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Entomologia Médica V3_1965

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1956 7 
EHTOMOLOGIA 
(AEDKA 
laBENSE PEST MGMI IBTO AHAI<YSIS CIS 
AETBB, FOKEST GIiES SBCIIOM, iBiAHC 
I?ASHX»eiO», DC B0307 ....; 
UNIVERSIDADE DE SAG PAULO 
REITOR 
Prof. Dr. Luis Ant6nio da Gama e Silva 
V1CE-REITOR 
Prof. -Dr. Mdrio Guimaraes Ferri 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO 
COMISSAO EDITORIAL 
P;RES1DENTE 
Prof. Dr. Mdrio Guimaraes Ferri 
FACULDADE DE FILOSOF1A, ClENCtAS E LETRAS 
M EM BR OS 
Proj. Dr. A. Brifo da Cunha Proj. Dr. C. da Silva Lacaz 
FAC. DE F1LOS., CIEN. E LETRAS FACULDADE DE MEDICINA 
Proj. Dr. Miguel Reale Proj. Dr. Waller Borzani 
FACULDADE DE DIREITO ESCOLA POL1TECNICA 
OSWALDO PAULO FORATTINI 
Professor Associado do Departanienio de Parasitologia da Facul- 
dade de Higiene e Scuide Publica da Universidade de Sao Paulo 
DEPfiNSE PEST MOMT INFO ANALYSIS CTR 
AFPMB, FOREST QLgN SECTION, WRAMfl 
WASHINflTON. DC 20307,.5001i ^ 
Entomologia Medica 
3.° VOLUME 
Culicini: Haemagogus, Mansoriia. Culiseta. 
Sabethini. ToxorhYnchitini. Arboviroses. 
Filariose bancroftiana. Genetica. 
DEFENSE PEST MGMT INFO ANALYSIS CTR 
AFPMB, FOREST GLEN SECTION, WRAMC 
WASHINGTON, DC 20307.5001 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO 
1965 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SAG PAULO 
Cidade Universitaria "Armando de Salles Oliveira" 
Edificio da Reitoria � 6.° andar 
Butanta � Sao Paulo � Brasil 
IMPRESSO NOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL 
Printed in the United States ol Brazil 
A memoria de meu pai 
INTRODUg&O 
Exigencias graficas determinaram a conveniencia na separacao 
deste 3." volume. Sem prejuizo porem de, juntamente corn o ante- 
rior, formarem conjunto completo, no que concerne aos assuntos 
neles tratados. Torna-se portanto desnecessario repetir aqui, o que 
foi apresentado na introducao referente ao 2.° tomo. A ela pois, en- 
viamos o leitor interessado em conhecer o piano, e outros detalhes, 
que nortearam a elabora^ao dos dois livros. 
Constitui ponto pacifico o concetto de Entomologia Medica, no 
sentido de compreender o estudo epidemiologico das molestias vei- 
culadas ou determinadas pelos artropodes. Dessa forma, seria mais 
adequada a denominacao Entomologia Sanitaria, e a conservacao 
daquela, admite-se apenas por ser consagrada pelo uso. Assim pois, 
nao sera demais ressaltar a preocupacao constante desse aspecto no 
trato da materia. Tudo o que foi esplanade nas primeiras paginas, 
destina-se a ser aplicado na compreensao do assunto especificamente 
pertinente aos dois ultimos capitulos, ou sejam, das arboviroses e 
da filariose bancroftiana. Assim sendo, acreditamos que o leitor po- 
dera informar-se, de maneira satisfatoria, s6bre a estrutura epide- 
miologica dessas molestias, e das possibilidades profilaticas atual- 
mente disponiveis para as mesmas. 
Nao seria possivel encerrar o estudo da familia Calicidae, sem 
abordar de maneira conveniente, os conhecimentos atuais s6bre a 
genetica desses insetos. E o que foi feito, mediante apendice, no 
final deste volume. Ali o leitor podera familiarizar-se corn esse inte- 
Tessante assunto, atualmente constitiiindo campo dos mais promisso- 
res para a investigacao. Atraves tais estudos, poderao ser encontra- 
das respostas que esclarecam numerosos asp’ectos obscuros. Sao eles 
os referentes a resistencia aos inseticidas, as assim ditas mudan^as 
de comportamento, a dinamica e composi^ao populacional, e a varies 
outros. Sao questoes que, no momento atual e em futuro proximo, 
tenderao a se ag.ravarem, exteriorizando-se em problemas sanitarios 
a exigir solu^ao. 
Sao Paulo, mar^o de 1965. 
OSWALDO. PAULO FORATTINI 
SUMARIO 
CAPITULO I � Q6NEROS HAEMAGOGUS, MANSONIA, CULISETA 
E OUTROS ....................................... 11 
CAPiTULO II � TRIBOS SABETHINI E TOXORHYNCHITINI ..... 135 
CAPITULO III � ARBOV1ROSES .................................... 199 
CAPiTULO IV � FILAR10SE BANCROFTIANA ...................... 325 
APENDICE N.0 1 � GENfiTICA DE CULICIDAE .................... 357 
APENDICE N.« 2 � T6CNICAS ..................................... 387 
INDICE ANALiTICO ..........,.........:......................... 405 
CAPITULO I 
GENEROS HAEMAGOGUS, MANSONIA, 
CULISETA E OUTROS 
Considera^oes gerais 
Genero Haemagogus 
Diagnose 
Classificai;ao 
Habitos 
Importancia medica e sanitaria 
Subgenero Sfegoconops 
Haemagogus capricornii 
Hciemagogus mesodenlatus 
Outras especies 
Subg^nero Haemagogus 
Haemagogus liicifer 
Haemagogiis iridicolor 
Outras especies 
Subgenero Longipalpifer 
Haemagogiis eqiiwus 
Outras especies 
Genero Mansoflia 
Diagnose 
Classificacao 
Habitos 
Importancia medica e sanitaria 
Subgenero CoquiUeffidia 
Mansonia pertlirbans 
12 ENTOMOLOGIA MSDICA 
Subgenero Mansoma 
Mansoma titlllans 
Outras especies 
Subgenero Rhynchotaenia 
Mansonia veneziielensis 
Outras especies 
Genero Culisela 
Diagnose 
Classificacao 
Habitos 
Importancia medica e sanitaria 
Subgenero Climacura 
Ciiliseta melanura 
Subgenero Ciiliseta 
CaUseta inornata 
Outras especies 
Subgenero CuUcella 
Outros generos de Ciilicini 
Chaves para as especies de Haemagogus 
Craves para as especies de Mansonia 
Chaves para as especies de Ciiliseta 
Referencias 
CONSIDERA(;6ES GERA1S 
Os generos Haemagogus, Mansonia e Culiseta, constituem os 
outros grupos de culicineos que encerram representantes corn algum 
interesse medico para o Continente Americano. Contudo, corn o pro- 
gredir das investigacoes, essa importancia tendera possivelmente a 
aumentar. Estas, principalmente as concernentes ao cicio natural de 
certos virus indicam, cada vez mais, a responsabilidade vetora por 
parte desses mosquitos, de tais agentes passiveis de afetar o homem 
e animais domesticos. As demais categorias genericas de Culicim, 
embora atualmente dotadas de reduzido interesse sanitario, poderao 
possui-lo em carater potencial. Os escassos conhecimentos disponi- 
veis sobre a sua biologia, sao de molde a nao exclui-las de possiveis 
papeis epidemiologicos a serem desvendados atraves futuras investi- 
gacoes. Por esse motive, embora de maneira suscinta, merecerao 
eles algum tratamento nas paginas que seguem. 
Genero HAEMAGOGUS Williston, 1896 
DIAGNOSE � Os adultos apresentam-se corn o corpo ampla- 
mente coberto de escamas, as quais sao de aspecto colorido metalico, 
principalmente as occipitais, mesonotais e abdominais. Os palpos 
femininos sao curtos, ao passo que os masculines variam sensivel- 
mente em comprimento. Tal variacao pode ir desde o equivalente a 
dois tercos da proboscida, em Longipalpifer, ate um sexto do mesmo 
valor, nas demais especies. A tromba e geralmente tao longa quanto 
o femur anterior. As antenas dos individuos masculinos, possuem 
plumosidade variavel. Assim e que ela e fortemente plumosa em 
Stegoconops, ao passo que se apresenta esparsamente setosa em 
Haemagogus s. str.. No torax observa-se os lobos pronotais bem 
desenvolvidos e aproximados na linha media, quando observados pela 
face dorsal. Cada um deles e sensivelmente maior do que o meron. 
No que concerne a quetotaxia toracica, nota-se a ausencia das cer- 
das dorsocentrais e acrosticais do mesonoto. Nas pleuras, observa-se 
a existencia das setas pronotais, anteriores e posteriores, esterno- 
pleurais e mesepimerais superiores. Tanto o mesonoto como as pleu- 
ras apresentam-se intensamente revestidos de escamas. A margem 
superior do meron esta no mesmo nivel da base da coxa posterior. 
Nas pernas, o I segmento tarsal posterior e de comprimento equiva- 
14 . ENTOMOLOGIA M fi D I C A 
lente ao da tibia correspondente. As garras tarsais podem ser sim- 
ples ou denteadas. A asa possui esquamula corn franja completa. 
0 VIII segmento abdominal feminino e estreito lateralmente e uni tanto 
retratil, sendo curtas as cercas. 
A genitalia masculina e do mesmo aspecto geral da apresentada 
pelos Aedes do subgenero Finlaya. Como aspecto constante, pode-se 
observar a presenca de fileira de escamas na face interna da metade 
distal do basistilo. 0 mesosoma apresenta-se indiviso e em forma 
globosaou ovoide. 0 decimo esternito e de extremidade romba onde 
apresenta fina franja, a maneira de pente. 0 nono tergito pode apre- 
sentar lobos evidentes ou atrofiados, e corn ou sem setas espinifor- 
mes. Na margem distal do VIII segmento, verifica-se a presenca de 
conjunto ou fileira de cerdas ou escamas diferenciadas. 
Quanto a larva, apresenta ela os mesmos aspectos gerais men- 
cionados para o genero Aedes. 
CLASSIFICACAO � 0 genero Haemagogus apresenta afinida- 
des corn os Aedes do subgenero Finlaya. Segundo Edwards (1932), 
representa ele urn desenvolvimento desse grupo, atraves algumas es- 
pecies, tais como A. leucocelaenus, as quais, para alguns autores de- 
veriam mesmo ser colocadas neste genero (Castro, 1959). 
Admite-se a divisao do grupo em tres categorias subgenericas, 
a saber: 
Haemagogus Williston, 1896. 
Stegoconops Lutz, 1905. 
Longipalpifer Levi-CastiIlo, 1951. 
As especies de Haemagogus s. str. apresentam os machos pos- 
suindo as antenas esparsamente pilosas, ao passo que tais apendices 
sao intensamente plumosas em Stegoconops. Por sua vez, os indivi- 
duos masculinos desses dois subgeneros, possuem os palpos curtos, 
enquanto que em Longipalpifer, eles atingem a dois tercos do com- 
primento da trornba. 
fistes mosquitos distribuem-se, praticamente de maneira exclusi- 
va, pela regiao neotropical. Uma especie, o H. equinus, chega a 
atingir alguns pontos meridionals da area neartica. Os demais, sao 
encontrados amplamente pelas Americas, Central e do Sul. 
0 genero Haemagogus compreende, ate o niomento, 19 especies 
validas das quais, 8 pertencem ao subgenero Haemagogus, 7 a Ste- 
goconops e 4 a Longipalpifer. Trata-se de grupo de culicinos que 
necessita de maiores e mais detalhados estudos taxonomicos. Nao 
somente no que concerne a subdivisao do genero, como ao reconhe- 
cimento das varias categorias especificas. 
GCNEROS HABMAdOOVS, JUANSONIA, OULISETA E OUTROS 15 
HABITOS � De maneira semelhante aos Aedes, os ovos de 
Haemagogus resistem por longo tempo, antes da eclosao. Algumas 
observances indicam periodos prolongados de ate 6 e 7 meses (Kumm, 
Osorno-Mesa .e BoshelI-Manrique 1946, Galindo, Carpenter e Trapido 
1955). A saida das larvas parece estar tambem sujeita a influencia 
de varias condicoes como sejam, as diferenpas estacionais do ano, 
�^ elementos individuais das femeas e das racas. Porem o fator princi- pal, pelo menos nas condicoes naturais, parece residir na diminuicao 
da concentracao de oxigenio da agua. Ao lado disso, ha evidencias 
que indicam a ocorrencia de diferencas especificas (Hovanitz, 1946). 
Nesse sentido, sao sugestivas as observacoes levadas a efeito por Oa- 
lindo, Carpenter e Trapido (1955), colocando em contacto corn o meio 
liquido, em sucessivos tempos diversos, os ovos obtidos no campo. 
Os resultados indicarani, segundo esses autores, pelo menos dois 
tipos de comportamento na eclosao. Urn deles, ilustrado pelo H. 
equimis, apresenta o fenomeno desde o primeiro contacto corn a agua, 
continuando pelos outros seguintes, por tempo prolongado, ate que 
todos os ovos viaveis tenham libertado as larvas neles contidas. No 
outro, exemplificado pelo H. capricornii, nao ocorrem eclosoes por 
ocasiao dos dois primeiros contactos, mas Sim do terceiro em diante, 
continuando depois nos seguintes. Evidentemente, as consequencias 
de tais diferencas de comportamento, condicionam correspondentes 
discrepancias na densidade desses mosquitos, nas diversas epocas do 
ano. Assim e que os do primeiro tipo aumentam-na logo ho inicio 
da estacao chuvosa, ao passo que os do segundo somente atingem 
os valores maximos, decorridos alguns meses dessa ocasiao. Tudo 
indica pois, que se trata de resposta fisiologica especificamente dife- 
rente a estimulos exteriores equivalente (Oalindo, Carpenter e Tra- 
pido, 1.955). 
As posturas sao levadas a efeito em recipientes os quais, pelo 
que ate agora se conhece, constituem o tipo exclusive de criadouros 
destes culicinos. Sao eles, na sua maioria, de carater natural e re- 
presentados pelos buracos ou 6cos de arvores. Em casos menos 
comuns, foram registrados outros receptaculos naturais como, bamblis 
e cascas de cocos e, mais raramente, alguns artificials como pneuma- 
ticos abandonados. 
Os adultos sao mosquitos de habitos essencialmente silvestres, 
vivendo em ambiente florestal. As femeas sao hematofagas e de 
atividade diurna, exercendo-a predominantemente nos niveis eleva- 
dos da copa das arvores. 
IMPORTANCIA MfiDICA E SANITARIA � 0 interesse sani- 
tario para as especies de Haemagogus adquiriu vulto desde as obser- 
vacoes iniciais de Shannon, Whitman e Franca (1938), que indica- 
16 ENTOMOLOGIA MSDICA 
ram a capacidade destes mosquitos veicularem o virus da febre ama- 
rela, no ambiente florestal. Isolamentos ulteriores e evid6ncias epide- 
miologicas obtidas mediante investigacoes levadas a efeito em varies 
pontos das Americas, do Sul e Central, tern revelado- esse papel para 
varias especies do genero. Assim sendo, estes culicinos sao atual- 
mente considerados como elos importantes no cicio natural do virus 
ainarilico. Alem destes, outros agentes virais tern sido encontrados 
infectando-os, na natureza. Contudo, o significado epidemiologico 
desses achados constitui ainda, assunto aberto a investigacao. 
Dessa maneira, vao enumeradas a seguir, as especies que atual- 
niente encontram-se incriminadas como veiculadoras da febre ama- 
rela silvestre, e corn algum outro interesse medico, na regiao neo- 
tropical : 
ESP6CIES DE HAEMAGOGVS DE INTER6SSE MfiDICO 
SuBOfiNERO 
Siegoconops . 
Haemagogus 
Longipalpifer 
ESPECIE 
H. capricornii 
H. mesodentatlls 
H. iridicolor 
H. lucifer 
H. equinus 
SUBGENERO STEGOCONOPS LUTZ, 1905 � Os adultos deste 
grupo apresentam os individuos masculinos corn antenas intensamen- 
te plumosas, e os femininos corn as garras tarsais anteriores dentea- 
das. Na asa, observa-se que o peciolo,.da ceiula furcada anterior e 
na maioria dos casos, mais longo do que a rnesnia. Na genitalia 
masculina observa-se o basistilo destituido de conjunto de cerdas 
finas e longas, na extremidade apical, junto a articulacao corn o dis- 
tistilo; o nono tergito apresenta lobos evidentes, embora pequenos, e 
corn setas neles implantadas. Na larva, o pecten do VIII segmento 
e constituido por elementos dispostos em uma so fileira. 
Nesta categoria subgenerica acham-se incluidas, ate o momento, 
7 especies. Duas delas, como se viu atras, sao consideradas eficien- 
tes vetoras da febre amarela silvestre. Merecerao elas tratamento 
especial nas linhas que seguem. 
HAEMAGOGUS (STEGONOCOPS) CAPRICORN 11 LUTZ, 1904 
(fig. 1). 
SINONlMIA � H. spegazzinii (nee Brethes, 1912). 
GENEROS HAEMACfOGUS, MANSONIA, CVUSETA E OUTROS 17 
DIAGNOSE � Os adultos apresentam a proboscida escura, corn 
reflexes azulados e pouco mais longa do que o femur anterior; o 
occipicio e recoberto de escamas largas dotadas de reflexes azulados; 
os palpos masculinos sao curtos, corn cerca de duas a tres vezes o 
comprimento do clipeo, e as antenas, nesse sexo, apresentam-se inten- 
samente plumosas. 0 torax e inteiramente recoberto de escamas, as 
quais sao douradas, nos dois tercos mesonotais anteriores, e corn re- 
flexes azul-esverdeados, no terco posterior dessa regiao, no escutelo, 
e nos lobos pronotais; pleuras corn escamas prateadas; as pernas sao 
inteiramente cobertas de escamas escuras, de reflexos azulados e aver- 
melhados sulferinos, corn excecao da face postero-interna dos iemu- 
res, que e branca; as escamas alares sao totalmente escuras. 0 abdo- 
me tambem e escuro, corn reflexos azulados e vermelho sulferinos, a 
nao ser manchas brancas basolaterais, nos primeiros tergitos, as quais 
chegam a se propagar as porcoes basais, nos ultimos segmentos; os 
esternitos possuem faixas brancas basais, exceto nos ultimos segmen- 
tos. Na genitalia masculina, o basistilo apresenta-se um tanto alon- 
gado, e corn denso conjunto de escamas longas e lanceoladas, na face 
interna, aopasso que as da face externa sao mais ou menos trian- 
gulares; o lobo basal do basistilo e pouco saliente, e dotado de cer- 
dosidade Intensa, constituida por elementos longos, dentre os quais 
sobressaem dois ou tres, maiores, e mais dilatados do que os demais; 
o claspete e curto, corn algumas setas finas, e piloso nos dois tercos 
basais, possuindo o filamento apical, foliaceo, dilatado, estriado, quase 
tao longo quanto ele e de extremidade pontuda; o dististilo e delgado, 
curto e corn garra de comprimento equivalente a quase a metade do 
mesmo; o decimo esternito e quitinizado e possui, na extremidade, 
franja formada por finas estrias, alem de alguns finos pelos no 
corpo; os lobos do nono tergito sao pequenos e corn duas setas espi- 
niformes cada um; o mesosoma e globoso, glabro ou corn fina espi- 
culosidade na face ventral, e corn apical retrodirigido, quitinizado, 
adunco em forma de bico e de extremidade simples ou entalhada; a 
margem distal do VIII tergito, apresenta conjunto de escamas longas 
e fusiformes. A larva apresenta-se corn a superficie corporal, densa- 
mente pilosa. A cabeca corn a antena curta, escassamente espiculosa 
e dotada de seta antenal (11) fina e simples; cerdas frontais, interna 
e media (5 e 6) simples, sendo aquela finamente penada e muito 
mais longa do que a outra, e a externa (7) tripla ou multipla e tam- 
bem finamente penada; cerda pos-clipeal (4) pequena, fina e multi- 
pla; occipitais, interna (8) simples e externa (9) dupla ou tripla, su- 
praorbital (14) dupla e mais longa do que as anteriores. VII seg- 
mento abdominal corn o pecten constituido por uma so fileira de 6 
a 10 elementos grosses, espiniformes, situados sobre placa quitini- 
zada, cada um deles de formato alongado e ligeiramente serrilhados 
no apice; as cerdas do grupo das cinco sao multiplas e finamente 
Fig. 1 � Haemagogus capricornii. A � adulto (esquem&tico); a � esca- 
mas alares; a’ � cabeea masculina; a" � VIII tergito abdominal; 
B � basistilo, dististilo e nono tergito; b � claspete; C � d6cimo ester- 
nito; D � mes6soma; E � segmentos abdominais terminals da larva; 
e � elemento do pecten do VIII segmento; e" � elemento do pecten 
sifonal; F � cabeea da larva; G � reticulado corial do ovo (esquematico). 
GfiNEROS BAEMAGOOVS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS 19 
penadas, a primeira, terceira e quinta, ao passo que sao simples, a 
segunda e a quarta; o sifao respiratorio e bem quitinizado e de com- 
primento equivalente a duas e meia ou tres vezes o valor da largura 
basal, onde nao se verifica a presenca de aculeo; o tufo sifonal e 
unico e constituido por cerda longa, finamente penada, dupla e inse- 
rida mais ou menos no nivel medio do tubo e apos o pecten; este e 
formado por fileira de 12 a 14 elementos espiniformes e corn um ou 
dois denies na base; a sela do lobo anal e incompleta, fortemente 
espinhosa na porcao superior da margem posterior, e corn seta late- 
ral (1) longa e dupla ou multipla; a esc6va dorsal e constituida pela 
seta interna (2) tripla e a externa (3) simples; a escova ventral (4) 
e formada por conjunto de cerdas duplas que se inserem no angulo 
postero distal do lobo anal, e das quais sao curtas as proximais e 
distais, sendo longas as medianas; as branquias sao de comprimento 
mais ou menos equivalente a urna e meia ou duas vezes o da sela, 
e possuem extremidade distal pontuda. Os ovos sao alongados, sal- 
chichoides, escuros ou negros, e de superficie mamelonada; o reticula- 
do corial e constituido por malhas pentagonais ou quadrangulares, 
de cont6rnos arredondados, pouco angulosos e limites grosses e mais 
ou menos ondulados; o comprimento varia ao redor de 600 microns. 
SUBESP6CIES � Esta especie, pelos conhecimentos atualmen- 
te disponiveis, parece constituir, na realidade, comolexo de formas 
subespecificas cuja diferenciacao nao e facil e, praticamente, encon- 
tra-se confinada aos aspectos do mesosoma, na genitalia masculina. 
A ultima revisao do assunto, levada a efeito por Martinez, Carcavallo 
e Prosem (1960), concluiu pela inclusao em H. capricornil Lutz, dos 
diagn6sticos e formas que, ate entao, teriam sido erroneamente atri- 
buidas a H. spegazzinii Brethes. Esta ultima seria facilmente diferen- 
ciavel daquela e corresponderia ao que, posteriormente, foi descrito 
como H. uriartei Shannon e Del Ponte. Assim sendo, a subespecie 
faico de Kumm, Osorno-Mesa e Boshell-Manrique (1946), bem como 
o assim chamado "tipo intermediario" de Kumm e Cerqueira (1951), 
passariam a fazer parte do complexo H. ccipncornii. Dessa maneira, 
segundo aqueles citados autores, a situacao, para os varios compo- 
nentes desse grupo, passaria a ser a seguinte: 
SiTliACSO ATUAL SITUACAO ANTERIOR 
(Martinez, Carcavallo e Prosen, 1960) 
H. capricornil capricornil ............. H. capricornil Lutz. 
H. capricormi faico ................... H. spegazzinii faico Kumm et al. 
H. capricornil janthinomys ............ "tipo intermediario" de Kumm e 
Cerqueira. 
H. capricornil petrochiae ............. 
’ 
H. fpegazzinii spegazzinii (nee 
Brethes). 
H. spegazzinii Brethes ............... H. nriartei Shannon e Del Ponte. 
2Q ENTOMOLOGIA MADICA 
Tais conceitos, baseados em diferencas morfologicas do meso- 
soma, alem de distribuicao geografica dessas varias formas, sao bas- 
tante aceitaveis e tern o merito de simplificar a questao, facilitando 
as investigacoes epidemiologicas, ate agora constantemente obstacula- 
das pela dificil diferenciacao entre H. capricornii e H. spegazzinii. 
Contudo, lamentavelmente, o trabalho de Martinez, Carcavallo e Pro- 
sen (1960), ressente-se da falta de ilustracoes convenientes, princi- 
palmente no que concerne aos elementos supracitados. Por outro 
lado, e bem fundamentada a opiniao de Galindo (1957), ressaltando 
a semelhanca do mesosoma de janfhinomys, ou seja, do "tipo inter- 
mediario", corn o de petrochiae (= spegazzinii spegazzinii), sendo 
muito mais proximo deste ultimo do que de fated. Como se pode 
ver, e imperativa a necessidade de maiores estudos extensivos as for- 
mas imaturas, para poder obter-se solucao satisfat6ria da questao. 
Dessa forma, adota-se neste livro, ate que ulteriores pesquisas tragam 
substanciais evidencias em contrario, a opiniao de Martinez, Carca- 
vallo e Prosen (1960), modificada pela de Oalindo (1957) supra- 
citada. Assim sendo, a especie H. capricornii compreende o conjunto 
das seguintes subespecies (fig. 2): 
1) H. capricornii capricornii � Corresponde a forma especifica, 
corn o mes6soma completamente glabro e o processo apical quitini- 
zado prolongando, em direcao basal, a sua esclerotinizacao. 
2) H. capricornii faico Kumm, Osorno-Mesa e BosheII-Manri- 
que, 1946 � fi o antigo H. spegazzinii faico e corresponde a forma 
que possui o mesosoma espiculoso na face ventral superior, e o pro- 
cesso apical quitinizado, corn aspecto de bico adunco retrodirigido e 
simples. 
3) H. capricornii janfhinomys Dyar, 1921 � Corresponde ao 
que antigamente se denominava H. spegazzinii spegazzinii, ou seja, 
o recente H. spegazzinii petrochiae, e ao assim chamado "tipo inter- 
mediario". 0 mesosoma e tambem espiculoso na porcao superior 
da face ventral, mas o processo quitinoso apical, em forma de bico 
retrodirigido, apresenta-se entalhado ou dupio, na sua extremidade. 
DISTR1BUICAO E BIOLOGIA (fig. 3) � Esta especie e 
essencialmente continental, distribuindo-se pelas Americas, Central e 
do Sul, desde Honduras ate o norte da Argentina. Levando-se em 
consideracao as varias formas, pode-se dizer que capricornii s. str. 
encontra-se localizada no sul do Brasil, chegando ate o Temt6rio das 
Missoes, na Argentina. Por sua vez, janthinomys estende-se desde 
a area noroeste desse ultimo pais, prolongando-se pela Bolivia, a 
faixa central, norte e nordeste do Brasil, as Guianas e Trinidad. 
Quanto a faico, passa a mesma a predominar na regiao noroeste do 
QfiNEKOS BABStAOOGUS, UANSONIA, CVLISBTA E OUTROS 21 
v 
Mes6soma de Baema.gogvs . cayrii 
- 
pertil. A � H. c. capricornil; 
C� H. c. janthmowiys. 
22 ENTOMOLOGIA MfiDICA 
Brasil e, prolongando-se nessa mesma direcao, distribui-se pelo Peru, 
Equador, Venezuela, Colombia, penetrando na America Central pelo 
Panama, e chegando ate Honduras. 
Os locals de desenvolvimento larval desta especie, obedecem ao 
tipo geral ja mencionado para tais mosquitos, e sao representados 
pelos buracos ou 6cos de arvores. Contudo, o encontro das formas 
imaturas nao e facil nem abundante e, via de regra, o seu achado 
nao concorda corn a alta densidade apresentada pelos adultos em 
determinadas ocasioes. Komp (1952) observou que algumas ativida- 
des humanas poderiam propiciar a instalacoes de tais criadouros. Ve- 
rificou esse autor, em regiao florestal da Colombia sujeita a explora- 
cao madeireira, a presenca de larvas, em regular quantidade, nos 
tocos e troncos escavados de arvores caidas, bem corno em bamblis 
cortados, aglomerados na vizinhanca de habitacoes e destinados a 
serem posteriormente utiiizados como material de construcao. Dai 
pois, a suposicao de que a escolha dos criadores de H. capricornii 
possa ser feita de maneira facultativa, na dependencia de ambientes 
favoraveis que, para tanto, venham a ser estabelecidos. Alias, a 
presenca de criadouros em cepos escavados, de arvores que foram 
cortadas, e em situacoes a pequena altura do solo, parece nao serem 
fenomenos de observacao rara (Galindo, Carpenter e Trapido, 1950; 
Komp, 1952). 
Os ovos deste mosquito sao resistentes a dessecacao e somente 
eclodem apos prolongado periodo de inatividade e contactos repeti- 
dos corn a agua (Galindo, Carpenter e Trapido, 1955). A duracao 
total do cicio, de ovo a adulto, varia de acordo corn fatores diversos 
entre os quais, a temperatura. Observacoes levadas a efeito em con- 
dicoes de laboratorio, a cerca de 25°C, revelaram, como tempo medio, 
valores oscilantes ao redor de 15 dias (Bates, 1947; Oalindo, Car- 
penter e Trapido, 1955). 
As femeas desta especie sao hematofagas e essencialmente sil- 
vestres, exercendo a sua atividade, de maneira predominante, nas 
regioes altas das copas das arvores. Nada se sabe sObre possiveis 
preferencias hematofagicas. 0 mosquito foi frequentemente obser- 
vado atacando o homem e animais, sendo a coleta corn a primeira 
dessas iscas, tecnica comunmente realizada. Todavia, em algumas 
observacoes, foi referido como sendo de pouca agressividade para o 
homem (Komp, 1936) e sugando, embora em pequeno numero, ani- 
mais diversos, inclusive aves (Kumm e Novis; 1938; Davis, 1944). 
Em outras porem, foi assinalado como insistente picador, buscando 
avidamente o sangue humano (Martinez, 1950). 
A atividade e exclusivamente diurna, iniciando-se corn as pri- 
meiras horas da manna e prolongando-se ate as ultimas da tarde, 
antes do crepusculo. Geralmente, a intensidade maxima desse fen6- 
GENEROS HAEMAGOGUS, MANSONIA, CULISBTA E OUTROS 23 
Fig. 3 � Distribuicao geografica ae Haemagogus (Stegoconops) capricornil. 
24 ENTOMOLOGIA MfiDICA 
meno ocorre no periodo do dia de maior luminosidade, ou seja, o 
compreendido entre as 9:00 e 15:00 horas (Kum e Novis, 1938; 
Causey e Santos, 1949; Trapido e Galindo, 1957; Alvarado e cols., 
1959). Via de regra, observa-se a ocorrencia de urn pico nas pri- 
meiras horas daquele periodo, ao qual se segue ligeira queda, para 
dar lugar a nova ascen^ao nas subseqiientes (fig. 4). Segundo 
MH , N 
Ml 
S 
Fig. 4 � Distribuicao horaria de Haemagogus capricornii, em am- 
bientes florestais do munlcipio de Curralinho, E. Parfi, Brasil, de 
Passos, E. Minas Gerais, Brasil, da regiao de Almirante, Panama, 
e da Provincia de Salta Argentina, mediante coletas corn isca hu- 
rnana (baseado em Kumm e Novis, 1938; Causey e Santos, 1949; 
Trapido e Galindo, 1957; Alvarado e cols., 1959). MH � mediae 
horarias; N � nfimero de exemplares; H � horas. MA � Ilha 
de Marajo, Municipio de Curralinho, E. Para, BrasU. MI � Regiao 
de Passes, E. Minas Gerais, Brasil. P � Regiao de Almirante, 
Panama. S � Provincia de Salta, Argentina. 
GENEROS HAEMAOOBVS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS 25 
Trapido e Oalindo (1957), no Panama, este mosquito pode ser in- 
cluido entre aqueles que mostrarn o maximo de atividade nas ultimas 
horas do supramencionado pericdo. Todavia, a significancia de tais 
diferencas, no assim denominado "cicio diurno", deste e de outros 
culicinos, constitui materia ainda duvidosa e sujeita a maibres inves- 
tigacoes. 
As varias observances levacas a efeito ate o momento, tern indi- 
cadb este mosquito como frequcntador, de maneira predominante, da 
copa das arvores. Assim sendo, a pouca altura do solo e sempre 
coletado em pequeno niimero. Contudo, em locais bem insolados, e 
em dias claros, que se sucedein a periodos secos, mais ou menos 
longos, torna-se relativamente abundante nos niveis baixos. Dessa 
forma, tudo indica que ele tenha tendencia a se afastar das zonas 
de umidade elevada, corn valores da U.K. acima de 85%. Seria esse 
pois, fator ponderavel na oriertacao do culicino (Bates, 1944). fi 
o que foi observado em Conta Rica, por Galindo e Trapido (1955). 
Em areas desse pais destinadas a plantacao de cacau, a floresta pri- 
mitiva e previamente rarefeita para prover o sombreamento parcial 
necessario aos cacauzeiros. Em conseqiiencia, o habitat do solo tor- 
na-se semelhante ao da copa e portanto, da-se o aumento da densi- 
dade dos mosquitos a esses niveis baixos. Raciocinio semelhante 
pode ser feito, nas areas de matas sujeitas as derrubadas externas 
as quais, abrindo clareiras cada- vez maiores, propiciam a descida da 
populacao deste culicino ate o solo. Por sua vez, o alcance de voo 
pode ser apreciavel, como foi constatado em algumas observances. 
Na regiao de Passes, ao sul do Brasil, foram verificadas distancias 
de ate 11,5 quilometros do pcnto de libertacao e recapturas de 10 
dias apos (Causey e Kumm, 19-18; Causey, Kumm e Laemmert, 1950). 
fiste mosquito e essencial mente extradomiciliar e, assim sendo, 
sua presenca nas habitacoes humanas, e constantemente tida como de 
carater acidental. Contudo, em algumas ocasioes, em areas ao norte 
da Argentina e na Bolivia, foi surpreendido freqtientando corn insis- 
tencia os domicilios, tendendo porem a abandona-los logo apos a 
realizacao do repasto sanguineo (Martinez, 1950; Manso Soto, Mar- 
linez e Prosen, 1953). No aribiente natural, ambos os sexos foram 
surpreendidos, algumas vezes, sobre flores silvestres de euforbiaceas, 
como Croton sarcopetalus, tendo sido ali regularmente coletados (Man- 
so Soto, Martinez e Prosen, 1953; Alvarado e cols., 1959). 
No estado atual dos conhecimentos, esta especie e considerada 
como vetor imporiante do virus da febre amarela, no seu cicio natu- 
ral. Dependehdo de condicoes favoraveis, podera transmiti-lo eficien- 
temente ao homem. Contribuiram para que tal conceito fosse alcan- 
cado, nao somente as varias ocasioes em que foi encontrada natural- 
mente infectada corn esse agente viral, como tambem as evidencias 
epidemiol6gicas observadas em diversas regioes da America do Sul 
26 ENTOMOLOGIA MEDICA 
e Central. Assim sendo, tenl-se como seguramente comprovado o 
desempenho desse papel no Brasil, Colombia, Trinidad, Panama e 
Costa Rica, alem de outras areas onde para tanta existam condicoes 
propicias (Shannon, Whitman e Franca, 1938; Bugher e cols., 1944; 
BosheII-Manrique e Osorno-Mesa, 1944; Laemniert, Castro Ferreira 
e Taylor, 1946; Oalindo e Trapido, 1955; Dows, Aitken e Anderson, 
1955; Rodaniche, Galindo e Johnson, 1957; Aitken, 1960). Tais fatos, 
aliados aos sucessos obtidos em provas de transmissao experimental 
(Whitman, 1951; Oalindo, Rodaniche e Trapido, 1956), fazem corn 
que este mosquito seja colocado entre os eficazes veiculadores dessa 
infeccao. 
No Panama, este mosquito foi tambem encontrado infectado na- 
turalmente pelo virus Ilheus (Rodaniche e Galindo, 1961). A inter- 
pretacao epidemiologica desse achado, constitui assunto aberto a 
investigacao. 
HAEMAGOOUS (STEOOCONOPS) MESODENTATUS KOMP E 
KUMM, 1938 (fig.7 A,B,C,D). 
DIAGNOSE � Os adultos desta especie sao muito semelhantes 
aos de H. capricormi, dos quais dificilmente se separam, a nao ser 
por certos caracteres de coloracao que, alem do mais, podem estar 
sujeitos a variacoes. Levando em conta tais ressalvas, pode ser cita- 
do o fato de o mesonoto apresentar-se totalmente recoberto de esca- 
mas douradas, estando os elementos de tonalidade azul esverdeada, 
confinados aos lobos pronotais e escutelo. Alem disso, nas pernas 
pode-se notar a presenca de marcacao branca na face externa e apice 
do femur posterior alem de, as vezes, nos segmentos tarsais media- 
nos; no abdome, verifica-se que os tergitos sao totalmente escuros, 
violaceos, podendo apresentar alguma area clara mediana, mas pos- 
suindo-as basolateralmente, de maneira que as duas tonalidades 
acham-se separadas por linha reta que assim percorre longitudinal- 
mente cada lado do abdome; os esternitos sao revestidos de escamas 
azuladas, corn faixas Claras basais. Na genitalia masculina o basis- 
tilo e urn tanto alongado, corn tufo de escamas lanceoladas inseridas 
no terco distal de sua face interna, alem de outras truncadas, nela e 
na face externa; o lobo basal do basistilo e pouco saliente, cerdoso, 
e corn cerdas desiguais, curtas e longas; claspete curvo, piloso, corn 
algumas finas setas e processo apical foliaceo, de contorno triangu- 
lar, pontudo, estriado, e de comprimento equivalente a metade ou 
pouco mais deste apendice; dististilo curto e corn garra longa e pon- 
tuda; mesosoma globoso e, quando visto ventralmente, apresenta con- 
t6rno que lembra o de uma maca, possuindo carena central e supe- 
rior, saliente, estreita e alongada, apreciavelmente serrilhada a custa 
GENEHOS HAEMAWGUS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS 27 
de dentes retrodirigidos; lobos do nono tergito, pequenos e corn duas 
ou tres setas espiniformes, neles inseridas; a margem distal do VIII 
tergito, apresenta conjunto de escamas longas e lanceoladas. A larva 
apresenta o corpo espiculoso, embora menos intensamente* do que em 
H. capricornii. No restante, assemelha-se muito a desta ultima espe- 
cie, podendo-se destacar os caracteres diferenciais seguintes. 0 pecten 
do VIII segmento e tambem consfituido por uma so fileira de elemen- 
tos espiniformes dotados de extremidade agucada e simples, mas 
destituido de placa quitinizada sobre a qual os mesmos poderiam se 
inserir; os elementos que constitiiem o pecten sifonal apresentam-se 
serrilhados, a custa de mais de urn dente, na porcao basal de cada 
um; a margem postero-superior da sela do lo’bo anal, apresenta-se 
fortemehte espinhosa, corn elementos longos e quitinizados; as bran- 
quias anais sao de comprimento mais ou menos equivalente ao da sela. 
Admite-se atualmente, a ex:stencia de algumas categorias sub- 
especificas, incluidas nesta espec.e, a qual assim passaria a se cons- 
tituir em complexo de formas cu racas biol6gicas. Elas foram re- 
conhecidas por Galindo e Trapido (1956), que as diferenciaram por 
caracteres de coloracao de adul;os, alem de distribuicao geografica. 
Assim sendo, tal conjunto seria formado pelos seguintes componentes: 
H. mesodentatus mesodeniatus � Compreendendo os exemplares 
que apresentam as extremidadcs dos femures, medio e posterior, 
brancas, dando assim evidente aspecto claro aos joelhos. Alem disso, 
o lobo pronotal e o pos-pronoto, sao inteiramente cobertos de esca- 
mas. azul esverdeadas. 
H. mesodentatus gorgasi Galindo e Trapido, 1956 � As extre- 
midades dos femures, medio e posterior, sao completamente escuras, 
enquanto o lobo pronotal e o pos-pronoto sao tambem cobertos de 
escamas azul esverdeadas. 
H. mesodentatus alticola Oalindo e Trapido, 1956 � Estes es- 
pecimens possuem joelhos claros, ou seja, as extremidades femurais, 
media e posterior, sao brancas. Ao mesmo tempo, apresentam o lobo 
pronotal quase que inteiramente; recoberto de escamas brancas, bem 
como numerosos desses etementos podem ser vistos na margem pos- 
terior do pos-pronoto. 
DISTRIBUICAO E BIOLOGIA (fig., 5) � Esta especie e 
essencialmente centroamericana, estendendo-se desde a regiao ociden- 
tal do Panama, para o norte, ate o Mexico, inclusive. Em relacao as 
varias formas, pode-se dizer que mesodentatus s. str. distribui-se, 
desde Bocas del Toro, oeste do Panama, percorrendo as vertentes 
atlanticas florestais da America Central, ate o sudeste de San Luis 
de Potosi, no Mexico. Quanta a gorgasi, estende-se do lado pacifico, 
ENTOMOLOGIA MfiDICA 
GBNEROS HAEMAGOGUS, MANSOVIA, CULISETA E OUTROS 29 
desde El Salvador, atravessando a vertente correspondente da Guate- 
mala a Mexico, onde alcanca, ao norte, a regiao de Mazatlan. No 
que concerne a allicola, trata-se de iorma das terras altas do inte- 
rior, ocupando areas da Guatemala e sul do Mexico, onde chega ate 
Cuernavaca (Trapido e Galindo, 1956; Galindo e Trapido, 1956). 
Pouco se conhece s6bre os habitos deste mosquito. Nas ocasioes 
em que foram encontrados, os criadouros achavam-se localizados em 
buracos de arvores e em bamblis cortados, as vezes situados na peri- 
feria de niicleos habitados (Komp e Kumm, 1938; Kumm e Zuniga, 
1942; Diaz Najera, 1960). Quanto aos adultos, tern sido eles obti- 
dos em ambiente florestal, corn isca humana e na copa das arvores 
(Galindo e Trapido, 1957). 
0 interesse sanitario desta especie, reside na capacidade da 
mesma veicular o virus da febre amarela, no ambiente florestal. As 
observacoes experimentais de Galindo,’Rodaniche e Trapido (1956), 
ja tinham demonstrado a capacidade de transmissao pela picada, tanto 
de H. m. mesodentatus como de H. m. gorgasi. Posteriormente, esse 
papel obteve significativa confirrnacao, corn os repetidos isolamentos 
do virus amarilico, de especiniens coletados na natureza, durante surto 
epizootico ocorrido na Guatemala (Johnson e Farnsworth, 1956; Ro- 
daniche e Galindo, 1957). Assim sendo, este culicino e atualmente 
encarado como importante vetor desse agente viral, na natureza, pelo 
menos entre a populacao de macacos. Alem disso, foi recentemente. 
observado, no Panama, corn infeccao natural por virus ainda nao 
identificado (GLM, 1964). 
OUTRAS ESP6CIES � Os conhecimentos s6bre os demais 
meinbros deste grupo, a semelhanca do que ocorre corn outros, sao 
limitados. Os ambientes de desenvolvimento larvario obedecem ao 
tipo fundamental de recipientes naturais, representado pelos buracos 
em arvores. Todavia, algumas observacoes corn H. anastasionis, tern 
indicado outros tipos de receptaculos, e mesmo de ambientes. Assim 
e que essa especie foi surpreendida, em Curacao, criando-se em axilas 
de folhas e em escavacoes de rochas, estas ultimas corn agua poluida 
(Kuyp, 1949, 1953, 1954). No que concerne a criadouros artificiais, 
e ainda essa especie que fornece alguns dados a respeito. Larvas a 
ela pertencentes foram encontradas em pias corn agua benta, de igreja 
da Costa Rica (Kumm, Komp e Ruiz, 1940), e em tinas e cascas 
de c6co, nos patios de casas im Campeche, Mexico (Diaz Najera, 
1960). 
No que concerne aos habitos das formas adultas, os conhecimen- 
tos sao igualmente pobres. A liematofagia s6bre o homem, constitui 
fato observado para H. albomaculatus, H. anastasionis e H. spegaz- 
zinii. Em observacoes de Galindo e Trapido (1957) na Nicaragua, 
30 ENTOMOLOGIA MfiDICA 
o H. anastdslonis mostrou pouca diferenca quanto a sua presenca na 
copa das arvores ou no solo florestal, sendo niesino, em alguns cases, 
mais abundante neste do que naquele ambiente. Nas Antilhas Holan- 
desas, essa mesma especie foi surpreendida por Kuyp (1954) dentro 
das habitacoes. A atividade, a semelhanca dos outros representantes, 
e diurna, abranjendo as horas mais luminosas do dia. 
Deixando de lado as especies ate agora raramente coletadas, os 
dados disponiveis no momento, permitem alguma ideia s6bre a dis- 
tribuicao geografica de alguns representantes dgste grupo (fig. 6). 
Assim e que H. albomaculatus parece ser bastante frequente na regiao 
das Guianas e ’areas do norte do Continentesulamericano. Por sua 
vez, H. anastasionis e predominantemente centro-americano, sendo 
observado inclusive, no Peru e na Colombia, nas ilhas de Curacao e 
Aruba e no sul do Mexico. Quanto a H. spegazzinii (= uriarfei), 
trata-se de especie sulamericana, sendo encontrada na regiao nor- 
deste e central do Brasil, na Bolivia, no Paraguai e norte da Argen- 
tina (Kunim, Komp e Ruiz, 1940; Kuinm e Ziiniga, 1942; Floch e 
Abonnenc, 1944; Kuyp, 1949, 1953, 1954; Kumm e Cerqueira, 1951; 
Vargas e Martinez Palacios, 1953; Manso Soto, Martinez e Prosen, 
1953; Komp, 1954a; Oalindo e Trapido, 1957; Martinez, Carca- 
vallo e Prosen, 1960; Fauran, 1961). 
No que concerne as outras duas especies deste subgenero, ainda 
menos se sabe. Pode-se citar que H. andinus e considerado como 
mosquito de altitudes acima de 1700 metres, na Colombia (Kumm, 
Osorno-Mesa e Boshell-Manrique, 1946), e que as femeas de H. 
baresi, tern sido coletadas mediante a utilizacao de isca humana, na 
regiao amazonica do Brasil (Cerqueira, 1961). 
Dado os escassos conhecimentos atualmente disponiveis s6bre 
estas especies, nao e licito excluir que elas possam desempenhar signi- 
ficativa atuacao no cicio natural do virus amarilico, ou mesmo de ou- 
tros agentes dessa natureza. Komp (1954) considera provavel esse 
papel para o H. albomaculatus nas Guianas. 0 mesmo se poderia 
suspeitar para H. anastasionis e H. spegazzinii nas areas em que os 
mesmos se apresentam corn apreciavel densidade. Assim sendo, em 
vista da importancia potencial desses tres culicinos, nas linhas que 
seguem serao apresentados os elementos que podem ser utilizados na 
sua carcterizacao. Quanto aos outros representantes, serao eles in- 
cluidos nas chaves constantes no final deste capitulo. 
Haemagogus (Stegoconops) albomaculatus Theobald, 1903 (fig. 
7 E, F) � Os adultos possuem a proboscida escura, corn reflexes 
violaceos, e pouco mais longa do que o femur anterior; o occipicio 
e coberto de escamas azul violaceas, corn elementos brancos dispostos 
�aos limites laterais da regiao. 0 lobo pronotal e azulado, e o p6s- 
GfiNEROS HABMAGOGUS, MANSONIA, CULISBTA E OUTROS 31 
Fig. 6 � Distribuicao geogr&fica de algumas csp^cies de 
Haemagiigus t’Stegoconops). 
32 ENTOMOLOGIA MEDICA 
pronoto e escuro; todo o mesonoto, bem como o escutelo, acham-se 
recobertos por escamas de tonalidade azul esverdeada; pleuras corn 
escamas prateadas, notando-se forte seta na esternoplaura (Lane, 1953); 
as pernas sao escuras, excecao feita da por(So superior da face pos- 
terointerna e da extremidade .distal do femur posterior, as quais sao 
brancas. Os tergitos abdominais sao de coloracao violacea averme- 
lhada, corn areas brancas basolaterais e, algumas basais, nos ultimos 
segmentos. Na genitalia masculina, o basistilo e um tanto alongado, 
corn varias escamas longas lanceoladas na porcao distal da face 
interna; o lobo basal do basistilo e pequeno, e dotado de tufo de 
cerdas longas; o claspete e colunar, longo, curvo, piloso na metade 
basal, onde apresenta alguma fina seta, e corn filamento apical folia- 
ceo, dilatado, triangular, estriado e de extremidade agucada; o distis- 
tilo e curto, corn garra longa e cilindrica; o mes6soma e globoso, de 
contorno que lembra o de um escudo, quando visto pela face ventral, 
apresentando nitida fenda no apice, a qual forma suico profundo, em 
cuja base nota-se a presenca de area quitinizada, corn o aspecto de 
bico pontudo; nono tergito corn lobos pequenos, cada um cam duas 
setas espiniformes, a margem distal do VIII tergito e dotada de con- 
junto de escamas lanceoladas estreitas. 
Haemagogus (Stegoconops) anastasionis Dyar, 1921 (fig. 7 0, 
H, I, J, K) � Sinonimia: H. obscurescens Martini, 193). Os adultos 
apresentam a proboscida ligeiramente niais longa do que o femur 
anterior; o occipicio recoberto de escamas corn reflexes azulados. 0 
lobo pronotal, corn elementos azul esbranquicados; o mesonoto, inclu- 
sive escutelo, inteiramente coberto-de escamas azul esverdeadas; per- 
nas totalmente escuras, exceto na face posterointerna do femur poste- 
rior, que e branca. Tergitos abdominais escuros, corn reflexos viola- 
ceos, dotados de areas claras basolaterais, alem de outras basais, 
medianas presentes do III em diante. Genitalia masculina, corn o 
basistilo dotado de lobo basal pequeno, intensamente cerdoso, e con- 
junto de escamas lanceoladas inseridas na porcao superior da face 
interna; claspete curto, colunar, corn pilosidade constituida por ele- 
mentos alongados, algumas finas setas, e ligeiramente dilatado no 
apice, onde se insere o filamento foliaceo, o qual se apresenta bem 
Fig. 7 � Haemagogus mesodentatus: A � representaeao esquematica do 
abdome e femur posterior do adulto; B � basistilo e dististilo; b � clas- 
pete; C � mes6soma; D � segmentos terminals da larva; d � elemento. 
do pecten do VIII segmento; d’ � elemento do pecten sifonal; Haema- 
gogus albomacitlatus: E � claspete (baseado em Komp, 1954; F � me- 
s6soma (baseado em Komp, 1954); Haemagogus anastasionis: G � VIII 
tergito abdominal; H � claspete; I � mes6soma; J � elemento do 
pecten do VIII segmento da larva; K � lobo anal da larva; Haemagogus 
spegassinii; L � VIII tergito abdominal; M � basistilo e dististilo; 
m � claspete; N � mes6soma; 0 � elemento do pecten do VIII segmento 
da larva; P � lobo anal da larva. 
G&NEROS BAEMAGOGVS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS g3 
34 ENTOMOLOGIA MfiDICA 
menor do que 0 apendice, alongado, pouco dilatado e pontudo; meso- 
soma globoso, de contorno que lembra o de uma maca, quando exa- 
minado pela face ventral, e dotado de carena mediana apical, pouco 
saliente e sem espfculos, margem posterior do VIII tergito, corn 
varias cerdas fortes. Larva de corpo glabro. Cerdas frontais, inter- 
na e media (5 e 6) simples, externa (7) dupla, tfldas ligeiramente 
penadas. 0 pecten do VIII segmento nao esta sobre placa quitinosa, 
e e constituido por 6 a 10 elementos dispostos em fileira, de aspecto 
espiniforme e corn a extremidade pontuda e ligeiramente serrilhada; 
o pecten do sifao respiratorio, e formado por fileira de cerca 15 ele- 
mentos irregularmente serrilhados na base; cerda lateral da sela do 
lobo anal (1) multipla e ligeiramente penada; branquias anais cur- 
tas e desiguais, sendo as ventrais de compriniento equivalente a cerca 
da metade das dorsais. 
Haemagogus (Stegoconops) spegazzlnii Brethes, 1912 (fig. 7 
L,M,N,0,P) � Sinonimia: H. uriartei Shannon e Del Ponte, 1927; 
H. lindneri Martini, 1931. Os individuos adultos desta especie po- 
dem ser separados dos demais corn relativa facilidade, pelos caracte- 
res que vao mencionados a seguir. A proboscida, corn cerca de urn 
terco mais longa do que o femur anterior e corn reflexos violaceos; 
occipicio recoberto de escamas douradas e esverdeadas. No torax, 
observa-se o lobo pronotal, distintamente coberto de elementos brancos 
ou prateados; mesonoto de tonalidade dourado avermelhada ou co- 
breada, na porcao anterior, dourado clara nas laterais, e corn reflexos 
azulados ou esverdeados nas regioes, supralar, depressao pre-escute- 
lar e escutelo; o pos-pronoto acompanha a tonalidade mesonotal; as 
pernas sao escuras, corn reflexos violaceos, exceto na face postero- 
interna dos femures, onde a tonalidade e branca. Os tergitos abdo- 
minais acham-se recobertos de elementos corn reflexos azul claro ou 
acinzentados, dando no conjunto, aspecto dessa tonalidade, bem 
marcado, ao abdome; alem disso, observa-se a presenca de areas bran- 
cas basolaterais. Na genitalia masculina nota-se o basistilo corn es- 
camas lanceoladas abundantes inseridas na porcao distal da face 
interna e corn o lobo basal indistinto, sem fazer saliencia apreciavel 
pela qual possa ser notado, e dotado de cerdosidade consetituida por 
elementos pouco numerosos; claspete colunar, ligeiramente curvo, corn 
algumas finas setas, inteiramente piloso e dotado de filamento apical 
foliaceo, urn tanto triangular, estriado e pontudo; dististilo curto, corn 
garra de comprimentoequivalente a quase a metade do mesmo; meso- 
soma globoso, corn perfil de maca, quando examinado pela face 
ventral, e corn carena mediana apical, um tanto saliente e lisa; lobos 
do nono tergito pequenos, e corn duas ou tres cerdas espiniformes, 
neles inseridas; a margem distal do VIII tergito apresenta conjunto 
de fortes cerdas. Larva de corpo glabro; cerdas frontais, interna e 
GfiNEROS BAEUAOOGUS, MANSO.fIA, CULISETA E OUTROS 85 
media (5 e 6) simples, e externa (7) multipla, todas ligeiramente 
penadas. Pecten do VIII segmcnto, constituido por fileira de cerca 
10 elementos espiniformes e finamente serrilhados no apice, sem placa 
quitinosa; pecten do sifao respiratorio corn 15 ou’mais elementos, 
irregularmente serrilhados na base; seta lateral da sela do lobo anal 
(1), multipla, longa e ligeiramente penada; branquias anais curtas 
e todas de comprimento mais on menos equivalente. 
SUBOENERO HAEMAGOOUS WILLISTON, 1896 � fiste grupo 
inclui aqueles representantes que, na fase adulta, apresentam os ma- 
chos corn antenas moderadamente plumosas, isto e, corn cerdosidade 
esparsa. As femeas possuem garas tarsais lisas. Na asa, verifica-se 
que a celula furcada anterior e mais longa do que o peciolo corres- 
pondente. Na genitalia masculina nota-se que o basistilo apresenta, 
junto a articulacao do dististilo, um conjunto de cerdas finas e longas 
inseridas em processo ligeiramente saliente, a maneira de lobo apical; 
os lobos do nono tergito sao atrofiados e destituidos de setas. Na 
larva, os elementos do pecten do VIII segmento dispoem-se formando 
conjunto corn aspecto de um todo, agiomerado, de varias fileiras. 
Neste subgenero acham-se ate agora incluidas 8 especies. Al- 
gumas delas tern sido apontadas como transmissoras do virus amari- 
lico, no ambiente florestal. Serao elas tratadas, em particular, nas 
linhas que seguem. 
HAEMAGOGUS (HAEMAGOGUS) LUCIFER (HOWARD, DYAR 
E KNAB, 1912) (fig. 8). 
DIAGNOSE � Adultos corn proboscida de comprimento pouco 
maior do que o do femur anterior, escura, corn reflexos violaceos; 
occipicio inteiramente recoberto de escamas corn reflexos azudados; a 
antena masculina, esparsamente cerdosa. 0 mesonoto apresenta-se 
revestido de elementos dourado esverdeados; o lobo pronotal, a regiao 
imediatamente acima da raiz alar, e o escutelo, corn escamas azula- 
das; pleuras corn escamas prateadas; escamas alares, totalmente es- 
curas; pernas inteiramente escuras, corn reflexos de tonalidade violacea, 
exceto na face posterointerna dos femures, principalmente o posterior, 
que e branca. 0 abdome apresenta os tergitos de tonalidade viola- 
cea, corn areas brancas basolaterais notando-se ainda, algumas esca- 
mas claras basais medianas, nos ultimos segmentos; esternitos corn 
faixa basal branca. Na genitalia masculina, o basistilo apresenta-se 
um tanto dilatado, corn espesso conjunto de escamas lanceoladas na 
por(ao superior da face interna; observa-se ainda, ligeiro lobo na 
porcao apical dessa peca, proximo a articulacao corn o dististilo, e 
36 ENTOMOLOGIA MSDICA 
0�S HA^O^S, 
M�M, CT^A E OUTROS 37 
onde se inserem algumas cerdas lo^ lobobasal 
do ^ ^; pouco saliente e cerdoso, corn elemn tos ^s’g^ .^ L lado de outros, longos e S’0^’^^ e longas, dilatado 
na base, onde se encontram ^^"^.i^^to api"1 follaceo- que e 
no apice, onde se -n^nua ^ 
o - la^n^P ^^ dilatado, espatulado na extremlaa. dilatada, de aspecto espatu- 
curvo, corn garra subapical, estnada 
e dm , 
^ ^ ̂ lado; mesosoma dilatado P’"*0^ ou ^^ i;^ e pouco saliente; porcao apical, onde ^^..^"on.ba ^ franiada, e corn decimo esternito corn ^emd^ ̂ ’distal do VIII tergito, corn algumas finas setas no corpo, ^S". ^ ̂ ^ possui o corpo conjunto de cerdas t"^ .^^^re ̂ . com seta ^tenal (11) 
glabro. A antena e cimdnca 
curta e "s � 
^as frontais a 
fimples e inserida no "^’."^" ̂ .^fesou duP1^ e a exteraa (7) 
interna (5) e simples, a media ^s^^^^ ou indistinta- 
multipla, corn quatro ou mal """(^^ pequena e multipla; cerdas 
mente penadas; cerda P^cl^\ (4) P ^ ^ (i 4), simples e occipitais, interna e externa (8 e 9^^ s P ,^^nto de 20 ou finas. VIII segmento corn P^. 00^1^ onde apresentam-se 
mais elementos alongados, de�,?�" ^"^"g das cinco, a primeira, 
finamente serrilhados; das 
cerdas do^ jrupo ^ ^ 
terceira e quinta sao multiplas 
ao P^ ̂e apresenta-se penada, de 
simples, notando-se que somene ^t^ycena^^P ^j^^ e de com- 
maneira evidente; o "^" ^Prtrts vezes o valor da largura basal, primento equivalente a cerca. de� W_ve ^ ̂ ̂ nao existindo ^"’^� ".’"’"el^envergadura media, inserido alem ramos ligeiramente penados, e de enve ^ glementos corn urn so do pecten; este ^""^’"�^ ^ITncoVp^a e moderadamente espi- dente na base; lobo anal com sela ’"^^ateral da sela (1) longa, 
nhosa no angulo postero ^P6^^1^ escfiva dorsal (2) multipla 
dupla e finamente penada, sea^^na d ^^ ^ corn seis ou mais ramos e "’""^t, ^3, inseridas no angulo pos- 
^rMbo^ ^ ^^r s ^ rua^^rsa; Te Sme.o ̂alente a tres ou mais vtees o da sela, e de extremidade pontuda. -������������������’���’adulto (esquemAOco); a � eica- 
pig 8 � Haemagogw Iwiler. 
A � aau ^ tergito abdominal; 
^ =o^ ̂ ^^^^T^-^^ ^^ao-vST^^^^ - -ten silonal; F - ca- 
gg ENTOMOLOGI-A M6DICA 
DISTRIBUICAO E BIOLOOIA (fig. 9) � Esta especie e 
essencialmente centroamericana, tendo sido encontrada, ate agora, no 
Panama e Costa Rica. Alem disso, sua presenca foi assinalada em 
varias localidades do noroeste da Colombia (Kumm, Osorno-Mesa e 
BosheIl-Manrique, 1946). 
Os locais de desenvolvimento larvario deste mosquito acham-se 
situados, preferentemente, em recipientes naturais representados pelos 
buracos em arvores a pouca altura do solo. No Panama, tern sido 
encontrado em internodios de baniblis, artificialmente cortados, e sendo 
mais freqiientemente obtido em ambientes de florestas primarias (Ga- 
lindo, Carpenter e Trapido, 1955). Os ovos resistem a dessecacao e 
eclodem desde o primeiro contacto corn a agua, incluindo-se assim 
no tipo equinus de eclosao, como foi descrito em paginas atras. Se- 
gundo observac5es de Galindo, Carpenter e Trapido (1955), as me- 
dias do numero de elementos obtidos por postura e do tempo de 
duracao de ovo a adulto sao de 10,3 ovos e de 13,4 dias, respecti- 
vamente. 
A presenca de-ste culicino em florestas secundarias foi tambem 
observada, se bem que em densidade menor. 0 mesmo ocorre em 
nucleos habitados, onde foi surpreendido criando-se em buracos de 
arvores, isoladas, e em criadouros artificials peridomiciliares como, 
latas,’ pneumaticos abandonados, cascas de cocos partidos, etc., si- 
tuados ao redor ou mesmo dentro das cidades da regiao istmica do 
Panama (Qalindo, Trapido e Carpenter, 1950; Qalindo, Carpenter e 
Trapido, 1951). 
Algumas observacoes sobre o comportamento dos adultos indi- 
cam preferencia pela copa das arvores, no ambiente silvestre. Con- 
tudo, as femeas sao hematofagas de apreciavel apressividade e por- 
tanto, sao coletadas corn isca humana nos diversos niveis fiorestais, 
apesar da preferencia supracitada. A maior densidade ocorre logo 
apos o inicio da estacao chuvosa, acompanhando este periodo, por 
tempo prolongado. A atividade hematofaga parece restringir-se a 
certas partes da floresta, preferindo as areas de vegetacao mais densa 
e conservada (Galindo, Trapido e Carpenter, 1950; Galindo, Carpen- 
ter e Trapido, 1951; Galindo, Trapido, Carpenter e Blanton, 1956; 
Trapido e Galindo, 1957; Morales e Vidales, 1962). 
Embora a atividade seja exclusivamente diurna, Trapido e Ga- 
lindo (1957) verificaram, para este culicino, maior intensidade desse 
fenomeno, por ocasiao do ultimo periodo de coleta o qual, nas obser- 
vacoes desses autores, corresponde ao das 14:00 as 15:00 horas. 
Todavia, o significado dessa observacao, necessita de maiores inves- 
tigacSes. 
0 interesse medico deste mosquito reside na possibilidade do 
mesmo veicular na natureza, o virus da tebre amarela. Na Colom- 
GSNEHOS BAEMAGOQUa, MANSONIA, CVLISBTA’ E OUTROS S9 
bia, participouele, juntamente corn outras especies de Haemagogus, 
de lote do qual foi obtido esse agente viral (Boshell-Manrique e 
Osorno-Mesa, 1944). Apesar d6sse achado, o seu papel como trans- 
missor somente foi estabelecido corn o isolamento analogo obtido 
de lotes piiros desta especie. Foi o que se conseguiu varias vezes 
em diversas localidades do Panama (Rodaniche, Galindo e Johnson, 
1957). Assim sendo, alern de evidencias de ordem epidemiolfigicas, 
tem-se como estabelecido que H. lucifer desempenhe papel relevante 
na veiculacao do virus amarilico no seu cicio natural. Tudo indica 
pois que o transmita eficiente a populacao animal podendo tambem 
faze-Io para o homem, desde que para tanto ocorram situacoes 
favoraveis. 
HAEMAGOGUS (HAEMAOOGUS) IRIDICOLOR DYAR, 1921 
(fig. 11 A,B,C). 
DIAGNOSE � Os individuos adultos desta especie sao muito seme- 
lhantes aos de H. lucifer, dos quais dificilmente podem ser separa- 
dos, no estado atual dos conhecimentos. Na genitalia masculina, 
observa-se o basistilo um tanto dilatado, corn escamas lanceoladas 
na porcao superior da face interna, e pequeno lobo cerdoso, na extre- 
midade apical, junto a articulacao do dististilo; lobo basal largo, pou- 
co saliente, corn numerosas cerdas finas e largas, estas ultimas inse- 
ridas preferentemente na porcao inferior do lobo; claspete grande, 
colunar e duplamente curvo, ligeiramente piloso na base, onde tam- 
bem se implantam algumas setas finas, e corn extremidade apical 
continuando-se na expansao foliacea, iarga, a maneira de leque; dis- 
tistilo curvo, corn extremidade pontuda, semelhante a um bico, e 
corn garra espatulada inserida subapicalmente; mesosoma globoso na 
porcao distal, e mais estreito na basal, corn carena mediana apical 
lisa. A larva tambem 6 semelhante a de H. lucifer, da qual pode se 
diferenciar por apresentar as branquias anais curtas e desiguais, isto 
e, as dorsais mais longas do que as ventrais. 
DISTRIBU1(;AO E B10LOOIA (fig. 9) � £ste mosquito e 
de distribuicao restrita a America Central. Sua presenca foi assi- 
nalada em area que se estende, desde o oeste do Panama, passando 
pela Costa Rica e Nicaragua, ate Honduras. Assim sendo, como que 
substitui o H. lucifer, nessa regiao (Galindo e Trapido, 1955). 
Obedecendo ao padrao geral apresentado por este grupo de 
mosquitos, o H. iridicolor tern sido encontrado desenvolvendo-se em 
buracos de arvores. Galindo, Carpenter e Trapido (1949), assina- 
lam a frequencia de tais achados, em ambientes aberios situados ao 
longo das praias maritimas. Tambem nao sao raras as verit’icacoes 
ENTOMOLOGIA MfiDICA 
GBNEROS BABVAOOeUS, MANSONIA, OULISETA E OUTROS 41 
em internodios de bamblis cortados (Komp, 1955). 0 seu habitat 
prefer6ncial parece ser o das florestas limidas ou pluviais, dispostas 
nas vertentes atlanticas das terras centroamericanas (Oalindo e Tra- 
pido, 1957). 
As femeas sao hematofagas bastante agressivas, atacando o ho- 
mem prontamente, as vezes em plena exposicao a luz solar. Assim 
sendo, 6ste mosquito foi freqiientemente observado sugando sangue 
humano, tendo sido abundantemente coletado cora a utilizacao dessa 
isca (Kumm, Komp e Ruiz, 1940; Galindo e Trapido, 1955, 1957). 
Suspeita-se, corn tundamento epidemiologico, que esta especie 
seja transmissora do virus da febre amarela, na natureza. Em cer- 
tas areas florestais, como as da bacia do rio San Juan, na Costa 
Rica, e nas vertentes atlanticas da Nicaragua, constitui 6ste culicino 
o representante mais comum de Haemagogus. Dessa forma e licito 
supor que ele all possa desempenhar algum papel. de relevancia, no 
cicio natural daquele agente viral (Oalindo e Carpenter, 1957; Galin- 
do e Trapido, 1957). 
OUTRAS ESP6CIES � Os escassos conhecimentos disponiveis 
sobre as denials especies do subgenero indicam, para algumas, certa 
versatilidade na escolha dos locals de desenvolvimento larvario. Pon- 
do-se de lado os ambientes representados pelos buracos em arvores, 
os quais constituent o denominador comum para os criadouros destes 
mosquitos, podem ser citados varios outros tipos. Entre os naturais, 
�destacam-se os cocos partidos e bambus cortados. Merece citacao 
o caso de H. argyromeris que parece ser bastante ecletico nesse par- 
ticular. Assim e que suas larvas foram surpreendidas, nao somente 
nos supracitados tipos, como tambem em bromeiias terrestres, esca- 
vacoes em rochas e mesmo pequenas colecoes Ifquidas do solo com- 
pletamente expostas a luz solar (Komp, 1949; Arnett, 1949; Oalindo, 
Carpenter e Trapido, 1951). Ainda em relacao a essa especie, no 
literal pacifico do Panama, Komp (1955a) observou-a desenvolven- 
do-se em escavacoes rochosas contendo agua salina, corn teor de 
cloreto de sodio acima de 0,9%. Por sua vez, H. chalcospilans tern 
sido constantemente observado criando-se, de maneira preferencial, 
em ocos de arvores dos mangues ou pantanais marftimos. Contudo 
a semelhanca do que ocorre corn a especie anterior, pode tambem 
utilizar cascas de c6cos, escavacoes em rochas e mesmo pequenas co- 
lecoes liquidas do solo (Dyar, 1928; Arnett, 1949; Kumm, Osorno- 
JVIesa e Boshell-Manrique, 1946; Oalindo, Carpenter e Trapido, 1951). 
As larvas deste ultimo mosquito tern sido encontradas corn freqliencia, 
�em pequenas cavidades, mesmo contendo reduzida quantidade de 
agua, por ocasiao do exame (Oalindo, Carpenter e Trapido, 1951). 
42 ENTOMOLOQIA MSDICA 
0 H. splendens constitui outro exempio destes mosquitos, encontrado 
criando-se em pequenas escavayoes de rochas corn pouco liquido 
(Hecht e Anduze, 1944). 
No que concerne aos criadouros artificials, varies exemplos po- 
dem ser mencionados. Em certas areas da Venezuela, formas imatu- 
ras de H. splendens foram coletadas em pneumaticos utilizados na 
protecao de arbustos de jardins, e em depositos domesticos de agua 
(Cova Oarcia e Suarez, 1955). Trata-se pois, de apreciavel aproxi- 
macao do ambiente humano. Pneumaticos, latas, panelas e recipien- 
tes diversos abandonados, caixas de madeira, maquinaria nao ufili- 
zada e exposta ao relento, constituem outros tantos ambientes nos 
quais foram surpreendidas larvas de H. argyromeris e H. chalcospilans 
(Arnett, 1949; Oalindo, Carpenter e Trapido, 1951). A respeito da 
primeira dessas especies Galindo, Carpenter e Trapido (1951), refe- 
rem terem-na encontrado corn frequencia, em laos, na ilha Flamenco, 
Panama. Nao deixa de ser interessante assinalar o achado de H. 
splendens, na Venezuela, desenvolvendo-se em buracos de postes ou 
mouroes de cercas, nos arredores de nucleo urbano (Komp, 1954). 
Segundo observacoes de Oalindo, Carpenter e Trapido (1951), 
H. argyromeris parece ser mosquito corn tendencia a freqiientar am- 
bientes florestais secundarios, nao muito densos, sendo pouco encon- 
tradico nas matas virgens, altas e corn grande densidade arb6rea. 
Segundo os referidos autores, os ovos desta especie sao resistentes a 
dessecacao, eclodindo de maneira irregular, apos repetidos contactos 
corn a agua. 
No que concerne as formas adultas, as femeas de H. argyromeris, 
H. chalcospilans e H. splendens, foram observadas sugando sangue 
humano, e sua coleta corn essa isca tern sido empregada em varias 
ocasioes (Anduze, 1942; Kumm, Osorno-Mesa e Boshell-Manrique, 
1946; Oalindo, Trapido e Carpenter, 1950; Oalindo, Carpenter 
e Trapido, 1951, 1955; Trapido, Oalindo e Carpenter, 1955). A 
primeira dessas especies e considerada como exercendo sua ativi- 
dade, quase que exclusivamente, nos baixos niveis da floresta, a 
pouca altura do solo. Parece ser mesmo um dos poucos exemplos 
de Haemagogus corn essa atitude, no meio silvestre. Nesse sentido, 
Trapido e Carpenter (1955) obtiveram 90,3% das capturas desse 
culicino, no solo de florestas baixas, secas e abertas. Trata-se de 
mosquito ativo na sombra, escasso em ambientes intensamente ilumi- 
nados, e preferindo os membros inferiores dos capturadores, rara- 
mente atacando acima dos joelhos, Quanfo a H. chalcospilans, e es- 
pecie de locais pantanosos litoraneos, tendo sido observadosugando 
o homem, mesmo nas porcoes superiores do corpo, invadindo inclu- 
sive o couro cabeludo, produzindo picadas que sao consideradas das 
mais doiorosas de todos os representantes deste genero, em certas 
areas do Panama (Oalindo, Carpenter e Trapido, 1951). 
GfiNEROS HAEStAOOOUS, MANSONIA, CVLISETA E OUTROS 43 
Quanto a freqtiencia aos domicilios, por membros deste grupo 
de mosquitos, e ela tida como de carater acidental. Nesse sentido 
Arnett (1949), assinala a coleta de H. argyromeris dentro das casas 
rurais do Panama. 
Das tres supramencionadas especies deste subgenero (fig. 10), 
e centroamericana, H. argyromeris, a qual e encontrada do Panama- 
H. chalcospilans ocupa tambem as areas da America Central, esten- 
dendo-se ate Honduras e incluindo o limite noroeste da Colombia. 
Quanto a H. splendens, tern sido registrado no norte da America 
do Sul, incluindo Colombia e Venezuela, alem de Trinidad e algumas 
Antilhas Menores (Anduze, 1942; Kumm, Osorno-Mesa e Boshell- 
Manrique, 1946; Galindo, Carpenter e Trapido, 1951). 
No que concerne aos demais representantes deste grupo, os co- 
nhecimentos disponiveis sao ainda mais reduzidos. Assim sendo, 
nada ha a acrescentar, alem do achado de formas imaturas de H. 
boshelli e H. regalis, em buracos de arvores e cascas de c6cos. 
Corn certo fundamento, suspeita-se que alguns destes mosquitos 
possam desempenhar algum papel na veiculacao do virus da febre 
amarela. ’ Pelo menos, e digna de mencao a elevada densidade de 
H. argyromeris em certas areas do Panama, bem como H. chalcospi- 
lans nas regioes litoraneas centroamericanas (Galindo, Carpenter e 
Trapido, 1951). Por sua vez, H. splendens tern sido encontrado 
corn abundancia em algumas regioes venezuelanas, nas quais sua 
presenca se faz sentir na periferia de nucleos habitados, sendo all 
bastante antropofilo (Anduze, 1942). Assim sendo, a necessidade de 
futuras investigacoes, justifica que essas especies sejam caracteriza- 
das nas linhas que seguem. As demais, serao simplesmente inclui- 
das nas chaves identificadoras do genero. 
Haemagogus (Haemagogus) argyromeris Dyar e Ludlow, 1921 
(fig. 11 D, E) � Sinonimia: H. gladiator Dyar, 1921. Adultos 
corn proboscida escura, e de comprimento equivalente ao do femur 
anterior; o occipicio, os lobos pronotais, e o mesonoto, inclusive es- 
cutelo, acham-se cobertos de escamas corn reflexes azulados ou es- 
verdeados; pleuras prateadas; as pernas sao de tonalidade escura 
violacea, corn excecao da porcao superior da face posterointerna dos 
femures, que e branca. 0 abdome apresenta os tergitos cobertos de 
escamas azuladas, corn reflexo baco, de maneira que o conjunto apre- 
senta tonalidade ligeiramente azul, tendendo para prateada ou aco; 
os esternitos sao igualmente azulados, exceto na faixa basal, onde 
sao mais claros, e nos primeiros, onde apresentam acentuadamente 
aquela tonalidade aco. Oenitalia masculina apresentando o basistilo 
urn tanto alongado, corn tufo de escamas lanceoladas medianas, e 
cerdas finas na porcao apical, junto a articulacao corn o dististilo; 
ENTOMOLOGIA MfiDICA 
Fig. 10 � Distribuicao geogrAtica de algumas esp^cies de 
Haemagogus (Haemagogus). 
GfiNEROS BAEMAOOOUS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS 45 
claspete grande, colunar, curvo, piloso e corn uma ou mais finas 
cerdas basais, dilatado em leque na porcao superior, onde tambem e 
espiculoso e se confinua por uma expansao foliacea que termina em 
ponta; dististilo curto, dilatado no apice onde possui garra espatu- 
lada inserida terminalmente; mesosoma piriforme, dilatado na por- 
cao superior onde apresenta carena pouco saliente e nlia; VIII tergito 
corn tufo de cerdas na margem distal. Larva de corpo glabro. An- 
lena lisa e corn cerda antenal (11) fina e simples; cerdas occipitais, 
interna (5) simples, media (6) dupla, ambas longas, e externa (7) 
tripla ou miiltipla e de tamanho medio, todas elas ligeiramente pena- 
das; cerdas pos-clipeal (4) pequena e multipla. VIII segmento corn 
pecten formado por conjunto de elementos corn extremidade distal 
arredondada e serrilhada, dispostos em varias fileiras; sifao respira- 
t6rio curto, de comprimento mais ou menos equivalente ao dobro da 
largura basal, e corn tufo sifonal constituido por cerda multipla e 
ligeiramente penada; pecten sifonal formado por cerca de 10 elemen- 
tos corn urn so dente basal, alem de quatro ou mais outros, rudimen- 
tares situados na porcao proximal da fileira; sela anal incompleta, 
corn espinhos finos no angulo postero superior, e seta lateral (1) 
dupla ou tripla, ligeiramente penada; branquias anais pouco mais 
longas do que a sela, de extremidade arredondada, sendo as dorsais 
mais compridas do que as ventrais. 
Haemagogus (Haemagogus) chatcospilans Dyar, 1921 (fig. 11 
F, 0, H) � Adultos corn proboscida escura e de comprimento equi- 
valente ao do femur anterior; occipicio, lobo pronotal, pos-pronoto 
e porcao antero-lateral do mesonoto, corn escamas de tonalidade azul- 
violeta acentuada; restante do mesonoto, inclusive escutelo, corn esca- 
mas douradas e esverdeadas; pernas escuras violaceas, exceto a face 
p6stero-interna dos femures, que e branca. Abdome corn o I tergito 
azulado e os restantes, escuros, violaceos, corn areas Claras prateadas 
basolaterais, as quais sao grandes no I e H. Na genitalia masculi- 
na, o basistilo e um tanto dilatado e possui, na porcao superior da 
face interna, conjunto denso de escamas deformadas, curvas em S, 
sendo mais dilatadas as implantadas distalmente; observa-se tambem, 
conjunto de cerdas inseridas s6bre tuberculo na proximidade da arti- 
culacao corn o basistilo, alem da presenca de escamas truncadas, na 
porcao inferior da face interna; lobo basal do basistilo, pequeno e 
fracamente cerdoso; presenca de cerdas lanceoladas ha face externa 
do basistilo; claspete dilatado e caliciforme na porcao apical, estreito 
na basal, onde e curvo e piloso, alem de apresentar finas setas inse- 
ridas tanto apical como basalmente; dististilo um tanto alongado, 
estreito, e corn garra bastonetiforme fendida no apice; mesosoma um 
tanto cilindrico, corn carena mediana apical mia; decimo esternito 
corn extremidade romba, apresentando pequena franja, alem de um 
Fig. 11 � Haemagogus iridicolor: A � basistilo e dististilo; a � claspete; 
B � mes<5soma; C � lobo anal da larva (baseado em Lane, 1953); Haema- 
gogus argyromeris: D � basistilo e dististHo; d � claspete; E � sifao 
respiratOrio da larva; e � elemento do pecten sifonal; Haemagogus chal- 
cospilans: F � basistilo e dististilo; f � claspete; G � extremidade distal 
do decimo esternito; H � lobo anal la larva; Haemagogus splendens: 
I � basistilo e dististilo; i � claspete; J � lobo anal da larva. 
GSNEROS HAEMAOOOUS, MANSONIA, OULISETA E OUTROS 47 
processo hialino, pronunciado, claviforme, e corn finos pelos no cor- 
po; VIII tergito corn conjunto de cerdas na margem distal. 0 corpo 
larval e glabro. As cerdas frontais apresentam-se lisas ou fracamen- 
te penadas, sendo longa e simples a interna (5), longa e dupla a 
media (6), e de tamanho medio e miiltipla a externa (7); pos-clipeal 
(4) pequena, fina e multipla. VIII segmento corn pecten formado 
por numerosos elementos serrilhados na extremidade distal arredon- 
dada; sifao respiratorio de comprimento equivalente a duas ou tres 
vezes o valor da largura basal, e corn tufo constituido por uma so 
�cerda multipla e ligeiramente penada; pecten sifonal formado por 
fileira de 15 elementos possuidores de um s6 dente na base; sela 
incompleta, fracamente espiculosa no angulo postero superior, e corn 
seta lateral (1) longa, miiltipla e fracamente penada; branquias anais 
mais curtas do que a sela, sendo as dorsals ligeiramente mais longas 
do que as ventrais. 
Haemagogus (Haemagogus) splendens Williston, 1896 (fig. 11 
I,j) � Sinonimia: H. celeste Dyar e Nuiiez Tovar, 1926. Os adultos 
.apresentam proboscida escura e pouco mais longa do que o femur 
anterior; o occipicio, lobos pronotais e pos-pronoto, possuem esca-mas de tonalidade azul-clara, tendendo a prateada; mesonoto reco- 
bertb de elementos dourados esverdeados, sendo os do escutelo, 
�corn reflexos azulados; pernas escuras, violaceas, exceto as faces in- 
ternas dos femures, que sao brancas. 0 abdome apresenta os ter- 
gitos corn tonalidade violeta ou azul, e corn faixas basais e areas 
basolaterais branco-prateadas. Oenitalia masculina, corn basistilo um 
tanto dilatado, dotado de numerosas escamas lanceoladas, largas e es- 
treitas, na face interna, alem de conjunto de finas setas no apice, 
proximo a articulacao do dististilo; lobo basal do basistilo um tanto 
alargado, e corn setas, curtas e longas, estas ultimas dilatadas e inse- 
ridas preferentemente na porcao inferior do lobo; claspete robusto, 
dobrado em angulo quase reto, moderadamente piloso na base e 
porcao media corn algumas finas setas, e extremidade distal foliacea, 
falciforme de contorno curvo, a maneira de gancho, bifida em uma 
das extremidades e adunca na outra; dististilo estreito, alongado, e 
�corn garra longa bastonetiforme, de extremidade romba; mesosoma 
�globoso e corn carena mediana apical nua; VIII tergito apresentando 
conjunto de cerdas na margem distal. Larva de corpo glabro. Cer- 
�das frontais, longas, simples ou duplas, a interna e media (5 e 6), 
mais curta e multipla, a externa (7); pos-clipeal (4) pequena e 
multipla. VIII segmento corn pecten formado por conjunto de .ele- 
inentos arredondados e serrilhados no apice; sifao respiratorio corn 
tufo unico, constituido por cerda miiltipla e ligeiramente penada; 
pecten sifonal formado por fileira de cerca 15 elementos corn um so 
dente na base; sela anal incompleta, moderada ou fracamente espi- 
48 ENTOMOLOGIA MEDICA 
culosa no angulo postero-superior, corn seta lateral (1) longa, dupla 
e penada ligeiramente; branquias anais, cerca de duas vezes mais 
longas do que a sela, e todas equivalentes. 
SUBOfiNERO LONGIPALPIFER LEVI-CASTILLO, 1951 � 0 
principal elemento para caracterizar este grupo, ate o momento, con- 
siste no fato de os individuos adultos masculinos a ele pertencentes, 
apresentarem os palpos longos, isto e, de comprimento pelo menos 
equivalente a dois tercos o da proboscida. As femeas, possuem 
garras tarsais denteadas. Na asa, observa-se que a celula Hircada 
anterior pode ser mais curta ou mais longa do que o pecfolo res- 
pective. Na genitalia mascuiina, nota-se a ausencia de qualquer pro- 
cesso cerdoso diferenciado, pelo menos nitidamente, junto a articula- 
cao corn o dististilo; ps lobos do nono tergito acham-se reduzidos 
e possuem algumas setas finas. Na larva, o pecten do VIII segmento 
apresenta os seus elementos dispostos em conjunto ou numa unica 
fileira, nias nao sobre placa quitinizada. 
£ste subgenero inclui 4 especies, conhecidas ate agora. 0 es- 
tado atual dos conhecimentos permite apontar uma delas como dotada 
de algum interesse medico. Sera a mesma tratada a seguir, em 
particular. 
HAEMAGOGUS (LONGIPALPIFER) EQUINUS THEOBALD, 
1903 (fig. 12). 
SINON1M1A � H. affirmatus Dyar e Knab, 1906; H. philoso- 
phicus Dyar e Knab, 1906. 
DIAGNOSE � Os adultos apresentam a prob6scida escura e 
sensivelmente mais longa do que o femur anterior, sendo nas femeas, 
de comprimento excedendo de um terco ou mais o desse ultimo apen- 
dice. No sexo masculine, os palpos sao longos, de comprimento 
equivalente a dois tercos da proboscida, e as antenas sao fortemente 
plumosas, praticamente tao longas quanto os palpos. 0 occipicio 
e o lobo pronotal encontram-se cobertos corn escamas de reflexos 
azulados e prateados; o mesonoto e p6s-pronoto sao revestidos de 
elementos dourado esverdeados, sendo que no escutelo, verifica-se a 
existencia de escamas corn reflexos tambem azulados; pleuras pra- 
teadas; pernas escuras, exceto na porcao superior da face p6stero- 
interna e extremidade distal dos femures, que sao brancas. Abdome 
corn tergitos violaceos e dotados de faixas basais e areas basolaterais 
prateadas, as primeiras mais evidentes do III em diante e as segun- 
das, maiores nos I-III. A genitalia mascuiina apresenta o basistilo 
um tanto alongado e corn tufo de escamas lanceoladas estreitas, na 
GfiNEROS ffABMAGOGUS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS 49 
Fig. 12 � Haemagogus equinus: A � adulto (esquematico); a � esca- 
mas alares; a’ � cabeca masculina; a" � VIII tergito; B � basistilo e 
dististilo; b � claspete; b’ � nono tergito; C � d6clmo esternito; D � me- 
s6soma; E � segmentos terminals da larva; e � elemento do pecten do 
VIII segmento; e’ � elemento do pecten sifonal; P � cabeca da larva. 
50 ENTOMOLOGIA MEDICA 
porcao superior da face media; lobo basal do basistilo, de tanianho 
medio e cerdoso, corn as setas mais longas inseridas na porcao infe- 
rior; claspete grande, colunar, de contornos sinuosos, piloso e corn 
setas finas na base e na porcao apical, onde se expande em dilata(ao 
foliacea grande, triangular, de extremidade espatulada e dotada de 
estriacoes; dististilo curto, um tanto sinuoso e com garra longa e 
bastonetiforme; decimo esternito corn extremidade romba, franjada e 
alguns pelos no corpo; mesosoma globoso na por(So superior, onde 
apresenta carena saliente; nono tergito corn lobos pequenos e dota- 
dos de poucas finas setas; VIII tergito apresentando conjunto de 
escamas estreitas, inseridas na margem distal. A larva apresenta o 
corpo glabro. Antena cilindrica,, escassa e esparsamente espiculosa 
na metade inferior; cerdas frontais longas e simples, a interna e a 
media (5 e 6), e mais curta e miiltipla a externa (7), todas elas 
ligeiramente penadas; pos-clipeal (4) multipla e pequena; cerdas occi- 
pitais finas, sendo a interna (8) simples e a externa (9) dupla, bem 
como a supraorbital (14). VIII segmento corn o pecten constituido 
por fileira de cerca 8 elementos espiniformes, finamente serrilhados 
nas margens; cerdas do grupo das cinco, multiplas e penadas a 
primeira, terceira e quinta, ao passo que sao simples e. finas a se- 
gunda e quarta; sifao respiratorio quitinizado, corn pecten formado 
por fileira de 15 ou mais elementos irregularmente denteados na base, 
e tufo sitonal unico, triple ou multiple e ligeiramente penado; sela 
do lobo anal incompleta, ligeiramente espiculosa no angulo postero- 
superior e corn seta lateral (1) longa e dupla; branquias anais longas, 
corn cerca de tres vezes maior comprimento do que a sela. 
DISTRIBUICAO E BIOLOGIA (fig. 13) � £ste mosquito dis- 
tribui-se, essencialmente, pela America Central. Contudo, tern sido 
encontrado em algumas regioes antilhanas como a ilha de Jamaica, 
e ao norte, aicanca o Mexico, penetrado nos Estados Unidos, onde 
foi observado na area de Brownsville, sul do Texas, ja em territorio 
presum’ivelmente neartico (Hill e Hill, 1948; Vargas, 1956; Trapido e 
Oalindo, 1956, 1956a; Breland, 1958). Ao sul, sua presenca atinge 
o norte da America do Sul, onde inclui a Colombia, Venezuela, Tri- 
nidad, Tobago e Guianas (Anduze, 1942; Kumm, Osorno-Mesa e 
BoshelI-Manrique, 1946; Fauran, 1961). 
Dentro do padrao observado para estes mosquitos, esta especie 
utiliza apreciavel variedade de ambien.tes, no seu desenvolvimento 
larvario. Nesse sentido incluem-se nao somente os ocos arboreos, 
como tambem os tocos de arvores, os bamblis cortados, nao se ex- 
cluindo as escavacoes de rochas, pequenas e corn pouca agua, como 
evidenciaram algumas observances (Hecht e Anduze, 1942). Segun- 
do Galindo, Carpenter e Trapido (1951), trata-se de culicino que 
localiza tais criadouros, preferentemente, na floresta virgem, embora 
GfiNEROS HAEMAOOOUS, MANSONIA, CULISETA E OUTROS 51 
tambem, em menor extensao, nas areas abertas adjacentes ao ambien- 
te silvestre. Em algumas ocasioes observou-se o desenvolvimento 
deste mosquito em ambientes urbanos, como o foi em Oaxaca, Mexico, 
onde as formas imaturas deste cuiicino foram surpreendidas em de- 
positos domiciliares de agua das chuvas (Diaz Najera, 1960). 
Os ovos deste mosquito eclodem logo apos o contacto corn a 
agua, em seguida a periodos

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