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RACISMO NO BRASIL

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RACISMO NO BRASIL: REALIDADE OU UTOPIA?
Yane Isabela Gonçalves Magalhães | Farmácia, 1º Período
Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna - FASI 
Na música “A carne”, cantada por Elza Soares, há um trecho que se refere a carne negra como a mais barata do mercado, sendo aquela que vai de graça para os presídios, para debaixo do plástico e para o sub emprego. Consoante a composição, podemos facilmente comparar a letra com situações do nosso cotidiano, as quais nos mostram que o racismo está longe de ser uma utopia.
Apesar de muitas pessoas defenderem ideia de que existe uma democracia racial no Brasil, o racismo é um mal enraizado na sociedade brasileira. Isso se deve ao fato do país ainda carregar marcas da escravidão e de uma abolição que isolou e não buscou incorporar aqueles recém libertos à sociedade, resultando na marginalização da população negra. Vale ainda ressaltar que no mesmo século em que houve a libertação dos povos negros, o Brasil tentou branquear sua população, uma justificativa usada na época era a de que os negros era intelectualmente inferiores aos povos europeus, ou seja, mais uma vez o racismo infelizmente se fez presente na história do país. Embora muitos governantes, pós-abolicionistas, tenham tentado maquiar e levar a população ao esquecimento de nosso passado escravista, é perceptível que tal tema ainda é uma ferida aberta.
Atualmente, pode-se dizer que os negros tem oportunidades que suas gerações passadas não possuíam, o que não significa que estes tenham conquistado as mesmas que tem uma pessoa branca. Mesmo já tendo decorrido mais de 130 anos desde a abolição da escravidão no Brasil, muitas pessoas ainda tendem a associar a população negras a trabalhos considerados pela sociedade inferiores, são vistas como criminosas e em muitos casos são proibidas de frequentar alguns lugares por não de encaixarem nos padrões, mesmo esse ato sendo considerado um crime inafiançável. Diante disso, é necessário falar sobre um conceito que vem sendo muito comentado, principalmente nas redes sociais, que é o “racismo velado”, ainda que venha sendo praticado há anos, esse ato é mais difícil de ser denunciado, já que o termo se refere a uma discriminação escondida, é um preconceito que não se mostra ofensivo e com isso continua a ser praticado.
Trazendo o tema para as estatísticas, foi comprovado pelo IBGE que mais da metade da população brasileira é negra, estudos também comprovam que pessoas integrantes desse grupo são maioria nos índices de analfabetismo, desemprego e possuem a menor renda mensal, além de tudo isso, eles são maioria nos sistemas prisionais. O Mapa da Violência de 2016 mostra que no intervalo de 2003 a 2014, o número de pessoas brancas assassinadas por arma de fogo caiu 26,1%, em contrapartida, o número de pessoas negras aumentou 46,9%. Tudo isso é reflexo de uma sociedade racista, que se vê diante de fatos e preferem fechar os olhos.
É notório que durante a história do Brasil, ainda que cheia de sujeiras para esconder as desigualdades étnicas, houveram avanços no que tange a promoção de igualdade. A exemplo disso temos o sistema de cotas, consolidado em agosto de 2012, essa lei exige que em concursos, vestibulares e em outros meios de admissão existam vagas separadas exclusivamente para aqueles que são segregados na sociedade. O principal objetivo das cotas é reduzir as desigualdades e atrair a população negra, de modo que possam ter mais oportunidades em um corpo social racista. Para ficar mais claro a importância das cotas, basta notar em turmas de formandos do ensino superior, o número de negros que estão nas faculdades é muito pequeno e se tratando de cargos de destaque o mesmo se repete, isso só evidência que enquanto não tivermos um democracia igual a todos nós precisaremos ter as cotas raciais para que cada vez mais as pessoas negras possam tomar seu lugar na sociedade. 
Ainda falando sobre os progressos no âmbito de criminalização dos atos de racismo, temos a Lei Nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceitos de etnia ou cor, este sendo um crime inafiançável e que tem como punição o pagamento de multas e a prisão do autor dos atos racistas. Entretanto, o Brasil ainda é considerado como um país que facilmente abafa casos de racismo, de modo que em caso de acusações muitos advogados conseguem reverter para que se torne um crime de injuria, que tem pena mais branda.
Seguindo o pensamento adotado por Florestan Fernandes, nós jamais teremos uma democracia enquanto existir negros que ainda sofrem com discriminações, estigmatizações e com segregações, seja de classe ou pela sua cor. Portanto, pensar sobre as questões raciais não é um tema apenas de opinião, ele é um problema social que vem se arrastando por muito tempo, assim sendo, nós temos que reconhecer que o racismo está presente em nossa sociedade para que ele possa ser combatido. 
Já não podemos aceitar que pessoas sejam inferiorizadas em redes sociais, no seu ambiente de trabalho, enfim, na sociedade como um todo, somente por pertencer a uma determinada etnia. É estatisticamente comprovado que, na população brasileira, poucos se assumem preconceituosos e a grande maioria só enxergam o preconceito no próximo. Tendo como base todos os dados e fatos, os quais podemos perceber no nosso cotidiano em atos e falas que mesmo inconscientemente são racistas, a “Democracia racial” é um mito no Brasil, apesar de alguns passos já tenham sido dados para combater esse crime, é preciso que as pessoas comecem a ser antirracistas e que o Estado invista em educação, conscientizando as pessoas sobre a igualdade racial e mostrando a população negra que eles podem ser tudo o que desejarem. Logo que a população em sua totalidade, perceber que o que nos difere é apenas a quantidade de melanina que possuímos e poderemos viver em harmonia, e a música de Elza Soares já não poderá ser comparada a nossa estrutura social.
REFERÊNCIAS
ONU. Negros são mais afetados por desigualdades e violência no Brasil, alerta agência da ONU. 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/negros-sao-mais-afetados-por-desigualdades-e-violencia-no-brasil-alerta-agencia-da-onu/>. Acesso em: 29 de março de 2020.
QUEBRANDO O TABU. O QUE É RACISMO ESTRUTURAL? | DESENHANDO. 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ia3NrSoTSXk>. Acesso em: 29 de março de 2020.
MERELES, Carla. COTAS RACIAIS NO BRASIL: ENTENDA O QUE SÃO!. 2016. Disponível em: <https://www.politize.com.br/cotas-raciais-no-brasil-o-que-sao/>. Acesso em: 30 de março de 2020.
GABRIEL, João. RACISMO NO BRASIL – BRASIL ESCOLA. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=33iW50meQFI>. Acesso em: 30 de março de 2020.

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