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62 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II Unidade II Avaliação do ensino-aprendizagem: dimensões legais, políticas e éticas 5 AvAliAção nos Anos iniciAis do Ensino FundAmEntAl E nA EducAção inFAntil Coerente com uma perspectiva formativa, a atual legislação da educação básica no Brasil (LDB, 1996), apresenta os critérios que deverão ser observados para a verificação do rendimento escolar, conforme segue: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos (LDB, 1996, Capítulo II, art. 24, inciso V). lembrete A avaliação formativa engloba todas as atividades do professor e dos alunos que proveem informações para modificar as atividades de ensino e aprendizagem e servem como fonte de regulação intencional da aprendizagem. O critério de “avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”, conforme alínea “a”, citada anteriormente, é expresso na concepção de avaliação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para os anos iniciais do Ensino Fundamental, os quais se distanciam da visão tradicional “que focaliza o controle externo do aluno mediante notas ou conceitos” (PCN, p. 55). 63 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl A concepção presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) compreende a avaliação “como parte integrante e intrínseca ao processo educacional” (PCN, p. 56), afirmando que: A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como um conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno. Possibilita conhecer o quanto ele se aproxima ou não da expectativa de aprendizagem que o professor tem em determinados momentos da escolaridade, em função da intervenção pedagógica realizada. Portanto, a avaliação das aprendizagens só pode acontecer se forem relacionadas com as oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar (PCN, p. 56). Fica clara nos PCN a abordagem formativa da avaliação, uma vez que é entendida como fonte de informação para professor, aluno e escola, conforme sintetizamos a seguir (PCN, p. 56): Quadro 10 Abordagem formativa dos PCN: avaliação como fonte de informação Professor Aluno Escola Oferece subsídios ao professor para uma reflexão contínua sobre sua prática, criação de novos instrumentos de trabalho e retomada de aspectos não dominados. Permite ao aluno a tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para a reorganização de seu investimento na tarefa de aprender. Possibilita à escola definir prioridades e localizar os aspectos das ações educacionais que demandam maior apoio. Fonte: PCN (1997). Os PCN destacam a necessidade de se promover uma regulação contínua e sistemática da aprendizagem, princípio da avaliação formativa já destacado na unidade anterior, o que requer que esta ocorra durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não somente ao final de etapas do trabalho, como ainda se verifica nas práticas atuais. Essa é a concepção que precisa ser valorizada para o sucesso dos alunos, pois possibilita ajustes constantes em um mecanismo de regulação do processo de ensino e aprendizagem que evita o surgimento de lacunas difíceis de serem preenchidas, se for postergada a ajuda de que o aluno precisa para sua progressão na aprendizagem. Isto não quer dizer que não haja a necessidade de se considerar determinadas etapas para acompanhamento e reorganização do processo de ensino e aprendizagem na escola, pois uma abordagem formativa não exclui avaliação de resultado. 64 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II Sob essa perspectiva, convém lembrar que a avaliação formativa envolve: 1. Avaliação inicial (regulação de base): • Permite o conhecimento da situação real do aluno, de partida, em função de determinados objetivos bem definidos. 2. Planejamento: • Oferece subsídios para o planejamento das possíveis intervenções pedagógicas e de estratégias de diferenciação do ensino. 3. Regulação da aprendizagem: • Permite o levantamento de informações e adequação ou ajuste constante das situações didáticas e dos próprios conteúdos de trabalho às necessidades de aprendizagem. • Requer considerar que toda situação ou atividade são fontes de informações para que o professor conheça o aluno para ajudá-lo. 4. Avaliação final ou integradora: • Diz respeito à análise dos resultados obtidos e de todo o percurso do aluno. A avaliação formativa supõe a definição de encaminhamentos pedagógicos para atendimento dos alunos em termos de conteúdos, habilidades ou competências ainda não atingidas. Quanto a essas etapas da avaliação, os PCN apresentam as seguintes observações: Mesmo que o professor acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha registros detalhados sobre o desempenho dos alunos no ano anterior, não se exclui essa investigação inicial, pois os alunos não deixam de aprender durante as férias e muita coisa pode ser alterada no intervalo dos períodos letivos. Mas essas avaliações não devem ser aplicadas exclusivamente nos inícios de ano ou de semestre; são pertinentes sempre que o professor propuser novos conteúdos ou novas sequencias de situações didáticas (PCN, p. 56). Sobre a avaliação final, os PCN enfatizam que “o processo também contempla a observação dos avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos ao final de um período de trabalho, seja este determinado pelo fim de um bimestre ou de um ano, seja pelo encerramento de um projeto ou sequência didática” (PCN, 1997, p. 56). O entendimento de avaliação contido nos PCN (1997) está baseado nos seguintes pressupostos de uma abordagem formativa: 65 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl • A avaliação envolve tanto o processo que o aluno desenvolve ao aprender como o produto alcançado. • A avaliação se aplica não apenas ao aluno, considerando as expectativas de aprendizagem, mas também às condições de ensino que favorecem o aprendizado. observação “Se não há a aprendizagem esperada significa que o ensino não cumpriu com sua finalidade: a de fazer aprender” (PCN, 1997, p. 56). Em resumo, para que seja um instrumento do avanço intelectual e social do aluno, ajudando a escola a alcançar seus objetivos de democratização do conhecimento, os PCN (1997, p. 57) propõem que a avaliação seja considerada como: • elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino; • conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma; • conjunto de ações que busca obter informações sobre o quefoi aprendido; • elemento de reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa; • instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades; • ação que ocorre durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não apenas em momentos específicos caracterizados como fechamento de grandes etapas de trabalho. Também encontramos nos PCN (1997, p. 57) indicações de como o professor pode realizar a avaliação, conforme o quadro a seguir: Observação sistemática: acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos, utilizando alguns instrumentos, como registro em tabelas, listas de controle, diário de classe e outros. Análise das produções dos alunos: considerar a variedade de produções realizadas pelos alunos, para que se possa ter um quadro real das aprendizagens conquistadas. Atividades específicas para avaliação: nestas, os alunos devem ser objetivos ao tratar de um tema, ao responder um questionário. Figura 9 66 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II Os PCN (1997) chamam a atenção para dois aspectos muito importantes para que a avaliação não seja arbitrária: 1º) garantir que as atividades de avaliação sejam semelhantes às situações de aprendizagem, com estruturas semelhantes às que os alunos estão habituados em sala de aula; 2º) deixar claro para os alunos o que se pretende avaliar, pois é nesta direção que os alunos se mobilizarão, tendo maiores chances de demonstrar o que aprenderam. observação Quanto mais claros os conteúdos e o grau de expectativa da aprendizagem, mais os alunos poderão desenvolver, com a ajuda do professor, estratégias pessoais e recursos para vencer dificuldades. Quanto à Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, cuja finalidade “é o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29, LDB, 1996), “a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental” (LDB, 1996, Capítulo II, art. 31). Considerando esse princípio, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB 5, de 18/12/2009) apresentam as seguintes determinações para a avaliação da Educação Infantil: Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para o acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: I –a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II –utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); III –a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola. 67 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl Os princípios norteadores do processo de avaliação na Educação Infantil são abordados no Parecer CNE/CEB nº 20/2009, que trata de revisão das diretrizes curriculares nacionais para esta etapa da educação básica. De acordo com esse parecer “as instituições de Educação Infantil, sob a ótica da garantia de direitos, são responsáveis por criar procedimentos para avaliação do trabalho pedagógico e das conquistas das crianças” (p. 16). Destacaremos a seguir algumas ideias em que se fundamenta o referido parecer (BRASIL, 2009, p. 16-17), que se situam dentro de uma abordagem formativa de avaliação, ou seja, como instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica na busca de melhores caminhos para se orientar as aprendizagens das crianças, devendo considerar todo o contexto de aprendizagem. A avaliação é entendida pelo professor como processo de pesquisa dos facilitadores e dificultadores da aprendizagem e desenvolvimento das crianças para ajustar a situação à proposta pedagógica de cada escola. Conforme destacado pelo parecer: [...] a avaliação, conforme estabelecido na Lei nº 9.394/96, deve ter a finalidade de acompanhar e repensar o trabalho realizado. Nunca é demais enfatizar que não devem existir práticas inadequadas de verificação da aprendizagem, tais como provinhas, nem mecanismos de retenção das crianças na Educação Infantil. Todos os esforços da equipe devem convergir para a estruturação de condições que melhor contribuam para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança sem desligá-la de seus grupos de amizade (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16). Para que a avaliação na Educação Infantil sirva para o propósito de desenvolvimento do aluno, recomenda-se a observação sistemática do comportamento de cada criança e de grupos de crianças e das brincadeiras e interações entre elas no cotidiano, registrando-os por meio de relatórios, desenhos, fotografias, álbuns etc. Tais observações devem compor registros diversificados feitos por adultos e crianças em diferentes momentos para que se possa compreender “como a criança se apropria de modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos” (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16). Por meio da observação sistemática, o professor terá condições de conhecer (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16): • as preferências das crianças; • a forma delas participarem nas atividades; • quem são seus parceiros prediletos para a realização de diferentes tipos de tarefas; • as narrativas das crianças. 68 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II O conhecimento advindo da observação sistemática ajudará o professor a reorganizar as atividades de modo mais adequado ao alcance dos propósitos infantis e das aprendizagens trabalhadas coletivamente (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16). observação A documentação dessas observações deve acompanhar a criança na etapa da Educação Infantil e ser entregue quando da matrícula no Ensino Fundamental, garantindo a continuidade dos processos educativos vividos por ela. Também os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – RCNEI (p. 65-66) orientam quanto à necessidade de proceder à avaliação formativa por meio de observação e registro “das formas de expressão das crianças, de suas capacidades de concentração e envolvimento nas atividades, de satisfação com sua própria produção e com suas pequenas conquistas” de forma que o professor possa acompanhar o trabalho e planejar a ação pedagógica de forma adequada. Figura 10 É importante ressaltar que a avaliação formativa, conforme propõe os RCNEI, deve recair sobre as situações de aprendizagem criadas para a criança, vinculando a expectativa de aprendizagem às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela, valorizando suas conquistas e seus avanços, de forma compartilhada com a criança. A observação e seu registro podem ser feitos por diversos meios além da escrita, como: gravação em áudio e vídeo, produções das crianças ao longo do tempo, fotografias etc., compondo o portfólio do professor e/ou do aluno. 69 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl observação Na Educação Infantil, a avaliação será feita mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental (LDB, 1996). Os RCNEI ratificam a importância da avaliação como instrumento para que a escolapossa planejar o trabalho educativo considerando as informações oferecidas pela avaliação e estabelecendo as prioridades para o trabalho educativo. Por meio da avaliação, os professores identificam os aspectos que necessitam de intervenção pedagógica planejada, servindo de reorientação da prática e subsidiando decisões sobre o que ensinar e como avaliar. Para isso, é necessário considerar que [...] a avaliação deve se dar de forma sistemática e contínua, tendo como objetivo principal a melhoria da ação educativa. O professor, ciente do que pretende que as crianças aprendam, pode selecionar determinadas produções das crianças ao longo de um período para obter com mais precisão informações sobre sua aprendizagem (RCNEI, p. 61). A avaliação oferece informações também aos pais, os quais têm o direito de acompanhar o processo de aprendizagem dos filhos e conhecer seus avanços e conquistas. Mas, mais do que isso, a avaliação permite que eles compreendam os objetivos e as ações da escola (RCNEI, p. 59-60). observação O professor deve ter consciência de que a forma como a avaliação é compreendida, na instituição e por ele próprio, interfere na construção de uma representação positiva da mesma pela criança. 6 AvAliAção pArA Além dAs FormAs trAdicionAis Freitas et al (2011) examina a questão da avaliação do ensino-aprendizagem à luz de conceitos referentes a três âmbitos: o do processo pedagógico e da avaliação; o da organização do trabalho pedagógico da escola e da sala de aula; e o da formação e da instrução. Estes âmbitos serão abordados a seguir. 1º) O âmbito do processo pedagógico e da avaliação: No âmbito do processo pedagógico, o autor discute a avaliação do ensino-aprendizagem sob as perspectivas linear e dialética, definidas conforme o quadro a seguir (FREITAS et al, 2011, p. 14-15): 70 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II Visão do processo pedagógico Características Linear Planejamento Execução Avaliação Dialética Objetivos/ avaliação Conteúdo/ métodos A avaliação é uma atividade formal que ocorre ao final do processo. Primeiro ocorre a aprendizagem e no final a verificação da aprendizagem. O planejamento didático é uma sucessão de etapas: definição dos objetivos do ensino, definição do conteúdo e dos métodos, execução do planejado e avaliação do aluno. O trabalho pedagógico organiza-se em dois eixos interligados: objetivos/avaliação e conteúdo e método. A avaliação encontra-se justaposta aos próprios objetivos, formando um par dialético. Os objetivos e a avaliação orientam todo o processo pedagógico, em uma relação dinâmica, ou seja: os objetivos dão base para a construção da avaliação e projetam os conteúdos a serem dominados pelos alunos, orientando a definição das situações que lhes possibilitarão demonstrar seu desenvolvimento em uma situação de avaliação. Figura 11 Freitas et al aponta aspectos de uma visão linear do processo pedagógico que ainda é característico das práticas escolares, conforme vários estudos têm demonstrado, como o de Silva (2005) que identificou uma das mais fortes representações que permanecem no cotidiano escolar: a avaliação como uma atividade separada das demais situações didáticas. Há um momento para ensinar, um momento para aprender e um momento para avaliar. A pesquisa realizada por Silva (2005) mostra que de fato é forte o peso da visão linear do processo pedagógico, tendo constatado a existência de representações que ainda circulam no ambiente escolar e que entendem a avaliação como sinônimo de aplicação de provas padronizadas ao final dos bimestres, a par de representações da avaliação como processo contínuo, do dia a dia, porém de forma difusa, sem a devida qualificação, conforme postula Freitas et al. Para este autor, “devemos qualificar o que estamos reivindicando como avaliação contínua adicionando que, além de ser contínua, tem a finalidade de orientar a inclusão e o acesso de todos a todos os conteúdos” (FREITAS et al, 2011, p. 17). Dessa forma, Freitas et al destacam a contradição e a possibilidade existentes nos processos de avaliação, que podem servir tanto para o desenvolvimento dos alunos como para provocar efeitos sancionadores e excludentes. Os efeitos excludentes da avaliação do processo de ensino-aprendizagem remetem à função excludente da escola no mundo atual, a qual é analisada em um segundo âmbito de discussão (FREITAS et al, 2011, p.17-21). 71 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl 2º) O âmbito da organização do trabalho pedagógico da escola e o da sala de aula: De acordo com Freitas et al, a escola teria certa “compulsão” pela exclusão por meio de processos didáticos e de avaliação pelos quais realiza as funções impostas socialmente, relação assim explicada pelo autor: [...] a avaliação não incorpora apenas objetivos escolares, das matérias ensinadas, mas também objetivos ligados à função social da escola no mundo atual, os quais são incorporados na organização do trabalho pedagógico global da escola. Ao enfatizarmos a sala de aula, não devemos esquecer que ela está inserida em um ambiente maior, a escola (FREITAS et al, 2011, p. 17). Organização do trabalho pedagógico global da escola Organização do trabalho na sala de aula Figura 12 Conforme ilustra a figura, pode-se afirmar, com base em Freitas et al, que: • A organização do trabalho pedagógico incorpora funções sociais seletivas e excludentes as quais são garantidas pelas práticas de avaliação na sala de aula. • A avaliação escolar incorpora objetivos que vão além das matérias escolares, ligados à função social e presentes na organização do trabalho pedagógico global da escola. • Há dois níveis de organização do trabalho pedagógico que são interdependentes: o nível global da escola que incorpora a função social seletiva e o nível dos processos didáticos e de avaliação que acontecem na sala de aula, pelos quais a escola cumpre sua função. Resumindo, de acordo com Freitas et al: A escola encarna funções sociais que adquire do contorno da sociedade na qual está inserida (exclusão, submissão – por exemplo) e encarrega os procedimentos de avaliação, em sentido amplo de garantir o controle da consecução de tais funções – mesmo sob o rótulo de contínua e processual (FREITAS et al, 2011, p. 18). Então, o autor situa as duas funções principais da educação em uma sociedade capitalista, apoiado em Mészáros (apud FREITAS et al, 2011, p. 18): 72 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II 1. A produção das qualificações necessárias ao funcionamento da economia. 2. A formação de quadros e a elaboração dos métodos para um controle político. Os objetivos da escola incorporam as funções citadas, que encontram nas práticas de avaliação um lugar privilegiado para sua consecução, à medida que opera por mecanismos que determinam uma trajetória de sucesso ou fracasso escolar. Essa função social “é incorporada aos objetivos da escola e repassada às práticas de avaliação e passa a fazer parte da própria organização do trabalho pedagógico” (FREITAS et al, 2011, p. 18). Para Tragtenberg (apud FREITAS et al, 2011, p. 18), as funções da educação em nossa sociedade incluem, mais especificamente, excluir e subordinar os estudantes. Para Freitas et al, o fato de a escola ser espaço de lutas e de haver resistência às funções citadas não altera as intenções da sociedade atual. No entanto, é necessário considerar esse problema sob uma perspectiva dialética, que reconheça o papel transformador da escola, ainda que relativo, dado ao fato de que a escola não goza de total autonomia em face de seus determinantes sociais e econômicos. Neste sentido,torna-se relevante compreender como funcionam os mecanismos de exclusão no interior da escola e da sala de aula, dois grandes ambientes aos quais correspondem objetivos que se relacionam, ainda que de forma não determinística, como pontua Freitas et al: [...] por um lado, temos os objetivos da escola (incorporação da função social seletiva), a natureza do projeto político-pedagógico da escola e, por outro lado, temos os objetivos pedagógicos das matérias escolares na sala de aula (Matemática, Português, etc). A questão é que os últimos podem encobrir os primeiros (FREITAS et al, 2011, p. 19). Além do fato de os objetivos pedagógicos das matérias escolares dissimularem a função seletiva da escola como se fossem neutros, há outras maneiras, nem sempre explícitas, pelas quais a escola produz a exclusão. Uma delas é a organização do trabalho pedagógico da escola na forma seriada que se apoia em uma concepção de educação baseada na seletividade pela homogeneização dos tempos de aprendizagem (FREITAS et al, 2011, p. 19). De acordo com o autor, “tal homogeneização fornece igualdade de acesso, mas não necessariamente igualdade de desempenho, já que os ritmos de aprendizagem dos estudantes são diferenciados” (FREITAS et al, 2011, p. 19). Essa seria a forma da escola incorporar a função seletiva à sua prática, ainda que não declaradamente. E qual seria o papel da avaliação, neste contexto? “A avaliação tem sido utilizada para legitimar a distribuição desigual das rotas de sucesso e fracasso dos estudantes, sob o argumento da meritocracia” (FREITAS et al, 2011, p. 19), sendo o fracasso ou sucesso explicado pela ideologia do esforço pessoal. A raiz do problema estaria em uma concepção liberal da escola, conforme explica o autor: [...] na raiz do problema está o fato de os teóricos liberais da escola não poderem aceitar a igualdade de resultados nos processos educacionais; o máximo que eles aceitam é a igualdade de acesso. As políticas públicas 73 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl liberais dos anos 1990 aos atuais colocaram 97% das crianças brasileiras em idade escolar na escola, mas não conseguiram garantir qualidade para todas. Este é o limite do projeto liberal (FREITAS et al, 2011, p. 19). A função sancionadora é analisada também por Zabala (1995), que atribui os problemas de compreensão do que acontece nas escolas aos hábitos e costumes acumulados de uma tradição escolar cuja função básica ainda tem sido seletiva e propedêutica, isto é, de preparar para receber ensino mais completo em etapa posterior. Por essa razão, o sujeito da avaliação é o aluno, e o objeto da avaliação são as aprendizagens alcançadas em relação ao que é fixado como sendo necessário para entrar para a universidade. Essa forma de compreender as finalidades da educação básica que identificamos ainda hoje nos discursos e práticas pedagógicos distancia a escola de sua função social, concordando com Zabala (2005), que defende a formação integral como a finalidade principal do ensino, o que exige uma mudança nos pressupostos da avaliação, conforme já assinalado na primeira unidade deste livro-texto. Fica claro que o principal problema é como conseguir desenvolver ao máximo todas as capacidades dos alunos, considerando-se também aquelas necessárias para que se tornem bons profissionais. Para que isto seja possível, é necessário promover mudanças nos conteúdos de avaliação, não se limitando apenas aos chamados conteúdos conceituais. Torna-se necessário ainda mudar o caráter e a forma de intervenção didática, para que esta possibilite o conhecimento das aprendizagens realizadas, considerando as expectativas das aprendizagens previstas. As informações levantadas não devem ter um tratamento apenas quantitativo, traduzido por notas, porque se referem a valorações e indicadores personalizados que exigem instrumentos e formas de interpretação diferentes dos instrumentos avaliativos tradicionais, limitados a provas de papel e lápis (ZABALA, 1995). As provas usadas apenas como meio de classificação dos alunos por meio de notas contêm uma mensagem que não diz ao aluno o que ele sabe, mas “o que pode lhe acontecer se continuar assim até o fim do ano” (PERRENOUD, 1999, p. 12). A nota inscreve-se em uma relação de negociação à medida que contém também uma mensagem aos pais: “intervir antes que seja tarde demais”, assumindo uma função assim descrita por Perrenoud: [...] a avaliação tem a função, quando se dirige à família, de prevenir, no duplo sentido de impedir e de advertir. Ela alerta contra o fracasso que se anuncia ou, ao contrário, tranquiliza, acrescentando “desde que continue assim!” Quando o jogo está quase pronto, prepara os espíritos para o pior; uma decisão de reprovação ou de não admissão em uma habilitação exigente apenas confirma, em geral, os prognósticos desfavoráveis comunicados, bem antes, ao aluno e à sua família (PERRENOUD, 1999, p. 12). Trata-se de questões do âmbito do trabalho pedagógico da sala de aula, um dos níveis de organização do trabalho pedagógico que se relaciona com o nível do trabalho pedagógico global da escola, como já vimos. Assim como o trabalho pedagógico organiza-se em dois níveis – da sala de aula e da escola –, há dois níveis de avaliação na instituição escolar que poderíamos resumir da seguinte forma: a avaliação 74 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II institucional, cujo foco é o projeto político pedagógico da escola; e a avaliação da aprendizagem na sala de aula, cujo foco é a relação professor-aluno (FREITAS et al, 2011, p. 20). A avaliação institucional e a avaliação do ensino-aprendizagem possuem focos inter-relacionados, considerando que o projeto político-pedagógico da escola prevê que tipos de processos relacionais são desejados e necessários para que a escola atinja seus objetivos (FREITAS et al, 2011). Coloca-se assim a necessidade de questionamento dos objetivos da escola e sua relação com a avaliação, cujo caráter de transformadora, contínua e comprometida com o desenvolvimento do aluno só tem sentido se não encobrir mecanismos que impedem a escola de atender a todos. Sendo a escola para todos, há que se evitar a criação de hierarquias escolares que refletem as hierarquias de desigualdades existentes na sociedade. Ao evitar a criação de hierarquias de excelência, enfraquece –se sua função reprodutivista (FREITAS et al, 2011). A respeito das hierarquias de excelência escolar, Perrenoud tece inúmeras considerações mostrando seu caráter arbitrário decorrente de julgamentos do funcionamento rotineiro e negociado da avaliação (1999, p. 2). Para o autor, [...] a excelência é com frequência uma questão de conformismo ou de hábito. Ora, para interiorizar bons hábitos, para adquirir automatismos eficazes em situações bem estereotipadas, não é necessário mobilizar recursos intelectuais ou culturais exorbitantes. Podem bastar uma boa memória, certo perfeccionismo, uma constante aplicação na observação e imitação do modelo magistral, na memorização e aplicação das regras (PERRENOUD, 1995, p. 42). No contexto em que a avaliação serve mais para informar em que posição o aluno se encontra em relação ao grupo do que para identificar os conteúdos e competências que desenvolveu, para “se sair bem na avaliação”, o aluno necessita defrontar-se sozinho, por uma nota, com tarefas muito semelhantes àquelas realizadas no âmbito do trabalho pedagógico da sala de aula. Assim, para Perrenoud, “a excelência escolar é, em larga medida, a arte de refazer o que acaba de ser exercitado em aula” (1995, p. 44). Para o autor, é necessário substituir as práticas tradicionais de ensino e avaliação por “pedagogias mais abertas, ativas, individualizadas, abrindo mais espaço à descoberta, à pesquisa,aos projetos, honrando mais os objetivos de alto nível, tais como aprender a aprender, a criar, a imaginar, a comunicar-se” (1995, p. 66). O autor aponta, porém, alguns obstáculos à inovação, que merecem uma reflexão rigorosa pelos desafios que representam às práticas atuais e futuras de professores comprometidos com a mudança. São obstáculos à inovação, segundo Perrenoud (1995, p. 66-67): • a avaliação absorve a melhor parte da energia dos alunos e professores e não sobra tempo para inovar; • o sistema clássico de avaliação favorece uma relação utilitarista com o saber; 75 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl • os alunos trabalham pela nota: todas as tentativas de implantação de novas pedagogias chocam- se com esse minimalismo; • o sistema tradicional de avaliação participa de uma espécie de chantagem, de uma relação de força mais ou menos explícita que coloca professores e alunos e, mais geralmente, jovens e adultos, em campos opostos, impedindo sua cooperação; • a necessidade de regularmente dar notas ou fazer apreciações qualitativas baseadas em uma avaliação padronizada favorece uma transposição didática conservadora; • o trabalho escolar tende a privilegiar atividades fechadas, estruturadas, desgastadas, que podem ser retomadas no quadro de uma avaliação clássica; • o sistema clássico de avaliação força os professores a preferir os conhecimentos isoláveis e cifráveis às competências de alto nível (raciocínio, comunicação), difíceis de delimitar em uma prova escrita ou em tarefas individuais; • sob a aparência de exatidão, a avaliação tradicional esconde uma grande arbitrariedade, difícil de alcançar unanimidade em uma equipe pedagógica: como se entender quando não se sabe nem explicitar, nem justificar o que realmente se avalia? Como se sabe, os programas atuais de ensino enfatizam a transferência de conhecimentos e o desenvolvimento de competências, raciocínio, imaginação, comunicação, senso crítico. Para o alcance de tais objetivos, o sistema de avaliação tradicional é muito limitado, porque não permite avaliar o desenvolvimento de competências mais complexas que as provas não conseguem abarcar. Tais obstáculos dificultam o alcance da função social da escola, inserindo-se no âmbito da organização da escola e da sala de aula, conforme discussão de Freitas et al (2011). Para que a escola atenda a todos, o autor aponta a necessidade de se resistir à subordinação do eixo conteúdo/método ao eixo objetivos/ avaliação, para que haja o acesso de todos a todos os conteúdos, o que implica lutar em dois níveis: “um imediato, no âmbito da escola e da sala de aula, por meio do questionamento do projeto político- pedagógico da escola e das práticas pedagógicas; outro, a médio e longo prazo no âmbito da sociedade” (2011, p. 21). Freitas et al encerra o segundo âmbito de discussão da questão da avaliação do ensino-aprendizagem relativo à organização do trabalho pedagógico da escola e o da sala de aula, conclamando os profissionais do ensino a empreenderem a luta para garantir a universalização do conhecimento para todos, considerando que é uma luta difícil, mas necessária e que [...] começa no dia a dia de cada um de nós, no nosso pequeno mundo do trabalho cotidiano. Além de perguntarmos, hoje, como mudaremos esta sociedade, é necessário que nos questionemos sobre o que podemos fazer na nossa prática escolar diária, agora. Ser um profissional comprometido significa agir, concreta e cotidianamente, em pequenos espaços como o da sala de aula, 76 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II pela melhoria do aprendizado dos estudantes. Não se deve ignorar que a sala de aula é um espaço de atuação tão importante quanto outros espaços de luta por melhores condições de vida (FREITAS et al, 2011, p. 21). A seguir, passaremos ao terceiro âmbito de discussão, que se refere “à questão clássica sobre a necessidade de ultrapassar a mera função de instrução no processo de ensino-aprendizagem, explicitando a função formativa da escola” (FREITAS et al, 2011, p. 14), conforme propôs o autor. 3º) O âmbito da formação e o da instrução: Em uma sociedade competitiva, o domínio do conhecimento passa a ser o foco da escola, dada a sua importância para o sucesso dos estudantes, colocando em questão as interações entre os aspectos formativos e instrutivos do processo pedagógico, uma vez que a transmissão do conhecimento não é o único objetivo da escola. “Seja tácita, seja planejadamente, a escola é formativa” (FREITAS et al, 1995, p. 21). Considerando a dualidade do processo educativo, que fornece instrução e formação, Freitas et al faz o seguinte comentário: [...] os estudantes que estão na escola não aprendem as apenas as disciplinas escolares, eles vivenciam relações sociais e terminam desenvolvendo valores e atitudes. Junto com o conteúdo das matérias, a vivência na escola ensinará alguns valores. A questão é: quais “valores” a escola deveria disponibilizar. Competição? Consumismo? Individualismo? Solidariedade? (FREITAS et al, 2011, p. 22). No dia a dia da escola e da sala, são vivenciados valores de submissão e conformismo que resultam da própria organização da escola, que confina os alunos em salas de aula onde a vida não tem espaço. Neste contexto, a avaliação serve de instrumento de disciplinamento dos estudantes, incidindo permanentemente sobre o comportamento dos alunos para obter a atenção à aula e ao professor (FREITAS et al, 2011). Neste contexto, o que caracteriza a relação entre professor e aluno envolvidos no processo pedagógico são relações de troca por meio das quais o aluno aprende o valor de troca de “mercadorias” em que o conhecimento transforma-se em uma mercadoria que perde seu valor de uso, relação assim exemplificada: “o aluno mostra que ‘sabe História’ e, em troca, o professor lhe dá uma nota” (FREITAS et al, 2011, p. 22). Dessa forma, valores que são vitais para a sociedade capitalista são difundidos pela escola, ancorados nas práticas pedagógicas, especialmente nos processos de avaliação, limitando-se a escola a prover de forma desigual a apropriação da instrução. Assim, a formação ocorre de maneira informal, como fruto da vivência de situações cotidianas no interior da escola, reproduzindo valores da sociedade atual como o individualismo e a competição (FREITAS et al, 2011). As considerações de Freitas et al mostram a dualidade na atuação da escola tanto no campo da instrução como da formação de valores e atitudes, o que o leva a indagar “se queremos ratificar o 77 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl conjunto de valores vigentes em nossa sociedade ou se estamos dispostos a pensar em novo conjunto de valores” (FREITAS et al, 2011, p. 23). Para Freitas et al (p. 23), a visão de mundo dos estudantes é influenciada pelos processos de avaliação formais e informais, pelas relações que se estabelecem em sala de aula, razão pela qual não é apropriado tratar a avaliação como uma questão somente técnica, uma vez que: • a avaliação expressa relações de poder atuantes no seio da sala de aula e da escola; • a avaliação dita as regras do próprio acesso ao conteúdo e interfere no método de ensino escolhido para os alunos. Concordando com Freitas et al, pela centralidade que a avaliação ocupa na escola e na sociedade, é necessário que os professores façam uma leitura crítica das suas implicações no trabalho pedagógico, usando esse papel central da avaliação a favor do desenvolvimento dos alunos, sob uma perspectiva emancipatória. Para tanto, é necessário inverter a lógica dos processos ainda característicos das atuais práticasde avaliação, que envolvem “testes padronizados, provas feitas pelo próprio professor, perguntas anexadas a textos, provas informais de domínio da aprendizagem, feedback, entre outros” (FREITAS et al, 2011, p. 24). Cremos ainda ser necessário desenvolver nos professores a sensibilidade para a leitura das implicações dessa forma de conceber e praticar a avaliação no trabalho pedagógico, na escolha dos métodos de ensino e no próprio acesso aos conteúdos pelos estudantes. Por outro lado, é necessário que os professores compreendam que, além das formas explícitas de avaliação citadas, há as formas invisíveis por meio das quais o professor constrói juízos de valor sobre o aluno que influenciam os resultados das avaliações finais. Dessa forma, Freitas et al (2011) classificam a avaliação em dois planos, conforme o quadro a seguir: Quadro 11 Âmbitos da avaliação Características Formal Figura 22 Avaliação de caráter instrucional sobre o domínio dos conteúdos. Envolve o uso de procedimentos e instrumentos explícitos. Aplicação de provas e trabalhos com atribuição de notas. Os resultados podem ser examinados objetivamente pelos alunos. Informal Figura 23 Construção de juízos de valor sobre o aluno pelo professor nas interações em sala de aula. Avalia comportamento e atitudes do aluno. Processo assistemático e nem sempre acessível ao aluno. Os juízos de valor regulam as relações professor/aluno e aluno/professor e interferem nas decisões metodológicas. Estabelece-se um jogo de representações que produzem imagens e autoimagens que afetam a autoestima do aluno. Fonte: Freitas et al (2011). 78 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II É importante notar que os campos formal e informal da avaliação interagem, estabelecendo-se um jogo, assim explicado por Freitas et al: Os professores tendem a tratar os alunos conforme os juízos de valor que vão fazendo deles. Aqui começa a ser jogado o destino dos alunos – para o sucesso ou o fracasso. As estratégias de trabalho do professor em sala de aula ficam permeadas por tais juízos e determinam, consciente ou inconscientemente, o investimento que o professor fará neste ou naquele aluno (FREITAS et al, 2011). Freitas adverte que não se trata do fato de construir imagens sobre o aluno, mas sim do controle das consequências de tais imagens sobre o estudante, ou seja, dos efeitos dos juízos de valor no desempenho dele, na aprendizagem, juízos estes que podem ter sido formulados com base na origem social do aluno, por exemplo, interferindo na metodologia que orienta o ensino (FREITAS, 2010, p. 28). Conforme análise do autor: As classes populares têm uma sensibilidade a respeito de elas continuarem ou não na escola (cf. FREITAS et al, 1991). Esta sensibilidade, oriunda das suas condições sociais, aliada à sensibilidade que também o professor tem a respeito da probabilidade de elas continuarem na escola, termina definindo a forma como o aluno é tratado em sala de aula (FREITAS et al, 1995, apud FREITAS, 2010, p. 25). Insistindo que o problema da avaliação não se reduz à dimensão técnica do âmbito formal, relativa, por exemplo, à elaboração de bons instrumentos, o autor considera que “o problema de fundo diz respeito a como o juízo que o professor faz do aluno afeta suas práticas em sala de aula e sua interação com este aluno. É a relação que aprova ou reprova” (FREITAS, 2010, p. 29). A nota ou o conceito são, de acordo com o autor, manifestação de um processo interno de análise construído pelo professor com base na memória sobre o desempenho do aluno em aspectos não só cognitivos, mas também disciplinares, atitudinais e ideológicos (FREITAS, 2010). Embora o aperfeiçoamento das práticas avaliativas não dependa exclusivamente da competência técnica na elaboração de modelos e instrumentos, deve-se considerar que o reconhecimento dos efeitos excludentes da avaliação informal no desempenho dos alunos não significa a desconsideração do rigor técnico-científico na condução de processos avaliativos. A falta de rigor propicia julgamentos a “bel prazer” (LUCKESI, 1996), tornando mais injustos os efeitos da avaliação formal. lembrete Além de não considerar a heterogeneidade dos aprendizes, o problema das chamadas provas ou testes está nas repostas às seguintes questões: o que o professor faz com as informações que levanta? Quais decisões 79 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl metodológicas ele toma em face das dificuldades que identifica nos alunos? Como as informações servem para mobilizar os alunos em direção aos domínios pretendidos ou não atingidos? Como o professor ajusta o ensino às necessidades de aprendizagem detectadas? Não se pode aceitar que nas práticas pedagógicas prevaleça o espontaneidade que atinge mortalmente a especificidade da atividade educacional como trabalho intencional guiado por objetivos. Se quisermos que a escola atinja sua função social por meio de uma educação integral e humanizadora, devemos considerar que, além dos saberes de referência, há um saber pedagógico cujo domínio é condição de profissionalização e de desenvolvimento profissional. Neste saber pedagógico, incluem-se os conhecimentos didáticos que permitam ao professor resolver os problemas do dia a dia da sala de aula vinculados ao ensino e à aprendizagem escolar de determinados conteúdos e, portanto, vinculados à avaliação como uma dimensão integrante do processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido, continua atual a discussão de Luckesi (1996), que evidencia a inter-relação existente entre os campos formal e informal da avaliação, mostrando como tem sido a atual prática de avaliação da aprendizagem escolar, seus efeitos antidemocráticos e propondo formas de encaminhamento que recuperem a necessidade de rigor técnico na elaboração de instrumentos e rigor científico na interpretação dos dados coletados. Sobre os efeitos excludentes da avaliação, convém considerar o próprio significado que assume o termo inclusão nos discursos educacionais. Para discutir esse conceito, Freitas reporta-se a uma instigante palestra de encerramento do II Seminário de Educação Brasileira proferida por Miguel Arroyo, ao tratar a questão do que comumente denominamos inclusão, na qual discute que a pessoa que se deseja incluir é vista como alguém caracterizado pela “negatividade”, desprovido, portanto, de cidadania. Dessa forma, o desejo de incluir o outro desconsidera a vontade própria da outra pessoa, como se a nossa constituição de vida fosse a única melhor e que as demais pessoas tivessem desejos e interesses idênticos aos nossos. “Trata-se de incluir para garantir a cidadania (Qual? O direito de ser um consumidor?). Ou seja, a inclusão se caracteriza como uma ‘aculturação’ do excluído sob a ótica daquele que inclui – é preciso disciplinar os bárbaros” (FREITAS, 2010, p. 90). Analogamente, esse mesmo princípio de inclusão existe na educação, pois os seus objetivos são os mesmos para os dois lados: incluídos e excluídos. A partir dessas acepções, o autor apresenta os seguintes questionamentos: a quem cabe estabelecer estes objetivos? O que se pretende falar em nome dos excluídos? Questiona a ideia da forma da escola igual para todos, considerando que haveria interesse dos excluídos em dominar o que os incluídos dominam e, não havendo esse interesse, a avaliação é utilizada para obrigá-los e conformá-los. Freitas explica que deve ser garantido a todos o acesso ao conhecimento, às bases das ciências, porém, sem o molde feito pela classe dominante, impregnado de seus valores e interesses; defende que o conhecimento deve ser apresentado pela escola em estado puro, ou seja, a partir de suas origens no mundo real. 80 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er- D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II O autor lembra que comemoramos até hoje a inclusão da pobreza na escola, mas que não há uma reflexão a respeito de como se deu essa inclusão e o quanto as pessoas incluídas, as que já estavam e as novas, estão subordinadas à forma da escola. Cita os autores Vincent, Lahire e Thin (2001) que alertam para o fato de que a forma da escola descaracterizou o trabalho escolar e sujeitou tanto professores como estudantes a uma mesma lógica, definida por regras preestabelecidas, dentre elas a avaliação. Dessa maneira, a inclusão na escola pode ser vista como subordinação e, nesta mesma ótica, o conteúdo escolar cumpre o papel de qualificar o aluno como consumidor das oportunidades que lhe são oferecidas. De acordo com este raciocínio, as realidades de classe é que determinam as possibilidades de inclusão ou exclusão na sociedade e quando não há ascensão social por meio da escola cabe ao aluno a culpa por não saber aproveitar as oportunidades. Para Freitas, esse processo, ora descrito, não deve ser visto como algo permanente e imutável, considerando as possibilidades de saída e resistência a esse modelo gerador de subordinação. Por isso, afirma que [...] a luta pela inclusão e acesso ao conteúdo escolar não pode separar-se da luta pela modificação da atual forma escolar, geradora de subordinação. Neste campo, não será suficiente declarar que a “gestão escolar” será “democrática” ou que os diretores serão eleitos. Nem é suficiente propor que as relações entre professores e alunos nas salas de aula sejam “democráticas”, ou ainda que o conteúdo deve ser “crítico”. [...] Não será suficiente argumentar que a avaliação será contínua, não classificatória, baseada em “pareceres sobre o desenvolvimento do estudante”. Que ela será democrática, inclusiva (a quê?), entre outros adjetivos frequentemente usados (FREITAS, 2010, p. 91-92). O autor lembra ainda que, nos últimos vinte anos, a escola soube utilizar as palavras inclusão e democracia enquanto continuava a excluir e subordinar. E que as pesquisas ao longo do tempo demonstram que a diferenciação entre os alunos está associada ao seu nível socioeconômico e, portanto, já está determinada quando ingressam na primeira série do Ensino Fundamental, permanecendo, dessa forma, nas demais séries. Reproduzimos o gráfico a seguir utilizado por Freitas como um exemplo de como o desempenho escolar vem sendo determinado pelo nível socioeconômico dos alunos. 81 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl Evolução da média em matemática Fonte: Boletim GeresCampinas 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Chegada 1 Ano depois 2 Anos depois Estadual Municipal Privada Março 2005 Nov 2005 Nov 2006 Figura 13 Trata-se de uma avaliação realizada pelo Projeto GERES que acompanhou cerca de cinco mil alunos em 61 escolas das redes particular, estadual e municipal, entre os anos de 2005 e 2008, no município de Campinas. Foram usados testes com equivalência, baseados em TRI (Teoria da Resposta ao Item), nas disciplinas de matemática e português no momento em que iniciavam a primeira série e ao final de cada ano até a 4ª série, (5º ano) do Ensino Fundamental. saiba mais Alguns filmes que podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos da unidade. A GUERRA do fogo. Dir. Jean-Jacques Annaud, 100 minutos, 1976. A ODISSEIA. Dir. Francis Ford Coppola, 150 minutos, 1997. 300. Dir. Zack Snyder. 117 minutos. EUA, 2007. O gráfico apresentado, da evolução da média em matemática, mostra os dados disponíveis para as três aplicações iniciais e a diferença clara no desempenho das três redes de ensino. Quanto à diferença em relação à escola particular, uma das possíveis explicações pode ser o capital cultural dos alunos que iniciam sua escolaridade em uma condição mais favorável de adaptação ao universo escolar. A respeito da diferença entre as redes públicas, estadual e municipal, podemos levantar algumas hipóteses iniciais: a primeira delas refere-se aos investimentos superiores do município em relação ao estado, que implicam valorização dos profissionais, da estrutura da escola e das condições de trabalho; a segunda hipótese decorre da primeira, ou seja, quando há uma superioridade de investimento do município em relação ao estado, os pais mais preocupados com a qualidade da escola insistem por matricular o filho na rede municipal. Neste último 82 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II caso, geralmente, trata-se daqueles que já possuem uma cultura de valorização do ensino como meio de ascensão social e assim acompanham mais a vida escolar dos filhos e isso certamente repercute nos resultados. Dentre as razões para a subordinação, o autor aponta a lógica do sistema capitalista de produzir a conformidade e evitar assim um pensamento crítico. Da mesma forma, os objetivos da educação capitalista buscam moldar os estudantes à forma da escola, isolando-os em seu interior sem questionar o que existe do lado de fora. E, neste contexto, a avaliação acontece mais ou menos como na charge de Tonucci, reproduzida a seguir: Figura 14 Tais considerações nos levam a analisar e perguntar: até que ponto a forma de ensinar nos moldes do atual sistema é adequada e atende às necessidades ou supre as lacunas dos alunos considerados marginalizados? Compreendemos, a partir desta análise, que a escola precisa urgentemente se avaliar, rever seu currículo e sua metodologia e construir uma cultura educacional que dê sentido ao ensino, na qual o aluno tenha a oportunidade de participar ativamente. As considerações de Freitas (2010) sobre o sentido da avaliação feita para moldar os estudantes à forma da escola encontram eco em diversos trabalhos nesta mesma linha, dentre os quais vale citar uma pesquisa realizada por Camargo (1997), na qual analisou as representações de 390 universitários de suas experiências em avaliação e os sentidos nelas contidos. Com essa pesquisa, procurou identificar as contradições entre aprender e avaliar dentro de uma visão sociopedagógica. 83 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl No relato dos sujeitos pesquisados aparecem experiências negativas e positivas em relação à avaliação. As experiências negativas referem-se à avaliação como prática de disciplinamento e dominação, como relatado a seguir: [...] na quinta série do 1º grau vivi uma terrível experiência, talvez a mais cruel de todas que um professor pode submeter uma classe. Bem, a professora de Geografia, logo na primeira semana de aula avisou que faria uma caixinha com o número de todos os alunos e outra com perguntas dos textos das unidades estudadas. Haveria também uma terceira caixinha com castigos para quem as errasse. ‘Castigos simples’ como: pintar o nariz de vermelho, pôr chapéu colorido, andar para trás por toda a sala etc. Isso acontecia uma vez por semana com sorteio de cinco números. O nervosismo era terrível (...) (CAMARGO, 1997, p. 5). Camargo define como deprimentes as revelações de um terço dos estudantes sobre as práticas docentes em nome da avaliação, de como o professor reagia diante do erro com críticas destrutivas, gritos, ofensas morais, punições, ameaças, ridicularização e discriminação. Na atualidade, chamamos essa forma de tratamento de bullying. Cabe-nos a questão: isso ainda ocorre nos dias de hoje? De que forma? saiba mais “O bullying é uma forma de violência que ocorre na relação entre pares, sendo sua incidência maior entre os estudantes, no espaço escolar. É caracterizado pela intencionalidade e continuidade das ações agressivas contra a mesma vítima, sem motivos evidentes,resultando danos e sofrimentos e dentro de uma relação desigual de poder, o que possibilita a vitimação”. FANTE, C. Bullying no sistema escolar, [s. d.]. Disponível em: <http://inov. org.br/site/artigos/9.pdf>. Acesso em: 30 mai. 2013. O modo como parte dos alunos entrevistados descreve sua percepção sobre a influência da avaliação em seu percurso escolar denota que sua única finalidade é obter a aprovação. Segundo a autora, esta vivência sob o domínio da avaliação torna os alunos passivos em relação ao saber, o que impede uma aprendizagem efetiva; além disso, inclui o rebaixamento da autoestima em consequência de sentimentos nutridos na escola, como medos, bloqueios e frustrações causados por repetência, ausência de aprendizagem e pela privação do exercício intelectual, entre outros problemas que bloqueiam a relação, de fato, com o conhecimento. A autora também cita exemplos de experiências positivas e suas repercussões na vida social do aluno, como no exemplo seguinte: 84 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II [...] uma experiência positiva que eu tive foi quando estava na 6ª série a professora de Ciências não dava avaliações escritas, escolhíamos um tema do livro para apresentarmos e depois montávamos a aula de acordo com o tema. Utilizávamos slides, cartazes, íamos a vários estabelecimentos fazer entrevista, enfim, aprendíamos com mais interesse e vontade (CAMARGO, 1997, p. 6). Ao longo do seu trabalho, Camargo ressalta a importância de uma vivência positiva em relação à avaliação para a construção de uma identidade individual e social. Tal avaliação baseia-se nos seguintes princípios: • entendimento prévio e decisão compartilhada sobre como se dará a avaliação, sem imposição externa; • incentivo à autonomia intelectual e não tolhimento às iniciativas do aluno; • diálogo e transparência na comunicação. A autora lembra que há várias e diferentes pesquisas sobre avaliação escolar cujos dados mostram as mesmas dimensões da problemática estudada no que tange à predominância dos aspectos negativos do processo avaliativo que repercute na ausência de estímulos à aprendizagem. Para enfrentar este problema, aponta, dentre outras possibilidades, o investimento na formação do professor e na atualização continuada do profissional já formado que revelem as funções sociais da avaliação com base na teoria crítica da educação. Freitas (2010), no entanto, lembra que o nosso modelo atual de educação contrapõe os ideais de uma teoria crítica da relação entre ensino, aprendizagem e avaliação. Sendo assim, este modelo perpetua o modo de vida da sociedade capitalista, impedindo que as contradições de seu entorno penetrem na escola e permitam que os alunos estejam de fato conscientes dessas lutas e contradições e possam se posicionar, pensar e construir um modelo diferente de sociedade e de mundo. Bauman refere-se a este mundo que construímos como “um mundo, que não se identifica mais pela ’carteira de trabalho assinada’, como no passado [...], mas que se identifica pelo ’cartão de crédito’ e pela sua fugacidade nas relações, em que a obsolescência é um mecanismo de alimentação do eterno consumo [...]” (apud FREITAS, 2010). Neste modelo capitalista, a escola se isola da vida uma vez que se afasta das contradições e lutas sociais e, consequentemente, do mundo do trabalho. Desse modo, transforma a sala de aula em um ambiente artificial no qual os estudantes não encontram significado e razões para aprender. É interessante que essa mesma fala de Freitas encontra eco nas reclamações dos estudantes, do tipo: por que estou aprendendo isto ou aquilo? Onde vou usar este conhecimento? E desde sempre continuam reclamando das enfadonhas e repetitivas aulas e usando indiscriminadamente o recorta e cola nos trabalhos de pesquisa. Para o autor, é com este modelo de subordinação que a avaliação formal se impõe, com a finalidade de motivar artificialmente o aluno para verificar o que ele aprendeu para demonstrar ao professor, deixando do lado de fora a vida real. 85 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl Freitas ressalta que, para se restituir as ligações da escola com a vida, é necessário modificar o atual modelo educacional, que fixa objetivos e conteúdos, não cabendo ao estudante opinar sobre estes, uma vez que não participa da sua seleção e nem da vida escolar de forma ativa, só de forma pontual, não sendo visto como sujeito de seu desenvolvimento e de sua própria história. Realmente, vemos que, na maioria das escolas que se intitulam democráticas e participativas, por força de diretrizes legais, não há de fato espaço para a participação dos alunos, senão por representação em conselhos de classe, conselhos de escola e órgãos colegiados como o grêmio que há muito perdeu sua identidade histórica de formador de opinião e seu papel proativo. Alguns grêmios só existem no papel para cumprir uma formalidade exigida pela escola; outros atuam predominantemente em eventos esportivos, festivos ou exercendo atividades de voluntariado como arrecadação de prendas para festas escolares, monitoria de recreios, entre outras funções do mesmo gênero. Parece que a imagem que se tem da atual situação é a de que está tudo muito bem e de que não há motivos para se pensar em mudanças na escola e na sociedade. Freitas reforça que a avaliação está intimamente ligada aos objetivos educacionais que servem ao sistema capitalista, sendo necessária a alteração dos seus objetivos de forma que possibilitem a construção de novas práticas de avaliação. Enquanto essa mudança não ocorre, este é o panorama apontado pelo autor: [...] a escola capitalista isola-se, por razões ideológicas e políticas, da vida; ela se artificializa e se reduz – do ponto de vista do planejamento pedagógico –à formação cognitiva do estudante e – do ponto de vista de seu funcionamento informal – à formação de atitudes e valores de interesse do âmbito da sociedade atual. Para os últimos, nenhum esforço de planejamento é feito, mas eles atuam embutidos nas próprias relações existentes na escola. [Nesta mesma direção] [...] a avaliação não cumpre só a função de verificar o conhecimento que o aluno tem, mas ainda controla seu comportamento na sala de aula e na escola, bem como, pelas práticas cotidianas da escola, inculca valores e atitudes, cuja ancoragem final está no processo de avaliação. O processo de avaliação, não esqueçamos, autoriza o poder da escola e do professor (FREITAS, 2010, p. 94). Freitas não vê possibilidade de mudança desse panorama com a criação isolada de novos padrões de avaliação, como das ditas democráticas, ou contínuas e formativas. Na opinião deste autor, em todos os tipos de avaliação prevalece o antagonismo entre professor e o aluno. O aluno continua num estado de submissão ao julgo do professor, o qual parte de critérios formalmente estabelecidos para esta ou aquela avaliação. Embora se possa concordar que na prática atual da avaliação ainda predomine esse antagonismo, cremos ser possível a produção de outra cultura avaliativa que não subordine os estudantes. A avaliação deve servir para conhecer os estudantes e para ajudá-los a aprender e a dar sentido ao conhecimento, vinculando o ensino ao cotidiano em que vivem e reinventando as formas de se conseguir 86 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II seu engajamento nas aulas. Essa abordagem é importante para que as estratégias não se reduzam aos argumentos dos quais os professores lançam mão com frequência para conseguir a atenção do aluno durante a aula, tais como: “isso vai cair na prova!”; ou ainda “a prova Brasil é no mês que vem”. Esse procedimento nemsempre traz bons resultados. Para que a escola cumpra sua função emancipadora, é imprescindível inverter o quadro descrito por Freitas, no qual a relação entre professor e aluno é legitimada pela autoridade que o professor exerce por meio das avaliações, sejam elas classificatórias ou baseadas em conceitos e pareceres. Ou seja, deve-se promover uma relação entre professor e aluno legitimada pela experiência ou pelo conhecimento que este professor tem a oferecer, como sugere o próprio autor. Dessa forma seria possível redimensionar a questão do poder que a avaliação confere ao professor em relação ao aluno, construindo estratégias de problematização da ideia segundo a qual o aluno é visto, neste sistema, como uma pessoa a ser “incluída” em um mundo pronto, o mundo capitalista. Tais estratégias possibilitariam a abertura de espaços para questionamentos relevantes quanto ao seu funcionamento, de forma a se contrapor à ideia de um mundo adequado que deve apenas ser aperfeiçoado seguindo os padrões existentes. Dessa forma, estaríamos caminhando em direção à construção de caminhos concretos para travar a luta necessária por outra realidade social, sem deixar de considerar as dificuldades dessa tarefa, como pontua Freitas (2010): [...] aqui, portanto, o problema é bem mais profundo do que tornar um conteúdo escolar “mais crítico”, ou mais complexo do que “assegurar acesso ao conhecimento historicamente acumulado pela humanidade”. Criticizar o conhecimento e garantir seu acesso é necessário, afinal as classes dominantes sempre se empenharam em sonegar tal conhecimento às classes trabalhadoras, mas está longe de ser suficiente, hoje. Há que se garantir tudo isso, entretanto, fora dos parâmetros da subordinação previstos na escola capitalista para os filhos dos trabalhadores, pois, afinal, queremos formar sujeitos históricos, portanto, com capacidade para lutar (por uma nova sociedade) e construir (a partir de agora tal sociedade nos limites das contradições sociais existentes). A questão, também, não se resume em ter ou não uma utopia. Mas, além disso, ter uma utopística (WALLERSTEIN, 2002), ou seja, um estudo sério das estratégias e caminhos concretos de construção desta utopia – hoje (FREITAS, 2010, p. 96). Tais afirmações remetem a um tempo na história do Brasil em que os estudantes se engajavam em movimentos sociais por interesses coletivos, pois havia a consciência de ser um agente de transformação social. A situação de hoje, mais de duas décadas após o regime militar, parece ser de conformismo e adaptação ao sistema atual. A impressão que a sociedade capitalista passa é a de que não há mais motivo para revolucionar e toda a energia transformadora que há na juventude tem sido canalizada para interesses muitas vezes nada altruístas. O autor lembra que essa configuração dos usos da avaliação para subordinar os estudantes e conformá- los ao sistema vigente só poderá ser diferente se a escola for repensada a partir de novas funções sociais, 87 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl funções estas que visem transformar a sociedade atual. Na visão dos autores Shulgin (1924) e Pistrak (2009), citados por Freitas, isso só será possível se a instituição escola favorecer o domínio do conteúdo das ciências por meio da auto-organização dos estudantes e integração com a atualidade social. Freitas destaca que, embora as pedagogias críticas defendam a transformação social por meio da formação de alunos críticos, não deixam claro a que tipo de transformação se referem e também não demonstram o desejo ou a necessidade de mudar de forma significativa a forma escolar vigente. O autor nos lembra de que as discussões atuais no meio acadêmico sobre as transformações na escola estão voltadas à garantia ou não do acesso ao conhecimento de forma crítica, sonegado até então às classes populares. Dessa forma, ressalta, a escola se mantém como é hoje. Cita Lenin (1986) para ilustrar a necessidade de articulação da escola com a vida: “a escola, à margem da vida, à margem da política, é falsidade e hipocrisia” (FREITAS, 2010). Até essa parte das reflexões do autor, a nós leitores pairam as seguintes indagações: será que já não estaria bom garantir o conhecimento de forma crítica; isto não seria suficiente? Porém, Freitas nos tira do lugar-comum confortável, no qual grande parte dos educadores encontra-se bem adaptada por saber o discurso de cor: “formar cidadãos críticos e conscientes”. Vamos ver então que mudanças o autor propõe. Freitas defende que, para uma educação autêntica, é necessária a criação de sujeitos históricos engajados nas lutas para a transformação da sociedade. Dessa forma, explica que a garantia do acesso ao conhecimento de forma crítica é apenas um dos lados deste processo; o outro é a conexão da escola com a realidade social, realidade esta que dá sentido ao que se aprende na escola. O cartunista Bill Watterson, criador do personagem Calvin, sintetizou bem, em um de seus quadrinhos, a falta de ligação entre os conteúdos escolares e o cotidiano dos alunos por meio do seguinte diálogo: Professora dirigindo-se à classe: –Alguém mais tem uma pergunta? –Eu tenho, falou Calvin, levantando a mão. –Fale Calvin, disse a professora. –Qual o sentido da vida? Perguntou Calvin. –Eu me referia a perguntas sobre o tema da aula, respondeu a professora. –Oh! Exclamou Clavin, desapontado, e acrescentou: –Francamente, gostaria de saber essa resposta antes de gastar minhas energias em outras coisas. 88 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II Para que a escola garanta esta ponte com a realidade e que a sala de aula deixe de ser um refúgio contra a vida, o autor propõe que os alunos sejam formados na prática social a partir da realidade das lutas sociais. Ressalta que para a realização desses preceitos a metodologia deve ser baseada em procedimentos voltados para a vivência da vida, na qual a sala de aula e a aula deixem de exercer o papel central no ambiente formativo do aluno. Para que isto ocorra, a ação educativa deve ser [...] precedida de um amplo levantamento etnográfico das lutas sociais, do entorno formativo da escola nas várias disciplinas que serão objeto de ensino, da cultura local e suas manifestações, das formas de ocupação do espaço no entorno escolar e, tomando por base este espaço mais restrito, ampliar-se em direção aos espaços globais. Sobre esta base real se examinará o conteúdo das diversas disciplinas e seus desdobramentos, [...] conteúdos vivos, de trabalhos existentes no entorno da escola com os quais se pode conectar ou sobre os quais possa pensar criticamente [...], a participação nas lutas sociais, ora precedem e ora corporificam o conteúdo escolar que deve avançar em direção à análise, sistematização e teorização em níveis mais elevados de compreensão – inclusive na sala de aula ou nos grupos de estudo, mas sem ocupar a centralidade que tem na escola capitalista (FREITAS, 2010, p. 97). O autor explica que deve haver uma intermediação entre a prática (realidade) e a teoria (sistematização) que pode ser realizada por meio de instrumentos de ensino como pesquisa, trabalho em oficinas, laboratórios de ensino específicos, entre outros. Quanto à organização dos alunos, Freitas propõe o trabalho em grupos que podem ser organizados pela idade de forma flexível e variada, para que cada estudante possa contar com o auxílio dos colegas e com o tempo necessário para aprender num clima de solidariedade (FREITAS, 2010). Freitas também destaca que a principal mudança neste novo modelo de escola se dá quando o aluno deixa de ser apenas um espectador do professor e passa a ser ativo, tanto no processo de criação como em relação ao conhecimento já produzido pelo exercício das relações sociaisque ocorrem no interior do espaço escolar. Dessa forma, ele terá condições de se organizar para conduzir sua vida na escola. O autor sugere como exemplo de participação ativa dos alunos no processo escolar a formação de comissões de estudantes que seriam responsáveis por aspectos do cotidiano escolar, como as comunicações, a limpeza, a infraestrutura, os laboratórios e equipamentos, a biblioteca, entre outros. Propõe a formação de uma assembleia da escola, a organização de grupos de estudos e outros espaços de participação e criação que proporcionem aos estudantes experiência de vida em coletividade, tanto na escola quanto em seu entorno. Coadunam-se com este ponto das reflexões do autor, as afirmações de Luiz Carlos de Menezes, em entrevista à Revista Escola, quando defende que as avaliações devem orientar o ensino e não se reduzirem a simples provas periódicas. Como forma integrada de avaliar, cita as atividades 89 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl desenvolvidas em uma gincana, por exemplo, em que o aluno escreve bilhetes com instruções para as ações dos colegas. Tais bilhetes são capazes de demonstrar ao professor as competências de ler e escrever de cada aluno. Freitas conclui sua reflexão questionando a existência da avaliação formal que, em sua visão, deve ser substituída pelo contato direto com a vida, em que as lacunas no conhecimento aparecerão naturalmente assim como os acertos. Quanto à motivação para o estudo, defende que não venha mais da nota, mas da necessidade de se construir o novo, por meio de um projeto de vida. resumo A atual legislação da Educação Básica no Brasil (LDB, 1996) apresenta os critérios que deverão ser observados para a verificação do rendimento escolar. O critério de “avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais” (LDB, 1996, Capítulo II, art. 24, inciso V) é expresso na concepção de avaliação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para os anos iniciais do Ensino Fundamental, os quais se distanciam da visão tradicional “que focaliza o controle externo do aluno mediante notas ou conceitos” (PCN, p. 55). A concepção presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) compreende a avaliação “como parte integrante e intrínseca ao processo educacional” (PCN, p. 56). Fica clara nos PCN a abordagem formativa da avaliação, uma vez que é entendida como fonte de informação para: o professor refletir sobre sua prática e ajustá-la às necessidades dos alunos; o aluno tomar consciência de suas dificuldades e se reorganizar para superá- las; e a escola definir prioridades e ações de intervenção pedagógica (PCN, 1997). Os PCN destacam a necessidade de se promover uma regulação contínua e sistemática da aprendizagem, princípio da avaliação formativa já destacado na unidade anterior, o que requer que esta ocorra durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não somente ao final de etapas do trabalho, como ainda se verifica nas práticas atuais. Encontramos nos PCN (1997, p. 57) indicações de como o professor pode realizar a avaliação: observação sistemática, análise das produções dos alunos, atividades específicas para a avaliação. Os PCN chamam a atenção também para dois aspectos muito importantes para que a avaliação não seja arbitrária: 90 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 Unidade II 1. Garantir que as atividades de avaliação sejam semelhantes às situações de aprendizagem com estruturas semelhantes às que os alunos estão habituados em sala de aula. 2. Deixar claro para os alunos o que se pretende avaliar, pois é nesta direção que os alunos se mobilizarão, tendo maiores chances de demonstrar o que aprenderam. Quanto à Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, cuja finalidade “é o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29, LDB, 1996) “a avaliação far- se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental” (LDB, 1996, Cap. II, art. 31). Os princípios norteadores do processo de avaliação na Educação Infantil são abordados no Parecer CNE/CEB nº 20/2009, que trata de revisão das diretrizes curriculares nacionais para esta etapa da educação básica. De acordo com este parecer, “as instituições de Educação Infantil, sob a ótica da garantia de direitos, são responsáveis por criar procedimentos para avaliação do trabalho pedagógico e das conquistas das crianças” (Parecer CNE/CEB nº 20/2009, p. 16). Para que a avaliação na Educação Infantil sirva para o propósito de desenvolvimento da criança, recomenda-se a observação sistemática do comportamento de cada uma delas, de grupos de crianças, das brincadeiras e interações entre elas no cotidiano, registrando-as por meio de relatórios, desenhos, fotografias, álbuns etc. Tais observações devem compor registros diversificados feitos por adultos e crianças, em diferentes momentos para que se possa compreender “como a criança se apropria de modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos” (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16). O conhecimento advindo da observação sistemática ajudará o professor a reorganizar as atividades de modo mais adequado ao alcance dos propósitos infantis e das aprendizagens coletivamente trabalhadas (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16). Também os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI) orientam quanto à necessidade de proceder à avaliação formativa por meio de observação e registro “das formas de expressão das crianças, de suas capacidades de concentração e envolvimento nas atividades, de satisfação com sua própria produção e com suas pequenas conquistas” (p. 91 Re vi sã o: V irg ím ia B ila tt o / L uc as K at er - D ia gr am aç ão : E ve rt on M ar tin s- 0 8/ 08 /2 01 3 AvAliAção EducAcionAl 65-66) de forma que o professor possa acompanhar o trabalho e planejar a ação pedagógica de forma adequada. Importante ressaltar que a avaliação formativa, conforme propõem os RCNEI, deve recair sobre as situações de aprendizagem criadas para a criança, vinculando a expectativa de aprendizagem às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela, valorizando suas conquistas e seus avanços, de forma compartilhada com a criança. A observação e seu registro podem ser feitos por diversos meios além da escrita, como: gravação em áudio e vídeo, produções das crianças ao longo do tempo, fotografias etc., compondo o portfólio do professor e do aluno. Os RCNEI ratificam a importância da avaliação como instrumento para que a escola possa planejar o trabalho educativo considerando as informações oferecidas pela avaliação e estabelecendo as prioridades para o trabalho educativo. Por meio da avaliação, os professores identificam os aspectos que necessitam de intervenção pedagógica planejada, servindo de reorientação da prática e subsidiando decisões sobre o que ensinar e como avaliar. Além dos conceitos e fundamentos legais da avaliação no Ensino Fundamental e na Educação Infantil, apresentamos nesta unidade as análises de Freitas et al. (2011) sobre a questão da avaliação do ensino- aprendizagem à luz de conceitos referentes a três âmbitos: o do processo pedagógico e da avaliação; o da organização do trabalho pedagógico da escola e da sala de aula; e o da formação e da instrução. As reflexões de Freitas (2010) mostram a forma que a avaliação assume no interior da escola, estabelecida para atender a determinadas funções sociais na sociedade capitalista. Organizada
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