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Interfaces entre Antropologia e Saúde

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RAYNAUT, Claude. INTERFACES ENTRE A ANTROPOLOGIA E A SAÚDE: em busca de novas abordagens conceituais. Porto Alegre: Rev Gaúcha Enferm, 2006.
Além do resumo e conclusão, o artigo se divide em tópicos e subtópicos, através dos quais, em dezessete páginas, o autor discorre sobre a importância da troca entre Antropologia e áreas da saúde.
Nos primeiros parágrafos do texto, é exposto que a complexidade da pessoa humana não se resume a uma única dimensão. É preciso que os profissionais vejam o ser humano como um todo e não apenas uma parte, enxerguem que o ser humano é um ser que vive tanto do intangível quanto do tangível.
Como o exposto pelo autor, o pensar cientificamente e a separação de disciplinas possibilitaram que o mundo chegasse no avanço atual, tornando-se, portanto, conceitos inseparáveis. Por outro lado, embora tão relevante para o avanço cientifico, pouco a pouco essa separação disciplinar separou o pensamento em territórios cada vez mais exclusivos uns dos outros. Criou-se barreiras em vez de pontes, isolamento entre as disciplinas em vez de comunicação. Um aluno de medicina pouco conhecerá das dimensões sociais que da área que atuará, da mesma forma que um aluno de Ciências Sociais pouco saberá sobre o corpo humano. A percepção da existência dessa realidade levou tanto disciplinas da área da saúde como Ciências Sociais a esforços para reduzir a fragmentação entre as áreas, uma vez que não é somente com a técnica isolada de uma das áreas que se eliminará as raízes dos problemas sociais, mas, ainda assim, a pratica concreta ainda é um desafio.
Por outro lado, a má interpretação da interdisciplinaridade pode levar a criação de profissionais que sabem de tudo e nada, ao mesmo tempo. É necessário que haja consciência de que a interdisciplinaridade consiste em ser competente na própria área, reconhecendo, contudo, os limites que há nela e utilizar o conhecimento das outras disciplinas para ampliar a visão da realidade, resultando em uma maior disposição a fazer trocas entre as áreas. 
Partindo dessa ideia inicial, o autor apresenta dois pressupostos dos quais são analisadas as problemáticas. Em primeiro momento, é apresentado o individual e o coletivo, onde nos deparamos com as formas que a antropologia pode contribuir para as áreas da saúde na análise dos fatos sociais, do individual ao coletivo, tentando entender os fenômenos por trás da realidade social. O paradoxo do trabalho do indivíduo na construção social é central para a antropologia, onde observa-se que o indivíduo é ator na construção social, tanto produto como produtor social. Quanto ao individual versus o coletivo, o tema se insere perfeitamente na área da saúde, pois o corpo humano é o local privilegiado de confrontação entre o individual e o coletivo. Enquanto a sociedade submete seus membros a suas normas, seus cânones, seus padrões, etc. Já em uma faceta antagônica, mas crucial, as unidades políticas e familiares assumem o papel de proteger os indivíduos de agressões externas juntamente com suas individualidades. Todo indivíduo está sujeito aos comandos interiores de suas funções biológicas, mesmo que para satisfazê-las precise interagir com outro sujeito. É esse trabalho de cada pessoa sobre si mesma que constitui as teias de relações e trocas que é a base da vida social.
Em um segundo momento do texto, também somos apresentados a outra ótica sob a qual a problemática pode ser analisada: o ideal e o material. Segundo Raynaut, nessa ótica também há conceitos antagônicos, mas que se complementam entre si, como quando cita que a imaterialidade é modelada pela materialidade e, por outro lado, a natureza é modelada e alterada por valores e pensamentos que se originam no imaterial. No primeiro caso, o imaterial é resultado do material, enquanto no segundo o material se origina do imaterial. Quando inserida no contexto da união entre antropologia e saúde, a relação entre material e imaterial se apresenta com o conceito do corpo representando a interface mais íntima entre o natural e o social.
Quando as ideias foram confrontadas com realidades concretas, na pesquisa exposta por Raynaut, pouca era a diferença nutricional observada entre crianças da burguesia e crianças pobres em Niger. Ou seja, a pesquisa trouxe um resultado revelador: nas famílias com melhor poder econômico, crianças comiam mais, mas sem qualidade nutricional, enquanto crianças pobres, embora tivessem menos alimentos, possuíam maior qualidade nutricional contida nesses. O motivo por trás do resultado surpreendente, segundo o autor, também pode ser observado na cidade de Paranaguá, no Brasil. Embora em um contexto ambiental e cultural diferente, notou-se a existência uma rede de circulação e distribuição de alimentos semelhante a de Niger, sendo desempenhado por amigos, vizinhos, igrejas e distribuição de cesta básica por parte de relações políticas. Com os resultados adveio a noção de que a condição nutricional das crianças se originava de uma relação imaterial.
Em outra pesquisa, apresentada no subtópico 3.2, os jovens e a AIDS na África, é estudada a noção do risco de contaminação pelo HIV por jovens que saíram da escola antes da formação e dos que receberam o diploma. Como discorrido nos parágrafos seguintes, os jovens não conseguem encontrar ideias firmes, em meio ao cenário caótico, para se apoiar, para resolver problemas e anseios a curto prazo. Por outro lado, encontram o procurado em teias de relações sociais com outros jovens, seu porto seguro. Principalmente entre homens, onde é desprezado o contato afetivo prolongado com mulheres e valorizado o grande número de conquistas sexuais. No outro lado estão as jovens, que não possuem um sistema de relação tão complexo, mas mais individualista, buscando na atração sexual que exerce sobre homens adultos a busca por proteção e solução para problemas econômicos do cotidiano. Por outro lado, resulta em outro problema: a gravidez na adolescência.
O comportamento, porém, não vinha da falta de informação. Como exposto na pesquisa, os jovens possuíam boas informações sobre a doença, sua transmissão e formas de se prevenir. O HIV era o problema maior, mas os problemas a curto prazo, como as necessidades de alimentos, vida estável e aceitação social pesavam mais na balança mental dos entrevistados do que a doença. Mas nem todos os jovens possuíam comportamento de risco. Os que apresentavam o comportamento oposto ao dos primeiros, por outro lado, não eram mais precavidos por serem mais informados, mas sim porque conseguiam melhores fontes de respostas para outros inúmeros problemas. Como apontado no artigo, a falha da estratégia das campanhas de prevenção se encontra na simplificação da relação sexual, na generalização e não percepção de diferentes realidades materiais, como também sociais e culturais enfrentadas pelo público alvo. Em outro ponto do artigo, é apresentado que os que melhor conseguem lidar com os problemas são aqueles que conseguem melhor se projetar para o futuro.
No penúltimo tópico do artigo, é exposto a problemática da visão sobre a questão do transplante de órgãos. Como impedir que o ser humano ainda consciente veja o ser humano, que está prestes a partir, ainda como um indivíduo? A resposta para essa questão é o que pode impedir a doação de órgãos de virar um mercado. Como uma das soluções para impedir que a imaterialidade influísse diretamente de forma negativa na materialidade, foi implementada a adoção do sistema de doações voluntárias, anônimas e o tratamento do doador ainda como paciente, para assim impedir que a doação seja vista como mercadoria e o doador como apenas um cadáver, mas sim como um ato nobre.
Dessa forma, é exposto a relevância da Antropologia associada as Áreas da Saúde para uma maior compreensão das problemáticas de saúde com que esses profissionais se deparam no cotidiano do trabalho com seus pacientes. Conhecer os papeis do social e suas facetas refletidas na saúde é fundamental para se distanciar do fracasso nas propostas de soluções, tanto nos processos de conhecimento quantona elaboração de programas de ação. Assim sendo, de fato, a relevância de troca entre as duas disciplinas é evidenciada como fundamental pelo autor e se mostra como uma ferramenta eficiente na amplitude de horizontes que poderá resultar na melhor resolução dos problemas encontrados nas disciplinas da saúde.

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