Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 1 Gestão e Legislação Ambiental GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 2 Gestão e Legislação Ambiental 1. Fundamentos Preliminares do Direito Ambiental Conceito de Meio Ambiente CRFB/88, Art. 225 caput: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. O Plano Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é uma ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo, e conta com os seguintes conceitos, objetivos e instrumentos: o Lei 6.938/81, Art. 3º: Para os fins previstos nesta lei, entende-se por: I – meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. o Lei 6.938/81, Art. 2º, caput: A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Institutos jurídicos de proteção e segurança: GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 3 Exercício do poder de polícia preventivo (licenciamento) e repressivo (responsabilidade civil); Intervenção do Estado na propriedade privada. Fundamentos: A Política Nacional do Meio Ambiente se fundamenta jusfilosoficamente no antropocentrismo alargado e tem como fontes: Antropocentrismo clássico (positivado na CRFB/88), moderado e influenciado pelo biocentrismo e pela ecologia profunda; Sociedade civil internacional: Encíclica do Papa Francisco, junho 2015, que declara: Não se pode salvar a criatura (os homens) do pecado e da miséria sem salvar também a criação (natureza). Direito comparado: Constituição do Equador 2008: Natureza (Planeta Terra) como sujeito de direitos; ONU: Princípio da Cooperação entre os Povos; Tratados internacionais assinados pelo Brasil, a saber: 1) Declaração de Estocolmo, 1972 Estabelecimento de valor de normas costumeiras e princípios gerais internacionais sobre: Consequências econômicas de medidas ambientais; Direito de cada Estado explorar responsavelmente seus próprios recursos; Indenização das vítimas de contaminação e outros danos; Dever de cooperação entre os Estados. 2) Conferências de Helsinque, 1975, e de Munique, 1984 Reunião entre países capitalistas e socialistas com a finalidade comum de proteção do meio ambiente. 3) Declaração de Haia e Paris, 1989 Lema: “Nosso país é o planeta” – responsabilidade internacional por danos ambientais. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 4 4) Agenda 21 e Desenvolvimento Sustentável Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU em 1984; Apresentada oficialmente na ECO-92 e rediscutida na Rio +20 – Economia Verde, Carta da Terra; Sustentabilidade como administração racional dos sistemas naturais para manter e melhorar a qualidade de vida às gerações futuras. 5) Convenção-quadro da ONU para mudança do clima, Protocolo de Kyoto e Acordo de Paris (2016) Primeiro documento assinado na ECO-92, no Rio; O Protocolo de Kyoto (2005) é autônomo em relação à Convenção-quadro da ECO-92 e prevê: o Implementação Conjunta; o Comércio Internacional de Emissões (CIE); o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Forma subsidiária para a redução de emissão de gases efeito estufa – negociação (compra e venda) de cotas de emissão. O país que polui abaixo da meta máxima pode “vender” essa diferença para outro país que possa / queira / precise poluir mais. Trata-se de uma crítica ao “crédito de carbono”. Auditoria ISO 14000 Fundamentos gerais: Proteção do meio ambiente e prevenção da poluição; Estabelecimento da criação, manutenção e melhoria do sistema de gestão ambiental; Transparência para a sociedade; Definição de objetivos, políticas e metas ambientais; Fonte e normas: http://www.iso.org/iso/iso_14001_-_key_benefits.pdf GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 5 Aspectos e dificuldades: No Brasil, a região sudeste e os setores automobilísticos, químicos, de petróleo e de prestação de serviço são os que mais se desenvolvem; As pequenas empresas enfrentam dificuldades diante do alto custo de implantação do sistema de gestão ambiental. Para saber mais sobre a aplicação da ISO no Brasil, acesse: http://www.scielo.br/pdf/gp/v15n1/a02v15n1. 2. Fundamentos Preliminares do Direito Ambiental Impostos Extrafiscais Regra: Fiscalidade – Arrecadação para orçamento e financiamento de políticas públicas; Extrafiscalidade: Tributos verdes, ecológicos ou ecotaxas – Atribuição e função regulatória ao tributo, a fim de que o governo interfira nas atividades dos indivíduos, ora desestimulando certas ações, para o interesse da coletividade; Fundamento da Extrafiscalidade ambiental: Princípio da Isonomia, redução de desigualdades e desenvolvimento econômico e Princípio 16 da Convenção do Rio, o qual preceitua: Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais; Constitui-se de isenções, reduções, suspensões ou mesmo de tributação progressiva como punição pela atividade poluidora; Crítica: a sobretaxa de atividades nocivas, ainda que apenas na parte em que extrapola o tolerado para danos e poluição, pode inviabilizar o desenvolvimento da atividade econômica; Sugestão: dar benefícios fiscais (isenções, taxas zero, subsídios) progressivamente maiores a quem atingir metas proporcionalmente mais GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 6 sustentáveis. É a ideia de aumentar a quantidade de prêmios, que estimulem a atividade econômica sustentável, e diminuir a necessidade de punição, que a reduza ou inviabilize;1 Outra forma de extrafiscalidade: compensação econômica; Exemplo: isenção de ITR para Áreas de Preservação Permanente (APP) ou para Reserva Legal Florestal (RLF); Fundamento: impossibilidade ou possibilidade reduzida de utilização econômica dessas áreas e não oneração excessiva. Repartição de Competências | Conceitos Básicos Repartição de funções – Legislativo, Executivo e Judiciário. Legislativo – Função de criação de normas: inovação no ordenamento jurídico. Executivo – Execução de políticas públicas. Judiciário – Controle de constitucionalidade e de legalidade. Presidencialismo brasileiro – Composto de Chefe de Estado e Chefe de Governo. Democracia indireta – Estruturada com eleições e votos para Executivo e Legislativo. Democracia direta – Instrumentos: plebiscito, referendo e ação popular. Federalismo cooperativo – Há relação de coordenação entre os entes (implementação de políticas públicas com divisão de tarefas entre os entes federados). Competêncialegislativa concorrente (Art. 24 – Normas gerais estabelecidas pela União, e normas suplementares pelos Estados) versus competência privativa (Art. 22 – Delegação por LC). Competência material exclusiva (Art. 21) versus competência comum (Art. 23 – Cooperação mediante LC). 1 NABAIS, J. C. Tributos com Fins Ambientais. In: Revista de finanças públicas e direito fiscal, Coimbra, a.1, n. 4, Inverno, 2008, p.107-144; GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 7 Competências na Constituição: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; IV - águas, energia, X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia (recursos minerais são bens da União. Art. 20, IX); XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza (atividade monopolizada pela União. Art. 177, V da CRFB). Em regra, a competência privativa para legislar não significa que só à União caiba a fiscalização. Atividades Nucleares e Competência da União Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1575, informativo 581, relator Ministro Joaquim Barbosa, 7.4.2010. Na competência para legislar, inclui-se a de fiscalizar atividades nucleares (especialidade), observando-se que: Toda a atividade nuclear desenvolvida no país, portanto, está exclusivamente centralizada na União, com exceção dos radioisótopos, cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob o regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 da CRFB (Art. 177, V, com a redação dada pela EC 49/2006). Competência Legislativa Exclusiva | Estados Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 8 § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. (Competência legislativa remanescente ou reservada.) Exemplo: transporte intermunicipal. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. (Meio ambiente artificial.) Competência Legislativa Exclusiva | Municípios Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; (princípio da predominância do interesse – não exclusividade do interesse) II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; (meio ambiente artificial); IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Por meio do Informativo 776 do Supremo Tribunal Federal (STF), tendo como relator o Ministro Luiz Fux, em 5.3.2015, Recurso Extraordinário-586224, o Plenário dá provimento para declarar que não pode o município legislar sobre meio ambiente e editar lei com conteúdo diverso do que disposto em legislação estadual. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 9 Preponderância dos interesses. Proporcionalidade - Condomínio legislativo Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação. - Regulamentação do acesso a fontes de abastecimento de água É possível que decreto e portaria estaduais disponham sobre a obrigatoriedade de conexão do usuário à rede pública de água (...). Os estados membros da Federação possuem domínio de águas subterrâneas (Art. 26, I, da CRFB), competência para legislar sobre a defesa dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente (Art. 24, VI, da CRFB) e poder de polícia para precaver e prevenir danos ao meio ambiente (Art. 23, VI e XI, da CRFB). O inciso II do art. 12 da Lei 9.433/1997 condiciona a extração de água do subterrâneo à respectiva outorga, o que se justifica pela notória escassez do bem, considerado como recurso limitado, de domínio público e de expressivo valor econômico. Nesse contexto, apesar de o art. 45 da Lei 11.445/2007 admitir soluções individuais de abastecimento de água, a interpretação sistemática do dispositivo não afasta o poder normativo e de polícia dos estados no que diz respeito ao acesso às fontes de abastecimento de água e à determinação de conexão obrigatória à rede pública. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 10 Art. 24 Competência concorrente § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar- se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Competência suplementar ou complementar.) Exemplo: Lei 6.938/81 – Do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, assim estruturado: §1º - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo Conama. § 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. (Art. 30 CRFB.) CRFB 88, art. 24 - § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. (Competência concorrente supletiva ou plena.) CRFB 88, art. 24 -§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Segundo o Agravo de instrumento (AI) 0149742-0/040/RJ, do STF, compete aos Estados estabelecer índices de poluição toleráveis. O Conama fixa índices GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 11 máximos suportáveis, um mínimo a ser exigido. Os Estados podem exigir em seus territórios limites maiores. DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA: - Crítica à posição do Poder Executivo Federal e jurisprudência dominante (STF) em considerar supletiva a competência administrativa federal para fins de fiscalização ambiental em licenciamentos ambientais realizados por órgãos competentes estaduais. Há prevalência das normasfederais sobre as estaduais e locais, o que contraria o federalismo de cooperação brasileiro. - Hipóteses doutrinárias e jurisprudenciais que legitimariam a fiscalização federal supletiva: i) inexistência do órgão estadual; ii) comprovação de inapetência da agência estadual para a tarefa que lhe fora atribuída em caso de a) omissão do órgão ambiental e b) inépcia do órgão ambiental estadual. - Decorrências negativas da competência supletiva: maior centralização nas mãos da União Federal, um contrassenso democrático. Desperdício de recursos públicos e privados. - Caso concreto: posição majoritária do STF – Amianto: amplo uso na indústria; alto prejuízo à saúde humana. 1) Evolução do regime jurídico do amianto no Brasil. Regulamentação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) – Resolução nº 7/87 – Objetivo de estudar problemas ambientais do amianto, com imposição de penalidades pecuniárias aos infratores. Essa Resolução impõe mecanismos de identificação do produto – norma de baixa eficácia. Secretaria Nacional do Trabalho – Portaria nº 1/91 – Integração à Convenção 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dispõe sobre GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 12 medidas de segurança, sendo caracterizada como norma “subalterna” por não produzir efeitos concretos necessários para sanar o problema. Lei 9.055/95 – Utilização controlada do amianto; implantação de fiscalização. Diante dessas normas, a União esgota o campo para que qualquer legislação estadual ou municipal se limite a apenas questões “cosméticas”. Posicionamento do STF: Declaração de inconstitucionalidade de leis estaduais nos seguintes pontos: Mato Grosso do Sul – ADI contra a lei 2.210/2001 – O STF afirma que já existe lei federal com princípios gerais para produção e comercialização de amianto. A legislação impugnada foge, e muito, do que corresponde à legislação suplementar, da qual se espera que preencha espaços vazios ou lacunas deixados pela legislação federal, não que venha a dispor em diametral objeção a esta. São Paulo – ADI contra a lei 10.813/2001 – O STF julga com mesmo fundamento e resultado da ADI contra a lei de Mato Grosso do Sul. Competência concorrente dos entes federados. Existência de norma federal em vigor a regulamentar o tema. Consequência. Vício formal da lei paulista, por ser apenas de natureza supletiva a competência estadual para editar normas gerais sobre a matéria. Proteção e defesa da saúde pública e meio ambiente. Questão de interesse nacional. Legitimidade da regulamentação geral fixada no âmbito federal. Ausência de justificativa para tratamento particular e diferenciado pelo Estado de São Paulo. O autor pondera que há, nesse caso, outros assuntos de competência exclusiva envolvidos, como comercial, trabalhista e de mineração. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 13 SOLUÇÃO DOUTRINÁRIA: Princípio da subsidiariedade entre entes federados para exercício de competência comum – Solução para reduzir centralização federal. Sugestão: a União só atuar caso sua ação seja mais eficaz do que uma ação desenvolvida em nível nacional, regional ou local, exceto nos casos de competência exclusiva – uma descentralização capaz de executar com mais eficiência certas medidas. Eficácia: dois critérios: i) o ente maior somente atuaria diante de incapacidade do ente menor; ii) cooperação, ainda que parcial: o ente maior deve atuar junto ao menor mesmo se o menor tiver apenas dificuldades, mas não total incapacidade. Fonte: ANTUNES, P. B. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: 2007. Princípio da subsidiariedade entre entes federados para exercício de competência comum – Solução para reduzir a centralização federal. Casos: cogestão mediante convênio; Parques Nacionais e áreas especiais que, embora fisicamente delimitadas a entes menores, têm sua administração acometida a entes maiores; mosaico (Lei 9.985/2000) com conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, com gestão integrada entre os três entes. Licenciamento ambiental – STJ: casos em que, mesmo havendo competência legislativa estadual para licenciamento, a jurisprudência considera, diante da grandeza do impacto ambiental, a necessidade de atuação conjunta dos três entes (REsp 763.377-RJ); há inépcia do Poder Estadual (REsp 818.666-PR). Fonte: ANTUNES, P. B. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: 2007. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 14 PODER DE POLÍCIA: Conceito: é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para restringir o uso da propriedade, das liberdades e atividades dos particulares, individualmente considerados, em benefício da coletividade. Extensão: preservação da saúde pública, segurança das construções e transportes, proteção das águas, ambiental, trânsito, economia popular. Limites: direitos e garantias previstos na CRFB/88. Atributos: autoexecutoriedade (não precisa de autorização judiciária) e coercibilidade (justifica o uso de força policial, se preciso). Meios de atuação: ordens, proibições autorizadas em leis. Alvará, licença, autorização. Sanções: executáveis independentemente de autorização judicial; precedidas de ampla defesa e contraditório; aplicadas proporcionalmente à infração cometida. Crítica ao conceito meramente descritivo, e não como fonte de competência. Competência municipal – Definida constitucional e legislativamente LC a que se refere o Art. 23 da CRFB/88, ou quando tiver bem ou interesse próprio afetado. Crítica à imunidade tributária entre entes federados, segundo o fundamento de que o ente tem poder de polícia sobre os seus próprios bens. Na Alemanha, a substituição das imunidades se deu com o fenômeno da sujeição policial de órgãos estatais, de forma que nenhuma repartição está imune ao cumprimento das leis. Isso significa que os entes devem respeitar as leis do outro sob pena de terem de entrar em acordo e/ou se submeter à sanção. Fonte: ANTUNES, P. B. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: 2007. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 15 3. Gestão Pública do Patrimônio Ambiental Regime Geral e Prevenção Princípios Princípio: é o ponto de partida, a proposição inicial da qual parte um raciocínio. 1 - Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado como Direito Fundamental da Pessoa Humana Estados têm o dever de buscar diretrizes destinadas a assegurar o acesso aos meios de sobrevivência a todos os indivíduos e todos os povos. Nesse propósito, têm os Estados a obrigação de evitar riscos ambientais sérios à vida. 2 - Princípio do Controle do Poluidor pelo Poder Público Exercício do Poder de Polícia - Caráter Educativo e Repressivo. CRFB, Art. 225, §1º, V: É incumbência do Poder Público controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. 3 - Princípio da Consideração da Variável Ambiental no Processo Decisório de Políticas de Desenvolvimento Estudo de Impacto Ambiental – EIA Declaração Internacional do Rio, Princípio 17: Deverá ser empreendida a avaliação do impacto ambiental, enquanto instrumento nacional, de certas atividades susceptíveis de terem impacto significativo adverso no ambiente e que estejam sujeitas a uma decisão por parte de uma autoridade nacional competente. GESTÃO E LEGISLAÇÃOAMBIENTAL 16 4 - Princípio da Participação Comunitária Audiências Públicas para fins de EIA. Cidadãos como participantes (auxiliares) e gestores (organismos de controle) da política ambiental. CRFB, Art. 225, caput: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. 5 - Princípio do Poluidor-pagador ou da Responsabilidade Vocação redistributiva do Direito ambiental: Teoria econômica de que os custos sociais externos negativos que acompanham o processo produtivo devem ser internalizados, levados em conta para fins de elaboração da produção e, consequentemente, assumidos. Trata-se de instrumento jurídico de correção da máxima econômica capitalista: privatização dos custos e socialização das perdas. 6 - Princípio da Prevenção Prevenir é evitar o prejuízo decorrente de dano potencialmente possível de acontecer – por parte das gerações presentes. 7 - Princípio da Precaução, ECO 92 Precaver-se é evitar o prejuízo decorrente de riscos e danos desconhecidos: a ausência absoluta de certeza científica deve militar em favor do ambiente – para as gerações futuras. Caso concreto: STF, ADPF 101 / DF – Constitucionalidade de atos normativos federais proibitivos da importação de pneus usados. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 17 - Alegação das empresas importadoras: autorização para importação de remoldados provenientes de Estados integrantes do Mercosul limitados ao produto final (pneu), e não às carcaças: determinação do Tribunal ad hoc, à qual teve de se submeter o Brasil em decorrência dos acordos firmados pelo bloco econômico: ausência de tratamento discriminatório nas relações comerciais firmadas pelo Brasil. - Alegação do AGU: ponderação de princípios constitucionais - Demonstração de que a importação de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado (Art. 170, incisos I e VI e seu parágrafo único, bem como Arts. 196 e 225 da Constituição do Brasil). - Demonstração probatória de que: a) os elementos que compõem o pneus, dando-lhe durabilidade, são responsáveis pela demora na sua decomposição quando descartados em aterros; b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substâncias tóxicas e cancerígenas no ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar à sua forma original e retornam à superfície, ocupando espaços que são escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservíveis e descartados a céu aberto são criadouros de insetos e outros transmissores de doenças; e) o alto índice calorífico dos pneus, interessante para as indústrias cimenteiras, quando queimados a céu aberto, tornam-se focos de incêndio difíceis de extinguir, podendo durar dias, meses e até anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo suficiente para abastecer as fábricas de remoldagem de pneus, do que decorre não faltar matéria-prima a impedir a atividade econômica. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 18 - Reciclagem de pneus usados: ausência de eliminação total de seus efeitos nocivos à saúde e ao meio ambiente equilibrado; afronta os princípios constitucionais da saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado. - Crescente aumento da frota de veículos no mundo, acarretando também o aumento de pneus novos e, consequentemente, a necessidade de sua substituição em decorrência do seu desgaste. Necessidade de destinação ecologicamente correta dos pneus usados para submissão dos procedimentos às normas constitucionais e legais vigentes. Ausência de eliminação total dos efeitos nocivos da destinação dos pneus usados, com malefícios ao meio ambiente: demonstração pelos dados. - Princípios constitucionais (Art. 225): a) Da Equidade e Responsabilidade Intergeracional - Meio ambiente ecologicamente equilibrado: preservação para a geração atual e para as gerações futuras; - Desenvolvimento sustentável: crescimento econômico com garantia paralela e superiormente respeitada da saúde da população, cujos direitos devem ser observados em face das necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para garantia e respeito às gerações futuras. Atendimento ao princípio da precaução, acolhido constitucionalmente, harmonizado com os demais princípios da ordem social e econômica. b) Do Desenvolvimento Sustentável - Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar livre, inexorável com a falta de utilização dos pneus inservíveis, fomentado pela importação, é fator de disseminação de doenças tropicais. É legítima e razoável a atuação estatal preventiva, prudente e precavida, na adoção de políticas públicas que evitem causas do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 19 não patrimonial, cuja tutela se impõe de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de importação de pneus usados (procedimento idêntico ao adotado pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram). 8 - Princípio da Função Socioambiental da Propriedade O Exercício da propriedade deve atender a fins sociais. Há possibilidade de intervenção estatal, mediante imposição de comportamentos positivos, para que a propriedade se adeque à preservação do meio ambiente. 9 - Princípio do Direito ao Desenvolvimento Sustentável O direito do ser humano de desenvolver-se e realizar suas potencialidades. Estabelece a garantia de qualidade de vida para as gerações futuras, bem como a compatibilização de atividades industriais com proteção ambiental (zoneamento urbano para fins industriais), não se podendo produzir o que não se consome. 10 - Princípio da cooperação Instrumentos: CRFB/88, Art. 61, §2º; Art. 27, §4º – Lei de Iniciativa Popular. Art. 29, XII e XIII – Cooperação entre associações representativas no planejamento municipal e lei de iniciativa popular. 11 - Princípio da Cooperação entre os Povos A CRFB/88, no Art. 4º, inciso IX, estabelece como princípio nas suas relações internacionais a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. É transfonteiriça e global a dimensão das atividades degradadoras exercidas em âmbito nacional. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 20 Não se trata de renúncia à soberania, mas de não causar danos a outros estados. Espaços Territorialmente Protegidos Unidades de conservação – Brasil http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/cadastro-nacional-de-ucs Unidades de Conservação – Lei 9.985/2000 O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é o órgão executor federal do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Snuc (Lei 11.516/2007). OBS: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) passa a ter competência supletiva. Os Estados e Municípios também podem criar as suas unidades de conservação. Para isso, os entes devem fazer estudos técnicos e consultas à população. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 21 Fundamento: Convenção sobre Diversidade Biológica – 10% da área de cada bioma brasileiro deverá ser protegida até 2010. Origem: demanda da sociedade para proteger áreas de importância biológica, cultural e beleza cênica ou para assegurar o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais. Leido Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Snuc (Lei 9.985/2000) – Art. 22. Decreto 4.340/2002 – Art. 2º. Instrução Normativa (IN) do ICMBio nº 05, de 15 de maio de 2008, dispõe sobre o procedimento administrativo para a realização de estudos técnicos e consulta pública para a criação de unidade de conservação federal. IN ICMBio nº 03, de 18 de setembro de 2007, disciplina as diretrizes, normas e procedimentos para a criação de unidade de conservação federal das categorias Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Outros Espaços Territorialmente Protegidos: Áreas de Preservação Permanente – Lei 12.651/2012. Reserva Legal – Lei 12.651/2012. Fonte: ICMBio e MMA. Unidades de Conservação – Lei 9.985/2000. Lei do Snuc (Lei 9.985/2000) – Art. 22. Decreto 4.340/2002 – Art. 2º. Tipos de Unidades de Conservação Parque nacional – Área com características naturais destinadas a pesquisas científicas e educação ambiental. Exemplo: Parque Nacional do Iguaçu (PR). GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 22 Reserva biológica – Unidade de conservação destinada a abrigo de espécies da fauna e da flora com importante significado científico. Exemplo: Reserva de Poço das Antas (RJ), a primeira do Brasil. Reserva ecológica – Área de conservação permanente, que objetiva a proteção e a manutenção de ecossistemas. Exemplo: Parque Nacional Lençóis Maranhenses (MA). Estação ecológica – Espaço destinado à realização de pesquisas básicas aplicadas à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação ambiental. Exemplo: Estação Ecológica do Bananal (SP). Áreas de proteção ambiental – Unidade de conservação destinada ao desenvolvimento sustentável, sendo, em algumas áreas, permitido o desenvolvimento de atividades econômicas, desde que haja a proteção da fauna, da flora e da qualidade de vida da população local. Exemplo: APA Itacaré (BA). Área de relevante interesse ecológico – Área que abriga espécies raras da fauna e da flora e que possui grande biodiversidade. Exemplo: Sítio Curió (CE). Floresta nacional – Unidade de conservação estabelecida para garantir a proteção dos recursos naturais, sítios arqueológicos, desenvolvimento de pesquisas científicas, lazer, turismo e educação ambiental. Exemplo: Floresta Nacional do Tapajós (PA). Reserva extrativista – Espaço utilizado por populações locais que realizam o extrativismo vegetal e/ou mineral. Essa unidade de conservação objetiva a realização da atividade econômica de forma sustentável. Exemplo: Prainha do Canto Verde (CE). Refúgio de vida silvestre – Área destinada à proteção dos ambientes naturais para a reprodução de espécies da flora local e da fauna migratória. Ex. Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palma (PR). Reserva da fauna – Área destinada ao estudo sobre o manejo econômico e sustentável das espécies nativas. Exemplo: Ilha dos Lobos (RS). Reserva de desenvolvimento sustentável – Área que visa à preservação da natureza de modo que a qualidade de vida das populações tradicionais seja assegurada. Exemplo: Ponta do Tubarão (RN). GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 23 Reserva particular do patrimônio natural – Área privada que tem por objetivo conservar a diversidade biológica. Exemplo: Stoessel de Britto (RN) – a responsável que herdou a fazenda de seu pai tem por objetivo preservar a diversidade e receber cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo. Outros espaços territorialmente protegidos – Instrumentos de Gestão: Com a criação da Lei do Snuc, foram disponibilizados aos órgãos gestores seis instrumentos de gestão territorial: Corredores ecológicos; Mosaicos; Reserva da biosfera; Sítios do patrimônio natural; Sítios Ramsar; Plano de manejo, o principal instrumento e relação à gestão de Unidades de Conservação. Corredores ecológicos - Visam mitigar os efeitos da fragmentação dos ecossistemas promovendo a ligação entre diferentes áreas, com o objetivo de proporcionar o deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal. - São instituídos com base em informações como estudos sobre os deslocamentos de espécies, sua área de vida (área necessária para o suprimento de suas necessidades vitais e reprodutivas) e a distribuição de suas populações. - Visam estabelecer regras de utilização dessas áreas, bem como possibilitar a manutenção do fluxo de espécies entre fragmentos naturais e, com isso, a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 24 - São uma estratégia para amenizar os impactos das atividades humanas sob o meio ambiente e uma busca ao ordenamento da ocupação humana para a manutenção das funções ecológicas no mesmo território. Exemplo: Serras da Capivara e das Confusões (PI); Caatinga (RN). Mosaicos - Visam à interação entre a população local, o governo local e os órgãos gestores de diferentes esferas de atuação para promover ações de proteção das áreas naturais. - Têm por objetivo compatibilizar, integrar e otimizar atividades desenvolvidas nas unidades de conservação (UCs) que o compõem, tendo em vista, especialmente: Os usos na fronteira entre as unidades; o acesso às unidades; a fiscalização; o monitoramento e avaliação dos planos de manejo; A pesquisa científica e a alocação de recursos advindos da compensação referente ao licenciamento ambiental de empreendimentos com significativo impacto ambiental. Ex: Serras da Capivara e das Confusões (PI), Litoral de São Paulo e Paraná, Serra da Mantiqueira, APA Mico-Leão-Dourado, Foz do Rio Doce, Serra Carioca. Reservas da biosfera (RBs) - São um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais. São reconhecidas pelo Programa O Homem e a Biosfera (MaB, do inglês The Man and the Biosphere Programme), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 25 - Devem ser locais de excelência para trabalhos de pesquisa científica, experimentação e demonstração de enfoques para conservação e desenvolvimento sustentável na escala regional. Cada RB deve ser constituída por, no mínimo, 3 zonas: Uma ou mais áreas-núcleo, destinada(s) à proteção integral da natureza – pode(m) ser integrada(s) por UCs já criadas; Uma ou mais zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para a(s) área(s)-núcleo; Uma ou mais zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis. Fonte: MMA.gov.br GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 26 Sítios do patrimônio natural Ao assinar a Convenção do Patrimônio Mundial, o Brasil inscreveu 7 áreas de Valor Universal Excepcional (VUE; do inglês Outstanding Universal Value – OUV), que são elementos naturais e/ou culturais com base em critérios de relevância para a história da terra ou da cultura da humanidade, o que justifica a inscrição do bem na Lista do Patrimônio Mundial. Para ser considerado de Valor Universal Excepcional, um bem deve também cumprir as condições de integridade e/ou autenticidade, além de ter um sistema adequado de proteção e gestão para garantir sua salvaguarda. Sítios Ramsar O Brasil incluiu 12 zonas úmidas à Convenção de Ramsar, com o objetivo de obter apoio para o desenvolvimento de pesquisas, o acesso a fundosinternacionais para o financiamento de projetos e a criação de um cenário favorável à cooperação internacional. Plano de manejo - Trata-se de um documento elaborado a partir de diagnósticos do meio físico, biológico e social. Estabelece normas, restrições para o uso, ações a serem desenvolvidas e manejo dos recursos naturais da UC, seu entorno e, quando for o caso, os corredores ecológicos a ela associados, podendo também incluir a implantação de estruturas físicas dentro da UC, visando minimizar os impactos negativos sobre a UC, garantir a manutenção dos processos ecológicos e prevenir a simplificação dos sistemas naturais. - Após a criação de uma UC, o plano de manejo deve ser elaborado em um prazo máximo de cinco anos. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 27 - Uma das ferramentas mais importantes do plano de manejo é o zoneamento da UC, que a organiza espacialmente em zonas sob diferentes graus de proteção e regras de uso. - O plano de manejo também inclui medidas para promover a integração da UC à vida econômica e social das comunidades vizinhas, o que é essencial para a implementação da UC com mais eficiência. É também por meio desse documento que as regras para visitação são elaboradas. Fonte: www.mma.gov.br Tipos de Zoneamento Ambiental Lei 6.938/81, Art. 9º, II: o zoneamento ambiental, também chamado de zoneamento ecológico-econômico (ZEE), é obrigatório para a implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas. Com base nele, atividades incompatíveis com os padrões de proteção ambiental estabelecidos podem ser proibidas ou realocadas, caso não sejam realizadas medidas mitigadoras dos impactos ambientais delas decorrentes. Deve-se realizá-lo em níveis nacional, regional e municipal. TIPOS: Zoneamento socioeconômico-ecológico (ZSEE) – Utilizado nos estados do Mato Grosso e Rondônia para considerar também a dimensão social; Zoneamento agroecológico (ZAE) – Estabelece critérios para ocupação espacial das atividades produtivas e concessão de crédito rural; Zoneamento agrícola de risco climático – Objetiva reduzir riscos climáticos, identificando a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares; GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 28 Zoneamento industrial – Lei 6.803/80 – Identifica zonas para instalação de indústrias em áreas críticas de poluição; Zoneamento urbano – Divide a cidade em áreas conforme o uso e a ocupação do solo para fins de loteamento e edificações. Serve de base para o Plano Diretor; Etnozoneamento – Com base na Política Nacional de Gestão Territorial de Terras Indígenas (PNGATI), realiza o planejamento participativo e a categorização de áreas de relevância ambiental e produtiva para povos indígenas, tendo como critério o etnomapeamento. Padrões de Qualidade Ambiental São parâmetros fixados por resoluções do Conama para regular o lançamento/a emissão de poluentes visando assegurar a saúde humana e a qualidade do ambiente, vedando a degradação, a poluição e o dano. Controle de lançamento de efluentes: são subclassificações que definem a quantidade/porcentagem de substâncias, determinando limites para ser objeto de consumo humano. Padrões da água: Doce (salinidade igual ou inferior a 0,5%); Salobra (salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%); Salina (salinidade igual ou superior a 30%). Padrões do ar: Res. Conama nº5/89 – Institui o Programa Nacional do Ar (Pronar). Limitar (máximo e mínimos de) emissões por tipologia de fontes e poluentes prioritários, reservando o uso dos padrões de qualidade do ar como ação complementar de controle. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 29 Padrões de qualidade para ruídos Res. Conama nº1/90 – Considera prejudicial à saúde humana a emissão de ruídos em níveis superiores aos indicados pela norma NBR10.152. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e o Ministério Trabalho são competentes para disciplinar a emissão de ruídos de automotores. 4. Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA / RIMA) Previsto na Lei 6.938/1981, Art.9º, IV – São instrumentos da PNMA: IV – O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. Definido na Res. 237/97 Conama, Art.1º, I – Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicadas ao caso. CRFB/88, Art. 225, §1º: é poder-dever do Poder Público: IV – exigir, na forma da lei para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará publicidade. - A CRFB 88, portanto: Exige participação da sociedade civil e de especialistas no assunto tratado, o que constitui significativa expressão do princípio da prevenção. 1) EIA (também chamado EPIA | Estudo Prévio de Impacto Ambiental): veicula uma linguagem técnica, é dirigido para a Administração Pública e observa a publicidade. Res. Conama 01/86, Art.5º. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 30 Deve ser exigido e aprovado pelo ente ambiental que detenha competência para realizar licenciamento ambiental. Princípios do EIA: Deve considerar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com hipótese de não execução do projeto. Crítica: impossibilidade de prever todas as alternativas tecnológicas; Deve compreender impactos ambientais e suas alternativas, como impactos diretos e indiretos, positivos e negativos, temporários e permanentes, grau de reversibilidade, propriedades cumulativas e sinérgicas; Deve compreender medidas de mitigação dos impactos negativos, como equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, com eficiência de cada uma. Há 4 etapas de responsabilidade do empreendedor e fiscalizadas pelos órgãos ambientais competentes. São elas: 1) Descrição detalhada da implantação e operação do empreendimento, com destaque para as atividades que possam causar alterações ambientais. 2) Diagnóstico das condições ambientais, sociais, culturais e econômicas encontradas na região e que poderão ser atingidas pelo empreendimento. 3) Avaliação das possíveis alterações que deverão ocorrer no ambiente durante a implantação e operação do empreendimento. Essas alterações também são chamadas de impactos ambientais. 4) A partir da identificação desses impactos ambientais, são propostas ações, na forma de programas e medidas, para amenizar as alterações negativas e aumentar o efeito dos benefícios decorrentes do empreendimento. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 31 2) RIMA: Deve descrever e conter - Res. Conama 01/86, Art. 9º, §ún.: i – objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com políticas setoriais, planos e programas governamentais; ii – descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais; iii – síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental da área de influência do projeto; iv – descrição dos prováveis impactos ambientais e os métodos utilizados para identificá-los; v – caracterização da qualidade futura do ambiente da área de influência, comparandoas diversas alternativas, incluindo a hipótese de não execução; vi – efeitos das medidas mitigadoras; vii – programa de monitoramento dos impactos; viii – recomendação quanto à alternativa mais favorável. – Transparência – Res. Conama 01/86, Arts.5º e 9º, §ún.: passa uma linguagem acessível, destinada ao entendimento da população;, assim, mais do que publicidade, possui transparência. Aplicação da Lei 10.650/2003: acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA. Os órgãos passam a ter obrigação legal de fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio visual, sonoro ou eletrônico, especialmente em relação à: i) qualidade do meio ambiente; ii) políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental; iii) resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle e poluição e de atividades potencialmente poluidoras bem como de planos e ações de recuperação de áreas degradadas; iv) acidentes, situações de risco ou de emergências ambientais; v) emissões de efluentes líquidos e gasosos e produção de resíduos sólidos; vi) substâncias tóxicas e GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 32 perigosas; vii) diversidade biológica; viii) organismos geneticamente modificados. DISCUSSÃO | Linguagem e participação da população O problema – Caso Belo Monte O local escolhido pelo Ibama para a realização da audiência foi o teatro Margarida Schivazapa, no centro de Belém, com capacidade para 480 pessoas. Com a entrada dos índios e dos sem-terra, cerca de 600 pessoas já lotavam o teatro e as escadarias, e ainda assim dezenas se amontoavam do lado de fora. Eram pesquisadores e estudantes universitários, assim como integrantes de movimentos sociais. O coordenador da Força Nacional, diante da argumentação dos membros do MP de que era necessária a participação de todos os movimentos sociais, avisou que ninguém mais poderia entrar, uma vez que a lotação do local estava esgotada. "Se mais pessoas entrarem, eu não posso me responsabilizar pela segurança", disse. Foi seguido no protesto pelo representante do Ministério Público do Estado do Pará, Raimundo Moraes, que afirmou: "Essa audiência é inédita em Belém. Nunca vi uma audiência pública feita com tanta força policial, impedindo até autoridades de entrarem no estacionamento. Nunca vi uma audiência pública em que a sociedade civil não participe da mesa, ao menos simbolicamente. Nenhum debate se faz dessa forma acanhada, restritiva, com violência institucionalizada. Até o regulamento dessa audiência é inconstitucional". http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_meio-ambiente- e-patrimonio-cultural/mpf-pa-questiona-modelo-de-audiencia-publica-de-belo- monte GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 33 Licenciamento Ambiental Previsto na Lei 6.938/1981, Art.9º, IV. São instrumentos da PNMA: IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. Definido na Res.237/97 Conama, Art.1º, I – Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicadas ao caso. Natureza jurídica: - Fundamenta-se no direito administrativo; - É ato vinculado, unilateral, por meio do qual a Administração Pública faculta ao particular o exercício de alguma atividade, desde que atendidos os requisitos legais; - É instrumento de controle prévio, preventivo; - Segundo LC 140/2011, no Art. 2º, considera-se procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental; - Doutrina: há quem considere o licenciamento como autorização por poder ser renovada, suspensa ou cancelada, não tendo definitividade, como exige a licença; - Conama Res. 237/1997, Art. 1º, I, licencia a localização, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou daqueles que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso; GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 34 - Para fins de licenciamento, recursos ambientais são atmosfera, águas interiores, superficiais, subterrâneas, estuários, mar territorial, solo, subsolo, elementos da biosfera, fauna e flora (Res. Conama 237/1997). Inovações da LC 140/2011 – Substituição Parcial da Res. 237/1997 - Art. 13 – Estabelece que os licenciamentos ocorrem apenas por um ente federativo, conforme padrões desta LC – União ou Estado ou Município; - Estabelece ação supletiva e subsidiária dos entes federativos. 1) Supletiva: Art. 2º, II – Ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições. - Art. 14 Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação dos processos de licenciamento. § 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art. 15. - Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 35 2) Subsidiária: Art. 2º, III – Visa auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente competente. - Art. 16 A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação. Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuição nos termos desta Lei Complementar. Compertência da União: Art. 7º São ações administrativas da União: XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: ...Que causem danos potencialmente nacionais ou regionais: a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva; e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; ...Fundados em critério de dominialidade: d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); OBS: Demais áreas protegidasdistintas de APAs são de competência do Município, cf. art. 9. Art. 7º São ações administrativas da União: XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: ...Tendo competência estabelecida em razão da matéria GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 36 c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999; g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); Art. 7º São ações administrativas da União: XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: ... Tendo competência estabelecida em razão da matéria h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. Competência dos Municípios Art. 9º São ações administrativas dos Municípios: XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 37 OBS: APAs são de competência federal, cf Art. 7º. Competência dos Estados é residual em relação à União e aos Municípios Art. 8º São ações administrativas dos Estados: XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º. 5. Licenciamento Ambiental Espécies 1) Licença prévia: atestará viabilidade do projeto; visa aprovar localização e concepção do projeto; estabelece requisitos básicos das fases seguintes. (Prazo de validade: até 5 anos.) É precedida pelo Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/Rima), para os empreendimentos causadores de degradação ambiental significativa – Res. Conama 01/86, Art. 2º. 2) Licença-instalação: atestada a viabilidade, ocorre o início das obras de implantação do projeto; avalia-se a compatibilidade com os planos e projetos aprovados. (Prazo de validade: até 6 anos.) 3) Licença-operação: concluída a implantação do projeto, essa licença é necessária para começar as atividades produtivas. (Prazo de validade: de 4 a 10 anos.) 4) Licenciamento ambiental corretivo: excepcionalmente feito após a implantação ou, até mesmo, após o funcionamento do empreendimento. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 38 Exemplo: empreendimentos instalados sem as correspondentes licenças ambientais: i) Porque o licenciamento ambiental sequer existia quando da implantação do empreendimento; ii) Porque o empreendedor simplesmente desrespeitou a legislação vigente à época da implantação do empreendimento; iii) Para fins de revisão, isto é, adequação das normas posteriores ao licenciamento da implantação do empreendimento (Lei 6.938/81, Art.9º, IV) – inclusive sob pena de crime de falta de licenciamento. Procedimentos reparatórios: Para fins de revisão (i e iii), isto é, adequação das normas posteriores ao licenciamento da implantação do empreendimento (Lei 6.938/81, Art.9º, IV): Exemplos: Res. Conama 06/1987 – Energia elétrica; Res. Conama 335/2003 (e 368/2006) – Cemitérios horizontais e verticais; Res. Conama 273/2000 – Postos de combustíveis. Para empreendimentos instalados em desrespeito à obrigatoriedade (ii): suspensão das atividades, até regularização completa e/ou demolição. Falta de licenciamento como crime ambiental: L.9.605/98, Art. 60 Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes. PENA: Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 39 Falta de licenciamento como infração administrativa: Dec. 6.514/08, Art. 66 Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais sem as licenças ambientais exigíveis. MULTA: R$500,00 a R$10.000.000,00. A licença ambiental é ato vinculado, podendo, portanto, ser revogada, (modificadas, suspensas ou extintas) com base no Princípio da Prevenção no Direito Ambiental. Res. Conama nº 237/1997, Art. 19. O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer: I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais; II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença; III - Superveniência de graves riscos ambientais e de saúde. Há possibilidade de indenização pelo quantum já investido. PEC 65 / 2012 – Inclusão do §7º ao Art. 225 da CRFB/88 Extinção do Licenciamento Art. 1º O Art. 225 da Constituição passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º. Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 40 Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. §7º A apresentação do estudo prévio de impacto ambiental importa autorização para a execução da obra, que não poderá ser suspensa ou cancelada pelas mesmas razões a não ser em face de fato superveniente. (NR) Justificativa: Uma das maiores dificuldades da Administração Pública brasileira e, também, uma das razões principais para o seu desprestígio, que se revela à sociedade como manifestação pública de ineficiência, consiste nas obras inacabadas ou nas obras ou ações que se iniciam e são a seguir interrompidas mediante decisão judicial de natureza cautelar ou liminar, resultantes, muitas vezes, de ações judiciais protelatórias. (...) Uma obra fundamental para atender às necessidades da sociedade brasileira se encontra paralisada por muito tempo, resultando muitas vezes em severo prejuízo para a prestação de serviços públicos fundamentais, como educação e saúde, como também em obras importantes para a sociedade, como pontes e rodovias. Nesses procedimentos [licenciamentos e “guerra de liminares”], perde-se muito tempo e desperdiçam-se recursos públicos vultosos, em flagrante desrespeito à vontade da população,à soberania popular, que consagrara, em urnas, um programa de governo e, com ele, suas obras e ações essenciais. (...) Muitas vezes chega a iniciar a obra, mas a conclusão é frustrada por uma decisão judicial que, não raro, resulta da inquietude da oposição diante dos possíveis efeitos positivos, junto à cidadania, de uma dada obra pública. Por isso, a proposta que ora apresentamos assegura que uma obra uma vez iniciada, após a concessão da licença ambiental e demais exigências legais, não poderá ser suspensa ou cancelada senão em face de fatos GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 41 novos, supervenientes à situação que existia quando elaborados e publicados os estudos a que se refere a Carta Magna. Fonte: http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/109736 PEC 65 / 2012 – Guerras de Liminares Exemplo: Belo Monte A liminar que pretendia impedir a continuidade do enchimento dos dois reservatórios da usina e o início da geração de energia foi concedida no dia 11 de janeiro 2016 acatando o argumento de que a União, a Funai e a empresa Norte Energia, concessionária da usina, não estariam cumprindo uma decisão anterior de prover a Funai de condições necessárias ao atendimento das comunidades indígena da região. Entre as exigências estão a construção de uma nova sede da Funai em Altamira e a realização de concurso público para contratação de pessoal da Fundação. (...) O TRF1 entendeu, entretanto, que, que a suspensão dos efeitos da Licença de Operação de Belo Monte é “medida drástica que gera grave lesão ao interesse público”, impactando diretamente na produção de energia elétrica e no aumento da oferta ao Sistema Interligado Nacional: “Suspensão de 14 planos, 53 programas e 85 projetos constantes do Projeto Básico Ambiental, com a rescisão de inúmeros contratos e acordos, suspendendo o pagamento de R$ 45 milhões/mês, causando a demissão dos trabalhadores que atuam em tais projetos. Fonte: http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2016/01/liminar-que-paralisava- as-operacoes-de-belo-monte-e-derrubada DEGRADAÇÃO. POLUIÇÃO. DANO. Art. 3º, II – Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente. Poluição: degradação qualificada como prejudicial, reversível ou não. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 42 Atinge todos os tipos de meio ambiente: natural, artificial e cultural. Dano: prejuízo. Redução ou extinção da viabilidade / potencialidade ambiental causada por uma condita ilícita – ilegal ou em abuso de direito. POLUIÇÃO Art.3º, III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. POLUIÇÃO Lei 6.938/81: Art.3º, IV - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Competência administrativa e legislativa CRFB/88, Art. 24, VI – competência administrativa concorrente para controle da poluição (União, Estados e Distrito Federal); Art. 23, VI – competência comum (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) para combate à poluição; poluição como crime ambiental – Lei 9.605/98. POLUIÇÃO DA ÁGUA Resolução Conama 357/2005 (+ Resolução Conama 430/2011) Estipula padrões relativos de lançamento e emissão, não podendo gerar alterações no corpo de água em desacordo com metas obrigatórias progressivas. Veda lançamento de efluentes direta ou indiretamente nos corpos de água, sem o devido tratamento (Art.1º, parágrafo único, c/c Art. 3º, Resolução 430). GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 43 Exceção que permite lançamento em desacordo com condições da Resolução 430 – requisitos Art. 6º – interesse público, realização de estudo ambiental prévio, estabelecimento de tratamento, prazo máximo para lançamento, medidas de neutralização. Estipula padrões relativos de lançamento e emissão, não podendo gerar alterações no corpo de água em desacordo com metas obrigatórias progressivas. Veda lançamento de efluentes direta ou indiretamente nos corpos d’água, sem o devido tratamento (Art.1º, parágrafo único, c/c Art. 3º Resolução 430). POLUIÇÃO DA ÁGUA por lançamento de óleo – Lei 9.966 Estabelecimento de riscos para a saúde humana e para o ecossistema (Art. 4º) – categorias: A – alto risco (proibição de descarga em águas nacionais); B – médio risco; C – risco moderado; D – baixo risco (B, C e D, proibição relativizada). Obrigatoriedade de portos, instalações e plataformas terem estações de tratamento, manual de procedimento interno e planos de emergência individuais (Dec. nº 4.136/02). Sanções administrativas: multa, multa diária, retenção do navio e suspensão imediata das atividades de empresa transportadora irregular – Art. 25. Instituição de planos de áreas para combate à poluição por óleo. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA No Brasil, ainda não há diploma legal disciplinando sistematicamente, como, por exemplo, o dos EUA (Clean Air Act, 1970). STJ – RHC 14.218/SP – Aplica lei de crimes ambientais e decretos específicos sobre condutas que causam poluição atmosférica, como excessos realtivos a GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 44 atividade industrial, desmatamentos e pastos para produção de gado e de outros animais. Chuvas ácidas – decorrentes de carvão mineral. Efeito estufa – ECO92, Protocolo de Kyoto e Convenção do Clima/NY, 2016. Poluição por veículos automotores – Lei 8.723/93 (e Lei 10.203/2001), Resolução Conama nº 18/86. POLUIÇÃO SONORA Som é tudo o que é captado pelo sentido da audição. Ruído é o som indistinto, sem harmonia, produzido por vibrações irregulares. Possui natureza jurídica de agente poluidor – crime previsto no Art. 54 da Lei 9.605/98. Regulação – Resolução Conama 1/1990 – norma NBRE 10.152 da ABNT. Exemplos de limites aceitos poela lei: hospitais (de 35 a 55 decibéis); escolas (de 35 a 50); residências (de 35 a 50); restaurantes (de 40 a 50); escritórios (de 30 a 60); igrejas e templos (de 40 a 50); veículos automotores em vias urbanas (limite de 93 decibéis). POLUIÇÃO POR AGROTÓXICOS Dever constitucional, previsto no Art. 225, §1º, V. Lei 7.802/89 (bem como Lei 9.974/00). Conceito: Art. 2º, I – a) são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos, GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 45 empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento. Registro prévio obrigatório (Ministérios Saúde, Meio Ambiente e Agricultura). Controle concomitante, cabendo cancelamento do registro a qualquer tempo. O poder público pode passar a exigir padrões mais rigorosos, de menor toxidade, dos novos agrotóxicos e até cancelar registrodos que forem abolidos. O registro de novo agrotóxico somente será permitido se sua ação tóxica sobre o ser humano e o meio ambiente for, comprovadamente, igual ou menor que aqueles já registrados para a mesma finalidade. O ônus da toxicidade é do estabelecimento registrante ou da entidade impugnante (Art. 5º da Lei 7.803/89). Critérios de avaliação – Art. 20, parágrafo único, do Dec 4.074/2002. I – toxicidade; II – presença de problemas toxicológicos especiais (neurotoxidade, fetoxicidade, ação hormonal e comportamental e ação reprodutiva); III – persistência no amb;iente; IV – bioacumulação; V – forma de apresentação; VI – método de aplicação. Responsabilidade descarte Lei 7.802/89, Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o disposto na legislação pertinente, cabem: (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000) GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 46 a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida; b) ao usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o receituário ou as recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000) c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000) d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas; e) ao produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação às embalagens vazias em conformidade com a legislação pertinente; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000) f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos. POLUIÇÃO POR RADIOATIVOS – Energia Nuclear na CRFB/88 É legislação privativa da União, segundo o Art. 22, XXVI: atividade nuclearede qualquer natureza. Exploração – prévia autorização do Congresso Nacional (representantes do povo). Toda atividade nuclear em território nacional somente será aceita para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional. Sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 47 Sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas. É vedado depósito de rejeitos em ilhas oceânicas, plataforma continental e águas territoriais brasileiras. A responsabilidade pelo destino final é da União. A responsabilidade dos envolvidos da atividade é de risco integral. 7. Meio Ambiente Responsabilidade civil Potenciais causas de danos 1. Empreendimentos ou atividades sujeitos a aprovações do Poder Público – todas as atividades potencialmente poluidoras ou predadoras do meio ambiente estão sob o poder de polícia administrativa – dever de cuidado. 2. Ações voluntárias dos particulares, que, embora sujeitas à prévia aprovação e/ou fiscalização da Administração Pública, são praticadas conscientemente de forma clandestina, ou sob fiscalização. 3. Acidentes ecológicos decorrentes de causas múltiplas, com culpa ou dolo. 4. Danos ecológicos por fatos da natureza. REPONSABILIDADE OBJETIVA AMBIENTAL Regra: i) basta comprovação do nexo causal entre dano e causador do dano; ii) não precisa provar culpa do agente; iii) admite excludentes de culpabilidade (culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior). GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 48 Teoria do Risco Criado: i) basta comprovação do nexo causal entre dano e causador do dano; ii) não precisa provar culpa do agente; mas iii) admite excludentes de culpabilidade que em nada se relacionem com a atividade econômica desenvolvida. Teoria do Risco Integral: i) basta comprovação do nexo causal entre dano e causador do dano; ii) não precisa provar culpa do agente; mas iii) não admite qualquer tipo de excludente de culpabilidade. O risco integral não está expresso diretamente na CRFB/88, para meio ambiente, genericamente considerado, mas na prática, a responsabilidade objetiva do agente causador do dano lhe é imputada sem considerar nem mesmo a imponderabilidade do evento, ainda que adotadas as máximas cautelas modernas, acima do rígido padrão já exigido. O risco integral é pacificamente aplicável para acidentes nucleares. Consequências: prescindibilidade de investigação de culpa; irrelevância da licitude da atividade; inaplicabilidade de excludentes e de cláusula de não indenizar. QUANTIFICAÇÃO DO DANO 1. Busca-se determinar a extensão e gravidade do dano. 2. Identificação das melhores soluções para reparação do dano ambiental, com preferência pela restauração – princípio da recuperação. 3. Na impossibilidade de recuperação (restauração e recomposição), há indenização ou compensação pecuniária. Fundos de Indenização – o dinheiro arrecadado vai para a reconstituição dos bens lesados e a reposição da qualidade ambiental. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 49 Responsabilidade penal Responsabilidade penal ambiental pessoa jurídica 1. CRFB/88, Art. 225 e Lei 9.605/98 (LCA), Art. 3º: há responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. 2. Fundamento: os danos ambientais, em sua maior parte, são provocados por pessoa jurídica e no intuito de obtenção de lucro; prevenção geral e escolha política. 3. Em se tratando de acidente, apura-se a culpa da pessoa jurídica (negligência, imprudência ou imperícia). 4. Limitada aos crimes ambientais. 5. Teoria da Dupla Imputação – Implantação pelo STJ: é a obrigatoriedade de imputação de responsabilidade penal às pessoas físicas e jurídicas conjuntamente, na medida de sua culpabilidade. Princípio da Insignificância Aplicável nos seguintes casos exemplificativos: Posse de 9 aves silvestres, por acusado residente em meio rural, dentro dos hábitos de cultura local, sem demonstração de intenção comercial; Abate de animal silvestre, sem finalidade de comercialização, com destino à alimentação dos acusados. Não aplicável nos seguintes casos exemplificativos: Manutenção de 50 pássaros em cativeiro, independente da finalidade não comercial; Apreensão de rede de pesca de 250 m e 10 kg manjubinha – devolvidas com vida ao mar – em período de defeso. GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 50 Compromisso | Termo de Ajustamento de Conduta – Lei 7.347/85 Trata de direito indisponível. Não admite arbitragem, mas apenas transação; Tem como objetivo regularizar o ilícito ambiental por meio de imposição de condutas reparadoras para a adequação das atividades às normas legais que regem o caso; Não pode ensejar descumprimento de deveres e obrigações legais nem alterar elementos normativos
Compartilhar