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REALIZAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS SUPERVISÃO E COORDENAÇÃO METODOLÓGICA DIRETORIA DE ENSINO TÉCNICO ASSESSORIA TÉCNICA LUIZ MACOTO SAKAMOTO – 2019 PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS - GERÊNCIA DE PLANEJAMENTO E ESCOLA VIRTUAL PICTORAMA DESIGN Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola Nacional de Seguros E73g Escola Nacional de Seguros. Diretoria de Ensino Técnico. Gerenciamento de riscos/Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino Técnico; assessoria técnica de Gustavo Tavares da Cunha Mello e Sergio Ricardo de Magalhães Souza. -- Rio de Janeiro: ENS, 2018. 60 p.; 28 cm 1. Gerenciamento de riscos. I. Mello, Gustavo Tavares da Cunha. II. Souza, Sergio Ricardo de Magalhães. III. Título. 0017-1959 CDU 614.8 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de partes dele, sob quaisquer formas ou meios, sem permissão expressa da Escola. RIO DE JANEIRO 2019 GERENCIAMENTO DE RISCOS A Escola Nacional de Seguros promove, desde 1971, diversas iniciativas no âmbito educacional, que contribuem para um mercado de seguros, previdência complementar, capitaliza- ção e resseguro cada vez mais qualificado. Principal provedora de serviços voltados à educação continuada, para profissionais que atuam nessa área, a Escola Nacional de Seguros oferece a você a oportunidade de compartilhar conhecimento e experiências com uma equipe formada por especialistas que possuem sólida trajetória acadêmica. A qualidade do nosso ensino, aliada à sua dedicação, é o caminho para o sucesso nesse mercado, no qual as mudanças são constantes e a competitividade é cada vez maior. Seja bem-vindo à Escola Nacional de Seguros. GERENCIAMENTO DE RISCOS 1. INTRODUÇÃO À GESTÃO DE RISCOS 7 ISO 31000 9 RISCOS: CONCEITOS E EVOLUÇÃO 11 RISCOS NA GESTÃO DE RISCOS 12 Riscos da Operação 13 Riscos de Mercado 15 GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO 16 GESTÃO DE RISCOS EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 17 OS CAMINHOS DA GESTÃO DE RISCOS 17 GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS 18 RESUMO 20 FIXANDO CONCEITOS I 21 2. GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS – PATRIMÔNIO 22 BENS DA ORGANIZAÇÃO 23 Bens Tangíveis 23 Bens Intangíveis 24 Exposição a Perdas 24 Itens Expostos a Perdas 25 Riscos que Causam as Perdas 28 Consequências Financeiras das Perdas 30 Identificação e Análise de Riscos 33 SUMÁRIO INTERATIVO GERENCIAMENTO DE RISCOS Matriz de Riscos 35 Medidas de Controle de Riscos e Financiamento de Riscos 35 RESUMO 38 FIXANDO CONCEITOS 2 39 3. GESTÃO de RISCOS ACIDENTAIS – RESPONSABILIDADE CIVIL 40 EXPOSIÇÃO A PERDAS 43 Itens Expostos a Perdas 43 Riscos que Causam as Perdas 44 Consequências Financeiras das Perdas 47 Identificação e Análise de Riscos 48 Análise de Riscos 50 Matriz de Riscos 51 Medidas de Controle e Financiamento de Riscos 51 RESUMO 55 FIXANDO CONCEITOS 3 57 4. GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS – PESSOAS E RECEITA LÍQUIDA 58 GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS – PESSOAS 59 Itens Expostos a Perdas 60 Riscos que Causam Perdas 60 Consequências Financeiras das Perdas 61 Medidas de Controle e Financiamento de Riscos 61 GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS – RECEITA LÍQUIDA 61 Item Exposto a Perda 62 Riscos que Causam Perdas 62 Consequências Financeiras das Perdas 63 Medidas de Controle de Riscos e Financiamento de Riscos 64 GERENCIAMENTO DE RISCOS GESTÃO DE RISCOS DA PESSOA FÍSICA 64 Itens Expostos a Perda 65 Riscos que Causam Perdas 65 Consequências Financeiras das Perdas 65 Morte 66 Aposentadoria 66 Invalidez 67 Desemprego 67 RESUMO 68 FIXANDO CONCEITOS 4 69 5. PROCESSO DE GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS 70 PASSO 1 – IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS EXPOSIÇÕES A PERDAS 71 PASSO 2 – EXAME DAS TÉCNICAS DE GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS DISPONÍVEIS 72 Técnicas de controle de riscos 72 Técnicas de Financiamento de Riscos 73 PASSO 3 – SELEÇÃO DO MELHOR CONJUNTO DE TÉCNICAS 74 PASSO 4 – IMPLANTAÇÃO DAS TÉCNICAS ESCOLHIDAS 74 PASSO 5 – MONITORAMENTO E MELHORIA DO PROGRAMA DE GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS 75 Aplicações 75 RESUMO 79 FIXANDO CONCEITOS 5 80 GABARITO 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82 7GERENCIAMENTO DE RISCOS 01 ■ Entender quem é o responsável pela gestão de riscos e o papel dos players do mercado segurador. ■ Conhecer a gestão de riscos na visão da ISO 31000. Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: ■ Compreender os conceitos e evolução de riscos. ■ Conhecer os riscos de operação e os riscos de mercado. ■ Conhecer a evolução e histórico da gestão de riscos acidentais. ISO 31000 RISCOS: CONCEITOS E EVOLUÇÃO RISCOS NA GESTÃO DE RISCOS GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO GESTÃO DE RISCOS EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS OS CAMINHOS DA GESTÃO DE RISCOS GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS RESUMO FIXANDO CONCEITOS I TÓPICOS DESTA UNIDADE INTRODUÇÃO à GESTÃO de RISCOS 8GERENCIAMENTO DE RISCOS Os termos “gestão de riscos” e “gerência de riscos” têm sido utilizados como sinônimos e têm origem na tradução do inglês de Risk Management. A gestão de riscos é um processo previsto em norma internacional que vem ganhando importância pelo seu amplo espectro de aplicação. Ela pode ser aplicada em vários segmentos econômicos, seja nos riscos aci- dentais, que são objeto de cobertura pelo mercado de seguros, seja na governança corporativa das organizações. No capítulo 1, estudaremos a gestão de riscos de forma abrangente e baseada em normativos internacionais. No capítulo 2 e 3, particularizare- mos o processo de gestão de riscos para a gestão de riscos acidentais do patrimônio e de responsabilidade civil. No capítulo 4, analisaremos o processo de gestão de riscos acidentais. Os blocos Pessoas e Receita Líquida serão mencionados na unidade 4, mas não terão análise aprofundada. Ainda na unidade 4, teremos um com- plemento sobre a gestão de riscos da pessoa física. Uma primeira questão é: quem faz a gestão de riscos? A responsabilidade da gestão de riscos é da organização. Ocorre que, como regra geral, a organização está focada em sua atividade fim, que é produzir, distribuir produtos ou prestar serviços. Assim, o corretor de seguros, seguradora, corretor de resseguro ou resse- guradoras, que diariamente estão manuseando riscos, têm mais familiari- dade com o assunto. Estes players, além da comercialização e subscrição de riscos, podem oferecer a gestão de riscos como prestação de serviços, lembrando que a responsabilidade é sempre da organização. A prestação de serviços de gestão de riscos pode fazer parte dos serviços oferecidos (situação comumente encontrada) ou ser vendida à parte. Uma discussão atual e importante diz respeito ao papel do corretor de seguros na comercialização dos produtos. UNIDADE 1 9GERENCIAMENTO DE RISCOS O corretor de seguros deve conhecer tecnicamente os produtos que comercializa, mas discute-se a mudança do foco de “venda de seguros” para “venda consultiva”. A “venda consultiva” pode ser entendida como uma assessoria fornecida ao segurado e compreende: 1. Identificação dos riscos acidentais que podem ocorrer na organização; 2. Análise da frequência (quantidade de vezes que pode ocorrer num período de tempo, normalmente um ano) e da severidade (impacto financeiro da ocorrência do risco acidental); 3. Montagem da matriz de riscos, que é uma planilha em que visual- mente se classificam os riscos acidentais identificados e analisados; 4. Verificação, para cada risco acidental identificado e analisado, das alternativas de controle de riscos (medidas que diminuem a fre- quência e/ou severidade) e financiamento de riscos (reembolso das perdas ocorridas); 5. Seleção das técnicas de controle de riscos e/ou financiamento de riscos a serem implantadas; 6. Implantação das técnicas selecionadas; e 7. Monitoramento do programa de gestão de riscos, que fornecerá insumos para o item 1, caracterizando o processocomo cíclico e contínuo. A “venda consultiva” corresponde à adaptação do processo de gestão de riscos para riscos acidentais. Portanto, a “venda consultiva” e a “gestão de riscos acidentais” estão intimamente ligadas. A formalização explícita do processo de gestão dos riscos acidentais nem sempre ocorre, mas sua técnica deve estar incorporada ao processo men- tal de uma “venda consultiva”. ISO 31000 A gestão de riscos é objeto de Norma Internacional, com aplicação em todo mundo. Seu conhecimento é importante porque é a base da gestão de riscos. Inicialmente vamos conhecer dois órgãos, um internacional e outro brasi- leiro, que tratam da gestão de riscos: UNIDADE 1 10GERENCIAMENTO DE RISCOS 1. Internacionalmente temos a ISO – International Organization for Stan- dardization, que é uma organização não governamental independen- te composta por 162 membros que representam vários países. Através de seus membros são recebidas contribuições de espe- cialistas que compartilham conhecimento e desenvolvem volunta- riamente, através de consenso, normas internacionais que supor- tam a inovação e provêm soluções para desafios globais. A Secretaria Central da ISO fica localizada na cidade de Genebra – Suíça. 2. No Brasil, temos a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que é o Foro Nacional de Normalização. As normas brasi- leiras, cujo conteúdo é de responsabilidade dos Comitês Brasilei- ros (ABNT/CB), dos Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ ONS) e das Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE), são ela- boradas por Comissões de Estudo (CE), formadas pelas partes interessadas no tema objeto da normalização. No ano de 2009 foi publicada ISO 31000 Risk Management – Principles and Guidelines, que foi traduzida integralmente para o português e publi- cada como Norma Brasileira ABNT NBR ISO 31000. Esta norma internacio- nal e sua tradução para o português tiveram uma segunda edição publica- da em 2018. A ISO 31000 estabelece diretrizes para a gestão de riscos sem caráter mandatório. Ou seja, sua aplicação não é obrigatória, mas pelo seu caráter internacional, suas diretrizes são seguidas pelos países que têm represen- tação nesta organização. A norma, na versão brasileira, tem 23 páginas e, conforme sua orientação, a aplicação pode ser personalizada para qualquer organização. Seu con- texto fornece abordagem comum para gerenciar qualquer tipo de risco, não sendo específico para qualquer indústria ou setor. Com esta enorme abrangência e o tamanho reduzido do documento, temos: 1. É uma norma genérica com aplicação universal, ou seja, qualquer organização ou parte dela pode se beneficiar do seu processo de tomada de decisão. 2. Por ser genérica, sua aplicação deve ser particularizada para o segmento a que se destina. Assim, para a gestão de riscos temos duas necessidades básicas: 1. Conhecimento do processo de gestão de riscos baseado na ISO 31000. 2. Conhecimento da atividade em que ela será aplicada. UNIDADE 1 11GERENCIAMENTO DE RISCOS Nas unidades 2, 3 e 4, utilizaremos os conceitos da gestão de riscos da ISO 31000, mas particularizando-os para nosso objeto de estudo, que é a gestão de riscos acidentais. RISCOS: CONCEITOS E EVOLUÇÃO Embora a palavra “riscos” faça parte do nosso dia a dia, ela pode ter diver- sos significados, dependendo do contexto em que é aplicada. É importante que o corretor de seguros tenha em mente esta variedade de significados, pois segurados com familiaridade na área financeira, controla- doria, governança corporativa e gestão de riscos estão acostumados com outras definições de riscos, além daquela que tradicionalmente utilizamos no mercado segurador. Assim, vamos conhecer algumas definições de risco: 1. Risco como possibilidade de perda, normalmente financeira. Quando se vê uma placa com os dizeres “Perigo – Eletricidade – Risco de Morte”, o termo “risco” está se referindo ao risco de perda da vida (não necessariamente ligado a uma perda financeira). Já risco de roubo de uma carteira implica na possibilidade de perda financeira de valores monetários. 2. No mercado de seguros, e nas unidades 2, 3 e 4, dedicadas à gestão de riscos acidentais, risco será sinônimo de “causa de per- das”. Os riscos de incêndio, alagamento, vendaval, danos elétricos, queda de raio, desmoronamento etc. devem ser entendidos como “causas de perdas”. Esta definição de riscos é utilizada nas nossas condições gerais, especiais e particulares das apólices de segu- ros. “Riscos Cobertos” são as “causas de perdas” que encontram amparo na apólice de seguro. “Riscos não cobertos” ou “riscos excluídos” são as “causas de perdas” não abrangidas por aquele seguro. 3. Ainda no mercado segurador, risco pode ser utilizado como sinôni- mo de “objeto segurado”. Quando se utiliza o termo “inspeção de riscos”, estamos verificando as condições físicas do objeto segura- do; quando se diz “vou ao risco” significa que estou me dirigindo às instalações seguradas. 4. Há algumas décadas, o mercado financeiro adotou o termo risco como potencial variação dos resultados esperados. Quando um corretor de seguros se refere ao “risco de atingir as metas de pro- dução no final do mês”, ele está se referindo à potencial variação UNIDADE 1 12GERENCIAMENTO DE RISCOS dos resultados esperados. Pode ser que não atinja as metas, ou pode ser que supere as metas. Suponhamos que as metas sejam superadas em 50%. Embora o resultado tenha sido muito positivo, o risco associado a atingir as metas é elevado, pois existe mui- ta variação em relação ao esperado. Da mesma maneira, supo- nha que exista certeza dos valores de produção ao final do mês (são seguros concretizados e já estão previamente acertados, não serão prospectados novos clientes). Nesta situação o risco é zero, pois não haverá variação nos resultados esperados. Após o ano de 2009, e conforme Norma ABNT NBR ISO 31000, temos uma definição normatizada de risco: “Risco é o efeito da incerteza nos objetivos.” O referido normativo esclarece que um efeito é um desvio em relação ao esperado. Pode ser positivo, negativo ou ambos, e pode abordar, criar ou resultar em oportunidades e ameaças. Por conta desta definição, quando a gestão de riscos trata de desvios que podem ser positivos, surge a possibili- dade de identificação de novas oportunidades de negócios. Assim, a gestão de riscos, no seu conceito mais amplo, não se limita a mitigar as perdas, mas pode ser utilizada como instrumento de alavancagem de novos negócios. RISCOS NA GESTÃO DE RISCOS Os Riscos podem ser classificados de diversas maneiras, sendo que uma das mais comuns é a classificação em riscos puros (em que só existe a possibilidade de perda ou empate) ou riscos especulativos (quando exis- te possibilidade de perda, empate ou ganho). A ISO 31000 não estabelece qualquer tipo de classificação de risco. No entanto, a literatura especializada divide os riscos, para fins de gestão de riscos, em riscos de operação e riscos de mercado. 1. Riscos de operação são aqueles sobre os quais a organização tem controle. Por exemplo, riscos acidentais são riscos de opera- ção, pois a organização tem controle sobre eles. 2. Riscos de mercado são aqueles sobre os quais a organização não tem controle. Por exemplo, risco de variação cambial não está no controle da organização, mas pode influenciar nos obje- tivos da organização. UNIDADE 1 13GERENCIAMENTO DE RISCOS Os riscos de mercado também podem ser classificados como riscos sistê- micos, pois atingem a economia e as organizações como um todo. Já os riscos de operação são riscos não sistêmicos, pois têm efeito numa orga- nização em particular. Um ponto importante é que, embora os riscos de mercado não estejam sob controle direto da organização, eles podem causar impacto importante nos resultados da organização, devendo ser objeto do processo de gestão de riscos. Por exemplo, sea organização tem dívidas futuras que deverão ser liquidadas em moeda estrangeira e existe a preocupação que haja valori- zação da moeda estrangeira (valorização do dólar em relação ao real), a organização pode constituir um hedge (operações utilizadas no mercado financeiro), comprando títulos atrelados à moeda estrangeira. No momento da quitação da dívida, se o dólar tiver se valorizado, a organização liquida os títulos atrelados ao dólar e terá recursos em reais suficientes para cumprir suas obrigações em moeda estrangeira. — Riscos da Operação São riscos de origem interna à organização e que são específicos dela. Vamos ver alguns deles: Risco do Negócio Possibilidade de perda ou ganho devido a variáveis econômicas e de mer- cado. Vale uma reflexão sobre os riscos de negócios, em que a incorreta identificação e análise dos riscos de negócios pode trazer consequências sérias, conforme exemplos abaixo: ■ Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendia 85% de todo o papel fotográfico comercializado no mundo. Com o surgimento das fotos e câmeras digitais, no curso de poucos anos, o modelo de negócios dela desapareceu e eles abriram falência. ■ O Uber é apenas uma ferramenta de software. Eles não são proprie- tários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo. ■ A Airbnb é a maior companhia hoteleira do mundo, embora eles não sejam proprietários de nenhum hotel. ■ A inteligência artificial que já é mais eficiente que jovens advogados e que se tornam coadjuvantes importantes nos diagnósticos médicos. ■ A impressão 3D que trará alterações profundas no mercado de manufatura de peças. ■ Outros tantos exemplos que estão ocorrendo no momento, dentre os quais veículos autônomos, agricultura, reconhecimento facial, energia solar. UNIDADE 1 14GERENCIAMENTO DE RISCOS No nosso mercado de seguros estamos imunes aos riscos de negócio? A assim chamada 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0 está chegan- do ao nosso mercado com IOT (internet of things ou internet das coisas), blockchain, inteligência artificial, etc. Estas tecnologias disruptivas devem alterar os padrões de comercialização, afetando os corretores de seguros. As seguradoras, a exemplo do que está ocorrendo com as fintechs em relação ao mercado bancário tradicional, poderão sofrer concorrência das insurtechs no modelo de compartilhamento (nos Estados Unidos existe o caso concreto da Lemonade, que é uma alternativa às seguradoras tradi- cionais). Não se pode prever com exatidão como será o futuro próximo, mas podemos ter a certeza de que não será como no presente. Risco Financeiro Risco de uma organização não ter capacidade de honrar suas obrigações financeiras. Trazendo para o mercado segurador, seria a incapacidade financeira de uma seguradora cumprir com suas obrigações como, por exemplo, a de liquidar sinistros. Este é um risco real do nosso mercado e faz parte dos riscos de solvência de uma seguradora. Risco Operacional Possibilidade de perda devido ao mal funcionamento ou inoperância da tecnologia existente ou do sistemas de suporte. Este risco é muito presente tanto para corretores de seguros quanto para seguradoras. Lembrando que risco é o efeito da incerteza nos objetivos; existe risco para os corretores de seguros no objetivo de fornecer a cober- tura adequada aos segurados, protocolar a proposta de seguro dentro do prazo correto, fornecer atendimento adequado, etc. As seguradoras tam- bém têm diversos riscos operacionais como, por exemplo, devolver uma proposta em que não tenha interesse dentro do prazo de 15 dias, solicitar cobertura de resseguro se necessário, qualidade dos serviços prestados, etc. No caso das seguradoras, o risco operacional é quantificado, como veremos nos próximos itens desta unidade. Risco de Crédito Possibilidade de perda devido ao inadimplemento dos tomadores em honrar as prestações devidas que foram assumidas através de contrato entre as partes. Utilizando o exemplo do mercado segurador, após a abertura do mercado de resseguros, as seguradoras têm um importante risco de crédito, que é a recuperação de sinistros de resseguro. Este risco, como veremos adian- te, deverá fazer parte da gestão de riscos de uma seguradora (trata-se UNIDADE 1 15GERENCIAMENTO DE RISCOS da gestão de riscos da própria seguradora, e não da gestão de riscos de segurados). Risco Acidental Possibilidade da ocorrência de perda à organização, originada por aciden- te envolvendo diretamente o patrimônio, pela geração de responsabilida- de civil, por perda de receita, ou por perda de recursos humanos. Tradicio- nalmente, mas não necessariamente, os riscos acidentais são aqueles que são transferidos (na totalidade ou parcialmente) ao mercado segurador. A gestão de riscos acidentais serão objeto de estudo das unidades 2, 3 e 4. Risco da perda de reputação Refere-se à perda real ou percebida da reputação, ou deterioração da marca. Em época de intensa atividade das redes sociais, sabemos que a perda de reputação de uma marca pode implicar no fim da existência de uma organização. — Riscos de Mercado São riscos de origem externa à organização com característica sistêmica (não atinge somente uma organização, mas setores da economia). Risco da taxa de juros: Refere-se à possibilidade da taxa de juros diminuir ou elevar-se. Risco da taxa de câmbio: Possibilidade de variação do valor da moeda de um país em relação ao valor da moeda de outro país. Risco do preço das commodities (mercadorias): Possibilidade do preço das commodities – como, por exemplo, petróleo – aumentar ou diminuir. Risco político Possibilidade de perdas financeiras decorrentes de posturas políticas ado- tadas no país em que se encontram investidos os ativos da organização. UNIDADE 1 16GERENCIAMENTO DE RISCOS GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO Quando comparado aos seguros, o processo de gestão de riscos tem o desenvolvimento bem mais recente. O princípio do mutualismo, que é a base dos seguros, foi desenvolvido milha- res de anos antes de Cristo, quando as perdas dos camelos nas viagens pela antiga Babilônia eram divididas entre os participantes da empreitada. O Seguro, na sua versão moderna, iniciou-se no século XVIII com as via- gens marítimas e com a Primeira Revolução Industrial. A força motriz da Primeira Revolução Industrial foram as máquinas a vapor, que para sua geração necessitavam de caldeiras, que por sua vez eram muito sujeitas ao evento de explosão. Surge na Inglaterra o Seguro de Boiler Explosion and Inspection (seguro de explosão e inspeção de caldei- ras), o que nos nossos dias seria equivalente à combinação da técnica de prevenção de perdas com transferência via seguros. Não houve evolução importante da gestão de riscos acidentais até a 2ª Guerra Mundial no século XX. Se lembramos da 1ª Guerra Mundial, veremos que foi uma guerra de trin- cheiras, onde os espaços físicos eram conquistados aos poucos. Já a 2ª Guerra Mundial foi uma guerra com destaque para a tecnologia, que abrangeu desde o rápido desenvolvimento da aviação até o lança- mento das bombas atômicas. Ao fim desta guerra, verificou-se que os artefatos, sistemas e equipamen- tos nem sempre funcionavam como o esperado, podendo-se afirmar que existia risco, ou seja, existia o “efeito das incertezas nos objetivos” (ISO 31000). A primeira versão da ISO 31000 é de 2009, mas é importante per- ceber que ela foi fruto do desenvolvimento de vários assuntos que conver- giram para a gestão de riscos. A partir de então, começou a se desenvolver a gestão de riscos aciden- tais, mas com foco qualitativo (o que e como pode acontecer), mas sem enfoque quantitativo (quantas vezes pode ocorrer e qual a extensão da consequência financeira das perdas). Em torno do ano de 1980, ocorreram dois eventos catastróficos que induzi- ram a introdução da análise quantitativa na gestão de riscos.Em 1986, após a explosão da nave espacial Challenger, a NASA (Agência Aero Espacial Ame- ricana) passou a exigir a análise qualitativa de confiabilidade e dos riscos em suas missões espaciais e começou a desenvolver critérios quantitativos da análise dos riscos. Da mesma maneira, a Agência Regulatória Nuclear Ame- GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO UNIDADE 1 17GERENCIAMENTO DE RISCOS ricana (NUREG) passou a exigir análise probabilística de segurança após o acidente nuclear ocorrido na planta nuclear de Three Mile Island em 1979. Assim, a gestão de riscos acidentais adquiriu o formato hoje existente, com análise dos riscos do ponto de vista qualitativo e quantitativo. GESTÃO DE RISCOS EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS As instituições financeiras têm como característica a administração de recursos que não são próprios delas. ■ No caso dos bancos, eles administram recursos financeiros dos correntistas e investidores. ■ No caso das seguradoras, elas administram provisões como, por exemplo, PPNG – provisão de prêmios não ganhos e PSL –, provi- são de sinistros a liquidar que são de propriedade dos segurados. Por esta característica, os órgãos reguladores têm importante papel no controle destas instituições financeiras. Em outras atividades, em que os recursos financeiros são dos próprios acionistas, não é função do Estado o controle de solvência destas organizações. Por volta dos anos 2000 tivemos escândalos financeiros de repercussão mundial, citando os casos do Banco Barings, Enron, WorldCom, entre outros. Dentro deste contexto mundial, foram desenvolvidos pelos Órgãos Regu- ladores os acordos de Basiléia 1 e 2 para o sistema bancário, e Solvências 1 e 2 para mercado segurador (seguradoras e resseguradoras). Esta é a origem da gestão de riscos que encontramos hoje nas segura- doras e resseguradoras, com os mecanismos de governança corporativa, compliance, controles internos e auditoria interna. OS CAMINHOS DA GESTÃO DE RISCOS O desenvolvimento da gestão de riscos, enquanto processo estruturado, ocorreu por caminhos diferentes e convergentes, como vimos na gestão UNIDADE 1 18GERENCIAMENTO DE RISCOS de riscos acidentais e na gestão de riscos de instituições financeiras, con- tribuindo e sendo consolidadas na ISO 31000. Portanto, a ISO 31000 não foi fruto de um trabalho científico em que se tenha descoberto a gestão de riscos; foi, antes, resultado das necessida- des da administração dos riscos que podem prejudicar a organização ou uma área específica em atingir seus objetivos. GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS Riscos acidentais são eventos súbitos e imprevistos que causam perdas à organização. Se considerarmos que o objetivo de uma organização (ou de uma de suas áreas) é não sofrer perdas em decorrência de acidentes, temos que estes eventos são efeitos (negativos) da incerteza nos objetivos. Portanto, riscos acidentais são abrangidos pela definição de riscos da ISO 31000, e o processo nela previsto também é aplicável, com adaptações, aos riscos acidentais. Para estudarmos os riscos acidentais nas próximas unidades, dividiremos as exposições a perdas em cinco blocos: Bloco 1 Patrimônio. Bloco 2 Responsabilidade Civil. Bloco 3 Pessoas-chave. Bloco 4 Receita Líquida. Bloco 5 Pessoas. Cada um destes cinco blocos será analisado através de três dimensões: Dimensão 1 Itens expostos a perdas. Dimensão 2 riscos que causam as perdas. Dimensão 3 Consequências financeiras das perdas. UNIDADE 1 19GERENCIAMENTO DE RISCOS Terminando esta unidade, vale esclarecer alguns equívocos que encontra- mos no nosso mercado. ■ A gestão de riscos acidentais é um processo sequencial constituí- do de vários passos nos quais o seguro é uma das alternativas de financiamento de risco via transferência. O seguro é importante e muito utilizado na gestão de riscos acidentais, fazendo parte dela (e não o contrário). ■ Subscrição de riscos é uma atividade exclusiva da seguradora ou resseguradora que se constitui na aceitação, recusa ou aceitação com modificações dos riscos a elas oferecidos. ■ Inspeção de riscos é uma atividade de coleta de dados físicos do risco que fornece subsídios para a subscrição de riscos. ■ Inspeção de loss control (controle de perdas) é uma inspeção mais especializada que visa identificar e sugerir medidas de mitigação de riscos da organização. ■ Regulação de sinistros é uma atividade de verificação das causas e apuração dos prejuízos decorrentes de um sinistro. UNIDADE 1 20GERENCIAMENTO DE RISCOS RESUMO A gestão de riscos é um processo estruturado de responsabilidade da organização, mas que pode ter consultoria (prestação de serviços gratuita ou não) dos players do mercado de seguros (corretores de seguros, segu- radoras, corretores de resseguro, resseguradoras). A gestão de riscos foi normatizada através da ISO 31000, cuja primeira edição ocorreu no ano de 2009, sendo revisada em sua segunda edição no ano de 2018. Esta norma tem duas características importantes: a van- tagem de ser extremamente abrangente, servindo para qualquer tipo de organização ou atividade, o que gera a desvantagem de possuir pouco detalhamento para uma organização ou atividade. Portanto, sua aplicação deve respeitar seus princípios e diretrizes, mas precisa ser adaptada para uma aplicação específica. Nela encontramos a definição de risco enquanto “efeito das incertezas nos objetivos”. O efeito pode ser negativo (o que significa perdas), mas pode ser positivo (significa que a gestão de riscos pode gerar oportunidades de ganho). Sob o ponto de vista da gestão de riscos, podemos ter os riscos da ope- ração (que estão no controle da organização) e os riscos de mercado (riscos sistêmicos que não estão no controle direto da organização, mas que deverão ser identificados, analisados e, se for o caso, tratados). A gestão de riscos enquanto processo decisório teve desenvolvimento a partir da metade do século XX. A gestão de riscos acidentais e a gestão de riscos de instituições financei- ras tiveram caminhos diferentes, mas convergentes, resultando no proces- so estruturado que vem sendo praticado de maneira uniforme. Finalmente, a gestão de riscos é um processo abrangente que pode uti- lizar o seguro como uma ferramenta de financiamento de riscos através de transferência. FIXANDO CONCEITOS 21GERENCIAMENTO DE RISCOS FIXANDO CONCEITOS I Marque a alternativa correta nas questões abaixo: 1. O responsável pelo programa de gestão de riscos de uma organização é o (a): (a) Corretor de seguros. (b) Seguradora. (c) Resseguradora. (d) Própria organização. (e) Corretora de resseguros. 2. A ISO 31000, que trata dos princípios e diretrizes da gestão de Riscos, é: (a) De aplicação restrita no Brasil. (b) De aplicação no mercado internacional, mas não no Brasil, pois é uma norma estrangeira. (c) De aplicação internacional, inclusive no Brasil. (d) Só é disponibilizada em inglês. (e) Específica e detalhada para cada tipo de atividade. 3. Conforme ISO 31000, risco é o efeito: (a) Das incertezas nos objetivos. (b) Negativo das incertezas nos objetivos. (c) Positivo das incertezas nos objetivos. (d) Das certezas nos objetivos. (e) Das incertezas nos riscos acidentais. 4. Entrada de concorrentes com nova tecnologia é um risco: (a) Sistêmico. (b) De mercado. (c) Do Negócio. (d) De crédito. (e) Financeiro. 5. A gestão de riscos acidentais: (a) Iniciou sua evolução antes do surgimento do seguro. (b) Faz parte exclusivamente do seguro. (c) Trata apenas dos riscos de negócios da organização. (d) Está detalhada na ISO 31000. (e) Tem no seguro uma de suas técnicas de financiamento de riscos. 22GERENCIAMENTO DE RISCOS 02 ■ Entender o que são e quais são os bens tangíveis e intangíveis. ■ Aplicar as três dimensões do bloco patrimônio. Após ler esta unidade, você deveráser capaz de: TÓPICOS DESTA UNIDADE GESTÃO de RISCOS ACIDENTAIS – PATRIMÔNIO BENS DA ORGANIZAÇÃO RESUMO FIXANDO CONCEITOS 2 ■ Identificar e analisar os riscos do bloco patrimônio. ■ Aplicar as medidas de controle de riscos e financiamento de riscos do bloco patrimônio. 23GERENCIAMENTO DE RISCOS BENS DA ORGANIZAÇÃO O patrimônio da organização corresponde ao seu ativo e é composto de bens tangíveis e bens intangíveis. — Bens Tangíveis Os bens tangíveis são ativos da organização que são concretos e que podem ser tocados. Eles podem ter: ■ Origem natural, ou seja, não foram produzidos pelo homem, mas fazem parte do patrimônio da organização. Como exemplo, temos terrenos, lagos, cursos d’água naturais, vegetação nativa, florestas naturais, etc. ■ Origem na exploração dos recursos naturais pelo homem, quer seja pela extração destes recursos (pedras preciosas, materiais de insumo para indústrias, petróleo, etc.), quer seja pela alteração do meio ambiente para fins de exploração comercial, como exemplo a agricultura, piscicultura, criação de animais, hidroelétricas, etc. ■ Origem na produção de produtos pelo homem, criando e construin- do benfeitorias, classificados em: Prédios / instalações Maquinismos / móveis / utensílios Mercadorias / matérias primas São os bens da organização necessárias para o funcionamento da organização. Nesta classificação, temos as indústrias, comércios, prestação de serviços e residências (incluindo condomínios). UNIDADE 2 24GERENCIAMENTO DE RISCOS — Bens Intangíveis Os bens intangíveis não podem ser vistos ou tocados, mas são percebidos como ativos da organização. São bens intangíveis da organização as marcas, valores e princípios pre- sentes na cultura organizacional, percepção de perenidade, dentre outros. O valor de uma organização é a soma do valor dos bens tangíveis e do valor dos bens intangíveis. Ela corresponde ao valor que o mercado paga- ria ou estaria disposto a pagar pela sua aquisição. Se a organização tiver capital aberto negociado em bolsa de valores, a variação de seu valor nor- malmente é explicada pelo valor dos ativos intangíveis, não pelo valor dos ativos tangíveis. Os valores dos bens tangíveis sofrem variação positiva ou negativa em função das condições do mercado (valor de compra e de venda), e variação negativa em função da depreciação. A variação de valor dos bens tangíveis é, normalmente, muito menor que as oscilações dos valores dos bens intangíveis. Até 50 anos atrás, o valor da organização era muito próximo ao valor dos bens tangíveis. Hoje, os valores dos bens intangíveis de uma organiza- ção podem ultrapassar em muito o valor de seus bens tangíveis. Basta lembrarmos de uma rede internacional de fast food e de uma importante fabricante de refrigerantes. Por certo, na composição do valor da orga- nização, o valor do bem intangível “Marca” é muito superior ao valor das suas lojas e fábricas. Porém, vale registrar que: ■ Dependendo do tipo da organização, a gestão de riscos acidentais – patrimônio dos bens tangíveis de origem natural assume impor- tância primordial, principalmente em indústrias que se dedicam à extração destes recursos. É o caso de mineradoras e industrias extrativistas em geral, para quem a matéria-prima são os recursos de origem natural. ■ A gestão de riscos dos bens intangíveis, principalmente da “marca”, deve abranger vários itens, além dos riscos acidentais. A “marca” pode sofrer perda em função de vários eventos, que vão desde o atendimento inadequado, passando por produtos defeituosos, até acidentes causados aos funcionários, clientes, e terceiros em geral. — Exposição a Perdas O bloco patrimônio, conforme explanado no final da Unidade 1, é entendi- do e estudado através de três dimensões: Importante Nesta disciplina estudaremos a gestão de riscos acidentais – bloco patrimônio dos bens tangíveis produzidos pelo homem (indústria, comércio, prestação de serviços, residencial). Para fins da gestão de riscos acidentais, não serão considerados os bens intangíveis. UNIDADE 2 25GERENCIAMENTO DE RISCOS Dimensão 1 Itens expostos a perdas. Dimensão 2 riscos que causam as perdas. Dimensão 3 Consequências financeiras das perdas. — Itens Expostos a Perdas Para indústria, comércio, prestação de serviços e residencial, os itens dire- tamente expostos a perdas são: Prédios e instalações Corresponde à parte das obras civis e instalações de água, luz, ar condicio- nado, elevadores, etc. destinados a prover condições para funcionamento da organização. Em alguns casos, principalmente em condomínios, é comum a dificuldade da separação de prédios / Instalações da parte do conteúdo. Uma maneira prática é responder à pergunta: o que fazia parte do bem quando as instalações foram entregues para uso da organização? Vamos explorar uma situação prática: um médico aluga um conjunto de salas num prédio comercial para instalação de seu consultório. Ele rea- liza várias melhorias, tais como instalação de divisórias, revestimento de paredes, piso antiderrapante, etc. O prédio comercial possui cobertura securitária para o prédio e áreas comuns. Na eventualidade da ocorrência do evento incêndio, o seguro do condomínio do prédio comercial cobrirá as obras civis e instalações existentes antes da locação, não cobrindo as melhorias por ele feitas (embora estas melhorias possam ser consideradas como incorporadas ao prédio e instalações, elas não fazem parte da cober- tura securitária fornecida ao condomínio comercial). Caso o médico deseje cobertura para as melhorias e o conteúdo do consultório (computadores, mesas, cadeiras, armários, macas, etc.), ele deverá contratar um seguro em que ele seja o beneficiário. Maquinismos, móveis e utensílios Maquinismos, móveis e utensílios fazem parte do conteúdo da organiza- ção. Estes bens pertencem à organização ou estão sob sua guarda e con- trole, podendo ser removidos ou alocados sem alterar a parte física da construção (prédios e instalações). UNIDADE 2 26GERENCIAMENTO DE RISCOS Um raciocínio prático é considerar como maquinismos, móveis e utensílios os bens que podem ser removidos em caso de mudança de endereço da organização sem alterar a estrutura física do imóvel. Voltando ao exemplo do consultório instalado no prédio comercial, caso o médico mude seu consultório para outro local, certos itens do consultório, como computa- dores, mesas, cadeiras, armários, macas, etc. serão transferidos e, portan- to, podem ser considerados conteúdos. Já as melhorias feitas (divisórias, revestimento de paredes, piso antiderrapante, etc.) serão incorporadas ao prédio e instalações, não sendo consideradas conteúdos. Mercadorias e matérias-primas Mercadorias e matérias-primas fazem parte do conteúdo da organiza- ção, mas, ao contrário dos maquinismos / móveis / utensílios, têm como característica ficar pouco tempo sob posse e guarda da organização. As matérias-primas serão incorporadas aos produtos produzidos pela indús- tria, e as mercadorias são bens que serão comercializados pela indústria e comércio. Então, como regra geral, mercadorias e matérias primas não fazem parte dos bens de organizações dedicadas à prestação de serviços ou residencial. Para visualizar os itens expostos a perdas, vamos utilizar o exemplo de uma padaria que utiliza o conceito de “butique de pães”. Esta organização será utilizada no transcorrer do curso para exemplificar diversas situações. ■ Prédio e Instalações: parte civil da padaria, englobando funda- ções, estrutura, alvenaria, cobertura e acabamentos, instalações de ar condicionado, escada rolante e elevador. ■ Maquinismos, móveis e utensílios: fornos, máquinas de lavar louça, caldeiras, misturadores, geladeiras, prateleiras (refrigeradas ou não), motores, mesas, cadeiras, armários, balcões, utensílios em geral utilizados na cozinha. ■ Mercadorias e matérias-primas:produtos comercializados (pães, bolos, doces, salgados, enlatados, laticínios, etc.) e insumos em geral (farinha, óleo, fermento, etc.) Quando se fala em itens expostos a perdas, além de prédios/instalações, mercadorias/móveis/utensílios, matérias primas/mercadorias devem ser analisados outros itens que podem compor os expostos à perdas, e que são: Desentulho do local Como decorrência de um dano acidental, antes da reconstrução ou repo- sição, pode ser necessário o desentulho do local. Por exemplo, num incên- dio de grandes proporções ocorrido em 21/05/1987 nas duas torres (Sedes 1 e 2) da CESP – Companhia Energética de São Paulo, localizado na Ave- nida Paulista, na cidade de São Paulo/SP, antes da reconstrução do prédio UNIDADE 2 27GERENCIAMENTO DE RISCOS foi necessário desentulhar o local, incluindo a implosão de uma das torres, o que dispendeu muitos recursos financeiros para retirada do entulho e limpeza do local. Despesas de demolição Trata-se de prédio/instalação que foi parcialmente danificado por um even- to, mas cuja reconstrução ou reparação pode ser economicamente inviá- vel, sendo preferível sua demolição e posterior reposição. Pode ocorrer também que uma estrutura, parcialmente danificada, seja condenada pela prefeitura local, sendo necessária sua demolição. Propriedades não danificadas Uma propriedade não danificada pode perder valor em função da perda de sua utilidade, motivada pelos danos sofrido por outra propriedade da organização. Alguns exemplos desta situação: ■ Mudança do zoneamento onde a organização está localizada, impedindo a reconstrução da parte danificada e gerando perda de valor da parte não danificada. ■ Desenvolvimento tecnológico do estado da arte do processo onde ocorreu a perda. Neste caso, é possível que não haja interesse na retomada do processo como o existente antes do acidente, tor- nando ociosas as partes não danificadas. ■ Desinteresse da organização na continuidade das operações na unidade onde ocorreu o acidente. As partes não danificadas se tornarão ociosas e perderão seu valor funcional. Aumento dos custos de reconstrução ou reparação Podem ocorrer alterações do código de obras do município, exigindo alte- rações na reconstrução ou reparação e aumentando seus custos. Com o aumento do valor do prédio/instalações, provavelmente ocorrerá aumento de impostos como o IPTU. Valor do conjunto Pode ocorrer que a perda de uma peça desvalorizará o conjunto como um todo. Exemplificando, numa indústria automobilística a perda de algum componente, por exemplo dos pneus, ocasiona temporariamente a perda do valor de venda do automóvel como um todo. Numa confecção, a perda do estoque de zíperes fará com que temporariamente o lote da confec- ção como um todo perca valor. Embora a perda de valor do conjunto seja temporária até a reposição do bem faltante, isto irá gerar perda de receita da organização. UNIDADE 2 28GERENCIAMENTO DE RISCOS — Riscos que Causam as Perdas São inúmeros os riscos que causam perdas no bloco patrimônio e é importan- te que haja uma correta identificação destes riscos. Abaixo estão os principais riscos identificáveis no bloco patrimonial, agrupados pela origem dos riscos. Riscos com origem na atividade da organização Incêndio É uma das principais causas de perdas das organizações. O incên- dio é caracterizado como fogo descontrolado, pois em diversos processos industriais que necessitam de calor (processos a quen- te) é utilizada a chama controlada como fonte de calor, o que não caracteriza Incêndio. Explosão Pode ter origem em equipamentos que trabalham com pressão (como as caldeiras de nossa padaria) ou equipamentos em que são processadas reações químicas. Tanto explosão como implo- são caracterizam-se pelo equilíbrio súbito de pressão. Na explo- são, a pressão interna é maior que a pressão externa, e se ocor- re o reequilíbrio súbito das pressões interna e externa, temos a explosão (de dentro para fora). O mesmo raciocínio se aplica para implosão, com a diferença de que neste caso a pressão externa é maior que a pressão interna. Na ocorrência do equilíbrio súbito de pressão, ocorre a Implosão (de fora para dentro, dando a impres- são de que houve um amassamento). Fumaça Não é a fumaça originada de incêndio (os danos originados pela fumaça de incêndio fazem parte do evento incêndio), mas sim os danos causados pela fumaça de desarranjos mecânicos das máquinas e equipamentos da organização. Derrame e vazamento de água de chuveiros automá- ticos (sprinklers) Pois os sistemas de sprinklers ficam pressurizados para rápida intervenção em caso de princípio de incêndio. O seu disparo aci- dental, sem necessidade, molhará os bens que se encontrarem no seu raio de ação. No nosso exemplo da padaria, suponha que o disparo acidental ocorre na área de armazenagem de matérias primas. A consequência será a molhadura e perda deste material. Desmoronamento Que pode ser parcial ou total, e pode ter tanto causa interna (fal- ta de manutenção que compromete a estrutura), como por causa externa (deslizamento de terra que danifique a estrutura). UNIDADE 2 29GERENCIAMENTO DE RISCOS Rompimento ou vazamento da rede de água interna da organização Causando molhadura e consequente perda dos bens da organização. Impacto de veículos, queda de aeronaves, engenhos aeroespaciais Suponha que nossa padaria se encontre numa esquina movimen- tada, estando, portanto, sujeita a impacto de veículos que atinjam a organização. Acidentes de origem súbita e imprevista em máqui- nas e equipamentos Os acidentes podem ser de origem interna (que são caracterizados genericamente como quebra de máquinas) ou de origem externa (tombamento, queda de objetos, impacto de empilhadeiras, etc.). Contaminação e deterioração de mercadorias em ambientes frigorificados Cuja falha dos equipamentos pode ter origem interna no funciona- mento inadequado deles, ou por origem externa, como a falta de energia elétrica por períodos prolongados. Danos elétricos Que é consequência de qualquer desarranjo elétrico ou curto-cir- cuito nas instalações do prédio ou nas maquinas e equipamentos. Riscos com origem na Natureza Queda de raio, que pode ocorrer: ■ Dentro do perímetro da organização, ocasionando danos diretos pela súbita variação de tensão (danificando equipamentos elé- tricos e eletrônicos) ou pelo calor gerado (causando incêndio). ■ Fora do perímetro da organização, que pode gerar sobreten- são na rede elétrica, causando avarias elétricas nos equipa- mentos elétricos e eletrônicos da organização. Observação Os equipamentos elétricos são aqueles que geram calor ou tra- balho. Por isso um forno elétrico ou um motor são equipamentos elétricos. Já os equipamentos eletrônicos têm como função gerar outras funções que não seja calor ou trabalho. Assim, o compu- tador é um equipamento eletrônico, cuja principal função é gerar informações e prover ferramentas de trabalho. UNIDADE 2 30GERENCIAMENTO DE RISCOS Alagamento e inundação Que são danos causados por água cuja origem é externa à organi- zação. Embora alagamento e inundação sejam usados como sinô- nimos, no alagamento a fonte externa de água são rios não nave- gáveis. Na inundação a fonte externa de água são rios navegáveis. Os danos causados por fonte interna à organização, por exemplo, um rompimento da tubulação que alimenta a rede de água da organização, não são considerados alagamento ou inundação. Vendaval, Furacão, ciclone, tornado, granizo São fenômenos da natureza que podem danificar parcial ou total- mente as instalações da organização. Riscos com origem no Homem Roubo e furto qualificado de bens, mercadorias e valores Que são atos praticados por elementos estranhos à organização. Os roubos são atos praticados com violência ou intimidação à pes- soa. Já o furto qualificado é um ato que danifica a estrutura da organização ou que utiliza meios não convencionaispara acessá- -la. As definições de furto qualificado variam e em algumas delas exige-se a existência de vestígios materiais inequívocos para caracterização de tal tipo de furto. Infidelidade de empregados Que são os atos lesivos à organização causados por funcionários dela. O desvio de verbas, fraudes em benefício próprio constituem exemplos da infidelidade de empregados. Tumultos Que se caracterizam pela junção de pessoas que coletivamente praticam atos que danificam as propriedades da organização. Cyber Risks Causando danos ao patrimônio da organização em função de ataques cibernéticos; é hoje um dos principais riscos emergentes para qualquer organização. — Consequências Financeiras das Perdas Uma vez conhecidos os itens expostos a perdas e os riscos que causam perdas, partimos para o estudo das consequências financeiras das perdas. Para medir as consequências financeiras da perdas, é necessário o enten- dimento de dois conceitos: valoração e parâmetros da qualidade do risco. UNIDADE 2 31GERENCIAMENTO DE RISCOS Valoração Sabendo o que é exposto à perda e os riscos que causam esta perda, pre- cisamos estabelecer como mensurá-la. Para tanto, temos três conceitos importantes: Valor de novo Que é o valor dos bens do segurado no seu estado de novo. No caso do prédio e instalações, é o seu valor para reconstrução no dia de hoje. A resposta à pergunta “Quanto se gastaria para construir o prédio e instalações na data de hoje?” é o valor de novo. No caso de maquinismos/móveis/utensílios, é o valor para insta- lação de equipamentos novos na data de hoje. A resposta à per- gunta “quanto se gastaria para comprar na data de hoje novos maquinismos, móveis e utensílios?” fornece o valor de novo dos maquinismos/móveis/utensílios. No caso de mercadorias e matérias primas, é o valor de venda das mercadorias ou valor de compra das matérias primas. Valor atual Que é o valor de novo menos a depreciação. O valor de novo para prédios/instalações ocorre no dia em que o prédio foi entregue. Da mesma maneira, o valor de novo dos maquinismos/móveis/uten- sílios ocorre quando estes bens são comprados e instalados no estado de novo. Já no dia seguinte começa o processo de depre- ciação física do bem. Como mercadorias/matérias-primas não são bens a serem incor- porados ao prédio ou conteúdo (matérias-primas são bens que serão incorporados às mercadorias para posterior venda), não existe depreciação a ser aplicada. Este é um dos motivos pelos quais o conteúdo da organização é dividido em (1) maquinismos/ móveis/utensílios, que sofrem depreciação, e (2) mercadorias/ matérias primas que não sofrem depreciação. Depreciação física Que ocorre pelo uso, desgaste de um bem físico. Um ponto importante é que existem vários critérios de depreciação, que levam a valores diferentes, e, portanto, a valores atuais diferentes. Os métodos de cálculo de depreciação normalmente utilizados são: linha reta, Ross e Ross-Heidecke. Somente para fins de ilustração, utilizaremos o seguinte exemplo: UNIDADE 2 32GERENCIAMENTO DE RISCOS Valor de novo do bem: R$ 1.000.000,00 Idade aparente: 5 anos Vida útil: 10 anos Valor residual (valor do bem ao final de sua vida útil): zero MÉTODO DE DEPRECIAÇÃO DEPRECIAÇÃO VALOR ATUAL Linha Reta 50,00% R$ 500.000,00 Ross 37,50% R$ 625.000,00 Ross-Heidecke 42,56% R$ 574.437,50 Observação Duas observações importantes sobre valoração: Métodos diferentes de depreciação levam a valores diferentes de valor atual, que são importantes para medição das consequências financei- ras das perdas. Não se deve utilizar a depreciação contábil para fins de valoração. Na va- loração devem ser utilizados métodos que meçam a depreciação física. Parâmetros da Qualidade do Risco Os dois principais parâmetros para medição da qualidade do risco são PMP – Perda Máxima Possível e DMP – Dano Máximo Provável. Estes parâmetros são utilizados para todos riscos analisados pela gestão de riscos acidentais, mas, para fins de seu entendimento, utilizaremos a causa de perda Incêndio. A PMP Perda Máxima Possível no Risco de Incêndio, de maneira simplifi- cada, é a perda total do maior risco isolado. Voltando ao exemplo adotado da padaria, suponhamos que ela tenha uma matriz que constitui um risco isolado no valor de R$ 15.000.000,00 e uma filial localizada em outro bairro com valor de R$ 10.000.000,00. Embora o valor em risco da padaria seja de R$ 25.000.000,00, e consi- derando que não teremos o evento Incêndio que atinja as duas unidades ao mesmo tempo, temos que a consequência financeira para o evento Incêndio será de R$ 15.000.000,00 (PMP) e não R$ 25.000.000,00. UNIDADE 2 33GERENCIAMENTO DE RISCOS O DMP Dano Máximo Provável é a perda esperada considerando os sistemas protecionais existentes (brigada, extintores, hidrantes, sprinklers, etc.). Embora a PMP da Matriz seja de R$ 15.000.000,00, considerando a atuação dos sistemas protecionais, temos que, através da análise de cenários, o DMP será de 20%, ou seja, R$ 3.000.000,00. Do ponto de vista da gestão de riscos, quanto maior a distância do DMP para o PMP, melhor será a qualidade do risco. Na nossa padaria, se o DMP for igual ao PMP, significa que ela não dispõe de sistemas protecionais eficientes. — Identificação e Análise de Riscos Para a identificação de riscos, existem métodos já consagrados em literatu- ra especializada. Somente para fins de ilustração, vamos citá-los: HAZID – Hazard Identification – Identificação de Perigos Envolve seções de brainstorm direcionadas por checklists prepa- rados pela gestão de riscos. What If Analisys – Análise “O Que – Se” Através de brainstorm menos estruturados, busca-se a identifi- cação de perigos através da resposta “o que aconteceria” se “tal evento ocorresse”. HAZOP – Hazard and Operability Studies – Estudo dos Perigos e Operabilidade Muito utilizada no estudo de perigos em processo contínuos; será utilizada na unidade 3. Análise Preliminar de Perigos Técnica qualitativa para identificar perigos em novos projetos ou novas instalações. FMEA – Failure Mode and Effect Analisys – Análise do Modo de Falha e Efeitos Método de análise indutivo para estudar causas e efeitos das falhas. Análise de Frequência A análise de riscos envolve o estudo da frequência e severida- de dos riscos identificados, sempre em relação aos objetivos da organização. Nos riscos acidentais, o objetivo é que as perdas não ocorram, ou ocorram dentro de determinados limites. UNIDADE 2 34GERENCIAMENTO DE RISCOS A frequência é a quantidade de ocorrências em relação à quantidade de expostos ao risco. A severidade é a consequência financeira (em R$) da ocorrência dos riscos. Neste curso, utilizaremos análise qualitativa conforme a seguir: ■ Frequência: ocorrência remota, baixa, média, alta. ■ Severidade: consequência insignificante, significativa, severa, catastrófica. Utilizando os riscos identificados anteriormente e o case padaria, temos como exemplo: RISCO FREQUÊNCIA SEVERIDADE 1. Incêndio Baixa Catastrófica 2. Explosão Baixa Severa 3. Fumaça Remota Significativa 4. Derrame e vazamento de sprinklers Baixa Significativa 5. Desmoronamento Remota Severa 6. Rompimento e vazamento de água Baixa Significativa 7. Impacto de veículos, queda de aeronaves, engenhos aeroespaciais Baixa Significativa 8. Acidentes com máquinas e equipamentos Média Significativa 9. Contaminação e deterioração de mercadorias Baixa Severa 10. Danos elétricos Baixa Significativa 11. Alagamento / inundação Remota Severa 12. Vendaval, furacão, ciclone, granizo Média Significativa 13. Roubo e furto qualificado Baixa Severa 14. Fidelidade de empregados Baixa Significativa 15. Tumultos Baixa Significativa 16. Cyber Risks Média Severa UNIDADE 2 35GERENCIAMENTO DE RISCOS Observação A classificação de riscos (que será visualizada na matriz de riscos abaixo) deverá ser discutida com a organização, pois elaguiará os riscos que terão prioridade de trata- mento pela gestão de riscos. — Matriz de Riscos A matriz de riscos é um recurso gráfico utilizado na gestão de riscos para con- densar o resultado da identificação e análise de riscos, conforme a seguir: MATRIZ DE RISCOS FREQUÊNCIA SEVERIDADE INSIGNIFICANTE SIGNIFICATIVA SEVERA CATASTRÓFICA Alta Média 8, 12 16 Baixa 4, 6, 7, 10, 14, 15 2, 9, 13 1 Remota 3 5, 11 — Medidas de Controle de Riscos e Financiamento de Riscos Devemos ter em mente que os recursos disponibilizados para a gestão de riscos, assim como para as demais áreas da organização são limitadas. Como consequência, o processo de gestão de riscos acidentais deverá ser direcionado aos riscos que podem impedir que a organização atinja seus objetivos. Voltando ao nosso exemplo e analisando a matriz de riscos, temos: Na área vermelha, risco 1 – Incêndio, risco 16 – cyber risks. Na área amarela, risco 2 – explosão, risco 8 – acidentes com máquinas e equipamentos, risco 9 – contaminação e deterioração de mercadorias, risco 12 – vendaval, furacão, ciclone, tornado, granizo, risco 13 – roubo e furto qualificado. UNIDADE 2 36GERENCIAMENTO DE RISCOS Considerando os riscos acidentais, temos medidas de controle de riscos, que são medidas da organização para mitigação destes riscos, e medidas de financiamento de riscos, que são medidas de transferência de riscos. As medidas de controle de riscos são: Eliminar a exposição De pouca aplicação para riscos acidentais do bloco patrimônio. Um exemplo de sua aplicação é mudar a organização para um local mais alto, eliminando o risco de alagamento/inundação. Prevenção de perdas – loss prevention Amplamente aplicada na gestão de riscos acidentais do bloco patrimônio, visa reduzir a frequência (evitar que ocorra). Redução de perdas – loss reduction Amplamente aplicada na gestão de riscos acidentais do bloco patrimônio, visa reduzir a severidade (se ocorrer, diminuir sua seve- ridade). Separação Quando possível, isolar os riscos (paredes e portas corta fogo, aumentar a distância de isolamento entre os riscos); tem por obje- tivo reduzir a PMP – Perda Máxima Possível. Duplicação Mais utilizada quando envolve sistemas de informática, mantendo backup dos programas e arquivos. As medidas de financiamento de riscos são: Retenção As perdas são assumidas pela organização. Não é aplicável para os riscos situados nas áreas vermelha e amarela da matriz de riscos. Transferência por seguros Normalmente a gestão de riscos aplica medidas de controle de riscos conjugadas com a transferência por seguros. Abaixo as medidas de controle de riscos que podem ser desenvolvidas para os riscos na zona vermelha e amarela do case padaria. UNIDADE 2 37GERENCIAMENTO DE RISCOS RISCO PREVENÇÃO DE PERDAS REDUÇÃO DE PERDAS SEPARAÇÃO DUPLICAÇÃO 1.Incêndio Controle das fontes de calor, manuten- ção dos equipamen- tos, procedimento formais de seguran- ça a serem seguidos pelos funcionários Sistemas prote- cionais de extin- tores, hidrantes, sprinklers, alarme, treinamento dos funcionários Isolamento de riscos para dimi- nuir a PMP Não se aplica 16.Cyber risks Sistemas de blo- queio (firewall), treinamento dos fun- cionários, auditoria do sistema atual Plano de contingên- cia através de em- presa especializada, operação através de outro local Não se aplica Sistema backup dos software e arquivos. 2.Explosão Manutenção perió- dica, equipamento de segurança para sobrepressão Contrato de manutenção para rápida substituição do equipamento danificado Isolamento dos equipamentos sujeitos a explo- são Não se aplica 8.Acidentes com máqui- nas e equipamento Manutenção preven- tiva periódica, layout adequado para operação Contrato de manutenção para atendimento rápido e eventual substi- tuição Não se aplica Não se aplica 9.Contaminação e dete- rioração Manutenção perió- dica, geradores de eletricidade para uso em situações emergenciais Plano de descarte e substituição dos alimentos contami- nados ou deterio- rados Utilização de mais um equi- pamento de refrigeração Não se aplica 12.Vendaval / Granizo Manutenção ade- quada dos telhados, coberturas e vãos da estrutura. Funcionários treina- dos para situação emergencial, remo- vendo e protegen- do mercadorias e demais instalações Não se aplica Não se aplica 13.Roubo/Furto Qualifi- cado Instalação de segu- rança física (grades, alarmes, vigilância) Formalização de procedimentos emergenciais na ocorrência do evento (empresa de segurança conecta- da ao alarme, etc.) Não se aplica Não se aplica UNIDADE 2 38GERENCIAMENTO DE RISCOS RESUMO O Patrimônio da organização é composto de bens tangíveis e bens intangíveis. Os bens tangíveis são ativos concretos da organização que podem ser tocados. Eles podem ser de origem natural, resultantes da exploração de recursos naturais e mesmo produção do homem. Neste último caso, são criadas e construídas benfeitorias, que são os (1) prédios/instalações (2) maquinismos/móveis/utensílios, (3) mercadorias/matérias-primas e são os bens da organização necessários para seu funcionamento. Nesta classifi- cação, temos as indústrias, comércios, prestação de serviços e residências (incluindo condomínios). O bloco patrimônio é estudado através de três dimensões: dimensão 1 – itens expostos a perdas; dimensão 2 – riscos que causam as perdas; dimensão 3 – consequências financeiras. Na “dimensão 1 – itens expostos a perdas”, temos prédios e instalações; maquinismos, móveis e utensílios; mercadorias e matérias primas. Além destes itens, também devem ser considerados desentulho do local, des- pesas de demolição, propriedades não danificadas, aumento dos custos de reconstrução ou reparação, valor do conjunto. Na “dimensão 2 – riscos que causam perdas”, são analisados os riscos que causam perdas no bloco patrimonial. Na “dimensão 3 – consequências financeiras das perdas”, é mensurado o impacto das perdas, devendo-se aplicar os conceitos de valoração e parâ- metros da qualidade do risco. O resultado da identificação e análise dos riscos (causas de perdas, fre- quência e severidade) são condensados na matriz de riscos, que serve para decidir quais riscos serão objeto da gestão de riscos. Finalmente, as medidas de controle de riscos e financiamento de riscos deverão ser analisadas para os riscos que serão objeto da gestão de riscos. FIXANDO CONCEITOS 39GERENCIAMENTO DE RISCOS FIXANDO CONCEITOS 2 Marque a alternativa correta nas questões abaixo: 1. Na gestão de riscos acidentais, os bens do bloco patrimônio são com- postos de: (a) Bens tangíveis, somente. (b) Bens intangíveis, somente. (c) Bens que podem ser valorados fisicamente. (d) Bens físicos. (e) Bens tangíveis e intangíveis. 2. Na valoração dos bens do bloco patrimônio, normalmente não se utiliza depreciação para: (a) Prédios. (b) Instalações. (c) Mercadorias. (d) Maquinismos . (e) Móveis. 3. Incêndio é uma causa de perdas importante no bloco patrimônio. Sua característica é: (a) Fogo controlado. (b) Alta frequência e alta severidade. (c) Baixa frequência e alta severidade. (d) Alta frequência e baixa severidade. (e) Baixa frequência e baixa severidade. 4. No bloco patrimônio, instalar sistema de sprinklers é uma medida de: (a) Financiamento de riscos (b) Evitar as perdas (c) Prevenção de perdas (d) Transferência contratual (e) Redução de perdas 5. No bloco patrimônio, instalar grades e cerca eletrificada para roubo/ furto qualificado é uma medida de: (a) Prevenção de perdas. (b) Segregação por duplicação. (c) Segregação por separação. (d) Redução de perdas. (e) Evitar as perdas. 40GERENCIAMENTO DE RISCOS 03 ■ Conhecer a origem da responsabilidade civil. ■ Aplicar as três dimensões do bloco responsabilidade civil. ■ Entender o que é responsabilidade civil contratual e responsabilidadecivil extracontratual. Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: RESPONSABILIDADE CIVIL TÓPICOS DESTA UNIDADE EXPOSIÇÃO A PERDAS RESUMO FIXANDO CONCEITOS 3 ■ Compreender a diferença entre responsabilidade civil subjetiva e responsabilidade civil objetiva. ■ Aplicar medidas de controle de riscos e de financiamento de riscos. GESTÃO de RISCOS ACIDENTAIS – 41GERENCIAMENTO DE RISCOS A responsabilidade civil surge em função da existência de: ■ Leis; ■ Códigos, que reúnem, em uma única lei, normas de um mesmo ramo do direito, como por exemplo: Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, etc.; ■ Estatutos, que regulam as relações de certas pessoas que têm em comum o fato de pertencerem a um território ou sociedade, como por exemplo: Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso, etc. Para a gestão de riscos acidentais, é importante conhecer a ori- gem e a dinâmica da responsabilidade civil que pode ser imputada à organização. No Código Civil Brasileiro, temos três artigos que são importantes para conceituação da responsabilidade civil, que são: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos res- ponderão solidariamente pela reparação. UNIDADE 3 42GERENCIAMENTO DE RISCOS Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os auto- res os coautores e as pessoas designadas no art. 932. Estes artigos levam a uma reflexão inicial, que será aprofundada no trans- correr do curso: (1) o artigo 186 define o que é ato ilícito; (2) o artigo 942 diz que quem comete ato ilícito e causar dano a outrem é obrigado a repará-lo; (3) e o artigo 942 define que os bens do causador do dano ficam sujeitos a reparação. Em linhas gerais, está é a dinâmica da responsabilidade civil. Para exemplificar, vamos novamente usar o exemplo da padaria. Suponha- mos que o chão ficou úmido após o trabalho de limpeza e que não houve isolamento da área ou aviso através de placas. Um cliente escorregou na área, caiu e quebrou o braço. Então: 1. Houve violação do direito do cliente, pois foi criada uma situação de perigo e o cliente não foi alertado. Portanto, a padaria cometeu um ato ilícito. 2. Como ela cometeu um ato ilícito e causou danos, é sua obrigação reparar os danos pessoais, que podem ser acrescidos de danos morais e danos imateriais (como exemplo, perda de receita do cliente da padaria, que é representante comercial). 3. Os bens da padaria ficam sujeitos à reparação dos danos, ou seja, ela deverá reparar os danos com recursos próprios. Portanto, no estudo das dimensões do bloco responsabilidade civil, temos as seguintes conclusões: Dimensão 1 Itens expostos a perdas: os bens expostos a perdas na responsabilidade civil são os bens da própria organização, pois eles ficarão à disposição para reparação dos danos causados a outrem. Dimensão 2 Riscos que causam as perdas: são os atos ilícitos cometidos pela organização e que causam danos a outrem. Dimensão 3 Consequências financeiras: são os custos de reparação dos danos causados e, como veremos adiante, as custas judiciais envolvidas no processo. UNIDADE 3 43GERENCIAMENTO DE RISCOS EXPOSIÇÃO A PERDAS O processo de gestão de riscos acidentais é o mesmo para todos os blo- cos (patrimônio, responsabilidade civil, pessoas e receita líquida), sendo adaptado às características de cada um deles. — Itens Expostos a Perdas Conforme estudado na introdução desta unidade, o item exposto a perdas no bloco responsabilidade civil é o próprio patrimônio da organização, pois ele ficará à disposição para reparação dos danos causados a outrem quan- do cometidos atos ilícitos e houver danos. Este fato, que é previsto no Código Civil Brasileiro, pode gerar, indireta- mente, procedimento equivocado para se fixar o LMI – Limite Máximo de Indenização de uma apólice de responsabilidade civil. A fixação do LMI para apólice de Responsabilidade Civil não tem critérios objetivos como estudado no Bloco Patrimonial (no bloco patrimonial as Consequências Financeiras da Perdas são medidas através dos parâmetros Valoração - VN, VA e Depreciação, e dos Parâmetros da Qualidade do Risco - PMP e DMP. A ausência de critérios objetivos para medição das consequências financei- ras do evento responsabilidade civil, aliada com previsão legal da disponi- bilização dos bens da organização para reparação dos danos causados a outrem, tem induzido a contratação de seguro com LMI equivalente ao patri- mônio líquido da organização. Embora este critério tenha o mérito de consi- derar que, quanto maior o patrimônio líquido, maior será o nível de atividade da organização, e, em tese, maior será sua exposição a perdas decorrente de Responsabilidade Civil, ele pode levar a situações como as descritas: 1. Patrimônio líquido da organização: R$ 10 milhões. 2. LMI da apólice de responsabilidade civil: R$ 10 milhões. 3. Reparação de danos causados a terceiros: R$ 30 milhões. Nesta situação hipotética, teríamos: ■ Seguro reembolsaria R$ 10 milhões. ■ Organização responderia com seus bens no valor de R$ 10 milhões. ■ Seriam necessários mais R$ 10 milhões para reparação dos danos causados. Este assunto será novamente discutido no item consequências finan- ceiras do bloco responsabilidade civil. UNIDADE 3 44GERENCIAMENTO DE RISCOS Outro ponto de atenção relacionado aos bens da organização é um trecho encontrado no artigo 942 do Código Civil Brasileiro, já mencionado, que determina que “se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão soli- dariamente pela reparação”. Portanto, se a organização for corresponsável por algum dano, ela responderá solidariamente, ou seja, como ela é res- ponsável solidária, e se a outra parte acionada não tiver bens suficientes, a organização poderá ser obrigada a arcar com a totalidade da reparação dos danos. Quando a organização responde solidariamente, pode ocorrer dela assu- mir 100% da responsabilidade, independentemente do seu percentual de culpa no evento (caso fosse atribuído um percentual de culpa para cada participante, ela responderia proporcionalmente). Voltando ao piso molhado do exemplo de nossa padaria, não adianta ela alegar que o ato ilícito foi cometido por uma empresa terceirizada, pois a organização responderá solidariamente. Esta situação pode ser encontrada no mercado de seguros, no qual, em caso de demanda judicial do segurado contra o corretor de seguros, a parte que representa o segurado procurará trazer a seguradora para a disputa judicial, fazendo com que ela, que normalmente tem porte financeiro maior que o corretor de seguros, seja solidária na ação judicial com o corretor de seguros. — Riscos que Causam as Perdas No bloco responsabilidade civil, o risco que causa perdas é cometer ato ilíci- to, sendo que conforme artigo 186 do Código Civil Brasileiro, comete ato ilíci- to “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral”. Algumas considerações sobre o artigo 186: ■ Para violar o direito de outrem é necessária: » Ação, ou seja, fazer alguma coisa, que no caso de nossa pada- ria pode ser vender um produto ou guardar o carro de um cliente. » Omissão voluntária, ou seja, deixar de fazer alguma coisa. Na nossa padaria,poderia ser deixar de fazer a manutenção do seu letreiro, fazendo com que ele se desprendesse e caísse sobre um transeunte, causando danos ao mesmo. » Negligência, ou seja, deixar de adotar os procedimentos ade- quados. No caso de nossa padaria, seria a negligência de não secar o chão ou colocar placas de chão úmido, como já discu- tido anteriormente. UNIDADE 3 45GERENCIAMENTO DE RISCOS » Imprudência, ou seja, deixar de agir prudentemente, como, por exemplo, colocar mercadorias na prateleira com altura excessi- va na nossa padaria, e quando o cliente for retirar uma merca- doria que ele deseja comprar, o lote vir abaixo e causar danos ao cliente. ■ Outro ponto importantíssimo desta definição é que se deve “cau- sar dano a outrem”. Portanto, se não houver dano a outrem, não existe ato ilícito, não existe necessidade de reparação, e, em últi- ma análise, não existe responsabilidade civil da organização. Em outras palavras, o “dano” é o elemento caracterizador mais impor- tante da responsabilidade civil. A organização pode ter “ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência”, mas se não ocor- rer “dano”, não se fala em responsabilidade civil. ■ O dano pode ser “exclusivamente moral”, ou seja, não é neces- sário que se tenha a ocorrência concomitante de dano material ou dano pessoal. Esta situação remete ao “assédio moral”, onde a “ação de assédio moral, viola o direito do funcionário, causando danos a ele” e caracterizando ato ilícito com a consequente obri- gação da reparação do dano, até o limite dos bens da organização. Utilizando o exemplo da padaria, suponhamos que o gerente asse- dia um funcionário da cozinha pedindo mais produção e fazendo comentários desrespeitosos sobre seu trabalho em público. Embo- ra a organização não esteja diretamente envolvida neste evento, ela é responsável civilmente pela conduta dos seus funcionários, conforme veremos no próximo tópico. Danos causados por outras pessoas O Código Civil Brasileiro gera responsabilidade civil para pessoas físicas e pessoas jurídicas, não somente pelos atos por elas cometidos, mas também por atos praticados por outras pessoas conforme artigo abaixo transcrito: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e pre- postos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspe- des, moradores e educandos; V – os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. UNIDADE 3 46GERENCIAMENTO DE RISCOS Portanto, conforme inciso III do artigo 932, a organização é responsável civilmente pelos atos praticados por seus empregados. Como exemplo, na cidade de São Paulo tivemos um caso em que o vigia, durante a discussão com um condômino que era médico, atirou nele e o matou. O vigia respondeu criminalmente e o condomínio respondeu civil- mente pelo dano corporal sofrido pelo médico. Responsabilidade civil extracontratual A responsabilidade civil contratual é aquela que advém de um contrato formal celebrado entre as partes, estabelecendo direitos, obrigações e condições entre as partes contratantes. A gestão de riscos acidentais trabalha no campo da responsabilidade civil extracontratual, ou seja, é uma responsabilidade civil que surge em função de acidentes ou não conformidades dos produtos e serviços. Responsabilidade civil subjetiva Quando se analisa os riscos que causam perdas, é necessário que a ges- tão de riscos acidentais saiba em qual campo da responsabilidade civil se está atuando, se na responsabilidade civil subjetiva ou na responsabilida- de civil objetiva. Na responsabilidade civil subjetiva, para sua caracterização, são necessá- rios quatro elementos: 1. Ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência. 2. Culpa, que se caracteriza em causar o dano de maneira não inten- cional. Observações Importantes: 2.1. Se não se caracterizar a culpa, não existirá responsabilidade civil. 2.2. Caso o dano seja causado de maneira intencional, ou seja, com dolo, a responsabilidade, deixa de ser civil para ser tra- tado no campo da responsabilidade criminal. 2.3. Em situações de extrema negligência, o fato passa a ser tra- tado como culpa grave (embora não tenha sido intencional, o ato foi extremamente negligente). A culpa grave tem trata- mento similar ao dolo (ato intencional). Existem exemplos na mídia em que a atuação da diretoria da organização foi tão negligente que mesmo acidentes catastróficos, embora não tenham sidos causados de maneira intencional, passaram a ser tratados na esfera criminal. 3. Nexo causal, ou seja, existe relação entre a ação ou omissão cul- posa e o dano produzido. UNIDADE 3 47GERENCIAMENTO DE RISCOS 4. Dano, que é o principal elemento caracterizador da responsabili- dade civil. Os exemplos que foram apresentados até agora são exemplos de respon- sabilidade civil subjetiva, que se aplica à maioria dos casos. Responsabilidade civil objetiva A responsabilidade civil objetiva é prevista no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil Brasileiro, e diz que “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano impli- car, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. Isso implica que, se previsto em lei ou jurisprudência, para caracterização da responsabilidade civil, prescinde-se do elemento culpa, ou seja, para caracterização da responsabilidade civil objetiva é necessário: ■ Ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência; ■ Nexo causal, ou seja, existe relação entre a ação ou omissão cul- posa e o dano produzido; ■ Dano, que é o principal elemento caracterizador da responsabili- dade civil. Como exemplos de responsabilidade civil objetiva, temos: Prevista em Lei O Código de Defesa do Consumidor, que no seu artigo 12 diz que “O fabricante, o produtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmu- las, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus pro- dutos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Prevista em Jurisprudência Entendimento do Supremo Tribunal de Justiça que reconhece a Responsabilidade Civil Objetiva dos Hospitais, de acordo com o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. — Consequências Financeiras das Perdas As consequências financeiras das perdas do bloco responsabilidade civil podem ser agrupadas em reparação dos danos e custos judiciais. UNIDADE 3 48GERENCIAMENTO DE RISCOS Reparação de Danos Os danos podem ser agrupados nos seguintes tipos: ■ Danos materiais (relacionados a bens materiais de terceiros que sofreram danos). Exemplo: roubo do carro que estava sob a guarda da padaria no estacionamento. ■ Danos imateriais (relacionados à perda de receita, lucros cessan- tes, etc.). Exemplo: o cliente que sofreu ferimentos em função da queda das mercadorias da prateleira é motorista de táxi e deixou de trabalhar enquanto se recuperava. ■ Danos pessoais (relacionados ao corpo e estética). Exemplo: a cliente que escorregou no chão úmido teve despesas hospitalares e ficou com uma cicatriz no rosto. ■ Danos morais (relacionados a dor, sofrimento, angústia). Exemplo: a cliente que sofreu revista indevida após soar o alarme de merca- doria não paga, sofreu constrangimento e sentiu-se envergonhada na situação vivida perante