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IDADE MÉDIA1 Profs.: Leandro de M. Augusto e Sara Isa L. da Silva Figura 1 Jogo eletrônico online Tribal Wars 2 Antes do início da Era Cristã (Idade Média), o império romano estava enfraquecido por diversos motivos, dentre eles, talvez o principal seja o surgimento dos hunos, liderados por Atila. Os hunos passaram a conquistar regiões dos germânicos – ou como conhecemos, “povos bárbaros”2 –, que com medo começaram e migar para dentro das fronteiras do império. Inicialmente os godos, se aliaram aos romanos, sob a condição de defenderem as fronteiras dos invasores (=fronteiras humanas). Mais tarde com a chegada dos suevos, alanos, 1 Afim de deixar a leitura mais dinâmica todas as referências bibliográficas estarão ao final deste texto. vândalos, francos, lombardos, anglo e saxões, etc., ocasionou uma confluência tão grande entre esses povos que resultou inicialmente numa escalada de violência generalizada, e posteriormente na conquista de diversos territórios europeus, na ruralização e no declínio das práticas comerciais, resultando na fusão entre o mundo germânico e o mundo romano. Dessa convergência de povos nascerá o que conhecemos como Idade Média. Dentre todos esses povos germânicos, os francos se destacaram no estabelecimento de um governo forte e centralizado na região onde hoje se encontra a França. O rei dos francos, Clóvis, foi responsável pela fundação da Dinastia Merovíngia, e para garantir sua hegemonia política firmou alianças com os bispos e em 496 tornou o reino em católico. Quando a dinastia Merovíngia entrou em crise, Carlos Martel, assumiu o trono, conquistando prestígio entre a nobreza e a Igreja, impedido o avanço dos mouros (mulçumanos) na batalha de Poitiers. E foi durante esse período que deu-se início ao processo de formação da sociedade feudal, no qual a ruralização aumentou a atuação política dos donos de terras descentralizando o poder dos reis. 2 Povos bárbaros eram todos aqueles povos que não possuíam a mesma cultura dos romanos. Figura 2 Coroação de Carlos Magno - Getty Images Pepino, o Breve, assumiria o trono após a morte de seu pai, dando início a Dinastia Carolíngia. Sua maior contribuição foi a doação de uma porção de terras para a Igreja, reaproximando-a do Estado. Seu filho, Carlos Magno, assumiria o comando sendo coroado em 25 de dezembro de 800, pelo papa Leão III, como novo imperador do Império Romano do Ocidente. Carlos fora responsável por inúmeras reformas, dentre elas a ortográfica, que possibilitou a introdução da pontuação, a criação dos condados, dando aos condes enormes extensões de terras, a criação de cargos fiscais, dentre outras. É através das reformas de Carlos Magno que tem se início o sistema feudal, que posteriormente irá se expandir por toda Europa. Alguns aspectos sociais Um dos aspectos medievais era a forma como o tempo era percebido, pois havia o tempo natural, senhorial e o religioso. O tempo natural era cíclico, o tempo da natureza e das estações do ano; o tempo senhorial era marcado pelas guerras, conflitos e reuniões dos senhores; já o tempo religioso era o das festividades relacionadas à Bíblia e também dos descansos. A religiosidade era dominada pela percepção de dualidade do mundo: Deus, o criador de tudo, e o Diabo, o propagador do mal. Essa batalha entre bem e mal ocorria dentro da mente dos medievos, os fazendo limitar suas ações3, para que no pós morte pudessem ir para o Paraíso, e no máximo para o Purgatório (lugar onde as almas dos que cometeram pecado, e confessaram antes da morte, se encontram até que consigam ir para o Paraíso), pois ninguém gostaria de ir para o Inferno. Os medievos percebiam e entendiam o espaço que o cercavam pela fixação e ligação ao solo, que era delimitada através de uma rígida organização social simbolizada materialmente pelo feudo, em outras palavras, a organização social em feudos estabelecia o local de cada um. 3 Limitar suas ações significava ser um bom cristão, orando para Deus, seguindo os mandamentos da Igreja, etc. A Sociedade Era composta pelo Clero, Nobreza e Servos. Não se permitia a mobilidade entre as classes sociais e isso era sempre reafirmado pelos membros do clero. E dentro dessas três classes existiam apenas duas condições básicas no qual os indivíduos se encontram: senhor e servo. Figura 3 Pirâmide social medieval O nobre era reconhecido como senhor feudal, sendo representante do rei. O clero, tinha o papel religioso e de também justificar as pessoa também deveria ter moderação em suas atitudes, tais como controlar o riso ou não praticar atos que eram ideias e ações de todos. Os servos, numericamente, representavam a grande maioria da população e consequentemente não possuíam direitos próprios, exceto aqueles ligados às obrigações ao seu senhor. Os senhores feudais e os servos estavam sujeitos à lei divina e ao julgamento dos homens, enquanto o clero só poderia ser julgá-lo pela lei divina. O clero era a única classe que detinha o poder “verdadeiro” da escrita e leitura, além de serem responsáveis pela organização da sociedade, da vida política e também do desenvolvimento cultural, em outras palavras, detinham a supremacia política, econômica e cultural, pois se entendiam como os representantes de Deus na terra. Existiam quatro tipos de servidão, mas independentemente de sua posição, os servos não eram escravos, na medida em que ele não possuía um dono, porém habitavam em terras cedidas pelos senhores para que pudessem explorá-las para sua própria sobrevivência, entretanto, tinham que entregar parte de tudo o que produziam, além de inúmeras outras taxas, que eram responsáveis por tirarem dos servos praticamente tudo o que eles produziam. Entretanto, havia um sistema de trocas entre os considerados “antinaturais” como, por exemplo, escrever com a mão esquerda. camponeses que não tinha nenhum intermediário, tal como ocorre nos dias de hoje. Figura 4 Meme sobre os Diretos de um Plebeu - Memes Nobres para Plebeus Ociosos Os nobres, os senhores feudais, eram os responsáveis pelas terras, e por isso podiam concede-las em trocas de serviços prestados. Aquele que concedia a terra era chamado de suserano e aquele que recebia era o vassalo. Através de uma cerimônia pública (auxilium e consilium), o nobre jurava fidelidade para seu suserano, se tornando seu homem. O rei era aquele que possuía muitos vassalos e isso geralmente não o colocava num status superior, mas sim numa posição de igualdade e dependência. Feudalismo (séc. IX ao XIII) Existiam diversos tipos de Feudalismo, cada um com suas características e especificidades. Enquanto na Inglaterra, por exemplo, havia um poder central forte e uma grande justiça popular, na Espanha surgiu senhores feudais com um forte poder militar vinculados entre si em torno da figura do Rei. O feudalismo se entende a partir do definhamento de uma estrutura econômica de produção em grande escala, como existia no antigo Império Romano, sendo um sistema de reciprocidade – onde um indivíduo se colocava em subordinação de outro –, baseado na produção agrícola e com forte ligação a terra. O feudo era a base física do sistema: um grande latifúndio, que variava de tamanho e estava concentrado nas mãos dos senhores feudais. Era dividido em três formas de uso: - Terras em comum (de uso coletivo no qual todos podiam usar); - Domínio Senhorial (terras de posse exclusiva do senhor e de sua família, onde se encontrava o castelo e a maior parte das terras); - Manso Servil (terras exploradas pelos servos). Figura 5 Exemplo de um feudo Graças às práticas ruraisque o sistema proporcionava, houve um grande avanço na tecnologia ligada ao campo como a criação do sistema trienal, a criação da metalurgia, a utilização do arreio, a criação da charrua, adubação orgânica e o uso do moinho d’água. Tais tecnologias facilitaram o trabalho dos servos, aumentando a produção. Cruzadas (séc. XI ao XII) No ano de 1095, numa tentativa de reverter as divergências e disputas políticas entre os reinos cristãos, o papa Urbano II convocou toda a classe de cavaleiros e afins, para lutarem contra os mulçumanos e reconquistar territórios, sobretudo a região da Palestina (Terra Santa). Ainda que não tenha sido um movimento totalmente religioso, as cruzadas mantinham a característica da religiosidade europeia como um fator importante em sua formação. Figura 6 Conquista de Jerusalém pelos cavaleiros cruzados Ao todo foram cerca de oito cruzadas que compreenderam os anos de 1095 à 1272, levando centenas de pessoas – que buscavam a “salvação eterna” e a “redenção dos pecados” prometidas pelo papa –, para os conflitos. Dentre os principais legados para os europeus, foi a reconquista da Península Ibérica, que permitiu a criação de reinos cristãos onde mais tarde dariam origem à Portugal e ao reino de Castela e Leão (Espanha), além da reabertura do Mediterrâneo e, consequentemente, do redesenvolvimento comercial. Para os mulçumanos, que viviam sua época de ouro, com avanços na matemática, na observação dos astros e na medicina, as cruzadas não tiveram maiores impactos, exceto o de povos periféricos que tentavam atacar alguns dos seus principais centros urbanos. Crise – Baixa Idade Média (séc. XI ao XV) Entre os séculos XI ao XV ocorreram inúmeras mudanças na sociedade feudal, marcada pela retomada da vida urbana e o reaparecimento das atividades comerciais que provocaram um colapso no sistema lançando bases para o sistema capitalista. Graças às Cruzadas, comerciantes passaram aos poucos a voltarem com práticas comerciais, criando a necessidade do uso de moedas e da padronização de pesos e medidas. Em pouco tempo esse comerciantes começaram a se organizarem em feiras, que geralmente se localizavam ao redor de um feudo ou mosteiro. Aos poucos essas feiras foram se desenvolvendo até se tornarem centros comerciais e, posteriormente, os burgos (cidades). Daí a origem da palavra burguês, ou seja, aqueles que viviam nos burgos. Com o crescimento populacional, ocasionado pelo aumento na produção agrícola, cada vez mais, e mais, uma grande quantidade de pessoas iam para as cidades exercer atividades artesanais ou comerciais, e como consequência se tornavam livres do jugo dos senhores feudais. Esses trabalhadores começaram a se unir em torno de guildas de ofícios, a fim de garantir seus interesses. Aos poucos as cidades foram ganhando prestígio e autonomia. A formação das monarquias nacionais, com a centralização do poder administrativo, militar político e tributário em torno da figura do rei agravou ainda mais essa crise, pois ao conceder inúmeros poderes ao monarca, a influência dos senhores feudais e do clero se enfraquecia, em detrimento do aumento do poder real. Figura 7Meme sobre a Peste Negra - Memes Nobres para Plebeus Ociosos O intenso desenvolvimento econômico também criou uma série de problemas, sendo o seu momento mais crítico durante os séculos XIV e XV, denominados de “flagelos medievais”: o crescimento populacional e a derrubada de florestas ocasionou as Mudanças Climáticas (1315-1317); o decaimento da produção agrícola gerou a Fome (1346-1347); a Peste Negra (1347- 1351), ocasionada pelas más condições sanitárias; a Guerra dos 100 anos entre França e Inglaterra (1337-1453); e as revoltas camponesas, também chamadas de jacquerie (1358) . Todos esses acontecimentos deram o golpe de misericórdia no sistema que entrou em colapso. A mudança de mentalidade no século XV permitiram encontrar soluções para essa crise através do fortalecimento das monarquias e a expansão das fronteiras, dando início ao que conhecemos como Modernidade. BASCHET, Jèrôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006. FRANCO JUNIOR. Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida: economia e religião na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. SCHIPANSKI, Carlos Eduardo; PONTAROLO, Luizangela Padilha. História medieval: releitura de uma época. Guarapuava: Ed. Da Unicentro, 2009.
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