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p. 58
os primeiros 
habitantes das 
américas. no piauí. 
p. 48
o futuro, de 
acordo com 
stephen hawking.
p. 54
a câmera do celular 
está destruindo 
nossas lembranças.
p. 08
afinal, o que 
aconteceu com 
a Venezuela? 
Ed
iç
ão
 4
00
 • 
m
ar
ço
 2
01
9 a história 
da EugEnia 
A busca pela “raça pura” não 
é só coisa de nazista. Foi 
um fenômeno global, e seu 
fantasma segue presente. p. 32
cérebro
a r E i n v Enção d o
p o r b r u n o g a r a t t o n i
E t i a g o c o r d E i r o
Ler pensamentos, implantar 
memórias, aumentar a 
inteligência. Existem 
cientistas tentando fazer 
tudo isso – e conseguindo. 
Conheça as pesquisas mais 
surpreendentes. p. 22
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interatiVidade
A j u d A 1 / 1 c o m o n a v e g a r n a s u a e d i ç ã o
1
carta ao leitor e d i t o r i a l
Alexandre Versignassi
Diretor De reDação
AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br
Você está com uma reVista 
histórica nas mãos. Esta é a nossa 
edição número 400. Comecei a 
tabalhar aqui na 224, de março de 
2006 – há exatos 13 anos. Naquela 
época a SUPER já era uma publicação 
tadicional. E fazer parte dela, mais 
do que a realização de um sonho, era 
uma responsabilidade difícil de 
medir: a de manter aceso o fogo da 
revista mais amada do País. 
 Mesmo assim, era um tabalho 
mais simples que o de hoje. Éramos 
só uma revista mensal. Agora não. 
Produzimos dezenas de reportagens 
a cada semana para o nosso site, 
além de atalizar as melhores 
matérias da história da SUPER 
– aquelas que não têm data de 
validade, pois valem cada uma como 
um pequeno livro de não-fcção. 
 Trata-se de um esforço que dá 
resultado. Hoje, a SUPER é até mais 
relevante do que era no tempo em 
que só havia a edição impressa. Com 
13 milhões de visitantes únicos por 
mês, somos um dos maiores sites de 
divulgação científca do mundo, bem 
à frente de publicações estangeiras 
de primeira linha, como a Scientfc 
American (3,3 milhões), a Popular 
Science (2,8 milhões) e a NewScientst 
(2,8 milhões). Mesmo a (ótma) 
página da Nasa, com seus 12 milhões 
de visitantes únicos, tem menos 
audiência que a nossa. Nunca 
tvemos tantos leitores. 
E isso se refete em outos núme-
ros. Para ter acesso ilimitado ao 
nosso site, você precisa de uma 
assinatra digital. E já contamos com 
73 mil assinantes nessa modalidade. 
Em suma: a SUPER já é uma publica-
ção online consolidada. 
 Também temos uma boa presença 
nas redes sociais, com 3,9 milhões de 
PUBLICIDADE Daniela Seraf im (Financeiro, Mobil idade , 
Tecnologia, Telecom, Saúde e Serviços) , Renato Mascarenhas 
(Beleza, Higiene, Decoração, Moda e Mídia & Entretenimento), 
Renata Miolli (Alimentos, Bebidas, Imobiliário, Educação, Turismo 
e Varejo), William Hagopian (Regionais), Yuri Aizemberg (Diretor 
Relacionamento com Mercado) ASSINATURAS E VAREJO 
Daniela Vada (Atendimento e Operações), Ícaro Freitas (Varejo), 
Juliana Fidalgo (Gobox) , Luci Silva (Relacionamento e Gestão 
Comercial), Patricia Frangiosi (Comunicação), Rodrigo Chinaglia 
(Produtos) ATENDIMENTO E OPERAÇÕES Daniela Vada CANAIS 
DE VENDAS Luci Silva MARKETING DE MARCAS, EVENTOS E 
VÍDEO Andrea Abelleira AUDIÊNCIA DIGITAL Isabela Sperandio 
MARKETING CORPORATIVOE E PRODUTO Rodrigo Chinaglia 
PROJETOS ESPECIAIS E ABRIL BRANDED CONTENT Ivan 
Padilla DEDOC E ABRILPRESS Adriana Kazan PLANEJAMENTO, 
CONTROLE E OPERAÇÕES Filomena Martins
IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL
Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, 
São Paulo, SP
Vendas: www.assineabril.com.br
Grande SP: 11 3347-2145
Demais localidades: 0800-7752145
De 2ª a 6ª feira das 8h às 22h 
Vendas Corporativas, projetos especiais e vendas em lote:
assinaturacorporativa@abril.com.br
 
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SUPERINTERESSANTE edição nº 400 (ISSN 0104-178-9), ano 33, nº3, é 
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Fundada em 1950
VICTOR CIVITA
(1907-1990)
ROBERTO CIVITA
(1936-2013)
Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), 
Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente) 
 e Giancarlo Civita
seguidores no Facebook e outos 
3,9 milhões no Twiter. No 
Instagram, começamos a publicar 
reportagens “pocket” – com temas 
complexos resumidos em artgos 
de alguns parágrafos. Dá uma 
olhada lá nas nossas séries 
#MulherCientsta e #ColunINSTA-
Cósmico para entender melhor.
 Esse tpo de iniciatva é fruto 
de um tabalho diário dos repórte-
res Luiza Monteiro e Bruno 
Vaiano, e da designer Juliana 
Krauss, nova integrante da nossa 
equipe de arte. E foi fndamental 
para que a nossa audiência no 
Instagram mais do que dobrasse 
em um ano, de 250 mil para 550 
mil seguidores. 
 Agora anota aí. Quando 
chegarmos a chegar a um milhão, 
vamos sortear os dez livros mais 
vendidos da SUPER ente os 
seguidores. Nosso catálogo, com 
43 obras feitas pelos jornalistas 
aqui da casa, e que vai ganhar mais 
tês títlos neste ano, já está bem 
fornido, afnal – e também mosta 
que somos mais do que uma 
revista; somos uma insttição 
voltada a disseminar o conheci-
mento humano, em todas as 
plataformas que existem, e que 
vierem a existr.
 Mesmo assim, a edição impres-
sa segue sendo o xodó da redação. 
Ela é o nosso disco de vinil: um 
produto artesanal, precioso, para 
colecionar. E que serve de base 
para todo o nosso ecossistema. 
Obrigado por prestgiá-lo.
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s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 1 
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54 Viciado em Instagram?
Não é só vocÍ: como a obsessão por tirar 
fotos está destruindo nossa memória.
58 Serra da Capivara
Os segredos arqueológicos (e a disputa 
científca) que se escondem no Piauí. 
m a r ç o d e 2 0 1 9cardápio
essencial oráculo
última páginasupernovas
6 uma imagem...
A peregrinação de 
Kumbh Mela, na Índia.
66 combine com os russos 
Qual é a diferença entre 
astronauta e cosmonauta?
74 abc ancestral
A história das letras do 
alfabeto – dos canaani-
tas até hoje.
71 manual
Como organizar um bloco 
de Carnaval para chamar 
de seu. 
10 tóquio 2020
Criptomoedas prometem 
nas olimpíadas nipônicas. 
8 ... uma opinião 
Afinal, o que 
aconteceu com a 
Venezuela?
14 3 notícias sobre
17 não é bem assim...
12 enquanto isso...
67 pá pum
18 pérolas do mês 70 conexões
70 lost in translation
69 lista
32 Eugenia, ontem e hoje
A busca da “raça pura” não foi uma lou-
cura isolada de Hitler: foi uma estupidez 
mundial, que ainda reverbera. 
40 A ascensão do caviar
Ele já foi ração de gado. Entenda 
as reviravoltas que lançaram sobre as ovas 
o maior raio gourmetizador da história.
Parece Blade Runner. 
Mas pode ser você.
48 Stephen Hawking
Em livro póstumo, o físico encara pergun-
tas difíceis: Deus existe? Dá para prever o 
futuro? Os robôs vão dominar o mundo? 
22 Capa
a reinvenção 
do cérebro 
Implante de memória, inteligÍncia turbi-
nada e telepatia: conheça as pesquisas que 
vão virar seu cérebro de ponta-cabeça.
e se...
72 dois é demais 
E se a política do flho 
único existisse no Brasil?
Capa I Ilustração Yan Blanco
67 matemágico 
O Oráculo explica a fta de 
Moebius.64 
mil 
castrações 
compulsórias 
foram reali�
zadas nos eua 
entre 1907 e 
1963 graças à 
eugenia.
p. 35
número
incrível
12 baiacu farmacêutico
O comprimido que entra 
pequeno pela boca – e fca 
enorme no estômago. 
20 subiu o idç da sala
Conheça a TV micro LED: 
uma mistura de LCD com 
OLED (e a gente explica 
a sopa de letrinhas). 
18 a fauna de tim burton
Na rabeira de Dumbo, 
relembramos as criaturas 
fantásticas do diretor.
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s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 1 
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ESSENCIAL U M A I M A G E M . . .
Foto NurPhoto/Getty Images
U M A I M A G E M . . .
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s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 4 
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e s s e n c i a l 2 / 4 
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essencial
Ela já foi uma das 
quatro nações mais 
ricas do mundo, 
tem mais petróleo 
que a Arábia 
Saudita, e está 
quebrada. Entenda 
como o chavismo 
arrebentou o país. 
Há sete meses no Brasil, tabalhando em um restaurante peru-
ano de dono argentno na capital paulista, a venezuelana Eliza é 
mais uma ente as tantas fguras que dão vida ao sincretsmo da 
cultra brasileira. Mas Eliza e seu irmão, a quem ajudou a emigrar 
para o País há tês meses, também representam um fenômeno 
assustador: o êxodo venezuelano. 
Desde 2015, 3 milhões de cidadãos abandonaram a Venezuela. 
Um em cada dez habitantes. Metade imigrou para Colômbia e 
Peru. O Brasil, que tem seu cento econômico longe da fronteira 
com a Venezuela e fala outo idioma, recebeu menos gente, mas 
mesmo assim um contngente considerável: 85 mil pessoas. Boa 
parte sem nada e disposta a morar na rua em Roraima. De acordo h
. . . u m a o p i n i ã o
Afnal de 
contas, o 
que aconte-
ceu com a 
Venezuela?
na página anterior: Poderia ser o Cordão da Bola Preta, mas é algo mais tradicional 
que o bloco carioca de 101 anos. Esses são os Naga Sadhus, guardiões do hinduísmo 
que vivem nas montanhas, isolados das tentações da sociedade. Eles descem para 
a festiva peregrinação de Kumbh Mela, que dura 45 dias. Nela, milhões de féis se 
banham na foz do rio sagrado Yamuna, no nordeste da Índia, para lavar seus pecados.
p o r f e l i p p e h e r m e s
 
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e s s e n c i a l 3 / 4 
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com um levantamento da FGV, 30% 
deles têm curso superior. 
E a tendência é piorar. A ONU estma 
que o número de refgiados deve che-
gar a 5,3 milhões até o fnal deste ano. 
Quase 20% da população – um êxodo 
de proporções bíblicas. Tudo isso num 
país que detém as maiores reservas de 
petóleo do planeta (bem à frente da 
Arábia Saudita, a segunda colocada). Tu-
do isso numa nação que, até o início do 
século 21, tnha o maior PIB per capita 
da América do Sul, e que, na década de 
1950, estava ente as quato mais ricas 
do mundo. O que houve?
República estatsta
Claro que as ditaduras de Chaves 
(1999-2013) e de Maduro (desde 2013) 
estão no cento do problema. Mas a 
história é mais longa. Após a descober-
ta de petóleo na Venezuela, em 1922, 
o país viu uma sucessão de golpes e 
partdos polítcos que buscavam abo-
canhar parte dos recursos gerados nos 
acordos com companhias estangeiras. 
O que parecia resolvido com a demo-
cracia, implementada em 1958, e que 
se tornaria a mais longeva da América 
do Sul, durou pouco. 
Em 1973, após o primeiro choque do 
petóleo, o país decidiu nacionalizar 
empresas petolíferas, condensando t-
do na gigante PDVSA. Com recursos do 
petóleo, o Estado adentou na econo-
mia. Grandes empresários perceberam 
que, estando os recursos no governo, 
deveriam adaptar-se e produzir para o 
governo, não para os consumidores. E 
a população foi se tornando cada vez 
mais dependente do auxílio estatal. 
Bom, petóleo e derivados respon-
dem por 96% das exportações da Ve-
nezuela (no Brasil, por exemplo, são só 
9%). O boom na cotação do barril, na 
década passada, sob o governo Chavez, 
fez ingressar na Venezuela mais de US$ 
750 bilhões. Com contole total sobre a 
maior fonte de riqueza do país e acha-
ques a empresários, Chavez aproveitou 
a bonança para expandir ainda mais a 
presença do Estado na economia. 
Comprou da iniciativa privada o 
contole de siderúrgicas, bancos, in-
dústias de alimentos, fábricas de todo 
tpo. Ente 2008 e 2015, o setor privado 
recuou de 70% para 20% do total de 
bens de consumo providos no país. A 
torra de dinheiro colocou lá em cima 
o défcit público (ou seja, o tanto que o 
governo gasta a mais do que arrecada). 
O Brasil, que precisa de reformas para 
não quebrar, tem hoje um défcit de 
7,5% do PIB. O da Venezuela chegou 
rapidamente a 16%. 
Com os recursos públicos quase 
todos destinados a cobrir o déficit, 
começou a faltar dinheiro na joia da 
coroa, a PDVSA. A produção de petó-
leo implodiu, saindo de 3,2 milhões 
para 1,5 milhão de barris diários (me-
nos que a Petobras, que tra 2 milhões 
de barris/dia). Para piorar, a cotação 
do barril de petóleo saiu de US$ 103 
em 2014 para US$ 35,7 em 2017. Com 
menos dólares entando, o país em-
pobreceu severamente: em 2012, eles 
importavam US$ 62 bilhões. Em 2018, 
foram só US$ 9,2 bilhões (o Brasil, para 
dar uma referência, importou US$ 180 
bilhões no ano passado, com dólar em 
alta e tdo o mais). 
Impressora de dinheiro
Para ter como pagar os salários dos 
fncionários públicos, o governo recor-
reu à mais imbecil das soluções: ligar 
as impressoras de dinheiro. Com mais 
moeda em circulação do que coisas 
para comprar, não deu outa: os preços 
infaram. Em 2019, a infação venezue-
lana deve passar dos 10 milhões por 
cento, segundo o FMI. Em meio a esse 
caos, a retação do PIB chegou a 13,7% 
em 2017; mais 15,4% em 2018. Hoje, 
nove em cada dez venezuelanos estão 
abaixo da linha da pobreza. 
Nisso, o governo Maduro entou em 
colapso. Sua últma eleição foi decla-
rada fraudulenta pelo Parlamento ve-
nezuelano. Juan Guaidó, o jovem líder 
da Assembleia, de 35 anos, declarou-se
presidente interino da Venezuela em ja-
neiro, e foi reconhecido como tal pelos 
EUA, pelos maiores países da Europa e 
por boa parte da América Latna (Brasil 
incluído, obviamente). 
Milícia
Mas falta combinar com os russos. 
A declaração de Guaidó não vale nada 
dento da Venezuela, porque Maduro 
tem costas quentes. Com uma força 
militar e paramilitar bem armada, o 
ditador tem instumentos para intmi-
dar quem lhe faça oposição. Em 2008, 
Hugo Chávez distibuiu 100 mil fzis 
para sua milícia. Em 2017, foi a vez de 
Maduro armar outos 500 mil. A milí-
cia, uma espécie de SS implementada 
pelo chavismo, tem sido responsável 
por boa parte da repressão, e segue fel 
ao líder chavista. 
Os militares venezuelanos, que dão 
suporte a Maduro no poder, contolam 
14 dos 32 ministérios, além de gerir a 
PDVSA, responsável por basicamente 
todas as receitas em dólar do país e, sem 
surpresa, de onde sai boa parte dos des-
vios de recursos públicos – de acordo 
com uma delação do banqueiro suíço 
Mathias Krull, só a família de Maduro 
desviou US$ 1,2 bilhão.
Além dos militares, Maduro possui 
ampla condescendência do Judiciário, 
o qual tatou de aparelhar ao longo 
de seu mandato. Ainda que enfrente 
oposição na Assembleia, como a do 
presidente da casa, há pouco ou nada 
que o Legislatvo possa fazer tendo as 
mãos atadas pelos juízes. 
Mantdo o poder, Maduro enfrentaria 
novas eleições apenas em 2025, quando 
a Revolução Chavista completaria 27 
anos. Se ainda estver por lá, não res-
tam dúvidas de que a Venezuela terá 
ensinado lições valiosas sobre como 
arruinar um país. S
Um em cada seis venezuelanos 
terá deixado seu país até 
o fm de 2019. Um êxodo 
de 5,3 milhões de pessoas.
E d i ç ã o a l e x a n d r e v e r s i g n a s s i
 
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Tóquio: a Olimpíada das criptomoedas
e d i ç ã o a n a c a r o l i n a l e o n a r d i
supernovas
O japãO é analógicO quando o assunto é gra-
na: cerca de 65% dos pagamentos por lá são feitos 
em dinheiro de papel. Dinheiro de plástco, como 
cartão de crédito e débito, nem é aceito em boa 
parte dos comércios locais. Com o fuxo enorme 
de tristas que é esperado para os Jogos Olím-
picos de Tóquio, o país quer mudar esse quadro. 
Um dos caminhos testados? Criptomoedas. Três 
grandes bancos japoneses estão desenvolvendo 
as suas – e ao menos uma rede de pagamento 
baseada em blockchain deve ser lançada a tempo 
das Olimpíadas. O plano é que o sistema do 
Mitsubishi UFJ Financial Group processe mais 
de 1 milhão de tansações por segundo – dez 
vezes mais do que a capacidade das bandeiras 
atais de cartão, como Visa e Mastercard.
 
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sn. f a t o s
Foto Alex Silva Ilustração Brunna Mancuso 
O númerO de vOltas que a Terra deu ao redor 
do Sol desde que você nasceu é apenas uma 
das formas de medir a sua idade. O envelheci-
mento, afnal, é uma medida de quanto o seu 
organismo já se desenvolveu – e, depois de 
uma certa fase, de quanto ele já se deteriorou. 
 Há quem envelheça num ritmo mais rápido 
que o normal, e quem mantenha um corpi-
nho relatvamente jovem, apesar de sua data 
de nascimento. Para calcular essa idade bioló-
gica, a ciência conta com tuques como medir, 
por exemplo, as pontnhas dos cromossomos, 
chamados telômeros. Quanto mais curtos, em 
geral, maior o nível de envelhecimento celular 
de alguém. Agora, porém, cientstas acreditam 
que encontaram outa medida importante – 
no intestno. Usando inteligência artfcial, eles 
descobriram que a coleção de bactérias que vive 
no intestno de cada pessoa (o microbioma) sofre 
variações típicas para cada faixa etária. Desse 
padrão, emerge também o fato de que algumas 
pessoas têm a “idade intestnal” incompatível 
com a data de nascimento – o microbioma pode 
estar numa fase mais “velha” ou mais “jovem” 
que o esperado para a idade do indivíduo. 
 Essas descobertas são essenciais para cien-
tstas que estdam a longevidade. Ao entender 
as característcas (inclusive microbiótcas) das 
pessoas que envelhecem melhor, eles podem in-
vestgar como melhorar a velhice de todo mundo.
Quantos anos você tem (de acordo com seu intestino)?
A coleção de bactérias que vive por lá pode ajudar a defnir a qualidade da sua velhice.
Quanto maior a 
recompensa de um 
desafo, segundo a 
neurociência, melhor 
a nossa performance 
nele: até a coordena-
ção motora costuma 
melhorar. Mas isso 
até certo ponto: 
quando a pressão 
é alta demais, e há 
muito a ganhar (e a 
perder), a maioria 
das pessoas trava – e 
a habilidade cogniti-
va piora. Cientistas 
descobriram que 
essa “travada” está 
associada à atividade 
cerebral na região 
do corpo estriado 
ventral. Em geral, a 
área fca mais ativa 
durante o desafo. 
Mas, quando o medo 
de perder fca grande 
demais, a atividade 
diminui – e a cone-
xão com o controle 
motor no cérebro 
também cai.
Por que trava-
mos sob pressão
é O númerO de 
biliOnáriOs 
cujo patimônio, 
somado, equivale 
a todo o dinheiro 
que possuem as 
3,8 bilhões de pes-
soas mais pobres 
do mundo (ou seja: 
51% da população 
do planeta).
disse john amirrezvani, pesquisador que denunciou um“mercado negro de perfs” no Facebook. Empresas 
de anúncios abordavam usuários oferecendo dinheiro para “alugar” suas contas por algumas horas. O obje-
tivo era usá-las para lançar posts patrocinados – por vezes, com cunho político ou recheados de fake news 
– e esconder de onde eles vieram. Se o perfl acabava banido, os anunciantes partiam para a próxima mula.
26
“São mulas para ‘lavar’ anúncios”,
 
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sn. f a t o s
Comprimido-baiaCu inCha para tratar estômago
o que você pensa quando vê um baiacu? 
Xuanhe Zhao, engenheiro mecânico do MIT, 
teve uma epifania. Especialista em hidrogel, 
ele criou uma cápsula capaz de monitorar 
a saúde do estômago por longos períodos, 
sem ser destuída pelos ácidos estomacais 
nem causar desconforto ao paciente. 
O que motivou você a desenvolver a 
cápsula-baiacu? Existe uma demanda na 
medicina para criar dispositvos ingeríveis 
melhores. Quando estamos falando em 
um comprimido que precise passar muito 
tempo no estômago, liberando remédios 
ou monitorando temperatra ou acidez, o 
que você geralmente tem são eletônicos 
feitos de materiais rígidos como plástco, 
ou cerâmica, que incomodam ao passar 
pelo tato gastointestnal, e podem até 
machucar a mucosa. Eu tabalho com hi-
drogel – e sempre achei que seria uma boa 
alternatva. O problema é que hidrogéis 
natrais, como a gelatna, são facilmente 
digeríveis pelo organismo. 
Como foi que o peixe se tornou inspiração? 
Vimos, no YouTube, um baiacu expandir 
muitas vezes o seu tamanho, sem que a sua 
pele perdesse elastcidade ou resistência. 
Nos inspiramos nisso para desenvolver 
um material que suportasse o ambiente 
gástico cáustico, cheio de movimentos 
cíclicos e contações, e que também con-
seguisse se expandir para permanecer no 
estômago sem ser expelido.
Como vai funcionar o uso do comprimido? 
Quando chega ao estômago, a interação da 
cápsula com o ácido estomacal faz com que 
ele aumente cem vezes de tamanho em 15 
minutos. Lá, imaginamos que ele possa li-
berar medimentos ou até agir como balão 
gástico, para passar a sensação de saciedade 
e promover emagrecimento. Quando não 
for mais necessário, o comprimido pode 
ser expelido. O paciente só precisa beber 
uma solução concentada de cálcio, que não 
faz mal ao organismo, e o aparelho volta ao 
tamanho original. Ana Carolina Leonardi
Fontes ( Ford Europe ( Quaternary 
Science Reviews ( A new genomic blueprint
of the human gut microbiota. ( Nasa.
Por Ingrid Luisa
enquanto 
isso...
Um internauta 
corneteiro fez nascer 
o herói nacional 
Macaco Cidadão.
Engenheiro do MIT criou cápsula que fca 100 vezes maior dento da barriga.
A Ford criou uma tecnologia 
para colchões de casal que 
impede que uma pessoa ocupe 
o espaço da outra na cama (.
Cientistas descobriram mais 
de 2 mil novas bactérias na 
fora intestinal humana(.
Chefe da Nasa declarou que 
americanos voltarão à Lua 
“para fcar, não visitar”(.
Ilustração Brunna Mancuso
Uma possível pegada de 
neandertal, com cerca de 
29 mil anos, foi encontrada 
em Gibraltar (.
 
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Fonte Four Decades of Antarctic Ice Sheet Mass Balance from 1979–2017, Proceedings of the National Academy of Sciences. 
14.661
foi o número de pássaros que colidiram com aviões nos EUA em 2018. Só essa 
fração do total mundial equivale a mais de 40 passarinhos atingidos por dia. Esses 
acidentes são monitorados desde 1990, e, com o aumento do tráfego aéreo, cresce-
ram 692% de lá para cá. O que as fabricantes de aeronaves têm feito é desenvolver 
turbinas que não entrem em colapso ao colidir com os bichos – o que resolve o risco 
do avião cair por conta de uma batida dessas. Já para proteger os passarinhos, há ini-
ciativas como soltar aves de rapina nas áreas próximas a aeroportos. Alguns pássaros 
podem até virar jantar, no início – mas, no longo prazo, aprendem a evitar a região.
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1979 - 1989 1989 - 1999 1999 - 2009 2009 - 2017
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anTárTIDa (ToTaL)
marGem de erro
Quanto gelo a Antártda já perdeu
Um novo estdo da Universidade da Califórnia revela, em gigatoneladas, quanto de gelo antártco já “escor-
reu pelo ralo” desde 1979 – e quais foram as áreas do contnente mais afetadas pelo derretmento.
PLaTaforma De 
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sn. f a t o s
Beijos
3 notícias sobre
1. 2. 3.
Males beioqueiros
O vírus da mononucleose – co-
nhecida como Doença do Beijo 
– afeta 90% da população, 
ainda que boa parte nunca 
apresente sintomas. Ela tem 
ligações, porém, com um mal 
bem mais grave: a esclerose 
múltipla. Um novo estudo 
mostra que terapias drásticas 
para reduzir a presença do 
vírus no organismo diminuem 
sintomas entre os pacientes 
que sofrem com a esclerose(.
Diga-me quem tu beias 
Mais de dez pessoas foram 
infectadas com salmonela nos 
EUA, em um onda de contami-
nação causada por beijos em 
porcos-espinhos de estimação. 
O Centro de Prevenção de Do-
enças precisou emitir um aviso 
nacional por lá, para que as 
pessoas parassem de acariciar 
seus bichinhos perto do rosto. 
No Brasil, afagos desse tipo 
são ilegais: não é permitido ter 
bichos exóticos em casa(.
ninho do amor
Que diferentes espécies 
de hominídeos transavam 
entre si, os cientistas já 
sabiam. A grande novidade 
são evidências de que uma 
única caverna na Sibéria foi 
habitada, ao mesmo tempo, 
por neandertais, denisovanos 
e, possivelmente, até Homo 
sapiens. Os indícios apontam 
para uma coabitação de até 
100 mil anos – a festa univer-
sitária mais longa da história(.
Beijos ancestrais em uma caverna na Sibéria, beijos espinhosos e ataques ao vírus do beijo.
A IBM, especialista 
em inteligência 
artifcial, está 
montando um 
projeto com a 
empresa america-
na de alimentos 
McCormick, 
uma das maiores 
produtoras de 
temperos do 
mundo. O objetivo 
é criar novas recei-
tas e misturas de 
temperos prontos, 
sem que eles preci-
sem passar por um 
longo processo de 
desenvolvimento 
só com funcio-
nários humanos. 
Por enquanto, os 
resultados foram 
ambíguos: o algo-
ritmo já sugeriu 
cominho para um 
tempero de pizza 
– uma combinação 
inusitada que deu 
certo. Mas tam-
bém já errou feio: 
para uma receita 
de tempero para 
arroz, por exem-
plo, o computador 
sugeriu usar sal no 
lugar do... arroz.
Tem-
peros 
inteli-
gentes
Ilustração ( Fido Nesti Fontes ( Epstein-Barr virus–specific T cell therapy for progressive multiple sclerosis. ( Timing of archaic hominin occupation of 
Denisova Cave in southern Siberia.( Investigation notice: Outbreak of Salmonella Infections Linked to Pet Hedgehogs. ( GLOBALWEBINDEX (2018), Hootsuite
Países 
ciber-
viciados
1
M é d i a d e u s o d e 
p e s s oa s e n t r e 
16 e 64 a n o s , e M 
4 0 pa í s e s .
6h42Min
média global
40 o ja pão
3h45Min
último lugar
1 o f i l i p i na s 2 o b r a s i l 3 o ta i l â n di a
10h2Min
De uso De internet 
por Dia
9h29Min 9h11Min
top 3
(
 
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sn. f a t o s
A notíciA
Governo dos EUA 
censura pediatra 
que provou 
relação entre 
autismo e vacina 
o que elA diziA
Em 2007, o médico 
Andrew Zimmerman 
testemunhou na 
Justiça contra a ale-
gação de que vacinas 
causariam autismo em 
crianças. Nos 11 anos 
seguintes, porém, seus 
próprios estudos mos-
trariam que ele estava 
errado, mas o governo 
recusou-se a deixá-lo 
se retratar.
quAl é A verdAde
Zimmerman é e 
sempre foi a favor da 
vacinação. O boato 
nasceu de um estudo 
que ele liderou, no qual 
uma criança com pro-
blemas congênitos nas 
mitocôndrias mostrou, 
de surpresa, regressão 
cognitiva típica do 
autismo. A conclusão 
da equipe foi de que o 
gatilho teria sido uma 
reação infamatória 
leve à vacina contra ru-
béola. O caso mudou, 
sim, a vida de Zimmer-
man: o neuropediatra, 
passou a investigar a 
relação entre autismo 
e mitocôndrias (e não 
vacinas, óbvio).
Não é bem 
assim... 
Notícias que 
bombaram por 
aí - mas não são 
verdade
As famosas estátas de pedra da Ilha de 
Páscoa, chamadas de moais, eram constuí-
das em homenagem a pessoas importantes 
dos clãs que viviam por lá séculos atás. Elas 
representavam o cento cerimonial de cada 
vila e nunca fcavam de frente para o mar – 
sempre olhando para o interior dos povoados, 
como grandes protetores de pedra. Um novo 
estdo, recém-publicado no periódico PLOS 
One, acredita que a posição das estátas, no 
entanto, tem um signifcado exta. Segundo 
os pesquisadores, elas marcavam a localização 
de fontes de água fresca e potável, um recur-
so indispensável em um território pequeno, 
equivalente à metade de Ilhabela, onde gru-
pos diferentes competam por mantmentos 
básicos. Antopólogos da Universidade de 
Oregon fzeram uma análise espacial de onde 
fcam as moais – e concluíram que quantdade 
de estátas concentadas em um só ponto 
parece indicar o tamanho da fonte e a qua-
lidade da água encontada ali. ACL
o mapa
aquático das Estátuas da ilha dE páscoa
Um novo estdo afrma que as moais apontavam para localização de água fresca.
Uma proposta de lei recém-apresentada no Havaí quer limitar o acesso ao cigarro ape-
nas à população mais velha do arquipélago – e põe mais velha nisso. A proposta é impor 
um limite progressivo de idade para a compra de cigarros: no ano que vem, apenas pessoas 
de 30 anos poderiam comprar um maço na banca. No ano seguinte, apenas maiores de 
40… E assim por diante, até 2024, quando a idade mínima será de 100 anos. O objetivo, 
claro, é reduzir pouco a pouco o mercado consumidor de cigarros, e desincentivar o uso 
especialmente entre a população mais jovem, até tornar o negócio inviável.
cigarros no havaí: proibidos para menores de 100 anos
 
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O CIRCO DO TIM BURTON O insólito diretor é o responsável pela versão com atores de Dumbo, o elefante com orelhas enormes, que es� eia nos cinemas em 29/3. Aqui, algumas curiosidades sobre ou� os personagens dele.
1 BEETLEJUICE
FILME Os Fantasmas 
se Divertem
ANO 1988
No roteiro original, 
Beetlejuice era bem 
mais maléfico do que 
é no filme. Em vez de 
um fantasma, ele seria 
um demônio alado, e 
seu plano para a família 
Deetzes era estupro e 
assassinato (não tra-
vessuras e casamento).
2 EDWARD MÃOS
DE TESOURA
FILME Edward Mãos 
de Tesoura
ANO 1990
Tim Burton imaginou 
o personagem em 
1974, quando estava 
no ensino médio. 
Para dar vida a esse 
sonho, Johnny Depp 
emagreceu 25 quilos e 
usou um cabelo base-
ado em Robert Smith, 
vocalista do The Cure.
3 JACK SKELLINGTON
FILME O Estranho 
Mundo de Jack
ANO 1993
Todo filmado em stop 
motion, o protagonista 
Jack teve mais de 400 
cabeças diferentes ao 
longo do filme e eram 
Fotos Reprodução/Divulgação
CANAL 
Daily dose of 
internet
YouTube
A americana que foi presa, 
algemada e aí roubou o car-
ro da polícia. A colmeia que 
usa ilusão de óptica para se 
defender. O que acontece se 
você molhar um sonrisal no 
espaço – ou estiver a bordo 
de um avião afundando na 
água. O melhor dos vídeos 
virais, em 3 minutos diários. 
CANAL 
Engineerguy
YouTube
Você sabe por que as latas 
de alumínio têm fundo 
curvo? Como o celular sabe 
se está na vertical? Como 
a cafeteira “puxa” a água 
sem um motor? Desvende 
esses e outros mistérios 
da engenharia neste canal 
– que está em inglês, mas 
tem tradução (clique em 
Configurações e Legendas). 
PÉROLAS DO 
STREAMING
O CIRCO DO TIM BURTON Aqui, algumas curiosidades sobre ou� os personagens dele.
Os Fantasmas 
mais maléfico do que 
é no filme. Em vez de 
um fantasma, ele seria 
um demônio alado, e 
seu plano para a família 
Deetzes era estupro e 
assassinato (não tra-
vessuras e casamento).
Edward Mãos 
Tim Burton imaginou 
1974, quando estava 
sonho, Johnny Depp 
emagreceu 25 quilos e 
usou um cabelo base-
ado em Robert Smith, 
vocalista do The Cure.
JACK SKELLINGTON
Todo filmado em stop 
motion, o protagonista 
Jack teve mais de 400 
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E D I Ç Ã O B R U N O G A R A T T O N I
Texto Ingrid Luisa
e Rafael Popp
Ilustração Leonardo
Soares
necessários três frames 
(quadros) para cada vez 
que ele piscava. Já que 
cada segundo do filme 
tinha 24 frames, um 
minuto levava uma se-
mana para ser filmado.
4 GATO QUE RI
FILME Alice no País 
das Maravilhas
ANO 2010
O gato sorridente é 
conhecido por ditos 
ilógicos e por aparecer 
em uma árvore. E ela 
foi inspirada por uma 
árvore real, que está 
de pé em um jardim no 
Christ Church College, 
em Oxford, atrás da 
antiga casa de Alice 
Liddell - que inspirou a 
personagem principal. 
5 SPARKY
FILME Frankenweenie
ANO 2012
Mais de 200 fantoches 
e cenários foram 
criados para o filme, 
incluindo 12 do cão-
zinho Sparkys. Vários 
bonecos do mesmo 
personagem permiti-
ram que se trabalhasse 
em mais de uma cena 
ao mesmo tempo.
TRÓPICO é uma espécie de SimCity 
mais realista: além de construir 
e gerenciar uma nação, você (no 
papel de um líder chamado “El 
Presidente”) também pode pagar 
propinas, fraudar eleições, mentir 
para a opinião pública e até matar 
opositores, entre outras gentilezas. 
No novo game da série, a grande 
novidade está no povo, que ficou 
mais difícil de engambelar – agora, 
cada habitante virtual tem sua 
própria personalidade, desejos e 
esperanças. Tropico 6. Para PC, 
Mac, PS4 e Xbox One. US$ 50. 
DESDE A ESTREIA DE AVATAR nos cinemas, 
há quase dez anos, os filmes em 3D foram 
perdendo relevância – o público simples-
mente se cansou do efeito. Mas este sus-
pense chinês, sobre um criminoso que ten-
ta acertar as contas com o passado, usa a 
tecnologia de um jeito novo e interessante. 
O filme é exibido em 2D, mas a projeção 
muda para 3D (com óculos especiais) na úl-
tima cena: uma reconstrução visualmente 
incrível, com 50 minutos e nenhum corte 
de câmera, de um sonho do protagonista. 
Longa Jornada Noite Aden� o. 
Estreia dia 21/3 nos cinemas.
Ele vive em 2D. Mas sonha em 3D
DOCUMENTÁRIO 
Fyre Fes� val 
Netflix
Um festival de música 
jamais visto, com mais 
de 30 bandas, centenas 
de celebridades e 
influenciadores digitais 
e milhares de fãs (que 
pagaram US$ 4 mil cada 
um) reunidos numa ilha 
particular nas Bahamas. 
A ideia era essa. Mas deu 
tudo errado. E como.
FILME 
Eu Não Sou Um 
Homem Fácil 
Netflix
Machista e fanfarrão, 
Damien bate a cabeça 
e acorda num mundo 
diferente. Nele, as mulheres 
dominam a sociedade 
e agem como homens, 
tolhendo e assediando 
o sexo oposto. Comédia 
divertida e oportuna.
ESCREVE O JORNALIS-
TA Chico Felitti em 
seu livro-reportagem 
sobre a vida de 
Ricardo Corrêa da 
Silva: o maquiador 
que injetou meio litro 
de silicone industrial 
no rosto, ficou de-
formado (como uma 
versão demoníaca do 
personagem infantil 
Fofão), virou mendigo 
e se tornou um dos 
personagens mais 
estranhos, e assusta-
dores, das ruas 
de São Paulo.
Ricardo e Vânia. 
R$ 54,90.
“Foi então 
que Ricardo 
começou a 
pedir dinheiro. 
E fi cou 
conhecido 
como Fofão 
da Augusta”, 
A DITADURA EM AÇÃO 
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sn. t e c h
LED-LcD
Uma corrente elétrica altera o 
estado físico do cristal líquido, 
que se torna opaco ou transpa-
rente – acendendo ou apagando 
cada pixel da tela. O problema 
é que, como o cristal não emite 
luz própria, a tecnologia requer 
um backlight (iluminador) tra-
seiro. Trata-se de um LED, que 
fica sempre ligado. Isso causa 
vazamento de luz e prejudica 
o contraste da tela. 
1.filtros coloridos
2.cristal líquido
3.iluminador (led)
1.filtros coloridos
2.material orgânico
3.eletrodos
1.micro leds
2.eletrodos
oLED
A tela é feita de materiais orgâ-
nicos, como a polianilina, que 
emitem luz ao receber corrente 
elétrica. Por isso, ela não preci-
sa de backlight. A vantagem é 
que a tela apresenta mais con-
traste e cores mais profundas. 
A desvantagem é que os pixels 
emitem menos luz, e por isso 
a tela tem menos brilho. Ela 
também pode ficar manchada 
por imagens estáticas.
micro LED
A tela é formada por LEDs 
microscópicos, cada um do 
tamanho de um pixel (100 mi-
crômetros, a espessura de um 
fio de cabelo). Eles produzem a 
própria luz, dispensando o ilu-
minador, e por isso a tela tem 
contraste e cores perfeitas. 
E também produz muito brilho. 
Resultado: brilho e durabili-
dade das
televisões LCD, com 
contraste e cores de OLED.
F
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s
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u
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çã
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um passo à frente do oled
Samsung promete lançar nos próximos meses a primeira televisão com tecnologia Micro LED – que reúne as qualidades 
das telas OLED e LCD, como alto brilho, cores intensas e contraste perfeito. Veja como ela funciona. Texto Bruno Garattoni
 
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Universo na mesa
kickstarter.com
Projeto DeskSpace
O que é Uma luminária 
que reproduz o Sol. Ela é 
feita de calcita dourada 
e iluminada por dentro, 
produzindo uma luz suave 
e bem bonita. Será fabrica-
da em três tamanhos, para 
uso na mesa ou como aba-
jur, e virá com nove esferas 
de minérios, tamanhos e 
cores diferentes – reprodu-
zindo os planetas do nosso 
Sistema Solar. 
Meta US$ 6 mil
Chance de rolar
b b b b a
Desinfetante 
eletônico
kickstarter.com
Projeto UVGLO 
O que é Um gadget que 
mata vírus e bactérias. Na 
hora de usar o aparelho, 
que parece um pendrive, 
basta conectá-lo à entrada 
USB do seu smartphone 
(é compatível com iPhone 
e vários modelos Android). 
Ele usa a bateria do celular 
para alimentar uma lâmpa-
da ultravioleta, que elimina 
99,9% dos micro-organis-
mos em 10 segundos. 
Meta US$ 25 mil
Chance b b b b a
você decide
Os projetos mais 
interessantes (e 
surpreendentes) 
do mundo do 
crowdfunding
Ioga sem professor
cerveja 
com 
bluetooth
o fim 
do talho
O iPhOne X apresentou 
ao mundo o “talho” (no-
tch), um corte na parte 
de cima da tela para 
abrigar a câmera frontal. 
Apesar de ser bem 
feinho, ele foi copiado 
por todos os outros 
fabricantes. Mas, agora, 
há uma solução melhor: 
o Honor View 20 (US$ 
650), da chinesa Huawei, 
tem apenas uma discre-
tíssima abertura para 
a câmera e o sensor de 
reconhecimento facial. 
A cAlçA NAdi X vem com um aplicatvo que ensina 
as principais poses da ioga. Mas o tuque é que ela tem 
sensores, embutdos no tecido, que detectam se você está 
fazendo os movimentos direito – e avisa, por meio de 
pequenas vibrações, quando é necessário corrigir alguma 
posição. A calça tem versões para homens e mulheres, é à 
prova d’água (pode ir à máquina de lavar), e custa US$ 249. 
visão 360 graus
O caPacete crOsshelmet X1 
tem uma câmera na parte de 
trás, que capta o que está acon-
tecendo ao redor do motociclista. 
Essa imagem é projetada no visor 
frontal do capacete, onde apare-
ce como se fosse um retrovisor 
virtual. Ele aumenta bastante a 
segurança do motociclista – e 
também mostra informações 
de GPS, indicando onde e quando 
virar (você define a rota no seu 
smartphone). Pena que o produ-
to custe caro: US$ 1.600.
Os fabricantes de eletrônicOs têm apostado nas chamadas 
“party speakers”, caixas de som com alto-falantes que mudam de 
cor e funções para brincar de DJ. A GTK-PG10, da Sony, radicaliza 
essa tendência: tem até uma espécie de mesinha retrátil para co-
locar copos de cerveja (segundo o fabricante, o produto é à prova 
de derramamento de líquidos). A caixa tem conexão Bluetooth, 
bateria com 13 horas de autonomia e pesa 6,7 kg. Já está à venda, 
por US$ 250, nos Estados Unidos. 
E d i ç ã o b r u n o g a r a t t o n i
 
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Ler, e contolar, pensamentos. Implantar 
memórias, aumentar a inteligência, 
tansmitr informações por telepata. 
Existem cientstas tentando fazer tdo 
isso – e, em alguns casos, conseguindo. 
Conheça as pesquisas que pretendem 
revolucionar a mente humana. 
Reportagem Bruno Garattoni e Tiago Cordeiro 
Ilustração Milton Nakata Design Yasmin Ayumi
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No romaNce 1984, George Orwell 
imaginou um futro em que o Estado 
fiscaliza até os pensamentos dos cida-
dãos. Isso é feito vigiando as pessoas 
enquanto elas assistem à televisão, um 
método precário e lento (o protagonista 
do livro, Winston, só é preso após se-
te anos de monitoramento). No futro, 
isso poderá ser feito em tempo real – e 
diretamente do cérebro. 
 A ciência ainda está longe de enten-
der como a mente humana funciona. 
Mas de uma coisa ela já sabe: tdo o 
que se passa dento das nossas cabeças 
pode ser reduzido aos padrões de sinais 
eléticos que percorrem as sinapses do 
cérebro. Se você conseguir captrar e 
decodificar esses sinais, em tese poderá 
descobrir o que alguém está pensando. 
Na últma década, várias equipes de 
pesquisadores tentaram – e, dentro 
de certos limites, conseguiram – fazer 
isso. Primeiro, o voluntário é colocado 
dento de um aparelho de ressonância 
magnétca, que enxerga os fluxos de 
sangue dento do cérebro. Ele cria um 
mapa com 1 milhão de voxels: cubinhos 
com 100 mil neurônios cada um. Em 
seguida, os cientstas mostam determi-
nados estímulos para a pessoa – fotos, 
palavras, sons –, enquanto monitoram o 
cérebro dela. Cada elemento (a imagem 
de um pássaro, por exemplo) atva de-
terminados conjuntos de neurônios – e 
a máquina de ressonância, observando 
o fluxo de sangue para cada um dos 
voxels, enxerga isso. Repita a medição 
algumas dezenas ou centenas de vezes, 
e você terá uma biblioteca de padrões. 
Quando a pessoa imaginar um pássa-
ro, por exemplo, você saberá que esse 
pensamento atva determinados voxels, 
e poderá identficá-lo.
 Em 2017, cientstas da Universidade 
Carnegie Mellon( combinaram essa 
técnica com um sistema de inteligên-
cia artficial e conseguiram adivinhar, 
com 87% de acerto, o que os voluntários 
estavam pensando. Ok, o sistema é pri-
mitvo: limita-se a indicar a presença ou 
ausência de 42 elementos (como “ani-
mais”, “violência”, “perigo”, “deslocamen-
to”, “pessoas” e “grupo de pessoas”) no 
pensamento. Mas, em outas pesquisas, 
esse mesmo método foi além: conse-
guiu indicar se os voluntários estavam 
pensando, ou não, numa determinada 
imagem ou cena. 
 Talvez seja possível decifrar até um 
dos fenômenos mais misteriosos da 
mente humana: os sonhos. É o que 
acreditam pesquisadores da Universi-
dade de Kyoto, no Japão. Eles coloca-
ram voluntários para dormir( dento 
de máquinas de ressonância magnétca. 
Monitorando a atvidade cerebral dessas 
pessoas, o sistema foi capaz de detectar 
a presença ou ausência de 20 elementos 
(como “carro”, “livro”, “prédio”, “mulher”, 
“homem”, “rua” ou “comida”) nos sonhos 
das pessoas. Assim que a pessoa termi-
nava de sonhar – o que era constatado 
monitorando suas ondas cerebrais –, ela 
era acordada e os cientstas pergunta-
vam o que ela havia sonhado.
 A leitra de padrões cerebrais tem 
usos nobres, como permitr que pessoas 
paralisadas voltem a se comunicar. Mas 
também pode tomar caminhos sinistos, 
permitndo que regimes totalitários 
leiam à força a cabeça de alguém. O mais 
provável é que aconteça o que acon-
tece com quase todas as tecnologias: 
um pouco de cada coisa.
1
Ler pensamentos 
(e até sonhos)
situação 
atual:
teste em 
humanos
Fontes ( Predicting the Brain Activation Pattern Associated With the Propositional Content of a Sentence: Modeling Neural Representa-
tions of Events and States. Jing Wang e outros, CMU, 2017. ( Neural Decoding of Visual Imagery During Sleep. Y. Kamitani e outros, 2013. 
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Aplique umA corrente elétricA 
minúscula e imperceptível, de apenas 
0,001 ampére, no córtex pré-frontal 
dorsolateral direito de uma pessoa – e 
ela passará a mentr menos. Essa foi a 
conclusão de pesquisadores das univer-
sidades de Zurique, Chicago e Cambri-
dge(, que colocaram 145 pessoas para 
jogar dados em frente a uma tela. 
 O processo tnha dez rodadas, e era 
simples: a pessoa jogava os dados, e aí 
a tela mostava a lista de combinações 
premiadas (5+2 ou 2+1, por exemplo). O 
partcipante ganhava US$ 9 a cada acerto. 
Mas ele é que deveria dizer se havia de 
fato acertado, e podia mentr para ganhar 
mais. Os voluntários não sabiam, mas 
os cientstas estavam filmando tdo – 
e constataram que 37% das respostas 
eram mentirosas. Já com a corrente 
elética, a tapaça caía para menos da 
metade: apenas 15% das respostas eram 
mentrosas. O sistema não é perfeito (12 
pessoas eram hipermentrosas e sempre 
tapaceavam, mesmo sob estímulo elé-
tico), mas o efeito é notável – tanto que 
seus criadores acreditam ter encontado 
a raiz neuronal da mentra. “O córtex 
pré-frontal dorsolateral direito [que fica 
logo atás da testa] está diretamente li-
gado à honestdade”, diz Michel André 
Maréchal, um dos autores do estdo.
 Dois pesquisadores da Estônia fo-
ram além e dispensaram os eletodos: 
usaram ímãs para interferir com a atvi-
dade elética do cérebro de 16 voluntá-
rios(. Como você talvez se lembre das 
aulas de física do colégio, toda corrente 
elética produz um campo magnétco. 
Isso também vale para a eleticidade 
que passa pelos nossos neurônios, e 
também funciona ao contário: se vo-
cê interferir no campo magnétco, vai 
alterar a corrente elética. Os cientstas 
aproveitaram esse princípio para criar 
um sistema de indução mental sem fio. 
Eles colocaram ímãs perto da nuca 
dos voluntários e mostraram discos 
coloridos a eles. O voluntário tinha 
que dizer qual cor estava vendo – e era 
instuído a tentar mentr. Metade das 
pessoas recebeu pulsos magnétcos no 
córtex pré-frontal dorsolateral direito. 
E, por isso, mentu menos. Curiosamen-
te, quando os cientstas estmulavam o 
córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo, 
o efeito era oposto – e os voluntários 
conseguiam mentr mais vezes. 
Além de fazer as pessoas mentrem 
mais, é possível tansformá-las em men-
trosas mais convincentes. A chave é 
aplicar uma corrente elética muito pe-
quena no córtex pré-frontal anterior, 
área ligada à cognição e às emoções. 
Pesquisadores da Universidade de Tue-
bingen, na Alemanha, aplicaram sinais 
eléticos para reduzir temporariamente 
a atvidade dessa região – e pessoas an-
tes propensas à honestdade passaram 
a mentr melhor(. A pesquisa reuniu 
22 voluntários numa simulação: eles in-
terpretavam funcionários que tnham 
desviado dinheiro de suas empresas e 
seriam interrogados por um detetve. 
Caso conseguissem enganá-lo, pode-
riam ficar com o valor roubado (20 
euros). Quando recebiam o estímulo 
elético, os partcipantes mentam com 
mais segurança. Ficavam mais tanqui-
los ao negar envolvimento e pareciam 
mais capazes de escolher em quais si-
tações seria melhor distorcer dados, 
de forma a enganar o interrogador sem 
deixar a mentra óbvia demais. 
2
impedir a mentira. 
ou torná-la mais convincente
Uma técnica que combina 
ressonância magnética e 
inteligência artifcial já 
permite deduzir o que 
uma pessoa está pensando 
– com até 87% de acerto. 
situação 
atual:
teste em 
humanos
( Increasing Honesty in Humans with Noninvasive Brain Stimulation, Michel André Maréchal e outros, 2017. ( Efect of Prefrontal Trans-
cranial Magnetic Stimulation on Spontaneous Truth-Telling, Inga Kartonab e Talis Bachmannc, 2011.( The Truth about Lying: Inhibition of 
the Anterior Prefrontal Cortex Improves Deceptive Behavior. Ahmed A. Karim e outros, 2010.
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EscanEar o cérEbro humano E 
rEcriá-lo Em computador, pre-
servando a memória e a consciência das 
pessoas – que viveriam após a morte 
como simulações de computador. Esse 
é um dos cenários mais recorrentes, 
e menos realistas, da ficção científica. 
Mas isso não significa que não haja 
pesquisadores tentando ir nessa dire-
ção. A principal iniciatva é o Human 
Connectome Project, criado em 2009 
pelo governo dos EUA em parceria 
com seis universidades. Seu objetvo 
é produzir um “conectoma”, ou seja, um 
mapa com todas as conexões neurais 
do cérebro humano. Esse mapa pode-
ria ser reproduzido e executado num 
supercomputador, o que representaria 
a criação de uma inteligência artficial 
jamais vista – e o primeiro passo para a 
digitalização da mente humana. Parece 
megalomaníaco, e é mesmo. Mas tem 
certo nexo. Em 2005, o projeto Blue 
Brain, criado pelo governo da Suíça e 
pela IBM, conseguiu escanear e simular 
em computador 31 mil neurônios (e 37 
milhões de sinapses) do córtex primário 
somatossensorial de um rato(. É um 
nada – não dá nem 0,02% dos neurônios 
do bichinho –, mas mosta que a téc-
nica em si funciona. O grande desafio 
é escanear nossa massa cinzenta, um 
verdadeiro universo (o cérebro humano 
tem 250 vezes mais sinapses do que 
há de estelas na Via Láctea), e criar 
computadores potentes o bastante para 
rodar uma simulação dela. 
Para tentar resolver o primeiro pro-
blema, cientstas do Hospital Geral de 
Massachusetts usaram um novo tpo 
de ressonância magnétca, que tabalha 
com campo magnétco de 7 tesla – qua-
se cinco vezes mais intenso do que as 
máquinas comuns. O resultado é uma 
imagem 3D que mosta, com resolução 
muito maior, a estutra e as conexões 
do cérebro. Em 2017, os pesquisadores 
escanearam o cérebro de 1.200 volun-
tários e colocaram os resultados na in-
ternet(. Mas ainda estão longe do fim.
“Vamos precisar de pelo menos uma 
década para terminar de mapear o cére-
bro, porque é necessário gerar imagens 
em alta resolução de cada neurônio e 
cada conexão. E essa nem é a parte 
mais difícil”, explica o neurocientsta 
holandês Randal Koene, cofundador 
da empresa Carbon Copies, que tenta 
descobrir como reproduzir a mente hu-
mana em computador. “Depois vamos 
precisar jogar esses dados num sistema 
capaz de rodá-los. É possível que na dé-
cada de 2030 sejamos capazes de fazer 
isso com cérebros menores, como o de 
moscas”, diz. 
O Human Brain Project, que é ban-
cado pela União Europeia, está tentan-
do vencer os obstáculos tecnológicos. 
E eles são ainda maiores do que o es-
caneamento do cérebro. O objetvo do 
projeto é criar um supercomputador 
capaz de armazenar, manipular e execu-
tar, em tempo real, um banco de dados 
com 1,1 bilhão de terabytes, o tamanho 
estmado do conectoma humano. Isso é 
mil vezes mais do que todos os dados 
do Google, do Facebook, da Microsoft 
e da Amazon – somados. 
Em suma: impossível não é, mas 
estamos longe. Se um dia conseguir-
mos, vai demorar. Por isso uma startp 
chamada Nectome, criada por dois est-
dantes do MIT, propôs uma solução: um 
serviço de preservação supostamente 
capaz de manter o cérebro intacto por 
décadas, até que a ciência seja capaz de 
reproduzi-lo em computador. A em-
presa demonstrou sua técnica num 
cérebro de porco, que manteve as si-
napses intactas. Mas tem sido vista com 
cetcismo pela comunidade científica, 
inclusive por um detalhe macabro: seu 
procedimento, que é letal, precisa ser 
feito com o cérebro ainda vivo. 
3
fazer upload da consciência 
e de memórias
só existe 
 em teoria
situação 
atual:
Em tese, é até 
possível reproduzir 
o cérebro humano 
em computador. Mas 
a máquina teria de 
lidar com 1,1 bilhão 
de terabytes. 
Fontes ( Reconstruction and Simulation of Neocortical Microcircuitry, Henry Markram e outros, 2005. 
( https://www.humanconnectome.org/study/hcp-young-adult/document/1200-subjects-data-release 
 
 
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É possível acelerar o aprendi-
zado em 40%. Pelo menos em maca-
cos. Em 2017, a Agência de Projetos de 
Defesa Avançados
(Darpa), a divisão de 
tecnologia do Pentágono, publicou um 
estdo( relatando essa façanha, alcan-
çada em testes com dois animais. Ambos 
já eram adultos – tnham 4 e 10 anos de 
idade –, mas mesmo assim os militares 
conseguiram aumentar drastcamente 
sua capacidade de aprender. 
Na experiência, os bichos viam fotos 
de paisagens numa tela. Podiam obser-
var cada uma por 15 segundos. Eles não 
sabiam, mas havia um pequeno alvo de-
senhado em cada foto – se os bichos 
olhassem para esse ponto, ganhavam 
suco como recompensa. Normalmen-
te, macacos rhesus levam em média 21 
tentatvas até entender esse jogo. Mas as 
duas cobaias da Darpa, que receberam 
0,002 ampére de corrente elética no 
córtex pré-frontal, foram muito me-
lhores: dominaram o jogo em apenas 
12 rodadas. Os cientstas já esperavam 
esse resultado, supostamente ligado ao 
aumento na frequência de disparos dos 
neurônios. Mas constataram que a ex-
plicação não era bem essa. O estímulo 
elético não interferia com os neurônios 
em si. Fazia algo maior: melhorava a 
conexão ente regiões do cérebro. “Essa 
técnica provoca mudanças na excitabi-
lidade dos neurônios de áreas especí-
ficas. E, por isso, também uma ampla 
melhoria na capacidade de processar 
informação”, diz Donel Martin, psi-
quiata e pesquisador da Universidade 
de New South Wales, na Austália. De-
pendendo da corrente elética aplicada, é 
possível despolarizar ou hiperpolarizar 
grupos de neurônios, ou seja, torná-los 
mais ou menos sensíveis aos sinais de 
outros neurônios. Martin usou essa 
técnica em humanos. Ele colocou 54 
pessoas para resolver problemas de 
lógica, com dificuldade crescente, en-
volvendo formas e cores. Metade dos 
voluntários recebeu estímulos eléticos 
–e solucionou as charadas de forma 
mais rápida e correta(. “O tatamento 
é eficaz para facilitar o aprendizado de 
qualquer tpo de conhecimento”, afir-
ma ele. Há estdos indicando que essa 
técnica, chamada tDCS (estmulação 
tanscraniana por corrente contínua), 
também pode acelerar o aprendizado 
de matemática e idiomas(5)(6). Além 
disso, o benefício parece ser de longo 
prazo. Na experiência de matemátca, 
realizada na Universidade de Oxford, o 
efeito persistu por seis meses após as 
sessões. Nas experiências com a técnica, 
menos de 1% das pessoas relata algum 
tpo de desconforto relacionado à cor-
rente elética. A esmagadora maioria 
nem percebe que está sob efeito dela. 
Por que, então, não há aparelhos do tpo 
sendo vendidos para todos os estdantes 
do planeta? “Os efeitos da tDCS ainda 
não são totalmente compreendidos”, 
diz o neurologista Pedro Vieira, pós-
doutorando do Insttto Neurológico 
de Monteal e especialista na técnica. 
“Ela induz grandes oscilações nas ondas 
cerebrais de baixa frequência, o que por 
sua vez amplia a conectvidade ente 
neurônios próximos e áreas distantes do 
cérebro de maneiras ainda imprevisíveis, 
e que poderiam provocar danos”, afirma. 
Na dúvida, melhor não arriscar. 
4
cogniçãoteste em humanos
aumentar asituação 
atual:
(Transcranial Direct Current Stimulation Facilitates Associative Learning. Matthew R. Krause e outros, 2017. ( Can Transcranial Direct Current Stimulation Enhance 
Outcomes from Cognitive Training?, Donel M. Martin e outros, 2013. ( Long-Term Enhancement of Brain Function and Cognition Using Cognitive Training and Brain 
Stimulation. Albert Snowball e outros, Universidade de Oxford, 2013.( Noninvasive brain stimulation improves language learning. Universidade de Munster, 2008.
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No coNto Nós Podemos Lembrar 
Por Você, escrito pelo americano Phi-
lip K. Dick em 1966, Marte já foi coloni-
zada pelo homem – e o protagonista da 
história, Douglas, sonha em ir até lá. Só 
que custa muito caro, e por isso Douglas 
escolhe a segunda melhor opção: vai até 
uma empresa especializada e paga para 
ter memórias de Marte implantadas em 
seu cérebro. O que ele não sabe é que, 
na verdade, já havia estado no planeta 
vermelho – mas suas lembranças dis-
so haviam sido apagadas pelo governo. 
Um delírio e tanto.
Mas, na vida real, já existem pes-
quisas tentando fazer as duas coisas: 
apagar e criar memórias. Em 2012 o 
neurologista Todd Sacktor, da Univer-
sidade Columbia, conseguiu eliminar 
uma lembrança do cérebro de ratos, 
que haviam sido condicionados a evitar 
alimentos doces. Ele descobriu que, se 
uma proteína cerebral chamada PKM-
zeta( fosse inibida enquanto o rato se 
lembrava daquela memória (é melhor 
não comer doces), ela era destuída – e, 
posteriormente, o bichinho passava a 
ingerir açúcar como se não houvesse 
amanhã. A ideia é criar um procedimen-
to que, no futro, possa ser usado para 
eliminar taumas da mente humana. 
A indução de memórias também já 
foi demonstada em camundongos de 
laboratório. Tudo começou em 2013, 
quando o MIT usou engenharia gené-
tca para criar ratos com uma caracte-
rístca insólita: partes do seu cérebro 
podem ser ativadas, ou desativadas, 
usando luz(. Primeiro os pesquisa-
dores injetaram nos animais um ví-
rus capaz de alterar o funcionamento 
dos neurônios do hipocampo, área 
relacionada à formação de memórias. 
Depois inseriram, cirurgicamente, uma 
fibra óptca nos cérebros dos pobres 
bichinhos, para iluminar o hipocampo 
com luz infravermelha. Feito isso, ini-
ciaram o experimento. Primeiro, cada 
rato era colocado num ambiente seguro, 
enquanto a atvidade do seu hipocampo 
era gravada. No dia seguinte, a cobaia 
era levada para um lugar ruim, onde 
recebia choques eléticos nas patas. Só 
que, eis o tuque, os cientstas ligavam 
a fibra óptca – e ela atvava os mesmos 
grupos de neurônios que o rato tnha 
acionado na véspera, quando não havia 
perigo. Resultado: o bichinho associou a 
memória da primeira gaiola aos choques 
e passou a ter medo dela, onde jamais 
sofrera maus-tatos. Pior: os ratos só te-
miam esse local – não tnham qualquer 
receio da gaiola de tortra. Os cientstas 
tnham plantado uma memória falsa. 
Uma equipe de cientstas franceses 
conseguiu algo ainda mais impressio-
nante: inserir lembranças positvas no 
cérebro de 40 camundongos enquan-
to eles dormiam(. Os pesquisadores 
notaram que determinada região do 
hipocampo era atvada quando os ra-
tos entavam em certa gaiola. Então 
colocaram os bichos várias vezes ali, 
até que perceberam que aquela região 
ficava atva mesmo enquanto os ratos 
dormiam. (Não se sabe o motvo, mas 
talvez eles estvessem sonhando com 
a gaiola). Com os ratos adormecidos, 
os cientistas estimularam uma área 
cerebral que dispara a produção de 
dopamina, neurotansmissor relacio-
nado ao prazer. Ao acordar, os ratos 
passaram a adorar aquela gaiola e passar 
cinco vezes mais tempo dento dela. 
Não havia motvo objetvo para isso: 
eles nunca tnham ganho comida, ou 
qualquer coisa boa, ali. 
Era uma falsa memória. 
Experiências em ratos 
conseguiram apagar 
lembranças traumáticas. 
E também fazer o oposto: 
criar a memória de algo 
que jamais ocorreu. 
5
memóriasExpEriências Em animais
implantarsituação 
atual:
Fontes ( The Genetics of PKMZ and Memory Maintenance. T. Sacktor e outros, 2017. ( Creating a False Memory in the 
Hippocampus, Steve Ramirez e outros, 2013. ( Explicit Memory Creation During Sleep Demonstrates a Causal Role of Place 
Cells in Navigation, Gaetan de Lavilléon e outros, 2015. 
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Como voCê já deve ter perCebido 
ao usar o contole remoto da sua TV, a 
luz infravermelha é facilmente bloque-
ada por obstáculos. Mas ela atavessa 
materiais mais porosos, como ossos – 
inclusive os da caixa craniana. Expe-
riências feitas pela empresa americana 
Neuro-Laser( constataram que a luz 
infravermelha é capaz de penetar até 
30 mm de tecido ósseo.
Daria tanqui-
lamente para atavessar a caixa craniana 
humana, cuja espessura média é de 4 
a 9 milímetos, dependendo do pon-
to. Isso significa que, teoricamente, é 
possível estmular o cérebro com luz 
sem precisar abrir a cabeça da cobaia.
E isso, em macacos, já foi feito. Como 
os camundongos do texto anterior [veja 
página ao lado], eles foram infectados 
com um vírus que altera o funciona-
mento dos neurônios. Essa técnica se 
chama optogenétca, e consiste em aco-
plar um vírus (geralmente um adenoví-
rus, que normalmente causa infecções 
respiratórias) com genes que estmulam 
a produção de rodopsina, uma proteína 
fotossensível – ou seja, que converte 
luminosidade em sinais eléticos. Ela é 
fabricada natralmente nos olhos, onde 
nos ajuda a enxergar. Mas, se for inse-
rida no cérebro, produz algo anormal: 
torna os neurônios sensíveis à luz.
Numa experiência realizada por cien-
tstas da Universidade de Cambridge e 
do MIT, os cérebros de macacos foram 
estmulados com luz infravermelha( 
enquanto eles tnham de tomar deci-
sões simples, como escolher ente duas 
guloseimas. Quando o infravermelho 
estava ligado, o cérebro aumentava a 
produção de dopamina – e o animal 
sempre preferia a guloseima que estava 
comendo, mesmo se ela fosse idêntca 
à outa. O efeito era desencadeado por 
luz, sem a necessidade de um implan-
te cerebral. Mas ainda há um grande 
obstáculo: o vírus tem de ser injetado 
diretamente no cérebro, o que é exte-
mamente invasivo e perigoso.
Mikhail Shapiro, professor de enge-
nharia química do Insttto de Tecno-
logia da Califórnia (Caltech), descobriu 
um jeito de resolver isso. Injetou bolhas 
de ar muito pequenas, com nanôme-
tos de diâmeto, na corrente sanguínea 
de ratos(. E encostou um aparelho de 
ultassom na cabeça deles. Quando o 
sangue estava chegando ao cérebro, o 
ultassom agia sobre as bolhinhas, fa-
zendo elas vibrarem – e abrindo peque-
nas brechas na barreira hematoencefá-
lica (uma camada de sangue, também 
presente em humanos, que envolve o 
cérebro e bloqueia a entada da maioria 
das moléculas). Com isso, Shapiro con-
seguiu intoduzir vírus optogenétcos 
sem precisar abrir a cabeça dos animais. 
Bastou uma reles injeção na veia, com 
uma ajudinha do ultassom, e os bichos 
estavam hackeados pelo resto da vida. 
Se um dia for aplicada em humanos, 
a optogenétca poderia ser usada pa-
ra distorcer totalmente a realidade de 
uma pessoa. Ela funcionaria como uma 
hiperdroga, capaz de manipular o indi-
víduo a tal ponto que ele faria qualquer 
coisa em toca de mais dopamina. Não 
à toa, a Darpa (divisão de tecnologia do 
Pentágono) tem olhado essa técnica com 
atenção, e financia pesquisas a respeito 
em várias universidades. Um dos proje-
tos mais ambiciosos é o CortcalSight, 
que reúne a Universidade Stanford e 
quatro empresas de biotecnologia. 
Ele pretende usar a optogenétca para 
conectar uma microcâmera, sem fios, 
ao córtex visual humano. Se der certo, 
isso poderá significar a cura de quase 
todos os casos de cegueira. E também 
o princípio de uma era obscura – onde 
seria possível fazer uma pessoa enxer-
gar coisas que, na verdade, não existem.
6
de pensamentosExpEriências Em animais
exercer controle externosituação 
atual:
( Near-infrared photonic energy penetration: can infrared phototherapy efectively reach the human brain? TA Hender-
son, 2015.( Dopamine Neuron-Specific Optogenetic Stimulation in Rhesus Macaques. William R. Stauffer, e outros, 
2016. ( Acoustically targeted chemogenetics for the non-invasive control of neural circuits. M. Shapiro e outros, 2018. 
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Como voCê viu nesta reporta-
gem, a ciência já sabe como captrar 
e decodificar padrões neuronais – e 
também induzir respostas cerebrais 
usando pulsos magnétcos e sinais elé-
ticos. Mas, até agosto de 2013, ninguém 
havia tentado fazer o óbvio: juntar as 
duas coisas e criar um sistema que per-
mitsse comunicação direta, telepátca, 
ente dois cérebros humanos. Naque-
le ano, um grupo da Universidade de 
Washington conseguiu conectar as 
mentes de duas pessoas pela internet. 
As cobaias foram os próprios autores 
da pesquisa, os neurocientstas Rajesh 
Rao e Andrea Stocco. O primeiro vestu 
um capacete de eletoencefalograma, 
que detecta ondas cerebrais e permi-
te identficar sinais básicos – dá para 
saber, por exemplo, quando a pessoa 
pensa em mexer o próprio braço. Já o 
outo colocou uma touca conectada a 
um aparelho de estmulação magné-
tca tanscraniana, que usa ímãs para 
interferir com a atvidade elética de 
determinadas regiões do cérebro [leia 
mais na pág. 25]. Rao tnha à sua frente 
um joguinho de computador cujo obje-
tvo era disparar mísseis conta navios 
inimigos (sem acertar os aviões aliados 
que passavam voando). Andrea estava 
numa sala a 1 km de distância, onde 
também iria jogar aquele game. Mas 
com uma enorme diferença: ele ficava de 
costas para a tela. Seria guiado, apenas, 
pelas ondas cerebrais do colega. 
E aí aconteceu. Rao decidiu atrar. 
Ele não acionou o joystck; simples-
mente imaginou o gesto. Isso gerou 
ondas cerebrais que foram tansmitdas 
para Stocco – cuja mão, incrivelmen-
te, apertou sozinha o botão de disparo. 
A façanha foi o resultado de mais de 
dez anos de pesquisas, e o começo de 
uma série de outas experiências. Em 
2018, os pesquisadores da Universidade 
de Washington conectaram tês pesso-
as, que jogaram uma espécie de Tetis 
colaboratvo: os dois primeiros pensa-
vam em quais peças mexer e seus cére-
bros enviavam as ordens para o terceiro. 
Ele ficava de costas para a tela, mas 
mesmo assim conseguia jogar – pois 
sua mente executava automatcamente 
as ordens enviadas pelos outos dois(.
Duas empresas, a espanhola Starlab e 
a francesa Axilum, usaram uma técnica 
parecida para conectar um voluntário 
na Índia a outo na França(. Eles se 
comunicaram usando uma espécie de 
código Morse, formado por sequências 
de pulsos (que tveram de aprender an-
tes). O indiano usou essa linguagem pa-
ra formar duas palavras e pensou nelas. 
Alguns minutos depois, elas chegaram 
à mente do francês – que pensou, acer-
tadamente, em “hola” e “ciao”. Mas isso 
não quer dizer muita coisa; ele poderia 
simplesmente estar chutando. A prova 
de que é possível tansmitr informa-
ções só veio no ano seguinte, quando 
a Universidade de Washington fez uma 
experiência parecida com dez pessoas.
Eles foram agrupados em pares, se-
parados em salas diferentes, e colocados 
para jogar um jogo de adivinhação(. A 
primeira pessoa, chamada de “analista”, 
via objetos numa tela. A outa, batzada 
de “jogadora”, tnha de adivinhar quais 
eram. Um teste muito difícil; tanto que 
os jogadores só acertavam, por puro 
chute, 18% das respostas. Mas, quando 
a tansmissão de ondas cerebrais foi 
ligada, o índice de acerto disparou: 72%.
Segundo os cientstas, a técnica tam-
bém poderia ser usada para tansmitr 
sinais ente estdantes. “Imagine um 
aluno com déficit de atenção (DDA), e 
outo normal”, declarou a neurocien-
tista Chantel Prat, uma das autoras 
do estdo, ao jornal da universidade. 
“Quando o estdante normal estvesse 
prestando atenção, o cérebro do outo 
seria automatcamente colocado num 
estado de maior foco”, disse. Mais do 
que telepata, sincronia de mentes. S
7
por telepatiateste em humanos
transmitir informaçõessituação atual:
Duas pessoas 
tomaram decisões 
– e seus cérebros 
enviaram as 
ordens para uma 
terceira, cuja mente 
executou as ações. 
 
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Fontes ( BrainNet: A Multi-Person Brain-to-Brain Interface for Direct Collaboration Between Brains, L. Jiang e outros, 2018. ( Conscious 
Brain-to-Brain Communication in Humans Using Non-Invasive Technologies,
C. Grau e outros, 2014. ( Playing 20 Questions with the 
Mind: Collaborative Problem Solving by Humans Using a Brain-to-Brain Interface. Andrea Stocco e outros, 2015.
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h i s t ó r i a
Uma longa história da
Eugenia
Francis 
Galton, pai 
da eugenia
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A busca pela “raça pura” não 
é só coisa de nazista: foi um 
fenômeno mundial. E o seu fan-
tasma ainda ronda a sociedade.
Texto Bruno Vaiano 
Ilustrações Marcel Lisboa
Design Carol Malavolta
Edição Alexandre Versignassi
Charles 
Davenport, 
higienista 
genético.
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a
Algo cheirAvA mAl na 
Inglaterra da rainha Vitó-
ria. Após tês surtos de 
cólera e um episódio de 
calor intenso no verão de 
1858, batzado de Gran-
de Fedor (em maiúsculas, 
mesmo), despejar todo o 
cocô de Londres no Rio 
Tâmisa não parecia mais 
uma boa ideia. 
Saneamento básico e 
saúde pública eram tão 
discutdos no fim do sé-
culo 19 quanto a corrup-
ção em Brasília é hoje. A 
Revolução Industial ha-
via criado uma pobreza 
inédita, diferente da do 
camponês que plantava 
por subsistência. Ope-
rários da indústia têxtl 
e da constução naval se 
empilhavam em cortços, 
sem acesso a água tatada. 
Frequentavam pubs e bor-
déis, eram desnutidos, al-
coólatas e tnham filhos 
– muitos filhos.
Francis Galton, rico 
herdeiro de uma famí-
lia tradicional, viu na 
periferia de Londres um 
problema darwinista. Ao 
pé da leta: ele era primo 
de Charles Darwin, e ha-
via lido (ou melhor, devo-
rado) a Origem das Espécies 
logo após o lançamento, 
em 1859. O que Darwin 
afirmou, grosso modo, 
foi o seguinte: filhotes de 
uma ninhada nascem com 
diferenças suts. Os que 
forem mais aptos – graças 
a dentes afiados, tímpanos 
aguçados ou músculos de 
contação mais rápida – 
conseguem mais água, 
alimento e sexo. Assim, 
eles têm mais filhotes, e 
seus taços hereditários 
vantajosos prevalecem 
na população. Evolução 
por seleção natral.
Darwin não mencio-
na o ser humano uma 
única vez no livro; mes-
mo assim, acendeu uma 
lâmpada na cabeça de 
Galton. Ele não só notou 
que a sobrevivência dos 
bem adaptados se aplica-
va ao Homo sapiens como 
concluiu que só havia um 
jeito de salvar a “raça eu-
ropeia”: acelerar artficial-
mente, (por decreto, até) a 
atação da seleção natral.
Para Galton, era ne-
cessário desestmular o 
coito ente humanos que 
a elite econômica via co-
mo vira-latas e incentvar 
os humanos de raça, com 
pedigree. Empreender um 
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aperfeiçoamento autodi-
rigido, para o bem do pró-
prio povo. Em 1883, Gal-
ton deu à estatégia um 
nome: eugenia. Vem do 
grego: eu significa “bom”, 
gene significa “linhagem”, 
“raça”, “parentesco”. 
“Estamos muito ne-
cessitados de uma pala-
vra breve para a ciência 
de melhorar a estirpe”, 
afirmou Galton. “Para dar 
às raças ou linhagens de 
sangue mais adequado 
uma chance melhor de 
prevalecer depressa so-
bre as menos adequadas.”
Para Galton, a tendên-
cia à miséria, ao vício e 
à doença era tão heredi-
tária quanto a altra ou 
a cor dos cabelos. Se os 
filhos dos inaptos já iam 
morrer pela mão cruel da 
seleção natral, era me-
lhor que não nascessem: 
“O que a natreza faz às 
cegas (...) o homem pode 
fazer com previdência, 
rapidez e bondade”. 
Ele se tornou uma má-
quina de coleta de dados. 
Tirava as medidas corpo-
rais de famílias inteiras 
em busca de uma expli-
cação para o fenômeno da 
hereditariedade (lembre-
se: a genétca de Mendel 
ainda estava escondida 
na gaveta). Em 1877, nu-
ma espécie de Minority 
Report do século 19, ele 
esquadrinhou os rostos 
de condenados tentando 
atibuir um tpo de crime 
a cada fisionomia. Galton 
queria tansformar a hu-
manidade em uma imensa 
planilha de Excel. E dele-
tar as colunas incômodas. 
Essas ideias foram re-
cebidas como a vanguarda 
da ciência. No início do sé-
culo 20, Londres sediaria 
o primeiro congresso 
internacional de eugenia. 
A Inglaterra não chegou 
a colocar em prática as 
ideias de Galton. Dezenas 
de outas nações, porém, 
as abraçaram. A mais de-
dicada delas, nas primeiras 
décadas, não foi a Alema-
nha – e sim os EUA. 
Eugenia ianque 
Em 1907, o Estado de In-
diana adotou a primeira 
lei de esterilização com-
pulsória do mundo. Ente 
1907 e a década de 1960, 
mais de 64 mil america-
nos considerados “inap-
tos” evolutvamente foram 
castados com anuência 
das autoridades. Eram al-
coólatas, esquizofrênicos, 
epiléticos, criminosos, 
prostitutas... Essa mo-
dalidade de eugenia era 
chamada de negativa. 
Um relatório sobre o 
resultado da prática na 
Califórnia – recordista de 
esterilização ente os 32 
Estados que a adotaram 
– serviu de inspiração pa-
ra os oficiais nazistas que 
implantaram a prátca do 
outo lado do Atlântco. 
Também havia a eu-
genia positva: incentvar 
a reprodução dos aptos. 
Tornaram-se comuns 
as Fitter Family Fairs 
(“feiras de famílias mais 
aptas”, em português), 
em que casais com ge-
nes supostamente bons 
eram exibidos em pódios 
e ganhavam medalhas. 
Um dos símbolos 
da eugenia americana 
foi Charles Davenport, 
mandachuva do Eugenics 
Record Office (ERO) – 
o cento de pesquisa em 
Cold Spring Harbour, 
Nova York, que encabe-
çou os esforços de hi-
gienização genétca. Ele 
era contra casamentos 
interraciais (comentare-
mos a relação da eugenia 
com o racismo nos pró-
ximos parágrafos) e via a 
Galton pôs a humani-
dade numa planilha de 
Excel. E queria deletar 
as colunas incômodas.
-
Os eugenis-
tas mediam 
fsionomias, 
crânios e 
cérebros em 
busca de 
“inaptos”.
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Mulher branca
Mulher negra
Homem branco mm mm
mm mm
Homem negro
Esplênio
J
o
e
l
h
o
Fonte: Some Racial Peculiarities of the Negro Brain, Robert Bennett Bean (1906); On several anatomical characters of the human brain, said to vary according to race and sex, with 
especial reference to the weight of the frontal lobe, Franklin Paine Mall (1909). 
 
Dois gráfcos medindo 
regiões do cérebro cha-
madas joelho e esplênio 
conforme a etnia: um com 
viés racista, outro não. 
As curvAs do 
preconceito
Pesquisador 
que sabia 
a etnia 
de cada 
cérebro.
Pesquisador 
que refez 
o estudo 
sem saber a 
etnia dos 
cérebros.
entada de imigrantes do 
sul da Europa e da Ásia 
como um risco à boa es-
trpe americana. 
Davenport, de bobo, 
não tnha nada. Aplicando 
a lógica de tansmissão de 
característcas hereditá-
rias descoberta por Men-
del em seus experimentos 
com ervilhas, identficou 
corretamente que a do-
ença de Huntngton era 
um taço dominante, e o 
albinismo, recessivo. O 
problema é que ele exta-
polava a lógica: começou a 
inventar genes para tdo 
– até um das famílias de 
construtores de barcos. 
Não havia espaço para o 
óbvio: que um filho tende 
a seguir o ofício do pai. 
Tudo era herdado.
No porto de Ellis Is-
land, também em Nova 
York, imigrantes recém-
chegados da Itália, da 
Grécia e dos países do 
bloco comunista eram 
submetidos a testes de 
QI. “O propósito de apli-
car a escala de medição 
mental em Ellis Island 
é peneirar os imigrantes 
que podem (...) se tornar 
um fardo para o Estado 
ou produzir prole que vai 
requerer vagas em prisões 
ou asilos”, afirmou em 
1915 o médico Howard 
Knox. Xingamentos
como 
“idiota” e “imbecil” eram 
termos técnicos, aplicados 
na classificação de pesso-
as em relatórios oficiais. 
Racismo científico
Embora hoje eugenia 
seja associada a racismo 
no imaginário popular, 
Galton e Davenport não 
tnham nada a ver com os 
escravocratas retógrados 
do sul dos EUA, asso-
ciados à Ku Klux Klan. 
Foi um tipo de racismo 
diferente que pegou o 
bonde da eugenia. Se era 
possível isolar (e eliminar) 
os indesejáveis dente os 
membros de uma raça, 
por que não seria possível 
hierarquizar as próprias 
raças? Pior: por que não 
fazer isso à maneira Ex-
cel, comparando narizes, 
testas e o volume de cére-
bros e crânios de negros, 
brancos e índios?
No livro A Falsa Me-
dida do Homem, publica-
do em 1980, o biólogo 
Stephen Jay Gould, de 
Harvard, cita o caso de 
Robert Bean – um mé-
dico que em 1906 pu-
blicou um longo artgo 
“Idiota” e “imbecil” 
não eram xingamen-
tos: eram categorias 
científcas. 
A pobreza 
das cidades 
europeias no 
século 19 
assustava a 
elite – que 
inventou 
uma solução 
“científca”.
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-
 
disfarçado até hoje: “Meu 
neto é um cara bonito, 
viu? Branqueamento da 
raça”, disse o vice-presi-
dente Hamilton Mourão 
em outbro de 2018. 
Quem concordaria é 
Renato Kehl – o farma-
cêutco que, lá na década 
de 1920, liderou os esfor-
ços de limpeza genétca 
no Brasil: “A nacionalida-
de brasileira só embran-
quecerá à custa de muito 
sabão de coco ariano”. Kehl 
se tornou o bode expia-
tório dos livros didátcos, 
mas não tabalhou sozi-
nho: muito sujeito que hoje 
é nome de rua partcipou. 
“Vital Brazil foi membro 
da Sociedade Eugênica 
de São Paulo, assim co-
mo Arnaldo Vieirade 
Carvalho – o da Ave-
nida Dr. Arnaldo, em 
São Paulo, fundador da 
Faculdade de Medicina 
da USP”, diz a historia-
dora Pieta Diwan, autora 
do livro Raça Pura. Mon-
teiro Lobato e Roquette-
-Pinto, também.
Ou seja: a eugenia foi 
uma invenção inglesa, 
aperfeiçoada nos EUA e 
disseminada por todo o 
Ocidente no enteguer-
ras. O Holocausto foi só 
sua manifestação mais 
conhecida, mas todas as 
atrocidades ordenadas 
por Hitler (e rechaçadas 
pelos Aliados após a 2ª 
Guerra Mundial) tive-
ram precursores entre 
os próprios Aliados. A 
descoberta dos campos 
de concentação desen-
cadeou um surto de peso 
na consciência que culmi-
nou com a publicação, em 
1950, de um documento 
da Unesco intitulado 
comparando as medidas 
de várias partes dos cére-
bros de negros e brancos. 
Uma das áreas analisadas 
foi o corpo caloso – que 
conecta o hemisfério 
direito ao esquerdo. O 
corpo caloso é divido 
em dois techos, o joe-
lho e o esplênio, e Bean 
havia percebido algo, em 
sua opinião, fantástco: 
o joelho e o esplênio de 
negros eram muito me-
nores que os dos brancos 
[veja o gráfico à esquerda]. 
Era racista demais pa-
ra ser verdade. Tanto que 
Franklin Mall, o orienta-
dor de Bean na Univer-
sidade Johns Hopkins, 
suspeitou. Ele refez o 
estdo – dessa vez, me-
dindo 106 cérebros sem 
saber, de antemão, a etnia 
dos indivíduos a que per-
tenciam. Resultado? Seu 
gráficos saíram neutos. 
O desejo de comprovar te-
ses pré-concebidas era tão 
grande que pesquisadores 
manipulavam os próprios 
dados inconscientemente.
No Brasil, eugenia e ra-
cismo andaram de mãos 
dadas – o ranço aparece 
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A Questão da Raça. A ciên-
cia pedia desculpas, e a pa-
lavra eugenia virava tabu. 
O presente
A mesma genética que 
justficou a eugenia ho-
je dá armas para com-
batê-la. Para começo de 
conversa, a maioria esma-
gadora das nossas carac-
terístcas é determinada 
por dezenas de genes, que 
interagem ente si e com 
o ambiente numa com-
plicada dança bioquími-
ca. Se na década de 1920 
parecia óbvio que há um 
gene para famílias cons-
tutoras de barcos, hoje 
a única certeza é que não 
há muitas certezas. 
“Os geneticistas não 
veem preto e branco, mas 
tons de cinza”, explica o 
genetcista Alysson Muo-
tri, da Universidade da 
Califórnia em San Die-
go (UCSD). Muoti lida 
diariamente com esses 
tons: seu laboratório 
busca tatamentos para 
formas graves de auts-
mo – enquanto represen-
tantes da parte mais leve 
do especto reivindicam 
que o autsmo é só parte 
de sua personalidade, e 
não uma doença. “Isso 
acontece em outos ca-
sos – como o dos surdos 
nos EUA”, diz Muotri. 
“Alguns se recusam a ser 
rotlados como deficien-
tes, e preferem passar a 
vida sem auxílio médico. 
Outos surdos optam por 
tatamentos para voltar a 
escutar. É preciso respei-
tar a opinião de cada um.” 
A ideia de raça, por sua 
vez, simplesmente não 
tem validade biológica. 
Um estdo da Universi-
dade Stanford analisou 
1.056 indivíduos de 52 
grupos étnicos distantes 
ente si geograficamente. 
A ideia era verificar se 
uma quantidade razo-
ável de genes podia ser 
encontada na população 
de um lugar, mas não de 
outo – o que evidencia-
ria a existência de raças.
Algo ente 93% e 95% 
da variação genétca foi 
verificada entre indi-
víduos do mesmo gru-
po. As diferenças ente 
grupos foram irrisórias 
– ente 3% e 5%. 47% dos 
genes analisados apare-
ciam em populações dos 
cinco contnentes. Moral 
da história: a diversida-
de humana é um degradê 
sutl; é impossível divi-
di-la em caixinhas. A 
ideia de raça é só uma 
forma de dar ares cien-
tíficos ao preconceito.
A diversidade huma-
na é um degradê sutl. 
É impossível dividi-la 
em caixinhas.
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Fontes: Raça Pura, Pietra Diwan (2007); DNA: O Segredo da Vida, James D. Watson e 
Andrew Berry (2003); O Gene: uma História Íntima, Siddharta Mukherjee (2016); Human 
Natures: Genes, Cultures and the Human Prospect, Paul R. Ehrlich (2000); Genetic Structure
of Human Populations, Noah A. Rosenberg et al., 2012.
 
O futro 
DNA é algo mais revela-
dor que um prontuário 
médico. Logo, será pos-
sível julgar alguém com 
base nele com a mesma 
naturalidade com que 
imigrantes eram julgados 
por QI em Ellis Island. 
“No futuro, todos te-
remos nosso genoma 
sequenciado. É inevitá-
vel”, diz Muoti. “Por um 
lado, essa informação vai 
nos ajudar a prevenir e 
tatar doenças com mais 
eficiência [como já se faz 
com o gene BRCA1, asso-
ciado ao câncer de mama]. 
Por outo, seu uso pelos 
planos de saúde deve 
ser controlado. Cobrar 
mensalidades de acordo 
com a susceptbilidade a 
doenças não só é possível 
como já acontece, quando 
se cobra mais caro de um 
idoso que de um jovem.” 
Empresas como a 
23andMe, que oferecem 
testes de ancestalidade 
(ainda bastante impreci-
sos), armazenam as infor-
mações do DNA de seus 
clientes em bancos de da-
dos. Eles passam longe de 
fazer um sequenciamento 
completo: leem apenas 
techos. Mas mesmo es-
ses techos são uma arma 
poderosa. “A 23andMe 
usa suas bases de dados 
para conduzir pesquisa 
numa velocidade que o 
financiamento governa-
mental não permite. Por 
exemplo: eles descobri-
ram um gene associado 
à doença de Parkinson 
em seis meses”, diz a ge-
netcista Ricki Lewis, do 
Albany Medical College.
Ter o DNA de todo 
mundo sequenciado 
abre caminho, é claro, 
para editá-lo. E é aí que 
mora o problema: em-
bora ninguém discorde 
que buscar a cura para o 
Parkinson ou Alzheimer 
seja algo bom, é preciso 
ter em mente que isso 
abre brechas perigosas.
Conforme os cientstas 
elucidarem o quebra-ca-
beça da interação ente os 
genes, aperfeiçoamentos 
cada vez mais comple-
xos se tornarão realida-
de. Tudo indica que será 
possível “ajustar” a altra, 
a cor dos olhos ou até a in-
teligência – mas com um 
detalhe, claro: para quem
puder pagar. A desigual-
dade econômica, assim, 
será também uma desi-
gualdade genétca. Uma 
distopia eugênica, com 
a criação de uma “casta 
superior”. É por isso que 
só há um jeito étco da ci-
ência avançar: pensando 
nas consequências e na 
democratzação de seus 
avanços. A genétca tem 
muito a aprender com seu 
passado sombrio. S
Na biologia, 
hoje, o con-
ceito de raça 
não existe 
– e a atuação 
dos genes é 
mais compli-
cada do que 
pensaram os 
eugenistas.
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Símbolo máximo do luxo, a 
ova do estrjão do Mar Cáspio 
era comida de camponês, até 
ser adotada pela realeza russa. 
Entenda como reviravoltas 
geopolítcas lançaram 
sobre o caviar o maior raio 
gourmetzador da história.
de ração 
a frisson
Caviar
g a s t r o n o m i a
 
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Texto Marcos Nogueira
Foto Alex Silva 
Design Bruna Sanches
Produção Juliana Caro 
Edição Alexandre Versignassi
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O caviar começou a ser 
consumido como alimento 
(e ração) na Rússia 
do século 9.
 
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Esta é uma história que mistra per-
sonagens improváveis: Zeca Pagodinho, 
um neto de Gêngis Khan, Marco Polo, 
Napoleão Bonaparte, Ivan (o Terrível), 
Louis Vuitton e os aiatolás do Irã. O 
fio conector de toda essa gente é um 
artgo comestível bastante partcular: 
o caviar, conserva salgada das ovas de 
um peixe chamado estrjão. 
 Mais do que o caviar em si, o que 
importa para esta história é aquilo que 
ele representa: luxo e exclusão social. 
Caviar não é para o bico de muita gente. 
É disso que o sambista Zeca Pagodinho 
está falando quando canta: “Você sabe o 
que é caviar?/Nunca vi nem comi, eu só 
ouço falar”. O que define os consumi-
dores da iguaria nem sempre é o saldo 
bancário. O berço é o que conta mais. 
O caviar também virou adjetvo. 
Símbolo máximo da dolce vita, ele é 
empregado pelos militantes de direita 
no Brasil para descrever uma parce-
la de seus antagonistas: a “esquerda 
caviar”, intelectalidade endinheirada 
com pendor para o socialismo. A ex-
pressão é emprestada da França, onde, 
nos anos 1980, a oposição de direita já 
chamava o presidente François Mit-
terrand de gauche caviar. 
A nação francesa, por sinal, desem-
penha papel fundamental nesta história. 
Apesar de russo, foi na alta sociedade pa-
risiense que o caviar desabrochou de vez.
O fenômeno coincidiu com o nasci-
mento do conceito moderno de luxo – 
surgia um mercado voltado para pessoas 
de poder aquisitvo muito alto, alimen-
tado por bens de consumo produzidos 
em série. Isso só foi possível depois da 
Revolução Industial. A indústia do 
luxo se instalou em Paris, e era lá que 
também estava o caviar. Deu match.
Alguns séculos antes, porém, as ovas 
de estrjão alimentavam os pobres da 
Rússia. Sem prestígio nenhum, o caviar 
vez por outa virava ração para o gado.
A ascensão social do caviar só foi pos-
sível graças às reviravoltas históricas e 
acontecimentos fortitos que moldaram 
o mundo moderno. Agitação essa, aliás, 
que contasta fortemente com o estlo 
de vida do produtor original da iguaria. 
O pacato estrjão vive placidamente 
no lodo desde o período Jurássico. Presa 
fácil, o peixe foi quase exterminado para 
suprir os consumidores de luxo. Com 
a escassez, o valor do caviar aumentou 
mais ainda. E, na lógica perversa do 
mercado de luxo, quanto mais caro o 
produto, mais cobiçado ele será.
O estrjão está numa sinuca de bico. 
Vamos examinar, a seguir, o caminho 
que o colocou nessa enrascada.
Uma ova
O mundo consome as ovas de uma in-
finidade de criatras aquátcas: salmão, 
capelim, bacalhau, tainha, ouriço-do-
-mar, peixe-voador. A rigor, nenhuma 
delas pode ser chamada de “caviar”.
Caviar é o nome dado apenas às ovas 
de algumas espécies de estrjão eura-
siátcas e norte-americanas. As mais 
valiosas são, em ordem decrescente, be-
luga, osseta e sevruga – todas natvas 
dos mares Cáspio, Negro e de Azov.
Curiosamente, os russos chamam 
o caviar de ikra, palavra genérica para 
denominar ovas. Isso dá uma ideia da 
banalidade com que a Rússia, histori-
camente, tatou o alimento.
Segundo o livro Caviar: a Global 
History (“Caviar: uma História Glo-
bal”, sem tadução para o portguês), 
o estrjão enta nesta história muito 
mais prestgiado do que suas ovas. “Sua 
carne, parecida com a de vitela, tnha 
enorme popularidade nos períodos de 
abstnência de carne vermelha impos-
tos pela autoridade cristã”, escreve a 
autora Nichola Fletcher. “Diz-se que 
um bom cozinheiro pode obter [do 
estrjão] carne de vaca ou de carnei-
ro, porco ou frango”, acrescenta, em 
citação a Frank Buckland, um autor 
popular na Inglaterra do século 19.
Carne tão versátl era muito aprecia-
da nos tempos antgos, quando o estr-
jão era abundante em todas as águas da 
Europa. Assim como o salmão, ele é um 
peixe marinho que migra para cursos 
de água doce na época da procriação. 
A região salobra da foz de um rio é o 
habitat típico dessa criatra.
Para azar do esturjão, seu design 
mudou muito pouco desde o Jurássico, 
quando não sofria a ameaça de predador 
algum. O software do bicho permane-
ceu o mesmo: ao ser captrado, ele não 
morde nem foge. O estrjão não reage. 
Pescá-lo nas águas rasas dos estários 
é de uma facilidade covarde.
Começou ainda na Idade Média o 
extermínio do bichão – que pode atngir 
8 metos de comprimento, pesar uma 
tonelada e meia e viver por mais de cem 
anos. “Estdos arqueológicos mostam 
que, no século 8, o estrjão representava 
70% do peixe consumido nos países 
báltcos; no século 12, a proporção caiu 
para 10%”, escreve Nichola Fletcher.
Na Rússia, o estrjão era o prato fa-
vorito da Quaresma e outas datas si-
milares da litrgia ortodoxa ao longo do 
ano. Para os mais pobres, porém, tnha 
preço proibitvo. As coisas mudaram pa-
ra os russos – humanos e estrjões – no 
século 13, quando a Igreja autorizou o 
consumo de ovas durante a penitência. 
Foi o primeiro passo para o caviar se 
tornar um símbolo russo. Vendidas co-
mo subproduto, as ovas entaram para 
a dieta da classe camponesa. 
A vastdão do território russo obri-
gou os pescadores a desenvolver um 
método para conservar as ovas e, assim, 
vendê-las de Moscou às distantes este-
pes siberianas. Como um queijo fino ou -
 
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100 gramas de 
caviar beluga 
podem custar 
R$ 5 mil.
um bom presunto, o caviar é curado em 
sal e matrado em câmaras frias. Hoje 
em dia, as ovas podem passar por pasteu-
rização – o que estca a sua validade, mas 
diminui o valor. No tempo dos mongóis, 
porém, tdo era bem mais rústco.
Mongóis e cossacos
A primeira aparição do caviar em um 
jantar de gala se deu na nobilíssima 
presença de Bat Khan, neto de Gêngis 
Khan e imperador dos mongóis ente 
1242 e 1255.
As forças mongóis haviam implodido 
o poderio russo. Conquistaram bastões 
da importância de Moscou e Kiev, e se es-
tabeleceram no Cáucaso. A capital Sarai 
Bat ficava no delta do Rio Volga – uma 
extensa planície alagadiça na junção com 
o Mar Cáspio, o maior lago do mundo. 
Com águas rasas, calmas e salobras, o 
delta era um gigantesco motel de estr-
jões. Em busca de sexo, para lá acorriam 
multdões de peixes da espécie beluga, 
que produz o mais valioso dos caviares.
Antes dos mongóis, moravam na 
vizinhança os cazares. Estes, curiosa-
mente, deixavam em paz os estrjões.
Judeus, os cazares obedeciam à kashrut 
– conjunto de normas alimentares que 
proíbe, ente outas coisas, peixes sem 
escama. É o
caso do estrjão (ou era, 
como veremos em breve). 
“Os mongóis não tnham essa aver-
são”, escreve Nichola Fletcher. Eles 
encontaram um bufê livre de estr-
jões e se serviram. Desenvolveram um 
sistema de pesca com paliçadas em que 
o próprio peixe se encalacrava num la-
birinto de anzóis flutantes. Passaram 
a comer e a vender carne de estrjão.
Quanto às ovas, elas foram apre-
sentadas ao imperador no Mosteiro da 
Ressureição, em Uglich, no Alto Volga. 
Conta a lenda que Bat foi lá jantar com 
Yildiz, sua mulher. Na hora da sobreme-
sa, compota de maçãs com ovas salgadas 
de estrjão, Yildiz ficou revoltada com 
o cheiro e deixou a sala. Bat Khan, por 
sua vez, comeu tdinho.
Mais ou menos na mesma época, um 
certo Marco Polo chegou a Veneza com 
histórias fabulosas de riqueza das terras 
do Oriente, para onde ele teria viajado 
com seu pai. Os contos de Marco Po-
lo deram aos mercadores venezianos a 
centelha necessária para se meter em 
barcos atavés do Bósforo até o Mar 
Negro e, de lá, cruzar o Esteito de Ker-
ch para o Mar de Azov e a Crimeia, no 
bololô do território mongol. 
Do Cáucaso, os mongóis contola-
vam a Rota da Seda. Compravam dos 
chineses e vendiam para os mercado-
res árabes e persas, que encaminhavam 
tecidos e especiarias ao consumidor 
europeu. Os venezianos bagunçaram 
esse esquema, passando a negociar di-
retamente com os mongóis. Os forne-
cedores, que não eram bobos nem nada, 
empurraram aos italianos coisas para 
as quais não havia demanda alguma 
na Europa. Ente elas, as ovas salgadas 
de estrjão, que ficaram conhecidas na 
Itália como caviale – derivado do trco 
havyar, que vem do persa antgo mahi-
-e-khâveeyâr, “peixe grávido”.
Enquanto isso, no Norte, os moscovi-
tas retomavam as terras perdidas para os 
mongóis. Quando reconquistaram o del-
ta do Rio Volga, no século 16, os russos 
confiscaram toda a indústia de caviar 
implementada pelo antgo inquilino. Mas 
Ivan, o Terrível, tnha um problema: pre-
cisava proteger aquele sertão todo de 
novos invasores. O czar trou de leta. 
Delegou a guarda daquelas lonjuras aos 
cossacos: um grupo heterogêneo, forma-
do por dissidentes da Igreja Ortodoxa, 
camponeses fugitvos do sistema feudal 
e párias de estrpes sortdas.
Natralmente, os cossacos passaram 
a contolar o comércio de estrjão e 
de caviar. Ricos e afastados dos olhos 
da corte moscovita, desenvolveram 
crescente autonomia. O movimento se 
tansformou em insurreição. O levante, 
porém, foi massacrado pelas topas do 
czar. Em 1671, os cossacos, rendidos, 
presentearam o czar Aleixo com um 
prato de caviar, numa demonstação 
de humildade e submissão. O caviar 
acabava de estear na alta sociedade, 
de onde nunca mais sairia.
 A oferta dos cossacos se tornou 
obrigação. Como prova de lealdade, 
eles passaram a enviar o melhor caviar 
diretamente aos nobres em Moscou. “Em 
1868, 1.500 membros da corte tnham 
esse privilégio”, afirma Nichola Fletcher.
Bem antes, quando Napoleão deu com 
os burros n’água –ou melhor, no gelo–, 
ao tentar invadir a Rússia, o caviar já 
era artgo fino. Ao fiasco napoleônico 
de 1812, sucedeu-se a corrida da aristo-
cracia moscovita a Paris. Com ela, foi a 
reboque o hábito de comer caviar com 
blinis – pequenas panquecas – e creme 
azedo. Até hoje a França ocupa o segundo 
lugar ente os países que mais consomem 
caviar. Cerca de 15% das ovas de estrjão 
têm o mercado francês como destno.
Paris é uma festa
Se você acha que a internet tansformou 
o mundo, tente imaginar o impacto que 
a máquina a vapor causou no século 19.
Subitamente, a Europa ficou pequena. 
Ferrovias e barcos rápidos possibilitaram 
a comunicação e o comércio sem inter-
mediários ente regiões distantes. A in-
dústia incipiente reduziu de forma subs-
tancial o tempo e o custo na produção de 
artgos como roupas e relógios. O luxo 
tornou-se – relatvamente – acessível. 
 
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Antes da Revolução Industial, qual-
quer tpo de bem de consumo chique 
era exclusividade das realezas e do alto 
clero. Fazer uma bolsa de couro tomava 
toda a capacidade de tabalho de uma 
oficina de artesãos, por exemplo. Só 
quem era o dono do pedaço podia, por 
assim dizer, se dar ao luxo.
Em 1859, um suburbano parisiense 
chamado Louis Vuitton abriu uma fabri-
queta com 20 funcionários em Asnières-
sur-Seine. Constuiu um império sobre 
bolsas, pastas e malas de viagem vendidas 
a quem tvesse dinheiro para comprá-las. 
Alguns quilômetos a Leste, na região 
de Champagne, vinicultores com olhar 
marqueteiro vendiam ao mundo sua be-
bida borbulhante com preço nas altras.
As pequenas pérolas de sabor mari-
nho do caviar se encaixaram perfeita-
mente no zeitgeist da capital do novíssi-
mo luxo. E esse caráter segue impresso 
no produto. Hoje, qualquer um pode 
comprar caviar online, no Brasil, sem 
sair de casa. Desde que pague R$ 5,4 
mil por uma latnha de 125 gramas.
É o fim?
O desmantelamento da URSS, no final 
do século 20, foi um desaste para as 
populações de estrjão. O Cáucaso se 
fragmentou em novos países que viram 
na exploração do caviar um meio rápido 
de ganhar dinheiro. Em poucos anos, o 
estrjão quase desapareceu da margem 
norte do Mar Cáspio.
Na margem sul, via-se alguma espe-
rança de recuperação. Lá, afinal, fica o 
Irã. Aos muçulmanos também é vetado 
comer peixes sem escamas. Mas os aia-
tolás descobriram estdos que mostam 
que o estrjão tem minúsculas escamas 
na cauda. Aí, voilà, o caviar virou halal.
Outa solução seria a produção de 
caviar em fazendas aquátcas e de espé-
cies natvas da América do Norte. Pena 
que o mercado de luxo não se comova 
demais com o que não é the real thing 
– o beluga selvagem do Cáspio.
Talvez o estrjão precise do apoca-
lipse humano para sobreviver. Porque, 
como diz um antgo ditado russo, “o 
que é bom para o homem não é bom 
para o peixe” (mentra: eu acabei de in-
ventar essa frase. Mas, para o estrjão, 
que segue em sua placidez jurássica em 
direção à extnção, tanto faz). S 
 
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C i ê n C i a
Stephen
A
s 
ú
l
i
m
A
s 
r
s
p
o
s
t
A
s
hawking
de
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Reportagem 
Guilherme Eler 
Ilustrações 
Estevan Silveira
Design 
Juliana Caro 
Edição 
Bruno Garattoni
Em Breves 
Respos-
tas para 
Grandes 
Questões, 
livro lan-
çado após 
sua morte, 
Hawking 
tenta no-
vamente 
responder 
a dilemas 
que colo-
cam a hu-
manidade 
para pen-
sar. Aqui 
estão suas 
conclusões 
mais insti-
gantes.
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É possível 
prever o futuro? 
Em tese, é sim. Hawking diz que, caso fosse possível 
saber a posição e a velocidade de todas as partículas 
do Universo em um determinado momento, daria para 
calcular onde cada uma estará no instante seguinte. E 
isso vale para coisas subjetvas, como a roupa que você 
vai usar amanhã ou o nome de seus filhos que ainda 
não nasceram. O problema é que, como descobriu o 
físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976), essa conta 
não é precisa. Segundo seu "princípio da incerteza", não 
conseguimos medir a posição de coisas muito pequenas 
sem interferir no resultado da conta. Quando prevemos a 
órbita de Marte, por exemplo, isso não atapalha em nada 
sua tajetória ou velocidade. Mas não vale para partículas 
muito pequenas, como elétons. Iluminar um eléton 
para estdá-lo, por exemplo, já é suficiente para fazê-lo 
roubar energia da luz e perder estabilidade. Dessa forma, 
quanto mais exata for a previsão sobre a velocidade do 
eléton, mais difícil é achar a posição dele no espaço
e 
vice-versa. Na verdade, o buraco é mais embaixo. Hei-
senberg descobriu que uma partícula ou tem posição ou 
tem velocidade. Ou seja: o mundo microscópico é feito 
de fantasmas inescrutáveis. A chave para diminuir essa 
imprecisão seria analisar posição e velocidade como se 
fossem uma coisa só. Isso é possível a partr da "função 
de onda", fórmula que estma o estado quântco de uma 
partícula usando probabilidade estatístca. Se pudéssemos 
achar a função de onda de cada partícula que existe, aí 
sim, daria para mapear o futro de todas as coisas.
o que há dentro 
de um buraco negro?
O grande mistério sobre buracos negros é que não sabemos 
se eles têm "memória". A teoria mais aceita é a de que não há 
como conhecer sua história. Por exemplo, se um dia o buraco 
sugou uma estrela, planeta ou nave espacial, nenhuma tecnologia 
que exista ou venha a existir será capaz de rastrear o que caiu 
lá dentro. Hawking, porém, morreu tentando criar uma teoria 
que dissesse o contrário. Os vestígios daquilo que um buraco 
negro engoliu escapariam de alguma forma junto da radiaáão que 
eles emitem – uma forma de energia conhecida como "radiação 
Hawking", esta sim a maior descoberta científica de Stephen.
O que A 
HumA-
nidAde 
fArÁ nOS 
PrÓximOS 
mil AnOS.
enviAremOS umA SOndA A 
AlPHA CentAuri, O SiStemA 
eStelAr mAiS PrÓximO dO nOSSO.
entenderemOS O que ACOnteCeu nO 
Big BAng, COmO A vidA COmeÇOu nA terrA, 
e Se elA exiSte em OutrOS lugAreS dO COSmOS.
Nesta geração em 50 aNoso futuro 
segundo 
hawking
 
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Deus existe?
Também não haveria necessidade 
de um criador, pelo mesmo motvo. 
Se o tempo não exista antes do Big 
Bang, então não há um instante no 
qual o Universo foi produzido, diz 
Hawking. Quando observamos a 
vastdão do cosmos, e como a vida 
humana é insignificante e acidental, 
explica o físico, parece pouco plau-
sível que alguém o tenha criado e 
contole nosso destno. Para além 
da vontade de um ser superior, tdo 
é regido por "leis da natreza" imu-
táveis e universais. É até possível 
entender tais leis como "deus". Só 
que, pensando assim, ele não seria 
pessoal e acessível, como pregam 
as religiões. Caso fosse, no entan-
to, Hawking diz que teria algo na 
ponta da língua para questoná-lo: 
"Perguntaria o que ele pensa de um 
negócio bem complicado, tpo a Teoria-M”, que afirma 
que podem existr não quato, nem cinco, mas 11 
dimensões. Assim como não há um antes, não há 
também um depois. Quando a vida acaba, retornamos 
ao pó – de estela, é claro. 
viajaremos para qualquer lugar do sistema 
solar – com exceÇÃo, talvez, dos "planetas 
exteriores" urano e netuno.
Em 100 anos
seremos superados 
pelas mÁquinas em 
inteligÊncia.
descobriremos como moldar 
a inteligÊncia e os instintos 
agressivos humanos.
Como tuDo 
Começou?
Para Hawking, tudo veio do 
nada. No primeiro momento do 
 Big Bang, todo o Universo estava 
comprimido num único ponto, menor 
que um próton. Não se sabe o que criou tal ponto. 
Segundo o físico, ele pode, inclusive, ter surgido do 
nada, sem demandar qualquer energia. Uma vez que 
nem tempo, nem espaço existam, não há como haver 
algo anterior, do qual o ponto tenha se originado.
-
Não quero 
ofender a fé de 
ninguém, mas 
acho que a ci-
ência tem uma 
explicação mais 
convincente 
que a existên-
cia de um cria-
dor divino."
 
Filmes que 
hawking 
cita na 
obra
 star trEk 
Campeão de 
citações, apa-
rece 6 vezes
 DE volta pa-
ra o futuro 
Cita ao falar 
de universos 
paralelos
 2001: uma 
oDissEia no 
Espaço 
Como seria se 
as máquinas 
saíssem de 
controle
 Jurassic park
 ExtErmina-
Dor Do futuro
 intErEstElar 
Como seria vi-
ver em várias 
dimensões 
 inDEpEnDEncE 
Day 
Retrato fel de 
uma possível 
invasão alie-
nígena
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É possível viajar no tempo?
A ciência sabe perfeitamente como viajar ao futro. O 
problema é de engenharia: para tal, precisaríamos ape-
nas constuir uma nave espacial abusivamente veloz. 
Ela precisaria chegar bem perto de 1,08 bilhão de km/h 
– a velocidade da luz. Caso ela vá até 99,99999…% da 
velocidade da luz, por exemplo, seria possível sair do 
ano 2019 para qualquer data futra. É que, quanto 
mais rápido a nave vai, mais devagar o tempo passa 
para quem está lá dento, e mais rápido do lado de 
fora. Assim, uma viagem de 5 minutos perto da velo-
cidade da luz significaria um salto de um século para 
o futro. O que a ciência não imagina é como voltar 
no tempo. Hawking achava que essa era mesmo uma 
impossibilidade física – tanto que, em 2009, fez uma 
brincadeira: organizou uma festa para viajantes no 
tempo. Para garantr que só tristas do futro compare-
cessem, divulgou o evento só depois que ele aconteceu. 
Mas ele e outos físicos imaginaram uma gambiarra: 
levar uma nave hiperveloz até o futro, mas com um 
buraco de minhoca no porta-malas. O buraco serviria 
como um portal ente a data de destno da nave (o ano 
de 2119, por exemplo) e 2019. Nisso, seus bisnetos do 
século 22 poderiam usar o portal para te visitar aqui 
no século 21. Uma viagem ao passado. Voltar para 
antes da invenção dessa primeira máquina do tempo, 
de qualquer forma, seguiria impossível.
Faremos nossas 
primeiras viagens 
interestelares.
descobriremos uma 'teoria de 
tudo' , que una a relatividade 
com a FÍsica quÂntica.
Em 500 anos Em 1.000 anos
Há vida inteligente 
fora da terra?
Se existe, deve estar muito distante – caso contário, 
já teria vindo ao nosso planeta. Mas, e se já recebemos 
visitas intergaláctcas e não nos demos conta disso? 
Para Hawking, a aparição de OVNIs e aliens deveria ser 
muito mais evidente do que sugere nossa vã ufologia 
– e, potencialmente, catastófica. As chances de que 
formas de vida inteligente apareçam espontaneamen-
te é tão baixa que, segundo o cientsta, é provável que 
a Terra seja o único planeta da galáxia (ou do Universo 
observável) em que isso aconteceu. Mas nada impede 
que muitos outos planetas tenham vida. Essa vida 
não teria necessariamente desenvolvido inteligên-
cia – pelo menos não da forma como a conhecemos. 
Surge aí um problema de conceito, aliás. Como huma-
nos, tendemos a tatar inteligência como consequência 
evolutva: se algo é mais evoluído, é mais inteligente – o 
que não necessariamente é verdadeiro fora de nossa 
limitada caixinha. Isso quer dizer que podem existr, 
em algum canto do Universo, indivíduos biologicamente 
complexos, mas incapazes de criar uma nave ou, ainda, 
tavar um contato amistoso. Não que a busca por vizi-
nhos inteligentes, por si só, valha muito a pena. No nosso 
atal estágio, encontar uma civilização extaterreste 
seria como quando os natvos americanos encontaram 
Colombo. “Não creio que eles achem que sua sitação 
melhorou depois disso”, disse Hawking.
 
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um confronto nuclear ou 
catÁstrofe ambiental pode jÁ 
ter devastado a humanidade.
reformularemos 
completamente 
o dna humano.
precisaremos estar de 
malas prontas para 
abandonar a terra.
O ser humanO 
vai ser extintO?
Sim – a menos que a gente dê um jeito de abando- 
 nar a Terra antes. Com o esgotamento dos recur-
sos natrais, mudanças climátcas, desmatamento, 
superpopulação, guerras, fome, escassez de água e 
extermínio de espécies, "confinar-se no planeta seria 
viver como náufragos que não tentam escapar de 
sua ilha deserta", argumenta. Usando os enteveros 
recentes ente Donald Trump e Kim Jong-un como 
exemplo, Hawking diz crer, porém, que uma guerra 
nuclear seja a maior ameaça
hoje.
a inteligência artificial 
vai dOminar O mundO?
Se a humanidade der brecha, vai. É preciso garantr que 
nossos objetvos estejam alinhados com os das máqui-
nas quando a capacidade intelectal delas superar a do 
ser humano – Hawking acredita que isso acontecerá 
dento de um século (veja a linha do tempo abaixo). 
Para o médio prazo, o físico é estanhamente otmista: 
o uso de robôs poderia automatzar empregos e tazer 
prosperidade e igualdade aos Homo sapiens – algo que, 
convenhamos, parece longe de acontecer. Menosprezar 
a capacidade e a astúcia de inteligências artficiais, no 
entanto, pode ser nosso pior erro. O verdadeiro risco 
nem é criar uma coisa má, que saia do contole e decida 
assumir um lado perverso. Mas, sim, algo competente 
demais. O melhor exemplo para entender o risco seria 
pensar em nossa própria relação com as formigas. Não 
é como se os humanos as odiassem a ponto de querer 
riscá-las do mapa. Porém, caso uma colônia esteja em 
uma área que precisa ser alagada para a constução de 
uma hidrelética, por exemplo, não pensamos duas 
vezes antes de afogar milhares delas. “A tecnologia 
poderia tapear os mercados financeiros, superar a in-
ventvidade dos cientstas, aprender a manipular mais 
que os líderes humanos e nos subjugar com armas 
que seremos incapazes de compreender", diz Hawking. 
Teríamos de entegar a Terra de bandeja. Só restaria 
torcer para que ainda sobrassem robôs submissos para 
nos ajudar na tarefa de arrumar outo planeta. S
 
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Texto Rafael Battaglia 
Foto Martin Parr
Design Bruna Sanches
Edição Alexandre Versignassi 
Psicólogos aler-
tam: a mania de 
tirar fotos o 
tempo todo pode 
estar destruindo 
as nossas lem-
branças, e nos 
tornando pessoas 
mais superfciais.
memórias 
editadas
 
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formas de expandir a capacidade de 
guardar informação que tazemos de 
fábrica. Das pintras rupestes (como 
as da página 62) aos livros e quadros, 
quase tdo o que entendemos como 
“cultra” vem do impulso de tornar a 
vida um fenômeno menos furtvo. 
Quando você vive com uma câmera 
fotográfica de capacidade virtalmente 
infinita no bolso, no entanto, a tendên-
cia é que você se preocupe mais em 
registar momentos do que em prestar 
atenção neles. Aí complica. 
“Prestar atenção é fundamental para 
codificar informações na memória”, diz a 
italiana Giuliana Mazzoni, professora de 
psicologia da Universidade de Hull, no 
Reino Unido, e especialista no assunto. 
Giuliana é um de vários psicólogos 
acadêmicos que amaldiçoam o hábito 
de trar fotos – ao menos quando ele se 
torna uma compulsão. “Se você adquire 
esse hábito, seu cérebro pode começar 
a processar informações de forma mais 
1.100
fotos
vão para o Instagram 
a cada segundo.
O Instagram recebe 95 mIlhões de 
fOtOs pOr dIa. São 1.100 novas ima-
gens no sistema a cada segundo. Isso 
sem falar nos outos bilhões de cliques 
armazenados na memória dos celulares 
e que nunca verão a luz do dia.
Nunca se fotografou tanto, claro. No 
início do século 21, ainda estávamos 
presos à quantdade de fotos que cabiam 
num rolo de filme – o rolo podia abrigar 
12, 24 ou 36 imagens. Logo, o momento 
de trar uma foto era especial. E poucos 
se aventravam a estcar o braço e trar 
uma foto da própria cara. A chance de 
dar ruim era gigantesca. 
As câmeras digitais acabaram com a 
limitação de poses. O celular realizou 
uma utopia: colocou uma câmera digital 
em cada bolso – ou quase isso: 60% dos 
brasileiros têm smartphone; ente os 
jovens adultos (18 a 34 anos), são 85%. 
Há quem não tenha onde morar, mas 
possua o seu aparelhinho, com uma câ-
mera digital embutda que, há 20 anos, 
custaria US$ 5 mil. 
E tome foto. De tdo. De todos. 
Só tem um problema: esse hábito 
pode estar acabando com as nossas vi-
das – pelo menos com a forma como 
nos lembramos das nossas vidas. 
E pode estar distorcendo nossas 
personalidades também. Feche a câme-
ra do seu celular e vamos entender isso.
Lembranças incompletas
O celular é um HD externo do nosso cé-
rebro. Uma extensão da nossa memória. 
E isso começou bem antes do celular. 
Desde sempre, a humanidade buscou 
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Henkel mostou imagens de obras de 
arte aos partcipantes, perguntando se 
elas estavam ou não no museu. O grupo 
que trou fotos teve mais dificuldade 
em reconhecer quais obras tnha visto. 
“As pessoas delegam à câmera a tarefa 
de lembrar as coisas por elas. E isso tem 
um impacto negatvo na forma como 
elas recordam suas experiências”, con-
clui a psicóloga. 
Para Giuliana Mazzoni, a era da fo-
tografia instantânea também pode ter 
reverberações em nossa personalidade. 
“As selfies e poses são planejadas, não 
têm natralidade”, ela diz. “Se a gente 
se basear fortemente em fotos ao nos 
lembrarmos do passado, poderemos 
criar uma identdade própria distorci-
da com base na imagem que desejamos 
promover para os outos.”
Estamos todos fadados a virar zum-
bis sem personalidade, então? Claro 
que não. O fato é que ainda há muito o 
que pesquisar sobre o assunto. Por via 
das dúvidas, porém, vale lembrar: sua 
Fotos Martin Parr/ Latinstock
memória talvez agradeça se você parar e 
dar uma boa olhada no que vai fotografar 
antes de efetvamente apertar o botão. 
É como num show. Em vez de assis-
t-lo pelo celular, gravando tdo o que 
está acontecendo, tente aproveitar um 
pouco mais o momento. No fim, a única 
memória que importa é aquela gravada 
nos seus neurônios. Você é feito delas, 
não da sua tmeline do Instagram. S 
superficial.” Resultado: memórias mais 
fracas, mais difíceis de acessar.
Ainda há relatvamente poucos es-
tdos sobre o tema. Um deles, condu-
zido por psicólogos de Yale, Wharton 
e outras universidades americanas, 
diz que o hábito de trar fotos tem um 
detalhe positvo bastante óbvio: nos 
ajuda a lembrar de detalhes visuais. 
Mas prejudica outos aspectos da me-
mória. No teste, 294 partcipantes foram 
convidados para ir a um museu. Parte 
deles pôde trar fotografias ao longo da 
visita e a outa não. Quem levou uma 
câmera conseguiu se lembrar melhor 
de detalhes visuais das obras de arte, 
mas se saiu pior na hora de recordar 
informações a respeito do acervo que 
tnham ouvido durante a visita. 
Outo estdo, feito pela psicóloga 
Linda Henkel, da Universidade Fair-
field, nos EUA, é até mais pessimista. 
A conclusão ali é que não, trar fotos 
não ajuda nem na retenção de memórias 
puramente visuais. 
“As pessoas sacam sua câmera prat-
camente sem pensar, na esperança de 
captrar o momento, e acabam deixan-
do de perceber o que está acontecendo 
bem ali, na cara delas”, disse Henkel à 
revista americana Psychological Science.
Henkel também levou um grupo de 
voluntários a um museu. Uma parte 
do pessoal estava munida de câmeras. 
A outra, sem nada. No dia seguinte, 
4,2
bilhões
é a quantidade de 
curtidas que as 
fotos do Instagram 
recebem a cada dia. 
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A R Q U E O L O G I A
A Serra da Capivara, no Piauí, é mais que um wallpaper 
perfeito: guarda a maior concentração de pinturas ru-
pestres do planeta – e ajuda a reconstruir a história 
perdida dos primeiros habitantes das Américas. 
PARAÍSO
Texto Ingrid Luisa, de São Raimundo Nonato 
Design Carol Malavolta Edição Ana Carolina Leonardi
(QUASE) ESCONDIDO
PARAÍSO
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PARAÍSO
(QUASE) ESCONDIDO
PARAÍSO
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F
Falar do contnente ameri-
cano é falar de forasteiros: 
o Novo Mundo foi o pe-
núltmo contnente des-
bravado pelo Homo sapiens. 
Só a Antártida passou 
mais tempo sossegada. 
Mas como era a América 
antes dos humanos? E 
quando eles começaram 
a aparecer por aqui? Junto 
às respostas consensuais 
para essas perguntas, há 
uma série de contovér-
sias científicas que, curio-
samente, convergem para 
um lugar inesperado: o 
interior do Piauí. 
Nos paredões do semi-
árido brasileiro, homens 
pré-históricos regista-
vam suas vidas para a 
posteridade. É num pe-
daço da caatinga equi-
valente à cidade de São 
Paulo que fica a maior 
concentação de pintras 
rupestes do planeta.Há 
exatos 40 anos, em 1979, 
essa região foi tansfor-
mada no Parque Nacional 
Serra da Capivara. 
Conhecer a história da 
Serra é mergulhar na his-
tória da humanidade, e da 
própria Terra. A melhor 
forma de iniciar esse mer-
gulho, portanto, é viajar 
no tempo, começando por 
quando tdo isso aqui era 
mato… Ou melhor: quan-
do o sertão era mar.
Do mar aos croquis
A região sudeste do Piauí, 
onde fica a Serra da Capi-
vara, ocupa uma zona de 
fronteira ente duas gran-
des formações geológicas: 
um escudo cristalino do 
período Pré-Cambriano, e 
a bacia sedimentar do mar 
Siluriano-Permiano. Ente 
440 e 360 milhões de anos 
atás, esse mar cobria to-
da a região. Os paredões 
rochosos da Serra, com 
mais de 100 metros de 
altra, foram criados em-
baixo d’água – prova disso 
são as dezenas de fósseis 
de pequenos artópodes 
marinhos achados por lá. 
 Há 220 milhões de 
anos, porém, a farra dos 
animais aquátcos acabou 
abruptamente: um grande 
movimento tectônico le-
vantou o fundo do mar no 
Piauí – e jogou toda a água 
para o Ceará. Os sedimen-
tos dessa temedeira estão 
lá até hoje. Viraram parte 
dos grandes cânions da 
Serra da Capivara.
Centenas de milhões 
de anos depois, esses 
mesmos paredões segui-
ram testemunhando fa-
tos pitorescos. Um deles 
aconteceu outo dia, geo-
logicamente falando. Foi 
há 115 mil anos, quando 
começou a últma Era do 
Gelo. O Piauí se tornou 
uma espécie de oásis – a 
região, próxima da linha 
do Equador, nunca con-
gelou. Vestígios paleon-
tológicos mostam que o 
clima ameno ataiu uma 
fauna exuberante: tgres-
dente-de-sabre, preguiças 
gigantes, mastodontes 
(parentes do mamute), pa-
leolhamas (mistra de ca-
valo, tamanduá e, é claro, 
lhama). Com o fim da Era 
do Gelo, porém, a umida-
de caiu e as temperatras 
aumentaram severamente. 
Ao longo dos 3 mil anos 
seguintes, os animais da 
megafauna foram extntos, 
e a vegetação mudou para 
se adaptar às novas con-
dições: nascia a caatnga.
Nessa época, já havia 
humanos por lá. A abun-
dância de sítos arqueo-
lógicos na Serra é prova 
disso. São mais de mil, 
cheios de artefatos de 
pedra lascada, esqueletos 
humanos e, claro, pintras 
rupestes. A maioria delas 
foi feita ente 6 mil e 12 
mil anos atás. Só como 
base de comparação, as 
mais antigas do mundo 
têm mais de 30 mil anos.
A quantdade de dese-
nhos na Serra da Capiva-
ra, no entanto, é única no 
mundo: enquanto sítos 
europeus possuem de 
10 a 12 figuras, apenas 
na Toca do Boqueirão 
da Pedra Furada, um dos 
pontos mais famosos da 
Serra, há 1.200 pintras. 
Para além da arte ru-
peste, também na Serra 
foi encontado o segundo 
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→
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Cidade de São Paulo
Parque NaCioNal 
Serra da CaPivara
1.300 km2
1.521 km2
o trabalho de sua vida. 
Sua obstnação foi o que 
levou a Capivara a atair 
interesse arqueológico 
de cunho internacional. 
Mas a mesma insistência 
da pesquisadora em teo-
rias contoversas touxe 
a Serra para o cento de 
disputas científicas que 
já duram décadas.
O seixo no sapato
Em 1978, Niède Guidon 
começou a escavar o sí-
tio Toca do Boqueirão 
da Pedra Furada, aquele 
que guarda 1.200 figuras 
rupestes. Lá, ela encon-
trou dois dos artefatos 
mais controversos de 
sua carreira: pedras que 
aparentavam ter sido las-
cadas por Homo sapiens e 
pedaços de carvão que 
pareciam vir de foguei-
ras feitas por humanos. 
Niède mandou o carvão 
para a França, para ser 
datado em laboratórios 
de lá. Para sua surpresa, 
o carbono-14 indicava 
que a amosta tnha 26 
mil anos de idade. Nos 
anos seguintes, Guidon 
encontou objetos cada 
vez mais antigos. Em 
1986, ela publicou um 
artgo na revista cientí-
fica Nature, que tornou 
os vestígios da Serra da 
Capivara conhecidos 
mundialmente. No papel, 
Niède apresenta carvões 
e pedras que indicariam a 
presença humana na Amé-
rica do Sul há 32 mil anos.
Esse é um dado que 
distorce toda a história 
das ocupações na Amé-
rica: o consenso científico 
é de que o homem chegou 
ao Novo Mundo há cerca 
de 15 mil anos – não mui-
to mais, não muito menos. 
Sabemos que o Homo 
crânio mais antigo das 
Américas: Zuzu, que 
viveu há 9,92 mil anos, 
só perde em idade para 
Luzia, a mulher de 11 
mil anos cujo crânio foi 
achado em Minas Gerais.
Há quem defenda, po-
rém, que a Serra estava 
ocupada por humanos 
bem antes de Zuzu, ou 
mesmo de Luzia. Estamos 
falando de Niède Guidon. 
A arqueóloga franco-bra-
sileira de 86 anos foi a 
primeira a desconfiar 
do potencial científico 
escondido no meio do 
Piauí. Guidon fez da Serra 
A Pedra 
Furada, que dá 
nome ao sítio 
que coleciona 
1.200 pinturas 
rupestres.
Foto Brazil Photos/Getty images
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P a l e o z o i c a
P
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A
M
A
*
ORDOviciAnO DEvOniAnO cARbOnÍfERO JuRássicOTRiássicOPERMiAnOsiluRiAnOcAMbRiAnO
485,4 443,8 419,2 358,9 201,3 14251,9298,9541
Trilobitas
P r é-Pa ng e i a Pa ng e i a
P e r í o d o ta l a s s o c r át ic o
Mar Siluriano-Permiano cobria toda a Serra
Primeiros 
movimentos 
de placa que, 
no futuro, 
culminaram na 
abertura do 
Atlântico Sul
AMéRicA DO sul
* Milhões de anos
Artrópodes 
marinhos que 
habitavam 
a Serra
 
sapiens surgiu na África 
ente 200 mil e 300 mil 
anos atrás. De lá, espa-
lhou-se pela Europa e 
Ásia. Há 60 mil anos, 
nossa espécie atingia 
a Austrália. Depois, as 
Américas – de acordo 
com as teorias mais acei-
tas, via Esteito de Bering, 
que era terra seca na épo-
ca. Aqui, a narratva ofi-
cial nos leva aos homens 
de Clóvis, por muito tem-
po considerados o povo 
americano mais antgo. 
Nos anos 1920, nas ci-
dades americanas de Fol-
som e Clóvis, Novo Mé-
xico, foram encontadas 
pontas de lanças ao lado 
de fósseis de animais de 
grande porte. Eram armas 
humanas de 13 mil anos de 
idade, que comprovavam 
a presença de homens na 
América em plena Era 
Glacial. Daí surge a teo-
ria “Clovis First”, segundo 
a qual todo e qualquer 
outo grupo humano que 
habitou o contnente teria, 
necessariamente, chegado 
depois deles. 
Nas últimas décadas, 
porém, a primazia de 
Clóvis foi fortemente con-
testada. Hoje, há centenas 
de sítos mais antgos na 
Venezuela, no Peru, no 
Brasil, na Argentna e nos 
próprios EUA. O síto de 
Monte Verde, no Chile, 
por exemplo, tem datações 
de 14,6 mil anos. Mesmo 
assim, muitos arqueólogos 
americanos (chamados pe-
joratvamente de “polícia 
de Clóvis”) ainda duvidam 
dessas descobertas. De-
fendem que os achados 
são só pedras comuns, 
não ferramentas humanas.
Perceba, porém, que 
mesmo os artefatos pré-
Clóvis mais aceitos, datan-
do de 15 mil anos, vieram 
apenas 2 mil anos antes da 
cultra Clóvis. É uma va-
riação bem menos radical 
do que sugerem os arte-
fatos de 20 a 30 mil anos 
Serra geológica
A evolução natural da Capivara (e da 
América do Sul), do mar ao sertão.
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M e s o z o i c a c e n o z o i c a
NeogeNo QuaterNárioCretáCeo PaleogeNo
66 hoje145 23 2,58
Homo 
sapiens
Megafauna
Tigre-dentes- 
-de-sabre
Tatu gigantePaleolhama
Preguiça 
gigante
 
da Serra. Justamente por 
isso, a maior parte dos es-
pecialistas considera que 
as amostas de carvão de 
Niède foram criadas por 
incêndios naturais. Por 
raios de tempestade, não 
por pessoas.
Guidon, é claro, de-
fende sua descoberta. 
Segundo a pesquisadora, 
uma queimada produziria 
restos de carvão para todo 
lado – os de Niède esta-
vam concentados num 
lugar só, protegidos sob 
paredões da Pedra Furada. 
Já a defesa das pedras tem 
por base o formato delas: 
as lascas estão presentes 
apenas de um lado, como 
se tvessem sido molda-
das por impactos con-
tínuos e planejados, em 
uma direção só.
O mais antigo dos 
supostos instrumentos 
humanos de Niède tem 
100 mil anos de idade. Ele 
foi a peça final na teoria 
nada convencional que 
ela defende até hoje: há 
100 mil anos, existriam 
comunidades humanas no 
Piauí, formadas por ho-
mens vindos diretamente 
da África, sem passar pelo 
Esteito de Bering. 
A comunidade cien-
tífica recebeu as ideias 
de Niède com temenda 
cautela – para não dizer 
hostlidade. No Brasil, um 
de seus crítcos mais ferre-
nhos foi o bioarqueólogo 
Walter Neves, conhecido 
como “pai” de Luzia. “Eu 
não acreditava em uma 
vírgula nas descobertas 
dela na Pedra Furada, e 
confesso que achava que 
era uma questão de in-
competência. Mas, quan-
do ela me convidou para 
visitar a Serra [em 2005] 
e eu vi os artefatos, foi um 
choque”, nos disse Walter 
sobre as pedras lascadas. 
“Saí da visita 99% con-
vencido de que ali tnha 
mãos humanas de 30 mil 
anos atás, a cronologia de 
Niède na época. Mas 1% de 
dúvida ainda é algo exte-
mamente significatvo.”
Se Walter é cauteloso 
quanto aos 30 mil anos, 
é abertamente cético 
quanto a qualquer obje-
to de 100 mil anos: “Isso 
é Guerra nas Estrelas, 
ficção científica, nem se 
discute”. A migração di-
reta pela África também 
é amplamente descartada. 
Segundo o arqueólogo 
André Strauss, profes-
sor da USP que atou na 
Serra da Capivara, mesmo 
que haja provas de uma 
migração mais antga na 
Serra, esses homens tam-
bém teriam chegado pelo 
Esteito de Bering.
Quando se aposentou, 
Guidon cercou-se de fi-
guras conceitadas para 
dar contnuidade ao seu 
tabalho na Serra. Convi-
dou o arqueólogo francês 
Eric Boeda para liderar as 
pesquisas por lá. Boeda é 
um dos principais nomes 
do mundo no estdo de 
ferramentas antgas fei-
tas de pedra. Em seus 20 
anos no Piauí, ele iden-
tficou pedras de 22 mil 
anos como instumentos 
humanos – seus artefatos 
mais extemos chegam à 
“faixa etária” dos 40 mil. 
São datações mais 
conservadoras do que 
as de Niède – mas ainda 
vão muito além do que a 
teoria oficial de ocupa-
ção da América é capaz 
de explicar. “A estatégia 
dele é inteligente. Passa 
por números mais palpá-
veis primeiro”, diz André 
No parque, 
turistas 
caminham 
por passarelas 
(abaixo) para 
visitar as pintu-
ras de 6 a 12 mil 
anos de idade 
(à esquerda).
Fotos Mauricio Pokemon
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15.000 anos atrás
p e d r a s a r c a i c a s
Complexo de Buttermilk 
Creek - Texas/EUA
Artefatos pré-
Clóvis mais 
aceitos como 
ferramentas.
13.500 anos atrás
p o n t a s 
d e l a n ç a
Complexos de Clóvis - 
Novo México/EUA
As evidências 
mais antigas dos 
homens de Clóvis.
 
Strauss. “Eric, além do 
prestígio, está aberto ao 
diálogo, algo difícil com a 
Niède. Antes de tdo, ele 
está tentando recuperar a 
credibilidade dos achados 
humanos da Serra.”
A fundadora teimosa
Entre pedras lascadas e 
farpas, uma coisa ninguém 
contesta: Niède Guidon é 
uma exímia administado-
ra. O relacionamento ente 
Guidon e o Piauí já ulta-
passa as Bodas de Ouro: 
começou em 1963. Niède 
tabalhava bem longe, no 
Museu do Ipiranga, em 
São Paulo, onde foi or-
ganizada uma exposição 
sobre figuras rupestes no 
Brasil – as únicas conhe-
cidas até então, feitas em 
Minas Gerais. “Um senhor 
veio visitar a exposição e 
me mostou fotos de ou-
tas pintras, dizendo que 
também havia esses ‘dese-
nhos de índios’ perto da 
cidade dele”, conta Niède. 
Foi só em 1970 que 
Guidon teve a chance de 
encontar pessoalmente 
os tais “desenhos de ín-
dio”. Oito anos de estdo 
depois, ela instalava por 
lá uma comissão perma-
nente de pesquisa, fruto 
de uma parceria entre a 
França e o Brasil. Reuniu 
biólogos, zoólogos, botâ-
nicos e paleontólogos pa-
ra promover uma ampla 
investigação em toda a 
Serra. “Não tnha estu-
tura, estrada, nada. Os 
moradores locais foram 
nossos primeiros guias, 
exploramos tdo a pé.” 
Criar uma reserva 
totalmente dedicada a 
preservação e pesquisa, 
porém, foi um trabalho 
árduo. “Conseguimos que 
o governo criasse o par-
que, mas não colocaram 
um funcionário sequer”, 
conta Niède. O projeto 
era tornar o parque um 
bem público, que ataísse 
tristas e movimentasse 
a economia da região. 
Para isso, Guidon e sua 
equipe receberam apoio 
técnico do antgo Banco 
Interamericano de Desen-
volvimento, e receberam 
doações da Petobras para 
manter o parque de pé. 
Não foi suficiente, 
porém, para fazer des-
lanchar o paraíso arque-
ológico escondido: ainda 
hoje, a serra recebe só 20 
mil tristas por ano. 
A situação só piorou 
quando as verbas públi-
cas secaram. Os repasses 
da Petobras foram a zero 
com a crise na empresa. 
A pintura ao 
lado é símbolo 
da Serra, mas 
não mostra 
capivaras, e sim 
dois veados.
Abaixo, o 
morador mais 
ilustre do 
parque: Zuzu.
A chegada do 
homem às Américas
Os indícios por trás da narrativa ofcial da 
ciência – e da versão paralela de Guidon.
Parque Serra da 
Capivara - Piauí/BR
Instrumentos data-
dos por Boeda são 
60 mil anos mais 
recentes.
40.000 anos atrás
p e d r a s a r c a i c a s
Parque Serra da 
Capivara - Piauí/BR
Indícios mais an-
tigos de possíveis 
fogueiras humanas.
32.000 anos atrás
c a r v ã o
Parque Serra da 
Capivara - Piauí/BR
Seriam as pistas 
mais antigas de 
presença humana na 
Serra.
100.000 anos atrás
p e d r a s a r c a i c a s
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12.700 anos atrás
a n z i c k
Complexo Anzick 
– Montana/EUA
Esqueleto 
parcial, único 
fóssil humano da 
cultura Clóvis.
11.500 anos atrás
l u z i a
Sítio Lapa Vemelha 
- MG/BR
Crânio mais anti-
go já encontrado 
nas Américas.
9.920 anos atrás
z u z u
Parque Serra da 
Capivara - Piauí/BR
Segundo crânio 
mais antigo das 
Américas, e o mais 
velho da Serra.
V e r s ão de n i è de g u i d on
t e or i a c on s e n s ua l
hojE
 
Dos 270 funcionários 
que o parque já teve, só 
foi possível manter 40. A 
estutra, hoje, depende 
de pequenos montantes 
vindos do Insttto Chico 
Mendes de Conservação 
da Biodiversidade (ICM-
Bio) e do governo do Piauí. 
Em 2014, começou a 
constução do últmo so-
nho de Niède: o Museu da 
Natreza (MuNa). Nele, a 
pesquisadora queria con-
tar a história da Serra de 
forma similar à que você 
leu nestas páginas: em 
uma viagem no tempo, 
por toda a evolução nat-
ral da Capivara, da época
em que o Piauí era mar até 
os dias de hoje. O dinhei-
ro, pedido ao BNDES em 
2001, veio sem correção 
monetária. Graças à ma-
gia da inflação, os R$ 13,7 
milhões já compravam 
tês vezes menos tjolos 
e massa corrida quando a 
verba chegou. Mas o Mu-
Na insistu em nascer. Foi 
inaugurado em dezembro 
de 2018. Final feliz para 
Guidon e sua Serra.
Mas e quanto à origem 
das pedras lascadas mile-
nares? Estaria Niède, afi-
nal, totalmente enganada 
na tese que guiou toda a 
sua carreira? Apontar pa-
ra uma conclusão não é 
tão simples. “Nem todas 
as perguntas têm como 
resposta sim ou não. 
Há uma terceira opção, 
que talvez seja a mais 
frequente de todas: não 
sei”, diz André Stauss. 
“No caso da Serra, essa 
é a conclusão mais ho-
nesta. E é uma resposta 
perfeitamente científica. 
Existia gente lá há 40 
mil anos? Esse é um 
debate legítimo, e que 
segue em aberto.” S
Fotos Mauricio Pokemon
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oráculo
i l u s t r a ç ã o t i a g o l a c e r d a e d i ç ã o b r u n o v a i a n o
Na prátca, nenhuma. Os dois termos se referem à mesma 
profssão. A diferença é geográfca: “cosmonauta” é usado 
pelos russos; “astonauta”, pela Nasa e as demais agências 
espaciais (como a Esa, da União Europeia). “Astonauta” 
é a mais antga: vem do romance Atavés do Zodíaco, de 
Percy Greg (1880). O termo foi adotado pela Nasa em 
1959. Já “cosmonauta” passou a valer ofcialmente em 
1961, após Yuri Gagarin se tornar o primeiro homem 
no espaço. Na corrida espacial da Guerra Fria, o nome 
alternatvo foi uma opção ideológica, que reafrmou a 
identdade soviétca. Ele foi criado por Viktor Saparin, 
autor de fcção científca stalinista – que bebeu da floso-
fa do cosmismo, uma mistra de catolicismo ortodoxo, 
ressurreição dos mortos por meios tecnológicos e colo-
nização planetária, que mexeu com o imaginário russo 
no começo do século 20. (
Qual é a 
diferença entre 
cosmonauta e 
astronauta?
Yuri Gagarin, Klushino, Rússia
horas, 31 minutos, 26 
segundos. É o tempo 
total que os astronautas de 
todas as missões Apollo, 
juntos, passaram exploran-
do a superfície da Lua. (
80
 
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Posso tentar, caro Luiz. As superfícies convencionais são orientáveis – 
isto é, têm dois lados. O lado de cima e o lado de baixo de um lençol, por 
exemplo. Pense numa formiga andando no lençol. Se ela não passar pela 
borda do lençol, ela não muda de lado. A fta de Moebius, por outro lado, 
não tem lado. Isso a torna, no jargão matemático, uma superfície “não 
orientável”, com propriedades diferentes. Ou seja: um carro que está 
andando de um lado da fta é capaz de chegar ao outro lado sem passar 
pela borda. Para provar, acompanhe com o dedo a ilustração ao lado. ( 
Oráculo, você pode me explicar a 
fita de Moebius? 
Luiz Fornazari Neto, Irati, PR
Qual é a língua mais 
falada do mundo?
Leonardo Kaizer 
Manuel, Bié, 
Angola
É o chinês, com cerca 
de 1,29 bilhão de 
falantes nativos.( 
pá pum
número incrível
Reportagem Bruno Vaiano, Guilherme Eler, Ingrid Luisa, Rafael Battaglia. Fontes ( Extravehicular actvity, Nasa, disponível em: https://bit.ly/2IcSS2H 
( Science, Religion and Communism in Cold War Europe, org. Stephen A. Smith, 2016. ( Christina Brech, IME, USP. ( Ethnologue.com 
( Guinness World Records ( Molecular Biology of the Cell. 4th edition. ( Aline Zoppa, cirurgiã veterinária, Universidade Anhembi Morumbi. 
( Dr. Caio Lamunier - Dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e do Hospital das Clínicas de São Paulo. 
gemas, 31 cm: é o 
maior ovo de galinha 
já botado, em 1896.( 
presidentes brasilei-
ros eleitos democrati-
camente terminaram o 
mandato. 
oUTro DADo 
relevAnTe Sem 
nenHUmA liGAÇÃo
5 
5 
Por que a língua dos cães da raça 
chow-chow é azul? 
Marley, Flórida, EUA
graças à melanina. Na pele dos seres huma-
nos, esse pigmento fornece maior proteção 
contra os raios ultravioleta (UV) – e é o moti-
vo pelo qual existem pessoas de várias cores.
No caso dos chow-chows, uma mutação 
inusitada fez com que a língua produzisse 
melanina em excesso. Como as células dessa 
parte do corpo são rosadas, o resultado da 
mistura é a coloração arroxeada. 
Além do chow-chow, outras raças de origem 
chinesa, como o akita e o shar-pei, também 
possuem língua roxa. Antigamente, os cães 
que tinham essa característica eram consi-
derados mais puros, e suas linhagens foram 
favorecidas por seleção artifcial. 
A explicação é mitológica: na China, contava-
se que, durante a criação do mundo, o céu foi 
pintado de azul. No processo, um pouco de 
tinta caiu na Terra, e os cães que a lamberam 
tornaram-se sagrados. (
Um ovo de galinha é uma 
célula só?
Marcos Schroeder, 
cidade não identifcada
Um ovo não fecUndado contém 
uma única célula – o gameta 
feminino, com metade do DNA 
do pintinho. Mas é problemático 
pensar no ovo em si, com casca e 
tudo, como o gameta. Ele é um 
invólucro em torno do gameta, que 
servirá para proteger e alimentar o 
pintinho. O núcleo e as organelas do 
gameta (os componentes essenciais 
da célula eucariótica) fcam em 
um ponto da gema chamado disco 
germinativo. A gema em si, com 
seu estoque de proteínas, lipídios e 
polissacarídeos, é contínua com o 
disco germinativo. Por isso, algumas 
fontes ( mencionam a gema como 
a célula – o que a tornaria a maior 
célula que você já viu.
porqUe estoUrá-las libera dopamina no cérebro. Dopamina é um 
neurotransmissor, isto é: uma molécula que os neurônios usam para 
enviar mensagens eletroquímicas uns aos outros. No caso, mensagens 
prazerosas: ela é a responsável pelo vício em drogas e em fast-food. Isso 
leva à próxima pergunta: por que estourar espinhas libera dopamina 
A resposta está em Darwin. Extrair impurezas da pele evita doenças, de 
forma que a seleção natural benefciou os antepassados humanos que 
sentiam prazer em estourar suas espinhas antes que elas se tornassem 
uma infecção grave – e, na Pré-História, potencialmente letal.(
Por que é gostoso 
estourar espinhas?
Matheus de Je-
sus, cidade não 
identifcada
 
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o r á c u l o
Quando uma pessoa morre, o sangue 
pode ser aproveitado para transfusão ?
Eduardo Gloria, Rio Grande, RS
Existe a possibilidade de um dia acharem o Hino 
Nacional muito antigo e resolverem escolher um 
novo? Isso já aconteceu em algum país? 
Rodrigo Cesar, via Instagram
ExistE – e vira e mexe acontece. Mas não porque o hino 
seja antigo, e sim porque ele não representa mais a ima-
gem que o regime da vez quer transmitir. A França é um 
bom exemplo: entre 1795 e 1879, a Marselhesa ganhou e 
perdeu o título de hino nacional três vezes – haja insta-
bilidade política. Em 2001, Ruanda criou um novo hino 
para recomeçar em paz após um genocídio ocorrido em 
1984. E a Rússia adotou uma nova canção em 1990, com 
o fm da URSS – mas Putin, em 2000, retornou à antiga 
melodia soviética, mudando apenas a letra. A América 
Latina, nesse aspecto, é um exemplo de estabilidade: 
seus países praticamente não mudam de hino, mesmo 
nas mudanças mais radicais de regime.
É tEcnicamEntE possívEl, mas nada prático. O pioneiro foi o cirurgião soviético 
Sergei Yudin, em 1930. Ele salvou um homem que havia tentado suicídio reaprovei-
tando 0,5 l de sangue retirado do corpo de um paciente de 60 anos (o líquido pas-
sou 6 horas no gelo entre a morte e o procedimento). Se com a tecnologia daquela 
época era possível, com a de hoje também é. Mas os problemas são vários: um é 
que a coagulação do sangue de um cadáver começa só 5 minutos após o coração 
parar de bater, e sangue coagulado é difícil de manipular.
Se a morte foi cerebral, 
dá para manter o sangue circulando artifcialmente – mas isso só se justifca fnan-
ceiramente para preservar um coração ou pulmão, que não podem ser tirados dos 
vivos. Outro é que anêmicos, lactantes, usuários de drogas e tatuados recentes não 
podem doar, e um morto não pode informar se é uma dessas coisas. Descobrir na 
marra demandaria exames caros. O mais fácil, mesmo, Eduardo, é os vivos doarem. 
Este Oráculo, que tudo sabe, promete que a agulha não dói. ( 
Por que sentmos dor 
de cabeça quando 
tomamos algo muito, 
muito gelado? 
Tadeu Santos, 
via Instagram
Há várias HipótEsEs, 
nenhuma defnitiva. 
Um estudo de 2012 ( – em 
que 13 adultos beberam 
água gelada de canudinho 
monitorados por ultras-
sonografa transcraniana 
– sugere que os nervos que 
passam atrás do céu da 
boca, quando detectam 
uma queda rápida de 
temperatura, dilatam 
as artérias que levam ao 
cérebro para aumentar o 
fuxo de sangue e manter 
o órgão quentinho. Isso 
vem acompanhado de um 
aumento da pressão no 
interior do crânio e, é claro, 
uma dor súbita. 
Pressionar a língua contra 
o céu da boca para rea-
quecer a região faz a dor 
passar mais rápido. 
Dá para espantar 
mosquitos usando 
som?
Ian Matos, 
via Instagram 
É mElHor continuar 
usando repelente, Ian. 
Não existem estudos 
científcos que provem a 
consistência e efcácia de 
dispositivos e aplicativos 
que emitem sons para 
afastar os insetos (. 
No entanto, cientistas 
usam o som para o 
monitoramento de 
mosquitos ( e até para 
atraí-los. Por exemplo: 
há um dispositivo que 
imita o som das asas das 
fêmeas do Aedes aegypti, 
transmissor da dengue. A 
vibração é captada pelos 
machos por meio do 
órgão de Johnston, que 
fca na base das antenas. 
E eles são atraídos aos 
montes – o que permite 
fazer um censo demográ-
fco da população. (
pergunte ao 
orÁCuLo
Escreva para 
oraculo@abril.com.br
mencionando 
sua cidade e Estado.
 
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lista
Quais guerras 
duraram mais?
Lee Marvin, 
Saigon, Vietnã
Quais tmes mais 
tomaram gols de Pelé?
Gordon Banks, Shefield, Reino Unido
As menores do Brasil: 
1° SerrA dA 
SAudAde (MG)
786 habitantes 
A campeã de pe-
quenez ultrapassou 
Borá em 2010.
2° BOrá (SP)
836 habitantes 
É um povoado 
desde 1909, mas foi 
elevada a município 
em 1965.
3° ArAGuAinhA 
(MG)
956 habitantes 
Cria do pioneiro 
garimpeiro Aprígio 
Lima, since 1947.
responda-me, prefeito do cosmos: 
qual é a cidade mais nova do Brasil? 
Lavínia Lira de Campos, via Instagram
não é uma: são cinco, fundadas em 1º de 
janeiro de 2013 (embora os processos de eman-
cipação de cada uma tenham corrido em ritmos 
diferentes). Pescaria Brava e Balneário Rincão, 
em Santa Catarina; Mojuí dos Campos, no Pará; 
Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul; e Paraíso 
das Águas, no Mato Grosso do Sul. Todas eram 
distritos de cidades maiores antes.(
Fontes ( Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo e Luiz Fernando Ferraz da Silva, professor de patologia clínica da USP. ( Electronic mos-
quito repellents for preventing mosquito bites and malaria infection (review). ( Using mobile phones as acoustic sensors for high-throughput mosquito 
surveillance. ( Maria Anice Mureb Sallum, entomóloga, FSP, USP ( Cerebral Vascular Blood Flow Changes During ‘‘Brain Freeze”, 2012. ( IBGE
Fontes: Futdados.
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Roma vs. Pérsia 
92 a.C. a 627 d.C.
Guerras romano-persas
721 
anos
Índios Mapuche vs. 
Colonizadores espanhóis 
1536 a 1818
Guerra de arauCo
282 
anos
Ibéricos vs. Mouros 
711 a 1492
781 
anos
Guerra da reConquista
 
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o r á c u l o
Quem é a elma 
da elma chips? 
Heverton Campos, cidade não identifcada
A elmA não é umA: são duas, as irmãs paranaenses 
Elfriede Wagner e Maria Unger, de uma família de 
imigrantes alemães que aportou no sul do país na 
década de 1950 e se estabeleceu em Curitba. O nome 
é só um tocadilho com o “El” de Elfriede e o “Ma” 
de Maria. O primeiro salgadinho foi o Stksy – os 
palitnhos crocantes cobertos com sal grosso, que vêm 
na embalagem verde. Eles foram vendidos primeiro 
de porta em porta, a partr de 1958, para ajudar nas 
contas da casa. Depois, na confeitaria Elma, fndada 
em 1962. O Stksy é uma versão industializada e 
comprida de um bretzel salgado – aquele pão em forma 
de laço comum na Suíça e na Alemanha, parente do 
pretzel famoso no Brasil: frito, com canela. ( 
O avestruz enfa mesmo 
a cabeça na areia quan-
do está com medo?
Luís Pereira, Juazeiro, 
BA
Não. Mas a lenda se 
espalhou por um motivo. 
Ou melhor: dois. Um é que 
avestruzes costumam viver 
em meio a grama alta. Quan-
do eles abaixam o longo 
pescoço para comer plantas 
e insetos, a cabeça, pequena, 
some no meio da vegetação. 
Quem vê de longe pensa que 
o bicho se enterrou. Outro 
motivo é que as mamães 
avestruz põem seus enormes 
ovos em buracos no solo, 
e abaixam a cabeça para 
girá-los durante a incubação. 
Quando uma fêmea sente 
um predador se aproximar, 
ela senta em cima dos ovos 
e abaixa a cabeça, para que 
seu corpo seja confundido, a 
distância, com uma pedra. (
Por que só dá para mode-
lar o cabelo quente?
Ana Carolina Malavolta, 
designer da SUPER
um fio de cabelo é uma 
haste fbrosa formada por 
células mortas recheadas 
com uma proteína chamada 
queratina. O calor desnatura 
essas proteínas (em outras 
palavras, desmancha a es-
trutura delas, que parece um 
novelo de lã embaraçado). 
Quando as proteínas desna-
turam, a algo entre 150°C e 
190°C, os fos amolecem – e 
aí é só ajeitá-los ao gosto do 
freguês: chapinha para cabelo 
liso, ou babyliss, cilíndrico, 
para cachos. Quando os 
fos são reidratados (pela 
lavagem ou suor), a proteína 
volta ao normal – e o cabelo 
também. Se a queratina 
desnaturasse para sempre, 
o cabelo seria irremediavel-
mente danifcado. 
Frejat 
Roberto Frejat, guitarrista do 
Barão Vermelho, pegou o mi-
crofone e seguiu carreira solo 
após 2001. Um de seus maiores 
sucessos foi a canção “Amor 
pra Recomeçar”, que foi regra-
vada ao vivo no Royal Albert 
Hall, em Londres, por… 
Jorge e Matheus 
Dupla sertaneja de Itumbiara, 
Goiás, que ultimamente anda 
tocando covers do John Mayer. 
Até 2012 foram da gravadora 
Universal, mas desde então 
estão com a Som Livre, fundada 
originalmente para fazer as tri-
lhas sonoras de novelas da…
conexões
De Frejat a 
Frajola 
por Bruno 
Vaiano
Imagens ( Teca Lamboglia/Wikimedia Commons ( Bahia Notícias/Wikimedia Commons ( Divulgação/Reprodução 
Stuisvogelpolitk
Encarar os problemas com a velha tática de fngir que eles não existem – 
como um avestruz em negação, com a cabeça enfada na areia (veja acima).
Polítca do avestuz
lost in
translation
Origem Holanda
( (
 
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Rede Globo 
Maior emissora de TV 
nacional. Antes de construir 
o Projac, gravou em vários 
estúdios – inclusive um no 
bairro carioca da Usina (, 
que abrigou,
até 2010, o 
estúdio de dublagem Herbert 
Richers, onde trabalhou...
Márcio Simões 
Veterano da dublagem 
– talvez não haja um 
brasileiro que nunca tenha 
ouvido sua voz. Fez atores 
como Samuel L. Jackson, 
Will Smith e Alec Baldwin. 
Dos Looney Tunes, é res-
ponsável por Patolino e… 
Frajola Gato que caça o 
pássaro Piu-Piu. A dupla 
aparece na música “Fico 
Assim Sem Você” de 
Claudinho e Buchecha – 
que tocaram no programa 
da Globo Por Toda Minha 
Vida, assim como Cazuza, 
parceiro do Frejat. 
manual
por Rafael 
Battaglia
Como organizar um 
bloco de Carnaval? 
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5
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Procure aPoio 
da Prefeitura
Algumas ajudam 
os blocos inscritos 
ofcialmente: em 
troca de seguir as 
regras do edital, 
eles recebem ajuda 
com banheiros, 
segurança e trânsito. 
Os independentes, 
sem alvará, podem 
ser impedidos 
de desflar se 
alguém reclamar. 
3 
Pense na música 
Uma diária de trio elé-
trico sai no mínimo por 
R$ 5 mil. Já uma bateria 
exige bons músicos, cla-
ro (procure por eles no 
Facebook ou com indica-
ções de outros blocos). A 
ordem das músicas deve 
ser confortável e fácil 
de decorar.
4 
arrecade dinheiro 
Você pode procurar 
patrocinadores, dentro 
das regras da prefeitura. 
Outra fonte de renda é a 
venda de abadás, snacks 
e bebida nos ensaios 
abertos – na hora 
do bloco, mesmo, só 
ambulantes registrados 
podem trabalhar, ven-
dendo a cerveja ofcial.
5 
divulgue 
Crie um evento nas 
redes sociais uns três 
meses antes e atualize 
com postagens, vídeos e 
enquetes. Se o objetivo 
é fazer um bloco pe-
queno, evite a internet: 
procure ruas fora do 
eixo, avise a vizinhança 
e chame os amigos.
1 
Junte a galera
Montar um bloco 
exige trabalho em 
equipe. Reúna um 
pessoal com dispo-
sição para decidir o 
tema da festa, que 
pode ser um artista, 
um meme ou até 
alguma manifestação 
ideológica. Crie um 
estandarte e defna 
cores e identidade 
visual.
Fontes ( O salgadinho de Curitiba que ganhou o país: impossível comer um só, publicado na Gazeta do Povo. ( American Ostrich Association 
(Associação Americana de Avestruzes). ( O Livro do Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, 2011. 
P a r a s a b e r m a i s Mês ideal para procurar a prefeitura em...
São Paulo (SP) Rio de Janeiro (RJ) Belo Horizonte (MG) Recife (PE) Florianópolis (SC)
Out. (ano anterior) Maio (ano anterior) Out. (ano anterior) Janeiro (mesmo ano) Janeiro (mesmo ano)
( ( (
 
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Texto Guilherme Eler
r e a l i d a d e s p a r a l e l a s
e se...
407 mil reais. Esse é o dinheiro que 
uma família brasileira precisa desem-
bolsar para criar um filho até os 23 anos, 
segundo uma estmatva do Insttto 
Nacional de Vendas e Trade Marketng 
(Invent). O dado é de 2013 – se fosse 
corrigida pela inflação, a despesa seria 
ainda maior, de R$ 578 mil. E isso se a 
família pertencer à classe C (renda ente 
R$ 2.005 e R$ 8.640). Em casas mais 
abastadas, a conta pode ultapassar os 
R$ 2 milhões.
 Achou caro? Milhares de brasileiros 
têm certeza disso. Tanto que, segundo o 
últmo levantamento do IBGE, a porcen-
tagem de casais que optaram por não ter 
crianças foi de 19,4% do total. Ou seja: 
hoje, para uma em cada cinco famílias 
do País, ter filho não é prioridade. O 
número de filhos por casal no Brasil está 
em declínio e, em 2018, chegou à marca 
de 1,77 – inferior à média da América 
Latna (2,0) e do mundo (2,5). 
 Mas nem sempre foi assim. No final 
da década de 1960, a taxa de natalidade 
do Brasil era de 6,07 filhos por mulher 
... o Brasil 
adotasse 
a política 
do Filho 
Único?
um fardo. O fato de a grande maioria 
das famílias querer um filho homem 
fez crescer o número de abortos de 
meninas, ou de infantcídio. À época, 
a proporção era de 105 homens para 
cada 100 mulheres, mas ela disparou ao 
longo do tempo – e, em 2015, a China 
tnha 115 meninos para cada 100 me-
ninas com idade até 14 anos. 
 Claro, não é razoável supor que o Brasil 
fosse pratcar infantcídios, como ocorreu 
na China. Mas, como os homens tendem 
a ganhar salários maiores, talvez houvesse 
alguma preferência por filhos meninos. 
Como dá para saber o sexo da criança 
com tês meses de gravidez, e os exa-
mes de ultassom existem desde a década 
de 1950, não é improvável que também 
– equivalente à do Mali hoje. Nas déca-
das de 1960 e 1970, aliás, a população do 
planeta crescia a uma taxa de 20% a cada 
dez anos – o dobro da taxa atal. 
O caso era especialmente delicado na Chi-
na, que já tnha uma população conside-
rável e cada mãe seguia dando à luz 5,75 
filhos, em média. No final dos anos 1970, 
a população do país era de 980 milhões 
de pessoas – a produção de alimentos 
da época ameaçava não dar conta. Em 
1979, por decisão do então presidente 
Deng Xiaoping, teve início o maior ex-
perimento de engenharia demográfica da 
história. Segundo estmatvas do governo, 
a chamada “polítca do filho único” evitou 
o nascimento de pelo menos 400 milhões 
de chineses – sim, quase dois Brasis – até 
ser revogada, há tês anos. Mas e se o 
nosso país tvesse feito o mesmo?
 Bom, considerando que a população 
da China em 1980 era de 980 milhões e 
que em 2016, ano em que extnguiram a 
polítca, eram 1,379 bilhão de chineses, 
tvemos por lá um aumento de 40%. 
Faz sentdo, então, tansplantar essa 
taxa para a nossa hipótese. Se o Brasil 
tvesse adotado a polítca de filho único 
em 1979, quando ainda contava com 121 
milhões de habitantes, hoje seríamos 
170 milhões de pessoas – 39 milhões 
de brasileiros a menos em comparação 
aos atais 209 milhões.
 Essa mudança na pirâmide popula-
cional, porém, não seria uniforme. E 
isso vale também no que diz respeito 
à proporção ente homens e mulheres. 
Hoje, no Brasil, nascem menos homens 
do que mulheres (são 97 meninos para 
cada 100 meninas). Mas, na China, a 
polítca do filho único gerou um de-
sequilíbrio: a quantdade de homens 
aumentou desproporcionalmente. 
 Em 1980, 80% da população chinesa 
era rural. Filhos homens eram essen-
ciais para o tabalho pesado do campo, 
enquanto as mulheres eram vistas como 
 
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Mais mimos, 
menos Previdência.
tvéssemos mais abortos de meninas. 
 E isso poderia ter consequências 
sociais espantosas. Um levantamento 
feito pelo Instituto para Estudos do 
Trabalho (IZA), na Alemanha, usou 
dados coletados na China ente 1988 e 
2004 para revelar que um incremento 
de apenas 0,01% na proporção absoluta 
ente homens e mulheres é suficiente 
para aumentar a violência e a incidência 
de crimes em 3%. 
 Outa consequência é que a pirâ-
mide etária brasileira seria invertda, 
ou seja, haveria mais idosos e menos 
jovens – processo que estamos ata-
vessando para valer agora. Em 2017, a 
porcentagem de chineses com mais de 
65 anos era de 10,7% (no Brasil, 8,5% 
da população está nessa faixa etária, 
segundo dados do Banco Mundial). 
 Com mais gente acima dos 65 anos, 
o rombo na Previdência Social
se tor-
naria um problema ainda maior do 
que já é. Se a polítca do filho único 
tvesse acontecido por aqui no mesmo 
período em que ocorreu na China, te-
ríamos 3,8 milhões de idosos a mais. 
 O impacto se estenderia até à saúde 
pública. A obesidade infantl aumentou 
na China do filho único. Enquanto pro-
blemas do tpo afetavam cerca de 2% 
das crianças ente 1981 e 1985, o total 
chegou à casa dos 21% ente 2006 e 
2010. O IMC (Índice de Massa Corpo-
ral), da mesma forma, costmava ser 
maior em filhos únicos. Em comparação 
com quem tnha irmãos, eles mos-
taram risco 23% maior de apre-
sentar problemas com a balança. 
Também usavam mais internet e 
viam mais TV. 
 Até pouco tempo atás, ainda ha-
via quem defendesse polítca do filho 
único no Brasil. O medo era de que 
uma evental superpopulação nos 
levasse a um apocalipse. O aumen-
to brutal na produtvidade agrícola 
nas últmas décadas (aqui e lá fora) 
afastou esse fantasma. E agora a hi-
pótese soa como piada. Ainda bem. 
Uma sociedade mais violenta e uma 
Previdência ainda mais quebrada até 
daria para aguentar. Mais crianças 
mimadas, não. S
Foto Getty images 
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A l f A b e t o 
A t u A l
A l f A b e t o 
l A t i n o
A l f A b e t o g r e g o 
A r c A i c o
A l f A b e t o 
f e n í c i o
A l f A b e t o 
p r o t o s s i n A í t i c o
B
AA
B
C
G
H
I
J
K
L
M
N
O
P
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RR
T
U
Z
V
W
Y
XX
V
T
P
O
N
M
L
I
H
G
DD
E
FF
E
C
Já com todas 
as letras*
*Adotado no Brasil em sua forma completa, com as letras 
“k”, “y”e “w”, após o Acordo Ortográfco de 1990.
700 a.C. 
até hoje
800 a.C. 
até 400 a.C.
1200 a.C. 
até 150 a.C. 
1900 a.C. 
até 1500 a.C. 
última página d e s c u l p A q u A l q u e r c o i s A e A t é l o g o
Arqueologia do Abc
Uma breve história das letas: do alfabeto 
protossinaítco, de 1900 a.C., até hoje. 
Infográfco Bruno Vaiano e Juliana Caro
 
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