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Análise Caso Francois - Melanie Klein

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Nome: José Hamilton						Turma: PSICO-VF5
Disciplina: Psicanálise V – Melanie Klein			Profª: Anete
Análise caso François
	Sabe-se que para Klein as relações objetais estão presentes desde o inicio da vida do bebê, no entanto essas relações são de duas ordens: de objetos parciais e de objeto totais. Na relação de objetos parciais, a criança tem um relacionamento com os objetos que é uma relação de consumo, ou seja, cercada pelo sadismo. O objeto tem como objetivo ultimo ser consumido pelo bebê, esse não possui integridade própria, sendo visto como um pedaço do mundo e parte/prolongamento do sujeito que deve consumido ou rejeitado a depender das necessidades do bebê. No entanto, Klein afirma que, nessa relação objetal com o objeto de amor, no caso a mãe, começa a mudar a partir do desmame (antes, durante e depois dele) quando a mãe passa a ser vislumbrada como um objeto total, ou seja, como integro desejante e, sobretudo, separado do sujeito, não sendo considerado mais um prolongamento.
	Essa mudança causa grandes alterações, inicialmente esse objeto não possui mais objetivo de ser consumido e devorado e o sujeito passa a tentar preservar o objeto e temer que ele suma, agora que se sabe, devido ao desmame, que ele pode sumir. Isso possibilita a identificação do ego com seu objeto. O ego é colocado em uma posição realmente diferente, o objeto que era cercado pelo sadismo passa a ser preservado o que culmina na identificação com esse. Isso transforma as formas de angustia pelas quais o bebê passa, na primeira posição as angustias do bebê são angustias sádicas, ou seja, um medo de que os mesmos ataques projetados contra o objeto sejam a ele direcionados pelas partes atacadas, aqui a preocupação gira em torno da preservação do próprio ego, um “medo de aniquilamento.” Contudo, com a mudança da posição a angustia também muda, o desconforto agora parte da culpa, veja bem, esse objeto que possuía um sadismo projetado tornou-se agora um objeto inteiro que pode ser perdido, assim o sentimento de culpa devido a todas as agressões anteriormente realizadas ou projetadas é iminente.[footnoteRef:1] Além disso, acompanhando isso o medo de que o objeto desapareça compõe a “angustia culpada.” É importante, pensar que com o surgimento de uma a outra angustia não desaparece. [1: É interessante ressaltar que essa culpa presente nesse estágio e mesmo a “angustia sádica” só são possíveis de existir devido a Klein ter trabalhado em sua teoria com a ideia de um Superego precoce.] 
	Percebe-se então a grande diferença entre esses dois momentos da vida da criança, principalmente por sua divergência de posição de ego que leva a diferentes angustias. Assim, Klein nomeia duas diferentes posições a posição paranoide, que posteriormente será chama de esquizoparanóide devido as manobras esquizoides que Melanie Klein observa nela, e que seria a posição mais arcaica do ego partindo de uma postura sádica com objeto levando-o (o ego) a uma angustia paranoide. Contrária e posterior a ela está a posição depressiva que parte da assunção do objeto como objeto total e que, portanto, pode desaparecer. Levando, assim, a um atitude diferente com o objeto e uma angustia depressiva que temendo pela morte do objeto, decorre de uma culpa por atitudes anteriores.
	Ora, aqui vemos a primeira relação com o caso de François. Com o que nos é relatado parece que o jovem francês realizou a transição de posições e chegou a posição depressiva, percebe-se isso por suas falas que incessantemente tenta proteger a mãe, coloca-la em um lugar que ela não sofra, principalmente quando a frustração é causada por ele e assim ele não corra o risco de perde-la. Fica explicitado nessas falas sua angustia depressiva diante do medo da perda do objeto. 
Pode-se perceber também a defesa maníaca que foi descrita como o desejo de devolver a vida e a integridade ao objeto atacado de forma fantasiosa (no sentido freudiano de fantasia) libertando o sujeito da culpa e do aniquilamento. Nas falas de François não vemos essa defesa sobre os ataques sádicos diretamente, mas na descrição do caso pode-se perceber a presença de indícios indiretos quando a criança tenta reagir de forma irreal sobre problemas que sabe que irá frustrar a mãe caso cometa erros, como diante dos problemas de cálculo.
	Claro que se deve pensar que esse não é o único fator a influenciar François, que há uma grande dualidade estabelecida entre ele e sua mãe a ponto de aparentemente para ele não haver uma distinção entre eles, o que concordaria com a posição paranoica, segundo o que foi dito acima. Veja, Klein considera a elaboração da posição depressiva como o ponto mais importante do desenvolvimento infantil, assim como Freud e Lacan consideram o Édipo. Melanie, considerou que a posição depressiva e o complexo de Édipo estariam juntos como pontos centrais do desenvolvimento infantil. Para os freudianos e lacanianos a situação decorreu da ausência de uma falta gerada entre mãe e filho ocasionada por seu pai (ou quem cumpra a função). O que parece justificável, uma vez que, com a apresentação do relato o pai parece realmente indisponível para realizar sua função paterna de corte e castração, no vocabulário lacaniano. A teoria kleiniana não discorda desse ponto completamente, ressalta a díade mãe-filho e afirma que essa falta é também necessária, mas que pode vir de outro lugar.
	Entramos em contato então com o conceito de luto para a autora. Klein afirma que o processo de luto é um processo fundamental para a constituição do sujeito. Que a infância é cerca de processos de luto para a chegada da vida adulta, uma vez que, na infância há uma constante separação dos pais com o objetivo da chegada a independência adulta e cada uma dessas pequenas separações ocasionam lutos infantis, dados como pequenas perdas dos pais, principalmente da mãe. Entretanto, é preciso vivenciar e elaborar tais processos já que é preciso fazer lutos para chegar ao momento seguinte. É preciso que haja morte e renascimento de características do ego para permitir seu desenvolvimento. E Klein, ao ler Freud dizendo que o complexo de Édipo é o principal complexo de conflito da infância e que possui nele o complexo de castração, vê nesses dois complexos seu conceito de luto claramente, as castrações, de freudianas a lacanianas, geram um luto a ser elaborado. Contudo, em ambos (édipo e morte-luto) são elaboradas “faltas” necessárias para o desenvolvimento, inserção em sociedade, convivência em grupo, vida sexual e afetiva, etc. Além disso, Melanie observava uma associação entre Édipo e a posição depressiva e, assim, a conceituava também dependendo da elaboração de perdas e lutos para sua superação saudável. Todavia, a autora dizia que no caso da posição depressiva o objeto principal de luto era o seio materno – e tudo que ele e o leite representavam – devidos aos pensamentos destrutivos e sádicos da posição anterior.
Assim, vemos que no caso de François o que parece estar ausente é uma boa elaboração de lutos, demonstrando que o garoto não superou sua posição depressiva. Ficou tão preso na dualidade entre ele e sua mãe - o que para Freud seria ausência de castração e, portanto, uma não imposição da falta - que a criança deixou de se desenvolver gerando até mesmo dificuldades escolares. 
Isso se justifica com a descrição do caso e com as afirmações de Klein sobre a não assimilação de lutos ser o fator comum entre pessoas “adoecidas de melancolia ou estados maníaco-depressivos ou ainda as pessoas que não atravessam um luto normal.” Justificando que esse fator na verdade advém do fato de um não estabelecimento de os chamados objetos bons internos. O que leva a não superar a posição depressiva infantil. Esses objetos internos advêm de seus pais e correspondem as expectativas reais da criança, as impressões do mundo externo e, claro, suas fantasias e impulsos inconscientes. Dessa forma, quando no mundo a harmonia prevalece ela tenderá a prevalecer da mesma forma no ego. 
Para François a relação parece confusa, segundo o caso, sua mãe assume o papelde mãe, no entanto uma mãe “colada” no filho. O pai parece não aparecer, devido a ele próprio e, também, devido a relação mãe-filho que tão integrados não permitem a integração do pai no ego do filho. A figura paterna parece estar presente de certo modo no tio engenheiro, que a partir da identificação mãe-filho com o mesmo, deseja-se que François seja engenheiro. Contudo, não se observa na descrição a presença do corte, que retiraria a criança desse “grude” com a mãe e, desse modo, faria a criança viver sua primeira grande perda e enfrentar seu luto. Por conseguinte, não se pode afirmar que François elaborou de forma não adequada o seu luto, na verdade François não elaborou luto pois não teve luto, uma vez que não enfrentou a perda advinda do corte da sua relação com a mãe. Diante disso, François, não superou a posição depressiva e dessa está advindo a angustia depressiva, ou seja, o medo/temor diante da possibilidade da perda que geram defesa e, no caso de François, devido a insistência dessa posição, a defesa maníaca. Que reproduz diversos “problemas”: a dificuldade de assimilação, dificuldade de aprendizado e até mesmo a perda da realidade. Assim fundamenta-se ideia kleiniana de que a perda/morte é necessária para renascimento e desenvolvimento do sujeito de forma saudável.