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PRÁTICAS INCLUSIVAS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES 4 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS Caro cursista! Dando continuidade aos nossos estudos, selecionamos o quarto capítulo dessa formação para aprofundarmos um pouco mais sobre aspectos que envolvem a educação de alunos surdos. No capítulo anterior, apresentamos os principais aspectos dos transtornos e deficiências e dentre essa demanda encontramos especificado o conceito e as características das pessoas com deficiência auditiva. Portanto, def in imos para este momento, s i tuarmos his tór ica e educacionalmente as pessoas surdas, apresentando desde a importância da aquisição da sua língua materna, no caso Libras, até a construção da identidade surda em nosso país. A partir disso, afunilamos o nosso tema destacando as características da educação bilíngue proposta pela Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, em que se defende a aprendizagem das duas línguas para os surdos, além de se definir como de fundamental importância o apoio de profissionais como os instrutores e intérpretes de Libras, o atendimento educacional especializado e o trabalho do professor em sala de aula para atender as especificidades desses alunos. E, para finalizar esta etapa, apresentamos uma breve discussão sobre o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para o surdo e sugerimos algumas atividades que possam contribuir na aquisição dessa língua. Boa leitura! APRESENTAÇÃO Organização Ana Clarisse Alencar Barbosa Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI Autora Carolina dos Santos Maiola CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS .04 1 A IMPORTÂNCIA DA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA MATERNA PARA O SURDO A língua brasileira de sinais – LIBRAS, é uma língua visual-espacial, articulada através das mãos, das expressões faciais e do corpo. Por ser uma língua visual, apresenta algumas peculiaridades, porém são complexas e apresentam todos os níveis de análises da linguística tradicional. Ela é considerada a língua materna do surdo, ou seja, sua primeira língua. FIGURA 1 - ALFABETO EM LIBRAS - DATILOLOGIA FONTE: Disponível em: <http://www.rioeduca.net/blogViews.php?bid=14&id=3380>. Acesso em: 24 maio 2016. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS Salles (2004), juntamente com Pimenta (2001), nos trazem uma reflexão muito interessante sobre a condição de ser surdo. Para eles, a surdez deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser surdo não é pior nem melhor do que ser ouvinte, é apenas diferente. Se considerarmos que os surdos não são “ouvintes com defeito”, mas pessoas diferentes, estaremos aptos a entender que a diferença entre pessoas ouvintes e pessoas surdas gera uma visão não-limitada, não- determinada de uma pessoa ou de outra, mas uma visão diferente de mundo, um “jeito ouvinte de ser” e um “jeito surdo de ser”, que nos permite falar em uma cultura da visão e outra da audição. FIGURA 2 - LIBRAS FONTE: Disponível em: <http://danianepereira.blogspot.com.br/2015/06/ faculdades-tem-de-pagar-interpretes-de.html>. Acesso em: 23 maio 2016. Estudar sobre a aquisição da língua materna para o surdo nos remete a pensarmos em quais condições esse processo acontece. Ou seja, se a criança surda é filha de pais surdos ou de pais ouvintes, se ela teve contato com a língua de sinais desde muito cedo ou tardiamente. FIGURA 3 - ELABORANDO CONCEITOS FONTE: Disponível em: <http://angelalibras.blogspot.com.br/2013/05/bebes- surdos-devem-aprender-lingua-de.html>. Acesso em: 24 maio 2016. http://angelalibras.blogspot.com.br/2013/05/bebes-surdos-devem-aprender-lingua-de.html http://angelalibras.blogspot.com.br/2013/05/bebes-surdos-devem-aprender-lingua-de.html CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS Pesquisas mostram que crianças surdas filhas de pais surdos, apresentam o privilégio de terem acesso à língua de sinais em iguais condições que as crianças ouvintes têm em sua língua. Se o contato acontece desde muito cedo, a criança apresenta possibilidade de adentrar no mundo da linguagem com todas as suas nuances. Caso a criança surda não tenha pais e/ou familiares surdos e que também não tenham conhecimento da língua de sinais, é importante que esta tenha, o quanto precocemente for possível, atendimento especializado para que se receba o suporte necessário às suas especificidades, juntamente com serviços de acompanhamento familiar. 2 IDENTIDADE SURDA Quando convivemos ou estudamos sobre os processos históricos e a inserção da pessoa surda na sociedade, comumente ouvimos termos como cultura surda e identidade surda. É importante que essas definições fiquem bem claras para nós, pois compreender essas características influenciarão nas nossas práticas em sala. A cultura surda é compreendida como um conjunto de práticas capazes de ser significadas por um grupo de pessoas que vivem e sentem a experiência visual, no caso dos surdos, de uma forma semelhante (VEIGA-NETO, 2010). Considerando que surdos e ouvintes compartilham de espaços comuns na sociedade e de uma série de hábitos e costumes, podemos dizer que a cultura surda está em contato com a cultura ouvinte, tornando os surdos indivíduos multiculturais, sem desconsiderar suas peculiaridades. FIGURA 4 – IDENTIDADE SURDA FONTE: Disponível em: <http://danianepereira.blogspot.com.br/2015/06/ faculdades-tem-de-pagar-interpretes-de.html>. Acesso em: 24 maio 2016. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS A existência de uma cultura surda auxilia na construção da identidade desses indivíduos. Para Perlin (1998, p. 15), a identidade pode ser definida como: • Identidade f lutuante: na qual o surdo se espelha na representação hegemônica do ouvinte, vivendo e se manifestando de acordo com o mundo ouvinte. • Identidade inconformada: na qual o surdo não consegue captar a representação da identidade ouvinte, hegemônica, e se sente numa identidade subalterna. • Identidade de transição: na qual o contato dos surdos com a comunidade surda é tardio, o que os faz passar da comunicação visual-oral para a comunicação visual sinalizada – o surdo passa por um conflito cultural. • Identidade híbrida: reconhecida nos surdos que nasceram ouvintes e perderam a audição, e terão presentes as duas línguas numa dependência dos sinais e do pensamento na língua oral. • Identidade surda: na qual ser surdo é estar no mundo visual e desenvolver sua experiência na língua de sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são representados por discursos que os veem capazes como sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre entre os espaços culturais surdos. A preferência dos surdos de se relacionarem com seus semelhantes fortalece sua identidade e lhes traz segurança. É importante que haja esse contato e é nesse meio que se discutem também sobre a cultura, trabalho, bem-estar, a criação de movimentos surdos e demais rotinas do seu dia a dia. FIGURA 5 – USO DAS LIBRAS FONTE: Disponível em: <http://www5.usp.br/15125/pesquisa-do-ip-analisa-sistemas- de-aprendizado-de-linguagem-para-surdos-e-deficientes-linguisticos/>. Acesso em: 24 maio 2016. No Brasil, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS é um dos espaços conquistados pelos surdos e muito utilizado para compartilhar ideias, conhecimentos, manifestações culturais, entre outros. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS FIGURA 6 - FENEIS FONTE: Disponível em: <http://liliacamposmartins.blogspot.com.br/2010/11/ federacao-nacional-para-educacao-e.html>. Acesso em: 24 maio 2016. Diante do exposto, verificamos a importância dessa identidade surda para o sujeito com deficiência auditiva, porém, é interessante que ele não fique restrito apenas a esse “mundo surdo”, ou seja, envolvido apenas com a culturasurda. É preciso que para a construção da sua subjetividade, para o seu desenvolvimento biopsicossocial, cultura e de produção de conhecimentos, ele também se envolva com outros meios sociais, e a escola comum é uma delas. Mas para isso, a acessibilidade a esses espaços deve acontecer, conforme atenta-nos FENEIS (2011, p. 24): Os discursos que circulam no movimento surdo manifestam a insatisfação com relação à forma como está sendo conduzida a atual política de inclusão dos surdos, mas concordam que todos têm o direito de estar incluídos no sistema educacional geral, desde que tenha ‘modalidades específicas que acolham as diferenças linguístico-culturais’. FIGURA 7 - IMPORTÂNCIA DA LIBRAS PARA O SURDO FONTE: Disponível em: <http://danianepereira.blogspot.com.br/2013/04/lingua-de- sinais-compartilhe-essa-ideia.html>. Acesso em: 24 maio 2016. Assim, faz-se necessário garantir acesso, permanência e aprendizagem na escola, podendo o surdo utilizar sua língua materna – Libras, para se comunicar e como meio de instrução e oportunidade de ensino da Língua Portuguesa como segunda língua, tendo assim, uma educação bilíngue, como poderemos acompanhar no nosso próximo tópico. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS 3 EDUCAÇÃO BILÍNGUE A Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva prioriza a educação bilíngue no ensino comum. Essa proposta tem como objetivo promover o acesso dos alunos surdos aos conhecimentos adquiridos na escola em duas línguas: em Libras (L1) e em Língua Portuguesa (L2). FIGURA 8 - EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS FONTE: Disponível em: <http://gpsurdezeabordagembilingue.blogspot.com.br/2012_05_01_ archive.html>. Acesso em: 24 maio 2016. A Libras deve ser garantida na proposta pedagógica para todos os níveis e séries, com o suporte dos intérpretes da língua de sinais e, também, o ensino do português escrito como segunda língua, presente na proposta pedagógica desde a educação infantil, como podemos acompanhar na citação a seguir: [...] a organização da proposta de educação bilíngue nas escolas e classes com matrícula de estudantes surdos usuários da Libras, assegurando-lhes as medidas concernentes à implementação da Libras e da Língua Portuguesa na modalidade escrita, como línguas de instrução. Esta proposta deve fortalecer estratégias pedagógicas que considerem as especificidades dos estudantes na aquisição da Língua Brasileira de Sinais – Libras e da Língua Portuguesa escrita, de forma que a educação bilíngue não seja condicionada a espaços organizados pela condição da surdez, mas vinculada a uma organização curricular que possibilite o ensino e o uso das línguas de forma transversal, nas diferentes etapas e modalidades. (BRASIL, 2012, p. 2) O ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para o surdo, é justificado pelo fato de que estes são cidadãos brasileiros e têm o direito de aprender e utilizar a língua oficial que é tão importante para o exercício de sua cidadania. 3.1 INSTRUTOR DE LIBRAS O instrutor de libras, profissional que pode ser surdo ou ouvinte, tem como função o ensino da língua de sinais e também é fundamental como mediador do conhecimento em libras e modelo identitário para o surdo. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS FIGURA 9 – INSTRUTOR DE LIBRAS FONTE: Disponível em: <http://www.cruesp.sp.gov.br/?p=8670>. Acesso em: 24 maio 2016. 3.2 TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS A partir da conquista do surdo no exercício da sua cidadania através da utilização da sua língua materna, ou seja, a LIBRAS, surgem as atividades inicialmente voluntárias dos tradutores e intérpretes de língua de sinais, que foram se especializando no decorrer dos tempos. Com a legalização da Libras como língua, as instituições foram obrigadas a oferecer acessibilidade às pessoas surdas, contratando esses profissionais para fazer a interpretação. Quadros (2004) relata que a presença dos intérpretes de língua de sinais iniciou no Brasil por volta dos anos 80 em trabalhos religiosos. Em 1988, foi realizado o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS, promovendo um intercâmbio entre esses profissionais e a realização de uma avaliação sobre a ética do profissional intérprete. Em 2002, homologa-se a lei federal que reconhece a língua brasileira de sinais como língua oficial da comunidade surda. Esta lei se tornou fundamental tanto para o surdo quanto para o profissional intérprete, pois viabilizou oportunidades no mercado de trabalho com respaldo legal. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS FIGURA 10 - INTÉRPRETE NO MERCADO DE TRABALHO FONTE: Disponível em: <http://www.artelibras.com.br/site/servicos/>. Acesso em: 23 maio 2016. Mas, quem é o intérprete de língua de sinais? É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país. É preciso ter qualificação específica para atuar, ter domínio dos processos e técnicas de tradução e interpretação. Qual é o papel do intérprete? Segundo Quadros (2004), para realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa é necessário seguir os seguintes preceitos éticos: • Confiabilidade (sigilo profissional). • Imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias). • Discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação). • Distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados). • Fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). Em muitas instituições escolares, este profissional é denominado de Intérprete Educacional, pois sua atuação está direcionada à educação e esta área está sendo muito requisitada atualmente devido à política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS O intérprete educacional intermedia as relações entre professores e alunos, além dos colegas ouvintes e surdos. Porém, seu papel não pode ser confundido com a função do professor, que é o responsável pelo ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula. Quadros (2004, p. 56), apresenta alguns elementos sobre o intérprete de língua de sinais em sala de aula que devem ser considerados: • Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade absoluta. • Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais. • Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através da revisão e preparação das aulas que garantem a qualidade de sua atuação durante as aulas. • Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que garantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e precisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no quadro, olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. FIGURA 11 - INTÉRPRETE EM SALA DE AULA FONTE: Disponível em: <http://danianepereira.blogspot.com.br/2015/06/faculdades- tem-de-pagar-interpretes-de.html>. Acesso em: 24 maio 2016. Como podemos perceber, o professor de sala também precisa se adequar a essa nova dinâmica inserida em sala. Para isso, é preciso atentar para a adaptação da estrutura física e a disposição das pessoas, a forma como o professor irá expor os conteúdos e sua movimentação no espaço da sala. 3.3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO - AEE O atendimento educacional especial izado também real iza papel fundamental no processo de aprendizagem e inclusão do aluno surdo na escola. Como já visto em nossos estudos, esse atendimento: CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS [...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminam as barreiraspara a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (BRASIL, 2008, p. 16). No atendimento ao aluno surdo, é assegurado, através da oferta de uma educação bilíngue, três momentos didático-pedagógicos no AEE: o AEE para ensino de Libras, o AEE em Libras e o AEE para o ensino da Língua Portuguesa. AEE de Libras: esse atendimento envolve o ensino da língua brasileira de sinais para o aluno surdo. Utilizam-se critérios metodológicos que utilizam referencias visuais, dactilologia (alfabeto manual), classificadores e sinais. Para atuar nesse atendimento, o professor precisa ter conhecimento da estrutura e fluência na Libras. Recursos comumente utilizados são DVDs, livros, dicionários, material concreto, dentre outros. FIGURA 12 – AEE DE LIBRAS FONTE: Disponível em: <http://igrejanova.al.gov.br/secretaria-de-educacao- de-igreja-nova-ensina-libras-para-estudantes-especiais/>. Acesso em: 23 maio 2016. AEE em Libras: tem como proposta trabalhar a base conceitual dos conteúdos curriculares desenvolvidos em sala, dessa forma, o aluno surdo terá melhor compreensão e poderá participar mais ativamente das aulas. Esse atendimento ocorre no contra turno e serve como trabalho complementar ao que se está sendo realizado em sala. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS FIGURA 13 – AEE EM LIBRAS FONTE: Disponível em: <http://arivieiracet.blogspot.com.br/2011/02/atendimento- educacional-especializado_24.html>. Acesso em: 24 maio 2016. AEE para o ensino da Língua Portuguesa: como o próprio termo nos diz, esse atendimento consiste no ensino da Língua Portuguesa escrita para os alunos surdos, tendo como orientação a concepção bilíngue. Nele, busca- se desenvolver competência linguística e textual para que se realize leitura e escrita, produções e interpretações em português. FIGURA 14 - LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/alexandrerosado/apresentao-cristina- lacerda>. Acesso em: 24 maio 2016. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS 4 A ALFABETIZAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ALUNO SURDO O Português é a língua oficial do nosso país e considerada a segunda língua para as pessoas surdas, necessitando assim, de um processo formal de aprendizagem da mesma. Dentro de uma perspectiva de educação bilíngue, acompanharemos algumas ideias que auxiliarão você, leitor, a compreender um pouco melhor o processo de alfabetização do surdo na sua segunda língua e em seguida, apresentaremos algumas sugestões de atividades que colaboram com essa aprendizagem. FIGURA 15 - ALFABETIZAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://parasurdos.blogspot.com.br/2013/04/meu-filho- surdo-de-5-anos-precisa.html>. Acesso em: 24 maio 2016. Vários métodos e técnicas de alfabetizar o aluno surdo por meio do português já foram realizadas e elas são reflexo do aporte teórico que sustentam sua prática. Utilizamos nesse texto, algumas concepções difundidas por Quadros (2004), que ao longo de sua experiência profissional e acadêmica retoma alguns fatores importantes para esse processo de aprendizagem da Língua Portuguesa. No processo de apropriação da leitura e da escrita, o professor precisará utilizar constantemente materiais visuais para o aluno surdo, prática esta que, de certa forma, beneficiará a todos em sala de aula, não é mesmo? Além de provocar o interesse pelo tema a ser tratado, sugerimos realizar uma discussão prévia do assunto e coletar informações sobre o que os alunos já conhecem sobre o conteúdo. Outro aspecto interessante é trabalhar com palavras-chave, que auxiliam na condução do tema, pois além da aquisição de novas palavras escritas, estimula também na busca por seus significados. Nesse caso, aproveite e http://parasurdos.blogspot.com.br/2013/04/meu-filho-surdo-de-5-anos-precisa.html http://parasurdos.blogspot.com.br/2013/04/meu-filho-surdo-de-5-anos-precisa.html CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS utilize o dicionário e quem sabe também, crie um e acrescente as novas palavras apropriadas pelo aluno para que ele tenha esse material construído durante a sua caminhada de estudos. FIGURA 16 - DICIONÁRIO INDIVIDUAL FONTE: Quadros (2006, p. 49) Quadros (2006), ainda sugere que num estágio inicial de produção escrita, o mais importante é que o aluno surdo consiga expor suas ideias, portanto, não é necessário haver, num primeiro momento, uma preocupação exagerada na estruturação frasal. Isso se dará mais adiante, quando o aluno estiver mais seguro para se “arriscar” no mundo da escrita. Veja, logo a seguir, uma produção textual realizada por um aluno surdo em processo de apropriação da Língua Portuguesa escrita: Chapeuzinho Vermelho Mãe fala Chapeuzinho Vermelho A vovó muito doena (doente?!) Chapeuzinho Vermelho foi vê flor muito bonita Chapeuzinho Vermelho assauto lobo Lobo corre muito casa vovó lobo come vovó Chapeuzinho Vermelho lobo quem chapeuzinho Vermelho porque olho grande, porque nariz grande, Porque orelha grande, porque boca grande come Chapeuzinho Vermelho O homem ovido [ouviu?] quem homem cama lobo dorme. Chapeuzinho Vermelho gosta muito da vovó. (QUADROS, 2006, p. 37) Perceba no exemplo, que o aluno ainda utiliza como referência a estrutura frasal da sua língua materna e ainda realiza alguns erros gramaticais. No entanto, já podemos identificar o contexto da história escrita e as intenções do autor na comunicação de suas ideias. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS Quadros (2006, p. 43) ainda destaca que, no processo da leitura, o aluno surdo passa por diversos níveis: 1) Concreto – sinal: ler o sinal que refere coisas concretas, diretamente relacionadas com a criança. 2) Desenho – sinal: ler o sinal associado com o desenho que pode representar o objeto em si ou a forma da ação representada por meio do sinal. 3) Desenho – palavra escrita: ler a palavra representada por meio do desenho relacionada com o objeto em si ou a forma da ação representado por meio do desenho na palavra. 4) Alfabeto manual – sinal: estabelecer a relação entre o sinal e a palavra no português soletrada por meio do alfabeto manual. 5) Alfabeto manual – palavra escrita: associar a palavra escrita com o alfabeto manual. 6) Palavra escrita no texto: ler a palavra no texto. Veja alguns exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas seguindo esses princípios. Essas e outras propostas você poderá encontrar no livro “Ideias para ensinar português para alunos surdos” (BRASIL, 2005), da autora Ronice Quadros. Acompanhe! Trabalhando com "LEITURA E VOCABULÁRIO" A sugestão colocada aqui é que tanto a aquisição quanto a fixação de vocabulário, e consequentemente o desenvolvimento na leitura, aconteçam também a partir de jogos e brincadeiras realizados com a criança. OBJETIVO Ampliar e fixar o conhecimento de palavras da Língua Portuguesa de forma lúdica. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES a) Jogo de memória: Montar diferentes jogos de memória, sejam: sinal x gravura sinal x palavra alfabeto manual x palavra gravura x palavra Utilizar vocabulário que esteja sendo trabalhado em aula (verbos, meios de transporte, países etc) para fixação, ou confeccioná-lo por classificação aleatoriamente (comidas, bebidas, vestuário, brinquedos, animais) para introdução de palavras novas. Trazê-los prontos ou confeccioná-los com os alunos. Aproveitando a brincadeira: durante a partida sempre que um par for encontrado o aluno, individualmente, ou o grupo terá que repetir a palavra em alfabeto manual. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS No final do jogo cada criança registra no caderno os seus pares para desenhá-losdepois ou formar frases escritas; o professor aproveita as palavras para atividades posteriores. b) Jogo do Mico: Usar a ideia do jogo do mico e criar, junto com os alunos, um baralho sinal-palavra-figura para jogar em sala. Aproveitando a brincadeira: ao terminar o jogo cada criança deve fazer para os colegas, em alfabeto manual, todas as palavras dos seus pares, de preferência sem apoio visual, e registrá-las no caderno; c) Bingo: Montar diferentes jogos de bingo: – cartões com palavras e cartelas com sinais. – cartões com sinais e cartelas com palavras. – cartões com alfabeto manual e cartelas com letras ou palavras. – cartões com configuração de mão e cartelas com figura e palavra. – cartões com palavras e cartelas com figuras. Utilizar o vocabulário dos conteúdos de aula para fixação. No fim de cada rodada todos terão que copiar as palavras marcadas na sua cartela. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS d) Quebra-cabeças: Confeccionar quebra-cabeças ou aproveitar jogos já existentes. Os quebra-cabeças podem ser montados individualmente, em duplas ou em pequenos grupos, pela turma em conjunto, ou ainda como competição entre equipes. Aproveitando a brincadeira: após ser montado o quebra-cabeça pode ser bem explorado quanto aos elementos que aparecem nele (substantivos, verbos, adjetivos), primeiro através de conversação em língua de sinais e depois através de registro em Língua Portuguesa. Criar uma história em língua de sinais sobre o quadro montado e depois transcrevê-la para o português. Trabalhando com “PRODUÇÃO ESCRITA” OBJETIVO Proporcionar à criança o conhecimento e aprimoramento do uso da Língua Portuguesa escrita. Estimular, através de diferentes técnicas e recursos, a criatividade e a capacidade da criança de externar seus pensamentos de forma clara e objetiva. DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE Serão apresentadas várias sugestões para estimular a produção escrita: a) Produção livre a partir de gravuras: • Selecionar gravuras que possibilitem riqueza de conteúdo/informações. • Explorar em língua de sinais tudo o que se observa na gravura: personagens, objetos, cenário, detalhes que chamem a atenção, ações ali identificadas, sentimentos ou emoções expressas na gravura. • Registrar no quadro todas as palavras ou expressões que surgirem ou forem solicitadas neste momento. • Estimular o pensamento e criatividade das crianças para além do que se vê: O que aconteceu antes? O que se fará ou acontecerá depois? Com quem? Onde? E depois ainda? • Aproveitar a gravura para identificar e discutir temas trabalhados em aula. • Criar histórias escritas individual ou coletivamente. • Trabalhar posteriormente com o vocabulário novo posto no quadro e solicitado pelas crianças. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS Explorando a gravura: – O que você vê? – Quem você acha que são estas pessoas? – Onde elas estão? – O que pensa que estão fazendo? – Será que são apenas amigos ou uma grande família? – Porque estão parados ali? – De onde eles vieram? – E para onde irão? Fazer o quê? – E depois o que acha que vai acontecer? – Para onde o menino e a menina estão indo? – O que será que eles viram? – Você já esteve num lugar assim? Com base nessas ideias, o professor poderá elaborar outras estratégias, de acordo com os conteúdos a serem desenvolvidos no seu planejamento, que auxiliarão na aprendizagem dos alunos. No nosso próximo capítulo, você também encontrará ideias para a produção de materiais que qualificarão o trabalho do professor e deixarão as aulas mais interessantes, construtivas e contextualizadas. CURSO LIVRE - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS REFERÊNCIAS BRASIL. A Deficiência Auditiva na Idade Escolar – Cartilha. 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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, Ministério da Saúde, Brasil. www.fiocruz.com. br PIMENTA, N. 'Oficina-palestra de cultura e diversidade'. Anais do Seminário do INES, 19 a 21 de setembro, 2001. QUADROS. R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. _________. Relatório de pesquisa "O intérprete na sala de aula". Pesquisa financiada pela ULBRA. Canoas. 2006. SALLES, H. M. L. 'Linguagem, cognição e subjetividade'. Pesquisa Linguística, n. 5 (1). Brasília, LIV/Universidade de Brasília, 2004. VEIGA-NETO, A.; LOPES, M. C. Inclusão e governamentalidade. Educação & Sociedade. Campinas. V. 28, n 100, p. 958, out/jan. 2010. http://www.fiocruz.com.br http://www.fiocruz.com.br
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