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Antropologia: ciência vastíssima que estuda o ser humano sob os mais variados enfoques. Uma pequena parte dessa ciência se destina ao direito. É a antropologia forense, focando nas questões de identidade e identificação humana. 1 Identidade: Importante se conscientizar que a identidade não é convenção, é algo real, algo que é inerente à própria coisa ou pessoa. Os nomes são convenções, mas a identidade de uma coisa é a ela inerente: em qualquer lugar que estejam, terão a mesma identidade. O que seria identificação? 2 Identificação é o conjunto de procedimentos que possibilitam conhecer a identidade de alguém ou de algo. Se é processo, obedece a determinadas técnicas. Por isso, precisamos separar a identificação do reconhecimento. Reconhecimento é um dos meios de prova. É uma prova complementar. Mas é um ato humano, leigo, comum, e, por isso, extremamente vulnerável, sujeito a erro. A identificação, como é uma técnica, não deverá falhar. 3 Ponto elementar. Abre o capítulo da antropologia. Existem quatro formas de identificação: Forma genérica: a mais geral de todas – animal, vegetal, mineral. Forma específica: vai tentar chegar na espécie daquilo que se está identificando. Forma individual: é a que normalmente se deseja alcançar no final do processo de identificar. Visa isolar a pessoa ou coisa como ente único Forma regional: consiste em identificar partes de alguma coisa (ex.: partes do corpo humano, partes de um projétil, partes de um veículo num acidente de trânsito). Todas tendem a convergir à forma individual. 4 Só conseguimos identificar algo se executarmos três fases. São elas: 1) 1º registro: consiste em colher todos os elementos que individualizam a coisa ou pessoa e guardar, registrar arquivar. Agrupa-se tudo que pode servir para identificar algo 2) 2º registro: colher novamente todos os dados individualizadores da coisa ou pessoa e guardar 3) Identificação propriamente dita: comparar os dados que se colheu no 2º registro com aqueles colhidos no 1º. Se for a mesma coisa ou pessoa, esses dados coincidirão. Na prática, as três fases são executadas por técnicos de identificação diferentes. Se a pessoa nunca fez o primeiro registro e já começou a delinquir. A polícia colhe as digitais no que deveria ser o 2º registro e depois registra novamente, invertendo a ordem. 5 Requisitos de viabilidade, de eficiência um sistema de identificação. O que é que um meio de identificação deve ter para poder conseguir levantar uma identidade. Unicidade: individualidade, variabilidade ou pluralidade. É aquele atributo de existir em apenas um único ser e variar em todos os outros. Imutabilidade: qualidade de não se modificar, não alterar. Perenidade: qualidade de resistir ao tempo. Não se confunde com imutabilidade. Praticabilidade: é o que requisito de ser simples, fácil de manipular, acessível a qualquer pessoa com o mínimo de treinamento. Ex.: DNA não tem esse requisito. Classificabilidade: possibilidade de agrupar os elementos individualizadores em classes, categorias ou grupos. Meio de identificação eficiente deve ter todos esses requisitos. 6 Divisão em duas grandes partes: a primeira dela é muito conhecida, é a chamada identificação judiciária, que também pode ser chamada de identificação policial (cuidado: essa expressão é equivalente, não se confunde com a identificação de criminoso; é assim chamada porque a polícia é um órgão extremamente importante na identificação humana; todos nós já fomos identificados pela polícia; não envolve apenas criminosos) A outra parte é chamada de identificação médico-legal: é a parte que engloba os meios de identificação através dos quais só se consegue se levantar a identidade através de meios médico-legais. O processo de identificação judiciária é mais simples, e por isso tem praticabilidade. Na identificação médico-legal é necessário ser médico. 7 É dividida em quatro partes: Identificação civil – envolve todas as pessoas indistintamente. Pode ser no âmbito doméstico, que é feita pela Polícia Civil, e no âmbito internacional, que é feita pela Polícia Federal. Identificação criminal – é aquela que vai identificar pessoas julgadas e condenadas em sentença transitada em julgado por prática de crime. Pessoas que fazem parte do rol dos culpados Identificação profissional: normalmente é exercida pelos órgãos de classe. Identifica o individuo de acordo com a sua atividade laborativa. Ex.: OB, CFM Identificação de qualidade: é aquela que identifica pessoas por meio de algum atributo que ela possa ter. É o caso do militar, do eleitor, contribuinte, trabalhador (CTPS), habilitado a dirigir veículos, etc. 8 É feita normalmente quando os meios de identificação judiciária não conseguem identificar a pessoa ou deixam dúvidas a respeito de sua identidade. Essa parte se subdivide em três: Física: de acordo com os atributos corporais, somáticos; identificação através do corpo – estatura idade, sexo Funcional: identifica o indivíduo através de funções orgânicos. Ex.: voz (cada pessoa tem uma voz cujo timbre é único), escrita (cada um de nós escreve de uma forma própria, individual). Não somente a voz e a escrita são funções que podem ser usadas, podemos usar, até no morto, a função (ex: atrofia nó pé) Psíquica: identifica a pessoa de acordo com suas funções intelectivas. Exemplo: memória. Posso adiantar que a parte física é a mais utilizada comumente. 9 Aqueles que não aplicam conhecimento médico para identificar um indivíduo. Esse quadro permite fazer um passeio através da história da identificação humana. Nome: é o meio mais antigo de identificação humana. Era um meio extremante limitado, vulnerável. E ai os estudioso da época desenvolveram meios mais seguros de identificação (sobretudo para evitar a ocultação da identidade) Esses meios são denominados Processos antigos de identificação: *Ferrete: ferro em brasa. Nasceu na França. Eram basicamente três símbolos colocados no corpo do criminoso. Flor de lis era para identificar vagabundos. O V era a abreviatura para Vilão, é o criminoso primário. GAL (vem de gallerian), e era aplicado sobre os criminosos reincidentes. *Técnica de Icard: a técnica nada mais é do que identificar criminoso através de injeção de parafina, que causava protuberâncias na perna. *Mutilações (Hamurabi): até hoje alguns países utilizam esse método. De acordo com o crime o criminoso tinha alguma parte do corpo amputada. Sistema Dermográfico de Bentham: pela palavra já podemos concluir algo – demo é relativo à pela e grafos é relativo à grafia, escrita. Nada mais é do que tatuar a pele da pessoa para identificá-la. Apesar de ser um processo invasivo, não podemos deixar de reconhecer que foi um grande avanço. Essa técnica não obteve sucesso e terminou sendo uma exclusividade dos nazistas para identificação dos judeus nos campos de concentração. Assinalamento sucinto: usamos no dia-a-dia sem perceber. Assinalar é dar sinal, chamar atenção. Sucinto é resumido. Consiste em chamar atenção, mostrar traços fisionômicos do indivíduo. É apenas o assinalamento. Ex.: depoimento de testemunha, de vítima, socialmente. Retrato falado: desenho que se faz das características fisionômicas relatado por testemunhas de boa memória. Muito utilizado. Fotografia: os antropólogos achavam que a fotografia resolveria todos os problemas de identificação humana. Mas não. Primeiro porque as pessoas mudam, espontânea e intencionalmente. Mas, apesar disso, a fotografia continua constando na carteira de identidade. É um meio subsidiário de identificação. Fotografia sinalética: se refere a algo que é feito para arquivamento. Foi desenvolvido por Bertillon. Não é utilizado para a identificação civil, mas é feita para a identificação criminal obedecendo três requisitos técnicos: 1) foto tomada de frente e de perfil direito; 2) feita na distância focal (distânciaque melhor focaliza); 3) a foto vai ser revelada numa redução de 1 para 7 (escala de dimensão) Sistema antropométrico de Bertillon (bertilhonagem, bertilonagem): antropos – ser humano; métrico – medida. Consistia de três partes: 1) 11medidas do corpo (ele conseguiu demonstrar que não havia duas pessoas diferentes com as mesmas medidas do corpo); ex.: diâmetro antero-posterior do crânio, cumprimento do pavilhão auditivo; 2) assinalamento sucinto; 3) sinal particular (cicatriz, defeito de fala). Não obteve sucesso, pois era muito complicado. Não tem classificabilidade, não tinha imutabilidade. Tem apenas um valor histórico. Grande mérito: foi o primeiro sistema de identificação humana com base científica. Nenhum dos demais tem método científico. Sistema Dactiloscópico de Vucetich (Datiloscopia): o melhor sistema de identificação humana que existe. Tem todos os cinco requisitos. Seria perfeito se não sujasse o dedo. O sistema de Vulcetich identifica inclusive gêmeos univitelinos, que tem o mesmo DNA. O Brasil adota esse sistema há mais de 100 anos. Apesar de não ser médico-legal, tem base científica: tem imutabilidade, etc. Outros meios: há uma infinidade de meios de identificação judiciária. Tem uns que são ridículos. 10 11 Desenho digital: é isso que o TRE está fazendo e as Forças Armadas estão fazendo. Originou-se da datiloscopia. É menos preciso do que a datiloscopia. Se o leitor óptico for muito bom e a memória do computador também, pode ser comparado com o método datiloscópico. Desenho palmar: na ponta da mão também temos um desenho. Íris: tem uma cor predominante, mas tem vários detalhes, nuances, cores diferentes. Há mais de 200 matizes numa íris. Isso confere a ela unicidade. Mas é mais complicado do que a datiloscopia. Sistema Poróscopico de Locard: muito utilizado para auxiliar a datiloscopia. Examina a disposição dos poros de determinado dedo. O criminoso nem sempre deixa a impressão digital inteira. Sistema Flebográfico de Tamassia (desenho das veias no dorso das mãos): esse desenho não muda Sisitema Flebográfico de Ameuille: porção anterior da região temporal 12 Exceção: Rússia não adota. Alguns países só adotam para identificação criminal Acessível: muito barato e simples. 13