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Coleção Pró-Lideranças III PROJETO NEA-BC JUVENTUDE, GÊNERO E RAÇA/ETNIA Juventude, Gênero e Etnia/Raça: “avenidas” que se encontram / [organizadoras: Sandra Rangel de Souza Miscali; Fabiana de Arruda Resende Reis ] ; capa e ilustrações Daniel Soares. – Saquarema, RJ: PETROBRAS, Associação NEA-BC, 2018. 40 p. : il.color. (Coleção Pró-lideranças III. Projeto NEA-BC ; v. 6) Bibliografia: p. 37-39 ISBN 9788594065001 1.Mulheres – Condições sociais. 2. Negros-Brasil. 3.Jovens-Aspectos Sociais. I. Miscali, Sandra Rangel de Souza. II. Reis, Fabiana de Arruda Resende. III. Soares, Daniel. IV. Núcleo de Educação Ambiental da Região da Bacia de Campos CDD 305 G326 Realização: Petrobras/Associação NEA-BC Petrobras: Unidade de Operações de Exploração e Produção do Rio de Janeiro Gerência Setorial de Meio Ambiente Órgão Licenciador: IBAMA A realização do Projeto NEA-BC é uma medida de mitigação exigida pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo IBAMA Organizadores: Fabiana de Arruda Resende Reis Sandra Rangel de Souza Miscali Texto: Fabiana de Arruda Resende Reis Marieta Reis Solange Gandur Dacah Texto da contra-capa: Lívia Ribeiro (GGL de Araruama e bolsista do Projeto NEA-BC) Poema: Rafaela Maciel (GGL e bolsista de Armação de Búzios) Revisão Textual: Euline Alves Fabiana de Arruda Resende Reis Marieta Reis Sandra Rangel de Souza Miscali Projeto Gráfico e Diagramação: Daniel Soares Capa e Ilustrações: Daniel Soares Fotolito, Impressão e Acabamento: Grupo Smart Printer As opiniões e informações veiculadas nesta publicação são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando opiniões ou posturas institucionais da Petrobras. SU M ÁR IO APRESENTAÇÃO..................................................................................... 4 GÊNERO, RAÇA/ETNIA E JUVENTUDE: UMA TRIANGULAÇÃO PODEROSA.........................................................5 GÊNERO................................................................................................... 7 Mulheres brasileiras................................................................................10 As mulheres e suas pautas.................................................................... 12 RAÇA/ETNIA ......................................................................................... 20 Da escravidão ao racismo contemporâneo.......................................... 21 Situação da População Negra............................................................... 22 POLÍTICAS PÚBLICAS E INCIDÊNCIA................................................... 26 O racismo e suas marcas ..................................................................... 27 O problema da violência........................................................................ 34 O que fazer para mudar tal quadro? Protagonismo juvenil em ascensão ...................................................... 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 37 FILMES E VÍDEOS ................................................................................. 40 É de manhã Os olhos mal conseguem abrir Mas no meu pensamento O jovem está a sorrir Ele tá longe daqui Em um lugar de paz Eu até agradeci Porque lá, maldade não existe jamais Não tem desvalorização Nem confusão Só há mesmo superação Superação de quem já sofreu Não comeu Não estudou Apenas sobreviveu Sua cor, não vão apontar De suas palavras, não vão duvidar Sua escolha, não vão descriminar Vão somente fortalecer É a juventude A força de uma atitude Que a luta vai vencer Rafaela Maciel GGL de Armação dos Búzios e bolsista do Projeto NEA-BC Utopia Fragilizada O que conhecemos nos pertence. E o que conhecemos é o resultado do que aprendemos na família, na escola. Aprendemos com as religiões, com os amigos/as, com as viagens, com os livros, com as letras das músicas, com os filmes, com os sites da internet, com a participação comunitária e com os projetos socioambientais, como o NEA-BC. Aprendemos também como se devem comportar as mulheres e os homens e como devem se relacionar. Aprendemos a respeitar ou a discriminar o outro ou a outra. O racismo, o machismo e a homofobia são valores ensinados e reproduzidos. O desafio está em romper com o ciclo de preconceitos e discriminações, desconstruir valores aprendidos que não atendem à construção de relações saudáveis, isto é, relações respeitosas, sem agressões e sem violências. Se nos colocarmos no centro de um círculo, enquanto ao redor pessoas diversas se derem as mãos e olharmos para cada uma, perceberemos que as riquezas estão presentes em todas e, provavelmente nos identificaremos, com algo de cada uma: gênero, raça/ cor, etnia, orientação sexual, religião (ou sem religião), deficiência, visão de mundo, formação, geração, partido político (ou sem partido). Enfim, posso me identificar com mais de um traço ou um “jeito de ser”. Os temas desta cartilha – gênero, raça/etnia, juventude (s) - podem ser pensados na ordem da subjetividade, dos valores culturais, das ideologias, e dizem respeito à nossa humanidade mesclada com a ordem da objetividade, como a participação e mobilização comunitária em prol de direitos e de políticas públicas inclusivas com promoção das igualdades. A Cartilha Gênero, Raça/Etnia, Juventude (s) é um dos subsídios elaborados para o Programa de Formação e Desenvolvimento de Lideranças III. Nela, você encontrará definições dos conceitos abordados, questionamentos para a autorreflexão, subsídios para diálogos/debates, informações sobre direitos com indicações da legislação. Ao final, encontrará as referências utilizadas e sites visitados, uma lista com sugestão de filmes e vídeos, para a ampliação do seu conhecimento sobre as temáticas. AP RE SE NT AÇ ÃO GÊNERO, RAÇA/ ETNIA E JUVENTUDE(S): UMA TRIANGULAÇÃO PODEROSA. A def in ições desses concei tos de for tes sent idos e in formações subjacentes serão t ratadas, sempre que pert inentes, em um cenár io de interseção (ou cruzamento) . Pense em um trevo rodov iár io onde t rês estradas se encontram: a estrada gênero, a estrada raça/ etn ia e a estrada juventude (s) . Encontro que forma um corpo, uma pessoa, uma ident idade, em uma determinada cu l tura de uma determinada soc iedade. Neste caso, a soc iedade bras i le i ra com a sua d ivers idade cu l tura l . Def in i r cada um desses concei tos já é tarefa complexa, imagine quando se inter- re lac ionam. Mar ia é mulher, negra e jovem. Pedro é homem, branco e adul to . A l ice é mulher, branca e jovem. Juracy é mulher, índ ia e jovem. Kauê é homem, índ io e jovem. S í lv ia é lésb ica, branca e idosa. Mauro é negro, t ransexual e adolescente; Walter é branca, adu l ta e t ravest i ; João é heterossexual , negro e jovem. E você, como se identifica? Acha que a composição da sua identidade tornou/torna a sua vida mais tranqüila, mais favorável? Ou não? Na sua comunidade ou no seu município, por exemplo, para quem as condições e qualidade de vida são mais desafiadoras? Por quê? As d i ferenças de gênero, raça/etn ia , or ientação sexual , fazem parte da v ida. O estranhamento, o preconcei to e as d iscr iminações se co locam a part i r das re lações com o d i ferente, e costumam ser reproduz idas nas escolas, nas míd ias, nas re l ig iões, nas inst i tu ições enf im, em todos os espaços da v ida soc ia l . Determinados comportamentos e at i tudes podem contr ibu i r, ou não, para a produção e manutenção de um Bras i l com a l to índ ice de v io lênc ias e des igua ldades. 5 6 Pelo menos quatro conceitos são importantes para pensarmos estas questões: Diversidade cultural: É a diferenciação constitutiva das sociedades humanas. É combinação de diversos aspectos que compõem variadas culturas e grupos, como a linguagem, a comida, a roupa, as tradições,as composições familiares, a política, etc. Em seu interior, as sociedades percebidas como homogêneas, ainda podem se distinguir por suas diferenças formando os grupos sociais. Racismo: expressa o conjunto de teorias, ideias e/ou crenças que pregam uma hierarquia entre as raças/etnias diferentes. É um fenômeno cultural, pois não se justifica biologicamente. Preconceito: opinião ou sentimento concebido sem conhecimento ou exame crítico, ou ainda uma atitude assumida em consequência da generalização apressada, de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio, a partir do encontro com o diferente. Discriminação: é uma ação que se baseia no preconceito ou no racismo e que expressa a quebra do princípio da igualdade, como distinção, exclusão, restrição ou preferência, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas. A cultura é produto da sociedade. Ela é dinâmica e da mesma forma que é construída, pode ser questionada e desconstruída. O racismo, o preconceito e a discriminação podem ser substituídos por respeito à diferença e pela promoção das igualdades em todos os campos da vida em sociedade. A s desigualdades de gênero e raça são eixos estruturantes da matriz da desigualdade social no Brasil que, por sua vez, está na raiz da permanência e reprodução das situações de pobreza e exclusão social. (ABRAMO, 2006). E como podemos mudar isso? Não bastarão leis sem o desenvolvimento de propostas que promovam e motivem a reflexão individual e coletiva e, desta forma, contribuam para o entendimento das diferenças e para a superação e eliminação de qualquer tipo de preconceito e discriminação. Para promoção da justiça é preciso reconhecer a diferença (gênero, sexo, orientação sexual, raça/etnia, idade) para que todos possam ser atendidos em suas demandas específicas, considerando que os seres humanos (enquanto estiverem no mundo, em sociedade, com suas culturas e essências específicas) merecem viver de forma justa e digna, na sua diversidade. A isto, chamamos equidade. Fonte:http://cmeivilalorena.blogspot.com.br/2017/02/planejamentos-igualdadeequidade.html No Brasil, na década de 1980, os movimentos sociais liderados por mulheres, onde se destaca o movimento feminista, iniciaram questionamentos marcantes sobre as condições de vida das mulheres em relação aos homens. Alertavam para a posição subalterna das mulheres na sociedade e reivindicavam direitos de cidadania e igualdade. O conceito “gênero” emergiu, como categoria explicativa desta realidade, a partir do movimento feminista, em diálogo com suas teóricas como historiadoras, geógrafas, sociólogas. O que é gênero, afinal? É algo com o que nascemos? Algo que nos é designado definitivamente, de uma vez por todas? Algo que aparentamos por ações, gestos, comportamentos, moda? Como alguém se torna um sujeito de gênero? E quando isso acontece? O que sexo tem a ver com gênero? E o que gênero tem a ver com raça/etnia? E com as diversas orientações sexuais? Para definir o sexo predomina a biologia, baseada nas características relacionadas à genitália, hormônios, cromossomos e à dualidade da heterossexualidade (relação entre homens e mulheres), que se concretizaria com o casamento, a reprodução e a família. O conceito de ”arranjos familiares” nos ajuda a entender a família para além do modelo da família tradicional nuclear, baseada na consanguinidade (pai, mãe e filhos/as “legítimos”). Segundo o dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, família pode ser definido por “Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantém entre si uma relação solidária”. Neste sentido, uma avó morando com o neto é família, assim como uma madrasta com seus enteados ou duas mulheres com seus filhos adotivos. Os arranjos e possibilidades são muitos. A mudança justifica-se pelas transformações que vivemos e espelha a realidade dos lares no país. Na década de 1990, o conceito de gênero ganha força e é definido enquanto dimensão sociocultural, determinante dos papéis a serem desempenhados por homens e por mulheres (papéis de gênero) seja na vida privada (ambiente doméstico/familiar/conjugal) ou na vida pública (escola / trabalho/política). Gênero é, portanto, um conceito das ciências sociais e humanas, que refere-se à construção social do sexo. Em outras palavras, na biologia existem machos e fêmeas, mas ser homem e ser mulher na sociedade é algo delineado pela cultura, estando para além do nosso comportamento animal. É importante frisar que o conceito surgiu a partir da observação da realidade social. 7 O conceito de estereótipos pode ser útil para entender um pouco dos papéis de gênero. Produzidos pela cultura, os estereótipos são rótulos ou modelos de imagem, que baseiam-se em generalizações, geralmente associados a valores, atribuídos às pessoas ou grupos sociais. Os estereótipos são repetidos e reforçados na linguagem cotidiana pelo senso comum, e frequentemente são usados em piadas, tais como: “nordestino é preguiçoso”, “serviço de negro”, “só podia ser mulher”, “loiras são burras”, etc. Quais estereótipos relacionados ao ser mulher, homem ou gay você já ouviu? Já reproduziu algum? Em que espaços sociais? Você conhece outros? Quais? Na contemporaneidade, muitos outros conceitos emergiram a partir destas discussões. Expressão de gênero, orientação sexual, identidade de gênero somaram-se ao debate, no âmbito da sexualidade, para auxiliar não só o entendimento das relações e grupos sociais, mas também as necessidades das pessoas nas suas especificidades. Vamos entender melhor algumas definições? Sexo: definição biológica de homem e mulher baseada nos critérios físicos (macho/fêmea/intersexo). Intersexo é a pessoa com variedade de condições genéticas, que acaba apresentando anatomia reprodutiva e sexual que não se encaixa à definição usual de masculino ou feminino. Era comumente chamada de “hermafrodita”, mas esse termo caiu em desuso. Identidade de gênero: como a pessoa se identifica quanto ao seu gênero. Vamos nos atentar para este conceito como uma construção social, que diferencia a dimensão social da biológica. Como você pensa a respeito de si mesmo (homem/mulher/trans). Expressão de gênero: como a sociedade reconhece a pessoa, devidos às suas escolhas em relação a forma de se vestir, de agir e interagir. Cabem aqui as referências de feminino/masculino/ andrógeno, por exemplo. Orientação afetiva/sexual: refere-se às possibilidades de relacionamentos afetivos/sexuais de uma pessoa com outra, como heterossexuais/ homossexuais/bissexuais/assexuais/pansexuais. É importante salientar que sexo, gênero e desejo fazem combinações diversas, se sobrepõem, pois são dimensões diferentes. Não existe contradição na ordem da sexualidade humana pois ela é tão diversa quanto as pessoas, as culturas e suas práticas. São como as cores, suas combinações dão tonalidades diferentes que fazem algumas serem mais próximas do verde, outras do azul. Por isso o símbolo do arco-íris representa o movimento LGBT. Estas definições foram elaboradas para dar conta de necessidades sociais e políticas, não para ditar como as pessoas devem viver. As identidades de gênero e as orientações sexuais são plurais e há diferenciações em seu uso. Nas políticas públicas e espaços de controle social, os 3 entes federados adotam a sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), que inclui as identidades de gênero, diferente da antiga sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) que abordava somente a orientação sexual. 8 9 Internacionalmente, instituições como Anistia Internacional e ONU utilizam LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexuais). A sigla, além de se referir a todos/as aqueles/as que diferem da orientação heterossexual, é também um instrumento no movimento que luta pelos direitos desses grupos sociaise contra a discriminação, o preconceito e a homofobia. Vejamos a definição de algumas classificações: Quanto à orientação sexual: Heterossexual: quando há atração afetiva e/ou sexual com uma pessoa com o sexo ou gênero diferente do seu; Homossexual: quando há atração afetiva e/ou sexual por uma pessoa do mesmo sexo. Pode ainda ser entendido a partir dos termos “Lésbica” (mulheres que se relacionam com mulheres) ou Gays (homens que se relacionam com homens); Bissexual: quando a pessoa se relaciona sexual e/ou afetivamente com quaisquer sexos; Assexual: quando não se relaciona afetivamente/sexualmente com nenhum dos gêneros; Pansexual: Se refere a pessoas que tem desejo sexual abrangente, independente de sexo e gênero, podendo ainda incluir objetos; Quanto à identidade de gênero: Transgênero: Há de se considerar dois aspectos na dimensão transgênero: a vivência do gênero como identidade (o que caracteriza transexuais e travestis); a vivência do gênero como funcionalidade (representado por crossdressers, drag queens, drag kings e transformistas); 1.Transexual: a pessoa nasce com um sexo, mas se identifica com o gênero oposto, sente que sua anatomia não corresponde a sua identidade e tem um forte desejo de modificar o corpo. 2.Travesti: a pessoa que se assume ou se identifica com características físicas, sociais e culturais do sexo diferente do seu nascimento, mas isso não significa negação do sexo genital - como é o caso dos transexuais. O preconceito e a discriminação contra as pessoas LGBTs indicam valores e atitudes de uma sociedade machista e homofóbica no país. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo.1 1 Segundo Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais (LGBT) no Brasil, de 2016, do Grupo Gay da Bahia, que realiza o levantamento nacional há quase quatro décadas. Relatório 2016. Disponível em: <https://homofobiamata.files. wordpress.com/2017/01/relatc3b3rio-2016-ps.pdf> 2 https://nacoesunidas.org/empoderamento-nos-permitiu-modificar-nossa-realidade-violenta-diz-travesti-brasileira-na-o- nu/ VOCÊ SABIA? As mulheres transexuais e os travestis concentram a maior quantidade de homicídios LGBTIfóbicos no mundo. A expectativa de vida é de apenas 33 anos, enquanto a média da sociedade é de 70 anos. Esse dado foi apresentado por Taya Carneiro, uma jovem brasileira travesti, no evento oficial das Nações Unidas para o Dia Internacional da Juventude, em 2017.2 10 A s concepções de gênero são as p r inc ipa is responsáve is pe las des igua ldades soc ia is ent re homens e mu lheres . Se inc lu i rmos out ros c r i té r ios para o lha r a complex idade da nossa rea l idade soc ia l , como idade e raça/etn ia , é poss íve l entender me lhor como ocor re a d is t r ibu ição de poder e p rest íg io no nosso pa ís . Mas quem são as mu lheres b ras i le i ras? Como o mov imento de mu lheres b ras i le i ras vem l idando com os p rob lemas que lhes a t ingem d i re ta e cot id ianamente , nas suas re lações fami l i a res , nas suas comun idades , no seu t raba lho , no seu laze r? Em 2009, a popu lação femin ina representava 51 ,3% da popu lação to ta l do pa ís . Ent re tanto , es ta p roporção va r ia con fo rme as d i fe rentes fa i xas de idade . Ent re c r ianças de a té se is anos , 48% são do sexo femin ino . Já ent re os idosos , as mu lheres cor respondem a 56% da popu lação , e , em números abso lu tos , a quant idade de mu lheres é 26% ma io r que a popu lação mascu l ina da mesma fa ixa e tá r ia ( IPEA , 2011) . Qual a população do seu município considerando gênero, raça/etnia e geração? Para falarmos sobre a história das mulheres no Brasil deveríamos recuar até as sociedades indígenas, sobre as quais pouco sabemos. O encontro entre os conquistadores europeus e as populações que habitavam o litoral já anunciava o destino trágico que teriam milhares de homens e mulheres indígenas, tragadas pela violência do processo de colonização. Contra as mulheres foi dramática a prática de estupros. A partir da década de 1990, as mulheres indígenas começaram a criar suas próprias organizações no Brasil. Atualmente acontecem encontros de mulheres de diferentes etnias, em âmbito nacional e internacional.31Elas reivindicam os seus direitos específicos e o fortalecimento de antigas lutas de seus povos, o que faz com que negociem com diferentes atores no contexto interétnico. Que etnias indígenas viveram ou ainda vivem (ou sobrevivem) nos territórios integrantes da Bacia de Campos? Conhece algum estudo abordando a interseção gênero/ etnias indígenas nos territórios que compõem a Bacia? 3 Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial, Fórum Social Mundial, Conferência Mundial dos Povos Indígenas, entre outros. mulheres brasileiras 11 As mulheres brancas que vieram para o Brasil no início da colonização trouxeram na própria pele o sinal de distinção social, demarcando nitidamente o universo do senhor de terras e de escravos/as (SCHUMAHER; BRAZIL, 2000). Geralmente, a senhora da casa grande tinha ao redor de si uma “equipe” de escravas/os negras/os que habitavam a senzala. Durante décadas, a maioria das mulheres não estudava, nem trabalhava e tinha como único “destino” o casamento, a maternidade, o cuidado dos mais velhos da família, o convento. As pautas cidadãs (voto, ensino, participação) e de inserção no mercado de trabalho foram as principais causas as quais o movimento de mulheres brancas se dedicou inicialmente. No sistema escravocrata que durou séculos, as mulheres negras ocupavam as posições que o sistema colonial as determinou: escravas domésticas; amas de leite; quituteiras; escravas prostitutas; escravas de ganho. Após a abolição da escravatura, as mulheres negras permaneceram no comércio ambulante e no emprego doméstico, muitas vezes em troca de moradia e alimento. Muitos negros e muitas negras trabalharam arduamente para comprar a sua liberdade. E em seu município? Quais direitos das mulheres estão inseridos nas Leis Ordinárias? Que direitos poderiam ser acrescentados? Quais outras pautas precisam ser inseridas, de acordo com a visão crítica sobre a condição de vida das mulheres, considerando a interseção com raça/etnia, faixa etária e orientação sexual? Na década de 80, articulações de mulheres negras iniciaram um grande movimento questionando enfaticamente a ausência da perspectiva racial de gênero, considerada fundamental para a análise e a intervenção nos processos de reprodução das desigualdades. No Brasil, onde grande parte da população é afrodescendente,41é indispensável incluir a questão racial quando abordamos questões relacionadas ao gênero e à (s) juventude (s) sobre quem estamos falando: mulheres brancas ou negras? Jovens brancos/as ou negros/as? A centralidade do poder e do patrimônio nos homens na organização social pode ser melhor compreendida através do conceito de patriarcalismo. Patriarcalismo é a predominância ou a ideologia da supremacia do homem nas relações sociais. A subordinação se estende do ambiente familiar ao do trabalho e da política, permitindo o acúmulo de riqueza e patrimônio. 4 Segundo o IBGE, os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. As mulheres e as suas pautas Seguindo a campanha mundial “nosso corpo nos pertence”, após a queda da ditadura militar, as mulheres brasileiras desfraldaram a “bandeira de luta” pelo direito à saúde integral, isto é, pela atenção e assistência à saúde das mulheres em todas as fases da vida, sem discriminação de raça/etnia, idade, orientação sexual. Tal direito tão almejado e por qual tanto se militou foi inserido à Constituição de 1988. O emblema desta incidência pela saúde foi a promoção e defesa dos direitos sexuais e reprodutivos. Os direitos sexuais devemser promovidos com informações sobre a sexualidade valorizando o autoconhecimento, o autocuidado, a autodeterminação. É assunto para as áreas de educação, saúde, comunicação, direitos humanos e política. Devem-se considerar as vivências e respeitar as orientações sexuais. Além de pauta do movimento feminista, tem sido pauta do movimento LGBTs. Como política pública para o exercício seguro da sexualidade, é prevista a oferta de contraceptivos e preservativos. Os direitos reprodutivos incluem o direito ao planejamento familiar e a educação perinatal. Também são assuntos para a educação, a comunicação, os direitos humanos e estão incluídos na política pública de saúde (SUS). Neles estão previstos a oferta de serviços e cuidados de ginecologia e obstetrícia, como: consulta; exames preventivos de câncer do colo do útero e do câncer de mama; acesso a métodos contraceptivos; a realização do pré-natal; assistência ao nascimento (parto ou cesária); acompanhamento do puerpério/pós-parto. Também deve ser garantida atenção e tratamento em situações de abortamento e o acesso ao “aborto legal”, previsto pelo código Penal (1940), em casos de estupro ou de risco à vida. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal autorizou a interrupção da gravidez para casos de anencefalia.51 No seu município, onde está inserido o programa de atendimento à saúde integral da mulher? Existe maternidade pública municipal? Em que unidade de saúde é garantido o serviço relacionado aos direitos sexuais e reprodutivos? Direito a uma vida sem violência. Muitas conquistas sociais já foram alcançadas pelas mulheres. Contudo, a violência de gênero ainda é uma questão social grave no Brasil. A forma mais comum é praticada por homens que fizeram ou fazem parte do seu convívio (maridos, noivos, namorados e outros). A violência pode se manifestar de diversas formas: física, psicológica, sexual, moral, patrimonial, através de estupro, homicídio, entre outras formas. É importante lembrar que a violência é legitimada por parte da sociedade, e suas bases estão ancoradas na cultura, assim como na própria construção do que é ser homem e ser mulher, nos comportamentos e atitudes desejáveis e esperados. Além disso, ela é observada em todas as regiões do país, em todos os seus segmentos, independente de escolaridade, renda ou idade. A violência na vivência de relações tem impactos para a saúde e pode gerar consequências como: a baixa autoestima, a depressão, o consumo de álcool e outras drogas e relações sexuais desprotegidas. Desfazer o tabu e conversar sobre as diversas formas de violência que podem ocorrer 5 Malformação do sistema nervoso central do embrião. 12 nos relacionamentos é a melhor forma de prevenir e enfrentar o problema entre os/as jovens. No Brasil, o estupro é tipificado como crime hediondo (Lei 8.079/90), e chama a atenção o alto índice de ocorrência. Em 2016, foi registrado o número de 4.128 vítimas de estupro e 484 vítimas de tentativa de estupro. Isso quer dizer que uma mulher foi vítima de estupro ou tentativa de estupro a cada 2 horas (DOSSIÊ MULHER, 2015). A prática de “estupros coletivos”, dos estupros “corretivos” e da disseminação de músicas que incitam a violência sexual são espelhos de uma sociedade machista e violenta, sendo, portanto, um problema de cunho social. O estupro também é utilizado politicamente, especialmente em relações interétnicas e crimes de guerra. O relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) revelou que uma em cada três índias é vítima de violência sexual. De acordo com o líder Marcos Terena,62“o estupro é uma forma de desmoralizar as comunidades e também uma espécie de limpeza étnica”.73 A partir de 2010, grupos de mulheres jovens assumiram a liderança da incidência contra a cultura do assédio e do estupro. Articularam através das mídias, criaram novos grupos, alimentaram blogs, organizaram e participaram das ocupações, criaram páginas no facebook, intensificaram as manifestações culturais e lançaram inúmeras campanhas e manifestações. Quando se fala em homicídios, no Brasil, a taxa é de 4,8 para 100 mil mulheres, a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).84O Mapa da Violência (2016) revelou que 50,3% das mortes violentas de mulheres são cometidas por familiares e 33,2% por parceiros ou ex-parceiros. No estado do Rio de Janeiro, no ano de 2015, foram assassinadas 360 mulheres. Praticamente, uma por dia. Estes índices são mais alarmantes na sobreposição de violências. O estudo apontou um aumento de 54% em dez anos no número de homicídios de mulheres negras. A Lei Maria da Penha (11.340/2006) é uma das mais importantes políticas públicas criadas para coibir a violência de gênero contra as mulheres, em específico a violência doméstica e familiar. Pela Lei 9.099/95, anterior, as agressões que as mulheres sofriam raramente eram tratadas como crimes ou punidas com rigor, mas sim como pequenas contravenções com pagamento de multas ou cestas básicas. A lei Maria da Penha é resultado da incidência política dos movimentos de mulheres por todo o país. Qual o índice de violência doméstica/violência de gênero nos municípios onde se insere o Projeto NEA-BC? No seu município tem Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher Vítima de Violência? Se não tem, a que órgão as mulheres recorrem? Há algum movimento nas comunidades para a redução da violência contra as mulheres? Qual? 6 Articulador do Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena (ITC). 7 http://www.onumulheres.org.br/noticias/nota-publica-onu-mulheres-alerta-para-violencia-contra-mulheres-indigenas-e- -conclama-garantia-de-direitos/ 8 https://nacoesunidas.org/onu-feminicidio-brasil-quinto-maior-mundo-diretrizes-nacionais-buscam-solucao/ 13 14 Mulheres e o acesso ao conhecimento. A educação é um componente fundamental da cidadania. As estatísticas (IBGE, 2010) evidenciam um significativo avanço das mulheres rumo à formação. Vejamos os dados: 1. A frequência escolar no ensino médio foi de 64,7% de mulheres brancas; 55,4% de homens brancos; 52,1% de mulheres pretas ou pardas; 52,1% de homens pretos ou pardos. 5 2. Aumento de jovens mulheres que se mantém cursando o nível educacional apropriado a sua idade (15 a 17 anos) subindo o percentual de 34,4% em 2000, para 47,3% em 2010. 3. Um contingente maior de mulheres entre os universitários de 18 a 24 anos no nível superior, chegando ao percentual de 57,1% do total de estudantes nesta faixa etária, em 2010. 9 http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7272054&disposition=inline SAIBA MAIS Saiba mais sobre direitos e legislação O direito à assistência em casos de estupro está previsto na Constituição. O SUS dispõe de protocolos do Ministério da Saúde para esse tipo de crime que recomendam: antibióticos para evitar doenças sexualmente transmissíveis, antivirais contra AIDS, cuidados ginecológicos e assistência psicológica e social. Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006). Estabelece as punições sobre crimes domésticos, geralmente cometidos por homens. Atenção para a ameaça de perda de direitos relacionada à Lei Maria da Penha: em 2017, foi vetada pelo Presidente a alteração que visava aumentar o rigor das punições sobre crimes domésticos, em especial a homens que agridem física ou psicologicamente uma mulher. O artigo autorizava o delegado de polícia a conceder medidas protetivas de urgência a mulheres que sofreram violência doméstica”.9 Lei do Feminicídio (13.104/2015). Trata dos assassinatos cruéis e marcados por impossibilidade de defesa da vítima, tais como, torturas, mutilações e degradações do corpo e da memória. E, na maioria das vezes, não se encerram com o assassinato. Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência: Serviço nacional (gratuito e confidencial). Recebe denúncias de violência e reclamações sobre os serviços da rede de atendimento à mulher; orienta as mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente.As mulheres e o mundo do trabalho. As Convenções 100 (1953) e 111 (1960), adotadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomendam que seus países-membros, incluindo o Brasil, apliquem mecanismos para: 1) garantir a igualdade de remuneração de homens e mulheres por trabalho de igual valor e 2) eliminar a discriminação em matéria de emprego e ocupação. No Brasil, entre 2012 e 2016, com a retração econômica, o índice de desemprego medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu de 7,9% para 12% – 13,6% na medida mais recente – enquanto a taxa de ocupação da população caiu de 56,3% em 2012 para 54% em 2016. Entre as mulheres, o desemprego no fim de 2016 era de 13,8% enquanto atingiu 10,7% para os homens. Em relação às mulheres com ocupação com mais de 16 anos, 57,9% estava no trabalho formal, proporção ligeiramente inferior aos homens, que chegavam a 59,2%. O desafio para entendermos estatísticas referentes a quem está no mercado de trabalho é cruzar esta variável com gênero, raça/etnia e juventude. Isto é, quem está mais incluído? Quais os fatores de exclusão? De acordo com o IBGE, entre 2012 e 2016, o total de homens empregados sofreu redução de 6,4%, contra 3,5% entre as mulheres. As mulheres ainda ganham em média menos do que os homens, mesmo tendo mais tempo de estudo e qualificação. No total, a diferença de remuneração entre homens e mulheres em 2015, era de 16%. O rendimento médio do homem era de R$ 2.905.91, e o das mulheres, R$ 2.436,85. Quanto à participação em cargos de chefia e gerência nas empresas e organizações, entre 5% e 10% dessas instituições são chefiadas por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%. Cabe ressaltar que as famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas, havia a presença de um cônjuge. Dentre as mulheres com 16 anos ou mais, 30,4% não tinham nenhum rendimento, enquanto 19,4% dos homens se encontravam nesta situação. Em relação a rendimento, 33,7% das mulheres e 25,7% dos homens tinham rendimento mensal de até 1 salário-mínimo. Dentre as mulheres negras 40,3% recebiam até 1 salário-mínimo. O rendimento médio dos homens entre 2000 e 2010 subiu 7,3%, enquanto que o das mulheres subiu 10,7%. Ainda que tenha diminuído a disparidade de rendimento entre mulheres e homens, as mulheres têm um rendimento médio equivalente a 67,7% do rendimento dos homens. O rendimento médio das mulheres negras correspondia a 35% do rendimento médio dos homens brancos. As mulheres negras tinham um rendimento médio equivalente a 52% do rendimento das mulheres brancas. E as mulheres brancas, 67% do rendimento dos homens brancos. As mulheres rurais são as que apresentam os menores rendimentos (480,00), valor inferior ao salário vigente em 2010. As mulheres recebem menos do que os homens em todas as áreas, desde os serviços gerais às carreiras relacionadas às ciências humanas e sociais e às artes. Entre as pessoas sem rendimento, o maior peso estava entre as mulheres rurais (32,3%) frente a 23,9% das urbanas, 27,4% entre as negras e 22,6% em meio às mulheres brancas. 15 Vale ressaltar que apesar das conquistas, tem uma conta que ainda “não fecha” de forma igual no que tange à vida de mulheres no âmbito familiar: o trabalho que exercem “fora de casa” somado ao trabalho doméstico (não remunerado e considerado obrigação exclusiva da mulher, com inexpressiva participação dos homens) caracteriza a dupla jornada de trabalho. O trabalho doméstico, é classificado como não trabalho e quem o realiza é considerada inativa, majoritariamente mães, esposas, aquelas que fazem todo o “serviço de casa” e que a cultura de gênero considera “obrigação da mulher”. SAIBA MAIS Sobre Legislações e direitos: Licença Maternidade. 180 dias. Lei 11.770/2008 Licença Paternidade. 20 dias. Lei 13.257/16. Lei 23.591- 13/10/1997. Proíbe a revista íntima nos locais de trabalho Lei 10.224/2001. Proíbe o assédio sexual nos locais de trabalho. Direito das trabalhadoras domésticas. CLT: Lei 150/2015. FIQUE ATENTO/A ! Com a reforma trabalhista (2017), alguns direitos anteriormente conquistados pelas mulheres foram ameaçados. As grávidas e as lactantes poderão trabalhar em lugares insalubres de grau médio e mínimo, tendo contato com produtos químicos, agentes biológicos, radiação, exposição ao calor, ambiente hospitalar de risco, frio intenso etc. A referida definição foi trazida pela Medida Provisória nº 808 de 2017, a qual fez previsão mais benéfica que a Lei nº 13.467/17, responsável pela reforma trabalhista. Para que a presente definição seja consolidada, se faz necessária sua conversão em lei pelo Congresso Nacional, no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias, sob pena de perder a eficácia. O que se sabe sobre oportunidades de trabalho para as mulheres negras, brancas e indígenas jovens e não jovens em cada município da Bacia de Campos? Direito à participação e à representação política. O direito ao voto foi garantido às mulheres brasileiras (1932) a partir de insistente campanha. O Código Eleitoral na ocasião impôs restrições: apenas as mulheres casadas podiam votar, mediante autorização dos maridos; e as mulheres solteiras ou viúvas só votariam se tivessem renda própria. Neste contexto, tendo transcorrido menos de meio século desde a abolição da escravatura, o número de mulheres negras beneficiadas por esta lei era significativamente reduzido.10 10 Ainda assim, a história registra a figura de Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita como deputada, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (1934/1937), pelo Partido Liberal Catarinense 16 17 Em 1946 o direito ao voto foi extensivo a todas as mulheres. E neste mesmo ano as mulheres também puderam se candidatar. Em 1987, na Assembleia Nacional Constituinte, 26 deputadas lutaram pela inclusão de leis que favorecessem as mulheres, tais como: igualdade jurídica entre homens e mulheres, licença- maternidade com duração superior à da licença-paternidade; incentivo ao trabalho da mulher; prazo mais curto para a aposentadoria por tempo de serviço e contribuição; direito à saúde integral da mulher; educação não sexista; o direito ao trabalho com salários iguais aos dos homens; o direito à participação e à representação política. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=encontro+nacional+da+mulher+e+constituinte&rlz No seu município existem grupos organizados de mulheres? Como se identificam? Que questões defendem? Estão atuando presencialmente e/ou através das mídias? Entre os grupos de articulação comunitária, como os GGLs, as pautas das mulheres negras e não negras, das mulheres jovens, são contempladas? A participação das mulheres na política de Estado (Legislativo e Executivo) é tímida apesar dos avanços nos últimos anos. Veja este quadro comparativo entre 2008 e 2012 (SPM, 2012) relacionado aos 5.568 municípios brasileiros. Participação Feminina nos Poderes Executivo e Legislativo Legislaturas 2008 2012 Aumento Prefeitas 507 672 33% Candidatas a vereadoras 72.476 133.864 84,5%. Vereadoras 6.450 eleitas (8,9% das concorrentes) 7.782 (5,7% das concorrentes) 13,32% 18 As 7.782 vereadoras brasileiras representam 13,5% do total dos cargos correspondentes nas Câmaras Municipais. A parcela masculina é de 49.825 integrantes (86,5%). O aumento de candidatas não fez com que mais mulheres se tornassem vereadoras. Apesar de o número apresentar uma evolução positiva para o cenário que é composto em sua maioria por homens, a participação das mulheres em cargos eletivos ainda é considerada insuficiente, um segmento sub-representado em todos os níveis da política no país. A incidência política deve iniciar com um trabalho de conhecimento sobre as condições de vida da população dos municípios, discriminada por gênero, raça/etnia e faixa etária e conhecimento das políticaspúblicas municipais direcionadas a cada um dos segmentos, somadas às políticas de promoção da igualdade racial e políticas para os/as jovens. Deve-se apostar na criação de estruturas e mecanismos que fomentem e garantam a participação igualitária das mulheres em cada município, nos espaços de participação política, poder e decisão considerando a interseção entre gênero, raça/etnia e faixas etárias, com atenção para a juventude. Quais mulheres você destacaria como notáveis em sua comunidade? Por quê? O que fizeram ou fazem? Quais os seus nomes? Já pensou em homenageá-la/s? O 8 de Março – Dia Internacional da Mulher é uma data oportuna. Conheça a história desta data. 19 8 de Março - Dia Internacional da Mulher 8 de março de 1857 - greve dos/as trabalhadores/a de uma indústria têxtil de Nova Iorque por melhores condições de trabalho e igualdades de direitos trabalhistas para as mulheres. Violenta repressão policial. 8 de março de 1908 - manifestação realizada por trabalhadoras do comércio de agulhas de Nova Iorque, para lembrar o movimento de 1857 e exigir o voto feminino e fim do trabalho infantil. Também reprimida pela polícia. 25 de março de 1911 – Em consequência das precárias condições de segurança de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, um incêndio causou a morte de 145 trabalhadores (maioria mulheres). 1910 - Decidido em Conferência na Dinamarca que o 8 de março passaria a ser o Dia Internacional da Mulher, em homenagem ao movimento pelos direitos das mulheres e como forma de obter apoio internacional para luta em favor do direito de voto para as mulheres (sufrágio universal). As mulheres que lideraram movimentos pelo voto foram chamadas de sufragistas. 1975 - Ano Internacional da Mulher, determinado pela a ONU (Organização das Nações Unidas) que passou a celebrar o 8 de Março - Dia Internacional da Mulher. RAÇA/ETNIA E m 1995, 44,9% dos/as brasileiros/as se declararam negros/as e, em 2009, este percentual subiu para 51,1%, enquanto a população de brancos/as caiu de 54,5% para 48,2% no mesmo período. Em 2009, entre os homens o percentual de brancos foi de 47%, e o de negros 52%; por sua vez, o percentual entre mulheres brancas e negras foi de 49,3% e 49,9%, respectivamente. O aumento populacional não ocorre em razão do aumento da taxa de fecundidade da população negra, mas pela mudança na forma como as pessoas se veem, passando a se auto declarar como pertencentes a tais grupos de cor/ raça (IPEA, 2012). O olhar do pesquisador (que marcava a cor de cada um/a) foi substituído pela autoidentificação, isto é, como cada um/a se considerava. É importante, para a temática que vamos discutir agora, entendermos os conceitos raça, cor e etnia que, em muitos momentos, se cruzam. Até o início do século XIX, raça estava associada ao racialismo, doutrina científica criada para explicar as diferenças biológicas, anatômicas ou aparências físicas existentes entre os seres humanos. Segundo tal visão, existiam raças superiores e raças inferiores (CLAM/IMS/UERJ, 2009). Hoje o uso do conceito de raça nas ciências humanas justifica-se pelo próprio racismo, ou seja, ele é explicativo dos fenômenos de exclusão e preconceito que persistem. A cor é socialmente construída. Sua conceituação é complexa e não se trata apenas de uma questão de característica biológica. É necessário problematizar o processo histórico de desigualdade, sobretudo ao analisar a escravidão. (BARROS, 2008). O contraste entre igualdade e desigualdade refere-se quase sempre a uma “circunstância”. O que ele quer dizer? Que o mais pobre pode deixar de sê-lo (através da escolaridade, das oportunidades, de políticas públicas de inclusão), assim como um rico pode diminuir ou perder a sua riqueza. Ninguém “é” pobre ou ninguém “é” rico. O mais adequado seria dizer que alguém “está” pobre ou alguém “está” rico e este estado depende das circunstâncias. Por outro lado, se alguém “é” negro/a ou se alguém “é” branco/a, tal condição é essencial. Neste caso, para se discutir a negritude e a branquitude deve-se considerar que as desigualdades e igualdades podem ser circunstanciais, enquanto as diferenças são inerentes aos seres humanos. O equívoco está em se tratar o diferente com preconceito, discriminação e exclusão. Essa reação diante do “estranho” é um fenômeno comum entre as sociedades de todas as épocas. O etnocentrismo é basicamente a avaliação de distintas formas de vida a partir de elementos de sua própria cultura. Colocar a sua cultura e sua maneira de ver e viver o mundo no centro, como corretas e normais. É daí que surgem julgamentos de valor de ações, crenças, atitudes, comportamentos, modos de vida qualificando-os como errado, exótico, selvagem, anormal, desqualificando as práticas e até negando a humanidade do outro. O termo deriva do conceito de etnia. Etnia refere-se a um grupo social em que a identidade é definida por meio do compartilhamento de uma cultura, língua, tradições e territórios. No continente africano, por exemplo, tido como matriz da “raça” negra, destacam-se diversas etnias, assim como entre os povos indígenas brasileiros. Outro conceito muito precioso na história e na atualidade da população afrodescendente são os/as quilombolas, remanescentes dos territórios de quilombos, áreas para onde foram os/as negros/ as fugindo da escravidão, cujo expoente maior da liderança é Zumbi dos Palmares, ou territórios aonde se agruparam a partir da abolição. 20 Como conta a história, o Brasil foi o último país a abolir a escravidão na América. Este fato parece tão distante, mas a escravidão marcou profundamente a sociedade brasileira. O maior desafio está no reconhecimento de existência do racismo e das suas consequências até os dias de hoje, expressadas nas desigualdades sociais entre brancos e negros. Depois de estabelecidas, as desigualdades também podem ser utilizadas para justificar e gerar mais preconceitos. A referência histórica do negro na sociedade brasileira, neste sentido, está ligada ao trabalho braçal, ao uso dos seus corpos, da violência e da desumanidade. Não é à toa que os movimentos negros batalham pelo resgate dos universos culturais dos povos que foram trazidos e aqui escravizados, das suas formas de resistência, organização, visão de mundo e conhecimentos. A construção da identidade negra não é só um meio de reivindicar direitos e justiça, mas uma forma de afirmar seu patrimônio para além da escravidão, da música, da religião e da capoeira (CARRARA et al., 2010). O racismo afeta dramaticamente homens e mulheres negros/as em todos os espaços sociais. No entanto, vale ressaltar que, no caso brasileiro, as mulheres negras são as que mais sofrem as consequências da desigualdade. O racismo, seus efeitos e mecanismos de reprodução têm impactado de modo expressivo e perverso a sociedade brasileira. As mazelas da escravidão se disseminaram, criaram raízes e se transmutaram a ponto de funcionar como meio eficiente de segregação em tempos de liberdade, alimentado e disfarçado pelo “mito da democracia racial”. Por que mito? Porque no Brasil nunca existiu e não existe igualdade. Democracia implica em direitos iguais para todos/as. Na Bacia de Campos existem inúmeros territórios de quilombos: Sobara (Araruama); Maria Joaquina, Botafogo, Preto Forro e Maria Romana, Caveira, Botafogo (Cabo Frio); Baía Formosa e Rasa (Armação dos Búzios); Boa Vista, Bacurau, Machadinha, Mutum e Santa Luzia (Quissamã); Aleluia, Batatal, Cambucá, Conceição do Imbé, Lagoa Feia, Sossego (Campos dos Goytacazes); Deserto Feliz e Barrinha (São Francisco de Itabapoana). Muitos habitantes destes territórios lutam até hoje pela demarcação e titularidade das terras, enfrentando o racismo, os latifundiários, os grileiros, a burocracia e a má vontade política. Você conhece os territórios de quilombolas do seu município? Quais as suas riquezas e potencialidades? Quais os seus desafios? Da escravidãoao racismo contemporâneo 21 Será que já não está mais do que na hora de parar e refletir, se possível coletivamente, sobre o preconceito que sai das nossas bocas e dos nossos gestos? Por exemplo, nesta lista que segue, quais você conhece? Aonde ouviu? Quem falou? Leia cada uma com o máximo de atenção e reflexão crítica: “Serviço de preto”; “a coisa tá preta”; “mercado negro”; “denegrir”; “da cor do pecado”; “mulata exportação”; “negra de beleza exótica”; “negra com traços finos”; “negro de alma branca”; “não sou tuas negas”; “cabelo ruim”, “cabelo de bombril”, “cabelo duro”; “quando (o cabelo) não está preso está armado”; “nasceu com um pé na cozinha”; “grávida da barriga suja” (RIBEIRO, s/d) Em uma perspectiva de gênero, mulheres negras sofrem discriminações não só dos homens e mulheres brancas, mas também dos homens negros, indicando que o machismo contra as mulheres negras se expressa “em preto e em branco”. Para alguns pesquisadores, a soma de pretos e pardos (classificações do IBGE) deve ter por resultado a cor negra para efeitos da identidade de parte significativa da população brasileira. Para muitos/as brasileiros/as, e para a militância dos movimentos negros, a descendência africana é a marca principal para a identificação, então também se utiliza o conceito afrodescendente ou afro- brasileiro. Situação da População Negra O acesso ao trabalho. A situação da população afrodescendente no Brasil já foi pior, mas ainda não se pode comemorar, no sentido da ampla superação das desigualdades. Ademais, tais mudanças não eliminaram o racismo que permeia o cotidiano brasileiro, inclusive no mercado de trabalho. Neste campo, persistem importantes diferenças ao acesso, no tipo de ocupação ou profissão e remuneração relacionados ao sexo e à raça/cor das pessoas. No que tange ao trabalho formal, 68,6% são ocupados por pessoas da cor ou raça branca e 54,6% são da cor ou raça preta ou parda.11 11 Dados e nomenclaturas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), síntese de indicadores do ano 2017. De acordo com o Instituto, trabalho formal inclui empregado com carteira de trabalho assinada, trabalhador doméstico com carteira de trabalho assinada, militar, funcionário público estatutário, conta própria e empregador que contribuíam para a previdência social. 22 A participação no mundo do trabalho tem marcado a história das mulheres negras em diferentes atividades: nas ruas, nas lavouras, nos mercados, na produção de diversos utensílios e produtos, além do trabalho doméstico. Com o fim do sistema escravocrata, o trabalho das mulheres negras foi fundamental para a sobrevivência da comunidade, uma vez que o Estado brasileiro, dominado pela elite e influenciado por ideias racistas, recusou-se a tomar medidas para a integração da população negra à sociedade. Com isto, tiveram restringidas suas oportunidades e inserção no mercado de trabalho que se formava na sociedade pós-escravidão. A análise da taxa de atividade nas grandes regiões, de acordo com a idade (25 a 59 anos), cor ou a raça, mostrou uma maior inserção no mercado de trabalho das mulheres brancas (66,1%) em relação às negras (64%). No caso das mulheres negras, a dupla discriminação (racismo e sexismo) faz com que ocupem os piores postos e ganhem os menores salários. Ainda que o rendimento das mulheres negras tenha sido o que mais se valorizou entre 1995 e 2015 (80%), comparado ao dos homens brancos, que menos cresceu (11%), não houve alteração na escala histórica de remuneração: homens brancos têm os melhores rendimentos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras (IBGE, 2017). Com o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, ocorreu o fenômeno da dupla jornada feminina. Há, contudo, um impacto diferenciado da dupla jornada do ponto de vista racial e étnico. Boa parte das pessoas que possuem maior poder aquisitivo ou que vêm conquistando a autonomia financeira têm recorrido à contratação, em grande maioria, de mulheres para exercer a atividade doméstica. As mulheres negras continuam com o maior percentual que desempenha o trabalho doméstico. 23 Os/as negros/as e o acesso ao conhecimento (escolaridade). Segundo dados organizados pelo movimento “Todos pela Educação”, os brancos são a parcela da população que frequenta a escola por mais tempo. A taxa de analfabetismo é de 11,2% entre os pretos, 11,1% entre os pardos, e 5% entre os brancos. 24 25 Para um conhecimento crítico sobre a presença de negros/as na formação da sociedade brasileira, espera-se que a educação seja grande aliada contra o racismo e contra as desigualdades sociais a que está submetida. A escola é lugar por excelência para a promoção da igualdade de gênero, no diálogo com raça/etnia e orientação sexual. O respeito e a valorização da diversidade devem estruturar os planos e programas da educação, seja ela formal, não formal ou informal. Visando reduzir o desconhecimento sobre questões raciais e o racismo, foi decretada a Lei nº 10.639/2003 que propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro- brasileira e africana. O acesso da população afro-brasileira à Universidade foi ampliado com a ação afirmativa da cota racial (Lei nº 12.711/2012), que objetiva reduzir a desigualdade entre os/as brancos/as e os/as negros/as no quesito formação universitária. A dificuldade do acesso vinha repercutindo dramaticamente no acesso das/os negras/os ao mundo do trabalho, da política e da economia. O que não invalida a incidência por educação de qualidade e valorização dos profissionais da educação em cada município. Qual a sua opinião em relação às cotas raciais? Como isto está se dando nos campos universitários da Região da Bacia de Campos? Os/as negros/as e a participação na política de Estado. Segundo as informações fornecidas pelos candidatos ao TSE, dos 513 deputados federais eleitos em 2014, apenas 22 se declararam negros e 81 pardos, o que totaliza 20%. No Senado essa realidade não é diferente. Na última eleição, apenas 5 dos 27 eleitos se dizem negros, o que totaliza 18,5%. Tal composição política não contribui para a promoção da igualdade uma vez que compromete a discussão de temas e questões específicas da população afrodescendente. São muitos os fatores que explicam este cenário. Segundo Osmar Teixeira, doutorando da USP, candidatos negros têm mais dificuldade em se eleger por dois motivos. Um deles seria a disparidade de patrimônio em relação aos candidatos brancos, resultando em campanhas extremamente desiguais. Outro, da ordem do arranjo político, é que os candidatos negros atraem poucos recursos externos e do partido.12 Ademais a cultura política brasileira também não abre espaços para sua participação. Na história política do Brasil, até 1934, mulheres, negros, pobres e analfabetos não tinham direito a voto. Não temos uma referência histórica de negros ocupando cargos e espaços de poder. Neste caso, retoma-se o uso de estereótipos, funções e lugares designados aos afrodescendentes no país. Qual a composição da Câmara Municipal da sua cidade, levando em consideração a cor dos vereadores/as? Na história política da sua cidade você consegue identificar negros e negras eleitos? 12 A sub-representação dos negros na política brasileira. Disponível em: <http://www.dw.com/pt-br/a-sub- representa%C3%A7%C3%A3o-dos-negros-na-pol%C3%ADtica-brasileira/a-40747414> Políticas Públicas e INCIDÊNCIA O que mudou nas condições de vida de mulheres e homens negros verificada nos últimos anos? As mudanças, mesmo sendo de ordem governamental e que sustentam a política de promoção da igualdade racial, são resultados da incidência política de lideranças e militantes negros/as organizados/as contra as desigualdades, a exclusão (social, política, econômica) e contra o racismo. Estas mudanças, que atualmente sofrem ameaças, por meio de governos não comprometidos com políticas sociais, podem ser elencadas a partir de trêsdimensões. 1. Políticas socioeconômicas gerais, que impulsionam a inclusão da população negra, com destaque para a expansão do mercado de trabalho formal, a política de valorização do salário-mínimo e a ampliação da cobertura da previdência social e dos programas de redução da pobreza; 2. Ações para o atendimento a direitos básicos da população negra, por meio da incorporação da perspectiva racial na execução de políticas setoriais, como previsto no Programa Brasil Quilombola e no Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana; 3. Ações afirmativas para a promoção da igualdade de oportunidades, como é o caso do estabelecimento de cotas para negros no acesso ao Ensino Superior público e no Programa Universidade para Todos (Prouni), voltado para instituições privadas (IPEA, 2014). 26 27 No seu município, quais destas políticas estão implementadas? Existe algum órgão de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo? Existe algum grupo organizado da sociedade civil com esta bandeira? SAIBA MAIS Sobre direitos e legislação Lei 9.459/1997. Serão punidos os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. SINASC e SMI: Para obtenção de informações sobre a saúde da população negra o quesito raça/cor passou a figurar nos sistemas de informação (1996) sobre nascidos vivos (SINASC) e sobre mortalidade (SMI). O Ministério da Saúde (2003) estipulou que, em todos os formulários diretos dos serviços de saúde, prontuários, fichas, diagnósticos, constem os dados de raça/cor dos/as pacientes.13 Lei 10639/2003. Propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro- brasileira e africana. Lei 12.711/2001. Lei das cotas raciais. Determina que as instituições federais de educação superior, vinculadas ao Ministério da Educação, reservarão em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. As vagas serão preenchidas por autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Lei 12.288/2010. Estatuto da Igualdade Racial. Destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica e religiosa. 13 http://api.convenios.gov.br/siconv/dados/proposta/1541105.html#sthash. mjjiwTXS.dpuf O racismo e suas marcas Em uma pesquisa realizada pelo Senado Federal, 97% dos entrevistados concordou com a afirmação que existe racismo no Brasil, contudo, um percentual quase igual afirmou que não se percebe como racista. Onde você guarda seu preconceito? No medo? No desejo? Na avaliação da intelectualidade? Na distribuição de papéis e funções por estereótipos? 28 O fato de não conseguirmos admitir para nós mesmos o quanto nossas atitudes corroboram com a manutenção dessa realidade é um dos problemas mais nocivos no país. O racismo no Brasil é estrutural, ou seja, está na base da formação da nossa sociedade. É também institucionalizado, isto é, vigora dentro das instituições de todos os níveis e alcance, chamado de racismo institucional. Ele está entranhado na cultura, no comportamento e nos valores dos brasileiros/as e das organizações, dificultando o acesso às oportunidades e igualdades para os/as negros/as. São os negros que mais morrem no Brasil. Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras (IPEA, 2017). A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. Isso corresponde a 63 mortes por dia, conforme a campanha “Vidas Negras Importam”, lançada pelas Nações Unidas. Segundo pesquisa realizada pelo Senado Federal,14 a morte violenta de jovem negro choca menos do que a de um jovem branco no Brasil. Por quê? Racismo é crime (Lei 12.288/2010) mas, mesmo assim, o acesso à justiça é dificultado pela negação da sociedade da existência do mesmo, assim como é difícil a condenação de alguém por atos racistas. A Lei n. 12.288/2010 - Estatuto da Igualdade Racial, art. 1º, parágrafo único define: I - Discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada; II - Desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas públicas e privadas, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; III - Desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; IV - População negra: conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam auto definição análoga; V - Políticas públicas: ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais; VI - Ações afirmativas: programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades. 14 Acesso em <http://www.senado.gov.br/senado/datasenado/release_pesquisa.asp?p=44> 29 A incidência implica em exigir políticas, programas e ações de enfrentamento ao racismo, em interseção com as políticas de gênero e políticas que promovam a educação pela igualdade e respeito às diferenças, assegurando a incorporação da perspectiva de gênero e da orientação sexual, ampliando os direitos das mulheres em suas múltiplas possibilidades identitárias. A juventude é um período crucial para a construção da identidade dos indivíduos. Por isso, a tendência dos/as jovens é experimentar, arriscar, criticar, questionar o que é apresentado como certo e definitivo. Também nessa fase, pertencer a um lugar e ser reconhecido e validado pelo grupo são sinais muito valorizados. Testam comportamentos, atitudes e linguagens, se associam a diversos grupos, numa tentativa de viver intensamente as emoções e conquistar um espaço no presente. Os jovens não são um problema social, são sujeitos de direitos e deveres e é nesta perspectiva que cada vez mais programas e políticas se voltam às questões direcionadas a este segmento, considerando as perspectivas de gênero, onde se incluem as orientações sexuais e raça/etnia, e considerando o seu potencial juvenil para o protagonismo. 30 Segundo o IBGE (2010), o Brasil possui 51 milhões de jovens entre 15 a 29 anos de idade. Quem é jovem? Para a UNESCO (2005), o termo juventude se refere ao “período do ciclo da vida em que as pessoas passam da infância à condição de adultas e, durante o qual, se produzem importantes mudanças biológicas, psicológicas, sociais e culturais, que variam segundo as sociedades, as culturas, as etnias, as classes sociais e o gênero”. A partir das demandas e intervenções dos movimentos organizados de juventude (s) brasileira (s), foi aprovado o Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852/2013) que também considera jovem as pessoas com idade entre 15 e 29. 1 15 http://juventude.gov.br/estatuto SAIBA MAIS Sobre Legislações e direitos: Lei nº 12.852/2013 - Estatuto da Juventude15: considera jovem a pessoa com idade entre 15 e 29 anos e prevê 11 direitos para o segmento: •Direito à Diversidade e à Igualdade; •Direito ao Território e à Mobilidade; •Direito à Segurança Pública e ao Acesso à Justiça; •Direito à Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil; •Direito à Profissionalização, ao Trabalhoe à Renda; •Direito à Saúde; •Direito à Educação; •Direito à Sustentabilidade e ao Meio Ambiente; •Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão; •Direito à Cultura; •Direito ao Desporto e ao Lazer; O que existe no seu município que garanta dos direitos dos/as jovens? Funciona? Como deveria ser? Existem grupos jovens e quais os objetivos destes grupos? Há diálogo entre gestores de políticas públicas e os/as jovens? Há Conselho de Juventude em seu município? 31 Jovens brancas/os, jovens negros/ as, jovens pobres, jovens indígenas, jovens das áreas rurais e jovens ricos/as ou de classe média vivem de forma diferenciada este momento da vida, em uma sociedade marcada por desigualdades sociais, raciais e de gênero. A maneira como o/a jovem se vê, e como é visto, depende dos contextos nos quais se encontra inserido/a. Cada um/a atribui um sentido a sua “juventude”, entendendo que nem todas as pessoas de uma mesma idade percorrem este período da mesma forma. Em vez de procurar afirmar a existência de um conceito fechado de juventude, é importante que este período da vida seja entendido a partir de múltiplas perspectivas, diretamente relacionado a cada contexto sociocultural vivenciado. Diante disso, concebemos a coexistência de várias ‘juventudes’, segundo um ponto de vista que integra as diversas influências e referências biológicas, subjetivas, sociais, históricas, econômicas, políticas e culturais na construção e compreensão desse conceito. Os/as jovens formam um segmento social atuante de grande valor e que traz diferentes demandas. Dizem o que pensam e sentem, se manifestam de diferentes maneiras, participam da vida social, formam grupos societários, constroem identidades, marcando significativas diferenças com relação às outras gerações por meio do comportamento, da linguagem, das músicas, dos gostos e hábitos de consumo. Quantos são? Como vivem? O que fazem? O que querem os/as jovens do seu município? O que realizam em prol dos seus direitos, considerando as especificidades (diferenças) de gênero, raça/etnia, orientação sexual, crenças religiosas, entre outras? 32 Militantes jovens têm chamado a atenção para falarmos em juventudes, no plural, em virtude da diversidade de modos de ser jovem, o que leva a afirmar que um jovem homem negro e pobre vive uma realidade diferente de um jovem homem branco e pertencente a uma classe de maior condição socioeconômica, ou ainda como se dá em formato diferente a vida de uma jovem mulher negra e pobre, moradora de periferia e sem escolarização. Os jovens brasileiros hoje. Os expressivos contingentes de jovens existentes no conjunto geral da população brasileira, somado ao aumento da violência, da pobreza e ao declínio das oportunidades de trabalho, estão deixando esta parcela da sociedade sem perspectivas para o futuro – sobretudo o segmento de jovens que vivem em situações sociais precárias e as/os jovens negras/os – e, aquém das necessidades mínimas para garantir participação ativa no processo de conquista da cidadania (ABRAMOVAY ET AL, 2002) Vulnerabilidades. Para maior entendimento da (s) juventude (s) e para o desenvolvimento de projetos ou incidências direcionados a este segmento, tem que se considerar as vulnerabilidades a que estão expostas/ os. Vejamos as principais: Vulnerabilidade a contextos de risco: fatores externos - pobreza; ausência ou baixa qualidade de políticas de saúde, de educação, de segurança; abandono da escola; baixa escolaridade; precariedade e informalidade das condições e relações de trabalho; moradia em territórios com alto índice de violência causada por grupos armados por domínio do território onde se destaca o tráfico de drogas; Vulnerabilidade a comportamentos de risco: vivência sexual sem proteção (riscos para ambos os sexos de contrair DST/AIDS). Para as jovens, além do risco de contraírem alguma DST/AIDS, existe a possibilidade de engravidar, seguido da experiência de abortos mal feitos e, na maioria das vezes, em péssimas condições, muitas vezes responsáveis por sequelas que podem comprometer a saúde sexual, reprodutiva e emocional. A maternidade em situação de vida precária expõe, principalmente as mães jovens, ao risco de empregos precários, baixos salários, evasão escolar, prostituição. Vulnerabilidade a estruturas de risco, ou com acumulação de fatores de risco: esta classificação, além de conjugar as duas anteriores, se refere às questões e relações intergeracionais, relações de gênero, relações interétnicas e inter-raciais; a situação de desemprego, a gravidez sem planejamento, às vezes consequência de estupro. Alguns problemas se sobressaem em um leque de inúmeros problemas que a juventude vem enfrentando. A baixa escolaridade provocada pela evasão escolar, por motivos diversos, em que se destaca a premência econômica das famílias tendo o/a jovem que ingressar no mercado de trabalho informal e precarizado; à gravidez na adolescência. 33 Neste tema chama a atenção a formação de uma categoria de jovens que recebem a classificação de geração “nem-nem”, isto é, não estudam nem trabalham. Veja o gráfico: De acordo com a pesquisa “Síntese de Indicadores Sociais” (IBGE, 2017), a maioria dos que formam a geração “nem-nem” (nem estuda, nem trabalha) é de mulheres: 70,3%. Dado que a juventude é um período crucial para a formação educacional e profissional das pessoas, gera preocupação o fato de uma parcela dos/as jovens estar afastada das escolas e do mercado de trabalho. Em 2011, havia no Brasil 3,2 milhões de jovens entre 19 e 24 anos nessa situação, o que representa 17% dessa população (MONTEIRO, 2013). Um milhão dos 3,2 milhões de jovens na condição “nem-nem” tem Ensino Fundamental incompleto. A condição “nem-nem” é mais preponderante entre jovens com baixa escolaridade e de baixa renda e mulheres, especialmente com filho. Quando se comparam as condições e trajetórias de jovens negros/as com jovens brancos/ as, as desigualdades são ainda maiores no grupo negro. A escolaridade média de um jovem negro com 25 anos de idade gira em torno de 6,1 anos de estudo; um jovem branco da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo. A evasão escolar contribui para que negros e negras se mantenham em desvantagem nos diferentes aspectos de suas vidas, quer seja no mercado de trabalho, ou nos demais direitos básicos como: saúde, habitação, saneamento, segurança, alimentação, lazer, etc. Como proporcionar um ambiente escolar menos excludente? 34 O problema da violência O Mapa da Violência 2016 (JACOBO, 2014) apresentou um resultado dramático: em 2012, 30 mil jovens de 15 a 29 anos foram assassinados, num total de 63 por dia. Se os dados mostram que 77% do total destas mortes são de jovens negros e pobres, pode-se dizer que “no Brasil, a violência tem sexo e cor”. CERQUEIRA e MOURA (2013) apontam que, além da situação socioeconômica e do acesso desigual às políticas públicas, também o racismo da sociedade brasileira tem influência direta nos elevados índices de mortes violentas de negros e, em específico, dos negros jovens. Segundo pesquisa (SINHORETO et al, 2014), que analisou 939 casos de ações policiais no Estado de São Paulo entre os anos de 2009 e 2011, 61% das vítimas de morte por policiais eram jovens e negros. No âmbito infanto juvenil, os dados são mais alarmantes: entre 15 e 19 anos, duas a cada três pessoas mortas pela PM são negras. Dados sobre prisões em flagrantes também foram analisados e os resultados demonstram que também há predominância de jovens homens negros encarcerados. Cerca de 2,5 negros são presos para cada pessoa branca (SINHORETTO et al, 2014). Nas cidades, a presença e o poder armado do tráfico de drogas criam em muitos adolescentes e jovens a ideia de que participar de alguma forma dessa estrutura é a única maneira de conseguir sucesso, visibilidade e reconhecimento. O preço pago por isto é alto, muitas vezes com a própria vida. A gravidez na adolescênciae no início da juventude tem sido uma questão bastante discutida e está articulada com raça/etnia. É assunto para famílias, para a escola, para políticas públicas. Nos programas de saúde integral da mulher devem estar inseridos os direitos sexuais reprodutivos das adolescentes e jovens. É assunto que requer informação, debate. Não é assunto para julgamentos morais. Gravidez neste período da vida leva um número considerável de adolescentes e jovens a abandonarem a escola, ao desemprego e a uma vida de dificuldades se, porventura, não obtiverem apoio. Também podem recorrer ao aborto na clandestinidade e em péssimas condições. Geralmente as jovens mães ficam sozinhas para criar os/as filhos/as. As DSTs/AIDS em ascensão entre os/as jovens. Mesmo com as redes sociais, muitas escolas falando sobre a importância da prevenção e do autocuidado, as Doenças Sexualmente Transmissíveis, onde se inclui a AIDS, circula livremente entre os/as jovens brasileiros/as. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (2015), realizada nas escolas de todo o país com adolescentes de 13 a 17 anos, informou que: 35,6% dos alunos não usaram preservativos em sua primeira relação sexual. O percentual das meninas que tiveram relação sem camisinha é de 31,3%, e dos meninos é ainda maior, 43,02%. O mesmo estudo aponta que, quanto mais jovem, menor é o uso da camisinha. 35 O que fazer para mudar tal quadro? Protagonismo juvenil em ascensão Ao longo do tempo, a visão sobre as juventudes em situação de vulnerabilidades passou de uma concepção repressivo/correcional (que procurava, pela contenção, “livrar” os/as jovens de seus “aspectos nocivos”) para uma ideia assistencialista, que via no jovem alguém que não tem, não sabe e não pode nada e que, portanto, precisaria ser suprido pelo educador. Finalmente, tem se consolidado uma vertente cidadã, que considera o jovem protagonista, sujeito de direitos e de deveres. O protagonismo juvenil é a atuação de adolescentes e jovens, através da participação construtiva e do envolvimento com as questões da própria adolescência/juventude, assim como, com as questões sociais da comunidade e/ou da sociedade em um sentido mais amplo. O projeto NEA-BC envolve homens e mulheres de diferentes faixas etárias. Criar o espaço de convivência sem discriminação e trocas entre gerações é muito enriquecedor para todos/ as. Tudo o que diz respeito à conquista e garantia de direitos é assunto de todos/as. A aliança intergeracional é capaz de surtir efeitos de grande magnitude para toda a comunidade. Ouvir os/as jovens, reconhecendo e partilhando as suas opiniões, demandas, necessidades e desejos é uma das chaves para se projetar sociedades mais inclusivas, menos violentas, como também para dar sustentabilidade, na ótica da interseção com gênero (onde se incluem as orientações sexuais) e raça/etnia, o enraizamento de relações mais cordiais e equitativas. É preciso continuar acreditando que a transformação é possível, que a educação socioambiental faz sentido e tem potencial para melhorar a vida pessoal e social de cada um e, consequentemente, de todos/as. Há inúmeros/as jovens dispostos/ as a se envolverem em projetos coletivos e participarem de ações em benefício da comunidade, mas em alguns casos, podem não encontrar oportunidades para o engajamento e a participação. 36 Os/as jovens são sujeitos de direitos, e assim devem ser considerados. Precisam ser protagonistas nos projetos sociais e socioambientais como sujeitos que podem e devem contribuir com o que acontece. Com isso, vão percebendo que as suas atitudes têm consequências para a sua trajetória de vida, para o seu desenvolvimento e para o desenvolvimento do coletivo. Reconhecer o potencial da juventude, fomentá-lo, instigar a reflexão sobre a própria realidade, provocar a curiosidade em relação a outras realidades é também uma forma de assimilar conhecimentos, ampliar a sua visão de mundo, assim como dos/as educadores/as socioambientais. Para a mobilização e participação dos/as jovens pelas questões que lhes são subjacentes, a incidência deve ter por início levantamentos que precisam ser feitos (ou conhecidos os que existem) em relação às/aos jovens dos municípios da Bacia de Campos. Neste levantamento devem ser buscados, sem preconceito, grupos atuantes de jovens em diversos setores da comunidade, conhecer as suas linguagens, criar canais de comunicação (rede de juventudes), com base em metodologias participativas e criativas. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMO, Laís. Desigualdades de Gênero e Raça no Mercado de Trabalho Brasileiro. Ciência e Cultura, Vol.58, no. 4.São Paulo. Out. /Dez. 2006. 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