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Filosofia e Ética - Aula 2 - A ciência da moral

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A ciência da moral 
AULA 2 
Izabela Costa | Filosofia e ética | 04/04/2020 
Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA 
https://no.wikipedia.org/wiki/Antikkens_greske_filosofi
https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/
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Introdução 
Nesta aula, estudaremos a distinção entre ética e moral a partir de alguns 
exemplos do nosso cotidiano. 
Nos comercias de cigarros de antigamente, notávamos a associação da imagem 
do produto aos sentimentos de liberdade, sucesso, riqueza, beleza etc. Hoje, você já sabe 
que é proibida a veiculação de anúncios de cigarro na televisão. Tal decisão corresponde 
a uma reflexão ética colocada em prática. 
O CAMPO DA ÉTICA 
Como você começou a ver na Aula 1, o estabelecimento de valores e princípios 
para um comportamento, ou normas gerais de ação, sugere a reflexão sobre as 
características do campo ético. Seu sentido não se reduz, no entanto, à ideia de que toda 
ação moral contenha princípios e valores, orientando-nos a agir de uma certa maneira. 
A realidade sofre transformações históricas e, através de mudanças no 
comportamento humano, normas que parecem adequadas num momento tornam-se 
obsoletas noutro, assim devendo ser alteradas. 
Vamos ver um exemplo? 
 
Assim, o campo ético abrange tanto a ideia de que qualquer ação humana gire 
em torno da divisão (fixa ou total) do que é certo ou errado, quanto formas diversas e 
variadas de comportamento moral adotadas pelos homens na vida em sociedade. 
 
 
 
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Ética e moral: quem é quem? 
Continuando com o exemplo da posição da mulher na sociedade, notamos que 
em algumas sociedades ela ainda é tratada de acordo com normas e costumes ditos 
“ultrapassados”, e sua posição é de inferioridade em relação ao homem. Mas por que isso 
acontece? Por que ainda existe esse comportamento se hoje em dia já sabemos que as 
mulheres estão em condições de igualdade em relação ao homem? Por que o Brasil é tão 
diferente de outros países em relação à mulher na sociedade? 
A ética não é localizada em um determinado momento da história e da 
humanidade, mas sim é atemporal, considerada na sua totalidade, diversidade e 
variedade: 
− A ética (...) toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com 
seus respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, não se identifica com 
os princípios e normas de nenhuma moral em particular e tampouco pode adotar 
uma atitude indiferente (...) diante delas. Juntamente com a explicação de suas 
diferenças, deve investigar o princípio que permita compreendê-las no seu 
movimento e (...) desenvolvimento. (Sánchez Vázquez, 2002:21-2) 
Atividade proposta 
Não se identificando com princípios morais, mas não sendo indiferente a eles, o 
campo ético, conduzindo à compreensão racional de aspectos efetivos, reais, das 
atitudes humanas, não se confunde com a moral propriamente dita. Esta compõe-se de 
normas ou regras de comportamento, não sendo a ética responsável pelo 
estabelecimento das mesmas em sociedade. 
Vamos retomar o exemplo usado na Aula 1: o caso Tylenol? Você ainda se lembra dele? 
Em 1982, os executivos da Johnson&Johnson foram informados da ocorrência de 
envenenamentos, na área de Chicago, aparentemente por ingestão de Tylenol em 
cápsulas. No dia seguinte a este trágico acontecimento, não foram detectadas as causas 
do envenenamento; como foi relatado posteriormente, o processo de fabricação do 
remédio não sofrera qualquer falha e os envenenamentos teriam ocorrido 
provavelmente depois que os produtos saíram da empresa. 
Embora a venda do Tylenol representasse um faturamento, na época, de US$100 
milhões anuais, fornecendo tratamento eficaz contra a dor, a empresa decidiu recolhê-
lo do mercado. 
Sua reintrodução tornou-se, em seguida, um marco de marketing. Segundo 
Nash, a Johnson&Johnson, obtendo um alto prestígio do público pelo recolhimento do 
produto, beneficiou-se da ampla publicidade decorrente de sua pronta reação contra a 
ocorrência desastrosa. Relançado no mercado, o remédio foi substituído sem qualquer 
ônus a todos os consumidores que alegassem tê-lo destruído. Assim, em dezoito meses, 
o tylenol retomou seu lugar no mercado. 
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Agora, perguntamos para você: será que tal postura da empresa teria sido 
puramente uma questão de marketing (com uma pitada de cálculo de risco por parte 
dos administradores) ou envolveu um genuíno comportamento ético no mundo dos 
negócios? 
Entendendo o caso a partir da distinção entre ética e moral 
É justamente a elucidação desta diferença que nos leva ao desfecho da análise 
sobre a crise do Tylenol. Vamos ver todas as variantes envolvidas no caso estudado para 
podermos chegar a uma conclusão. 
ÓTICA ECONÔMICA 
Sob uma ótica econômica, seria melhor simplesmente manter os produtos nas 
prateleiras. Afinal a empresa, além de não ser responsável pela contaminação (por não 
ter sido aparentemente provocada em uma de suas instalações), confrontava-se com 
uma ocorrência isolada que não minimizava o valor do produto para a maioria dos 
consumidores. 
A IMAGEM DA EMPRESA 
A preocupação com os clientes era o alvo central da política de utilização dos 
serviços da empresa. Em torno deles, enfatizava-se a segurança, qualidade e 
confiabilidade do produto. Não sendo este mais confiável, qualquer atitude que 
sugerisse um interesse maior no lucro em detrimento da segurança dos consumidores 
minimizaria a força desses três valores. 
OPINIÃO DO(A) GESTOR(A) 
“Cremos que nossa primeira responsabilidade é para com os médicos, 
enfermeiras e pacientes, para com as mães e os pais e com todos que utilizam nossos 
produtos e serviços. Para atender a suas necessidades, tudo o que fazemos deve ser da 
mais alta qualidade” (apud NASH: 2001, 30). 
Duas atitudes marcavam esse pensamento: (1) agir segundo o que era certo e 
digno – reação moral; (2) integrar a preocupação econômica à confiabilidade do 
medicamento – comportamento ético. 
BENEFÍCIOS A LONGO PRAZO 
Ao ser relançado, o medicamento voltou a ser lucrativo, pois os consumidores 
sentiam-se mais confiantes em utilizá-lo. A crise veio testar, em última instância, se a 
confiança tinha um significado real para a empresa. Ficou claro que sim. Apesar das 
incertezas sobre um possível sucesso financeiro com o recolhimento e relançamento do 
produto, a empresa agiu corretamente, respeitando o imperativo de qualidade com os 
usuários de seus serviços. 
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Reação moral e comportamento ético... Encerrando o caso 
Vamos retomar alguns conceitos que você já viu: 
MORAL 
Sistema de normas, princípios e 
valores que regula o comportamento 
individual e social dos homens. O 
domínio moral abrange valores que têm 
o poder de regular, em qualquer 
momento da história, as ações dos 
homens em sociedade. 
ÉTICA 
Explica e investiga uma 
determinada realidade ao formular 
conceitos sobre a mesma, para que 
possamos decidir como devemos nos 
orientar numa situação e justificarmos a 
decisão tomada. 
Voltando para o caso da Johnson&Johnson, vemos a presença de um componente 
moral na estratégia assumida pela empresa, pois ela agiu de acordo com o que achava 
correto e digno. Compreendemos também que a empresa agiu eticamente ao recolher e 
relançar o produto, reagregando um valor – CONFIANÇA – ao mesmo. 
O sujeito moral age bem ou mal na medida em que acata ou transgride a fixidez 
de normas, princípios ou valores morais. Já a ética, em síntese, ocupa-se com a reflexão 
social (circunstancial) desencadeada pelos seres humanos, a respeito das noções e 
princípios que fundamentam a vida moral. 
Atenção! 
É justo este poder reflexivo que transforma a ética em conhecimento científico sobre a 
moral, por abranger as seguintes dimensões: a) psicológica (referida à Psicologia, ciência do 
comportamento); b) sociológica (ligada à Sociologia, ciência das leis que regem o 
desenvolvimento e estrutura das sociedades humanas); c) antropológico-social(pautada pela 
Antropologia Social, ciência que estuda a organização e estrutura sociais); d) jurídica 
(confrontada com o Direito, ciência que estuda o sistema de normas que regula as relações 
sociais); e) econômico-política (vinculada à Economia Política, ciência que estuda as relações de 
produção). 
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