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Superinteressante - A reinvenção de cérebro

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p. 58
os primeiros 
habitantes das 
américas. no piauí. 
p. 48
o futuro, de 
acordo com 
stephen hawking.
p. 54
a câmera do celular 
está destruindo 
nossas lembranças.
p. 08
afinal, o que 
aconteceu com 
a Venezuela? 
Ed
iç
ão
 4
00
 • 
m
ar
ço
 2
01
9 a história 
da EugEnia 
A busca pela “raça pura” não 
é só coisa de nazista. Foi 
um fenômeno global, e seu 
fantasma segue presente. p. 32
cérebro
a r E i n v Enção d o
p o r b r u n o g a r a t t o n i
E t i a g o c o r d E i r o
Ler pensamentos, implantar 
memórias, aumentar a 
inteligência. Existem 
cientistas tentando fazer 
tudo isso – e conseguindo. 
Conheça as pesquisas mais 
surpreendentes. p. 22
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interatiVidade
A j u d A 1 / 1 c o m o n a v e g a r n a s u a e d i ç ã o
1
carta ao leitor e d i t o r i a l
Alexandre Versignassi
Diretor De reDação
AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br
Você está com uma reVista 
histórica nas mãos. Esta é a nossa 
edição número 400. Comecei a 
tabalhar aqui na 224, de março de 
2006 – há exatos 13 anos. Naquela 
época a SUPER já era uma publicação 
tadicional. E fazer parte dela, mais 
do que a realização de um sonho, era 
uma responsabilidade difícil de 
medir: a de manter aceso o fogo da 
revista mais amada do País. 
 Mesmo assim, era um tabalho 
mais simples que o de hoje. Éramos 
só uma revista mensal. Agora não. 
Produzimos dezenas de reportagens 
a cada semana para o nosso site, 
além de atalizar as melhores 
matérias da história da SUPER 
– aquelas que não têm data de 
validade, pois valem cada uma como 
um pequeno livro de não-fcção. 
 Trata-se de um esforço que dá 
resultado. Hoje, a SUPER é até mais 
relevante do que era no tempo em 
que só havia a edição impressa. Com 
13 milhões de visitantes únicos por 
mês, somos um dos maiores sites de 
divulgação científca do mundo, bem 
à frente de publicações estangeiras 
de primeira linha, como a Scientfc 
American (3,3 milhões), a Popular 
Science (2,8 milhões) e a NewScientst 
(2,8 milhões). Mesmo a (ótma) 
página da Nasa, com seus 12 milhões 
de visitantes únicos, tem menos 
audiência que a nossa. Nunca 
tvemos tantos leitores. 
E isso se refete em outos núme-
ros. Para ter acesso ilimitado ao 
nosso site, você precisa de uma 
assinatra digital. E já contamos com 
73 mil assinantes nessa modalidade. 
Em suma: a SUPER já é uma publica-
ção online consolidada. 
 Também temos uma boa presença 
nas redes sociais, com 3,9 milhões de 
PUBLICIDADE Daniela Seraf im (Financeiro, Mobil idade , 
Tecnologia, Telecom, Saúde e Serviços) , Renato Mascarenhas 
(Beleza, Higiene, Decoração, Moda e Mídia & Entretenimento), 
Renata Miolli (Alimentos, Bebidas, Imobiliário, Educação, Turismo 
e Varejo), William Hagopian (Regionais), Yuri Aizemberg (Diretor 
Relacionamento com Mercado) ASSINATURAS E VAREJO 
Daniela Vada (Atendimento e Operações), Ícaro Freitas (Varejo), 
Juliana Fidalgo (Gobox) , Luci Silva (Relacionamento e Gestão 
Comercial), Patricia Frangiosi (Comunicação), Rodrigo Chinaglia 
(Produtos) ATENDIMENTO E OPERAÇÕES Daniela Vada CANAIS 
DE VENDAS Luci Silva MARKETING DE MARCAS, EVENTOS E 
VÍDEO Andrea Abelleira AUDIÊNCIA DIGITAL Isabela Sperandio 
MARKETING CORPORATIVOE E PRODUTO Rodrigo Chinaglia 
PROJETOS ESPECIAIS E ABRIL BRANDED CONTENT Ivan 
Padilla DEDOC E ABRILPRESS Adriana Kazan PLANEJAMENTO, 
CONTROLE E OPERAÇÕES Filomena Martins
IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL
Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, 
São Paulo, SP
Vendas: www.assineabril.com.br
Grande SP: 11 3347-2145
Demais localidades: 0800-7752145
De 2ª a 6ª feira das 8h às 22h 
Vendas Corporativas, projetos especiais e vendas em lote:
assinaturacorporativa@abril.com.br
 
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Diretor de Redação: Alexandre Versignassi Editora de Arte: Bruna 
Sanches Editor: Bruno Garattoni Editora assistente: Ana Carolina 
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SUPERINTERESSANTE edição nº 400 (ISSN 0104-178-9), ano 33, nº3, é 
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Fundada em 1950
VICTOR CIVITA
(1907-1990)
ROBERTO CIVITA
(1936-2013)
Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), 
Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente) 
 e Giancarlo Civita
seguidores no Facebook e outos 
3,9 milhões no Twiter. No 
Instagram, começamos a publicar 
reportagens “pocket” – com temas 
complexos resumidos em artgos 
de alguns parágrafos. Dá uma 
olhada lá nas nossas séries 
#MulherCientsta e #ColunINSTA-
Cósmico para entender melhor.
 Esse tpo de iniciatva é fruto 
de um tabalho diário dos repórte-
res Luiza Monteiro e Bruno 
Vaiano, e da designer Juliana 
Krauss, nova integrante da nossa 
equipe de arte. E foi fndamental 
para que a nossa audiência no 
Instagram mais do que dobrasse 
em um ano, de 250 mil para 550 
mil seguidores. 
 Agora anota aí. Quando 
chegarmos a chegar a um milhão, 
vamos sortear os dez livros mais 
vendidos da SUPER ente os 
seguidores. Nosso catálogo, com 
43 obras feitas pelos jornalistas 
aqui da casa, e que vai ganhar mais 
tês títlos neste ano, já está bem 
fornido, afnal – e também mosta 
que somos mais do que uma 
revista; somos uma insttição 
voltada a disseminar o conheci-
mento humano, em todas as 
plataformas que existem, e que 
vierem a existr.
 Mesmo assim, a edição impres-
sa segue sendo o xodó da redação. 
Ela é o nosso disco de vinil: um 
produto artesanal, precioso, para 
colecionar. E que serve de base 
para todo o nosso ecossistema. 
Obrigado por prestgiá-lo.
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54 Viciado em Instagram?
Não é só vocÍ: como a obsessão por tirar 
fotos está destruindo nossa memória.
58 Serra da Capivara
Os segredos arqueológicos (e a disputa 
científca) que se escondem no Piauí. 
m a r ç o d e 2 0 1 9cardápio
essencial oráculo
última páginasupernovas
6 uma imagem...
A peregrinação de 
Kumbh Mela, na Índia.
66 combine com os russos 
Qual é a diferença entre 
astronauta e cosmonauta?
74 abc ancestral
A história das letras do 
alfabeto – dos canaani-
tas até hoje.
71 manual
Como organizar um bloco 
de Carnaval para chamar 
de seu. 
10 tóquio 2020
Criptomoedas prometem 
nas olimpíadas nipônicas. 
8 ... uma opinião 
Afinal, o que 
aconteceu com a 
Venezuela?
14 3 notícias sobre
17 não é bem assim...
12 enquanto isso...
67 pá pum
18 pérolas do mês 70 conexões
70 lost in translation
69 lista
32 Eugenia, ontem e hoje
A busca da “raça pura” não foi uma lou-
cura isolada de Hitler: foi uma estupidez 
mundial, que ainda reverbera. 
40 A ascensão do caviar
Ele já foi ração de gado. Entenda 
as reviravoltas que lançaram sobre as ovas 
o maior raio gourmetizador da história.
Parece Blade Runner. 
Mas pode ser você.
48 Stephen Hawking
Em livro póstumo, o físico encara pergun-
tas difíceis: Deus existe? Dá para prever o 
futuro? Os robôs vão dominar o mundo? 
22 Capa
a reinvenção 
do cérebro 
Implante de memória, inteligÍncia turbi-
nada e telepatia: conheça as pesquisas que 
vão virar seu cérebro de ponta-cabeça.
e se...
72 dois é demais 
E se a política do flho 
único existisse no Brasil?
Capa I Ilustração Yan Blanco
67 matemágico 
O Oráculo explica a fta de 
Moebius.64 
mil 
castrações 
compulsórias 
foram reali�
zadas nos eua 
entre 1907 e 
1963 graças à 
eugenia.
p. 35
número
incrível
12 baiacu farmacêutico
O comprimido que entra 
pequeno pela boca – e fca 
enorme no estômago. 
20 subiu o idç da sala
Conheça a TV micro LED: 
uma mistura de LCD com 
OLED (e a gente explica 
a sopa de letrinhas). 
18 a fauna de tim burton
Na rabeira de Dumbo, 
relembramos as criaturas 
fantásticas do diretor.
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s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 1 
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ESSENCIAL U M A I M A G E M . . .
Foto NurPhoto/Getty Images
U M A I M A G E M . . .
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e s s e n c i a l 2 / 4 
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essencial
Ela já foi uma das 
quatro nações mais 
ricas do mundo, 
tem mais petróleo 
que a Arábia 
Saudita, e está 
quebrada. Entenda 
como o chavismo 
arrebentou o país. 
Há sete meses no Brasil, tabalhando em um restaurante peru-
ano de dono argentno na capital paulista, a venezuelana Eliza é 
mais uma ente as tantas fguras que dão vida ao sincretsmo da 
cultra brasileira. Mas Eliza e seu irmão, a quem ajudou a emigrar 
para o País há tês meses, também representam um fenômeno 
assustador: o êxodo venezuelano. 
Desde 2015, 3 milhões de cidadãos abandonaram a Venezuela. 
Um em cada dez habitantes. Metade imigrou para Colômbia e 
Peru. O Brasil, que tem seu cento econômico longe da fronteira 
com a Venezuela e fala outo idioma, recebeu menos gente, mas 
mesmo assim um contngente considerável: 85 mil pessoas. Boa 
parte sem nada e disposta a morar na rua em Roraima. De acordo h
. . . u m a o p i n i ã o
Afnal de 
contas, o 
que aconte-
ceu com a 
Venezuela?
na página anterior: Poderia ser o Cordão da Bola Preta, mas é algo mais tradicional 
que o bloco carioca de 101 anos. Esses são os Naga Sadhus, guardiões do hinduísmo 
que vivem nas montanhas, isolados das tentações da sociedade. Eles descem para 
a festiva peregrinação de Kumbh Mela, que dura 45 dias. Nela, milhões de féis se 
banham na foz do rio sagrado Yamuna, no nordeste da Índia, para lavar seus pecados.
p o r f e l i p p e h e r m e s
 
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e s s e n c i a l 3 / 4 
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0
com um levantamento da FGV, 30% 
deles têm curso superior. 
E a tendência é piorar. A ONU estma 
que o número de refgiados deve che-
gar a 5,3 milhões até o fnal deste ano. 
Quase 20% da população – um êxodo 
de proporções bíblicas. Tudo isso num 
país que detém as maiores reservas de 
petóleo do planeta (bem à frente da 
Arábia Saudita, a segunda colocada). Tu-
do isso numa nação que, até o início do 
século 21, tnha o maior PIB per capita 
da América do Sul, e que, na década de 
1950, estava ente as quato mais ricas 
do mundo. O que houve?
República estatsta
Claro que as ditaduras de Chaves 
(1999-2013) e de Maduro (desde 2013) 
estão no cento do problema. Mas a 
história é mais longa. Após a descober-
ta de petóleo na Venezuela, em 1922, 
o país viu uma sucessão de golpes e 
partdos polítcos que buscavam abo-
canhar parte dos recursos gerados nos 
acordos com companhias estangeiras. 
O que parecia resolvido com a demo-
cracia, implementada em 1958, e que 
se tornaria a mais longeva da América 
do Sul, durou pouco. 
Em 1973, após o primeiro choque do 
petóleo, o país decidiu nacionalizar 
empresas petolíferas, condensando t-
do na gigante PDVSA. Com recursos do 
petóleo, o Estado adentou na econo-
mia. Grandes empresários perceberam 
que, estando os recursos no governo, 
deveriam adaptar-se e produzir para o 
governo, não para os consumidores. E 
a população foi se tornando cada vez 
mais dependente do auxílio estatal. 
Bom, petóleo e derivados respon-
dem por 96% das exportações da Ve-
nezuela (no Brasil, por exemplo, são só 
9%). O boom na cotação do barril, na 
década passada, sob o governo Chavez, 
fez ingressar na Venezuela mais de US$ 
750 bilhões. Com contole total sobre a 
maior fonte de riqueza do país e acha-
ques a empresários, Chavez aproveitou 
a bonança para expandir ainda mais a 
presença do Estado na economia. 
Comprou da iniciativa privada o 
contole de siderúrgicas, bancos, in-
dústias de alimentos, fábricas de todo 
tpo. Ente 2008 e 2015, o setor privado 
recuou de 70% para 20% do total de 
bens de consumo providos no país. A 
torra de dinheiro colocou lá em cima 
o défcit público (ou seja, o tanto que o 
governo gasta a mais do que arrecada). 
O Brasil, que precisa de reformas para 
não quebrar, tem hoje um défcit de 
7,5% do PIB. O da Venezuela chegou 
rapidamente a 16%. 
Com os recursos públicos quase 
todos destinados a cobrir o déficit, 
começou a faltar dinheiro na joia da 
coroa, a PDVSA. A produção de petó-
leo implodiu, saindo de 3,2 milhões 
para 1,5 milhão de barris diários (me-
nos que a Petobras, que tra 2 milhões 
de barris/dia). Para piorar, a cotação 
do barril de petóleo saiu de US$ 103 
em 2014 para US$ 35,7 em 2017. Com 
menos dólares entando, o país em-
pobreceu severamente: em 2012, eles 
importavam US$ 62 bilhões. Em 2018, 
foram só US$ 9,2 bilhões (o Brasil, para 
dar uma referência, importou US$ 180 
bilhões no ano passado, com dólar em 
alta e tdo o mais). 
Impressora de dinheiro
Para ter como pagar os salários dos 
fncionários públicos, o governo recor-
reu à mais imbecil das soluções: ligar 
as impressoras de dinheiro. Com mais 
moeda em circulação do que coisas 
para comprar, não deu outa: os preços 
infaram. Em 2019, a infação venezue-
lana deve passar dos 10 milhões por 
cento, segundo o FMI. Em meio a esse 
caos, a retação do PIB chegou a 13,7% 
em 2017; mais 15,4% em 2018. Hoje, 
nove em cada dez venezuelanos estão 
abaixo da linha da pobreza. 
Nisso, o governo Maduro entou em 
colapso. Sua últma eleição foi decla-
rada fraudulenta pelo Parlamento ve-
nezuelano. Juan Guaidó, o jovem líder 
da Assembleia, de 35 anos, declarou-se
presidente interino da Venezuela em ja-
neiro, e foi reconhecido como tal pelos 
EUA, pelos maiores países da Europa e 
por boa parte da América Latna (Brasil 
incluído, obviamente). 
Milícia
Mas falta combinar com os russos. 
A declaração de Guaidó não vale nada 
dento da Venezuela, porque Maduro 
tem costas quentes. Com uma força 
militar e paramilitar bem armada, o 
ditador tem instumentos para intmi-
dar quem lhe faça oposição. Em 2008, 
Hugo Chávez distibuiu 100 mil fzis 
para sua milícia. Em 2017, foi a vez de 
Maduro armar outos 500 mil. A milí-
cia, uma espécie de SS implementada 
pelo chavismo, tem sido responsável 
por boa parte da repressão, e segue fel 
ao líder chavista. 
Os militares venezuelanos, que dão 
suporte a Maduro no poder, contolam 
14 dos 32 ministérios, além de gerir a 
PDVSA, responsável por basicamente 
todas as receitas em dólar do país e, sem 
surpresa, de onde sai boa parte dos des-
vios de recursos públicos – de acordo 
com uma delação do banqueiro suíço 
Mathias Krull, só a família de Maduro 
desviou US$ 1,2 bilhão.
Além dos militares, Maduro possui 
ampla condescendência do Judiciário, 
o qual tatou de aparelhar ao longo 
de seu mandato. Ainda que enfrente 
oposição na Assembleia, como a do 
presidente da casa, há pouco ou nada 
que o Legislatvo possa fazer tendo as 
mãos atadas pelos juízes. 
Mantdo o poder, Maduro enfrentaria 
novas eleições apenas em 2025, quando 
a Revolução Chavista completaria 27 
anos. Se ainda estver por lá, não res-
tam dúvidas de que a Venezuela terá 
ensinado lições valiosas sobre como 
arruinar um país. S
Um em cada seis venezuelanos 
terá deixado seu país até 
o fm de 2019. Um êxodo 
de 5,3 milhões de pessoas.
E d i ç ã o a l e x a n d r e v e r s i g n a s s i
 
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Tóquio: a Olimpíada das criptomoedas
e d i ç ã o a n a c a r o l i n a l e o n a r d i
supernovas
O japãO é analógicO quando o assunto é gra-
na: cerca de 65% dos pagamentos por lá são feitos 
em dinheiro de papel. Dinheiro de plástco, como 
cartão de crédito e débito, nem é aceito em boa 
parte dos comércios locais. Com o fuxo enorme 
de tristas que é esperado para os Jogos Olím-
picos de Tóquio, o país quer mudar esse quadro. 
Um dos caminhos testados? Criptomoedas. Três 
grandes bancos japoneses estão desenvolvendo 
as suas – e ao menos uma rede de pagamento 
baseada em blockchain deve ser lançada a tempo 
das Olimpíadas. O plano é que o sistema do 
Mitsubishi UFJ Financial Group processe mais 
de 1 milhão de tansações por segundo – dez 
vezes mais do que a capacidade das bandeiras 
atais de cartão, como Visa e Mastercard.
 
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sn. f a t o s
Foto Alex Silva Ilustração Brunna Mancuso 
O númerO de vOltas que a Terra deu ao redor 
do Sol desde que você nasceu é apenas uma 
das formas de medir a sua idade. O envelheci-
mento, afnal, é uma medida de quanto o seu 
organismo já se desenvolveu – e, depois de 
uma certa fase, de quanto ele já se deteriorou. 
 Há quem envelheça num ritmo mais rápido 
que o normal, e quem mantenha um corpi-
nho relatvamente jovem, apesar de sua data 
de nascimento. Para calcular essa idade bioló-
gica, a ciência conta com tuques como medir, 
por exemplo, as pontnhas dos cromossomos, 
chamados telômeros. Quanto mais curtos, em 
geral, maior o nível de envelhecimento celular 
de alguém. Agora, porém, cientstas acreditam 
que encontaram outa medida importante – 
no intestno. Usando inteligência artfcial, eles 
descobriram que a coleção de bactérias que vive 
no intestno de cada pessoa (o microbioma) sofre 
variações típicas para cada faixa etária. Desse 
padrão, emerge também o fato de que algumas 
pessoas têm a “idade intestnal” incompatível 
com a data de nascimento – o microbioma pode 
estar numa fase mais “velha” ou mais “jovem” 
que o esperado para a idade do indivíduo. 
 Essas descobertas são essenciais para cien-
tstas que estdam a longevidade. Ao entender 
as característcas (inclusive microbiótcas) das 
pessoas que envelhecem melhor, eles podem in-
vestgar como melhorar a velhice de todo mundo.
Quantos anos você tem (de acordo com seu intestino)?
A coleção de bactérias que vive por lá pode ajudar a defnir a qualidade da sua velhice.
Quanto maior a 
recompensa de um 
desafo, segundo a 
neurociência, melhor 
a nossa performance 
nele: até a coordena-
ção motora costuma 
melhorar. Mas isso 
até certo ponto: 
quando a pressão 
é alta demais, e há 
muito a ganhar (e a 
perder), a maioria 
das pessoas trava – e 
a habilidade cogniti-
va piora. Cientistas 
descobriram que 
essa “travada” está 
associada à atividade 
cerebral na região 
do corpo estriado 
ventral. Em geral, a 
área fca mais ativa 
durante o desafo. 
Mas, quando o medo 
de perder fca grande 
demais, a atividade 
diminui – e a cone-
xão com o controle 
motor no cérebro 
também cai.
Por que trava-
mos sob pressão
é O númerO de 
biliOnáriOs 
cujo patimônio, 
somado, equivale 
a todo o dinheiro 
que possuem as 
3,8 bilhões de pes-
soas mais pobres 
do mundo (ou seja: 
51% da população 
do planeta).
disse john amirrezvani, pesquisador que denunciou um“mercado negro de perfs” no Facebook. Empresas 
de anúncios abordavam usuários oferecendo dinheiro para “alugar” suas contas por algumas horas. O obje-
tivo era usá-las para lançar posts patrocinados – por vezes, com cunho político ou recheados de fake news 
– e esconder de onde eles vieram. Se o perfl acabava banido, os anunciantes partiam para a próxima mula.
26
“São mulas para ‘lavar’ anúncios”,
 
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sn. f a t o s
Comprimido-baiaCu inCha para tratar estômago
o que você pensa quando vê um baiacu? 
Xuanhe Zhao, engenheiro mecânico do MIT, 
teve uma epifania. Especialista em hidrogel, 
ele criou uma cápsula capaz de monitorar 
a saúde do estômago por longos períodos, 
sem ser destuída pelos ácidos estomacais 
nem causar desconforto ao paciente. 
O que motivou você a desenvolver a 
cápsula-baiacu? Existe uma demanda na 
medicina para criar dispositvos ingeríveis 
melhores. Quando estamos falando em 
um comprimido que precise passar muito 
tempo no estômago, liberando remédios 
ou monitorando temperatra ou acidez, o 
que você geralmente tem são eletônicos 
feitos de materiais rígidos como plástco, 
ou cerâmica, que incomodam ao passar 
pelo tato gastointestnal, e podem até 
machucar a mucosa. Eu tabalho com hi-
drogel – e sempre achei que seria uma boa 
alternatva. O problema é que hidrogéis 
natrais, como a gelatna, são facilmente 
digeríveis pelo organismo. 
Como foi que o peixe se tornou inspiração? 
Vimos, no YouTube, um baiacu expandir 
muitas vezes o seu tamanho, sem que a sua 
pele perdesse elastcidade ou resistência. 
Nos inspiramos nisso para desenvolver 
um material que suportasse o ambiente 
gástico cáustico, cheio de movimentos 
cíclicos e contações, e que também con-
seguisse se expandir para permanecer no 
estômago sem ser expelido.
Como vai funcionar o uso do comprimido? 
Quando chega ao estômago, a interação da 
cápsula com o ácido estomacal faz com que 
ele aumente cem vezes de tamanho em 15 
minutos. Lá, imaginamos que ele possa li-
berar medimentos ou até agir como balão 
gástico, para passar a sensação de saciedade 
e promover emagrecimento. Quando não 
for mais necessário, o comprimido pode 
ser expelido. O paciente só precisa beber 
uma solução concentada de cálcio, que não 
faz mal ao organismo, e o aparelho volta ao 
tamanho original. Ana Carolina Leonardi
Fontes ( Ford Europe ( Quaternary 
Science Reviews ( A new genomic blueprint
of the human gut microbiota. ( Nasa.
Por Ingrid Luisa
enquanto 
isso...
Um internauta 
corneteiro fez nascer 
o herói nacional 
Macaco Cidadão.
Engenheiro do MIT criou cápsula que fca 100 vezes maior dento da barriga.
A Ford criou uma tecnologia 
para colchões de casal que 
impede que uma pessoa ocupe 
o espaço da outra na cama (.
Cientistas descobriram mais 
de 2 mil novas bactérias na 
fora intestinal humana(.
Chefe da Nasa declarou que 
americanos voltarão à Lua 
“para fcar, não visitar”(.
Ilustração Brunna Mancuso
Uma possível pegada de 
neandertal, com cerca de 
29 mil anos, foi encontrada 
em Gibraltar (.
 
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Fonte Four Decades of Antarctic Ice Sheet Mass Balance from 1979–2017, Proceedings of the National Academy of Sciences. 
14.661
foi o número de pássaros que colidiram com aviões nos EUA em 2018. Só essa 
fração do total mundial equivale a mais de 40 passarinhos atingidos por dia. Esses 
acidentes são monitorados desde 1990, e, com o aumento do tráfego aéreo, cresce-
ram 692% de lá para cá. O que as fabricantes de aeronaves têm feito é desenvolver 
turbinas que não entrem em colapso ao colidir com os bichos – o que resolve o risco 
do avião cair por conta de uma batida dessas. Já para proteger os passarinhos, há ini-
ciativas como soltar aves de rapina nas áreas próximas a aeroportos. Alguns pássaros 
podem até virar jantar, no início – mas, no longo prazo, aprendem a evitar a região.
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1979 - 1989 1989 - 1999 1999 - 2009 2009 - 2017
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anTárTIDa (ToTaL)
marGem de erro
Quanto gelo a Antártda já perdeu
Um novo estdo da Universidade da Califórnia revela, em gigatoneladas, quanto de gelo antártco já “escor-
reu pelo ralo” desde 1979 – e quais foram as áreas do contnente mais afetadas pelo derretmento.
PLaTaforma De 
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sn. f a t o s
Beijos
3 notícias sobre
1. 2. 3.
Males beioqueiros
O vírus da mononucleose – co-
nhecida como Doença do Beijo 
– afeta 90% da população, 
ainda que boa parte nunca 
apresente sintomas. Ela tem 
ligações, porém, com um mal 
bem mais grave: a esclerose 
múltipla. Um novo estudo 
mostra que terapias drásticas 
para reduzir a presença do 
vírus no organismo diminuem 
sintomas entre os pacientes 
que sofrem com a esclerose(.
Diga-me quem tu beias 
Mais de dez pessoas foram 
infectadas com salmonela nos 
EUA, em um onda de contami-
nação causada por beijos em 
porcos-espinhos de estimação. 
O Centro de Prevenção de Do-
enças precisou emitir um aviso 
nacional por lá, para que as 
pessoas parassem de acariciar 
seus bichinhos perto do rosto. 
No Brasil, afagos desse tipo 
são ilegais: não é permitido ter 
bichos exóticos em casa(.
ninho do amor
Que diferentes espécies 
de hominídeos transavam 
entre si, os cientistas já 
sabiam. A grande novidade 
são evidências de que uma 
única caverna na Sibéria foi 
habitada, ao mesmo tempo, 
por neandertais, denisovanos 
e, possivelmente, até Homo 
sapiens. Os indícios apontam 
para uma coabitação de até 
100 mil anos – a festa univer-
sitária mais longa da história(.
Beijos ancestrais em uma caverna na Sibéria, beijos espinhosos e ataques ao vírus do beijo.
A IBM, especialista 
em inteligência 
artifcial, está 
montando um 
projeto com a 
empresa america-
na de alimentos 
McCormick, 
uma das maiores 
produtoras de 
temperos do 
mundo. O objetivo 
é criar novas recei-
tas e misturas de 
temperos prontos, 
sem que eles preci-
sem passar por um 
longo processo de 
desenvolvimento 
só com funcio-
nários humanos. 
Por enquanto, os 
resultados foram 
ambíguos: o algo-
ritmo já sugeriu 
cominho para um 
tempero de pizza 
– uma combinação 
inusitada que deu 
certo. Mas tam-
bém já errou feio: 
para uma receita 
de tempero para 
arroz, por exem-
plo, o computador 
sugeriu usar sal no 
lugar do... arroz.
Tem-
peros 
inteli-
gentes
Ilustração ( Fido Nesti Fontes ( Epstein-Barr virus–specific T cell therapy for progressive multiple sclerosis. ( Timing of archaic hominin occupation of 
Denisova Cave in southern Siberia.( Investigation notice: Outbreak of Salmonella Infections Linked to Pet Hedgehogs. ( GLOBALWEBINDEX (2018), Hootsuite
Países 
ciber-
viciados
1
M é d i a d e u s o d e 
p e s s oa s e n t r e 
16 e 64 a n o s , e M 
4 0 pa í s e s .
6h42Min
média global
40 o ja pão
3h45Min
último lugar
1 o f i l i p i na s 2 o b r a s i l 3 o ta i l â n di a
10h2Min
De uso De internet 
por Dia
9h29Min 9h11Min
top 3
(
 
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sn. f a t o s
A notíciA
Governo dos EUA 
censura pediatra 
que provou 
relação entre 
autismo e vacina 
o que elA diziA
Em 2007, o médico 
Andrew Zimmerman 
testemunhou na 
Justiça contra a ale-
gação de que vacinas 
causariam autismo em 
crianças. Nos 11 anos 
seguintes, porém, seus 
próprios estudos mos-
trariam que ele estava 
errado, mas o governo 
recusou-se a deixá-lo 
se retratar.
quAl é A verdAde
Zimmerman é e 
sempre foi a favor da 
vacinação. O boato 
nasceu de um estudo 
que ele liderou, no qual 
uma criança com pro-
blemas congênitos nas 
mitocôndrias mostrou, 
de surpresa, regressão 
cognitiva típica do 
autismo. A conclusão 
da equipe foi de que o 
gatilho teria sido uma 
reação infamatória 
leve à vacina contra ru-
béola. O caso mudou, 
sim, a vida de Zimmer-
man: o neuropediatra, 
passou a investigar a 
relação entre autismo 
e mitocôndrias (e não 
vacinas, óbvio).
Não é bem 
assim... 
Notícias que 
bombaram por 
aí - mas não são 
verdade
As famosas estátas de pedra da Ilha de 
Páscoa, chamadas de moais, eram constuí-
das em homenagem a pessoas importantes 
dos clãs que viviam por lá séculos atás. Elas 
representavam o cento cerimonial de cada 
vila e nunca fcavam de frente para o mar – 
sempre olhando para o interior dos povoados, 
como grandes protetores de pedra. Um novo 
estdo, recém-publicado no periódico PLOS 
One, acredita que a posição das estátas, no 
entanto, tem um signifcado exta. Segundo 
os pesquisadores, elas marcavam a localização 
de fontes de água fresca e potável, um recur-
so indispensável em um território pequeno, 
equivalente à metade de Ilhabela, onde gru-
pos diferentes competam por mantmentos 
básicos. Antopólogos da Universidade de 
Oregon fzeram uma análise espacial de onde 
fcam as moais – e concluíram que quantdade 
de estátas concentadas em um só ponto 
parece indicar o tamanho da fonte e a qua-
lidade da água encontada ali. ACL
o mapa
aquático das Estátuas da ilha dE páscoa
Um novo estdo afrma que as moais apontavam para localização de água fresca.
Uma proposta de lei recém-apresentada no Havaí quer limitar o acesso ao cigarro ape-
nas à população mais velha do arquipélago – e põe mais velha nisso. A proposta é impor 
um limite progressivo de idade para a compra de cigarros: no ano que vem, apenas pessoas 
de 30 anos poderiam comprar um maço na banca. No ano seguinte, apenas maiores de 
40… E assim por diante, até 2024, quando a idade mínima será de 100 anos. O objetivo, 
claro, é reduzir pouco a pouco o mercado consumidor de cigarros, e desincentivar o uso 
especialmente entre a população mais jovem, até tornar o negócio inviável.
cigarros no havaí: proibidos para menores de 100 anos
 
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O CIRCO DO TIM BURTON O insólito diretor é o responsável pela versão com atores de Dumbo, o elefante com orelhas enormes, que es� eia nos cinemas em 29/3. Aqui, algumas curiosidades sobre ou� os personagens dele.
1 BEETLEJUICE
FILME Os Fantasmas 
se Divertem
ANO 1988
No roteiro original, 
Beetlejuice era bem 
mais maléfico do que 
é no filme. Em vez de 
um fantasma, ele seria 
um demônio alado, e 
seu plano para a família 
Deetzes era estupro e 
assassinato (não tra-
vessuras e casamento).
2 EDWARD MÃOS
DE TESOURA
FILME Edward Mãos 
de Tesoura
ANO 1990
Tim Burton imaginou 
o personagem em 
1974, quando estava 
no ensino médio. 
Para dar vida a esse 
sonho, Johnny Depp 
emagreceu 25 quilos e 
usou um cabelo base-
ado em Robert Smith, 
vocalista do The Cure.
3 JACK SKELLINGTON
FILME O Estranho 
Mundo de Jack
ANO 1993
Todo filmado em stop 
motion, o protagonista 
Jack teve mais de 400 
cabeças diferentes ao 
longo do filme e eram 
Fotos Reprodução/Divulgação
CANAL 
Daily dose of 
internet
YouTube
A americana que foi presa, 
algemada e aí roubou o car-
ro da polícia. A colmeia que 
usa ilusão de óptica para se 
defender. O que acontece se 
você molhar um sonrisal no 
espaço – ou estiver a bordo 
de um avião afundando na 
água. O melhor dos vídeos 
virais, em 3 minutos diários. 
CANAL 
Engineerguy
YouTube
Você sabe por que as latas 
de alumínio têm fundo 
curvo? Como o celular sabe 
se está na vertical? Como 
a cafeteira “puxa” a água 
sem um motor? Desvende 
esses e outros mistérios 
da engenharia neste canal 
– que está em inglês, mas 
tem tradução (clique em 
Configurações e Legendas). 
PÉROLAS DO 
STREAMING
O CIRCO DO TIM BURTON Aqui, algumas curiosidades sobre ou� os personagens dele.
Os Fantasmas 
mais maléfico do que 
é no filme. Em vez de 
um fantasma, ele seria 
um demônio alado, e 
seu plano para a família 
Deetzes era estupro e 
assassinato (não tra-
vessuras e casamento).
Edward Mãos 
Tim Burton imaginou 
1974, quando estava 
sonho, Johnny Depp 
emagreceu 25 quilos e 
usou um cabelo base-
ado em Robert Smith, 
vocalista do The Cure.
JACK SKELLINGTON
Todo filmado em stop 
motion, o protagonista 
Jack teve mais de 400 
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E D I Ç Ã O B R U N O G A R A T T O N I
Texto Ingrid Luisa
e Rafael Popp
Ilustração Leonardo
Soares
necessários três frames 
(quadros) para cada vez 
que ele piscava. Já que 
cada segundo do filme 
tinha 24 frames, um 
minuto levava uma se-
mana para ser filmado.
4 GATO QUE RI
FILME Alice no País 
das Maravilhas
ANO 2010
O gato sorridente é 
conhecido por ditos 
ilógicos e por aparecer 
em uma árvore. E ela 
foi inspirada por uma 
árvore real, que está 
de pé em um jardim no 
Christ Church College, 
em Oxford, atrás da 
antiga casa de Alice 
Liddell - que inspirou a 
personagem principal. 
5 SPARKY
FILME Frankenweenie
ANO 2012
Mais de 200 fantoches 
e cenários foram 
criados para o filme, 
incluindo 12 do cão-
zinho Sparkys. Vários 
bonecos do mesmo 
personagem permiti-
ram que se trabalhasse 
em mais de uma cena 
ao mesmo tempo.
TRÓPICO é uma espécie de SimCity 
mais realista: além de construir 
e gerenciar uma nação, você (no 
papel de um líder chamado “El 
Presidente”) também pode pagar 
propinas, fraudar eleições, mentir 
para a opinião pública e até matar 
opositores, entre outras gentilezas. 
No novo game da série, a grande 
novidade está no povo, que ficou 
mais difícil de engambelar – agora, 
cada habitante virtual tem sua 
própria personalidade, desejos e 
esperanças. Tropico 6. Para PC, 
Mac, PS4 e Xbox One. US$ 50. 
DESDE A ESTREIA DE AVATAR nos cinemas, 
há quase dez anos, os filmes em 3D foram 
perdendo relevância – o público simples-
mente se cansou do efeito. Mas este sus-
pense chinês, sobre um criminoso que ten-
ta acertar as contas com o passado, usa a 
tecnologia de um jeito novo e interessante. 
O filme é exibido em 2D, mas a projeção 
muda para 3D (com óculos especiais) na úl-
tima cena: uma reconstrução visualmente 
incrível, com 50 minutos e nenhum corte 
de câmera, de um sonho do protagonista. 
Longa Jornada Noite Aden� o. 
Estreia dia 21/3 nos cinemas.
Ele vive em 2D. Mas sonha em 3D
DOCUMENTÁRIO 
Fyre Fes� val 
Netflix
Um festival de música 
jamais visto, com mais 
de 30 bandas, centenas 
de celebridades e 
influenciadores digitais 
e milhares de fãs (que 
pagaram US$ 4 mil cada 
um) reunidos numa ilha 
particular nas Bahamas. 
A ideia era essa. Mas deu 
tudo errado. E como.
FILME 
Eu Não Sou Um 
Homem Fácil 
Netflix
Machista e fanfarrão, 
Damien bate a cabeça 
e acorda num mundo 
diferente. Nele, as mulheres 
dominam a sociedade 
e agem como homens, 
tolhendo e assediando 
o sexo oposto. Comédia 
divertida e oportuna.
ESCREVE O JORNALIS-
TA Chico Felitti em 
seu livro-reportagem 
sobre a vida de 
Ricardo Corrêa da 
Silva: o maquiador 
que injetou meio litro 
de silicone industrial 
no rosto, ficou de-
formado (como uma 
versão demoníaca do 
personagem infantil 
Fofão), virou mendigo 
e se tornou um dos 
personagens mais 
estranhos, e assusta-
dores, das ruas 
de São Paulo.
Ricardo e Vânia. 
R$ 54,90.
“Foi então 
que Ricardo 
começou a 
pedir dinheiro. 
E fi cou 
conhecido 
como Fofão 
da Augusta”, 
A DITADURA EM AÇÃO 
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sn. t e c h
LED-LcD
Uma corrente elétrica altera o 
estado físico do cristal líquido, 
que se torna opaco ou transpa-
rente – acendendo ou apagando 
cada pixel da tela. O problema 
é que, como o cristal não emite 
luz própria, a tecnologia requer 
um backlight (iluminador) tra-
seiro. Trata-se de um LED, que 
fica sempre ligado. Isso causa 
vazamento de luz e prejudica 
o contraste da tela. 
1.filtros coloridos
2.cristal líquido
3.iluminador (led)
1.filtros coloridos
2.material orgânico
3.eletrodos
1.micro leds
2.eletrodos
oLED
A tela é feita de materiais orgâ-
nicos, como a polianilina, que 
emitem luz ao receber corrente 
elétrica. Por isso, ela não preci-
sa de backlight. A vantagem é 
que a tela apresenta mais con-
traste e cores mais profundas. 
A desvantagem é que os pixels 
emitem menos luz, e por isso 
a tela tem menos brilho. Ela 
também pode ficar manchada 
por imagens estáticas.
micro LED
A tela é formada por LEDs 
microscópicos, cada um do 
tamanho de um pixel (100 mi-
crômetros, a espessura de um 
fio de cabelo). Eles produzem a 
própria luz, dispensando o ilu-
minador, e por isso a tela tem 
contraste e cores perfeitas. 
E também produz muito brilho. 
Resultado: brilho e durabili-
dade das
televisões LCD, com 
contraste e cores de OLED.
F
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s
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u
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çã
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um passo à frente do oled
Samsung promete lançar nos próximos meses a primeira televisão com tecnologia Micro LED – que reúne as qualidades 
das telas OLED e LCD, como alto brilho, cores intensas e contraste perfeito. Veja como ela funciona. Texto Bruno Garattoni
 
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Universo na mesa
kickstarter.com
Projeto DeskSpace
O que é Uma luminária 
que reproduz o Sol. Ela é 
feita de calcita dourada 
e iluminada por dentro, 
produzindo uma luz suave 
e bem bonita. Será fabrica-
da em três tamanhos, para 
uso na mesa ou como aba-
jur, e virá com nove esferas 
de minérios, tamanhos e 
cores diferentes – reprodu-
zindo os planetas do nosso 
Sistema Solar. 
Meta US$ 6 mil
Chance de rolar
b b b b a
Desinfetante 
eletônico
kickstarter.com
Projeto UVGLO 
O que é Um gadget que 
mata vírus e bactérias. Na 
hora de usar o aparelho, 
que parece um pendrive, 
basta conectá-lo à entrada 
USB do seu smartphone 
(é compatível com iPhone 
e vários modelos Android). 
Ele usa a bateria do celular 
para alimentar uma lâmpa-
da ultravioleta, que elimina 
99,9% dos micro-organis-
mos em 10 segundos. 
Meta US$ 25 mil
Chance b b b b a
você decide
Os projetos mais 
interessantes (e 
surpreendentes) 
do mundo do 
crowdfunding
Ioga sem professor
cerveja 
com 
bluetooth
o fim 
do talho
O iPhOne X apresentou 
ao mundo o “talho” (no-
tch), um corte na parte 
de cima da tela para 
abrigar a câmera frontal. 
Apesar de ser bem 
feinho, ele foi copiado 
por todos os outros 
fabricantes. Mas, agora, 
há uma solução melhor: 
o Honor View 20 (US$ 
650), da chinesa Huawei, 
tem apenas uma discre-
tíssima abertura para 
a câmera e o sensor de 
reconhecimento facial. 
A cAlçA NAdi X vem com um aplicatvo que ensina 
as principais poses da ioga. Mas o tuque é que ela tem 
sensores, embutdos no tecido, que detectam se você está 
fazendo os movimentos direito – e avisa, por meio de 
pequenas vibrações, quando é necessário corrigir alguma 
posição. A calça tem versões para homens e mulheres, é à 
prova d’água (pode ir à máquina de lavar), e custa US$ 249. 
visão 360 graus
O caPacete crOsshelmet X1 
tem uma câmera na parte de 
trás, que capta o que está acon-
tecendo ao redor do motociclista. 
Essa imagem é projetada no visor 
frontal do capacete, onde apare-
ce como se fosse um retrovisor 
virtual. Ele aumenta bastante a 
segurança do motociclista – e 
também mostra informações 
de GPS, indicando onde e quando 
virar (você define a rota no seu 
smartphone). Pena que o produ-
to custe caro: US$ 1.600.
Os fabricantes de eletrônicOs têm apostado nas chamadas 
“party speakers”, caixas de som com alto-falantes que mudam de 
cor e funções para brincar de DJ. A GTK-PG10, da Sony, radicaliza 
essa tendência: tem até uma espécie de mesinha retrátil para co-
locar copos de cerveja (segundo o fabricante, o produto é à prova 
de derramamento de líquidos). A caixa tem conexão Bluetooth, 
bateria com 13 horas de autonomia e pesa 6,7 kg. Já está à venda, 
por US$ 250, nos Estados Unidos. 
E d i ç ã o b r u n o g a r a t t o n i
 
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Ler, e contolar, pensamentos. Implantar 
memórias, aumentar a inteligência, 
tansmitr informações por telepata. 
Existem cientstas tentando fazer tdo 
isso – e, em alguns casos, conseguindo. 
Conheça as pesquisas que pretendem 
revolucionar a mente humana. 
Reportagem Bruno Garattoni e Tiago Cordeiro 
Ilustração Milton Nakata Design Yasmin Ayumi
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No romaNce 1984, George Orwell 
imaginou um futro em que o Estado 
fiscaliza até os pensamentos dos cida-
dãos. Isso é feito vigiando as pessoas 
enquanto elas assistem à televisão, um 
método precário e lento (o protagonista 
do livro, Winston, só é preso após se-
te anos de monitoramento). No futro, 
isso poderá ser feito em tempo real – e 
diretamente do cérebro. 
 A ciência ainda está longe de enten-
der como a mente humana funciona. 
Mas de uma coisa ela já sabe: tdo o 
que se passa dento das nossas cabeças 
pode ser reduzido aos padrões de sinais 
eléticos que percorrem as sinapses do 
cérebro. Se você conseguir captrar e 
decodificar esses sinais, em tese poderá 
descobrir o que alguém está pensando. 
Na últma década, várias equipes de 
pesquisadores tentaram – e, dentro 
de certos limites, conseguiram – fazer 
isso. Primeiro, o voluntário é colocado 
dento de um aparelho de ressonância 
magnétca, que enxerga os fluxos de 
sangue dento do cérebro. Ele cria um 
mapa com 1 milhão de voxels: cubinhos 
com 100 mil neurônios cada um. Em 
seguida, os cientstas mostam determi-
nados estímulos para a pessoa – fotos, 
palavras, sons –, enquanto monitoram o 
cérebro dela. Cada elemento (a imagem 
de um pássaro, por exemplo) atva de-
terminados conjuntos de neurônios – e 
a máquina de ressonância, observando 
o fluxo de sangue para cada um dos 
voxels, enxerga isso. Repita a medição 
algumas dezenas ou centenas de vezes, 
e você terá uma biblioteca de padrões. 
Quando a pessoa imaginar um pássa-
ro, por exemplo, você saberá que esse 
pensamento atva determinados voxels, 
e poderá identficá-lo.
 Em 2017, cientstas da Universidade 
Carnegie Mellon( combinaram essa 
técnica com um sistema de inteligên-
cia artficial e conseguiram adivinhar, 
com 87% de acerto, o que os voluntários 
estavam pensando. Ok, o sistema é pri-
mitvo: limita-se a indicar a presença ou 
ausência de 42 elementos (como “ani-
mais”, “violência”, “perigo”, “deslocamen-
to”, “pessoas” e “grupo de pessoas”) no 
pensamento. Mas, em outas pesquisas, 
esse mesmo método foi além: conse-
guiu indicar se os voluntários estavam 
pensando, ou não, numa determinada 
imagem ou cena. 
 Talvez seja possível decifrar até um 
dos fenômenos mais misteriosos da 
mente humana: os sonhos. É o que 
acreditam pesquisadores da Universi-
dade de Kyoto, no Japão. Eles coloca-
ram voluntários para dormir( dento 
de máquinas de ressonância magnétca. 
Monitorando a atvidade cerebral dessas 
pessoas, o sistema foi capaz de detectar 
a presença ou ausência de 20 elementos 
(como “carro”, “livro”, “prédio”, “mulher”, 
“homem”, “rua” ou “comida”) nos sonhos 
das pessoas. Assim que a pessoa termi-
nava de sonhar – o que era constatado 
monitorando suas ondas cerebrais –, ela 
era acordada e os cientstas pergunta-
vam o que ela havia sonhado.
 A leitra de padrões cerebrais tem 
usos nobres, como permitr que pessoas 
paralisadas voltem a se comunicar. Mas 
também pode tomar caminhos sinistos, 
permitndo que regimes totalitários 
leiam à força a cabeça de alguém. O mais 
provável é que aconteça o que acon-
tece com quase todas as tecnologias: 
um pouco de cada coisa.
1
Ler pensamentos 
(e até sonhos)
situação 
atual:
teste em 
humanos
Fontes ( Predicting the Brain Activation Pattern Associated With the Propositional Content of a Sentence: Modeling Neural Representa-
tions of Events and States. Jing Wang e outros, CMU, 2017. ( Neural Decoding of Visual Imagery During Sleep. Y. Kamitani e outros, 2013. 
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Aplique umA corrente elétricA 
minúscula e imperceptível, de apenas 
0,001 ampére, no córtex pré-frontal 
dorsolateral direito de uma pessoa – e 
ela passará a mentr menos. Essa foi a 
conclusão de pesquisadores das univer-
sidades de Zurique, Chicago e Cambri-
dge(, que colocaram 145 pessoas para 
jogar dados em frente a uma tela. 
 O processo tnha dez rodadas, e era 
simples: a pessoa jogava os dados, e aí 
a tela mostava a lista de combinações 
premiadas (5+2 ou 2+1, por exemplo). O 
partcipante ganhava US$ 9 a cada acerto. 
Mas ele é que deveria dizer se havia de 
fato acertado, e podia mentr para ganhar 
mais. Os voluntários não sabiam, mas 
os cientstas estavam filmando tdo – 
e constataram que 37% das respostas 
eram mentirosas. Já com a corrente 
elética, a tapaça caía para menos da 
metade: apenas 15% das respostas eram 
mentrosas. O sistema não é perfeito (12 
pessoas eram hipermentrosas e sempre 
tapaceavam, mesmo sob estímulo elé-
tico), mas o efeito é notável – tanto que 
seus criadores acreditam ter encontado 
a raiz neuronal da mentra. “O córtex 
pré-frontal dorsolateral direito [que fica 
logo atás da testa] está diretamente li-
gado à honestdade”, diz Michel André 
Maréchal, um dos autores do estdo.
 Dois pesquisadores da Estônia fo-
ram além e dispensaram os eletodos: 
usaram ímãs para interferir com a atvi-
dade elética do cérebro de 16 voluntá-
rios(. Como você talvez se lembre das 
aulas de física do colégio, toda corrente 
elética produz um campo magnétco. 
Isso também vale para a eleticidade 
que passa pelos nossos neurônios, e 
também funciona ao contário: se vo-
cê interferir no campo magnétco, vai 
alterar a corrente elética. Os cientstas 
aproveitaram esse princípio para criar 
um sistema de indução mental sem fio. 
Eles colocaram ímãs perto da nuca 
dos voluntários e mostraram discos 
coloridos a eles. O voluntário tinha 
que dizer qual cor estava vendo – e era 
instuído a tentar mentr. Metade das 
pessoas recebeu pulsos magnétcos no 
córtex pré-frontal dorsolateral direito. 
E, por isso, mentu menos. Curiosamen-
te, quando os cientstas estmulavam o 
córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo, 
o efeito era oposto – e os voluntários 
conseguiam mentr mais vezes. 
Além de fazer as pessoas mentrem 
mais, é possível tansformá-las em men-
trosas mais convincentes. A chave é 
aplicar uma corrente elética muito pe-
quena no córtex pré-frontal anterior, 
área ligada à cognição e às emoções. 
Pesquisadores da Universidade de Tue-
bingen, na Alemanha, aplicaram sinais 
eléticos para reduzir temporariamente 
a atvidade dessa região – e pessoas an-
tes propensas à honestdade passaram 
a mentr melhor(. A pesquisa reuniu 
22 voluntários numa simulação: eles in-
terpretavam funcionários que tnham 
desviado dinheiro de suas empresas e 
seriam interrogados por um detetve. 
Caso conseguissem enganá-lo, pode-
riam ficar com o valor roubado (20 
euros). Quando recebiam o estímulo 
elético, os partcipantes mentam com 
mais segurança. Ficavam mais tanqui-
los ao negar envolvimento e pareciam 
mais capazes de escolher em quais si-
tações seria melhor distorcer dados, 
de forma a enganar o interrogador sem 
deixar a mentra óbvia demais. 
2
impedir a mentira. 
ou torná-la mais convincente
Uma técnica que combina 
ressonância magnética e 
inteligência artifcial já 
permite deduzir o que 
uma pessoa está pensando 
– com até 87% de acerto. 
situação 
atual:
teste em 
humanos
( Increasing Honesty in Humans with Noninvasive Brain Stimulation, Michel André Maréchal e outros, 2017. ( Efect of Prefrontal Trans-
cranial Magnetic Stimulation on Spontaneous Truth-Telling, Inga Kartonab e Talis Bachmannc, 2011.( The Truth about Lying: Inhibition of 
the Anterior Prefrontal Cortex Improves Deceptive Behavior. Ahmed A. Karim e outros, 2010.
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EscanEar o cérEbro humano E 
rEcriá-lo Em computador, pre-
servando a memória e a consciência das 
pessoas – que viveriam após a morte 
como simulações de computador. Esse 
é um dos cenários mais recorrentes, 
e menos realistas, da ficção científica. 
Mas isso não significa que não haja 
pesquisadores tentando ir nessa dire-
ção. A principal iniciatva é o Human 
Connectome Project, criado em 2009 
pelo governo dos EUA em parceria 
com seis universidades. Seu objetvo 
é produzir um “conectoma”, ou seja, um 
mapa com todas as conexões neurais 
do cérebro humano. Esse mapa pode-
ria ser reproduzido e executado num 
supercomputador, o que representaria 
a criação de uma inteligência artficial 
jamais vista – e o primeiro passo para a 
digitalização da mente humana. Parece 
megalomaníaco, e é mesmo. Mas tem 
certo nexo. Em 2005, o projeto Blue 
Brain, criado pelo governo da Suíça e 
pela IBM, conseguiu escanear e simular 
em computador 31 mil neurônios (e 37 
milhões de sinapses) do córtex primário 
somatossensorial de um rato(. É um 
nada – não dá nem 0,02% dos neurônios 
do bichinho –, mas mosta que a téc-
nica em si funciona. O grande desafio 
é escanear nossa massa cinzenta, um 
verdadeiro universo (o cérebro humano 
tem 250 vezes mais sinapses do que 
há de estelas na Via Láctea), e criar 
computadores potentes o bastante para 
rodar uma simulação dela. 
Para tentar resolver o primeiro pro-
blema, cientstas do Hospital Geral de 
Massachusetts usaram um novo tpo 
de ressonância magnétca, que tabalha 
com campo magnétco de 7 tesla – qua-
se cinco vezes mais intenso do que as 
máquinas comuns. O resultado é uma 
imagem 3D que mosta, com resolução 
muito maior, a estutra e as conexões 
do cérebro. Em 2017, os pesquisadores 
escanearam o cérebro de 1.200 volun-
tários e colocaram os resultados na in-
ternet(. Mas ainda estão longe do fim.
“Vamos precisar de pelo menos uma 
década para terminar de mapear o cére-
bro, porque é necessário gerar imagens 
em alta resolução de cada neurônio e 
cada conexão. E essa nem é a parte 
mais difícil”, explica o neurocientsta 
holandês Randal Koene, cofundador 
da empresa Carbon Copies, que tenta 
descobrir como reproduzir a mente hu-
mana em computador. “Depois vamos 
precisar jogar esses dados num sistema 
capaz de rodá-los. É possível que na dé-
cada de 2030 sejamos capazes de fazer 
isso com cérebros menores, como o de 
moscas”, diz. 
O Human Brain Project, que é ban-
cado pela União Europeia, está tentan-
do vencer os obstáculos tecnológicos. 
E eles são ainda maiores do que o es-
caneamento do cérebro. O objetvo do 
projeto é criar um supercomputador 
capaz de armazenar, manipular e execu-
tar, em tempo real, um banco de dados 
com 1,1 bilhão de terabytes, o tamanho 
estmado do conectoma humano. Isso é 
mil vezes mais do que todos os dados 
do Google, do Facebook, da Microsoft 
e da Amazon – somados. 
Em suma: impossível não é, mas 
estamos longe. Se um dia conseguir-
mos, vai demorar. Por isso uma startp 
chamada Nectome, criada por dois est-
dantes do MIT, propôs uma solução: um 
serviço de preservação supostamente 
capaz de manter o cérebro intacto por 
décadas, até que a ciência seja capaz de 
reproduzi-lo em computador. A em-
presa demonstrou sua técnica num 
cérebro de porco, que manteve as si-
napses intactas. Mas tem sido vista com 
cetcismo pela comunidade científica, 
inclusive por um detalhe macabro: seu 
procedimento, que é letal, precisa ser 
feito com o cérebro ainda vivo. 
3
fazer upload da consciência 
e de memórias
só existe 
 em teoria
situação 
atual:
Em tese, é até 
possível reproduzir 
o cérebro humano 
em computador. Mas 
a máquina teria de 
lidar com 1,1 bilhão 
de terabytes. 
Fontes ( Reconstruction and Simulation of Neocortical Microcircuitry, Henry Markram e outros, 2005. 
( https://www.humanconnectome.org/study/hcp-young-adult/document/1200-subjects-data-release 
 
 
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É possível acelerar o aprendi-
zado em 40%. Pelo menos em maca-
cos. Em 2017, a Agência de Projetos de 
Defesa Avançados
(Darpa), a divisão de 
tecnologia do Pentágono, publicou um 
estdo( relatando essa façanha, alcan-
çada em testes com dois animais. Ambos 
já eram adultos – tnham 4 e 10 anos de 
idade –, mas mesmo assim os militares 
conseguiram aumentar drastcamente 
sua capacidade de aprender. 
Na experiência, os bichos viam fotos 
de paisagens numa tela. Podiam obser-
var cada uma por 15 segundos. Eles não 
sabiam, mas havia um pequeno alvo de-
senhado em cada foto – se os bichos 
olhassem para esse ponto, ganhavam 
suco como recompensa. Normalmen-
te, macacos rhesus levam em média 21 
tentatvas até entender esse jogo. Mas as 
duas cobaias da Darpa, que receberam 
0,002 ampére de corrente elética no 
córtex pré-frontal, foram muito me-
lhores: dominaram o jogo em apenas 
12 rodadas. Os cientstas já esperavam 
esse resultado, supostamente ligado ao 
aumento na frequência de disparos dos 
neurônios. Mas constataram que a ex-
plicação não era bem essa. O estímulo 
elético não interferia com os neurônios 
em si. Fazia algo maior: melhorava a 
conexão ente regiões do cérebro. “Essa 
técnica provoca mudanças na excitabi-
lidade dos neurônios de áreas especí-
ficas. E, por isso, também uma ampla 
melhoria na capacidade de processar 
informação”, diz Donel Martin, psi-
quiata e pesquisador da Universidade 
de New South Wales, na Austália. De-
pendendo da corrente elética aplicada, é 
possível despolarizar ou hiperpolarizar 
grupos de neurônios, ou seja, torná-los 
mais ou menos sensíveis aos sinais de 
outros neurônios. Martin usou essa 
técnica em humanos. Ele colocou 54 
pessoas para resolver problemas de 
lógica, com dificuldade crescente, en-
volvendo formas e cores. Metade dos 
voluntários recebeu estímulos eléticos 
–e solucionou as charadas de forma 
mais rápida e correta(. “O tatamento 
é eficaz para facilitar o aprendizado de 
qualquer tpo de conhecimento”, afir-
ma ele. Há estdos indicando que essa 
técnica, chamada tDCS (estmulação 
tanscraniana por corrente contínua), 
também pode acelerar o aprendizado 
de matemática e idiomas(5)(6). Além 
disso, o benefício parece ser de longo 
prazo. Na experiência de matemátca, 
realizada na Universidade de Oxford, o 
efeito persistu por seis meses após as 
sessões. Nas experiências com a técnica, 
menos de 1% das pessoas relata algum 
tpo de desconforto relacionado à cor-
rente elética. A esmagadora maioria 
nem percebe que está sob efeito dela. 
Por que, então, não há aparelhos do tpo 
sendo vendidos para todos os estdantes 
do planeta? “Os efeitos da tDCS ainda 
não são totalmente compreendidos”, 
diz o neurologista Pedro Vieira, pós-
doutorando do Insttto Neurológico 
de Monteal e especialista na técnica. 
“Ela induz grandes oscilações nas ondas 
cerebrais de baixa frequência, o que por 
sua vez amplia a conectvidade ente 
neurônios próximos e áreas distantes do 
cérebro de maneiras ainda imprevisíveis, 
e que poderiam provocar danos”, afirma. 
Na dúvida, melhor não arriscar. 
4
cogniçãoteste em humanos
aumentar asituação 
atual:
(Transcranial Direct Current Stimulation Facilitates Associative Learning. Matthew R. Krause e outros, 2017. ( Can Transcranial Direct Current Stimulation Enhance 
Outcomes from Cognitive Training?, Donel M. Martin e outros, 2013. ( Long-Term Enhancement of Brain Function and Cognition Using Cognitive Training and Brain 
Stimulation. Albert Snowball e outros, Universidade de Oxford, 2013.( Noninvasive brain stimulation improves language learning. Universidade de Munster, 2008.
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No coNto Nós Podemos Lembrar 
Por Você, escrito pelo americano Phi-
lip K. Dick em 1966, Marte já foi coloni-
zada pelo homem – e o protagonista da 
história, Douglas, sonha em ir até lá. Só 
que custa muito caro, e por isso Douglas 
escolhe a segunda melhor opção: vai até 
uma empresa especializada e paga para 
ter memórias de Marte implantadas em 
seu cérebro. O que ele não sabe é que, 
na verdade, já havia estado no planeta 
vermelho – mas suas lembranças dis-
so haviam sido apagadas pelo governo. 
Um delírio e tanto.
Mas, na vida real, já existem pes-
quisas tentando fazer as duas coisas: 
apagar e criar memórias. Em 2012 o 
neurologista Todd Sacktor, da Univer-
sidade Columbia, conseguiu eliminar 
uma lembrança do cérebro de ratos, 
que haviam sido condicionados a evitar 
alimentos doces. Ele descobriu que, se 
uma proteína cerebral chamada PKM-
zeta( fosse inibida enquanto o rato se 
lembrava daquela memória (é melhor 
não comer doces), ela era destuída – e, 
posteriormente, o bichinho passava a 
ingerir açúcar como se não houvesse 
amanhã. A ideia é criar um procedimen-
to que, no futro, possa ser usado para 
eliminar taumas da mente humana. 
A indução de memórias também já 
foi demonstada em camundongos de 
laboratório. Tudo começou em 2013, 
quando o MIT usou engenharia gené-
tca para criar ratos com uma caracte-
rístca insólita: partes do seu cérebro 
podem ser ativadas, ou desativadas, 
usando luz(. Primeiro os pesquisa-
dores injetaram nos animais um ví-
rus capaz de alterar o funcionamento 
dos neurônios do hipocampo, área 
relacionada à formação de memórias. 
Depois inseriram, cirurgicamente, uma 
fibra óptca nos cérebros dos pobres 
bichinhos, para iluminar o hipocampo 
com luz infravermelha. Feito isso, ini-
ciaram o experimento. Primeiro, cada 
rato era colocado num ambiente seguro, 
enquanto a atvidade do seu hipocampo 
era gravada. No dia seguinte, a cobaia 
era levada para um lugar ruim, onde 
recebia choques eléticos nas patas. Só 
que, eis o tuque, os cientstas ligavam 
a fibra óptca – e ela atvava os mesmos 
grupos de neurônios que o rato tnha 
acionado na véspera, quando não havia 
perigo. Resultado: o bichinho associou a 
memória da primeira gaiola aos choques 
e passou a ter medo dela, onde jamais 
sofrera maus-tatos. Pior: os ratos só te-
miam esse local – não tnham qualquer 
receio da gaiola de tortra. Os cientstas 
tnham plantado uma memória falsa. 
Uma equipe de cientstas franceses 
conseguiu algo ainda mais impressio-
nante: inserir lembranças positvas no 
cérebro de 40 camundongos enquan-
to eles dormiam(. Os pesquisadores 
notaram que determinada região do 
hipocampo era atvada quando os ra-
tos entavam em certa gaiola. Então 
colocaram os bichos várias vezes ali, 
até que perceberam que aquela região 
ficava atva mesmo enquanto os ratos 
dormiam. (Não se sabe o motvo, mas 
talvez eles estvessem sonhando com 
a gaiola). Com os ratos adormecidos, 
os cientistas estimularam uma área 
cerebral que dispara a produção de 
dopamina, neurotansmissor relacio-
nado ao prazer. Ao acordar, os ratos 
passaram a adorar aquela gaiola e passar 
cinco vezes mais tempo dento dela. 
Não havia motvo objetvo para isso: 
eles nunca tnham ganho comida, ou 
qualquer coisa boa, ali. 
Era uma falsa memória. 
Experiências em ratos 
conseguiram apagar 
lembranças traumáticas. 
E também fazer o oposto: 
criar a memória de algo 
que jamais ocorreu. 
5
memóriasExpEriências Em animais
implantarsituação 
atual:
Fontes ( The Genetics of PKMZ and Memory Maintenance. T. Sacktor e outros, 2017. ( Creating a False Memory in the 
Hippocampus, Steve Ramirez e outros, 2013. ( Explicit Memory Creation During Sleep Demonstrates a Causal Role of Place 
Cells in Navigation, Gaetan de Lavilléon e outros, 2015. 
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Como voCê já deve ter perCebido 
ao usar o contole remoto da sua TV, a 
luz infravermelha é facilmente bloque-
ada por obstáculos. Mas ela atavessa 
materiais mais porosos, como ossos – 
inclusive os da caixa craniana. Expe-
riências feitas pela empresa americana 
Neuro-Laser( constataram que a luz 
infravermelha é capaz de penetar até 
30 mm de tecido ósseo.
Daria tanqui-
lamente para atavessar a caixa craniana 
humana, cuja espessura média é de 4 
a 9 milímetos, dependendo do pon-
to. Isso significa que, teoricamente, é 
possível estmular o cérebro com luz 
sem precisar abrir a cabeça da cobaia.
E isso, em macacos, já foi feito. Como 
os camundongos do texto anterior [veja 
página ao lado], eles foram infectados 
com um vírus que altera o funciona-
mento dos neurônios. Essa técnica se 
chama optogenétca, e consiste em aco-
plar um vírus (geralmente um adenoví-
rus, que normalmente causa infecções 
respiratórias) com genes que estmulam 
a produção de rodopsina, uma proteína 
fotossensível – ou seja, que converte 
luminosidade em sinais eléticos. Ela é 
fabricada natralmente nos olhos, onde 
nos ajuda a enxergar. Mas, se for inse-
rida no cérebro, produz algo anormal: 
torna os neurônios sensíveis à luz.
Numa experiência realizada por cien-
tstas da Universidade de Cambridge e 
do MIT, os cérebros de macacos foram 
estmulados com luz infravermelha( 
enquanto eles tnham de tomar deci-
sões simples, como escolher ente duas 
guloseimas. Quando o infravermelho 
estava ligado, o cérebro aumentava a 
produção de dopamina – e o animal 
sempre preferia a guloseima que estava 
comendo, mesmo se ela fosse idêntca 
à outa. O efeito era desencadeado por 
luz, sem a necessidade de um implan-
te cerebral. Mas ainda há um grande 
obstáculo: o vírus tem de ser injetado 
diretamente no cérebro, o que é exte-
mamente invasivo e perigoso.
Mikhail Shapiro, professor de enge-
nharia química do Insttto de Tecno-
logia da Califórnia (Caltech), descobriu 
um jeito de resolver isso. Injetou bolhas 
de ar muito pequenas, com nanôme-
tos de diâmeto, na corrente sanguínea 
de ratos(. E encostou um aparelho de 
ultassom na cabeça deles. Quando o 
sangue estava chegando ao cérebro, o 
ultassom agia sobre as bolhinhas, fa-
zendo elas vibrarem – e abrindo peque-
nas brechas na barreira hematoencefá-
lica (uma camada de sangue, também 
presente em humanos, que envolve o 
cérebro e bloqueia a entada da maioria 
das moléculas). Com isso, Shapiro con-
seguiu intoduzir vírus optogenétcos 
sem precisar abrir a cabeça dos animais. 
Bastou uma reles injeção na veia, com 
uma ajudinha do ultassom, e os bichos 
estavam hackeados pelo resto da vida. 
Se um dia for aplicada em humanos, 
a optogenétca poderia ser usada pa-
ra distorcer totalmente a realidade de 
uma pessoa. Ela funcionaria como uma 
hiperdroga, capaz de manipular o indi-
víduo a tal ponto que ele faria qualquer 
coisa em toca de mais dopamina. Não 
à toa, a Darpa (divisão de tecnologia do 
Pentágono) tem olhado essa técnica com 
atenção, e financia pesquisas a respeito 
em várias universidades. Um dos proje-
tos mais ambiciosos é o CortcalSight, 
que reúne a Universidade Stanford e 
quatro empresas de biotecnologia. 
Ele pretende usar a optogenétca para 
conectar uma microcâmera, sem fios, 
ao córtex visual humano. Se der certo, 
isso poderá significar a cura de quase 
todos os casos de cegueira. E também 
o princípio de uma era obscura – onde 
seria possível fazer uma pessoa enxer-
gar coisas que, na verdade, não existem.
6
de pensamentosExpEriências Em animais
exercer controle externosituação 
atual:
( Near-infrared photonic energy penetration: can infrared phototherapy efectively reach the human brain? TA Hender-
son, 2015.( Dopamine Neuron-Specific Optogenetic Stimulation in Rhesus Macaques. William R. Stauffer, e outros, 
2016. ( Acoustically targeted chemogenetics for the non-invasive control of neural circuits. M. Shapiro e outros, 2018. 
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Como voCê viu nesta reporta-
gem, a ciência já sabe como captrar 
e decodificar padrões neuronais – e 
também induzir respostas cerebrais 
usando pulsos magnétcos e sinais elé-
ticos. Mas, até agosto de 2013, ninguém 
havia tentado fazer o óbvio: juntar as 
duas coisas e criar um sistema que per-
mitsse comunicação direta, telepátca, 
ente dois cérebros humanos. Naque-
le ano, um grupo da Universidade de 
Washington conseguiu conectar as 
mentes de duas pessoas pela internet. 
As cobaias foram os próprios autores 
da pesquisa, os neurocientstas Rajesh 
Rao e Andrea Stocco. O primeiro vestu 
um capacete de eletoencefalograma, 
que detecta ondas cerebrais e permi-
te identficar sinais básicos – dá para 
saber, por exemplo, quando a pessoa 
pensa em mexer o próprio braço. Já o 
outo colocou uma touca conectada a 
um aparelho de estmulação magné-
tca tanscraniana, que usa ímãs para 
interferir com a atvidade elética de 
determinadas regiões do cérebro [leia 
mais na pág. 25]. Rao tnha à sua frente 
um joguinho de computador cujo obje-
tvo era disparar mísseis conta navios 
inimigos (sem acertar os aviões aliados 
que passavam voando). Andrea estava 
numa sala a 1 km de distância, onde 
também iria jogar aquele game. Mas 
com uma enorme diferença: ele ficava de 
costas para a tela. Seria guiado, apenas, 
pelas ondas cerebrais do colega. 
E aí aconteceu. Rao decidiu atrar. 
Ele não acionou o joystck; simples-
mente imaginou o gesto. Isso gerou 
ondas cerebrais que foram tansmitdas 
para Stocco – cuja mão, incrivelmen-
te, apertou sozinha o botão de disparo. 
A façanha foi o resultado de mais de 
dez anos de pesquisas, e o começo de 
uma série de outas experiências. Em 
2018, os pesquisadores da Universidade 
de Washington conectaram tês pesso-
as, que jogaram uma espécie de Tetis 
colaboratvo: os dois primeiros pensa-
vam em quais peças mexer e seus cére-
bros enviavam as ordens para o terceiro. 
Ele ficava de costas para a tela, mas 
mesmo assim conseguia jogar – pois 
sua mente executava automatcamente 
as ordens enviadas pelos outos dois(.
Duas empresas, a espanhola Starlab e 
a francesa Axilum, usaram uma técnica 
parecida para conectar um voluntário 
na Índia a outo na França(. Eles se 
comunicaram usando uma espécie de 
código Morse, formado por sequências 
de pulsos (que tveram de aprender an-
tes). O indiano usou essa linguagem pa-
ra formar duas palavras e pensou nelas. 
Alguns minutos depois, elas chegaram 
à mente do francês – que pensou, acer-
tadamente, em “hola” e “ciao”. Mas isso 
não quer dizer muita coisa; ele poderia 
simplesmente estar chutando. A prova 
de que é possível tansmitr informa-
ções só veio no ano seguinte, quando 
a Universidade de Washington fez uma 
experiência parecida com dez pessoas.
Eles foram agrupados em pares, se-
parados em salas diferentes, e colocados 
para jogar um jogo de adivinhação(. A 
primeira pessoa, chamada de “analista”, 
via objetos numa tela. A outa, batzada 
de “jogadora”, tnha de adivinhar quais 
eram. Um teste muito difícil; tanto que 
os jogadores só acertavam, por puro 
chute, 18% das respostas. Mas, quando 
a tansmissão de ondas cerebrais foi 
ligada, o índice de acerto disparou: 72%.
Segundo os cientstas, a técnica tam-
bém poderia ser usada para tansmitr 
sinais ente estdantes. “Imagine um 
aluno com déficit de atenção (DDA), e 
outo normal”, declarou a neurocien-
tista Chantel Prat, uma das autoras 
do estdo, ao jornal da universidade. 
“Quando o estdante normal estvesse 
prestando atenção, o cérebro do outo 
seria automatcamente colocado num 
estado de maior foco”, disse. Mais do 
que telepata, sincronia de mentes. S
7
por telepatiateste em humanos
transmitir informaçõessituação atual:
Duas pessoas 
tomaram decisões 
– e seus cérebros 
enviaram as 
ordens para uma 
terceira, cuja mente 
executou as ações. 
 
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Fontes ( BrainNet: A Multi-Person Brain-to-Brain Interface for Direct Collaboration Between Brains, L. Jiang e outros, 2018. ( Conscious 
Brain-to-Brain Communication in Humans Using Non-Invasive Technologies,
C. Grau e outros, 2014. ( Playing 20 Questions with the 
Mind: Collaborative Problem Solving by Humans Using a Brain-to-Brain Interface. Andrea Stocco e outros, 2015.
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h i s t ó r i a
Uma longa história da
Eugenia
Francis 
Galton, pai 
da eugenia
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A busca pela “raça pura” não 
é só coisa de nazista: foi um 
fenômeno mundial. E o seu fan-
tasma ainda ronda a sociedade.
Texto Bruno Vaiano 
Ilustrações Marcel Lisboa
Design Carol Malavolta
Edição Alexandre Versignassi
Charles 
Davenport, 
higienista 
genético.
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a
Algo cheirAvA mAl na 
Inglaterra da rainha Vitó-
ria. Após tês surtos de 
cólera e um episódio de 
calor intenso no verão de 
1858, batzado de Gran-
de Fedor (em maiúsculas, 
mesmo), despejar todo o 
cocô de Londres no Rio 
Tâmisa não parecia mais 
uma boa ideia. 
Saneamento básico e 
saúde pública eram tão 
discutdos no fim do sé-
culo 19 quanto a corrup-
ção em Brasília é hoje. A 
Revolução Industial ha-
via criado uma pobreza 
inédita, diferente da do 
camponês que plantava 
por subsistência. Ope-
rários da indústia têxtl 
e da constução naval se 
empilhavam em cortços, 
sem acesso a água tatada. 
Frequentavam pubs e bor-
déis, eram desnutidos, al-
coólatas e tnham filhos 
– muitos filhos.
Francis Galton, rico 
herdeiro de uma famí-
lia tradicional, viu na 
periferia de Londres um 
problema darwinista. Ao 
pé da leta: ele era primo 
de Charles Darwin, e ha-
via lido (ou melhor, devo-
rado) a Origem das Espécies 
logo após o lançamento, 
em 1859. O que Darwin 
afirmou, grosso modo, 
foi o seguinte: filhotes de 
uma ninhada nascem com 
diferenças suts. Os que 
forem mais aptos – graças 
a dentes afiados, tímpanos 
aguçados ou músculos de 
contação mais rápida – 
conseguem mais água, 
alimento e sexo. Assim, 
eles têm mais filhotes, e 
seus taços hereditários 
vantajosos prevalecem 
na população. Evolução 
por seleção natral.
Darwin não mencio-
na o ser humano uma 
única vez no livro; mes-
mo assim, acendeu uma 
lâmpada na cabeça de 
Galton. Ele não só notou 
que a sobrevivência dos 
bem adaptados se aplica-
va ao Homo sapiens como 
concluiu que só havia um 
jeito de salvar a “raça eu-
ropeia”: acelerar artficial-
mente, (por decreto, até) a 
atação da seleção natral.
Para Galton, era ne-
cessário desestmular o 
coito ente humanos que 
a elite econômica via co-
mo vira-latas e incentvar 
os humanos de raça, com 
pedigree. Empreender um 
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aperfeiçoamento autodi-
rigido, para o bem do pró-
prio povo. Em 1883, Gal-
ton deu à estatégia um 
nome: eugenia. Vem do 
grego: eu significa “bom”, 
gene significa “linhagem”, 
“raça”, “parentesco”. 
“Estamos muito ne-
cessitados de uma pala-
vra breve para a ciência 
de melhorar a estirpe”, 
afirmou Galton. “Para dar 
às raças ou linhagens de 
sangue mais adequado 
uma chance melhor de 
prevalecer depressa so-
bre as menos adequadas.”
Para Galton, a tendên-
cia à miséria, ao vício e 
à doença era tão heredi-
tária quanto a altra ou 
a cor dos cabelos. Se os 
filhos dos inaptos já iam 
morrer pela mão cruel da 
seleção natral, era me-
lhor que não nascessem: 
“O que a natreza faz às 
cegas (...) o homem pode 
fazer com previdência, 
rapidez e bondade”. 
Ele se tornou uma má-
quina de coleta de dados. 
Tirava as medidas corpo-
rais de famílias inteiras 
em busca de uma expli-
cação para o fenômeno da 
hereditariedade (lembre-
se: a genétca de Mendel 
ainda estava escondida 
na gaveta). Em 1877, nu-
ma espécie de Minority 
Report do século 19, ele 
esquadrinhou os rostos 
de condenados tentando 
atibuir um tpo de crime 
a cada fisionomia. Galton 
queria tansformar a hu-
manidade em uma imensa 
planilha de Excel. E dele-
tar as colunas incômodas. 
Essas ideias foram re-
cebidas como a vanguarda 
da ciência. No início do sé-
culo 20, Londres sediaria 
o primeiro congresso 
internacional de eugenia. 
A Inglaterra não chegou 
a colocar em prática as 
ideias de Galton. Dezenas 
de outas nações, porém, 
as abraçaram. A mais de-
dicada delas, nas primeiras 
décadas, não foi a Alema-
nha – e sim os EUA. 
Eugenia ianque 
Em 1907, o Estado de In-
diana adotou a primeira 
lei de esterilização com-
pulsória do mundo. Ente 
1907 e a década de 1960, 
mais de 64 mil america-
nos considerados “inap-
tos” evolutvamente foram 
castados com anuência 
das autoridades. Eram al-
coólatas, esquizofrênicos, 
epiléticos, criminosos, 
prostitutas... Essa mo-
dalidade de eugenia era 
chamada de negativa. 
Um relatório sobre o 
resultado da prática na 
Califórnia – recordista de 
esterilização ente os 32 
Estados que a adotaram 
– serviu de inspiração pa-
ra os oficiais nazistas que 
implantaram a prátca do 
outo lado do Atlântco. 
Também havia a eu-
genia positva: incentvar 
a reprodução dos aptos. 
Tornaram-se comuns 
as Fitter Family Fairs 
(“feiras de famílias mais 
aptas”, em português), 
em que casais com ge-
nes supostamente bons 
eram exibidos em pódios 
e ganhavam medalhas. 
Um dos símbolos 
da eugenia americana 
foi Charles Davenport, 
mandachuva do Eugenics 
Record Office (ERO) – 
o cento de pesquisa em 
Cold Spring Harbour, 
Nova York, que encabe-
çou os esforços de hi-
gienização genétca. Ele 
era contra casamentos 
interraciais (comentare-
mos a relação da eugenia 
com o racismo nos pró-
ximos parágrafos) e via a 
Galton pôs a humani-
dade numa planilha de 
Excel. E queria deletar 
as colunas incômodas.
-
Os eugenis-
tas mediam 
fsionomias, 
crânios e 
cérebros em 
busca de 
“inaptos”.
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Mulher branca
Mulher negra
Homem branco mm mm
mm mm
Homem negro
Esplênio
J
o
e
l
h
o
Fonte: Some Racial Peculiarities of the Negro Brain, Robert Bennett Bean (1906); On several anatomical characters of the human brain, said to vary according to race and sex, with 
especial reference to the weight of the frontal lobe, Franklin Paine Mall (1909). 
 
Dois gráfcos medindo 
regiões do cérebro cha-
madas joelho e esplênio 
conforme a etnia: um com 
viés racista, outro não. 
As curvAs do 
preconceito
Pesquisador 
que sabia 
a etnia 
de cada 
cérebro.
Pesquisador 
que refez 
o estudo 
sem saber a 
etnia dos 
cérebros.
entada de imigrantes do 
sul da Europa e da Ásia 
como um risco à boa es-
trpe americana. 
Davenport, de bobo, 
não tnha nada. Aplicando 
a lógica de tansmissão de 
característcas hereditá-
rias descoberta por Men-
del em seus experimentos 
com ervilhas, identficou 
corretamente que a do-
ença de Huntngton era 
um taço dominante, e o 
albinismo, recessivo. O 
problema é que ele exta-
polava a lógica: começou a 
inventar genes para tdo 
– até um das famílias de 
construtores de barcos. 
Não havia espaço para o 
óbvio: que um filho tende 
a seguir o ofício do pai. 
Tudo era herdado.
No porto de Ellis Is-
land, também em Nova 
York, imigrantes recém-
chegados da Itália, da 
Grécia e dos países do 
bloco comunista eram 
submetidos a testes de 
QI. “O propósito de apli-
car a escala de medição 
mental em Ellis Island 
é peneirar os imigrantes 
que podem (...) se tornar 
um fardo para o Estado 
ou produzir prole que vai 
requerer vagas em prisões 
ou asilos”, afirmou em 
1915 o médico Howard 
Knox. Xingamentos

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