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p. 58 os primeiros habitantes das américas. no piauí. p. 48 o futuro, de acordo com stephen hawking. p. 54 a câmera do celular está destruindo nossas lembranças. p. 08 afinal, o que aconteceu com a Venezuela? Ed iç ão 4 00 • m ar ço 2 01 9 a história da EugEnia A busca pela “raça pura” não é só coisa de nazista. Foi um fenômeno global, e seu fantasma segue presente. p. 32 cérebro a r E i n v Enção d o p o r b r u n o g a r a t t o n i E t i a g o c o r d E i r o Ler pensamentos, implantar memórias, aumentar a inteligência. Existem cientistas tentando fazer tudo isso – e conseguindo. Conheça as pesquisas mais surpreendentes. p. 22 SI_400_CAPA_cerebro.indd 1 18/02/19 17:09 Toque nas laterais para mudar de página Toque na parte inferior da página para acessar a barra de navegação Arraste a página para a esquerda com um dedo para navegar pelas matérias biblioteca Veja todas as suas edições de Superinteressante Sumário Todo o conteúdo da revista na lateral esquerda ViSualizar Ative a barra de navegação Voltar Volte para a exibição anterior Biblioteca Navegue horizontalmente pela edição NOME DA SESSÃO Nome da matéria Biblioteca iPad 98%00:00 barra de naVegação Toque uma vez sobre o botão e deslize pelas páginas da edição Clique no ícone de engrenagem na biblioteca remoVer ediçõeS Selecione “Remover Edições do iPad” Escolha as edições que não quer mais manter no device e toque me “Remover” ArrAsteGire o tAblet extrA interatiVidade A j u d A 1 / 1 c o m o n a v e g a r n a s u a e d i ç ã o 1 carta ao leitor e d i t o r i a l Alexandre Versignassi Diretor De reDação AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br Você está com uma reVista histórica nas mãos. Esta é a nossa edição número 400. Comecei a tabalhar aqui na 224, de março de 2006 – há exatos 13 anos. Naquela época a SUPER já era uma publicação tadicional. E fazer parte dela, mais do que a realização de um sonho, era uma responsabilidade difícil de medir: a de manter aceso o fogo da revista mais amada do País. Mesmo assim, era um tabalho mais simples que o de hoje. Éramos só uma revista mensal. Agora não. Produzimos dezenas de reportagens a cada semana para o nosso site, além de atalizar as melhores matérias da história da SUPER – aquelas que não têm data de validade, pois valem cada uma como um pequeno livro de não-fcção. Trata-se de um esforço que dá resultado. Hoje, a SUPER é até mais relevante do que era no tempo em que só havia a edição impressa. Com 13 milhões de visitantes únicos por mês, somos um dos maiores sites de divulgação científca do mundo, bem à frente de publicações estangeiras de primeira linha, como a Scientfc American (3,3 milhões), a Popular Science (2,8 milhões) e a NewScientst (2,8 milhões). Mesmo a (ótma) página da Nasa, com seus 12 milhões de visitantes únicos, tem menos audiência que a nossa. Nunca tvemos tantos leitores. E isso se refete em outos núme- ros. Para ter acesso ilimitado ao nosso site, você precisa de uma assinatra digital. E já contamos com 73 mil assinantes nessa modalidade. Em suma: a SUPER já é uma publica- ção online consolidada. Também temos uma boa presença nas redes sociais, com 3,9 milhões de PUBLICIDADE Daniela Seraf im (Financeiro, Mobil idade , Tecnologia, Telecom, Saúde e Serviços) , Renato Mascarenhas (Beleza, Higiene, Decoração, Moda e Mídia & Entretenimento), Renata Miolli (Alimentos, Bebidas, Imobiliário, Educação, Turismo e Varejo), William Hagopian (Regionais), Yuri Aizemberg (Diretor Relacionamento com Mercado) ASSINATURAS E VAREJO Daniela Vada (Atendimento e Operações), Ícaro Freitas (Varejo), Juliana Fidalgo (Gobox) , Luci Silva (Relacionamento e Gestão Comercial), Patricia Frangiosi (Comunicação), Rodrigo Chinaglia (Produtos) ATENDIMENTO E OPERAÇÕES Daniela Vada CANAIS DE VENDAS Luci Silva MARKETING DE MARCAS, EVENTOS E VÍDEO Andrea Abelleira AUDIÊNCIA DIGITAL Isabela Sperandio MARKETING CORPORATIVOE E PRODUTO Rodrigo Chinaglia PROJETOS ESPECIAIS E ABRIL BRANDED CONTENT Ivan Padilla DEDOC E ABRILPRESS Adriana Kazan PLANEJAMENTO, CONTROLE E OPERAÇÕES Filomena Martins IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP Vendas: www.assineabril.com.br Grande SP: 11 3347-2145 Demais localidades: 0800-7752145 De 2ª a 6ª feira das 8h às 22h Vendas Corporativas, projetos especiais e vendas em lote: assinaturacorporativa@abril.com.br Atendimento: www.abrilsac.com.br Grande SP: 11 5087-2112 Demais localidades: 0800-7752112 De 2ª a 6ª feira das 8h às 22h Para baixar sua revista digital: Acesse www.revistasdigitaisabril.com.br Diretor de Redação: Alexandre Versignassi Editora de Arte: Bruna Sanches Editor: Bruno Garattoni Editora assistente: Ana Carolina Leonardi Repórteres: Bruno Vaiano, Guilherme Eler, Luiza Monteiro, Rafael Battaglia Popp Designers: Carol Malavolta, Juliana Caro, Yasmin Ayumi Estagiários: Ingrid Luisa (texto), Juliana Krauss (arte) Produtor Gráfico: Anderson C.S. de Faria Colaboração: Alexandre Carvalho (revisão) Atendimento ao Leitor: Walkiria Giorgino Pool Administrativo: Mara Cristina Piota (coordenadora). www.grupoabril.com.br www.superinteressante.com.br / superleitor@abril.com.br SUPERINTERESSANTE edição nº 400 (ISSN 0104-178-9), ano 33, nº3, é uma publi ca ção da Editora Abril 1987 G+J España S.A. “Muy Interesante” (“Muito In te res san te”), Es pa nha. Edições anteriores: Venda exclusiva em bancas, pelo preço da última edição em banca. Solicite ao seu jornaleiro. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. SUPERINTERESSANTE não admi te publi ci da de reda cio nal. Redação e Correspondência: Av. Otaviano Alves de Lima, 4.400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP. Tel. (11) 3037-2000. Publicidade São Paulo e informações sobre representantes de publicidade no Brasil e no Exterior: www.publiabril.com.br, tel. 11 3037-2528 / 3037-4740 / 3037-3485. Licenciamento de conteúdo: para adquirir os direitos de reprodução de textos e imagens acesse: licenciamentodeconteudo@abril.com.br Fundada em 1950 VICTOR CIVITA (1907-1990) ROBERTO CIVITA (1936-2013) Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente) e Giancarlo Civita seguidores no Facebook e outos 3,9 milhões no Twiter. No Instagram, começamos a publicar reportagens “pocket” – com temas complexos resumidos em artgos de alguns parágrafos. Dá uma olhada lá nas nossas séries #MulherCientsta e #ColunINSTA- Cósmico para entender melhor. Esse tpo de iniciatva é fruto de um tabalho diário dos repórte- res Luiza Monteiro e Bruno Vaiano, e da designer Juliana Krauss, nova integrante da nossa equipe de arte. E foi fndamental para que a nossa audiência no Instagram mais do que dobrasse em um ano, de 250 mil para 550 mil seguidores. Agora anota aí. Quando chegarmos a chegar a um milhão, vamos sortear os dez livros mais vendidos da SUPER ente os seguidores. Nosso catálogo, com 43 obras feitas pelos jornalistas aqui da casa, e que vai ganhar mais tês títlos neste ano, já está bem fornido, afnal – e também mosta que somos mais do que uma revista; somos uma insttição voltada a disseminar o conheci- mento humano, em todas as plataformas que existem, e que vierem a existr. Mesmo assim, a edição impres- sa segue sendo o xodó da redação. Ela é o nosso disco de vinil: um produto artesanal, precioso, para colecionar. E que serve de base para todo o nosso ecossistema. Obrigado por prestgiá-lo. SI_400_carta ao leitor.indd 3 18/02/19 17:56 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 1 0 0 54 Viciado em Instagram? Não é só vocÍ: como a obsessão por tirar fotos está destruindo nossa memória. 58 Serra da Capivara Os segredos arqueológicos (e a disputa científca) que se escondem no Piauí. m a r ç o d e 2 0 1 9cardápio essencial oráculo última páginasupernovas 6 uma imagem... A peregrinação de Kumbh Mela, na Índia. 66 combine com os russos Qual é a diferença entre astronauta e cosmonauta? 74 abc ancestral A história das letras do alfabeto – dos canaani- tas até hoje. 71 manual Como organizar um bloco de Carnaval para chamar de seu. 10 tóquio 2020 Criptomoedas prometem nas olimpíadas nipônicas. 8 ... uma opinião Afinal, o que aconteceu com a Venezuela? 14 3 notícias sobre 17 não é bem assim... 12 enquanto isso... 67 pá pum 18 pérolas do mês 70 conexões 70 lost in translation 69 lista 32 Eugenia, ontem e hoje A busca da “raça pura” não foi uma lou- cura isolada de Hitler: foi uma estupidez mundial, que ainda reverbera. 40 A ascensão do caviar Ele já foi ração de gado. Entenda as reviravoltas que lançaram sobre as ovas o maior raio gourmetizador da história. Parece Blade Runner. Mas pode ser você. 48 Stephen Hawking Em livro póstumo, o físico encara pergun- tas difíceis: Deus existe? Dá para prever o futuro? Os robôs vão dominar o mundo? 22 Capa a reinvenção do cérebro Implante de memória, inteligÍncia turbi- nada e telepatia: conheça as pesquisas que vão virar seu cérebro de ponta-cabeça. e se... 72 dois é demais E se a política do flho único existisse no Brasil? Capa I Ilustração Yan Blanco 67 matemágico O Oráculo explica a fta de Moebius.64 mil castrações compulsórias foram reali� zadas nos eua entre 1907 e 1963 graças à eugenia. p. 35 número incrível 12 baiacu farmacêutico O comprimido que entra pequeno pela boca – e fca enorme no estômago. 20 subiu o idç da sala Conheça a TV micro LED: uma mistura de LCD com OLED (e a gente explica a sopa de letrinhas). 18 a fauna de tim burton Na rabeira de Dumbo, relembramos as criaturas fantásticas do diretor. SI_400_Cardapio.indd 4 18/02/19 19:53 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 1 0 0 ESSENCIAL U M A I M A G E M . . . Foto NurPhoto/Getty Images U M A I M A G E M . . . SI_400_Essencial.indd 6 19/02/19 17:23 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 4 0 0 SI_400_Essencial.indd 7 19/02/19 17:23 e s s e n c i a l 2 / 4 0 0 essencial Ela já foi uma das quatro nações mais ricas do mundo, tem mais petróleo que a Arábia Saudita, e está quebrada. Entenda como o chavismo arrebentou o país. Há sete meses no Brasil, tabalhando em um restaurante peru- ano de dono argentno na capital paulista, a venezuelana Eliza é mais uma ente as tantas fguras que dão vida ao sincretsmo da cultra brasileira. Mas Eliza e seu irmão, a quem ajudou a emigrar para o País há tês meses, também representam um fenômeno assustador: o êxodo venezuelano. Desde 2015, 3 milhões de cidadãos abandonaram a Venezuela. Um em cada dez habitantes. Metade imigrou para Colômbia e Peru. O Brasil, que tem seu cento econômico longe da fronteira com a Venezuela e fala outo idioma, recebeu menos gente, mas mesmo assim um contngente considerável: 85 mil pessoas. Boa parte sem nada e disposta a morar na rua em Roraima. De acordo h . . . u m a o p i n i ã o Afnal de contas, o que aconte- ceu com a Venezuela? na página anterior: Poderia ser o Cordão da Bola Preta, mas é algo mais tradicional que o bloco carioca de 101 anos. Esses são os Naga Sadhus, guardiões do hinduísmo que vivem nas montanhas, isolados das tentações da sociedade. Eles descem para a festiva peregrinação de Kumbh Mela, que dura 45 dias. Nela, milhões de féis se banham na foz do rio sagrado Yamuna, no nordeste da Índia, para lavar seus pecados. p o r f e l i p p e h e r m e s SI_400_Essencial.indd 8 18/02/19 17:17 e s s e n c i a l 3 / 4 0 0 com um levantamento da FGV, 30% deles têm curso superior. E a tendência é piorar. A ONU estma que o número de refgiados deve che- gar a 5,3 milhões até o fnal deste ano. Quase 20% da população – um êxodo de proporções bíblicas. Tudo isso num país que detém as maiores reservas de petóleo do planeta (bem à frente da Arábia Saudita, a segunda colocada). Tu- do isso numa nação que, até o início do século 21, tnha o maior PIB per capita da América do Sul, e que, na década de 1950, estava ente as quato mais ricas do mundo. O que houve? República estatsta Claro que as ditaduras de Chaves (1999-2013) e de Maduro (desde 2013) estão no cento do problema. Mas a história é mais longa. Após a descober- ta de petóleo na Venezuela, em 1922, o país viu uma sucessão de golpes e partdos polítcos que buscavam abo- canhar parte dos recursos gerados nos acordos com companhias estangeiras. O que parecia resolvido com a demo- cracia, implementada em 1958, e que se tornaria a mais longeva da América do Sul, durou pouco. Em 1973, após o primeiro choque do petóleo, o país decidiu nacionalizar empresas petolíferas, condensando t- do na gigante PDVSA. Com recursos do petóleo, o Estado adentou na econo- mia. Grandes empresários perceberam que, estando os recursos no governo, deveriam adaptar-se e produzir para o governo, não para os consumidores. E a população foi se tornando cada vez mais dependente do auxílio estatal. Bom, petóleo e derivados respon- dem por 96% das exportações da Ve- nezuela (no Brasil, por exemplo, são só 9%). O boom na cotação do barril, na década passada, sob o governo Chavez, fez ingressar na Venezuela mais de US$ 750 bilhões. Com contole total sobre a maior fonte de riqueza do país e acha- ques a empresários, Chavez aproveitou a bonança para expandir ainda mais a presença do Estado na economia. Comprou da iniciativa privada o contole de siderúrgicas, bancos, in- dústias de alimentos, fábricas de todo tpo. Ente 2008 e 2015, o setor privado recuou de 70% para 20% do total de bens de consumo providos no país. A torra de dinheiro colocou lá em cima o défcit público (ou seja, o tanto que o governo gasta a mais do que arrecada). O Brasil, que precisa de reformas para não quebrar, tem hoje um défcit de 7,5% do PIB. O da Venezuela chegou rapidamente a 16%. Com os recursos públicos quase todos destinados a cobrir o déficit, começou a faltar dinheiro na joia da coroa, a PDVSA. A produção de petó- leo implodiu, saindo de 3,2 milhões para 1,5 milhão de barris diários (me- nos que a Petobras, que tra 2 milhões de barris/dia). Para piorar, a cotação do barril de petóleo saiu de US$ 103 em 2014 para US$ 35,7 em 2017. Com menos dólares entando, o país em- pobreceu severamente: em 2012, eles importavam US$ 62 bilhões. Em 2018, foram só US$ 9,2 bilhões (o Brasil, para dar uma referência, importou US$ 180 bilhões no ano passado, com dólar em alta e tdo o mais). Impressora de dinheiro Para ter como pagar os salários dos fncionários públicos, o governo recor- reu à mais imbecil das soluções: ligar as impressoras de dinheiro. Com mais moeda em circulação do que coisas para comprar, não deu outa: os preços infaram. Em 2019, a infação venezue- lana deve passar dos 10 milhões por cento, segundo o FMI. Em meio a esse caos, a retação do PIB chegou a 13,7% em 2017; mais 15,4% em 2018. Hoje, nove em cada dez venezuelanos estão abaixo da linha da pobreza. Nisso, o governo Maduro entou em colapso. Sua últma eleição foi decla- rada fraudulenta pelo Parlamento ve- nezuelano. Juan Guaidó, o jovem líder da Assembleia, de 35 anos, declarou-se presidente interino da Venezuela em ja- neiro, e foi reconhecido como tal pelos EUA, pelos maiores países da Europa e por boa parte da América Latna (Brasil incluído, obviamente). Milícia Mas falta combinar com os russos. A declaração de Guaidó não vale nada dento da Venezuela, porque Maduro tem costas quentes. Com uma força militar e paramilitar bem armada, o ditador tem instumentos para intmi- dar quem lhe faça oposição. Em 2008, Hugo Chávez distibuiu 100 mil fzis para sua milícia. Em 2017, foi a vez de Maduro armar outos 500 mil. A milí- cia, uma espécie de SS implementada pelo chavismo, tem sido responsável por boa parte da repressão, e segue fel ao líder chavista. Os militares venezuelanos, que dão suporte a Maduro no poder, contolam 14 dos 32 ministérios, além de gerir a PDVSA, responsável por basicamente todas as receitas em dólar do país e, sem surpresa, de onde sai boa parte dos des- vios de recursos públicos – de acordo com uma delação do banqueiro suíço Mathias Krull, só a família de Maduro desviou US$ 1,2 bilhão. Além dos militares, Maduro possui ampla condescendência do Judiciário, o qual tatou de aparelhar ao longo de seu mandato. Ainda que enfrente oposição na Assembleia, como a do presidente da casa, há pouco ou nada que o Legislatvo possa fazer tendo as mãos atadas pelos juízes. Mantdo o poder, Maduro enfrentaria novas eleições apenas em 2025, quando a Revolução Chavista completaria 27 anos. Se ainda estver por lá, não res- tam dúvidas de que a Venezuela terá ensinado lições valiosas sobre como arruinar um país. S Um em cada seis venezuelanos terá deixado seu país até o fm de 2019. Um êxodo de 5,3 milhões de pessoas. E d i ç ã o a l e x a n d r e v e r s i g n a s s i SI_400_Essencial.indd 9 18/02/19 17:17 e s s e n c i a l 4 / 4 0 0 Tóquio: a Olimpíada das criptomoedas e d i ç ã o a n a c a r o l i n a l e o n a r d i supernovas O japãO é analógicO quando o assunto é gra- na: cerca de 65% dos pagamentos por lá são feitos em dinheiro de papel. Dinheiro de plástco, como cartão de crédito e débito, nem é aceito em boa parte dos comércios locais. Com o fuxo enorme de tristas que é esperado para os Jogos Olím- picos de Tóquio, o país quer mudar esse quadro. Um dos caminhos testados? Criptomoedas. Três grandes bancos japoneses estão desenvolvendo as suas – e ao menos uma rede de pagamento baseada em blockchain deve ser lançada a tempo das Olimpíadas. O plano é que o sistema do Mitsubishi UFJ Financial Group processe mais de 1 milhão de tansações por segundo – dez vezes mais do que a capacidade das bandeiras atais de cartão, como Visa e Mastercard. SI_400_Novas.indd 10 18/02/19 19:26 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 6 0 0 sn. f a t o s Foto Alex Silva Ilustração Brunna Mancuso O númerO de vOltas que a Terra deu ao redor do Sol desde que você nasceu é apenas uma das formas de medir a sua idade. O envelheci- mento, afnal, é uma medida de quanto o seu organismo já se desenvolveu – e, depois de uma certa fase, de quanto ele já se deteriorou. Há quem envelheça num ritmo mais rápido que o normal, e quem mantenha um corpi- nho relatvamente jovem, apesar de sua data de nascimento. Para calcular essa idade bioló- gica, a ciência conta com tuques como medir, por exemplo, as pontnhas dos cromossomos, chamados telômeros. Quanto mais curtos, em geral, maior o nível de envelhecimento celular de alguém. Agora, porém, cientstas acreditam que encontaram outa medida importante – no intestno. Usando inteligência artfcial, eles descobriram que a coleção de bactérias que vive no intestno de cada pessoa (o microbioma) sofre variações típicas para cada faixa etária. Desse padrão, emerge também o fato de que algumas pessoas têm a “idade intestnal” incompatível com a data de nascimento – o microbioma pode estar numa fase mais “velha” ou mais “jovem” que o esperado para a idade do indivíduo. Essas descobertas são essenciais para cien- tstas que estdam a longevidade. Ao entender as característcas (inclusive microbiótcas) das pessoas que envelhecem melhor, eles podem in- vestgar como melhorar a velhice de todo mundo. Quantos anos você tem (de acordo com seu intestino)? A coleção de bactérias que vive por lá pode ajudar a defnir a qualidade da sua velhice. Quanto maior a recompensa de um desafo, segundo a neurociência, melhor a nossa performance nele: até a coordena- ção motora costuma melhorar. Mas isso até certo ponto: quando a pressão é alta demais, e há muito a ganhar (e a perder), a maioria das pessoas trava – e a habilidade cogniti- va piora. Cientistas descobriram que essa “travada” está associada à atividade cerebral na região do corpo estriado ventral. Em geral, a área fca mais ativa durante o desafo. Mas, quando o medo de perder fca grande demais, a atividade diminui – e a cone- xão com o controle motor no cérebro também cai. Por que trava- mos sob pressão é O númerO de biliOnáriOs cujo patimônio, somado, equivale a todo o dinheiro que possuem as 3,8 bilhões de pes- soas mais pobres do mundo (ou seja: 51% da população do planeta). disse john amirrezvani, pesquisador que denunciou um“mercado negro de perfs” no Facebook. Empresas de anúncios abordavam usuários oferecendo dinheiro para “alugar” suas contas por algumas horas. O obje- tivo era usá-las para lançar posts patrocinados – por vezes, com cunho político ou recheados de fake news – e esconder de onde eles vieram. Se o perfl acabava banido, os anunciantes partiam para a próxima mula. 26 “São mulas para ‘lavar’ anúncios”, SI_400_Novas.indd 11 18/02/19 19:27 s u p e r n o v a s 2 / 6 0 0 sn. f a t o s Comprimido-baiaCu inCha para tratar estômago o que você pensa quando vê um baiacu? Xuanhe Zhao, engenheiro mecânico do MIT, teve uma epifania. Especialista em hidrogel, ele criou uma cápsula capaz de monitorar a saúde do estômago por longos períodos, sem ser destuída pelos ácidos estomacais nem causar desconforto ao paciente. O que motivou você a desenvolver a cápsula-baiacu? Existe uma demanda na medicina para criar dispositvos ingeríveis melhores. Quando estamos falando em um comprimido que precise passar muito tempo no estômago, liberando remédios ou monitorando temperatra ou acidez, o que você geralmente tem são eletônicos feitos de materiais rígidos como plástco, ou cerâmica, que incomodam ao passar pelo tato gastointestnal, e podem até machucar a mucosa. Eu tabalho com hi- drogel – e sempre achei que seria uma boa alternatva. O problema é que hidrogéis natrais, como a gelatna, são facilmente digeríveis pelo organismo. Como foi que o peixe se tornou inspiração? Vimos, no YouTube, um baiacu expandir muitas vezes o seu tamanho, sem que a sua pele perdesse elastcidade ou resistência. Nos inspiramos nisso para desenvolver um material que suportasse o ambiente gástico cáustico, cheio de movimentos cíclicos e contações, e que também con- seguisse se expandir para permanecer no estômago sem ser expelido. Como vai funcionar o uso do comprimido? Quando chega ao estômago, a interação da cápsula com o ácido estomacal faz com que ele aumente cem vezes de tamanho em 15 minutos. Lá, imaginamos que ele possa li- berar medimentos ou até agir como balão gástico, para passar a sensação de saciedade e promover emagrecimento. Quando não for mais necessário, o comprimido pode ser expelido. O paciente só precisa beber uma solução concentada de cálcio, que não faz mal ao organismo, e o aparelho volta ao tamanho original. Ana Carolina Leonardi Fontes ( Ford Europe ( Quaternary Science Reviews ( A new genomic blueprint of the human gut microbiota. ( Nasa. Por Ingrid Luisa enquanto isso... Um internauta corneteiro fez nascer o herói nacional Macaco Cidadão. Engenheiro do MIT criou cápsula que fca 100 vezes maior dento da barriga. A Ford criou uma tecnologia para colchões de casal que impede que uma pessoa ocupe o espaço da outra na cama (. Cientistas descobriram mais de 2 mil novas bactérias na fora intestinal humana(. Chefe da Nasa declarou que americanos voltarão à Lua “para fcar, não visitar”(. Ilustração Brunna Mancuso Uma possível pegada de neandertal, com cerca de 29 mil anos, foi encontrada em Gibraltar (. SI_400_Novas.indd 12 18/02/19 19:27 s u p e r n o v a s 3 / 6 0 0 Fonte Four Decades of Antarctic Ice Sheet Mass Balance from 1979–2017, Proceedings of the National Academy of Sciences. 14.661 foi o número de pássaros que colidiram com aviões nos EUA em 2018. Só essa fração do total mundial equivale a mais de 40 passarinhos atingidos por dia. Esses acidentes são monitorados desde 1990, e, com o aumento do tráfego aéreo, cresce- ram 692% de lá para cá. O que as fabricantes de aeronaves têm feito é desenvolver turbinas que não entrem em colapso ao colidir com os bichos – o que resolve o risco do avião cair por conta de uma batida dessas. Já para proteger os passarinhos, há ini- ciativas como soltar aves de rapina nas áreas próximas a aeroportos. Alguns pássaros podem até virar jantar, no início – mas, no longo prazo, aprendem a evitar a região. G i G a t o n e l a d a s d e m a s s a p e r d i d a e n t r e 1 9 7 9 e 2 0 1 7 1.500 1.400 1.300 1.200 1.100 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 0 100 G e o r G e I V L a r s e n B * T h w a IT e s C r o s s o n D o T s o n L a r s e n a * P In e I s L a n D T e r r a D e w IL k e s 1979 - 1989 1989 - 1999 1999 - 2009 2009 - 2017 G i G a t o n e l a d a s d e m a s s a p e r d i d a s p o r a n o 300 250 200 150 100 50 0 anTárTIDa (ToTaL) marGem de erro Quanto gelo a Antártda já perdeu Um novo estdo da Universidade da Califórnia revela, em gigatoneladas, quanto de gelo antártco já “escor- reu pelo ralo” desde 1979 – e quais foram as áreas do contnente mais afetadas pelo derretmento. PLaTaforma De GeLo Larsen a Geleiras PLaTaforma GeorGe VI GeLeIra De PIne IsLanD GLaCIer GeLeIra ThwaITes PLaTaformas De Crosson e DoTson T e r r a De w I L k e s PLaTaforma Larsen B a n t á r t i d a m o n t a n h a s t r a n s a n t á r t i c a s SI_400_Novas.indd 13 18/02/19 19:27 s u p e r n o v a s 4 / 6 0 0 sn. f a t o s Beijos 3 notícias sobre 1. 2. 3. Males beioqueiros O vírus da mononucleose – co- nhecida como Doença do Beijo – afeta 90% da população, ainda que boa parte nunca apresente sintomas. Ela tem ligações, porém, com um mal bem mais grave: a esclerose múltipla. Um novo estudo mostra que terapias drásticas para reduzir a presença do vírus no organismo diminuem sintomas entre os pacientes que sofrem com a esclerose(. Diga-me quem tu beias Mais de dez pessoas foram infectadas com salmonela nos EUA, em um onda de contami- nação causada por beijos em porcos-espinhos de estimação. O Centro de Prevenção de Do- enças precisou emitir um aviso nacional por lá, para que as pessoas parassem de acariciar seus bichinhos perto do rosto. No Brasil, afagos desse tipo são ilegais: não é permitido ter bichos exóticos em casa(. ninho do amor Que diferentes espécies de hominídeos transavam entre si, os cientistas já sabiam. A grande novidade são evidências de que uma única caverna na Sibéria foi habitada, ao mesmo tempo, por neandertais, denisovanos e, possivelmente, até Homo sapiens. Os indícios apontam para uma coabitação de até 100 mil anos – a festa univer- sitária mais longa da história(. Beijos ancestrais em uma caverna na Sibéria, beijos espinhosos e ataques ao vírus do beijo. A IBM, especialista em inteligência artifcial, está montando um projeto com a empresa america- na de alimentos McCormick, uma das maiores produtoras de temperos do mundo. O objetivo é criar novas recei- tas e misturas de temperos prontos, sem que eles preci- sem passar por um longo processo de desenvolvimento só com funcio- nários humanos. Por enquanto, os resultados foram ambíguos: o algo- ritmo já sugeriu cominho para um tempero de pizza – uma combinação inusitada que deu certo. Mas tam- bém já errou feio: para uma receita de tempero para arroz, por exem- plo, o computador sugeriu usar sal no lugar do... arroz. Tem- peros inteli- gentes Ilustração ( Fido Nesti Fontes ( Epstein-Barr virus–specific T cell therapy for progressive multiple sclerosis. ( Timing of archaic hominin occupation of Denisova Cave in southern Siberia.( Investigation notice: Outbreak of Salmonella Infections Linked to Pet Hedgehogs. ( GLOBALWEBINDEX (2018), Hootsuite Países ciber- viciados 1 M é d i a d e u s o d e p e s s oa s e n t r e 16 e 64 a n o s , e M 4 0 pa í s e s . 6h42Min média global 40 o ja pão 3h45Min último lugar 1 o f i l i p i na s 2 o b r a s i l 3 o ta i l â n di a 10h2Min De uso De internet por Dia 9h29Min 9h11Min top 3 ( SI_400_Novas.indd 14 18/02/19 19:27 s u p e r n o v a s 5 / 6 0 0 sn. f a t o s A notíciA Governo dos EUA censura pediatra que provou relação entre autismo e vacina o que elA diziA Em 2007, o médico Andrew Zimmerman testemunhou na Justiça contra a ale- gação de que vacinas causariam autismo em crianças. Nos 11 anos seguintes, porém, seus próprios estudos mos- trariam que ele estava errado, mas o governo recusou-se a deixá-lo se retratar. quAl é A verdAde Zimmerman é e sempre foi a favor da vacinação. O boato nasceu de um estudo que ele liderou, no qual uma criança com pro- blemas congênitos nas mitocôndrias mostrou, de surpresa, regressão cognitiva típica do autismo. A conclusão da equipe foi de que o gatilho teria sido uma reação infamatória leve à vacina contra ru- béola. O caso mudou, sim, a vida de Zimmer- man: o neuropediatra, passou a investigar a relação entre autismo e mitocôndrias (e não vacinas, óbvio). Não é bem assim... Notícias que bombaram por aí - mas não são verdade As famosas estátas de pedra da Ilha de Páscoa, chamadas de moais, eram constuí- das em homenagem a pessoas importantes dos clãs que viviam por lá séculos atás. Elas representavam o cento cerimonial de cada vila e nunca fcavam de frente para o mar – sempre olhando para o interior dos povoados, como grandes protetores de pedra. Um novo estdo, recém-publicado no periódico PLOS One, acredita que a posição das estátas, no entanto, tem um signifcado exta. Segundo os pesquisadores, elas marcavam a localização de fontes de água fresca e potável, um recur- so indispensável em um território pequeno, equivalente à metade de Ilhabela, onde gru- pos diferentes competam por mantmentos básicos. Antopólogos da Universidade de Oregon fzeram uma análise espacial de onde fcam as moais – e concluíram que quantdade de estátas concentadas em um só ponto parece indicar o tamanho da fonte e a qua- lidade da água encontada ali. ACL o mapa aquático das Estátuas da ilha dE páscoa Um novo estdo afrma que as moais apontavam para localização de água fresca. Uma proposta de lei recém-apresentada no Havaí quer limitar o acesso ao cigarro ape- nas à população mais velha do arquipélago – e põe mais velha nisso. A proposta é impor um limite progressivo de idade para a compra de cigarros: no ano que vem, apenas pessoas de 30 anos poderiam comprar um maço na banca. No ano seguinte, apenas maiores de 40… E assim por diante, até 2024, quando a idade mínima será de 100 anos. O objetivo, claro, é reduzir pouco a pouco o mercado consumidor de cigarros, e desincentivar o uso especialmente entre a população mais jovem, até tornar o negócio inviável. cigarros no havaí: proibidos para menores de 100 anos SI_400_Novas.indd 17 18/02/19 19:27 s u p e r n o v a s 6 / 6 0 0 O CIRCO DO TIM BURTON O insólito diretor é o responsável pela versão com atores de Dumbo, o elefante com orelhas enormes, que es� eia nos cinemas em 29/3. Aqui, algumas curiosidades sobre ou� os personagens dele. 1 BEETLEJUICE FILME Os Fantasmas se Divertem ANO 1988 No roteiro original, Beetlejuice era bem mais maléfico do que é no filme. Em vez de um fantasma, ele seria um demônio alado, e seu plano para a família Deetzes era estupro e assassinato (não tra- vessuras e casamento). 2 EDWARD MÃOS DE TESOURA FILME Edward Mãos de Tesoura ANO 1990 Tim Burton imaginou o personagem em 1974, quando estava no ensino médio. Para dar vida a esse sonho, Johnny Depp emagreceu 25 quilos e usou um cabelo base- ado em Robert Smith, vocalista do The Cure. 3 JACK SKELLINGTON FILME O Estranho Mundo de Jack ANO 1993 Todo filmado em stop motion, o protagonista Jack teve mais de 400 cabeças diferentes ao longo do filme e eram Fotos Reprodução/Divulgação CANAL Daily dose of internet YouTube A americana que foi presa, algemada e aí roubou o car- ro da polícia. A colmeia que usa ilusão de óptica para se defender. O que acontece se você molhar um sonrisal no espaço – ou estiver a bordo de um avião afundando na água. O melhor dos vídeos virais, em 3 minutos diários. CANAL Engineerguy YouTube Você sabe por que as latas de alumínio têm fundo curvo? Como o celular sabe se está na vertical? Como a cafeteira “puxa” a água sem um motor? Desvende esses e outros mistérios da engenharia neste canal – que está em inglês, mas tem tradução (clique em Configurações e Legendas). PÉROLAS DO STREAMING O CIRCO DO TIM BURTON Aqui, algumas curiosidades sobre ou� os personagens dele. Os Fantasmas mais maléfico do que é no filme. Em vez de um fantasma, ele seria um demônio alado, e seu plano para a família Deetzes era estupro e assassinato (não tra- vessuras e casamento). Edward Mãos Tim Burton imaginou 1974, quando estava sonho, Johnny Depp emagreceu 25 quilos e usou um cabelo base- ado em Robert Smith, vocalista do The Cure. JACK SKELLINGTON Todo filmado em stop motion, o protagonista Jack teve mais de 400 cabeças diferentes ao longo do filme e eram 1 2 3 4 5 P L A Y L I S Tsn. SI_400_Playlist.indd 18 19/02/19 17:26 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 2 0 0 E D I Ç Ã O B R U N O G A R A T T O N I Texto Ingrid Luisa e Rafael Popp Ilustração Leonardo Soares necessários três frames (quadros) para cada vez que ele piscava. Já que cada segundo do filme tinha 24 frames, um minuto levava uma se- mana para ser filmado. 4 GATO QUE RI FILME Alice no País das Maravilhas ANO 2010 O gato sorridente é conhecido por ditos ilógicos e por aparecer em uma árvore. E ela foi inspirada por uma árvore real, que está de pé em um jardim no Christ Church College, em Oxford, atrás da antiga casa de Alice Liddell - que inspirou a personagem principal. 5 SPARKY FILME Frankenweenie ANO 2012 Mais de 200 fantoches e cenários foram criados para o filme, incluindo 12 do cão- zinho Sparkys. Vários bonecos do mesmo personagem permiti- ram que se trabalhasse em mais de uma cena ao mesmo tempo. TRÓPICO é uma espécie de SimCity mais realista: além de construir e gerenciar uma nação, você (no papel de um líder chamado “El Presidente”) também pode pagar propinas, fraudar eleições, mentir para a opinião pública e até matar opositores, entre outras gentilezas. No novo game da série, a grande novidade está no povo, que ficou mais difícil de engambelar – agora, cada habitante virtual tem sua própria personalidade, desejos e esperanças. Tropico 6. Para PC, Mac, PS4 e Xbox One. US$ 50. DESDE A ESTREIA DE AVATAR nos cinemas, há quase dez anos, os filmes em 3D foram perdendo relevância – o público simples- mente se cansou do efeito. Mas este sus- pense chinês, sobre um criminoso que ten- ta acertar as contas com o passado, usa a tecnologia de um jeito novo e interessante. O filme é exibido em 2D, mas a projeção muda para 3D (com óculos especiais) na úl- tima cena: uma reconstrução visualmente incrível, com 50 minutos e nenhum corte de câmera, de um sonho do protagonista. Longa Jornada Noite Aden� o. Estreia dia 21/3 nos cinemas. Ele vive em 2D. Mas sonha em 3D DOCUMENTÁRIO Fyre Fes� val Netflix Um festival de música jamais visto, com mais de 30 bandas, centenas de celebridades e influenciadores digitais e milhares de fãs (que pagaram US$ 4 mil cada um) reunidos numa ilha particular nas Bahamas. A ideia era essa. Mas deu tudo errado. E como. FILME Eu Não Sou Um Homem Fácil Netflix Machista e fanfarrão, Damien bate a cabeça e acorda num mundo diferente. Nele, as mulheres dominam a sociedade e agem como homens, tolhendo e assediando o sexo oposto. Comédia divertida e oportuna. ESCREVE O JORNALIS- TA Chico Felitti em seu livro-reportagem sobre a vida de Ricardo Corrêa da Silva: o maquiador que injetou meio litro de silicone industrial no rosto, ficou de- formado (como uma versão demoníaca do personagem infantil Fofão), virou mendigo e se tornou um dos personagens mais estranhos, e assusta- dores, das ruas de São Paulo. Ricardo e Vânia. R$ 54,90. “Foi então que Ricardo começou a pedir dinheiro. E fi cou conhecido como Fofão da Augusta”, A DITADURA EM AÇÃO SI_400_Playlist.indd 19 19/02/19 17:26 0 0 p l a y l i s t 2 / 2 1 2 3 1 2 3 1 2 sn. t e c h LED-LcD Uma corrente elétrica altera o estado físico do cristal líquido, que se torna opaco ou transpa- rente – acendendo ou apagando cada pixel da tela. O problema é que, como o cristal não emite luz própria, a tecnologia requer um backlight (iluminador) tra- seiro. Trata-se de um LED, que fica sempre ligado. Isso causa vazamento de luz e prejudica o contraste da tela. 1.filtros coloridos 2.cristal líquido 3.iluminador (led) 1.filtros coloridos 2.material orgânico 3.eletrodos 1.micro leds 2.eletrodos oLED A tela é feita de materiais orgâ- nicos, como a polianilina, que emitem luz ao receber corrente elétrica. Por isso, ela não preci- sa de backlight. A vantagem é que a tela apresenta mais con- traste e cores mais profundas. A desvantagem é que os pixels emitem menos luz, e por isso a tela tem menos brilho. Ela também pode ficar manchada por imagens estáticas. micro LED A tela é formada por LEDs microscópicos, cada um do tamanho de um pixel (100 mi- crômetros, a espessura de um fio de cabelo). Eles produzem a própria luz, dispensando o ilu- minador, e por isso a tela tem contraste e cores perfeitas. E também produz muito brilho. Resultado: brilho e durabili- dade das televisões LCD, com contraste e cores de OLED. F o t o s D iv u lg a çã o um passo à frente do oled Samsung promete lançar nos próximos meses a primeira televisão com tecnologia Micro LED – que reúne as qualidades das telas OLED e LCD, como alto brilho, cores intensas e contraste perfeito. Veja como ela funciona. Texto Bruno Garattoni SI_400_Tech.indd 20 15/02/19 18:13 0 0 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 2 Universo na mesa kickstarter.com Projeto DeskSpace O que é Uma luminária que reproduz o Sol. Ela é feita de calcita dourada e iluminada por dentro, produzindo uma luz suave e bem bonita. Será fabrica- da em três tamanhos, para uso na mesa ou como aba- jur, e virá com nove esferas de minérios, tamanhos e cores diferentes – reprodu- zindo os planetas do nosso Sistema Solar. Meta US$ 6 mil Chance de rolar b b b b a Desinfetante eletônico kickstarter.com Projeto UVGLO O que é Um gadget que mata vírus e bactérias. Na hora de usar o aparelho, que parece um pendrive, basta conectá-lo à entrada USB do seu smartphone (é compatível com iPhone e vários modelos Android). Ele usa a bateria do celular para alimentar uma lâmpa- da ultravioleta, que elimina 99,9% dos micro-organis- mos em 10 segundos. Meta US$ 25 mil Chance b b b b a você decide Os projetos mais interessantes (e surpreendentes) do mundo do crowdfunding Ioga sem professor cerveja com bluetooth o fim do talho O iPhOne X apresentou ao mundo o “talho” (no- tch), um corte na parte de cima da tela para abrigar a câmera frontal. Apesar de ser bem feinho, ele foi copiado por todos os outros fabricantes. Mas, agora, há uma solução melhor: o Honor View 20 (US$ 650), da chinesa Huawei, tem apenas uma discre- tíssima abertura para a câmera e o sensor de reconhecimento facial. A cAlçA NAdi X vem com um aplicatvo que ensina as principais poses da ioga. Mas o tuque é que ela tem sensores, embutdos no tecido, que detectam se você está fazendo os movimentos direito – e avisa, por meio de pequenas vibrações, quando é necessário corrigir alguma posição. A calça tem versões para homens e mulheres, é à prova d’água (pode ir à máquina de lavar), e custa US$ 249. visão 360 graus O caPacete crOsshelmet X1 tem uma câmera na parte de trás, que capta o que está acon- tecendo ao redor do motociclista. Essa imagem é projetada no visor frontal do capacete, onde apare- ce como se fosse um retrovisor virtual. Ele aumenta bastante a segurança do motociclista – e também mostra informações de GPS, indicando onde e quando virar (você define a rota no seu smartphone). Pena que o produ- to custe caro: US$ 1.600. Os fabricantes de eletrônicOs têm apostado nas chamadas “party speakers”, caixas de som com alto-falantes que mudam de cor e funções para brincar de DJ. A GTK-PG10, da Sony, radicaliza essa tendência: tem até uma espécie de mesinha retrátil para co- locar copos de cerveja (segundo o fabricante, o produto é à prova de derramamento de líquidos). A caixa tem conexão Bluetooth, bateria com 13 horas de autonomia e pesa 6,7 kg. Já está à venda, por US$ 250, nos Estados Unidos. E d i ç ã o b r u n o g a r a t t o n i SI_400_Tech.indd 21 15/02/19 18:13 0 0 t e c h 2 / 2 c a p a a re in ve nç ão d o SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 22 18/02/19 12:49 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 1 0 0 0 Ler, e contolar, pensamentos. Implantar memórias, aumentar a inteligência, tansmitr informações por telepata. Existem cientstas tentando fazer tdo isso – e, em alguns casos, conseguindo. Conheça as pesquisas que pretendem revolucionar a mente humana. Reportagem Bruno Garattoni e Tiago Cordeiro Ilustração Milton Nakata Design Yasmin Ayumi SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 23 18/02/19 12:49 c a p a 2 / 1 0 0 0 No romaNce 1984, George Orwell imaginou um futro em que o Estado fiscaliza até os pensamentos dos cida- dãos. Isso é feito vigiando as pessoas enquanto elas assistem à televisão, um método precário e lento (o protagonista do livro, Winston, só é preso após se- te anos de monitoramento). No futro, isso poderá ser feito em tempo real – e diretamente do cérebro. A ciência ainda está longe de enten- der como a mente humana funciona. Mas de uma coisa ela já sabe: tdo o que se passa dento das nossas cabeças pode ser reduzido aos padrões de sinais eléticos que percorrem as sinapses do cérebro. Se você conseguir captrar e decodificar esses sinais, em tese poderá descobrir o que alguém está pensando. Na últma década, várias equipes de pesquisadores tentaram – e, dentro de certos limites, conseguiram – fazer isso. Primeiro, o voluntário é colocado dento de um aparelho de ressonância magnétca, que enxerga os fluxos de sangue dento do cérebro. Ele cria um mapa com 1 milhão de voxels: cubinhos com 100 mil neurônios cada um. Em seguida, os cientstas mostam determi- nados estímulos para a pessoa – fotos, palavras, sons –, enquanto monitoram o cérebro dela. Cada elemento (a imagem de um pássaro, por exemplo) atva de- terminados conjuntos de neurônios – e a máquina de ressonância, observando o fluxo de sangue para cada um dos voxels, enxerga isso. Repita a medição algumas dezenas ou centenas de vezes, e você terá uma biblioteca de padrões. Quando a pessoa imaginar um pássa- ro, por exemplo, você saberá que esse pensamento atva determinados voxels, e poderá identficá-lo. Em 2017, cientstas da Universidade Carnegie Mellon( combinaram essa técnica com um sistema de inteligên- cia artficial e conseguiram adivinhar, com 87% de acerto, o que os voluntários estavam pensando. Ok, o sistema é pri- mitvo: limita-se a indicar a presença ou ausência de 42 elementos (como “ani- mais”, “violência”, “perigo”, “deslocamen- to”, “pessoas” e “grupo de pessoas”) no pensamento. Mas, em outas pesquisas, esse mesmo método foi além: conse- guiu indicar se os voluntários estavam pensando, ou não, numa determinada imagem ou cena. Talvez seja possível decifrar até um dos fenômenos mais misteriosos da mente humana: os sonhos. É o que acreditam pesquisadores da Universi- dade de Kyoto, no Japão. Eles coloca- ram voluntários para dormir( dento de máquinas de ressonância magnétca. Monitorando a atvidade cerebral dessas pessoas, o sistema foi capaz de detectar a presença ou ausência de 20 elementos (como “carro”, “livro”, “prédio”, “mulher”, “homem”, “rua” ou “comida”) nos sonhos das pessoas. Assim que a pessoa termi- nava de sonhar – o que era constatado monitorando suas ondas cerebrais –, ela era acordada e os cientstas pergunta- vam o que ela havia sonhado. A leitra de padrões cerebrais tem usos nobres, como permitr que pessoas paralisadas voltem a se comunicar. Mas também pode tomar caminhos sinistos, permitndo que regimes totalitários leiam à força a cabeça de alguém. O mais provável é que aconteça o que acon- tece com quase todas as tecnologias: um pouco de cada coisa. 1 Ler pensamentos (e até sonhos) situação atual: teste em humanos Fontes ( Predicting the Brain Activation Pattern Associated With the Propositional Content of a Sentence: Modeling Neural Representa- tions of Events and States. Jing Wang e outros, CMU, 2017. ( Neural Decoding of Visual Imagery During Sleep. Y. Kamitani e outros, 2013. SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 24 18/02/19 12:49 c a p a 3 / 1 0 0 0 Aplique umA corrente elétricA minúscula e imperceptível, de apenas 0,001 ampére, no córtex pré-frontal dorsolateral direito de uma pessoa – e ela passará a mentr menos. Essa foi a conclusão de pesquisadores das univer- sidades de Zurique, Chicago e Cambri- dge(, que colocaram 145 pessoas para jogar dados em frente a uma tela. O processo tnha dez rodadas, e era simples: a pessoa jogava os dados, e aí a tela mostava a lista de combinações premiadas (5+2 ou 2+1, por exemplo). O partcipante ganhava US$ 9 a cada acerto. Mas ele é que deveria dizer se havia de fato acertado, e podia mentr para ganhar mais. Os voluntários não sabiam, mas os cientstas estavam filmando tdo – e constataram que 37% das respostas eram mentirosas. Já com a corrente elética, a tapaça caía para menos da metade: apenas 15% das respostas eram mentrosas. O sistema não é perfeito (12 pessoas eram hipermentrosas e sempre tapaceavam, mesmo sob estímulo elé- tico), mas o efeito é notável – tanto que seus criadores acreditam ter encontado a raiz neuronal da mentra. “O córtex pré-frontal dorsolateral direito [que fica logo atás da testa] está diretamente li- gado à honestdade”, diz Michel André Maréchal, um dos autores do estdo. Dois pesquisadores da Estônia fo- ram além e dispensaram os eletodos: usaram ímãs para interferir com a atvi- dade elética do cérebro de 16 voluntá- rios(. Como você talvez se lembre das aulas de física do colégio, toda corrente elética produz um campo magnétco. Isso também vale para a eleticidade que passa pelos nossos neurônios, e também funciona ao contário: se vo- cê interferir no campo magnétco, vai alterar a corrente elética. Os cientstas aproveitaram esse princípio para criar um sistema de indução mental sem fio. Eles colocaram ímãs perto da nuca dos voluntários e mostraram discos coloridos a eles. O voluntário tinha que dizer qual cor estava vendo – e era instuído a tentar mentr. Metade das pessoas recebeu pulsos magnétcos no córtex pré-frontal dorsolateral direito. E, por isso, mentu menos. Curiosamen- te, quando os cientstas estmulavam o córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo, o efeito era oposto – e os voluntários conseguiam mentr mais vezes. Além de fazer as pessoas mentrem mais, é possível tansformá-las em men- trosas mais convincentes. A chave é aplicar uma corrente elética muito pe- quena no córtex pré-frontal anterior, área ligada à cognição e às emoções. Pesquisadores da Universidade de Tue- bingen, na Alemanha, aplicaram sinais eléticos para reduzir temporariamente a atvidade dessa região – e pessoas an- tes propensas à honestdade passaram a mentr melhor(. A pesquisa reuniu 22 voluntários numa simulação: eles in- terpretavam funcionários que tnham desviado dinheiro de suas empresas e seriam interrogados por um detetve. Caso conseguissem enganá-lo, pode- riam ficar com o valor roubado (20 euros). Quando recebiam o estímulo elético, os partcipantes mentam com mais segurança. Ficavam mais tanqui- los ao negar envolvimento e pareciam mais capazes de escolher em quais si- tações seria melhor distorcer dados, de forma a enganar o interrogador sem deixar a mentra óbvia demais. 2 impedir a mentira. ou torná-la mais convincente Uma técnica que combina ressonância magnética e inteligência artifcial já permite deduzir o que uma pessoa está pensando – com até 87% de acerto. situação atual: teste em humanos ( Increasing Honesty in Humans with Noninvasive Brain Stimulation, Michel André Maréchal e outros, 2017. ( Efect of Prefrontal Trans- cranial Magnetic Stimulation on Spontaneous Truth-Telling, Inga Kartonab e Talis Bachmannc, 2011.( The Truth about Lying: Inhibition of the Anterior Prefrontal Cortex Improves Deceptive Behavior. Ahmed A. Karim e outros, 2010. - SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 25 18/02/19 12:49 c a p a 4 / 1 0 0 0 EscanEar o cérEbro humano E rEcriá-lo Em computador, pre- servando a memória e a consciência das pessoas – que viveriam após a morte como simulações de computador. Esse é um dos cenários mais recorrentes, e menos realistas, da ficção científica. Mas isso não significa que não haja pesquisadores tentando ir nessa dire- ção. A principal iniciatva é o Human Connectome Project, criado em 2009 pelo governo dos EUA em parceria com seis universidades. Seu objetvo é produzir um “conectoma”, ou seja, um mapa com todas as conexões neurais do cérebro humano. Esse mapa pode- ria ser reproduzido e executado num supercomputador, o que representaria a criação de uma inteligência artficial jamais vista – e o primeiro passo para a digitalização da mente humana. Parece megalomaníaco, e é mesmo. Mas tem certo nexo. Em 2005, o projeto Blue Brain, criado pelo governo da Suíça e pela IBM, conseguiu escanear e simular em computador 31 mil neurônios (e 37 milhões de sinapses) do córtex primário somatossensorial de um rato(. É um nada – não dá nem 0,02% dos neurônios do bichinho –, mas mosta que a téc- nica em si funciona. O grande desafio é escanear nossa massa cinzenta, um verdadeiro universo (o cérebro humano tem 250 vezes mais sinapses do que há de estelas na Via Láctea), e criar computadores potentes o bastante para rodar uma simulação dela. Para tentar resolver o primeiro pro- blema, cientstas do Hospital Geral de Massachusetts usaram um novo tpo de ressonância magnétca, que tabalha com campo magnétco de 7 tesla – qua- se cinco vezes mais intenso do que as máquinas comuns. O resultado é uma imagem 3D que mosta, com resolução muito maior, a estutra e as conexões do cérebro. Em 2017, os pesquisadores escanearam o cérebro de 1.200 volun- tários e colocaram os resultados na in- ternet(. Mas ainda estão longe do fim. “Vamos precisar de pelo menos uma década para terminar de mapear o cére- bro, porque é necessário gerar imagens em alta resolução de cada neurônio e cada conexão. E essa nem é a parte mais difícil”, explica o neurocientsta holandês Randal Koene, cofundador da empresa Carbon Copies, que tenta descobrir como reproduzir a mente hu- mana em computador. “Depois vamos precisar jogar esses dados num sistema capaz de rodá-los. É possível que na dé- cada de 2030 sejamos capazes de fazer isso com cérebros menores, como o de moscas”, diz. O Human Brain Project, que é ban- cado pela União Europeia, está tentan- do vencer os obstáculos tecnológicos. E eles são ainda maiores do que o es- caneamento do cérebro. O objetvo do projeto é criar um supercomputador capaz de armazenar, manipular e execu- tar, em tempo real, um banco de dados com 1,1 bilhão de terabytes, o tamanho estmado do conectoma humano. Isso é mil vezes mais do que todos os dados do Google, do Facebook, da Microsoft e da Amazon – somados. Em suma: impossível não é, mas estamos longe. Se um dia conseguir- mos, vai demorar. Por isso uma startp chamada Nectome, criada por dois est- dantes do MIT, propôs uma solução: um serviço de preservação supostamente capaz de manter o cérebro intacto por décadas, até que a ciência seja capaz de reproduzi-lo em computador. A em- presa demonstrou sua técnica num cérebro de porco, que manteve as si- napses intactas. Mas tem sido vista com cetcismo pela comunidade científica, inclusive por um detalhe macabro: seu procedimento, que é letal, precisa ser feito com o cérebro ainda vivo. 3 fazer upload da consciência e de memórias só existe em teoria situação atual: Em tese, é até possível reproduzir o cérebro humano em computador. Mas a máquina teria de lidar com 1,1 bilhão de terabytes. Fontes ( Reconstruction and Simulation of Neocortical Microcircuitry, Henry Markram e outros, 2005. ( https://www.humanconnectome.org/study/hcp-young-adult/document/1200-subjects-data-release SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 26 18/02/19 12:49 c a p a 5 / 1 0 0 0 É possível acelerar o aprendi- zado em 40%. Pelo menos em maca- cos. Em 2017, a Agência de Projetos de Defesa Avançados (Darpa), a divisão de tecnologia do Pentágono, publicou um estdo( relatando essa façanha, alcan- çada em testes com dois animais. Ambos já eram adultos – tnham 4 e 10 anos de idade –, mas mesmo assim os militares conseguiram aumentar drastcamente sua capacidade de aprender. Na experiência, os bichos viam fotos de paisagens numa tela. Podiam obser- var cada uma por 15 segundos. Eles não sabiam, mas havia um pequeno alvo de- senhado em cada foto – se os bichos olhassem para esse ponto, ganhavam suco como recompensa. Normalmen- te, macacos rhesus levam em média 21 tentatvas até entender esse jogo. Mas as duas cobaias da Darpa, que receberam 0,002 ampére de corrente elética no córtex pré-frontal, foram muito me- lhores: dominaram o jogo em apenas 12 rodadas. Os cientstas já esperavam esse resultado, supostamente ligado ao aumento na frequência de disparos dos neurônios. Mas constataram que a ex- plicação não era bem essa. O estímulo elético não interferia com os neurônios em si. Fazia algo maior: melhorava a conexão ente regiões do cérebro. “Essa técnica provoca mudanças na excitabi- lidade dos neurônios de áreas especí- ficas. E, por isso, também uma ampla melhoria na capacidade de processar informação”, diz Donel Martin, psi- quiata e pesquisador da Universidade de New South Wales, na Austália. De- pendendo da corrente elética aplicada, é possível despolarizar ou hiperpolarizar grupos de neurônios, ou seja, torná-los mais ou menos sensíveis aos sinais de outros neurônios. Martin usou essa técnica em humanos. Ele colocou 54 pessoas para resolver problemas de lógica, com dificuldade crescente, en- volvendo formas e cores. Metade dos voluntários recebeu estímulos eléticos –e solucionou as charadas de forma mais rápida e correta(. “O tatamento é eficaz para facilitar o aprendizado de qualquer tpo de conhecimento”, afir- ma ele. Há estdos indicando que essa técnica, chamada tDCS (estmulação tanscraniana por corrente contínua), também pode acelerar o aprendizado de matemática e idiomas(5)(6). Além disso, o benefício parece ser de longo prazo. Na experiência de matemátca, realizada na Universidade de Oxford, o efeito persistu por seis meses após as sessões. Nas experiências com a técnica, menos de 1% das pessoas relata algum tpo de desconforto relacionado à cor- rente elética. A esmagadora maioria nem percebe que está sob efeito dela. Por que, então, não há aparelhos do tpo sendo vendidos para todos os estdantes do planeta? “Os efeitos da tDCS ainda não são totalmente compreendidos”, diz o neurologista Pedro Vieira, pós- doutorando do Insttto Neurológico de Monteal e especialista na técnica. “Ela induz grandes oscilações nas ondas cerebrais de baixa frequência, o que por sua vez amplia a conectvidade ente neurônios próximos e áreas distantes do cérebro de maneiras ainda imprevisíveis, e que poderiam provocar danos”, afirma. Na dúvida, melhor não arriscar. 4 cogniçãoteste em humanos aumentar asituação atual: (Transcranial Direct Current Stimulation Facilitates Associative Learning. Matthew R. Krause e outros, 2017. ( Can Transcranial Direct Current Stimulation Enhance Outcomes from Cognitive Training?, Donel M. Martin e outros, 2013. ( Long-Term Enhancement of Brain Function and Cognition Using Cognitive Training and Brain Stimulation. Albert Snowball e outros, Universidade de Oxford, 2013.( Noninvasive brain stimulation improves language learning. Universidade de Munster, 2008. - SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 27 18/02/19 12:49 c a p a 6 / 1 0 0 0 No coNto Nós Podemos Lembrar Por Você, escrito pelo americano Phi- lip K. Dick em 1966, Marte já foi coloni- zada pelo homem – e o protagonista da história, Douglas, sonha em ir até lá. Só que custa muito caro, e por isso Douglas escolhe a segunda melhor opção: vai até uma empresa especializada e paga para ter memórias de Marte implantadas em seu cérebro. O que ele não sabe é que, na verdade, já havia estado no planeta vermelho – mas suas lembranças dis- so haviam sido apagadas pelo governo. Um delírio e tanto. Mas, na vida real, já existem pes- quisas tentando fazer as duas coisas: apagar e criar memórias. Em 2012 o neurologista Todd Sacktor, da Univer- sidade Columbia, conseguiu eliminar uma lembrança do cérebro de ratos, que haviam sido condicionados a evitar alimentos doces. Ele descobriu que, se uma proteína cerebral chamada PKM- zeta( fosse inibida enquanto o rato se lembrava daquela memória (é melhor não comer doces), ela era destuída – e, posteriormente, o bichinho passava a ingerir açúcar como se não houvesse amanhã. A ideia é criar um procedimen- to que, no futro, possa ser usado para eliminar taumas da mente humana. A indução de memórias também já foi demonstada em camundongos de laboratório. Tudo começou em 2013, quando o MIT usou engenharia gené- tca para criar ratos com uma caracte- rístca insólita: partes do seu cérebro podem ser ativadas, ou desativadas, usando luz(. Primeiro os pesquisa- dores injetaram nos animais um ví- rus capaz de alterar o funcionamento dos neurônios do hipocampo, área relacionada à formação de memórias. Depois inseriram, cirurgicamente, uma fibra óptca nos cérebros dos pobres bichinhos, para iluminar o hipocampo com luz infravermelha. Feito isso, ini- ciaram o experimento. Primeiro, cada rato era colocado num ambiente seguro, enquanto a atvidade do seu hipocampo era gravada. No dia seguinte, a cobaia era levada para um lugar ruim, onde recebia choques eléticos nas patas. Só que, eis o tuque, os cientstas ligavam a fibra óptca – e ela atvava os mesmos grupos de neurônios que o rato tnha acionado na véspera, quando não havia perigo. Resultado: o bichinho associou a memória da primeira gaiola aos choques e passou a ter medo dela, onde jamais sofrera maus-tatos. Pior: os ratos só te- miam esse local – não tnham qualquer receio da gaiola de tortra. Os cientstas tnham plantado uma memória falsa. Uma equipe de cientstas franceses conseguiu algo ainda mais impressio- nante: inserir lembranças positvas no cérebro de 40 camundongos enquan- to eles dormiam(. Os pesquisadores notaram que determinada região do hipocampo era atvada quando os ra- tos entavam em certa gaiola. Então colocaram os bichos várias vezes ali, até que perceberam que aquela região ficava atva mesmo enquanto os ratos dormiam. (Não se sabe o motvo, mas talvez eles estvessem sonhando com a gaiola). Com os ratos adormecidos, os cientistas estimularam uma área cerebral que dispara a produção de dopamina, neurotansmissor relacio- nado ao prazer. Ao acordar, os ratos passaram a adorar aquela gaiola e passar cinco vezes mais tempo dento dela. Não havia motvo objetvo para isso: eles nunca tnham ganho comida, ou qualquer coisa boa, ali. Era uma falsa memória. Experiências em ratos conseguiram apagar lembranças traumáticas. E também fazer o oposto: criar a memória de algo que jamais ocorreu. 5 memóriasExpEriências Em animais implantarsituação atual: Fontes ( The Genetics of PKMZ and Memory Maintenance. T. Sacktor e outros, 2017. ( Creating a False Memory in the Hippocampus, Steve Ramirez e outros, 2013. ( Explicit Memory Creation During Sleep Demonstrates a Causal Role of Place Cells in Navigation, Gaetan de Lavilléon e outros, 2015. SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 28 18/02/19 13:33 c a p a 7 / 1 0 0 0 Como voCê já deve ter perCebido ao usar o contole remoto da sua TV, a luz infravermelha é facilmente bloque- ada por obstáculos. Mas ela atavessa materiais mais porosos, como ossos – inclusive os da caixa craniana. Expe- riências feitas pela empresa americana Neuro-Laser( constataram que a luz infravermelha é capaz de penetar até 30 mm de tecido ósseo. Daria tanqui- lamente para atavessar a caixa craniana humana, cuja espessura média é de 4 a 9 milímetos, dependendo do pon- to. Isso significa que, teoricamente, é possível estmular o cérebro com luz sem precisar abrir a cabeça da cobaia. E isso, em macacos, já foi feito. Como os camundongos do texto anterior [veja página ao lado], eles foram infectados com um vírus que altera o funciona- mento dos neurônios. Essa técnica se chama optogenétca, e consiste em aco- plar um vírus (geralmente um adenoví- rus, que normalmente causa infecções respiratórias) com genes que estmulam a produção de rodopsina, uma proteína fotossensível – ou seja, que converte luminosidade em sinais eléticos. Ela é fabricada natralmente nos olhos, onde nos ajuda a enxergar. Mas, se for inse- rida no cérebro, produz algo anormal: torna os neurônios sensíveis à luz. Numa experiência realizada por cien- tstas da Universidade de Cambridge e do MIT, os cérebros de macacos foram estmulados com luz infravermelha( enquanto eles tnham de tomar deci- sões simples, como escolher ente duas guloseimas. Quando o infravermelho estava ligado, o cérebro aumentava a produção de dopamina – e o animal sempre preferia a guloseima que estava comendo, mesmo se ela fosse idêntca à outa. O efeito era desencadeado por luz, sem a necessidade de um implan- te cerebral. Mas ainda há um grande obstáculo: o vírus tem de ser injetado diretamente no cérebro, o que é exte- mamente invasivo e perigoso. Mikhail Shapiro, professor de enge- nharia química do Insttto de Tecno- logia da Califórnia (Caltech), descobriu um jeito de resolver isso. Injetou bolhas de ar muito pequenas, com nanôme- tos de diâmeto, na corrente sanguínea de ratos(. E encostou um aparelho de ultassom na cabeça deles. Quando o sangue estava chegando ao cérebro, o ultassom agia sobre as bolhinhas, fa- zendo elas vibrarem – e abrindo peque- nas brechas na barreira hematoencefá- lica (uma camada de sangue, também presente em humanos, que envolve o cérebro e bloqueia a entada da maioria das moléculas). Com isso, Shapiro con- seguiu intoduzir vírus optogenétcos sem precisar abrir a cabeça dos animais. Bastou uma reles injeção na veia, com uma ajudinha do ultassom, e os bichos estavam hackeados pelo resto da vida. Se um dia for aplicada em humanos, a optogenétca poderia ser usada pa- ra distorcer totalmente a realidade de uma pessoa. Ela funcionaria como uma hiperdroga, capaz de manipular o indi- víduo a tal ponto que ele faria qualquer coisa em toca de mais dopamina. Não à toa, a Darpa (divisão de tecnologia do Pentágono) tem olhado essa técnica com atenção, e financia pesquisas a respeito em várias universidades. Um dos proje- tos mais ambiciosos é o CortcalSight, que reúne a Universidade Stanford e quatro empresas de biotecnologia. Ele pretende usar a optogenétca para conectar uma microcâmera, sem fios, ao córtex visual humano. Se der certo, isso poderá significar a cura de quase todos os casos de cegueira. E também o princípio de uma era obscura – onde seria possível fazer uma pessoa enxer- gar coisas que, na verdade, não existem. 6 de pensamentosExpEriências Em animais exercer controle externosituação atual: ( Near-infrared photonic energy penetration: can infrared phototherapy efectively reach the human brain? TA Hender- son, 2015.( Dopamine Neuron-Specific Optogenetic Stimulation in Rhesus Macaques. William R. Stauffer, e outros, 2016. ( Acoustically targeted chemogenetics for the non-invasive control of neural circuits. M. Shapiro e outros, 2018. - SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 29 18/02/19 13:34 c a p a 8 / 1 0 0 0 Como voCê viu nesta reporta- gem, a ciência já sabe como captrar e decodificar padrões neuronais – e também induzir respostas cerebrais usando pulsos magnétcos e sinais elé- ticos. Mas, até agosto de 2013, ninguém havia tentado fazer o óbvio: juntar as duas coisas e criar um sistema que per- mitsse comunicação direta, telepátca, ente dois cérebros humanos. Naque- le ano, um grupo da Universidade de Washington conseguiu conectar as mentes de duas pessoas pela internet. As cobaias foram os próprios autores da pesquisa, os neurocientstas Rajesh Rao e Andrea Stocco. O primeiro vestu um capacete de eletoencefalograma, que detecta ondas cerebrais e permi- te identficar sinais básicos – dá para saber, por exemplo, quando a pessoa pensa em mexer o próprio braço. Já o outo colocou uma touca conectada a um aparelho de estmulação magné- tca tanscraniana, que usa ímãs para interferir com a atvidade elética de determinadas regiões do cérebro [leia mais na pág. 25]. Rao tnha à sua frente um joguinho de computador cujo obje- tvo era disparar mísseis conta navios inimigos (sem acertar os aviões aliados que passavam voando). Andrea estava numa sala a 1 km de distância, onde também iria jogar aquele game. Mas com uma enorme diferença: ele ficava de costas para a tela. Seria guiado, apenas, pelas ondas cerebrais do colega. E aí aconteceu. Rao decidiu atrar. Ele não acionou o joystck; simples- mente imaginou o gesto. Isso gerou ondas cerebrais que foram tansmitdas para Stocco – cuja mão, incrivelmen- te, apertou sozinha o botão de disparo. A façanha foi o resultado de mais de dez anos de pesquisas, e o começo de uma série de outas experiências. Em 2018, os pesquisadores da Universidade de Washington conectaram tês pesso- as, que jogaram uma espécie de Tetis colaboratvo: os dois primeiros pensa- vam em quais peças mexer e seus cére- bros enviavam as ordens para o terceiro. Ele ficava de costas para a tela, mas mesmo assim conseguia jogar – pois sua mente executava automatcamente as ordens enviadas pelos outos dois(. Duas empresas, a espanhola Starlab e a francesa Axilum, usaram uma técnica parecida para conectar um voluntário na Índia a outo na França(. Eles se comunicaram usando uma espécie de código Morse, formado por sequências de pulsos (que tveram de aprender an- tes). O indiano usou essa linguagem pa- ra formar duas palavras e pensou nelas. Alguns minutos depois, elas chegaram à mente do francês – que pensou, acer- tadamente, em “hola” e “ciao”. Mas isso não quer dizer muita coisa; ele poderia simplesmente estar chutando. A prova de que é possível tansmitr informa- ções só veio no ano seguinte, quando a Universidade de Washington fez uma experiência parecida com dez pessoas. Eles foram agrupados em pares, se- parados em salas diferentes, e colocados para jogar um jogo de adivinhação(. A primeira pessoa, chamada de “analista”, via objetos numa tela. A outa, batzada de “jogadora”, tnha de adivinhar quais eram. Um teste muito difícil; tanto que os jogadores só acertavam, por puro chute, 18% das respostas. Mas, quando a tansmissão de ondas cerebrais foi ligada, o índice de acerto disparou: 72%. Segundo os cientstas, a técnica tam- bém poderia ser usada para tansmitr sinais ente estdantes. “Imagine um aluno com déficit de atenção (DDA), e outo normal”, declarou a neurocien- tista Chantel Prat, uma das autoras do estdo, ao jornal da universidade. “Quando o estdante normal estvesse prestando atenção, o cérebro do outo seria automatcamente colocado num estado de maior foco”, disse. Mais do que telepata, sincronia de mentes. S 7 por telepatiateste em humanos transmitir informaçõessituação atual: Duas pessoas tomaram decisões – e seus cérebros enviaram as ordens para uma terceira, cuja mente executou as ações. SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 30 18/02/19 12:50 c a p a 9 / 1 0 0 0 Fontes ( BrainNet: A Multi-Person Brain-to-Brain Interface for Direct Collaboration Between Brains, L. Jiang e outros, 2018. ( Conscious Brain-to-Brain Communication in Humans Using Non-Invasive Technologies, C. Grau e outros, 2014. ( Playing 20 Questions with the Mind: Collaborative Problem Solving by Humans Using a Brain-to-Brain Interface. Andrea Stocco e outros, 2015. SI_400_MatCapa_Cerebros.indd 31 18/02/19 12:50 c a p a 1 0 / 1 0 0 0 h i s t ó r i a Uma longa história da Eugenia Francis Galton, pai da eugenia SI_400_Eugenia.indd 32 18/02/19 16:06 s u p e r i n t e r e s s a n t e 1 / 8 0 0 A busca pela “raça pura” não é só coisa de nazista: foi um fenômeno mundial. E o seu fan- tasma ainda ronda a sociedade. Texto Bruno Vaiano Ilustrações Marcel Lisboa Design Carol Malavolta Edição Alexandre Versignassi Charles Davenport, higienista genético. SI_400_Eugenia.indd 33 18/02/19 15:33 0 0 h i s t ó r i a 2 / 8 a Algo cheirAvA mAl na Inglaterra da rainha Vitó- ria. Após tês surtos de cólera e um episódio de calor intenso no verão de 1858, batzado de Gran- de Fedor (em maiúsculas, mesmo), despejar todo o cocô de Londres no Rio Tâmisa não parecia mais uma boa ideia. Saneamento básico e saúde pública eram tão discutdos no fim do sé- culo 19 quanto a corrup- ção em Brasília é hoje. A Revolução Industial ha- via criado uma pobreza inédita, diferente da do camponês que plantava por subsistência. Ope- rários da indústia têxtl e da constução naval se empilhavam em cortços, sem acesso a água tatada. Frequentavam pubs e bor- déis, eram desnutidos, al- coólatas e tnham filhos – muitos filhos. Francis Galton, rico herdeiro de uma famí- lia tradicional, viu na periferia de Londres um problema darwinista. Ao pé da leta: ele era primo de Charles Darwin, e ha- via lido (ou melhor, devo- rado) a Origem das Espécies logo após o lançamento, em 1859. O que Darwin afirmou, grosso modo, foi o seguinte: filhotes de uma ninhada nascem com diferenças suts. Os que forem mais aptos – graças a dentes afiados, tímpanos aguçados ou músculos de contação mais rápida – conseguem mais água, alimento e sexo. Assim, eles têm mais filhotes, e seus taços hereditários vantajosos prevalecem na população. Evolução por seleção natral. Darwin não mencio- na o ser humano uma única vez no livro; mes- mo assim, acendeu uma lâmpada na cabeça de Galton. Ele não só notou que a sobrevivência dos bem adaptados se aplica- va ao Homo sapiens como concluiu que só havia um jeito de salvar a “raça eu- ropeia”: acelerar artficial- mente, (por decreto, até) a atação da seleção natral. Para Galton, era ne- cessário desestmular o coito ente humanos que a elite econômica via co- mo vira-latas e incentvar os humanos de raça, com pedigree. Empreender um SI_400_Eugenia.indd 34 18/02/19 15:33 0 0 h i s t ó r i a 3 / 8 aperfeiçoamento autodi- rigido, para o bem do pró- prio povo. Em 1883, Gal- ton deu à estatégia um nome: eugenia. Vem do grego: eu significa “bom”, gene significa “linhagem”, “raça”, “parentesco”. “Estamos muito ne- cessitados de uma pala- vra breve para a ciência de melhorar a estirpe”, afirmou Galton. “Para dar às raças ou linhagens de sangue mais adequado uma chance melhor de prevalecer depressa so- bre as menos adequadas.” Para Galton, a tendên- cia à miséria, ao vício e à doença era tão heredi- tária quanto a altra ou a cor dos cabelos. Se os filhos dos inaptos já iam morrer pela mão cruel da seleção natral, era me- lhor que não nascessem: “O que a natreza faz às cegas (...) o homem pode fazer com previdência, rapidez e bondade”. Ele se tornou uma má- quina de coleta de dados. Tirava as medidas corpo- rais de famílias inteiras em busca de uma expli- cação para o fenômeno da hereditariedade (lembre- se: a genétca de Mendel ainda estava escondida na gaveta). Em 1877, nu- ma espécie de Minority Report do século 19, ele esquadrinhou os rostos de condenados tentando atibuir um tpo de crime a cada fisionomia. Galton queria tansformar a hu- manidade em uma imensa planilha de Excel. E dele- tar as colunas incômodas. Essas ideias foram re- cebidas como a vanguarda da ciência. No início do sé- culo 20, Londres sediaria o primeiro congresso internacional de eugenia. A Inglaterra não chegou a colocar em prática as ideias de Galton. Dezenas de outas nações, porém, as abraçaram. A mais de- dicada delas, nas primeiras décadas, não foi a Alema- nha – e sim os EUA. Eugenia ianque Em 1907, o Estado de In- diana adotou a primeira lei de esterilização com- pulsória do mundo. Ente 1907 e a década de 1960, mais de 64 mil america- nos considerados “inap- tos” evolutvamente foram castados com anuência das autoridades. Eram al- coólatas, esquizofrênicos, epiléticos, criminosos, prostitutas... Essa mo- dalidade de eugenia era chamada de negativa. Um relatório sobre o resultado da prática na Califórnia – recordista de esterilização ente os 32 Estados que a adotaram – serviu de inspiração pa- ra os oficiais nazistas que implantaram a prátca do outo lado do Atlântco. Também havia a eu- genia positva: incentvar a reprodução dos aptos. Tornaram-se comuns as Fitter Family Fairs (“feiras de famílias mais aptas”, em português), em que casais com ge- nes supostamente bons eram exibidos em pódios e ganhavam medalhas. Um dos símbolos da eugenia americana foi Charles Davenport, mandachuva do Eugenics Record Office (ERO) – o cento de pesquisa em Cold Spring Harbour, Nova York, que encabe- çou os esforços de hi- gienização genétca. Ele era contra casamentos interraciais (comentare- mos a relação da eugenia com o racismo nos pró- ximos parágrafos) e via a Galton pôs a humani- dade numa planilha de Excel. E queria deletar as colunas incômodas. - Os eugenis- tas mediam fsionomias, crânios e cérebros em busca de “inaptos”. SI_400_Eugenia.indd 35 18/02/19 16:06 0 0 h i s t ó r i a 4 / 8 100 150 200 250 300 350 100 150 200 250 300 100 150 200 250 300 350 100 150 200 250 300 Mulher branca Mulher negra Homem branco mm mm mm mm Homem negro Esplênio J o e l h o Fonte: Some Racial Peculiarities of the Negro Brain, Robert Bennett Bean (1906); On several anatomical characters of the human brain, said to vary according to race and sex, with especial reference to the weight of the frontal lobe, Franklin Paine Mall (1909). Dois gráfcos medindo regiões do cérebro cha- madas joelho e esplênio conforme a etnia: um com viés racista, outro não. As curvAs do preconceito Pesquisador que sabia a etnia de cada cérebro. Pesquisador que refez o estudo sem saber a etnia dos cérebros. entada de imigrantes do sul da Europa e da Ásia como um risco à boa es- trpe americana. Davenport, de bobo, não tnha nada. Aplicando a lógica de tansmissão de característcas hereditá- rias descoberta por Men- del em seus experimentos com ervilhas, identficou corretamente que a do- ença de Huntngton era um taço dominante, e o albinismo, recessivo. O problema é que ele exta- polava a lógica: começou a inventar genes para tdo – até um das famílias de construtores de barcos. Não havia espaço para o óbvio: que um filho tende a seguir o ofício do pai. Tudo era herdado. No porto de Ellis Is- land, também em Nova York, imigrantes recém- chegados da Itália, da Grécia e dos países do bloco comunista eram submetidos a testes de QI. “O propósito de apli- car a escala de medição mental em Ellis Island é peneirar os imigrantes que podem (...) se tornar um fardo para o Estado ou produzir prole que vai requerer vagas em prisões ou asilos”, afirmou em 1915 o médico Howard Knox. Xingamentos
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