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CAPÍTULO 3
IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos 
de aprendizagem:
 3 Analisar os conhecimentos linguísticos e culturais dos sujeitos Surdos.
 3 Conhecer os fundamentos da língua de sinais e suas resistências no 
modernismo e a transformação do Sujeito Surdo no pós-modernismo.
46
 Deficiência Auditiva e Libras
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
47
 Capítulo 3 
ContextualIzação
O capítulo três apresentará várias unidades sobre o estudo da língua 
de sinais e suas implicações linguísticas: configurações de mãos, pontos 
de locações, movimentos, orientações e expressões faciais. Também estão 
inseridas as estruturas gramaticais, como: morfologia, sintaxe, semântica e 
pragmática (ordem básica e outras ordenações possíveis).
Igualmente, este capítulo contextualizará os estudos da transformação do 
sujeito Surdo no pós-modernismo, o que implicará vários aspectos: identidade 
e cultura Surda.
língua de sInaIs BrasIleIra e suas 
IMPlICações lInguístICas 
De acordo com Quadros e Karnopp (2004), no seu livro Língua de Sinais 
Brasileira explicam que a fonologia ocorrem pelas configurações de mãos, 
pontos de locações, movimentos, orientações de mãos e expressões faciais, 
como extralinguísticos.
Fonologicamente, a Configuração de Mãos é composta de 64 elementos 
fonéticos da língua de sinais que se estruturam de acordo com os movimentos 
dos dedos. Por exemplo, a Configuração de Mão - CM 60, que pode ser assim 
visualizada, pode não dar um significado, mas em outros signos imagéticos, 
pode dar um significado, dependendo do contexto cultural, assim, 
como: arranhar com os dedos, ou na ação de pegar algum signo. Se 
tiver um signo imagético isolado não tem significado visual. 
CM 60 – Configuração de Mão (é uma das unidades mínimas 
da fonética de Língua de Sinais Brasileira) e seu respectivo número 
(1 a 61) designam que cada configuração de mão tem seu número 
especificado. Veja a tabela da CM pelo site: www.lsbvideo.com.br
Signos Imagéticos – são os signos produzidos por diferentes 
significados de imagem.
Fonologicamente, a 
Configuração de Mãos 
é composta de 64 
elementos fonéticos da 
língua de sinais que se 
estruturam de acordo 
com os movimentos 
dos dedos.
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 Deficiência Auditiva e Libras
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Para numerar a Configuração de Mãos a LSBVídeo disponibiliza 
vídeos e pôster sobre a categoria fonética da Língua de Sinais. Veja 
Configuração de Mãos pelo site: www.lsbvideo.com.br
Também se podem ver outros sistemas de Configuração de 
Mãos no site: http://www.acessobrasil.org.br/libras/
A configuração de mão não se constrói sozinha. Precisa de um recurso que 
possa adicionar a expressão como ponto de partida para descrever a imagem: 
olhar do narrador do sujeito Surdo. E depois, dependendo do movimento, o 
“olhar” se desdobra, seguindo com o movimento de uma ou das duas mãos. 
O movimento de qualquer sinal já especifica, do início ao final, e o movimento 
descreve e dá o valor da forma ou do movimento que andam juntos. 
Quando se juntam as duas mãos e em movimento no espaço-visual pode 
dar um significado visual e esse signo imagético se transforma em um sinal 
visual, como por exemplo: 
BOLA
Na Locação, o significado do sinal visual se situa sempre em uma posição 
visual, que é na frente do tórax ou da posição corporal para marcar o espaço 
onde é inserido, por exemplo: 
 
 
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
Mas a Locação tem seu “signo imagético” como figuram as duas mãos 
com as CMs 60 para designar “BOLA”. Os dedos das mãos precisam de uma 
posição em que convergem os traços dos dedos em traços curvos para figurar a 
“forma da bola”. A análise quiremática, para nós, ou Fonética, para a Linguística 
Formal, na delimitação específica da língua de sinais, “descreve a unidade 
mínima dos sinais e suas propriedades físicas, articulatórias e perceptivas de 
configuração e orientação de mão, movimento, locação, expressão corporal e 
facial.” (QUADROS, 2004, apud CAMPELLO, p.108, 2008). Quadros (2004) 
deixa claro que o quirema não pode ser desvinculado da Fonologia, pois os 
dois estão sempre ligados uns aos outros.
A Locação determina a posição das partes do corpo, dependendo de 
como a força da atração exercida pelo signo ou pelo observador cai ou sobe, 
como mostra o exemplo: Homem descendo pelo paraquedas.
O Movimento das “percepções visuais” tem suas próprias características 
e é influenciado pelo movimento da profundidade espacial de cima para baixo 
ou de direção. Os signos visuais se designam como apresentam estas figuras 
e aquilo tudo se reflete na imagem do que se vê, por exemplo: a profundidade 
do mar, no fundo do mar, etc... 
 
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 Deficiência Auditiva e Libras
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Foguete subindo
Igualmente ao que foi citado anteriormente, no entanto não podemos 
omitir que, quando o signo está em direção para cima simulando o vôo do 
foguete subindo, a chama e lança do foguete para cima e quando solta 
fogo faz um barulho estrondoso. O mundo do som é impenetrável para a 
comunidade Surda, mas o barulho e a força da impulsão são percebidos por 
vibração imaginária e esta passa a impressão para o movimento dos lábios e 
das bochechas, simulando o barulho do som.
A autora Campello (2008) explana que o movimento das mãos se desdobra 
em várias formas, assim como: a) de um movimento e uma orientação da mão 
(ou das duas mãos) que significa o desdobramento dessa forma no espaço. 
Quando se juntam as duas mãos e em movimento no espaço-visual pode 
dar um significado visual e este signo imagético se transforma em um sinal 
visual, como por exemplo: BOLA; b) o movimento das mãos que impulsiona 
o movimento e ou desdobramento do mesmo, dando sentido espacial, não 
temporal - da forma no espaço (diminuindo-se, aumentando-se, estrangulando-
se, terminando-se em ponto, sinuoso, plano, circular, vertical, horizontal e 
posicionamento dessa dimensão, etc., que pode ser discreta ou aberta; c) de 
um lugar (ou locação) que pode ser:
1) um lugar do corpo do locutor;
2) o espaço neutro situado na frente dele;
3) um sinal do léxico padrão previamente emitido;
4) a mão dominante que figura uma forma básica a partir da qual a forma 
descrita pela mão passiva se estende (e este é o caso mais frequente), 
como mostra o exemplo: 
 
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
AGUENTAR
 Na Orientação no espaço, como na figura da BOLA, as palmas das mãos 
estão mais para dentro, para figurar a forma da bola junto com os dedos para 
dentro. Com os dedos em curva dão o sentido de “segurar” alguma coisa, 
assim como se segura a “bola”.
As expressões faciais, como extralinguísticas, estão sempre juntas com 
os parâmetros da língua de sinais brasileira. O papel do olhar, movimentos 
dos lábios, estufar das bochechas, boca em forma de “canudo”, movimentos 
das sobrancelhas, movimentos oculares, movimentos da testa, movimentos 
da cabeça, movimentos da face direita ou da esquerda puxando os lábios 
para cima ou para baixo e diversas formas da expressão facial são muito 
importantes: neles se mostra o “termômetro” em cada medida dos sinais 
ou dos gestos, para dar sentido ou dar o valor de tamanho ou de forma. As 
representações, associadas com as expressões faciais do narrador ou sujeito 
Surdo, completam e acabam qualificando o signo visual em sinal.
Para aprofundar o conhecimento linguístico da língua de sinais 
brasileira, leia o livro: QUADROS, Ronice; KARNOPP, Lodenir. 
Língua Brasileira de Sinais: Estudos Lingüísticos. Porto Alegre: 
Artmed, 2004.
Para a transcrição da Língua de SinaisBrasileira para a Língua Portuguesa 
na modalidade escrita, existem três convenções do Sistema de Notação para 
a Transcrição de Dados com base em Brito (1995), Felipe (1998) e Quadros 
(2004) nos exemplos mais comuns, a seguir:
a) sinal da LSB – item lexical da Língua Portuguesa em letras maiúsculas. 
Exemplos: NAMORAR, BONECA, POSTE;
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 Deficiência Auditiva e Libras
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b) sinal traduzido por duas ou mais palavras separadas – as duas palavras 
unidas por hífen. Exemplos: GOSTAR-NÃO, SABER-NÃO;
c) c) alfabeto manual — letra por letra, separadas por hífen. Exemplos: A-U-
L-A, U-F-S-C;
d) sinal soletrado — datilologia do sinal em itálico. Exemplos: A-C-H-O, N-U-
N-C-A;
e) símbolo @ para ausência de desinência. Exemplos: EL@, CAS@;
f) os aspectos da Língua de Sinais Brasileira, tais como: expressão facial 
e corporal que são realizadas simultaneamente a um sinal; os tipos de 
frases (interrogativa afirmativa, negativa, topicalização, direção do olhar, 
construção com foco, escopo da negação, intensidade do sinal e as orações 
relativas) e, ainda, os advérbios de modo e verbos classificadores têm suas 
notações próprias.
Já na área computacional de transcrição de dados visuais, destaca-se a 
ferramenta ELAN (Eudico Language Annotation), que permite segmentar as 
imagens para incluir anotações pertinentes à transcrição de dados que utilizam 
imagens. (QUADROS & PIZZIO, 2007).
Acesse o site do ELAN e conheça a nova ferramenta de 
transcrição de Língua de Sinais Brasileira para a Língua Portuguesa: 
http://www.lat-mpi.eu/tools/elan/
Esses foram recursos criados com o objetivo de adequar, visualmente, 
a transcrição, suavizando as variedades das sinalizações já realizadas na 
transcrição da LSB.
Existem outras convenções para indicar pausa e outros sons 
convencionados. Costa-Leite (2004) sugere, também, o uso da convenção de 
Marcuschi (2000) apud Costa-Leite, (2004), na transcrição de duas línguas.
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
Atividades de Estudos: 
Para identificar os sinais e fazer as atividades, acesse o dicionário 
de LIBRAS no site: http://www.acessobrasil.org.br/libras/
Clique em Busca e depois em Acepção. Digite a frase no espaço 
de busca.
1) Identifique a tradução para o português do sinal com a 
configuração de mão apresentada e a pista dada:
a) Ser humano do sexo feminino.
b) Estado do Nordeste, famoso por sua rica cultura, 
refletida na imagem das baianas, no culto 
religioso, nos pratos típicos e nas artes.
c) Aparelho usado como meio de transporte aéreo 
para passageiros ou cargas. É dotado de motores 
que possibilitam seu vôo.
d) De aspecto desagradável, pouco atraente ao olhar.
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 Deficiência Auditiva e Libras
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e) Seguir as ordens de outra pessoa; cumprir o que é 
 determinado.
f) Conhecer as letras do alfabeto e associá-las, 
mentalmente, para formar e compreender palavras, 
frases e textos.
2) Forme um grupo de 3 alunos. Grave em CD ou DVD listando os 
20 sinais utilizados na língua de sinais brasileira, baseando-se:
a) Nos Movimentos
b) Na Orientação
c) Na marcação não-manual
 
Após a gravação, discuta com os seus colegas ou com o(a) tutor(a) 
de sua turma.
Morfologicamente, dentro da especificidade da estrutura icônica, a 
transferência de tamanho serve para representar o signo visual do Urso 
Grande em sinais, e se utiliza da descrição imagética para representá-la, como 
mostra a forma do corpo e do tamanho do urso e em seguida, a descrição 
corporal e da grandeza do urso, como se vê nas fotos que seguem.
Estrutura Icônica - Cada língua de sinais representa seus 
referentes, ainda que de forma icônica, convencionalmente porque 
cada uma vê os objetos, seres e eventos representados em seus 
sinais sob uma determinada ótica ou perspectiva. Por exemplo, o 
sinal ÁRVORE em LIBRAS representa o tronco da árvore através 
do antebraço e os galhos e as folhas através da mão aberta e do 
movimento interno dos seus dedos.
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
 
Isso reflete a transferência da percepção visual, cujos detalhes são 
transferidos mentalmente para o signo visual e, consequentemente, repassam 
para a imagem visual que acaba transmitindo o tamanho por meio de sinais.
Também há um tipo de transferência icônica metafórica, como poderemos 
citar os exemplos: sabemos que a cor amarela semanticamente é diferente 
da cor amarela como objeto de pintura, e corresponde à forma que se 
assemelha com a cor do sol para demonstrar a visualidade mais chocante. A 
cor é um signo abstrato, mas sinalizamos a cor amarela junto com a metáfora 
ou com expressões chamativas que possam denominar a cor, como ouro, 
pessoa doente (de malária), as cores das flores (margaridas ou girassóis). 
Culturalmente, a cor preta associa-se com a cor da morte, do terror, da 
infelicidade, do prenúncio de dias ruins, etc. A cor branca denuncia a inocência, 
a brancura da neve, a pureza, etc. Todos os signos que sinalizamos denotam 
a expressividade da suavidade ou do grotesco, dependendo da manifestação 
das cores.
Esses sinais podem ser incorporados como adjetivos, aumentativos, 
diminutivos, advérbios, e toda a gramática, como outras línguas, mas com 
suas próprias especificidades e particularidades.
A sintaxe na língua de sinais brasileira é a área da gramática que trata da 
estrutura da sentença. E analisar alguns aspectos da língua de sinais brasileira 
requer “enxergar” ou “ler” esse sistema que é viso-espacial e não oral-auditivo. 
Os mecanismos espaciais que são importantes para estruturar a sintaxe da 
língua de sinais são os seguintes:
a) Local particular – são os espaços para definir a localização espacial 
acompanhada com o referente. Quando sinalizam determinados sinais 
sempre acompanham com a direção do olhar, dependendo da direção (lado 
esquerdo, lado direito, de cima, de baixo, etc).
b) Direcionar a cabeça, os olhos e o corpo – é um dos mecanismos espaciais 
para definir onde os movimentos da cabeça, dos olhos ou do corpo estão 
e acompanham juntamente com a “apontação” ou de um sinal para 
determinado referente ou substantivo ou ponto de locação.
Cor é um signo 
abstrato, mas 
sinalizamos a cor 
amarela junto com 
a metáfora ou 
com expressões 
chamativas que 
possam denominar 
a cor, como ouro, 
pessoa doente (de 
malária), as cores das 
flores (margaridas ou 
girassóis).
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 Deficiência Auditiva e Libras
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c) Apontação ostensiva – é uma apontação para associar a locação com o 
determinado substantivo ou ponto de locação.
d) Usar o pronome – com a apontação para determinar a referência no ponto 
de locação.
e) Usar um classificador – é um mecanismo muito importante, e utiliza-se como 
“transferência imagética”, cujos detalhes são transferidos mentalmente para 
o signo visual e, consequentemente, repassa para a imagem visual que 
acaba transmitindo o tamanho, forma, espaço, e dá o “toque visual” por 
meio de sinais. Também se usa para representar o referente em descrições 
imagéticas.
f) Usar um verbo direcional – os verbos são recursos muito úteis para 
direcionar do ponto da partida ao ponto de chegada para determinados 
sinais.
g) Estabelecer o referente – é um dos instrumentos para definir o referente 
mesmo visível ou não visível em determinados locações espaciais.
h) Marcação não-manual – é a expressão facial e gramatical que complementa 
o discurso por meio de movimentos da cabeça e movimentos do corpo 
(LIDDEL, 1980, apud QUADROS, 2004).
Ponto de Locação – é uma das unidades mínimas da 
fonética de Língua de Sinais Brasileira. Cada sinal tem seus locais 
especificados para dar significado, por exemplo: se você apontar 
com a ponta do dedo indicador no peito significa EU em língua de 
sinais brasileira.
Como ocorre com a gramática em todas as línguas, a língua de sinais 
brasileirapossui ordem básica da frase que é a SVO (Sujeito, Verbo e 
Objeto). Segundo as pesquisas da língua de sinais americana, na língua de 
sinais brasileira, as regras gramaticais da língua de sinais admitem também 
a flexibilidade na sentença. Pode ser também OSV e SOV quando há 
concordância e as marcas não-manuais. Podemos observar os exemplos:
SVO - EL@ VENDER UVA
OSV – UVA EL@ VENDER
Como ocorre com a 
gramática em todas 
as línguas, a língua de 
sinais brasileira possui 
ordem básica da frase 
que é a SVO (Sujeito, 
Verbo e Objeto). 
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
SOV – EL@ UVA VENDER
O advérbio varia, assim como mostra a sentença em sinais: AMANHÃ 
J-O-Ã-O VENDER UVA ou J-O-Ã-O VENDER UVA AMANHÃ.
Da topicalização muda a ordem da frase de acordo com a prosódia, ou 
das sentenças interrogativas ou da afirmativa ou de negação, assim como:
Afirmativa: MAÇA, J-O-Ã-O GOSTA
Negativa: MAÇA, J-O-Ã-O NÃO GOSTA
___?___
Interrogativa: EST@ MAÇA, ONDE J-O-Ã-O PEGAR
 
Verbo sem concordância pode derivar estrutura da SOV, como mostram 
os exemplos: 
EU GANHAR LOTERIA GANHAR.
Elevação do objeto no verbo com concordância, como mostra o exemplo:
 J-O-Ã-O M-A-R-I-A DAR PÃO NÃO
Pode ocorrer omissão do sujeito como o objeto, ex: DAR 
A ordem VOS pode ocorrer em contexto de foco constrastivo, ex: 
Q-U-E-M DAR PERFUME J-O-Ã-O M-A-R-I-A
 
 A estrutura Semântica e Pragmática na língua de sinais brasileira é 
distinta da língua falada ou da escrita, como no caso da língua portuguesa. Na 
língua portuguesa, a estrutura semântica e pragmática se aborda em relação 
com os sentidos das palavras e das frases, por exemplo: “Me lambuzo todo 
chupando manga” e “Não posso sair com essa manga rasgada”. Os sinais, na 
sua maioria, não são correspondidos com as palavras da língua portuguesa, 
por exemplo:
a) POR FAVOR na língua de sinais brasileira pode corresponder a AMIGO 
(com marcação não manual);
b) ÔNIBUS IGUAL COBRA – se refere a ônibus que faz muitos trajetos e leva 
muito tempo para chegar;
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 Deficiência Auditiva e Libras
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c) OLHO CARO – se refere a pessoa astuta e esperta;
d) TOCAR-VIOLINO – se refere a “monotonia” ou “ser monótono”;
e) CONHECER – se refere a JÁ TER-ESTADO (conhece em algum lugar);
f) VIVER – se refere a pessoa que está em determinado lugar.
Como existem poucas pesquisas na área linguística sobre a estrutura 
semântica e pragmática da língua de sinais brasileira, contamos com os 
futuros professores formados do Curso de Letras Libras na participação e no 
desenvolvimento de pesquisa. 
Atividade de Estudos: 
Para identificar os sinais e fazer as atividades, acesse o dicionário 
de LIBRAS no site:http://www.acessobrasil.org.br/libras/
1) Forme um grupo de estudos. Grave em CD ou DVD listando 
as 10 frases sinalizadas. Utilize a língua de sinais brasileira, 
baseando-se na:
a) Morfologia
b) Sintaxe
Após a gravação, discuta com os seus colegas ou com o(a) tutor(a) 
de sua turma.
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 Capítulo 3 
Quero deixar as colocações das autoras Quadros e Karnopp (2004, p.7-8) 
a respeito da língua falada e da língua de sinais brasileira, que é considerada 
como: “[...] um sistema de signos compartilhados por uma comunidade 
linguística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A 
língua é a expressão linguística que é tecida em meio a trocas sociais, culturais 
e políticas”.
A língua de sinais brasileira e sua modalidade gesto-visual como língua 
sinalizada são utilizadas como definição da comunidade Surda e reforçam 
o sentido histórico e cultural constituído pelos sujeitos integrantes dessa 
comunidade. As pessoas não-surdas usam a audição como funcionamento 
auditivo pela habilidade nos atos do ouvir e do falar. Acontece o mesmo com 
as pessoas Surdas que usam as mãos e o corpo como funcionamento visual 
pela habilidade nos atos do ver e do sinalizar. Portanto, a comunidade Surda 
tem muito a oferecer à língua natural, materna e de comunicação em várias 
interfaces na área do conhecimento. 
A língua de sinais brasileira pode ser inserida em várias interfaces, 
como na área da educação, linguística, psicologia, medicina, biologia, física, 
matemática, tradução e interpretação, cinema e várias outras áreas da ciência 
humana, social, política e outras, para atingir o único objetivo: o uso e difusão 
da língua de sinais brasileira e da tradução e interpretação de língua de 
sinais brasileira em qualquer área de atuação. A proposta é dar contribuição 
para fortalecer a relação de diversos campos de atuação e ampliar o campo de 
conhecimentos para serem compartilhados. A estratégia de utilização e do uso 
contínuo de movimentos de cada sistema de informações pode ser utilizada 
como material: mídia, ou pela tecnologia: virtual. 
Quiremática: é um sistema no qual está inserido o Segmento 
mínimo sinalizado e que corresponde ao fonema das línguas 
faladas.
Signo: é a união de um conceito com uma imagem acústica, 
que não é o som material, físico, mas a impressão psíquica dos 
sons, perceptível quando pensamos numa palavra, mas não a 
falamos. 
Signo visual: é a união de um conceito com imagem visual 
com a impressão psíquica da imagem, perceptível quando 
pensamos num significado.
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 Deficiência Auditiva e Libras
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Percepção Visual: é uma de várias formas de percepção 
associadas à visão. Consiste na habilidade de detectar as 
descrições e interpretar (ver) as consequências do estímulo da 
imagem, do ponto de vista lógico e cognitivo.
Transcrição: é um sistema de transcrição de dados para 
analisar línguas de sinais.
Descrição imagética: os detalhes são transferidos 
mentalmente para o signo visual e consequentemente repassam 
para a imagem visual que acaba transmitindo o tamanho e o grau 
por meio de sinais.
Pós-ModernIsMo
Já observamos que a teoria moderna na educação é condicionada e 
definida como um sistema em que as pessoas, objetos e objetivos sejam 
permeados pelo princípio universal do sujeito. De acordo com a definição e 
seu entendimento sobre a teoria moderna, Silva (1999, p. 111) argumenta que: 
Seu objetivo consiste em transmitir o conhecimento 
científico, em formar um ser humano supostamente 
racional e autônomo e em moldar o cidadão e a cidadã da 
moderna democracia representativa. É através deste sujeito 
racional, autônomo e democrático que se pode chegar ao 
ideal moderno de uma sociedade racional, progressista e 
democrática. 
 Os princípios do modernismo consistem no aperfeiçoamento e 
condicionamento ao modelo europeu: homem branco, europeu, inteligente, 
perfeito, culto, não deixando transparecer o sujeito como “diferente”. 
Historicamente, fomos moldados naquilo que chamamos 
de educação através do iluminismo. Repercutiu também 
na educação de Surdos, cujo modelo é assemelhado às 
pessoas não-surdas como modelo representativo, perfeito 
e pedagógico para os sujeitos Surdos, fazendo desaparecer 
os traços da deficiência e da “diferença”. Skliar (1998, p.15) 
afirma que:
[...] um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdoestá 
obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, 
e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte; 
percepções que legitimam as práticas terapêuticas habituais. 
61
IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
61
 Capítulo 3 
Portanto, a educação dos Surdos está mais atrelada à visão da teoria 
moderna por causa da história e da herança cultural da supremacia branca e 
não-surda. Assim, aconteceu o mesmo com os negros africanos e os índios 
brasileiros que foram subjugados pela supremacia branca, na adoção da 
língua portuguesa, cultura e costumes.
Pesquise na Biblioteca de sua cidade ou nas Faculdades sobre 
a seguinte questão: como os livros são construídos e elaborados 
pela supremacia branca? Anote suas impressões e comente com 
seus colegas.
Os exercícios da vida cotidiana, o uso da língua de sinais, o aprendizado 
visual, os conteúdos escolares sobre os feitios e atos heróicos dos sujeitos 
Surdos, ensino didático, currículos específicos, espaços visuais na sala de 
aula, instruções, pedagogia dos Surdos, conhecimentos sobre a Política Surda, 
posição de poder, Cultura Surda, Arte Surda, percepções visuais e outros 
são subjugados e neutralizados pela supremacia branca. Até os discursos 
das representações dos Surdos são baseados em termos não-surdos. Perlin 
(2008, p.10) argumenta sobre as transformações do sujeito Surdo como 
modelo automático e imparcial:
No espaço e no tempo da modernidade, instalaram-se 
comodamente as idéias da imagem do mundo perfeito. 
Elas remetem aquilo no surdo que somente nomeado 
deixa automaticamente de ser e se transforma nos corpos 
e nas identidades, nas configurações do sujeito. Estas 
transformações são derivadas das profundas e dramáticas 
obrigações de narrar-se ouvinte seja na família, no trabalho, 
na religião, na sexualidade, na ciência e no conhecimento, 
nas gerações e idades do corpo, com a utilização de 
subjetivação de acordo com o modelo.
Os livros didáticos estão sempre dirigidos e escritos repetidamente com 
os mesmos discursos da prática e instrumentos clínicos terapêuticos, no 
intuito de corrigir a audição e a fala dos sujeitos Surdos. Incute a forma de 
pressionar a sociedade no uso da obrigação de levar os sujeitos Surdos a 
falar e a escutar. De usar os instrumentos que forçam os sujeitos Surdos a 
falarem como os não-surdos, como na prática de dicção, leitura labial, uso 
de aparelhos corretivos, e até do implante coclear. A educação especial é 
outro exemplo no qual a teoria moderna ou tradicional se encaixa. Os sujeitos 
Surdos são como aqueles sujeitos deficientes (auditivos, visuais, mentais, 
entre outros). A educação é mais voltada para as práticas normalizadoras que 
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 Deficiência Auditiva e Libras
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constituem e sustentam formas de readaptação, cura e medicalização. E até 
usam as ferramentas de repetições nas séries seguidas nas escolas inclusivas 
e regulares, pela incapacidade de aprender a linguagem e a língua portuguesa.
Os discursos da representação mostram que os sujeitos Surdos são 
portadores de perda de comunicação, um protótipo de autoexclusão, de 
solidão, de silêncio, obscuridade e isolamento (PERLIN, 2008). E a educação 
especial torna o instrumento de medicalização de forma obsessiva: fazer os 
sujeitos Surdos falarem, proibir a língua de sinais, inferiorizar a capacidade 
laborativa e banalizar os gestos naturais da comunidade Surda.
Acesse o site do Ministério de Educação: www.mec.gov.br e 
procure os locais das escolas especiais de/para Surdos para fazer 
uma visita. Após a visita, faça relatório sobre a sua impressão e 
envie à professora.
 A comunidade Surda, com os movimentos sociais e educacionais, veio 
quebrar os mitos da teoria moderna, criando mecanismos currículares que 
possam ajudar os sujeitos Surdos a terem um status linguístico. A implantação 
dos Estudos Surdos e Estudos Culturais são os pré-requisitos para juntar-se 
à cultura hegemônica da comunidade Surda, desnudar a representação não-
surda, construir a própria identidade, desracializar-se da cultura não-surda, 
tornando o sujeito Surdo como “diferente” e capacitado na visão do pós-
modernismo. Hall (1997, p. 108) esclarece a importância dos Estudos Culturais 
e define como:
Os Estudos Culturais vão surgir em meio à movimentação de certos grupos 
sociais que buscam se apropriar de instrumentos, de ferramentas conceituais, 
de saberes que emergem de suas leituras do mundo, repudiando aqueles que 
se interpõem ao longo dos séculos aos anseios por uma cultura pautada por 
oportunidades democráticas, assentadas na educação de livre acesso.
 Na visão do pós-modernismo, os sujeitos Surdos são construídos com 
as próprias narrativas de modo subjetivo e objetivo, como protagonistas da 
sua própria história.
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dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
Implante coclear: é um dispositivo eletrônico, também 
conhecido como ouvido biônico, que estimula eletricamente as 
fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal 
elétrico para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo córtex 
cerebral.
Representação: é baseado em que o ouvinte é o normal e o 
surdo, o deficiente.
Teoria moderna: denominada também como teoria tradicional. 
Seu objetivo consiste em transmitir o conhecimento cientifico, 
em formar um ser humano supostamente racional e autônomo 
e em moldar o cidadão e a cidadã na moderna democracia 
representativa.
Pós-modernismo: significa romper com as idéias iluministas 
e apresentar um discurso que elucida a identidade cultural. 
IdentIdades e Culturas surdas
A cultura Surda já vem constituída pela Identidade Surda e vice-versa. As 
duas andam juntas e é impossível separar uma da outra. 
O grupo de minorias, em seus variados tipos, tais como minorias 
étnicas, reclamava o direito de ter cultura própria. Daí surgiu o movimento 
multicultural e se estende também às minorias das pessoas deficientes que 
se negavam a ser consideradas como pessoas colonizadas. Na ocasião, 
os Surdos pegaram “carona” nesses movimentos para que a sua língua de 
sinais fosse “ouvida” e “vista”.
Nos capítulos anteriores, vimos que os direitos dos Surdos foram 
reconhecidos com a criação de institutos, escolas de surdos, e o uso da língua 
de sinais na educação de Surdos. Tais sujeitos estão reivindicando que não 
sejam tratados como “deficientes” e sim como “diferentes” (SKLIAR, 1999) e 
que a sua cultura seja respeitada.
Em referência ao conceito “comunidade”, em comparação com a 
terminologia “apartheid” ou “gueto”, podemos citar a autora Campello (2006, p. 2):
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 Deficiência Auditiva e Libras
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Nas questões filosóficas, científicas, religiosas, antropológicas, 
sociológicas, educacionais e políticas, nós, os Surdos, em 
nossos espaços, denominados de “povo” ou “nação surda” 
(não é nova terminologia e sim resgatando esta existência da 
terminologia do passado), temos os nossos direitos, que nos 
foram negados, e não somos mais usados como cobaias para 
os serviços religiosos, científicos, tecnológicos, educacionais 
e outros dos “outros” e sim queremos ser aceitos, de modo 
objetivo e subjetivo, sob os olhares dos outros como seres 
capazes e atuantes dentro da sociedade. Uma “apartheid” 
foi formada para nós sem que pedíssemos. Não nos 
quiseram ouvir, nem ver, e como uma desculpa dissimulada, 
inventaram este “apartheid”.... Uma “apartheid” foi formada 
por eles mesmos (os dominantes) já que nós não pedimos 
nada. A palavra “apartheid” ou gueto foram as melhores, 
já que lá podemos viver em paz e desfrutar do convívio 
social sem nenhum risco para nós. No nosso “gueto”, se é 
assim que querem denominar nossa comunidade, temos um 
espaço nosso, um lugar nosso para construirmos a nossa 
subjetividade, para ficarmos mais fortes e enfrentarmos o 
que houver lá fora.
OsSurdos vivem dentro da comunidade não-surda, e para garantir os seus 
espaços foram constituindo uma comunidade própria, para preservar a língua, 
a cultura e estabelecer um grupo que sejam aceitos na visão multicultural.
Pesquise nos livros ou na internet, a palavra “apartheid” ou 
“gueto” e depois discuta com os seus colegas.
Campello (2006, p.1) faz a seguinte afirmação sobre o espaço destinado à 
comunidade como um todo:
Em nome da antropologia, os Surdos, assim como militantes 
negros, cegos, japoneses, samoanos, índios e indivíduos 
de determinados grupos encontraram seus espaços, 
reconhecendo que a lei divina e civil elaboradas pelo 
“outro” estavam servindo como agentes reguladores ou de 
reparação, pois em vez de servir ou levá-los à “normalidade”, 
desprezava-os, estimulando-os a criar um grupo, uma raça 
ou uma nação autônoma e independente para reivindicar 
seus direitos sociais como uma regra comprometida. 
A cultura Surda começa nos primeiros meses de vida da criança quando 
os “olhos” se movimentam para determinados objetos e, com a ausência da 
audição, as crianças surdas começam a criar um “input visual”, e ao mesmo 
tempo começam a ter o seu “feedback visual” de modo contínuo e natural. Os 
Surdos têm 
“experiências 
visuais” diferentes 
da experiência dos 
não-surdos, portanto a 
“experiência visual” faz 
parte da cultura.
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dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
Surdos têm “experiências visuais” diferentes da experiência dos não-surdos, 
portanto a “experiência visual” faz parte da cultura. A cultura Surda tem uma 
história em que se destacaram aspectos da vida pública, da vida particular, 
da vida artística, da sua educação, da construção como “intelectual” no 
desenvolvimento das suas produções artísticas e literárias, do desenvolvimento 
das suas comunidades e têm regras visuais, costumes, narrativas e tradições.
Na complexidade humana e seus fatores econômicos, sociais e de renda 
corporativos, os Surdos fazem parte da sociedade como um todo. Nos fatores 
educacionais, antropológicos, filosóficos e familiares, o Surdo tem múltiplas 
identidades, conforme texto Identidades Surdas, apresentado por Perlin 
(1998), devido à homogeneidade que os constituiu no passado. Mas dentro 
das múltiplas identidades têm a essência da identidade cultural (como Orgulho 
Surdo e do Ser Surdo) ou não, de acordo com a influência do mundo a que 
pertence e ou a sua escolha de admitir publicamente o pertencimento do 
mundo não-surdo e/ou ao mundo Surdo, ou como pessoas bilíngues, já que 
vivem em dois mundos.
IDENTIDADES SURDAS
As categorias de identidades dos sujeitos Surdos são:
Identidade Surda – são aqueles que são sinalizantes e alguns 
são engajados na política e movimento social. Utilizam muitas 
formas de usar a comunicação visual, como classificadores, 
piadas, fatos heróicos, etc. São sinalizantes por aquisição com os 
Surdos adultos e ou são filhos de pais Surdos. Possuem um espaço 
cultural, têm consciência Surda e usam alternativas comunicativas 
e visuais, como internet, aparelhos visuais e de contato. Uma 
minoria é bilíngüe, especialmente filhos de pais Surdos e de outros, 
por contato desde pequenos;
Identidade surda híbrida – são aqueles que adquiriram surdez, 
por doença ou por patologia progressiva ou de enfermidade, 
depois de ouvirem. São aqueles que usam a roupa da surdez por 
fora, mas, por dentro, pensam como pessoas não-Surdas. Alguns 
sentem dificuldade de captar e de entender os sinais da língua de 
sinais e outros, não. Sabem e conhecem o suficiente da estrutura 
da língua portuguesa e a maioria é oralizada. Usam outras formas 
de comunicação, como comunicação total, oralismo e língua de 
sinais como suporte de comunicação com outros parceiros Surdos 
e de não-Surdos;
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Identidade Surda de transição – são os requisitos dos sujeitos 
Surdos com identidade incompleta ou flutuante que, ao mudarem 
da identidade hegemônica dos não-Surdos para a hegemônica 
dos Surdos, são “os dois corpos colados” ou “emocionalmente 
conflitantes” por causa da transição que exige uma longa 
adaptação. Como escreve o roteirista KAUFMAN (Diretor do filme: 
Adaptação, 2002), a adaptação é “um processo profundo e temos 
de descobrir como sobreviver no mundo”. Os requisitos básicos 
são como: vergonha de se assumir como pessoa Surda, conflito 
emocional, choque cultural e desconfiança de não aceitação e 
desconhecimento da língua de sinais;
Identidade Surda Incompleta – São aqueles que estão 
envolvidos na comunidade não-Surda e acreditam na supremacia 
e no poder ouvintista sobre eles. São os “espelhos” dos outros. 
Sentem-se bem e fazem tudo para desacreditar a ideologia política, 
cultural e de identidade da comunidade Surda;
Identidade Surda Flutuante - São aqueles que não se 
manifestam emocionalmente como sujeitos Surdos. Pensam 
como não-Surdos, têm vergonha de conviver com a comunidade 
Surda. Têm dificuldade de conviver com a comunidade não-Surda 
devido à sua comunicação tão fragmentada. São os mais solitários 
(PERLIN, 1998).
Atividade de Estudos:
1) Entreviste um Surdo e procure classificar o entrevistado conforme 
as identidades surdas de Perlin. Faça seu comentário justificando 
a categoria da Identidade. Discuta com seus colegas.
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 Capítulo 3 
O movimento de reconhecimento da cultura, do pertencimento da 
comunidade Surda como uma “nação Surda”, dos artefatos culturais e 
da identidade dos Surdos, além de afirmar a sua autenticidade como 
sujeitos Surdos com o “s” em letras maiúsculas, conseguiu mobilizar alguns 
responsáveis e autoridades pela educação dos Surdos para a mudança da 
situação educacional surda, com uma nova proposta chamada de Bilinguismo 
e Cultura Surda.
A língua de sinais brasileira não se constitui em um caminho viável para 
aquiescer a outra língua, ou exercer essa respectiva função como um mérito 
especial de consolação para os Surdos. A língua de sinais brasileira tem um 
status linguístico e pertence a um espaço de prerrogativa no conceito de uma 
identidade e na representação de uma cultura. 
As múltiplas identidades e suas categorias, de acordo com Perlin (1998), 
mostram a consonância com a colocação da Strnadová (2000, p. 50) ao dizer 
que “os problemas e as necessidades dos ensurdecidos são diferentes dos 
surdos pré-linguais e, às vezes, até antagônicos”.
Os Surdos com suas identidades múltiplas ao longo dos anos vão 
despertando a sua consciência “adormecida” referente à subjetividade, à 
política e à identidade. Como eles têm a mesma “experiência visual” e não 
podemos destiná-los a um lugar-comum onde os conflitos são maiores, é 
necessário levantar a questão moral, psicológica e de identidade para agrupar 
e torná-los membros atuantes e necessários para a nossa comunidade Surda 
perante a sociedade dos não-surdos.
Multicultural: é um estudo que descreve a existência de 
muitas culturas em uma mesma localidade, cidade ou país, sem 
que uma delas se mostre, mas são separadas culturalmente e 
linguisticamente em casas, igrejas, associações, bares, lojas de 
conveniência, mercados, etc.
Colonizada: é o efeito que o colonizado sofreu por meio das 
ações, controles ou das autoridades do colonizador sobre eles e 
contra a vontade deles. 
Ser Surdo: “Jeito surdo de ser, de perceber, de sentir, de 
vivenciar, de comunicar, de transformar o mundo de modo a torná-lo habitável” (PERLIN, 2008, p.21). Há um movimento que está 
deflagrando na Inglaterra e Estados Unidos como “Deafhood”.
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alguMas ConsIderações
Consideramos que a língua de sinais brasileira tem um status linguístico 
construído pela comunidade Surda. Através das pesquisas, comprovou-se 
que a língua de sinais brasileira, assim como outras línguas orais, possuem 
suas estruturas gramaticais, a compreender os parâmetros que são: fonologia, 
morfologia, sintaxe, pragmática e semântica. 
É preciso não esquecer que a língua de sinais brasileira é o produto 
da própria cultura Surda que de modo subjetivo e objetivo criou a própria 
identidade, devido à “experiência visual” que constituiu todo o seu ser como 
sujeito, apesar de as identidades serem fragmentadas, produzindo várias 
identidades. E, com o efeito do multiculturalismo e as transformações às quais 
os Surdos foram submetidos pelos colonizadores, criaram uma resistência, no 
pós-modernismo, transformando-se em sujeito atuante e participativo dentro 
da sociedade não-surda. 
referênCIas
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Tempo Brasileiro. 1995.
CAMPELLO, Ana Regina. Aspectos da Visualidade da Educação de 
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IdentIdades, Culturas e línguas de sInaIs 
dos sujeItos surdos Pós-ModernIsMo
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 Capítulo 3 
KAUFMAN, C.; KAUFMAN, D. Adaptação. Roteiro. Estados Unidos: 
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QUADROS, Ronice; KARNOPP, Lodenir. Língua Brasileira de Sinais: 
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QUADROS, Ronice; PIZZIO, Aline. Aquisição da língua de sinais brasileira: 
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STRNADOVÁ, Vera. Como é ser Surdo. Petrópolis: Babel Editora. 2000.
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