penais. Ou seja, o ilícito penal é apenas um fragmento dos ilícitos. Em algumas situ- ações, entretanto, haverá um ilícito administrativo que, simultaneamente, será um ilícito penal, por exemplo. Logo, a pessoa poderá ser punida na esfera administrativa e também na esfera penal. DIRETO DO CONCURSO 1. (CESPE/TCU/AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO/2015) No que se refere aos princípios do Direito Penal e às causas de exclusão da ilicitude, julgue o próximo item. Em consequência da fragmentariedade do Direito Penal, ainda que haja outras formas de sanção ou outros meios de controle social para a tutela de determinado bem jurídico, a criminalização, pelo Direito Penal, de condutas que invistam contra esse bem será adequada e recomendável. COMENTÁRIO Se já existem outros meios de controle social e outras sanções de outros ramos do Direito, não há motivo para haver a criminalização do Direito Penal. Ou seja, não é adequado e não é recomendável, em consequência da fragmentariedade do Direito Penal. 2. (FGV/TJ-AM/ANALISTA JUDICIÁRIO – DIREITO/2013) No tocante aos princípios cons- titucionais orientadores do estudo da Teoria do Crime, assinale a afirmativa incorreta. a. O princípio da intervenção mínima abrange os princípios da subsidiariedade e da fragmentariedade. 5m 3 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES b. O princípio da dignidade humana atua como uma espécie de "superprincípio", devendo toda norma jurídica nele se escorar. c. O princípio da adequação social serve de base de interpretação da norma, além de orientar o legislador para eventual revogação do tipo penal. d. O princípio da insignificância autoriza o afastamento da tipicidade material. e. O princípio da alteridade permite a punição do agente por conduta sem condições de atingir direito de terceiros. COMENTÁRIO b) O princípio da dignidade humana está acima de todos, os demais princípios são uma decorrência da dignidade humana. c) A adequação social irá auxiliar na interpretação da norma. Por exemplo, o conceito de ato obsceno variou muito desde a sua criação, porque condutas que eram consideradas obscenas passaram por uma adequação social. Antigamente, era obsceno as mulheres irem de maiô para a praia, hoje, não é mais obsceno. Além disso, o princípio da adequação social irá orientar o legislador para informar que a conduta hoje não é mais socialmente reprovável e, assim, o legislador revoga esse crime. d) O princípio da insignificância apresenta o afastamento da atipicidade material. e) Para que haja punição do agente, é necessária uma conduta que atinja direitos de terceiros. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA OU PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE • A responsabilização penal depende de dolo ou culpa; • Não se admite no Direito Penal a responsabilidade objetiva. Supondo que o indivíduo está dirigindo o carro na velocidade correta exigida naquela via, ou seja, 60 km/h. De repente, corre uma criança na frente do carro e não dá o mínimo tempo para ele parar o carro, e acaba atropelando e matando a criança. No geral, a conduta foi o sujeito dirigindo, o que gerou o resultado morte da criança por atropelamento. Há nexo de causalidade, inclusive há um fato típico previsto no Código de Trânsito Brasileiro, que é o homicídio culposo na direção de veículo automotor. 10m 4 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Nesse caso, o indivíduo não responderá pelo crime de homicídio na direção de veículo automotor. A razão é porque a conduta do sujeito não teve dolo e tampouco culpa. Ele não agiu por imprudência, negligência ou imperícia; na verdade, foi um resultado que acabou sendo produzido pela própria vítima. Dessa forma, no Direito Penal não existe a responsabi- lização objetiva, ou seja, a responsabilização por um fato ou um resultado sem ou indepen- dentemente do dolo. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL Conduta tipificada em lei, mas que não afronta o sentimento de justiça da coletividade, seja pelos costumes, seja pela cultura, ou outro fator. Natureza jurídica: causa supralegal de exclusão da tipicidade (material). Essa situação corresponde a uma conduta que a lei define, hoje, como crime, mas ela não afronta mais o sentimento de justiça e a coletividade. Portanto, determinada conduta que era considerada criminosa, passa por uma adequação social e deixa de ser considerada crime. É em razão disso que haverá a natureza jurídica do princípio da adequação social como uma causa de exclusão da tipicidade. Quando se analisa o conceito de crime, ele deve ser um fato típico e ilícito. Enquanto, para alguns doutrinadores, para que haja um crime, ele também deve ser culpável. Dentro do fato típico há a conduta, o resultado, que são os elementos do fato típico, o nexo causal e a tipicidade. É importante ressaltar que a tipicidade se trata da previsão de que uma conduta é consi- derada crime. Isto é, na conduta praticada há um fato típico que se aplica, ou seja, existe um artigo de lei, no Código Penal, na legislação especial que se aplica perfeitamente àquela con- duta. Vale ainda enfatizar que a tipicidade pode se dividir em tipicidade formal e tipicidade material. A tipicidade formal é a mera análise da adequação da norma do preceito primário da norma à conduta. 15m 5 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Todavia, antigamente, analisava-se somente a tipicidade formal. Em contrapartida, há alguns anos vem se considerando também a tipicidade material, que é a análise se aquela conduta, apesar de ser sempre perfeitamente adequada ao tipo penal, gerou uma efetiva lesão ou um efetivo perigo de lesão ao bem jurídico pela norma penal. Por exemplo, quando os pais colocam brincos nas filhas, é gerada uma lesão corporal. Se analisar essa conduta de acordo com o Art. 129 do Código Penal, a conduta de furar a orelha da criança se adequa perfeitamente ao dispositivo. Porém, os pais não são responsa- bilizados por lesão corporal ao furarem as orelhas das filhas, pois esta conduta é socialmente adequada. A situação é a mesma para o tatuador,que não é incriminado pela lesão corporal quando ele está tatuando uma pessoa, primeiro, porque teve o consentimento, e segundo, porque a conduta de tatuar, apesar de gerar uma lesão corporal é socialmente adequada. Outra situação válida é quando os judeus não respondem por lesão corporal ao realizarem a circuncisão nos filhos, pois, de acordo com a cultura judaica, é uma conduta socialmente adequada. Logo, a tipicidade formal excluirá a tipicidade material, uma vez que não houve um efetivo dano, uma efetiva lesão à integridade corporal dessas pessoas, já que isso é socialmente adequado. Outro aspecto da adequação social é um aviso ao legislador, ou seja, ele não pode incri- minar condutas que sejam socialmente adequadas. Por exemplo, o legislador não pode, de repente, dizer que beijo na boca em público é crime, porque é socialmente adequado. Por- tanto, o legislador está limitado pelo princípio da adequação social. Outro caso é em relação ao adultério, que até 2005 era considerado crime no Brasil. Em virtude do princípio da equa- ção social, o legislador achou por bem revogar esse delito. Nesse caso, no Direito Penal, o adultério deixou de ser um ilícito, mas continua sendo um ilícito civil. ATENÇÃO Súmula n. 502, STJ: “Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no Art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas”. Hoje, tudo está muito digitalizado e disponibilizado na internet, porém, antigamente, era muito comum ir a supermercados e feiras onde pessoas vendiam CDs e DVDs piratas. Obviamente, havia uma violação de direito autoral de acordo com o Art. 94 do Código Pe- 20m 6 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES nal. Entretanto, ninguém era preso e julgado por isso, pois a conduta é socialmente aceita segundo os advogados. Por outro lado, o STJ definiu que, apesar de muitas pessoas ad- quirirem CDs e DVDs piratas, continua sendo uma conduta que afronta o senso de justiça. Portanto, o princípio da adequação social não tornou atípica a conduta de vender CDs e DVDs piratas e continua sendo violação de direito autoral. Esse princípio também é dirigido ao legislador, pois condutas socialmente adequadas não podem ser tipificadas como crime. 3. (PF/PERITO CRIMINAL/2018) A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adqui- riu 500 CDs e DVDs piratas para posteriormente revendê-los. Certo dia, enquanto ex- punha os produtos para venda em determinada praça pública de uma cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o conduziram coercitivamente até a delegacia. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item subsequente. O princípio da adequação social se aplica à conduta de Pedro, de modo que se revoga o tipo penal incriminador em razão de se tratar de comportamento socialmente aceito. COMENTÁRIO O item faz referência à Súmula n. 502 do STJ, porém, nesse caso, não se revoga o tipo pe- nal incriminador da violação de direito autoral em razão da conduta de vender CDs e DVDs piratas, continua sendo crime e não é um comportamento socialmente aceito. 4. (CESPE/TJ-ES/JUIZ SUBSTITUTO/2011) O princípio da adequação social, dirigido ao julgador, e não ao legislador, objetiva restringir a abrangência do tipo penal, limitando sua interpretação e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. COMENTÁRIO O princípio da adequação social é dirigido tanto ao julgador, quanto ao legislador. 25m DIRETO DO CONCURSO 7 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES PRINCÍPIO DA ISONOMIA OU IGUALDADE O Direito Penal se aplica a todos, independentemente de nacionalidade, classe social, etnia, sexo, idade ou condição. Entretanto, esse princípio impõe tratamento distinto para quem se encontra em posições diferentes. Ex.: réu primário e réu reincidente / Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006). O princípio da isonomia no Direito Penal é o mesmo estudado em Direito Constitucional, ou seja, pessoas iguais devem ser tratadas de maneira igual, e pessoas diferentes e em con- dições diferentes devem ser tratadas pela lei de maneira diferente. Por exemplo, o crime praticado pelo réu primário é analisado de uma maneira, não será imposto a ele uma agravante. Já o reincidente, pelo fato de ser reincidente, isto é, já ter pra- ticado o crime pelo qual ele sofreu sentença condenatória transitada em julgado e veio a praticar um novo delito, sofrerá uma agravante penal. Sendo assim, ainda que eles tenham praticado a mesma conduta nas mesmas condições, são duas pessoas que se encontram em situações distintas, um réu primário e o outro reincidente. Outra situação, uma mulher que agride o seu marido comete crime, mas não se imporá a ela todas as medidas restritivas e gravosas que há na Lei Maria da Penha quando, por exem- plo, um homem agride uma mulher ou quando a mulher agride outra mulher numa situação de violência doméstica e familiar. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM Proibição de dupla punição pelo mesmo fato O agente não pode ser processado, julgado e condenado mais de uma vez pela mesma conduta. Tampouco pode o mesmo fato ser considerado em dois momentos distintos da dosi- metria da pena. É importante frisar que “ne” é o mesmo que “non” e “proibido”. Logo, nesse caso, é o prin- cípio da proibição do bis in idem. Lembrando que bis in idem é quando alguém é punido duas vezes pelo mesmo fato, sendo que o Direito Penal não admite que uma mesma pessoa seja punida duas vezes pela mesma conduta que ela praticou. 8 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES O princípio da proibição do bis in idem define que a pessoa sequer pode ser processada, julgada e condenada duas vezes pelo mesmo fato. Por exemplo, um indivíduo roubou outra pessoa e foi processado por esse ato, isto é, foi instaurada uma ação penal contra o sujeito. Contudo, pela ausência de provas, o juiz absolveu o agente do fato e a sentença transitou em julgado, não cabendo mais recurso. Um mês depois da sentença transitada em julgado, o Ministério Público descobre novas provas de que o indivíduo realmente praticou aquele roubo. Logo, o Ministério Público oferece uma nova denúncia e informa ao juiz que deseja processar o agente do fato, pois agora possui provas cabais, há imagem dele roubando a vítima. Nessa situação, o sujeito não poderá ser processado novamente pelo mesmo fato que já foi absolvido. Outro aspecto da proibição do bis in idem é que a mesma condição não pode ser valorada duas vezes na sentença. Por exemplo, supondo que o sujeito é reincidente, lembrando que a reincidência é um agravante penal. Porém, antes de analisar a agravante penal, quando está aplicando a pena na primeira fase da dosimetria da pena do Art. 159 do Código Penal, o juiz deve analisar os antecedentes. Nessa situação, o juiz não pode considerar reincidência os maus antecedentes, porque caso contrário, ele estaria valorando a mesma figura do crime praticado no passado duas vezes na dosimetria da pena. Portanto, poderá utilizar a reinci- dência apenas na agravante. E ainda, inquéritos policiais em curso e ações penais em curso contra o sujeito também não podem configurar maus antecedentes. Este princípio pode ser analisado sob 3 aspectos: • Processual – ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato; • Material – ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato; • Execucional – ninguém pode sofrer execução penal duas vezes por condenações rela- cionadas ao mesmo fato. Não caracteriza bis in idem A condenação de roubocircunstanciado pelo concurso de agentes (Art. 157, § 2º, II) cumulada com a condenação pelo crime de corrupção de menores (Art. 244-B, ECA), na situação em que um maior de idade pratica o crime patrimonial em conluio com um menor de idade. São condutas autônomas e independentes, que atingem bens jurídicos distintos (patri- mônio e formação moral do menor). (STJ, HC 362.726/SP, Dje 06/09/2016) 30m 9 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Quando alguém praticar um roubo em concurso de pessoas, isto é, por exemplo, duas pessoas praticando roubo juntas, irá sofrer um aumento de pena prevista no Art. 157, § 2º, II. A pena do roubo é de quatro a 10 anos de reclusão, devendo ser aumentada de um terço até a metade em virtude do roubo ter sido praticado em concurso de pessoas. Supondo que João tenha praticado um crime de roubo junto com o José, que é menor de idade. Mesmo sendo menor de idade, João responderá pelo roubo majorado pelo concurso de pessoas. Já José irá responder por um ato infracional análogo ao crime de roubo em concurso de pessoas, previsto no Estatuto da Criança Adolescente (ECA). Além disso, nesse caso, por José ser menor de idade, João também praticou o crime previsto no Art. 244-B do ECA. Nesse caso, não se configura bis in idem ele responder tanto pela majorante pela causa de aumento de pena do crime de roubo, em virtude do concurso pessoas, como pela corrupção de menores. 5. (CESPE/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO/2017) É vedada a imposição de multa por infração administrativa ambiental cominada com multa a título de sanção penal pelo mesmo fato motivador, por violação ao princípio do non bis in idem. COMENTÁRIO A questão afirma que não é possível ter uma multa administrativa ambiental e simulta- neamente uma multa penal pelo mesmo fato motivador. Por exemplo, para alguém que devastou uma área de preservação ambiental, incidirá uma multa administrativa ambiental e trata-se também de um crime previsto na Lei n. 9.605/1998. Portanto, o agente irá res- ponder também pelo crime ambiental, no qual é combinada a ele uma pena de multa em virtude desse crime. Nesse caso, não se configura bis in idem. É importante frisar que o bis in idem é quando a punição pelo fato se dá no mesmo ramo do Direito. Quando há dois ramos do Direito atuando e impondo sanções à pessoa, não há bis in idem. 35m 40m DIRETO DO CONCURSO 10 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal III DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES GABARITO 1. E 2. E 3. E 4. E 5. E ���������������������������������������������������������������������������������Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Érico de Barros Palazzo. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu- siva deste material. 1 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL IV PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Também conhecido por “criminalidade de bagatela” ou “infração bagatelar própria”, foi incorporado ao Direito Penal por Claus Roxin, na década de 1960, sob o fundamento de polí- tica criminal. De acordo com este princípio, o Estado não deve se valer do Direito Penal quando a con- duta não é capaz de lesar o bem jurídico tutelado pela norma penal, ou, pelo menos, coloca- -lo em perigo. A natureza jurídica do princípio da adequação social é de uma causa excludente da tipicidade material. Nesse sentido, é fundamental compreender que a natureza jurídica do princípio da insignificância é a mesma natureza jurídica do princípio da adequação social. Contudo, nesse caso, o fundamento é outro. No princípio da adequação social, a exclusão da tipicidade material é porque a conduta passou a ser socialmente adequada. Já no princípio da insignificância, a exclusão da tipicidade material decorre do fato de a conduta ser insigni- ficante. Ou seja, ela não tem o poder de atingir o bem jurídico, de gerar uma efetiva lesão ou um efetivo perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. • Tipicidade formal vs. Tipicidade material; • Natureza Jurídica: causa supralegal de exclusão da tipicidade. Lembrando que dentro do fato típico há a conduta, o resultado, o nexo causal e a tipici- dade, sendo que esta se divide em tipicidade formal e tipicidade material. Por exemplo, uma pessoa que não está passando fome ou em estado de necessidade, entra em um supermer- cado e decide praticar um furto, subtraindo um pacote de arroz que custa R$ 15. Dois dias depois descobre-se realmente que ela praticou o furto do pacote de arroz. Essa conduta teve tipicidade formal e se adequou ao tipo penal previsto no Art. 145 do Código Penal, que trata do crime de furto. 2 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Sobre a tipicidade material, é importante lembrar que ela se refere à efetiva lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal ou, ao menos, perigo de lesão. Nesse caso, o furto do pro- duto no valor de R$ 15 não afetou o faturamento de milhões de reais por mês que o super- mercado possui. Logo, o fato não gera uma efetiva lesão ao patrimônio desse supermercado. Portanto, nessas hipóteses, criou-se na jurisprudência e, hoje, é amplamente aceito o princí- pio da insignificância. É preciso recordar que se não há tipicidade material, não há tipicidade, se não há tipicidade, não existe fato típico, logo, não há crime. DIRETO DO CONCURSO 1. (DELEGADO/PC-MG/2018) O princípio da insignificância funciona como causa de ex- clusão da culpabilidade, sendo requisitos de sua aplicação para o STF a ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação e a inexpressividade da le- são jurídica. COMENTÁRIO O princípio da insignificância funciona como uma causa de exclusão da tipicidade, e não da culpabilidade. Critérios doutrinários • Valor do bem; • Condição econômica da vítima; • Consequências do crime e modus operandi. Quanto aos critérios doutrinários que podem ser aplicados no princípio da insignificância, o primeiro é o valor do bem. É preciso analisar o valor do bem, pois, se ele for muito elevado, não se pode aplicar o princípio da insignificância. Tanto o STJ, quanto a jurisprudência, com- preendem como valor insignificante o valor que não ultrapasse 10% do salário mínimo. O segundo critério que deve ser avaliado é a condição econômica da vítima. Por exem- plo, se o sujeito subtrair um pacote de arroz do seu vizinho, cujo único alimento do dia era aquele pacote de arroz. Logo, é possível perceber que a aplicação do princípio da insignifi- 5m 3 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES cância não é meramente uma análise do valor do que foi subtraído, mas também das conse- quências geradas pela conduta. Subtrair um pacote de arroz de quem já está passando fome, obviamente, irá gerar uma efetiva lesão ao bem jurídico patrimonial daquela pessoa. Requisitos objetivos adotados pela Jurisprudência Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP – 29/06/2004 – STF). • Mínima ofensividade da conduta; • Nenhuma periculosidade social da ação; • Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e • Inexpressividade da lesão jurídica provocada. Apesar de serem denominados como objetivos,os critérios não são objetivos. Isso porque alguns deles não são possíveis de serem explicados. A questão foi que o STF não especifi- cou adequadamente o que era cada um dos requisitos objetivos. É importante entender detalhadamente esses requisitos, porque, por exemplo, se a ques- tão colocar que pode ser adotado o princípio da insignificância se houver pequena periculo- sidade social está errado, pois o estabelecido foi que deve haver nenhuma periculosidade social da ação. Portanto, não se aplica o princípio da insignificância a delitos que envolvam violência ou grave ameaça. Supondo que um sujeito praticou um roubo ordenando que a pessoa entregasse a sua caneta que custa R$ 3. Nesse caso, não se pode aplicar o princípio da insignificância, porque houve grave ameaça. Não é possível a aplicação também ao crime de extorsão, todavia, pode-se aplicar o princípio da insignificância ao crime de furto, estelionato e de apropria- ção indébita. Retomando o exemplo do pacote de arroz furtado do supermercado. Se, nessa hipótese, fosse um juiz, um delegado ou um policial federal. O valor foi inexpressivo para o mercado, porém, é socialmente reprovável a conduta de um servidor público que pratica esse tipo de ação. Sendo assim, não seria possível aplicar o princípio da insignificância a um agente papi- 10m 4 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES loscopista da Polícia Federal que subtrai pacotes de arroz no supermercado, por exemplo. A razão disso é que não seria reduzido o grau de reprovabilidade do comportamento, na ver- dade, seria um alto grau de reprovabilidade do comportamento. A divergência está no requisito de inexpressividade da lesão jurídica provocada e mínima ofensividade da conduta. A jurisprudência e a doutrina não conseguiram explicar a diferença de ambos. Logo, entende-se que os dois dizem respeito ao baixo valor da coisa que foi do objeto material da conduta. 2. (CESPE/2014/TJ-SE/TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA) Conforme o STF, para que incida o princípio da insignificância e, consequentemente, seja afastada a recriminação penal, é indispensável que a conduta do agente seja marcada por ofensi- vidade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressivi- dade da lesão, e nenhuma periculosidade social. COMENTÁRIO O item refere-se aos requisitos supostamente objetivos produzidos pelo Supremo Tribu- nal Federal. É possível a aplicação do princípio da insignificância a reincidentes? • 1ª Corrente: NÃO admite; • 2ª Corrente: ADMITE. A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reco- nheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto (Infor- mativo n. 793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF – HC 155.920/MG – 27/04/2018) 15m DIRETO DO CONCURSO 5 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES A pessoa que é reincidente em praticar um novo crime, tem uma reprovabilidade maior do seu comportamento. A maioria dos julgados não admite a aplicação do princípio da insig- nificância ao reincidente. Entretanto, a reincidência por si só não pode afastar por completo a aplicação do princípio da insignificância. Ou seja, é possível a aplicação do princípio da insignificância a um agente reincidente. O delegado de polícia pode aplicar o princípio da insignificância diante de uma situação flagrancial? • 1ª Corrente: NÃO; • 2ª Corrente: SIM. O sujeito que subtraiu o pacote de arroz do mercado é conduzido ao delegado de polícia, o delegado de polícia pode decidir não lavrar o auto de prisão em flagrante, pois entende que, nesse caso, há o princípio da insignificância. Todavia, outra parcela da doutrina defende que o delegado não pode aplicar o princípio da insignificância em uma situação flagrancial. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Furto Aplica-se a insignificância. Entretanto, é importante observar: • Não se leva em consideração somente o valor da res furtiva. Deve ser analisado o caso concreto; • STJ tem negado a aplicação do princípio da insignificância quando o valor do bem sub- traído é superior a 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Se for abaixo desse valor, analisa-se o caso concreto (STJ, AgRg no Resp 1.558.547/MG, 19/11/2015); • Furto com ingresso na residência da vítima – não aplicação em razão da violação da intimidade (STF, HC 106.045, 19/06/2012). Lembrando que não é a toda subtração de um bem inferior a 10% do salário mínimo que pode se aplicar o princípio da insignificância. É aplicável o princípio da insignificância ao furto praticado por agente reincidente? E se for praticado durante o repouso noturno? 6 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES É possível a aplicação do princípio da insignificância ao furto praticado por agente reinci- dente. Quanto ao furto praticado durante o repouso noturno, está previsto no Art. 155, § 2º, do Código Penal, que impõe um aumento de pena de um terço. Portanto, nessa situação, também é aplicável o princípio da insignificância. Dessa forma, o fato do furto ter sido pra- ticado durante o repouso noturno, em regra, afasta o princípio da insignificância, mas não elimina a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância. A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. Precedentes (HCs 123.108, 123.533 e 123.734). O reconhecimento da majorante em razão do cometimento do furto em período noturno não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. Precedentes (RHC 153.694 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 27.8.2018; HC 136.896) (HC 181389 AgR, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 14/04/2020) Furto Qualificado Em regra, não será aplicado o princípio da insignificância. Entretanto, é possível sua apli- cação a depender do caso concreto. (Info. 793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF – HC 155.920/MG – 27/04/2018) Em regra, não se pode aplicar o princípio da insignificância ao furto qualificado, porém, também não se pode afastar a aplicação do princípio da insignificância nesses casos. Não se aplica o princípio da insignificância aos seguintes crimes • Roubo, extorsão e demais crimes cometidos com violência ou grave ameaça; • Crimes previstos na Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006) – STJ, HC 240.258/SP, 06/08/2013; • Crimes contra a fé pública (ex.: moeda falsa e falsidade documental) – STJ, AgRG no AREsp 558.790 e STF, HC 117638; • Crime de contrabando (Art. 334-A, CP) – STJ, AgRG no Resp 1472745/PR, 01/09/2015; • Estelionato contra o INSS e o FGTS – STF, HC 111918 e HC 110845; • Crimes relacionados à violência doméstica (Lei Maria da Penha, n. 11.340/2006); 20m 7 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES Súmula n. 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contra- venções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. • Crimes contra a Administração Pública. Súmula n. 599 – STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública. (Aprovada em 20/11/2017) Exceção: crime de descaminho (Art. 334, CP). Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes previstos na Lei de Drogas, até porque, se a quantidade for muito pequena, aplica-se o Art. 28 da Lei n. 11.343/2006, o qual trata sobre o portepara uso pessoal de drogas. E ainda que se esteja comercializando uma pequena quantidade de drogas, é tráfico de drogas e não se aplica o princípio da insignificân- cia ao delito de tráfico de drogas. Outro caso é o da moeda falsa, que conforme o Art. 289 do Código Penal é um crime de competência da Justiça Federal e, portanto, de atribuição da Polícia Federal para investigar. Se alguém falsifica, mesmo que seja uma cédula de R$ 2, essa conduta não é insignificante, porque não se analisa o valor, e sim o bem jurídico da fé pública estatal. Os crimes de contrabando são crimes relacionados às principais funções da Polícia Federal: descaminho e contrabando. Lembrando que a Polícia Federal é a polícia judiciária da União. Portanto, ao contrabando não se aplica o princípio da insignificância. Supondo que alguém importe um maço de cigarros, é considerado contrabando. Todavia, existe uma exce- ção no crime de contrabando que se aplica ao princípio da insignificância, que é a importação de pequena quantidade de remédio para uso pessoal. Se a prova afirmar simplesmente, ou “de acordo com o STJ”, que não se aplica o princí- pio da insignificância a crimes contra a Administração Pública, estará correto. Entretanto, se a banca especificar que “de acordo com o STF”, não se aplica princípio da insignificância a crimes contra a Administração Pública, estará errado. Isso porque para o STF deve ser feita 25m 8 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) uma análise caso a caso para aplicar ou não o princípio da insignificância. Já o STJ veda, de maneira completa, a aplicação do princípio da insignificância a crimes contra a Administra- ção Pública. No crime de descaminho, que é um crime contra a Administração Pública, previsto no Art. 334 do Código Penal, é possível a aplicação do princípio da insignificância até o valor de R$ 20 mil. Ou seja, valores menores de R$ 20 mil são considerados insignificantes para o crime de descaminho, de acordo com o STJ e o STF. A razão disso é que a Fazenda Nacional, que executa o descaminho, a importação, exportação de mercadoria sem o devido pagamento de impostos de importação, somente promoverá a execução fiscal quando alguém estiver devendo mais de R$ 20 mil a ela. 3. (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/STJ/2018) É possível a aplicação do princípio da in- significância nos crimes contra a Administração Pública, desde que o prejuízo seja em valor inferior a um salário mínimo. COMENTÁRIO Não é possível a aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a Administra- ção Pública. Aplica-se o princípio da insignificância aos seguintes crimes • Crimes contra a ordem tributária (Lei n. 8.137/1990) e descaminho (Art. 334, CP) – valor pacífico no STJ e STF: Até R$ 20.000,00; • Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária – STJ, AgRg no Resp 1348074/SP, 19/08/2014; • Crimes ambientais – A doutrina é contrária, mas a jurisprudência admite a aplica- ção deste princípio, após uma rigorosa análise. STJ, AgRg no AREsp 654.321/SC, 09/06/2015 e STF HC 112563/SC, 21/08/2012. É possível a aplicação do princípio da insignificância na apropriação indébita previdenciá- ria prevista no Art. 168-A e na sonegação de contribuição previdenciária citada no Art. 337-A, ambos do Código Penal. Além disso, é possível aplicar aos crimes ambientais. Por exemplo, o sujeito pescou, no período que não é permitido pescar, um camarão. 30m DIRETO DO CONCURSO 9 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Princípios do Direito Penal IV DIREITO PENAL (PARTE GERAL) A N O TA ÇÕ ES 4. (CESPE/2014/CÂMARA DOS DEPUTADOS/ANALISTA LEGISLATIVO – CONSULTOR LEGISLATIVO – ÁREA III) O agente que ilude o pagamento de tributo aduaneiro devido pela entrada ou pelo consumo de mercadoria pode incidir no crime de descaminho. Na hipótese de o tributo devido ser inferior ao mínimo exigido para a propositura de uma execução fiscal, o STF entende que a conduta é penalmente irrelevante, aplicando-se a ela o princípio da insignificância. A questão da posse e do porte de armas de fogo e munições • Não se aplica o princípio da insignificância a posse ou porte de arma de fogo, seja de calibre permitido ou restrito e ainda que não acompanhado de munição – Pacífico no STJ e STF; • No que concerne a posse ou porte de munições, desacompanhadas de arma de fogo, tanto o STF quanto o STJ têm entendido que, a depender do caso concreto e da quan- tidade de munições, é possível aplicar o princípio da insignificância. A favor da aplicação: STJ, REsp 1.735.871/AM, 12/06/2018; AgRg no HC 439.593/MG, 01/02/2019 e STF, RHC 143449, 26/09/2017. Contra a aplicação: STF, HC 131.771/RJ, 19/10/2016. É possível a aplicação do princípio da insignificância aos atos infracionais? O ato infracional é a conduta praticada pelo menor de idade, ou seja, quando uma pessoa menor de idade pratica uma conduta definida como crime, ela pratica um ato infracional. Nesse caso, também é possível aplicar o princípio da insignificância. GABARITO 1. E 2. C 3. E 4. C ���������������������������������������������������������������������������������Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Érico de Barros Palazzo. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu- siva deste material. DIRETO DO CONCURSO
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