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LITERATURA E ALFABETIZAÇÃO Semana 4 Para início de conversa... A literatura infantil no processo de alfabetização e letramento deve ser trabalhada de forma lúdica e prazerosa, indo na contramão da leitura mecanizada muitas vezes adotadas pelas escolas. Nestas práticas de leitura mecanizada, o que se espera são respostas homogeneizadas, sem muita compreensão e contextualização com a realidade das crianças. A literatura infantil tem sua importância no âmbito educacional e social, pois envolve a formação da criança leitora considerando os aspectos de criação, imaginação e produção. A importância da literatura infantil na escola A literatura infantil, além de ser uma leitura descontraída, precisa ser estrutura obrigatória da instituição. A literatura infantil precisa estar dentro das salas de aula como trabalho pedagógico. No trabalho com a literatura infantil, o professor em sala de aula deve: envolver as crianças no processo de interpretação do texto, da exploração do livro, da coligação do autor e do ilustrador com o que pretendem passar com a história narrada estimulando a curiosidade das crianças e o desejo de dialogar sobre o livro. No processo literário Abromovich (1997) vê a literatura como uma aprendizagem estética, em que as histórias lidas ou contadas explicam o mundo de um jeito que o leitor possa se situar em um universo que é dele. É um conhecimento ideal de mundos diferentes, culturas, pessoas ou situações diversas, que se caracterizam nas descobertas das emoções e sentimentos, dos caminhos internos das relações pela busca do conhecer e de se reconhecer. No processo literário Para Freire (1993), ensinar a ler é engajar-se em uma experiência criativa em torno da compreensão e da comunicação. “A experiência da compreensão é a capacidade de associar, jamais dicotomizar. E a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes na experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade. Um exercício crítico sempre exigido pela leitura e necessariamente pela escuta é o de como nos darmos facilmente à passagem da experiência sensorial que caracteriza a cotidianidade a generalização que se opera na linguagem e desta ao concreto tangível. Uma das formas de realizarmos este exercício consistente na prática a que me venho referindo como “leitura da leitura anterior do mundo”, entendendo-se aqui como “leitura do mundo” a “leitura” que precede a leitura da palavra e que perseguindo igualmente a compreensão do objeto se faz no domínio da cotidianidade. A leitura da palavra, fazendo-se também em busca da compreensão do texto e, portanto, dos objetos nele referidos, nos remete agora a leitura anterior do mundo. O que me parece fundamental deixar claro é que a leitura do mundo, que é feita a partir da experiência sensorial não basta. Mas, por outro lado, não pode ser desprezada como inferior pela leitura feita a partir do mundo abstrato dos conceitos que vão da generalização ao tangível. (FREIRE, 1993, p. 30) Práticas não desejadas de professores Transformar as atividades de leitura em atividades de avaliação, principalmente nas aulas de língua materna. O professor, não preparado para o trabalho com a formação de leitores/autores de texto, seleciona uma leitura com um prazo estabelecido para que todos a terminem e, então, começa a torturante maratona das cobranças. Práticas que inibem e expõem as crianças também devem ser evitadas. Muitas vezes, leituras em voz alta, questões “interpretativas”, exercícios sobre o léxico, que não passam de meros exercícios gramaticais, testes, provas, enfim, o aluno se vê sob um bombardeio de cobranças que, ao contrário do esperado, acaba por desmotivá-lo para a prática da leitura. . Algumas considerações Desenvolver o processo de alfabetização e letramento e a formação de uma criança leitora não é uma tarefa fácil, mas essencial nos dias atuais. Esse processo de formação envolve releituras sobre a formação docente. De acordo com autores como Freire (2008), Soares (2008), Kleiman (2005), Tfouni (2006) e Abromovich (1997), o processo de alfabetização e letramento compartilhado com a literatura infantil são procedimentos que qualificam o conhecimento e o contextualizam. O livro de literatura infantil pode ser considerado uma ferramenta valiosa para professor e para a escola como meio propulsor para promoção da melhor qualidade da aprendizagem. Paulo Freire, como bom entendedor do contexto brasileiro, propôs a mudança por meio da educação crítica. Algumas considerações O livro de literatura infantil deve se tornar um meio pedagógico fundamental para a formação da criança leitora que é capaz de ouvir, fantasiar, interpretar e, com a mediação do professor leitor, registrar o que entendeu em processo de alfabetização e letramento. Praticar atividades com a literatura infantil é qualificar o conhecimento escolarizado e buscar o prazer em aprender. Sua escolarização ainda em processo não se dá como satisfeita, pois trabalhar literatura não significa simplesmente torná-la didática, muito menos, exercê-la, paralelamente, às margens do currículo escolar. Um pouco mais de conceituação: fortalecendo nossos posicionamentos! A prática da leitura tem enfrentado muitos desafios: o preço dos livros; a desaceleração da leitura de livros, com o advento da internet, a crescente cultura dos “games” e seriados de TV, dentre outros. Desafio para a escola: como estimular o hábito da leitura? Desafio: Como desenvolver o gosto pela leitura? Nas palavras de Abramovich “Se ler for mais uma lição de casa, a gente bem sabe no que é que dá... Cobrança nunca foi passaporte ou aval pra vontade, descoberta ou pro crescimento de ninguém...”(ABRAMOVICH, 1991) Um pouco mais de conceituação: fortalecendo nossos posicionamentos! Assistimos a uma crescente ênfase da escola na necessidade de formar alunos leitores. As escolas nunca receberam dos órgãos públicos tantos livros como nos últimos anos. Entretanto, estas campanhas por si só não resolvem: há que se construir propostas pedagógicas mais efetivas para se alcançar o resultado almejado – a formação de leitores. Veja os erros recorrentes cometidos pela escola neste trabalho: Erros recorrentes da escola Seleção e indicação de leitura sem levar em conta seu valor literário; Não levar em conta o desejo e os interesses do aluno. Trabalho voltado para o conteúdo; trabalha-se a partir do livro, e não o livro. Exercícios de decifração de palavras. Questões que exigem voltar ao texto e copiar uma resposta única – a “correta”. Exercícios de identificação de ideias. Data marcada para o término da leitura, testes, provas etc. Ensinar a gostar de ler... “Ensinar a gostar de ler é permitir que a emoção aflore com os sentidos e com a razão; é desenvolver uma metodologia que permita ao aluno descobrir o que está implícito no texto; é permitir ao aluno construir sua própria leitura e encontrar respostas, sempre, é claro, compatíveis com o que diz o texto. Ensinar a gostar de ler é privilegiar o espaço da leitura na sala de aula, é incentivar o aluno provocando sua curiosidade; é propor atividades lúdicas; é explorar o texto em níveis profundos. Bem, a lista pode ser ampliada, mas é interessante que você perceba que, para ensinar a gostar de ler ou desenvolver o gosto pela leitura, é necessário que os procedimentos do professor sejam de mediação entre o aluno e o texto”. (Caderno didático, aula 10, p. 137) Um pouco de prática! Vamos lá! A educadora Raquel Villardi defende uma nova metodologia para o trabalho com o texto literário, que deve avançar a pedagogia tradicional de ensino. A autora defende um trabalho pautado na pedagogia de projetos que deve ter como pressuposto a seguinte organização: Um pouco de prática com Raquel Villardi Etapas da estrutura dos projetos, com seus respectivos objetivos. • ETAPAS/ OBJETIVOS: Atividades preliminares• Incentivar, pela curiosidade • Fornecer informações • Demonstrar o caráter lúdico do trabalho Atividades com o texto (Roteiro de Leitura) • Oferecer oportunidades para que o aluno modele sua própria leitura • Trabalhar a compreensão em níveis tão profundos quanto possível: * Utilização do método indutivo * Exploração intensiva e extensiva do texto * Abordagem analítico-sintética Atividades complementares • Favorecer relações interdisciplinares • Trazer a problemática do texto para a realidade do aluno • Desenvolver a criatividade Em síntese... Razões sociais e culturais desencadeiam o desinteresse pela leitura por parte dos nossos alunos. As metodologias utilizadas no trabalho com a leitura realizada na escola devem ser constantemente avaliadas: a própria dinâmica das atividades escolares, por si só, já dá conta do desenvolvimento do hábito de ler, seja pelas exigências estabelecidas nas diferentes aulas das diversas disciplinas, seja pelo próprio ambiente cercado de textos por todos os lados. O desenvolvimento do gosto pela leitura tem relação com o tempo, com os espaços pelos quais o indivíduo transita e com os grupos sociais com que se relaciona. E, uma vez adquirido, o gosto pela leitura jamais se perde. O professor alfabetizador deve ser um apaixonado pela leitura! Um pouco mais de prática Nas nossas leituras e discussões sobre alfabetização, ficou claro que não existem “receitas prontas” neste processo. A realidade sociocultural das crianças, da escola e do professor tem uma grande contribuição (positiva ou negativa) na formação de alunos leitores. Todavia, é necessário instrumentalizar o professor para este trabalho. Para tanto, seguem algumas sugestões para este trabalho: Um pouco mais de prática Fuja dos famosos “exercícios de interpretação” com gabaritos de respostas absolutamente controladas pelo professor. Prefira dar lugar à discussão de leituras possíveis e diversas a partir de um mesmo texto. Veja a organização da aula abaixo, sobre a obra “O menino maluquinho” de Ziraldo, e inspire-se! http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25297 http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25297 Um pouco mais de prática A alternativa do trabalho criativo com as contações de história e atividades de compreensão e aprofundamento da leitura, seguidas de registros escritos produtivos e prazerosos, pode ser mais poderosa que mil provas e trabalhos com data marcada sobre livros “paradidáticos” que foram leitura obrigatória do bimestre. Invista nas atividades com o texto: encontre uma música sobre o mesmo tema; dramatize a história, em suma, enriqueça o trabalho. Trabalhar o texto não é buscar o significado daquilo que se diz, mas os significados que surgem da maneira como se diz aquilo, já que pressupõe que o foco se dirija à matéria de que é feito o texto, ou seja, à linguagem nele utilizada. Quando um grupo de crianças, por exemplo, dramatiza uma história após sua leitura, reduplica-se aquele sentido primeiro, mais superficial, do texto; a preocupação se dirige exclusivamente ao enredo, ou seja, à história em si, e não à maneira como a história é contada. As atividades com o texto devem, portanto, basear-se no texto enquanto tal; por isso não podem restringir-se a comentários orais, nem à reconstituição do enredo. Um pouco mais de prática As atividades com o texto devem ser organizadas num Roteiro de Leitura – que em nada se aproxima dos questionários de interpretação ou das tradicionais fichas de leitura. O objetivo é levar o aluno a compreender o texto em toda a sua extensão, a refletir sobre cada elemento que compõe sua estrutura, a perceber a importância dos pormenores, até, finalmente, posicionar-se criticamente frente ao que foi lido. Assim, o aluno modela sua própria leitura: que exige: compreensão do texto; levantamento de diferentes hipóteses de significação, até que, finalmente o leitor eleja uma delas, capaz de satisfazê-lo plenamente. Só é possível ao aluno modelar sua própria leitura a partir do momento em que o texto pode ser visto por ele em toda a sua dimensão. Para chegar a esse ponto, é necessário que o aluno disponha de um material concreto, escrito, sobre o qual possa refletir e a partir do qual se criem oportunidades para a observação atenta e minuciosa das inúmeras possibilidades de leitura disponíveis no âmbito do próprio texto. Um pouco mais de prática Para a elaboração de um roteiro de leitura seguro, algumas observações específicas podem, ainda, ser úteis: • A apresentação do material. Tudo o que estiver ligado ao projeto de leitura precisa ser, como o livro, agradável aos olhos e à mente. • O caráter lúdico. Sempre que possível, deve-se optar por formas alternativas de elaborar as questões, utilizando, para isso, de recursos típicos de atividades "recreativas" (como jogos de todas as espécies, palavras-cruzadas, caça-palavras, recorte-colagem, entre outros já existentes ou criados pelo próprio professor). Um pouco de prática Para a elaboração de um roteiro de leitura seguro, algumas observações específicas podem, ainda, ser úteis: • A apresentação do material. Tudo o que estiver ligado ao projeto de leitura precisa ser, como o livro, agradável aos olhos e à mente. • O caráter lúdico. Sempre que possível, deve-se optar por formas alternativas de elaborar as questões, utilizando, para isso, de recursos típicos de atividades "recreativas" (como jogos de todas as espécies, palavras-cruzadas, caça-palavras, recorte-colagem, entre outros já existentes ou criados pelo próprio professor). Um pouco mais de prática Desenvolver a criatividade é um elemento de extrema importância. Está relacionado ao caráter mágico da literatura. À medida que é posto em contato com textos criativos, o aluno tende a permitir-se ousar, falando, escrevendo, desenhando, ou seja, construindo mundos a que ele chega tirando os pés do chão. Todos nós, adultos e crianças somos potencialmente criativos. O despertar dessa criatividade depende apenas de uma estimulação adequada". A leitura de bons livros -- criativos, estimulantes, instigantes -- gera no aluno uma predisposição natural a essa "ousadia". Como uma parcela considerável da literatura infanto-juvenil se fundamenta no fantástico, se as atividades de criação -- marcadamente as de produção de texto -- ocorrem após um trabalho de leitura solidamente articulado, os resultados obtidos são significativamente melhores, ou seja, os textos produzidos se apresentam mais bem estruturados, fugindo ao lugar-comum, buscando variações tanto no que se diz quanto na maneira como diz. Finalizando... Vamos contar mais histórias com entusiasmo! Com prazer! Com ludicidade! Com magia! Nós professores, somos fundamentais neste processo!