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Crimes hediondos (partes 01, 02, 03 e 04)

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Legislação Penal Especial – Crimes hediondos
SUMÁRIO
1.	Origem histórica	3
2.	Conceito e critério adotado	3
3.	Crimes hediondos e princípio da insignificância	4
4.	Dos crimes hediondos	4
4.1.	Crimes que estão previstos no Código Penal	4
a)	Homicídio	5
b)	Lesão corporal	6
c)	Roubo e latrocínio	7
d)	Extorsão	7
e)	Estupro	8
f)	Estupro de vulnerável	8
g)	Epidemia com resultado morte	8
h)	Falsificação de medicamentos	9
i)	Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável	9
j)	Furto qualificado	9
4.2.	Crimes que não estão previstos no Código Penal	9
a)	Genocídio	9
b)	Posse ou porte ilegal de arma de fogo e uso proibido	10
c)	Comércio ilegal de arma de fogo	10
d)	Tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição	10
e)	Organização criminosa para fins de prática de crime hediondo ou equiparado	10
5.	Crimes militares	10
6.	Crimes hediondos e cláusula salvatória	11
7.	Crimes equiparados a hediondo	11
a)	Tráfico de drogas – Lei nº 11.343/2006	11
b)	Tortura – Lei nº 9.455/1997	13
c)	Terrorismo – Lei nº 13.260/2016	13
8.	Vedações legais	13
9.	Lei de tortura e silêncio eloquente no tocante ao indulto	14
10.	Fiança	15
11.	Liberdade provisória	15
12.	Regime inicial fechado para cumprimento da pena privativa de liberdade	16
13.	Da celeuma sobre o exame criminológico	19
14.	Da apelação em liberdade	20
15.	Progressão de regime prisional	20
16.	Prisão temporária	21
17.	Estabelecimentos penais de segurança máxima	22
18.	Livramento condicional	22
19.	Associação criminosa	23
20.	Questionamentos finais	24
21.	Art. 9º e sua inaplicabilidade	25
· 
Crimes hediondos (Lei nº 8.072/90)
1. Origem histórica
	O crime hediondo é trazido pela Constituição em seu artigo 5º, XLIII. Trata-se de uma norma constitucional de eficácia limitada, pois está escrito que a lei definirá o que são crimes hediondos. A Constituição apenas se limitou a falar em crimes hediondos e exigir um tratamento mais grave (mandado constitucional de criminalização). 
	Contexto histórico: após o surgimento de uma onda de crimes de extorsão mediante sequestro no Brasil, uma pessoa muito influente e poderosa (o empresário Abílio Diniz) há época acabou sendo vítima desse crime, o que gerou uma grande comoção nacional. Então, após o fato, o Legislativo decidiu criar a Lei de crimes hediondos, que prevê penas gravíssimas para determinados crimes. 
	No projeto inicial o único crime hediondo era o de extorsão mediante sequestro. Esse projeto foi aprovado na Câmara dos deputados contendo apenas um crime. No Senado, o projeto foi barrado e posteriormente alterado tendo em vista que os crimes hediondos não poderiam se restringir apenas a extorsão mediante sequestro. Essa escolha, feita pela Câmara dos Deputados (em selecionar apenas um crime), ocorreu mais por um viés político e elitista, afinal os mais marginalizados e os mais pobres da sociedade também sofrem com crimes bárbaros, mas não são interessantes aos olhos dos políticos, o que gera uma proteção deficiente e tardia. Além do mais, esse tipo de medida tomada pelo Poder Público demonstra uma nítida hipótese de Direito Penal emergencial ou de urgência.
2. Conceito e critério adotado
	Critérios para definição dos crimes hediondos: crime hediondo é o que a lei define como tal. Existem três critérios que buscam definir o que é um crime hediondo: 
a) Legal (adotado): compete ao legislador, num rol taxativo, anunciar quais são os delitos considerados hediondos. Crítica: ignora a gravidade do caso concreto (só trabalha com a gravidade em abstrato), pouco importando as circunstâncias que rodeiam o fato. Ele engessa a atuação do magistrado no caso concreto. Isso tira o poder de decisão do juiz.
b) Judicial: é o juiz quem, na apreciação do caso concreto, diante do crime e da forma como foi praticado, decidirá se é ou não é hediondo. Crítica: fere a taxatividade, não há segurança jurídica, ficando a critério do juiz decidir se é ou não crime hediondo.
c) Misto: o legislador apresenta rol exemplificativo dos crimes hediondos, permitindo ao juiz, na análise do caso concreto, encontrar outras hipóteses (interpretação analógica). Crítica: reúne os mesmos problemas dos sistemas anteriores.	 
	Questão CESPE: (2018 – EBSERH – Advogado)[footnoteRef:1]. O ordenamento jurídico nacional adotou o critério legal para a tipificação dos crimes hediondos, sendo vedado ao juiz, em caso concreto, fixar a hediondez de um delito ou excluí-la em razão de sua gravidade ou forma de execução. [1: Gabarito: correto.] 
	Esse critério legal não foi uma opção do legislador, mas uma imposição da própria Constituição. 
Art. 5º, XLIII da CRFB - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
	O art. 5º, XLIII da CRFB impõe um patamar mínimo ao legislador (mandado constitucional de criminalização). 
	O que seria um mandado constitucional de criminalização? As Constituições modernas não se limitam a especificar restrições ao poder do Estado e passam a conter preocupações com a defesa ativa do indivíduo e da sociedade em geral. A própria Constituição impõe a criminalização visando à proteção de bens e valores constitucionais, pois do Estado, espera-se mais de uma atividade defensiva. Requer-se torne eficaz a Constituição, dando vida aos valores que ela contemplou. 
Art. 1º, caput da Lei nº 8.072/1990 - São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
	Crimes hediondos versus tentativa: a tentativa do crime não exclui a hediondez do delito.
	Trata-se de rol taxativo (numerus clausus), não cabendo analogia in malam partem. Nenhum crime culposo é hediondo.
	Atenção: os crimes de racismo e de ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático não são crimes hediondos ou equiparados, são apenas inafiançáveis e imprescritíveis.
	Questão CESPE: (2016 – Polícia Científica)[footnoteRef:2]. A prática de racismo constitui crime hediondo, inafiançável e imprescritível. [2: Gabarito: errado.] 
3. Crimes hediondos e princípio da insignificância 
	Os crimes hediondos são incompatíveis com o princípio da insignificância. O STF chama esses os crimes hediondos e equiparados de “crimes de máximo potencial ofensivo”, são aqueles crimes em que a própria Constituição exige um tratamento mais severo art. 5º, inc. XLII, XLIII e XLIV (todos esses crimes são inafiançáveis).
4. Dos crimes hediondos
4.1. Crimes que estão previstos no Código Penal
a) Homicídio
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio[footnoteRef:3], ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); [3: “Atividade típica de grupo de extermínio é a chacina que elimina a vítima pelo simples fato de pertencer a determinado grupo ou determinada classe social ou racial, como, por exemplo, mendigos, prostitutas, homossexuais, presidiários, etc. A impessoalidade da ação (...) é uma das características fundamentais, sendo irrelevante a unidade ou pluralidade de vítimas. Caracteriza-se a ação de extermínio mesmo que seja morta uma única pessoa, desde que se apresente a impessoalidade da ação, ou seja, pela razão exclusiva de pertencer ou ser membro de determinado grupo social, ético, econômico, étnico, etc.” – Cézar Roberto Bitencourt.] 
	Na redação original da lei dos crimes hediondos o homicídio já constava? Não. Então quando é que o homicídio se transforma em crime hediondo? Surge com a Lei Glória Perez (Lei nº 8.930/1994) – homicídio da atriz Daniela Perez pelo seu par da novela.
	Homicídio condicionado é o homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que praticado por um só agente. O homicídio praticado por milíciasó é hediondo quando for qualificado, se a milícia for praticar homicídio simples somente receberá a causa de aumento de pena do art. 121, §6º. No caso de grupo de extermínio, qualquer que seja a modalidade (simples ou qualificado), além de receber a causa de aumento do art. 121, §6º, também é considerado como crime hediondo.
	O homicídio simples é crime hediondo? Sim, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio (art. 121, §6º do CP). Porém, o homicídio simples, em regra, não é crime hediondo, somente será crime hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. Não se exige que exista um grupo de extermínio, mas tão somente que seja uma atividade típica de grupo de extermínio, mesmo se praticado por uma só agente.
	Questão CESPE: (2016 – POLÍCIA CIENTÍFICA-PE – Perito Criminal e Médico – Adaptada)[footnoteRef:4]. O agente que pratica homicídio simples, consumado ou tentado, não comete crime hediondo. [4: Gabarito: correto.] 
	A doutrina, com razão, entende ser praticamente impossível conceber um crime de homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio no qual não esteja presente uma das qualificadoras do §2º do art. 121 do Código Penal. Nesse caso, por força do princípio da especialidade, deverá prevalecer a figura do homicídio qualificado, o que acaba por demonstrar o quanto foi inócua esta mudança produzida pela Lei nº 8.930/94.
	Atenção: a condição do art. 121, §2º, VII (agentes de segurança pública e seus familiares) não se estende, em regra, a agentes aposentados. Mas, se mesmo aposentado, foi vítima de crime em decorrência da sua função que exercia anteriormente, temos a qualificadora.
	Já o homicídio qualificado, qualquer que seja, será crime hediondo (salvo o homicídio privilegiado-qualificado). O homicídio privilegiado não é hediondo por falta de previsão legal, pois o artigo 1º, I da Lei nº 8.072/90 não o menciona (art. 121, §1º do CP). 
	Homicídio híbrido (STJ: HC 153.728): é aquele que é ao mesmo tempo privilegiado e qualificado. Somente é possível quando a qualificadora tenha natureza objetiva (art. 121, §2º, III e IV – tem relação com os meios e modos de execução do homicídio). 
	Por que somente é admitido o homicídio híbrido quando a qualificadora é objetiva? Porque o privilégio sempre tem natureza subjetiva (tem relação com a motivação do agente). Tanto o homicídio qualificado quanto o homicídio privilegiado são formas de homicídio doloso, sendo de competência do tribunal do júri. No rito do júri, as teses de defesa (exemplo: privilegiadoras) são quesitadas antes das teses de acusação (exemplo: qualificadoras). Se os jurados reconhecerem o privilégio, que sempre possui natureza subjetiva, significa dizer que eles automaticamente negaram as qualificadoras subjetivas, pois o motivo do crime só pode ser um (relevante valor social; após injusta provocação da vítima), não sendo compatível dizer que um crime foi cometido por relevante valor social e motivo torpe. Porém, as qualificadoras objetivas, se existirem, podem subsistir.
	Na hipótese dos jurados reconhecerem a existência de homicídio qualificado-privilegiado, tal crime jamais poderá ser considerado hediondo. Primeiro, porque não há qualquer referência ao homicídio privilegiado na lei de crimes hediondos. Segundo, porque seria absolutamente incoerente rotular como hediondo um crime de homicídio cometido, por exemplo, mediante relevante valor social ou moral. Por fim, como as causas de diminuição de pena enumeradas no art. 121, §1º, do CP têm natureza subjetiva, e as qualificadoras porventura reconhecidas neste homicídio qualificado-privilegiado devem, obrigatoriamente, ter natureza objetiva, há de se reconhecer a natureza preponderante do privilégio, aplicando-se raciocínio semelhante àquele constante do art. 67 do Código Penal.
	O homicídio privilegiado não é hediondo; o homicídio qualificado é hediondo. O homicídio híbrido é hediondo? 
· 1ª corrente (posição do STJ): entende que não é hediondo por falta de previsão legal. 
· 2ª corrente: entende que não é crime hediondo por falta de compatibilidade lógica entre o privilégio e a hediondez. 
· 3ª corrente: é crime hediondo, porque o homicídio híbrido nada mais é do que um homicídio qualificado com uma causa de diminuição da pena.
b) Lesão corporal
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, §2º) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; 
	A lesão corporal seja leve, grave, gravíssima ou seguida de morte, em regra, não é crime hediondo. Para ser considerada crime hediondo deve ser dolosa de natureza gravíssima (art. 129, §2º) ou lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º), quando praticadas contra os integrantes previstos no referido inciso. 
	A lesão corporal leve (art. 129, caput) ou grave (art. 129, §1º), mesmo quando praticadas contra esses agentes no exercício da função, não são consideradas como crime hediondo por falta de previsão legal, contudo, assim como as primeiras sofrem a causa de aumento de pena do art. 129, §12 do CP.	
c) Roubo e latrocínio
	Na redação original da Lei nº 8.072/90, o roubo somente tinha uma figura considerada como crime hediondo, qual seja, a do “latrocínio”, ou, mais tecnicamente, roubo qualificado pela morte (artigo 157, §3º, II do CP). Aliás, frise-se que a Lei dos crimes hediondos foi a primeira legislação brasileira a fazer uso da palavra “latrocínio”, a qual até então era apenas uma espécie de jargão criminal. A Lei nº 13.964/19 altera e amplia a redação do artigo 1º, inciso II da Lei nº 8.072/90. Não se vê mais a utilização do jargão “latrocínio” na letra da lei. E não é mais somente o roubo qualificado pela morte que é considerado como crime hediondo.
II - roubo: 
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, §2º, inciso V);    
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, §2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, §2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, §3º);
	No tocante à “lesão corporal grave” mencionada no inciso II, alínea “c” da Lei de crimes hediondos é de se observar que quando a lei se refere a “lesões graves”, alude “às lesões graves em sentido amplo (artigo 129, §§1º e 2º), abrangendo as lesões graves em sentido estrito e também as doutrinariamente denominadas “lesões gravíssimas”.	
	Para ocorrência do art. 157, §3º, a lesão corporal grave ou a morte (latrocínio) deve ter ocorrido, pelo menos, culposamente.
	A doutrina entende haver também concurso de roubo e homicídio – e não latrocínio – quando um dos assaltantes mata o outro, para, por exemplo, ficar com todo o dinheiro subtraído, ainda que a morte ocorra durante o assalto. Isso porque, no caso, o resultado morte atingiu o próprio sujeito ativo do roubo. 
	Por outro lado, se o agente efetua um disparo para matar a vítima, mas, por erro de pontaria, acaba atingindo e matando seu comparsa, o crime é de latrocínio. Nesse caso, ocorreu a chamada aberratio ictus (art. 73 do CP), em que o agente responde como se tivesse atingido a pessoa que visada.
Súmula nº 603 do STF – “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do júri”.
	Pode-se concluir que para os casos ocorridos antes do início de vigência da chamada “Lei Anticrime”, somente será considerado hediondo o “latrocínio” (roubo qualificado pela morte). Todas as inclusões procedidas, configuram novatio legis in pejus, sem força retroativa.
d) Extorsão
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal grave ou morte (art. 158, §3º);
	É o chamado sequestro relâmpago que geraa ocorrência de lesão corporal grave ou morte.
	O crime de extorsão, na redação original da Lei nº 8.072/90, somente era considerado como hediondo no caso de qualificação pelo resultado morte (artigo 158, §2º do CP). A polêmica surgiu com uma alteração procedida pela Lei nº 11.923/09 que inseriu o art. 158, §3º (extorsão praticada mediante a restrição da liberdade da vítima).
	Na ocasião, o legislador se esqueceu de ajustar a Lei dos Crimes Hediondos e permaneceu lá consignado que a extorsão qualificada pela morte, prevista no artigo 158, §2º do CP era hedionda, sem a menor menção ao então novo §3º do mesmo artigo.
Questionava-se se o art. 158, §3º seria hediondo ou não, já que o novo §3º não estava, de forma alguma, previsto expressamente no rol de crimes hediondos da Lei nº 8.072/90, o qual, como todos sabem, é taxativo e não admite ampliação por analogia. Não obstante, a tese da irrazoabilidade de que o legislador previsse como hedionda a extorsão com morte sem sequestro e não assim a catalogasse quando com morte e sequestro, superou a enorme falha legislativa, que tendeu a ser consertada por via doutrinário – jurisprudencial. 
	Neste sentido, se manifestaram pela hediondez do artigo 158, §3º, parte final do CP, independente da faltade menção na Lei nº 8.072/90, Rogério Sanches Cunha e Luiz Flávio Gomes. E mais, o Informativo STJ nº 590 apresenta o sequestro com restrição da liberdade como um mero desdobramento, de modo a tender a acatar esse entendimento à época.
	Com o advento do chamado “pacote anticrime”, passou a ser previsto como hediondo somente o crime de extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (art. 158, §3º), bem como esta em ocorrendo lesão grave ou morte, com expressa e induvidosa indicação somente do artigo 158, §3º do CP, sem nenhuma referência ao artigo 158, §2º do CP que anteriormente constava do inciso III do artigo 1º, da Lei nº 8.072/90. 
	Dessa maneira, a única conclusão a que se pode chegar é que a extorsão em geral não é considerada como crime hediondo, mesmo aquela qualificada pela morte ou lesão grave, não sendo acompanhada de sequestro. E desta feita, não há falar em alguma desproporção, ao menos interna à extorsão, pois aquela considerada como hedionda será a mais gravosa, ou seja, a em que ocorre também o sequestro. 
	Extorsão mediante a restrição da liberdade da vítima (sequestro relâmpago)
	Se a extorsão ocorre sem restrição da liberdade da vítima
	- Se a restrição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 anos, além da multa.
-Se resulta lesão corporal grave a pena é de reclusão, de 16 a 24 anos.
- Se resulta morte a pena é de reclusão, de 24 a 30.
	- Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 a 18 anos e multa.
- Se da violência resulta morte, a pena é de reclusão de 20 a 30 anos e multa.
	É crime hediondo
	Não é crime hediondo
	A situação é bem diferente daquela outrora ocasionada pela Lei nº 11.923/09, pois ali a extorsão qualificada pela morte sem sequestro era hedionda e a também qualificada pela morte com o acréscimo do sequestro não o seria, autorizando o ajuste da situação pela doutrina e jurisprudência por via da aplicação do Princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade. Entretanto, atualmente, a situação se inverte, a figura mais gravosa é mantida como hedionda e a menos gravosa é afastada do quadro da hediondez, não havendo meios para recorrer à razoabilidade ou proporcionalidade.
	Nesse passo, talvez o único argumento plausível para uma revisão da situação seja mesmo a desproporção entre o tratamento dado ao roubo e à extorsão como crimes hediondos, mas não se acredita que isso possa ter força para superar a letra da lei. Eventualmente, pode ser útil para uma futura alteração e ajuste legislativo, servindo apenas como proposta de lege ferenda.
	Observe-se ainda que também a extorsão com restrição da liberdade da vítima prevista na parte inicial do artigo 158, §3º do CP é hedionda, mesmo havendo apenas lesões leves ou ausência de lesões, uma vez que a redação separa com vírgulas as situações do restrição da liberdade da vítima, das lesões e da morte. 
	Ademais cabe observar que, de forma errônea, a lei menciona “ocorrência de lesões corporais”, quando, na verdade, as lesões previstas no §3º do artigo 158 do CP são apenas as graves ou gravíssimas. 
	Logo, no caso da extorsão com restrição da liberdade da vítima, pode haver lesões leves ou mesmo ausência de lesões e o crime continuará a ser hediondo por previsão expressa e autônoma na primeira parte do inciso III do artigo 1º, da Lei nº 8.072/90 com nova redação dada pela Lei nº 13.964/19.
	Atenção: apesar de na Lei de crimes hediondos apenas constar o art. 158, §3º expressamente, Rogério Sanches entende que a redação do inciso também permite abranger o art. 158, §2º (extorsão praticada mediante lesão corporal de natureza grave ou morte), pois é crime também qualificado pelo resultado. Ainda não temos posicionamento jurisprudencial sobre o tema.
	Fábio Roque entende que será crime hediondo se a extorsão for praticada mediante restrição da liberdade da vítima, ou caso da extorsão resulte lesão corporal de natureza grave ou morte seja ela praticada mediante restrição da liberdade ou não.
	É de anotar que essa alteração promovida pela Lei nº 13.964/19 constitui, em parte, novatio legis in mellius. A suposta “Lei Anticrime” retira expressamente a qualificação hedionda que existia induvidosamente com relação à extorsão qualificada pela morte, prevista no artigo 158, §2º do CP, de modo que deve retroagir para beneficiar réus e condenados extorsionários que levaram suas vítimas à morte. 
	Por outro lado, no que se refere aos casos de extorsão mediante restrição da liberdade da vítima e desta com resultado lesões graves ou gravíssimas, trata-se de novatio legis in pejus, não podendo retroagir.
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput e §§1º, 2º e 3º); 
	É a chamada extorsão mediante sequestro, ela será considerada crime hediondo independentemente de sua modalidade (simples – caput – ou qualificada – §§1º, 2º e 3º –).
	O crime de sequestro isoladamente falando não é crime hediondo, salvo quando for a hipótese de extorsão mediante sequestro.
	Questão CESPE: (2018 – PC-MA – Escrivão de Polícia Civil – Adaptada)[footnoteRef:5]. Conforme a legislação pertinente, considera-se crime hediondo: o sequestro. [5: Gabarito: errado.] 
e) Estupro
V - estupro (art. 213, caput e §§1º e 2º);
	O estupro é crime hediondo independentemente de sua modalidade (simples ou qualificada).
f) Estupro de vulnerável
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§1º, 2º, 3º e 4º); 
	É crime hediondo independentemente de sua modalidade (simples ou qualificada).  
	O crime de estupro de vulnerável, antes do surgimento da Lei nº 12.015/09, estava presente no art. 224 do CP. Porém, este artigo foi revogado pela referida lei e mudado de artigo (criou-se com a Lei nº 12.015/09 o art. 217-A), ocorrendo a chamada continuidade típico-normativa. A 3ª Seção do STJ autoriza a aplicação dos consectários da Lei nº 8.072/90 para os crimes sexuais praticados com violência presumida, mesmo que anteriores a Lei nº 12.015/09, pois não foi esta lei que consagrou a hediondez do crime de estupro de vulnerável, mesmo quando ele estava presente no art. 224 já era considerado como hediondo. 
Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor praticados anteriormente à Lei nº 12.015/2009, ainda que mediante violência presumida, configuram crimes hediondos. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. Embargos de divergência acolhidos a fim de reconhecer a hediondez do crime praticado pelo Embargado” (EREsp 1225387/RS, rel. Min. Laurita Vaz, DJe 04/09/2013). 
g) Epidemia com resultado morte
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, §1º).
	É a difusão de doença, mediante a propagação de germes patogênicos. Somente a propagação de doença de humana é que configura o crime. Em se tratando de enfermidade que atinja plantasou animais, o crime será o do art. 61 da Lei nº 9.605/98 (crime ambiental).
	A transmissão dolosa do vírus HIV não é considerada como crime hediondo, embora haja projeto de lei tramitando no Congresso Nacional para incluir essa conduta no rol da Lei nº 8.072/1990.
	No caso de crime culposo de epidemia que resulte morte, não é considerado crime hediondo por força da previsão no art. 267, §2º que concede uma pena muito menor do que a do caput e do §1º. Ademais, a própria Lei de crimes hediondos menciona apenas o §1º em sua descrição.
h) Falsificação de medicamentos 
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §1º, §1º-A e §1º-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).           
i) Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável 
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput e §§1º e 2º).           
	Não envolve adulto ou pessoa maior e capaz.
j) Furto qualificado
IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, §4º-A).
	Aqui se encontra outra anomalia inaceitável promovida pela suposta “pacote anticrime”. O furto com emprego de explosivo é considerado crime hediondo. Já o roubo com emprego de explosivo (artigo 157, §2º–A, II do CP) não é considerado como crime hediondo! Nem é preciso explicar como a proporcionalidade, razoabilidade e até a racionalidade legal foram aviltadas por esse tratamento absurdo.
	Atenção: o roubo, nas mesmas circunstâncias não está abrangido por essa lei, por desatenção do legislador.
4.2. Crimes que não estão previstos no Código Penal
a) Genocídio
Art. 1º, parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:     
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;      
	Genocídio é a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo étnico, nacional ou religioso. Não é somente a matança generalizada que é considerada genocídio. Exemplo: lesionar os membros de uma tribo de modo que não permita que eles cacem (se alimentem de modo geral) o que ocasionará na sua extinção; impedir a reprodução das mulheres daquela tribo através de castração etc.
	Genocídio é crime contra a humanidade, não se trata de crime contra a vida, mesmo quando ocorre morte dolosa. Genocídio não está capitulado no Código Penal nos crimes contra à vida. É por esse motivo que a competência para julgar esse crime é do juízo singular (federal ou estadual), e não do tribunal do júri. 
	A lei de genocídio é norma penal em branco “ao avesso”: precisa de complemento em seu preceito secundário.
b) Posse ou porte ilegal de arma de fogo e uso proibido
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
	Antes do pacote anticrime a posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito era delito hediondo, com a alteração, agora somente quando a arma for de uso proibido.
	A posse ou porte ilegal de acessório ou munição de uso proibido também é crime hediondo? Cléber Masson defende que o art. 16 do Estatuto do Desarmamento, indicado pela Lei dos Crimes Hediondos faz menção expressa de arma de fogo, acessório ou munição, o que acaba por incluir os acessórios e munições.
	As figuras equiparadas do art. 16, PU do Estatuto do Desarmamento também se enquadram como crime hediondo? Cléber Masson e Rogério Sanches entendem que sim, afinal esses tipos foram equiparados pelo art. 16 do Estatuto do Desarmamento, além de estarem previstos no art. 16 (o art. 16 é mencionado na Lei de Crimes Hediondos, ela não fala somente no “caput”, mas no art. 16 como um todo). É o posicionamento mais recente do STJ.
c) Comércio ilegal de arma de fogo
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;  
	Pela dicção do referido inciso, depreende-se que envolveria apenas o comércio ilegal de armas de fogo ou abrange também os acessórios e munições? Ao meu ver abrangeria também os acessórios e as munições, até porque o art. 17 do Estatuto do desarmamento os menciona: art. 17 da Lei nº 10.826/03 – “Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:”.
d) Tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição     
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; 
e) Organização criminosa para fins de prática de crime hediondo ou equiparado      
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado.  
5. Crimes militares
	Os crimes militares tipificados no CPM que correspondem aos mesmos tipos previstos na Lei nº 8.072/90 seriam também crimes hediondos (exemplo: homicídio, latrocínio, estupro etc.)? Percebe-se, então, que o legislador da Lei nº 8.072/90 não teve o cuidado de conferir natureza hedionda aos crimes militares. Logo, os crimes militares correspondentes não são considerados hediondos por falta de previsão legal.
	A disparidade de tratamento do crime militar e do crime comum já foi questionada perante o STF, que, no entanto, concluiu que a diferença de tratamento legal entre os crimes comuns e os crimes militares, mesmo em se tratando de crimes militares impróprios, não revela inconstitucionalidade, pois o Código Penal Militar não institui privilégios. Ao contrário, em muitos pontos, o tratamento dispensado ao autor de um delito é mais gravoso do que aquele do Código Penal comum.
6. Crimes hediondos e cláusula salvatória
	A cláusula salvatória seria a possibilidade de o juiz no caso concreto excluir a hediondez do crime. O Direito brasileiro não admite essa cláusula salvatória, pois adotamos o critério legalista (é crime hediondo o que a lei define).
	Tem doutrina sugerindo a criação de uma cláusula salvatória, permitindo que a depender do caso concreto o juiz afastasse a natureza hedionda de um crime constante de um rol fixado pelo legislador. Porém, não é a tese que prevalece.
7. Crimes equiparados a hediondo
	Falar que um crime é equiparado a hediondo não é dizer que ele é hediondo, significa dizer que ele é um crime que mesmo sem ser hediondo, recebe da Constituição e das leis o mesmo tratamento dispensado aos crimes hediondos.
a) Tráfico de drogas – Lei nº 11.343/2006
	Por tráfico de drogas se entende o art. 33, caput (tráfico propriamente dito), §1º (forma equiparada de tráfico) e art. 34 (tráfico de maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas) da lei de drogas. Há doutrina que defende que o art. 36 (financiar ou custear o tráfico) da lei de drogas também é crime equiparado a hediondo (não é a tese que prevalece).
	O STF entende que o tráfico privilegiado (art. 33, §4º)[footnoteRef:6] não mais deve ser considerado como crime hediondo. [6: A figura privilegiada (art. 33, §4º da Lei nº 11.343/2006) ocorre quando o agente é primário, de bons antecedentes e não se dedica nem integra organizações criminosas.] 
O crime de tráfico privilegiado de drogas não tem natureza hedionda. Por conseguinte, não são exigíveis requisitos mais severos para o livramento condicional (Lei 11.343/2006, art. 44, parágrafo único) e tampouco incide a vedação à progressão de regime (Lei 8.072/1990, art. 2º, § 2º) para os casos em que aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, §4°, Lei 11.343/2006. Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, concedeu a ordem de “habeas corpus” para afastara natureza hedionda de tal delito. No caso, os pacientes foram condenados pela prática de tráfico privilegiado, e a sentença de 1º grau afastara a natureza hedionda do delito. Posteriormente, o STJ entendera caracterizada a hediondez, o que impediria a concessão dos referidos benefícios — v. Informativos 791 e 828. O Tribunal superou a jurisprudência que se firmara no sentido da hediondez do tráfico privilegiado. Sublinhou que a previsão legal seria indispensável para qualificar um crime como hediondo ou equiparado. Assim, a partir da leitura dos preceitos legais pertinentes, apenas as modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, “caput” e § 1º, da Lei 11.343/2006 seriam equiparadas a crimes hediondos. Entendeu que, para alguns delitos e seus autores, ainda que se tratasse de tipos mais gravemente apenados, deveriam ser reservadas algumas alternativas aos critérios gerais de punição. A legislação alusiva ao tráfico de drogas, por exemplo, prevê a possibilidade de redução da pena, desde que o agente seja primário e de bons antecedentes, não se dedique a atividades criminosas e nem integre organização criminosa. Essa previsão legal permitiria maior flexibilidade na gestão da política de drogas, pois autorizaria o juiz a avançar sobre a realidade pessoal de cada autor. Além disso, teria inegável importância do ponto de vista das decisões de política criminal (HC 118533/MS, rel. Min. Cármen Lúcia, 23.6.2016).
	Atenção (STJ e cancelamento da súmula nº 512): fundamentada em precedentes desde 2010, no ano de 2014 o Superior Tribunal de Justiça publicou a súmula nº 512, no sentido de considerar que a incidência da privilegiadora não retirava a característica de crime hediondo do tráfico de drogas, tendo em vista a diferenciação prevista na lei 8.072/90 e na Constituição Federal. Logo, o tráfico de drogas privilegiado (art. 33, §4º) se submetia a lei dos crimes hediondos. 
	Contudo, em 2016, a Terceira Seção do STJ, por unanimidade, acolheu a tese segundo a qual o tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, §4º) não é crime equiparado a hediondo, por apresentar contornos menos gravosos e o envolvimento ocasional. Posteriormente houve o cancelamento da súmula nº 512 do Tribunal.
	Questão CESPE (2017 – TJ-PR – Juiz substituto – Adaptada)[footnoteRef:7]. Considerando a jurisprudência do STJ a respeito dos crimes hediondos, do tráfico de entorpecentes, do Estatuto do Desarmamento e do ECA, assinale a opção correta: Não é hediondo o crime de tráfico de entorpecentes praticado por agente primário, de bons antecedentes e que não se dedique a atividades criminosas nem integre organização criminosa. [7: Gabarito: correto.] 
	O crime de “associação par ao tráfico”, previsto no art. 35 da Lei nº 11.343/06 é crime equiparado a hediondo? O STJ já firmou o entendimento de que não.
A teor da jurisprudência consolidada desta Corte, o delito de associação para o tráfico (art. 35 da Lei n. 11.343/2006), não é equiparado a hediondo, uma vez que não está expressamente elencado no rol do artigo 2º da Lei n. 8.072/1990 (STJ, HC 381.202, j. 27/4/17).
	Questão CESPE (2017 – TJ-PR – Juiz Substituto – Adaptada)[footnoteRef:8]. O crime de associação para o tráfico é hediondo, razão pela qual a progressão de regime para o condenado por esse crime só pode ser concedida depois de cumpridos dois terços da pena. [8: Gabarito: errado.] 
	Observação: as hipóteses dos art. 33 caput, §1º e art. 34, quando evidenciado a transnacionalidade do tráfico (tráfico internacional de drogas), é hipótese de crime equiparado a hediondo. Lembrando que tráfico de drogas não é crime hediondo, mas equiparado.
	Questão CESPE: (2004 – Polícia Federal – Escrivão)[footnoteRef:9]. O tráfico internacional de entorpecentes, por ser um crime inafiançável, é considerado um crime hediondo. [9: Gabarito: errado. Não é considerado crime hediondo, mas equiparado.] 
b) Tortura – Lei nº 9.455/1997 
	Tortura omissão prevista no art. 1º, §2º não se trata de uma tortura propriamente dita, não podendo ser elevada ao mesmo patamar de crimes hediondos. 
Art. 1º, §2º da Lei nº 9.455/1997 - Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
	Atenção: o crime de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, mas não hediondo, nem mesmo por equiparação, insuscetível apenas de fiança, nos termos da CRFB.
	Questão de concurso (2017 – IBADE – PC-AC – Delegado de Polícia Civil – Adaptada)[footnoteRef:10]. Dentre os crimes equiparados aos hediondos estão: tortura, tráfico ilícito de drogas e racismo. [10: Gabarito: errado.] 
c) Terrorismo – Lei nº 13.260/2016
8. Vedações legais
Art. 2º - Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:  	
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.
	A graça, anistia e indulto são formas de extinção da punibilidade[footnoteRef:11]. [11: Anistia: é veiculada por lei ordinária (federal), de iniciativa privativa do Congresso Nacional, de caráter retroativo (à data do fato – ex tunc) e irrevogável, promove a exclusão do crime e faz desaparecer suas consequências penais, com exceção dos efeitos extrapenais (genéricos e específicos), que ainda subsistem. 
Graça: é um benefício de caráter individual, concedido mediante decreto do Presidente da República (ou algum dos seus delegados) após solicitação do condenado, do Ministério Público, do Conselho Penitenciário, ou da Autoridade Administrativa (artigo 188 da LEP); e que deve ser cumprido pelo juiz das execuções.
Indulto: é o benefício de caráter coletivo, concedido mediante decreto presidencial que deve ser cumprido pelo juiz, de ofício, ou mediante provocação do interessado, do Ministério Público, do Conselho Penitenciário ou da Autoridade Administrativa (artigo 193 da LEP).] 
	Sua previsão constitucional está no art. 5º, XLIII “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.	
	Observe que na redação do art. 5º, XLIII da CRFB não consta a palavra “indulto”, tendo previsão apenas na Lei nº 8.072/90. Tal previsão seria constitucional?
· 1ª corrente: a proibição do indulto é inconstitucional, pois a lei dos crimes hediondos criou uma vedação não prevista pelo mandamento constitucional. O art. 5º, XLIII anuncia vedações máximas, não cabendo ao legislador infraconstitucional ampliá-las.
· 2ª corrente (STF): a proibição do indulto é constitucional, pois o indulto nada mais é que uma graça coletiva; a Constituição exige um tratamento mais rigoroso para os condenados por crimes hediondos e equiparados, logo a lei de crimes hediondos foi por esse caminho. A constituição, portanto, exemplificou proibições, não previu todas. 
	O STF (HC 81.556) e o STJ (HC 271.537) tem se posicionado pela constitucionalidade da proibição do indulto na lei dos crimes hediondos.	
	A graça e o indulto são benefícios de competência privativa do Presidente da República, cujo exercício pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado Geral da União (artigo 84, XII e parágrafo único da CRFB) e atingem somente os efeitos principais da condenação, substituindo todos os efeitos penais e extrapenais gerando, inclusive, a reincidência e maus antecedentes.
	Devem ser concedidos após o trânsito em julgado da sentença condenatória (mas, a jurisprudência tem mitigado esse rigor).
	É cabível o indulto humanitário (é aquele concedido por razões de grave deficiência física ou em virtude do debilitado estado de saúde)? Temos decisões, inclusive do STJ, admitindo. Porém, há decisões do STF não admitindo, sob o argumento que o indulto é vedado nos crimes hediondos e equiparados, não importa a espécie.
9. Lei de tortura e silêncio eloquente no tocante ao indultoArt. 1º, §6º, da Lei nº 9.455/1997 - O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
	Observe que esse dispositivo da Lei de tortura não menciona o indulto. Há quem entenda que o indulto não se aplica, reforçando a primeira posição (proibição inconstitucional), tratando-se de um silêncio eloquente e por causa do regime dos crimes hediondos e dos equiparados serem o mesmo essa regra deve ser aplicada aos demais. 
	Há posição diversa defendo se tratar de problemática a ser resolvida pelo critério da especialidade. Aos crimes de tortura é vedado o indulto, porém, nos demais crimes hediondos e equiparados o indulto se aplica pela mesma lógica dita anteriormente sobre os crimes hediondos.
	A redação original do art. 2º da Lei de crimes hediondos vedava também a concessão de liberdade provisória nos crimes hediondos e equiparados (TTT). Porém, o dispositivo foi alterado entendendo que os hediondos e equiparados são inafiançáveis, mas o acusado apenas pode ter sua liberdade restringida cautelarmente quando houver decisão judicial fundamentada, e apenas nos casos previstos em lei (art. 312 do CPP) por força do art. 5º, LXVI da CRFB “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”.
10. Fiança
	Não cabe ao delegado de polícia ou ao juiz arbitrar fiança aos crimes hediondos e equiparados. Decorre da própria constituição.	Só a constituição pode declarar um crime inafiançável in abstrato, porque in concreto o delegado e o juiz podem não conceder a fiança, se ausentes os requisitos.
	Porém, nesses crimes há a possibilidade de cabimento de liberdade provisória sem fiança. A liberdade provisória sem fiança depende de fundamentação judicial (análise da necessidade da custódia cautelar), ao contrário da fiança que apenas fixa-se o valor (podendo ser feita pelo delegado ou pelo juiz a depender do caso). 
	Reflexos nos demais crimes: só a constituição pode declarar um crime como inafiançável – crimes de máximo potencial ofensivo (hediondos, equiparados [TTT] e o racismo e ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o estado democrático).	
11. Liberdade provisória
Art. 2º - Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: 
II - fiança e liberdade provisória (alterado pela Lei nº 11.464, de 2007).
	Antes da Lei nº 11.464/2007 a Lei dos crimes hediondos vedava a fiança e a liberdade provisória. Há época o STF não visualizava qualquer inconstitucionalidade na vedação da liberdade provisória. Inclusive editou a súmula nº 697.
Súmula nº 697 do STF – “A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo”. 
	Após a Lei nº 11.464 de 2007 passou-se a vedar somente a fiança, nada mais falando sobre a liberdade provisória. A pergunta que se faz é a seguinte: a liberdade provisória agora é cabível? 
· 1ª corrente: a liberdade provisória continua proibida, estava proibida implicitamente na vedação da fiança. 
· 2 corrente (prevalece): a fiança e a liberdade provisória não se confundem. Não se proibindo liberdade provisória (não existe proibição implícita), entende-se cabível. Será uma liberdade provisória sem fiança, pois a com fiança não é cabível.
	O STF (HC 104.339) chegou a decidir que o legislador não pode proibir a concessão da liberdade provisória, somente o juiz é quem pode, pois é somente ele quem analisa o caso concreto à luz do nosso ordenamento jurídico.
12. Regime inicial fechado para cumprimento da pena privativa de liberdade
Art. 2º, §1º - A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.
	Pela Lei de crimes hediondos, o regime inicial do cumprimento da pena por tais crimes é o fechado, pouco importando a quantidade da pena aplicada, pouco importando o perfil subjetivo do agente (se tem maus antecedentes ou não, por exemplo). Logo, os dispositivos do art. 33 do CP são inaplicáveis nesse caso.
	Na redação original da lei o regime de cumprimento da pena por crime hediondo era integralmente fechado, ou seja, não havia possibilidade de progressão do regime de cumprimento da pena.
	De 1990 a 1997 o entendimento do STF era de que o regime integralmente fechado era constitucional. Entendendo que embora a constituição não tenha imposto esse regime inicial do cumprimento da pena, é decorrência natural da rigidez constitucional.
	Com a Lei nº 9.455/97 (Lei de tortura) ela trouxe uma polêmica, pois passou a caber progressão de regime. Dizia o seguinte:
Art. 1º, §7º da Lei nº 9.455/97 - O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo na hipótese do §2º (tortura omissão), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
	Se os crimes hediondos e equiparados possuem o mesmo tratamento e no caso da tortura cabe progressão de regime, como fica quanto aos demais?
	O STF editou uma súmula sobre o tema: 
Súmula 698 nº do STF – “Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura”. 
	O STF resolveu esse conflito aparente de normas com o princípio da especialidade, ou seja, o regime inicial fechado cabe apenas para os crimes de tortura, aos demais aplica-se o regime integralmente fechado.
	Somente em 2005, após 15 anos, o STF declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado, porque viola a dignidade da pessoa humana, a proporcionalidade e a individualização da pena (tanto na fase judicial quanto na fase de execução). O crime hediondo passou a progredir como um crime comum. 
	Logo, a progressão do regime de cumprimento da pena no caso de crimes hediondos e equiparados passou a seguir a sistemática da lei de execuções penais. Qual é o problema? A constituição delimita dois polos distintos de crimes, em um extremo a Constituição fala das infrações penais de menor potencial ofensivo (art. 98, I), no outro extremo a constituição fala dos crimes hediondos e equiparados (art. 5º, XLIII). No meio desses extremos temos os crimes comuns. No momento em que o julgador passa a aplicar o mesmo regime de progressão da pena dos crimes comuns, previsto na LEP, aos crimes hediondos, o julgador acaba por equipará-los (dando tratamento de crime comum), o que não pode ocorrer, pois a constituição determina um rigor maior em relação aos crimes hediondos.
	Com a Lei nº 11.464/2007 estabeleceu-se que para crimes hediondos e equiparados o regime é inicialmente fechado (independentemente da pena e da condição do agente), mas admite-se progressão com requisito temporal diferenciado. 
	Posteriormente a edição da Lei nº 11.464/2007 o STF decidiu quanto ao regime inicialmente fechado: o declarou inconstitucional; argumenta que há violação aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade; há ausência de previsão na constituição (Plenário, HC 111.840, Informativo nº 672). O juiz pode fixar desde o início do cumprimento da pena regime semiaberto ou aberto.
	Cumpridos os requisitos legais é cabível a suspensão de PPL por PRD e sursis nos crimes hediondos (STF), pois o único óbice que tinha era porque o cumprimento da pena iniciava em regime fechado, o que impedia o cumprimento da PPL, mas agora que foi declarada inconstitucional é possível.
Súmula vinculante nº 26 – “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”.
	Segundo dizia a Lei de crimes hediondos, a progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes considerados hediondos, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5, se reincidente, observado o disposto nos §§3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984(Lei de Execução Penal). Esse dispositivo (art. 2º, §2º foi revogado pelo pacote anticrime – Lei nº 13.964/2019). Desse modo, o dispositivo passa a seguir os termos da LEP, vejamos:
	Crime hediondo ou equiparado
	Primário
	Reincidente
	40% Artigo 112, inciso V, da LEP.
	Se houver morte: 50%, vedado o livramento condicional – artigo 112, inciso VI, alínea “a”, da LEP.
	60% - Artigo 112, inciso VII, da LEP.
	Se houver morte: 70%, vedado o livramento condicional – artigo 112, inciso VIII, da LEP.
	Disciplina legal anterior: 2/5 - Art. 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90.
	Disciplina legal anterior: 3/5 - Art. 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90.
	Condenada gestante, mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência: a Lei nº 13.769/18 também alterou a progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados se a condenada é gestante, mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência. Segundo a nova redação do art. 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90, a progressão de regime deve observar as regras estabelecidas nos §§3º e 4º do art. 112 da LEP. Cria-se, pois, uma progressão de regime mais branda para crimes de natureza hedionda tendo em consideração as condições pessoais da condenada.
Art. 112, §3º da LEP - No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente: 
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; 
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente; 
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior; 
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento; 
V - não ter integrado organização criminosa.
	Logo, preenchidos esses requisitos a condenada é gestante, mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência progride com 1/8 da pena. Caso não cumpra, progredirá de acordo com os termos da tabela acima.
	STJ: a progressão de regime para os condenados por crime hediondo dar-se-á, se o sentenciado for reincidente, após o cumprimento de 3/5 da pena, ainda que a reincidência não seja específica em crime hediondo ou equiparado.
	A partir do momento em que o STF passou a admitir a possibilidade de fixação de regime diverso do fechado para os condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados, o STJ, considerando o total da pena estabelecida, a ausência de circunstâncias judiciais desfavoráveis e inocorrência da reincidência, admitiu a possibilidade de fixação do regime inicial semiaberto para condenados por tráfico de drogas. Na fixação do regime inicial, o juiz deve observar as súmulas nº 718 e 719 do STF.
Súmula nº 718 do STF – “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada”.
Súmula nº 719 do STF – “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”.
(...)II - A obrigatoriedade do regime inicial fechado prevista na Lei do Crime de Tortura foi superada pela Suprema Corte, de modo que a mera natureza do crime não configura fundamentação idônea a justificar a fixação do regime mais gravoso para os condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados, haja vista que, para estabelecer o regime prisional, deve o magistrado avaliar o caso concreto de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo artigo 33 e parágrafos do Código Penal (AgRg no AREsp 272656 / RO, Min. Ericson Maranho, 6ª T., j. 18/08/2015).
	Lei nº 8.072/90
	HC 82.959-7 (STF)
	Lei nº 11.464/07
	HC 111.840 (STF)
	Anunciava o regime integral fechado, não permitia progressão de regime.
Súmula nº 698 do STF defendia que era constitucional.
	O STF declarou o regime integral fechado inconstitucional, viola a individualização da pena, dignidade, proporcionalidade etc.
	Regime inicial fechado obrigatório.
	Declarou inconstitucional o regime inicial fechado obrigatório.
Súmula nº 718 do STF.
Súmula nº 719 do STF.
13. Da celeuma sobre o exame criminológico
	A celeuma que gira em torno do exame criminológico advém de uma reforma legislativa na Lei de execução penal em 2003. Até então, exigia-se como requisito para progressão de regime não só o cumprimento de pelo menos 1/6 da pena (requisito objetivo) e o mérito do sentenciado, mas também um parecer da Comissão Técnica de Classificação e exame criminológico (requisito subjetivo). 
	Depois da alteração sofrida pelo art. 112 da LEP, não há mais previsão expressa sobre a exigência do exame criminológico. Hoje, para progressão de regime, além do requisito temporal, há exigência de bom comportamento carcerário (requisito subjetivo) apenas, que será comprovado pelo diretor do estabelecimento. 
	Desde então, temos conhecimento de decisões em todos os sentidos no que se refere à exigência ou mesmo possibilidade de se submeter ou não o executando a exame criminológico para que progrida no regime. 
	Para acabar com a polêmica o STJ editou a súmula nº 439, que afirma que o exame criminológico é admitido para atender as peculiaridades do caso e em decisão motivada.
Súmula nº 439 do STJ – “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”.
	O STF já havia pacificado o assunto ao editar a súmula vinculante nº 26 que trata especificamente da progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo. Logo, por força da súmula vinculante nº 26 o exame criminológico já era possível, excepcionalmente, nos crimes hediondos. Agora, em virtude da súmula nº 439 do STJ, ele pode ser determinado em casos “peculiares”, desde que em decisão fundamentada.
	Críticas: não há previsão expressa em lei permitindo a realização de exame criminológico. Logo, os Tribunais Superiores acabaram “legislando” ao decidir dessa forma, facultando ao juiz sobre a possibilidade ou não da realização do exame.
	Questão CESPE: (2015 – DPU – Defensor Público Federal – Editada)[footnoteRef:12]. Conforme entendimento dos tribunais superiores, tendo sido condenado pela prática de crime hediondo, o preso deverá ser submetido ao exame criminológico para ter direito à progressão de regime. [12: Gabarito: errado. Não é “deverá”, mas “poderá”, cabendo ao juiz determinar de forma fundamentada.] 
14. Da apelação em liberdade
Art. 2º, §3º - Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.
	Quer se trate de crime hediondo ou equiparado, na prática, não existe mais a necessidade de se determinar compulsoriamente a prisão em caso de condenação em 1º grau, quando o réu respondeu solto à acusação, a prisão devendo ter fundamento nas prisões cautelares. 
	Por sua vez, se estava preso durante a instrução, só deverá ser solto se cessaram os motivos que justificaram a manutenção no cárcere durante o transcorrer da ação.
	Logo, esse dispositivo deve ser entendido conforme a Constituição da seguinte forma:
· Réu processado preso, recorre preso, salvo se desaparecem os fundamentos da preventiva.
· Réu processado solto, recorre solvo, salvo se surgirem fundamentos para a preventiva. 
	
15. Progressão de regime prisional 
Art. 2º, §2º - A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
	O dispositivo do art. 2º, §2º da Lei de crimes hediondos foi revogado pela Lei nº 13.964/2019 (pacote anticrime), devendo observar o que está prescrito no art. 112 da LEP.
Art. 112 da LEP - A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;     
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:     
a)condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional;  
(...)   
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado;
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.  
	Esse é um requisito objetivo (temporal), porém não dispensa o requisito subjetivo e o mérito do condenado (condições pessoais de que a progressão é cabível naquela hipótese atendendo a finalidade da pena). 
	É irrelevante se a reincidência é genérica ou específica; se o crime cometido é doloso ou culposo (é tema polêmico). Há posicionamento doutrinário no sentido de que a reincidência deve ser aplicada apenas para o consentimento de crime específico, ou seja, prática de novo crime hediondo ou equiparado.
	É constitucional essa distinção para a progressão nos crimes hediondos ou equiparados? Sim. A Constituição indiscutivelmente impõe um regime mais severo para os crimes hediondos ou equiparados, não cabendo a ela entrar nessas minúcias (quantum da pena, da progressão etc.). Portanto, não dá pra ter, em termos de progressão, o mesmo requisito do crime comum.
	Aspecto histórico: os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da Lei de Execução Penal para a progressão de regime, que estabelece o cumprimento de um sexto da pena no regime anterior. Isso ocorre porque a Lei nº 11.464/2007 passou a exigir 2/5 de cumprimento para os primários e 3/5 para os reincidentes. Antes dessa lei, o tratamento dos crimes Hediondos para fins de progressão de regime prisional era dado pela Lei nº 8.072/90 que, em um primeiro momento, vedava a progressão, mas o STF passou a admiti-la, e a progressão (naquela época) era aplicada nos termos da Lei de execução penal (a LEP estabelecia 1/6 de cumprimento). Dado esses motivos, conclui-se que a Lei nº 11.464/2007 piorou a situação do réu, logo não retroage.
	Questão CESPE: (2013 – DPE-DF – Defensor Público)[footnoteRef:13]. Conforme a mais recente jurisprudência do STF, os condenados por crimes hediondos praticados antes da entrada em vigor da Lei n.º 11.464/2007 podem pleitear a progressão de regime após o cumprimento de apenas um sexto da pena aplicada. [13: Gabarito: correto.] 
16. Prisão temporária
Art. 2º, §4º - A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
	Em regra, a prisão temporária pode ser decretada por até cinco dias, nas hipóteses previstas na Lei nº 7.960/1989. Na Lei dos crimes hediondos, porém, há previsão específica, com a possibilidade de decretação da prisão temporária por até 30 dias, podendo haver prorrogação em caso de extrema e comprovada necessidade.
	Observação: esse prazo para a prisão temporária não se inclui no prazo a conclusão do inquérito policial quando o indiciado está preso, pois se o IP deve acabar em 10 dias (investigado preso) há incompatibilidade pelo tempo que o sujeito estará em prisão temporária (30 dias). 
	Nem todos os crimes hediondos ou equiparados estão previstos no art. 1º, III da Lei nº 7.960/1989. Exemplo: favorecimento a prostituição de menor, tortura, falsificação de medicamentos; porte/posse de arma de fogo de uso restrito etc. Caberia prisão temporária para esses crimes? Sim, porque a Lei dos crimes hediondos diz que é cabível, sendo uma lei de mesma hierarquia se comparada com a Lei de prisão temporária. Ampliando não só o rol de crimes que permitem prisão temporária, mas também ampliando o tempo de prisão.
17. Estabelecimentos penais de segurança máxima
Art. 3º - A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
	Não se destinam aos presos da Justiça federal, mas a todos aqueles que coloquem ou possam colocar em risco a ordem ou a incolumidade pública.
	Já existem projetos de lei no Congresso Nacional permitindo que os estados-membros também possam criar estabelecimentos de segurança máxima. Por ora, apenas a União manterá estabelecimentos penais de segurança máxima.
	Havendo condenado por crime hediondo ou equiparado pela Justiça estadual que irá cumprir a pena em estabelecimento da União, quem fiscalizará a execução?
	Condenado
	Estabelecimento prisional
	Competência para a execução
	J. federal
	J. estadual
	J. estadual
Súmula nº 192 do STJ – “Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual”.
	J. estadual
	J. federal
	J. federal
18. Livramento condicional
Art. 83, V do CP - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
	O tráfico de pessoas, apesar de não ser crime hediondo ou equiparado, no incidente de livramento condicional, cumpre os mesmos requisitos da Lei nº 8.072/90.
	O livramento condicional é uma liberdade antecipada, uma medida alternativa à prisão, modificando a execução penal mediante o atendimento de certas condições/requisitos.
a) Requisito temporal
	Primário + bons antecedentes
	Reincidente
	Crime hediondo/equiparado
	Cumprimento de + de 1/3 da pena.
	Cumprimento de + 1/2 da pena.
	Cumprimento de + de 2/3 (desde que não seja reincidente específico, senão impossibilitará a sua concessão).
 	O que se entender por reincidente específico?
· 1ª corrente: é aquele sujeito reincidente em crimes previstos no mesmo tipo legal. Exemplo: estupro x estupro.
· 2ª corrente: é o reincidente em crimes que violam o mesmo jurídico, ainda que em tios distintos. Exemplo: latrocínio x extorsão mediante sequestro.
· 3ª corrente (adotada): é o reincidente em crimes hediondos ou equiparados, não importando o tipo ou o bem jurídico tutelado.
19. Associação criminosa
	O art. 8º da Lei de crimes hediondos trata de maneira diferenciada o crime do art. 288 do CP (associação criminosa) quando visa à prática de crimes hediondos ou equiparados.
Art. 8º - Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. 
	O art. 288 do Código Penal diz respeito ao crime de associação criminosa. Quando a associação criminosa tiver por objeto a prática de crimes hediondos ou equiparados a hediondos, haverá aumento de pena: a pena cominada pelo Código Penal é de reclusão de 1 a 3 anos, enquanto, neste caso, será de reclusão de 3 a 6 anos.
	Observação: havendo associação para o fim de cometer tráfico de drogas, não será aplicado o art. 288 do CP ou o art. 8º da Lei de crimes hediondos, mas o art. 35 da Lei de drogas (pena de 3 a 10 anos). Isso também se aplica para o terrorismo e para o genocídio.
	Associação criminosa (art. 288 do CP) não é crime hediondo ou equiparado, nem quando visa a prática de crimes hediondos ou equiparados. 
Parágrafo único - O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
	É a chamada delação premiada ou traição benéfica.
	Um aspecto encarado pela doutrina é o que diz respeito à prova do desmantelamento da associação criminosa. Obviamente é muito difícil fazer essa comprovação, e nada impede que, mesmo que todos os componentes sejam presos, eles voltem a reunir-se no futuro para a prática dos mesmos crimes. O Poder Judiciário deve, portanto, encarar com parcimôniao dispositivo legal.		
20. Questionamentos finais
	Cabe PRD e “SURSIS” para crimes hediondos ou equiparados?
· 1ª corrente: não cabe, pois, tais benefícios são incompatíveis com a gravidade dos delitos hediondos e equiparados. Gerando uma proteção deficiente que contraria o mandado constitucional.
· 2ª corrente (STF): o legislador não deve proibir as penas restritivas de direitos e o SURSIS com base na gravidade em abstrato, devendo, o juiz, aquilatar seu cabimento na análise do caso concreto.
	Observação: não obstante a possibilidade de concessão do SURSIS aos crimes hediondos, é bom ressaltar que, especificamente em relação ao tráfico de drogas, ante a vedação constante do art. 44 da Lei nº 11.343/06, os Tribunais ainda vêm considerando ser legítima a proibição da concessão da suspensão condicional da pena aos crimes dos arts. 33, caput e §1º, e 34 a 37 da referida Lei. 
	O STF, no HC 101.919, também decidiu “o óbice, previsto no artigo 44 da Lei nº 11.343/06, à suspensão condicional da pena imposta ante tráfico de drogas mostra-se afinado com a Lei nº 8.072/90 e com o disposto no inciso XLIII do artigo 5º da Constituição Federal”.
	É possível a remissão (resgate de parcela da pena pelo trabalho ou estudo penitenciário) para crimes hediondos ou equiparados? A lei não proíbe, sendo perfeitamente possível. Ademais, fomentá-los é um ótimo instrumento de ressocialização.
	É possível trabalho externo para crimes hediondos ou equiparados? A lei não proíbe, sendo perfeitamente possível, devendo apenas se atentar aos artigos 36 e 37 da LEP.
	É possível prisão domiciliar (art. 117 LEP) para crimes hediondos ou equiparados? Sim, principalmente em razão da Lei nº 13.769/18 que trata da substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar da mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência e para disciplinar o regime de cumprimento de pena privativa de liberdade de condenadas na mesma situação.
	Observação: A LC 94/90, alterada pela LC 135/10, anuncia ser caso de inelegibilidade a condenação em 2º grau por órgão colegiado pela prática de crime hediondo ou equiparado.
Art. 1º, LC 64/90 - São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes:
(...)
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos.
	Obrigatoriedade de identificação pelo perfil genético, no caso de crimes hediondos ou equiparados (neste somente se cometidos com violência de natureza grave contra a pessoa), no momento em que o condenado ingressa na habitação prisional:
Art. 9º-A da LEP - Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor.
1º A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo.     
§1º-A. A regulamentação deverá fazer constar garantias mínimas de proteção de dados genéticos, observando as melhores práticas da genética forense
§2º A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético.   
§3º Deve ser viabilizado ao titular de dados genéticos o acesso aos seus dados constantes nos bancos de perfis genéticos, bem como a todos os documentos da cadeia de custódia que gerou esse dado, de maneira que possa ser contraditado pela defesa.     
§4º O condenado pelos crimes previstos no caput deste artigo que não tiver sido submetido à identificação do perfil genético por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional deverá ser submetido ao procedimento durante o cumprimento da pena. 
	Questão CESPE: (2004 – AGU – Advogado)[footnoteRef:14]. Considere a seguinte situação hipotética. Um indivíduo praticou três crimes de latrocínio em continuidade delitiva, sendo dois deles no dia anterior ao advento da Lei n.º 8.072, de 25/7/1990 (Lei de crimes hediondos), e o outro, em 26/7/1990. Nessa situação, de acordo com a orientação do STF, por ter o indivíduo praticado a série de crimes sob o império de duas leis, aplica-se a nova disciplina penal, prescrita na Lei n.º 8.072/1990, a toda a série, ainda que mais severa. [14: Gabarito: correto. No caso há a ficção jurídica do crime continuado (vide súmula nº 711 do STF).] 
21. Art. 9º e sua inaplicabilidade
	De acordo com o artigo 9º da Lei dos Crimes Hediondos, as penas dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor são acrescidas de metade, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no artigo 224 do Código Penal. Vejamos o dispositivo:
Art. 9º - As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.
	Ocorre que a Lei nº 12.015/09, que alterou o título do Código Penal atinente aos antes denominados “crimes contra o costume”, revogou o art. 224 do CP que definia as hipóteses de violência presumida ou imprópria. Com a revogação desse dispositivo, parte do art. 9ª da Lei nº 8.072/90 perdeu a sua eficácia, pois o art. 217-A do CP, com a redação conferida pela mencionada lei que criou um tipo penal autônomo em que a presunção de violência passa a ser absoluta quando uma pessoa vulnerável praticar sexo com um adulto, passando a prever, inclusive, uma punição mais rigorosa para o infrator. 
	Com efeito, ainda que o art. 9º da Lei nº 8.072/90 não faça menção ao art. 217-A do CP, nem poderia fazê-lo posto que era inexistente à época em que aquele fora promulgado, não poderia acrescentar uma majorante que já inerente ao tipo penal do art. 217- A do CP, tendo a vulnerabilidade como elementar desse novo tipo penal.	
	Entender de modo diverso (permitir incidir a causa especial de aumento de pena) seria chancelar que um elemento relevante na fixação da pena incidisse mais de uma vez. Uma na primeira fase e outra na terceira fase da dosimetria da pena, o que violaria o princípio do non bis in idem. Também não será aplicável ao artigo 213 o aumento do artigo 9º da Lei nº 8.072/90, pois para a caracterização do crime de estupro a vítima não pode estar em nenhuma das hipóteses do antigo 224 do CP, pois, se estiver, o crime agora será o do artigo 217-A.
	Ademais, com a revogação do art. 224 do CP, o art. 9º da Lei de crimes hediondos perdeu a sua aplicabilidade, tendo em vista o art. 224 do CP, ao qual o art. 9º faz menção foi revogado. Logo, o referido artigo foi tacitamente revogado pois a Lei nº 12.015/2009 expressamente revogou o art. 224 do CP, que lhe dava complemento. Dessa forma, nos crimes patrimoniais mencionados no dispositivo não há mais causa de aumento de pena e, nos crimes sexuais, a mesma Lei n° 12.015/2009 transformou as hipóteses em crime autônomo denominado estupro de vulnerável.
	Questão CESPE: (2010 – DPE-BA – Defensor Público)[footnoteRef:15]. A causa especial de aumento de pena prevista na lei de crimes hediondos, com acréscimo de metade da pena, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, foi revogada em relação ao crime de estupro de vulnerável. [15: Gabarito: correto.] 
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