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14
FACULDADE DAMÁSIO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO
EVANDRA MÔNICA COUTINHO
DISPONIBILIDADE DO DIREITO DO TRABALHO E AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS DE TRABALHO.
Maringá – Paraná
2018
EVANDRA MÔNICA COUTINHO
DISPONIBILIDADE DO DIREITO DO TRABALHO E AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS DE TRABALHO.
Relatório final, apresentado à Faculdade Damásio, como parte das exigências para a obtenção do título de especialista.
Orientador: Profª Cristiane Isabel de Oliveira Leite
Maringá – Paraná
2018
EVANDRA MÔNICA COUTINHO
DISPONIBILIDADE DO DIREITO DO TRABALHO E AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS DE TRABALHO.
Relatório final, apresentado Damásio Educacional, como parte das exigências para a obtenção do título de especialista.
Local, ____ de _____________ de _____.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. (Nome do orientador)
Afiliações
________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações
________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações
RESUMO
Pode-se conceituar o contrato individual de trabalho como sendo o acordo entre duas partes, empregador e empregado, pela qual o segundo se obriga à prestação pessoal de trabalho subordinado e não eventual para o primeiro, em troca de pagamento de salário. Nesse sentido, o tema do presente estudo é a disponibilidade do Direito do Trabalho e autonomia da vontade nos contratos de trabalho. Tem-se por objetivo analisar o conceito de contrato de trabalho tratando, em especial, do Princípio da Autonomia da vontade nos contratos de trabalho que consiste na liberdade em se criar relações jurídicas, conforme as intenções e necessidades do contratante e do contratado, contanto que tais relações estejam respaldadas em lei. A metodologia do presente estudo se traduz numa pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, realizada através de livros, artigos acadêmicos, periódicos bem como conteúdo publicado em mídia eletrônica, não descuidando da legislação afeta ao tema escolhido. Pode-se concluir que o contrato de trabalho se classifica no campo do direito privado em decorrência da autonomia da vontade, e decorrente liberdade de contratar que as partes desfrutam. O Direito do Trabalho, pelo seu conteúdo normativo, possui um sentido político-econômico que visa corrigir as diferenças, elevando o nível social da classe trabalhadora. O direito do Trabalho, ao valorizar o trabalhador e o trabalho, valoriza a sociedade como um todo.
Palavras-chave: Contrato. Trabalho. Autonomia. Vontade. 
ABSTRACT
The individual work contract can be considered as the agreement between two parties, employer and employee, whereby the second is obliged to provide personal subordinate work and not possible to the former, in exchange for payment of salary. In this sense, the theme of the present study is the availability of labor law and autonomy of will in work contracts. The purpose of this study is to analyze the concept of employment contract dealing in particular with the Principle of Autonomy of will in employment contracts, which consists in the freedom to create legal relationships, according to the intentions and needs of the contractor and the contractor, provided that such relationships are supported by law. The methodology of the present study translates into a bibliographical research, of a qualitative nature, carried out through books, academic articles, periodicals as well as content published in electronic media, not neglecting the legislation affects the chosen theme. It can be concluded that the contract of employment is classified in the field of private law as a result of the autonomy of the will, and resulting in the freedom to contract that the parties enjoy. Labor Law, by its normative content, has a political-economic sense that aims at correcting the differences, raising the social level of the working class. Labor law, when valuing workers and labor, values society as a whole.
Keywords: Contract. Job. Autonomy. Will.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	6
CAPÍTULO 1 - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO	9
1.1 O TRABALHO E A REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL	9
1.2 O DIREITO DO TRABALHO: UM PERCURSO HISTÓRICO	17
1.2.1.PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO...	..............................................20
1.3 COMPETÊNCIAS DA JUSTIÇA DO TRABALHO	23
CAPÍTULO II - A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS COMO MEDIDA PROTETIVA DO EMPREGO NA GLOBALIZAÇÃO	25
2.1 A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O MUNDO DO TRABALHO	25
2.2 A PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NUM MUNDO GLOBALIZADO	26
2.3 PROTEÇÃO DO EMPREGO NA GLOBALIZAÇÃO	30
2.4 A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS NO BRASIL	31
CAPÍTULO III – A AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS DE TRABALHO	35
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONTRATOS	35
3.2 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS	37
3.3 NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DO MOMENTO DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS	42
3.4 CONTRATO DE TRABALHO	43
3.5 O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS	47
3.5.1 O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS DE TRABALHO	49
CONCLUSÃO	51
REFERÊNCIAS	57
INTRODUÇÃO
O trabalho nasce da necessidade humana de moldar os objetos para melhor se adaptar ao meio ambiente e assegurar a sobrevivência da espécie humana. Este vai exigir do homem uma constante atividade mental, tendo em vista a complexidade de problemas que a sobrevivência lhe impõe.
Percebe-se que os últimos anos do século XX constituíram um novo marco na história da humanidade, através do fenômeno da globalização, preconizando-se a ideia de um mundo sem fronteiras, com os mercados integrados e as relações entre os países bastante intensificadas, tanto nos aspectos produtivos quanto nos fluxos comerciais e financeiros. A intensificação do comércio dos bens e serviços entre os países associadas ao neoliberalismo, determinam novas formas de organização do trabalho e traduzem o intento capitalista de perpetuar a exploração da classe operária, em nome da maximização do lucro. 
Contemporaneamente, a sociedade está se reorganizando com repercussão nas esferas sociais, econômicas, políticas e culturais. Essa reorganização provém de vários fatores, dentre os quais, o processo de globalização e a sua intensificação provocada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e da informação. Por meio da inserção das novas tecnologias no processo de trabalho, transformaram-se as configurações do modo de produção capitalista, interferindo de forma crucial nas relações entre o trabalho e o trabalhador.
Nesse contexto, renomeiam-se os trabalhadores, agora designados “colaboradores”, fazendo coincidir os interesses entre o capital e o trabalho, buscando incrementar a produção. Do mesmo modo, o emprego formal, com registro do contrato na carteira de trabalho bem como as garantias sociais e trabalhistas, cede lugar ao trabalho informal ou ao trabalho temporário, parcial, terceirizado, subcontratado, etc.
Assim, o trabalho assalariado se caracterizou pela venda da força de trabalho do operário para o capitalista, onde este encontra o trabalhador livre como vendedor de sua força de trabalho no mercado.
Sabe-se que o capitalismo vem estreitando os horizontes da proteção social ao trabalhador, pois há que se considerar que a lógica neoliberal tende a desconstruir os avanços nessa área. Segundo Braverman, (1987, p. 54) “o capitalismo exige intercâmbio de relações, mercadoria e dinheiro, assim como a compra e venda da força de trabalho”.
No Brasil a situação é agravada pela profunda crise econômica em que está mergulhado o país sendo que, em 2016 chegou a 12 milhões de brasileiros[footnoteRef:1]. [1: 	Desemprego ainda deve subir mais em 2017, antes de começar a cair. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/desemprego-ainda-deve-subir-mais-em-2017-antes-de-comecar-a-cair.ghtml] 
Reportagem publicada no site G1datada de 28/02/2018 informa que o desemprego fica em 12,2% em janeiro de 2018e atinge 12,7 milhões de pessoas, Índice é maior do que o registrado no trimestre encerrado em dezembro, quando a taxa foi de 11,8% e ficou estável sobre 3 meses anteriores; IBGE diz que taxa só não caiu por razões sazonais. Segundo Azeredo, a queda do número de trabalhadores com carteira assinada está mais modesta. O contingente de pessoas ocupadas em empregos formais é estimado em 33,3 milhões em janeiro - uma queda de 1,7% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado. No trimestre encerrado em dezembro, essa retração foi de 2,5% na comparação anual[footnoteRef:2]. [2: 	Desemprego fica em 12,2% em janeiro de 2018 e atinge 12,7 milhões de pessoas. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/desemprego-fica-em-122-em-janeiro-de-2018.ghtml] 
Nesse contexto, a importância do Direito do Trabalho está no fato de que seus objetivos visam a corrigir as diferenças entre empregado e empregador, sendo o contrato de trabalho a representação do vínculo obrigacional entre ambos, com relevante papel social.
O contrato nasce de uma liberdade de contratar, liberdade esta que é denominada autonomia de vontade.Conforme Maria Helena Diniz (2002) é no princípio da autonomia da vontade que se funda o princípio da liberdade contratual, e este consiste no poder de estipular livremente mediante acordo de vontades, a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica.Portanto, contrato é o acordo de vontades entre duas ou mais pessoas, sobre objeto lícito e possível, com o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos.
A teoria geral dos contratos faz parte do Direito das Obrigações, entendendo-se, deste modo, que o direito contratual é direito obrigacional bem como direito das coisas, visto que o contrato é instrumento essencial para a circulação de bens. 
Desse modo, o tema do presente estudo é a disponibilidade do Direito do Trabalho e autonomia da vontade nos contratos de trabalho.
O problema do presente estudo se traduz na seguinte questão: O princípio da autonomia da vontade consiste na liberdade em se criar relações jurídicas, conforme as intenções e necessidades do contratante e do contratado, contanto que tais relações estejam respaldadas em lei. Nesse sentido, pode-se afirmar que tal princípio norteia o contrato de trabalho? 
Como hipótese do presente estudo entende-se que o princípio da autonomia da vontade, onde se tem a liberdade de escolher quem se quer contratar bem como a livre escolha do indivíduo a aceitar ser contratado está presente nos contratos de trabalho.
O objetivo geral do estudo desenvolvido é analisar o contrato de trabalho e sua natureza privatística, por se tratar de uma relação jurídica entre particulares e querepousa em quatro princípios que são: o da autonomia da vontade, o do consensualismo, o da força obrigatória e o da boa-fé.
Como objetivos específicos pretendem-se:
· Discorrer sobre a relação homem – trabalho;
· Analisar o percurso do Direito do Trabalho, na realidade brasileira;
· Tratar das competências da Justiça do Trabalho;
· Conceituar o Contrato de Trabalho.
A metodologia do presente estudo se traduz numa pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, realizada através de livros, artigos acadêmicos, periódicos bem como conteúdo publicado em mídia eletrônica, não descuidando da legislação afeta ao tema escolhido.
Capítulo 1 - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO
1.1 O trabalho e a reestruturação do capital
Marx em sua visão sociológica produziu suas ideias que se desdobraram em várias correntes que logo foram incorporadas por inúmeros teóricos. Com o intuito de compreender o meio de produção capitalista, Marx desenvolveu obras filosóficas, sociológicas e sobre a economia, tendo como objetivo não apenas de contribuir cientificamente, mas, elencar transformações precisas no campo político, econômico e social. Sua trajetória teve como marca algumas palavras chave: alienação, classes sociais, valor, mercadoria, trabalho, mais-valia e modo de produção.
Marx desenvolveu o conceito de alienação vislumbrando que a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhador dos meios de produção. Alienava e separava o trabalhador do fruto do seu trabalho, sendo apropriado pelo capitalista. Com o desenvolvimento do capitalismo, a filosofia, por sua vez, também passou a criar representações do homem e da sociedade. Diz Marx que a divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de um determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformam a “filosofia do Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também na alienação do homem. Uma vez alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar sua condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, a política, a filosofia, que o excluíram da participação efetiva da vida social. Essa crítica social só se efetiva na práxis, que é a ação política consciente e transformadora (COSTA, 1997, p. 2). 
Destarte, Marx expôs a importância de uma radicalização vinculada a crítica social e a uma ação política, isto é, uma nova roupagem no que tange a ação sobre a sociedade, visando transformá-la. Assim, Marx elencou as relações de exploração contidas na forma de trabalho e na dominação da burguesia sobre os proletariados, os trabalhadores. Na sua visão, a relação de e no trabalho contém uma forte dominação e uma hipossuficiência do trabalhador que, para garantir e prover seu sustento, vende sua força de trabalho ao capitalismo, que rapidamente se apropria do mesmo, ou seja, da força do trabalhador. Nas palavras de Costa (1997, p.3) enfatizando Marx, expõe que:
Essas relações são também de oposição e antagonismo, na medida em que os interesses de classe são inconciliáveis. O capitalismo deseja preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos produtos e à máxima exploração do trabalho do operário, seja reduzindo os salários, seja ampliando a jornada de trabalho. O trabalhador, por sua vez, procura diminuir a exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e participação nos lucros. Por outro lado. As relações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação a outra. Só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, que precisam vender para assegurar a sobrevivência. As classes sociais são, pois, apesar de uma oposição intrínseca, complementares e interdependentes.
Na visão Marxista a história do homem está articulada a luta de classes, mesmo que não tenha, em todas as épocas, a contemplação sobre a atuação de guerra declarada, porém, sempre houve a presença de lutas por divergências e oposições de interesses. Assim, surgiu o capitalismo, centrando a maior quantidade de riquezas nas mãos de poucos, onde esses poucos lutavam pelo acúmulo de lucros e riquezas cada vez maiores. E a forma de trabalho se tornou mercadoria, surgindo o contrato entre capitalista e trabalhador que se dava através do aluguel por determinado período da força do trabalhador, que, em troca, recebia uma quantia em dinheiro pelo trabalho vendido. Desta forma, Marx (1988, p. 46) expõe
A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Essa utilidade, porém, não paira no ar. Determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, ela não existe sem a mesma. Esse caráter não depende de se a apropriação de suas propriedades úteis custa ao homem muito ou pouco trabalho. O exame dos valores de uso pressupõe sempre uma determinação quantitativa. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta.
De acordo com Costa (1997, p. 3) o salário é conhecido como o valor da exploração do trabalho, e seu cálculo depende do preçodos bens relevantes a subsistência do trabalhador. Assim, o valor do trabalho está englobado no valor que o capitalismo paga ao possuir essas matérias-primas e instrumentos, aos quais, em conjunto com a quantia paga e título de salário, serão incorporados ao valor do produto.
Marx, neste contexto, elaborou o conceito de mais valia que se refere a discrepância entre a relação de trabalho, entre o salário pago e o valor do trabalho. Machado (2008, p.9) menciona que
Com efeito, tendo comprado a força de trabalho do proletário, o possuidor dos meios de produção tem o direito de consumi-la como bem entender. Se o detentor dos meios de produção determinar ao proletário uma carga horária de trabalho equivalente a 8, por exemplo, mas em apenas 6 horas (tempo de trabalho estimado como necessário) o trabalhador criar uma quantidade de produtos suficientes para cobrir as despesas com sua própria manutenção, o tempo restante (2 horas) é de „posse‟ do capitalista. Assim sendo, este período de duas horas remanescentes (tempo de trabalho estimado como „suplementar‟) servirá para o operário produzir mercadorias que o capitalista não pagará por elas. E é justamente isso que o dono dos meios de produção deseja, certo que o seu capital crescerá à custa de mão de obra quase sem remuneração. Esse produto suplementar, que não é remunerado pelo dono dos meios de produção ao operário, é a mais-valia. 
Costa (1997, p. 4) em complemento, disserta que a mais valia resulta na duração da jornada de trabalho e no cálculo que a empresa considera necessário para produzir e obter lucros sem desvalorizar o seu produto.
Uma coisa é o valor da força do trabalho, isto é, o salário, e outra é o quanto esse trabalho rende ao capitalismo. Esse valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de mais valia. O capitalismo pode obter mais valia procurando aumentar constantemente a jornada de trabalho, tal como no nosso exemplo. Essa é, segundo Marx, a mais valia absoluta. É claro, porém, que a indefinida da jornada esbarra nos limites físicos do trabalhador e na necessidade de controlar a própria quantidade de mercadorias que se produz. Pensemos numa indústria altamente mecanizada. A tecnologia aplicada faz aumentar a produtividade, isto é, as mesmas nove horas de trabalho agora produzem um número maior de mercadorias, digamos, 20 pares de sapatos. A mecanização também faz com que a qualidade dos produtos dependa menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual. O que nos esclarece que a dependência do capitalismo em relação ao desenvolvimento das técnicas de produção. Mostra, ainda, como o trabalho, sob o capital, perde todo o atrativo e faz do operário mero apêndice de máquinas (CAMPOS, 1997, P. 4).
A alienação teve início quando ocorreu a desapropriação do homem sobre seu próprio trabalho, passando a vender a sua mão de obra. Neste caso, a alienação é vista como a força de trabalho. Quando o homem passa a vender sua força, ele desapropria-se do produto, que não mais lhe servindo, passa a servir a outrem em favor do empregador. 
A alienação do trabalho desencadeia a desigualdade gerada pelo capitalismo, onde o trabalhador não lucra com suas produções através do emprego da mais valia. A mais valia pode ser também, absoluta como já supracitado, quando o empregado trabalha horas extras sem ser recompensado apenas para gerar mais lucros a empresa. Também pode ser relativa quando o trabalhador trabalha um determinado tempo, porém, com o advento das máquinas, trabalha mais do que deveria pelo aumento da produtividade que as máquinas geram. 
A mais valia pode ser também, absoluta como já supracitado, quando o empregado trabalha horas extras sem ser recompensado apenas para gerar mais lucros a empresa. Também pode ser relativa quando o trabalhador trabalha um determinado tempo, porém, com o advento das máquinas, trabalha mais do que deveria pelo aumento da produtividade que as máquinas geram.
Marx, ao discutir sobre a relação do homem com o trabalho, afirma que “antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza” (1988, p.211).
O trabalho é uma ação deliberada sobre a natureza que se realiza através de um processo de abstração, formulação de conceitos e construção de objetos que nada tem a ver com as atividades instintivas e mecânicas que realizam outros animais.
No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação na forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como Lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade (MARX, 1988, p.149-50).
Assim, pressupomos que antes de agir sobre a natureza o homem, à priori, planeja mentalmente as possibilidades de realizar essa ação, mediando e regulando a natureza.
O trabalho possui uma dimensão ontológica, (criação e produção de bens) e uma dimensão histórica (atividade orientada a um fim para produção de valores de uso).
O modo de produção expressa a materialidade ontológica, pois o que o homem produz está determinado pelo seu modo de vida e o que é produzido não se dissocia da forma como produz.
Em sua dimensão histórica, o trabalho assumiu diferentes formas, existindo uma determinação histórica na natureza do trabalho, porque:
Até as categorias mais abstratas – precisamente por causa de sua natureza abstrata – apesar de sua validade para todas as épocas, são, contudo, na determinação desta abstração, igualmente produto de condições históricas, e não possuem plena validez senão para estas condições e dentro dos limites destas (...). O desenvolvimento histórico repousa em geral sobre o fato de a última forma considerar as formas passadas como etapas que levam a seu próprio grau de desenvolvimento, e dado que ela raramente é capaz de fazer a sua própria crítica, e isso em condições bem determinadas – concebe-os sempre sob um aspecto unilateral (MARX, 1988, p.120).
Desta forma, através da produção mental anterior à realização das ações, bem como através da réplica das atividades laborais que possam garantir a existência humana através do trabalho, sendo tais características acrescidas de outros requisitos, possibilitam a formação da sociedade. Nesse cenário, contextualizam-se os fundamentos do poder na relação entre capital e trabalho, bem como o que concerne ao estudo das transformações no mundo do trabalho e, por consequência, na sociedade. Segundo Marx, através do processo de modificação do contexto econômico durante a história da humanidade, transforma-se o mundo do trabalho, criando e consolidando o modo de produção capitalista. Segundo o materialismo histórico de Marx e Engel a infraestrutura da sociedade é composta pelas relações de produção, fundamentando a estrutura econômica da sociedade bem como pela soberana estrutura jurídica e política, representada pelo Estado. Assim, concebe-se a sociedade a partir das condições materiais de produção bem como pela divisão social do trabalho.
Baseado no exposto compreende-se a dupla determinação do trabalho: ontológica, produção da vida humana, e histórica, fundamentando-se nas relações sociais de produção do trabalho escravo, do trabalho servil e, sob a hegemonia do capital do trabalho assalariado.
Na idade média, o servo dispunha de sua força de trabalho para produzir para os seus senhores em troca da própria subsistência. Assim, a partir do desenvolvimento da economia feudal houve a geração de excedentes, ativando o comércio.
Desde o marco da Revolução Francesa, evento que separa a Idade Moderna da Contemporânea, institucionaliza-se o liberalismo, traduzido pelas teorias e ideias políticas que defendiam a liberdade política e econômica, caracterizando-se a liberdade de mercado, ou seja, liberdade de iniciativa e intervenção mínima do Estado, sintetizadana frase "deixe fazer, deixe passar" ("laissez faire, laissez passer", em francês). Nesse cenário o capitalismo encontra uma área fértil para o seu célere crescimento e melhoramento. As promessas de igualdade, de liberdade e de fraternidade, que iludiram a classe operária, jamais foram alcançadas, até mesmo porque as ideias inerentes à sociedade liberal capitalista não incluíam tais objetivos. 
Alguns anos após a Revolução Francesa já são percebidos indícios da mecanização do trabalho, decorrentes da invenção da máquina a vapor e sua incorporação ao mundo fabril na produção de fios e tecidos, executando tarefas antes atribuídas à mão de obra humana, dissociando o homem do processo produtivo, acarretando, em contraponto, o aumento da produtividade. Com a Primeira Revolução Industrial, adjudica-se a força do processo de produção às máquinas. A substituição da força de trabalho humano pelas máquinas, em fases específicas da produção, permitiu a ampliação das duas formas de mais-valia, conceito fundamental da economia política marxista: a absoluta (originada nas horas não pagas durante o tempo de trabalho) e a relativa (decorrente da diminuição do tempo necessário para a execução do trabalho).
Por outro lado, com a introdução da máquina, amplia-se a visão capitalista do trabalho, haja vista a diferença entre o trabalho braçal, designado à execução, realizada pelos trabalhadores menos qualificados com o auxílio das máquinas e o intelectual, vertendo para a concepção, reservada a um menor número de indivíduos, devidamente qualificados, sendo valorizados no processo produtivo. O conhecimento do processo produtivo, com a utilização da maquinaria, ultrapassa a esfera do trabalho partindo para o âmbito do capital. Informa Gounet (1999), que a utilização das ciências para o desenvolvimento de técnicas produtivas sustentou, no início do século XX, o advento da Segunda Revolução Industrial. Tal Revolução contrapôs-se à Primeira Revolução Industrial no sentido de que esta se caracterizou pela adoção da máquina a vapor enquanto que na Segunda Revolução realizaram-se alterações técnico-científicas resultantes do conhecimento científico pelo capital.
No capitalismo sempre se registrou a pressão institucional para intensificar a produtividade do trabalho por meio da introdução de novas técnicas. (...) Com a investigação industrial de grande estilo, a ciência, a técnica e a revalorização do capital confluem num único sistema. (...) Desse modo a ciência e a técnica transformam-se na primeira força produtiva e caem assim as condições de aplicação da teoria marxiana do valor trabalho. Já não tem mais sentido computar os contributos ao capital para investimentos na investigação e no desenvolvimento sobre a base do valor da força de trabalho não qualificada (simples), se o progresso científico se tornou uma fonte independente de mais-valia frente à fonte de mais-valia que é a única tomada em consideração por Marx: a força de trabalho dos produtores imediatos tem cada vez menos importância (HABERMAS, 1987, p.72-73). 
Uma das características da sociedade capitalista é o fato de que a força de trabalho, para o próprio trabalhador, assume a forma de uma mercadoria e o seu trabalho assume-se enquanto trabalho assalariado.
Somente no século XIX criam-se movimentos sociais que passam a reivindicar a melhoria das condições trabalhistas, com o envio ao Parlamento, pelos Estados da Santa Aliança, do primeiro texto clamando pela defesa de uma ação internacional de proteção ao trabalhador. 
A dignidade do trabalho prima no princípio da proteção da dignidade do ser humano. É, conforme Nascimento (2010) um valor subjacente a numerosas regras de direito. A proibição de toda ofensa à dignidade da pessoa é questão de respeito ao ser humano, o que leva o direito positivo a protegê-la, a garanti-la e a vedar atos que podem de algum modo levar à sua violação, inclusive na esfera dos direitos sociais.
Acerca desse aspecto, Delgado (2006) afirma que no século XIX, Le Grand, um industrial francês, mobilizou parcela da população com o objetivo de lutar por melhores condições do trabalho e, também, pela adoção de normas internacionais que o regulamentassem. 
Contudo, a efetivação das normas internacionais do trabalho somente aconteceu no ano de 1919, por meio da criação da Organização Internacional do Trabalho – OIT. A OIT propõe como princípios fundamentais para reger o Direito Internacional do Trabalho:
· Assegurar as mínimas condições para o homem desenvolver o seu trabalho; 
· A liberdade de associação, conforme prevê a Convenção da OIT n° 87, em seu art. 2° “os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão direito de constituir, sem autorização prévia, organizações de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de se conformar com os estatutos da mesma”; 
· A prosperidade social que versa sobre o reconhecimento e aperfeiçoamento do ser humano no trabalho, ressaltando a busca pela paz e justiça social através do trabalho; 
· A luta conjunta contra a carência, embasada na luta de soluções para reduzir a pobreza e alcançar o bem comum. 
Salienta-se que no Brasil, ratifica-se, através do Decreto nº 41.721/57, em âmbito internacional, a Convenção nº 81 da OIT. 
O modelo taylorista/fordista, vigorou na esfera industrial ao longo do Século XX, representado através da responsabilidade de um grande número de trabalhadores executarem atividades em série destinadas ao consumo.
As ideias de Taylor foram incorporadas ao processo de trabalho, pautadas no controle e na diminuição de gastos de tempo, material e recursos humanos, pois “Taylor elevou o conceito de controle a um plano inteiramente novo quando asseverou como uma necessidade absoluta para gerência adequada a imposição ao trabalhador da maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado” (BRAVERMAN, 1987, p. 86). 
Não obstante, nos anos 1960 do século XX o esgotamento do regime de acumulação taylorista-fordista foi se engendrando e a partir da primeira metade dos anos 1970 tal esgotamento ganha materialidade, tendo como ícone a primeira grande crise internacional do petróleo que se produz a partir da superprodução e do subconsumo.
No processo de produção, em meio à modernização capitalista, ocorreram transformações estruturais que redefiniram os modos de produção, colidindo com transformações no fluxo financeiro que influenciaram tanto o mundo do trabalho quanto os hábitos de consumo, representando uma reestruturação no capital.
A década de 1970 representou um período de mudanças em diferentes campos sociais, as quais ocorreram devido ao desenvolvimento das tecnologias da comunicação e da informação. O desenvolvimento dessas tecnologias provocou a intensificação do processo de trabalho, transformando a base de produção de eletrônica para microeletrônica, repercutindo na redefinição das funções dos trabalhadores.
Antunes (2002), afirma que o sistema de produção flexível introduz a concepção do atendimento ao cliente fundamentado no padrão de qualidade, mascarando os princípios de um modelo que estimula a competição, o individualismo e a própria ideologia neoliberal.
Martins (2009), afirma que a expressão desse novo regime se apresenta embasado no modelo toyotista, que se cria objetivando o consumo de todos os tipos de bens e serviços, influenciando a cultura e a sociedade. Figura-se, portanto, um cenário conjuntural perverso, onde o Estado direciona suas ações e políticas objetivando atender aos anseios do capital. 
Contemporaneamente, observa-se que as transformações tecnológicas aceleram a dispensa de mão de obra, destruindo os postos de trabalho, ocasionando uma subproletarização intensificada (ANTUNES, 2002). O modelo de acumulação flexível foi responsável pela diminuição do número de trabalhadores, contribuindo para o retrocesso do poder sindical, pois se necessitava aumentar a produção sem repercutir no aumento do número de trabalhadores. Antunes, (2002, p. 233-235) assevera que:
Diferente do que tinha acontecidona década de 80 onde o movimento sindical dos trabalhadores no Brasil vivenciou um momento particularmente positivo e forte, que pode ser observado quando se constata que: 1) houve um enorme movimento de greves, desencadeado pelos variados segmentos de trabalhadores, como os operários industriais, os assalariados rurais, os funcionários públicos e diversos setores assalariados médios, num vasto movimento que se caracterizou pela existência de greves gerais por categoria; 2) ocorreu uma expressiva expansão do sindicalismo dos assalariados médios e do setor de serviços, como bancários, professores, médicos, funcionários públicos etc., que cresceram significativamente durante esse período e se organizaram em importantes sindicatos; 3) houve continuidade do avanço do sindicalismo rural, em ascensão desde os anos 70, permitindo uma reestruturação organizacional dos trabalhadores do campo; 4) o surgimento do nascimento das centrais sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT); 5) procurou-se, ainda que de maneira insuficiente, avançar nas tentativas de organização nos locais de trabalho; 6) e efetivou-se ainda um avanço significativo na luta pela autonomia e liberdade dos sindicatos em relação ao Estado, por meio do combate ao Imposto Sindical e à estrutura confederacional, cupulista, hierarquizada, com fortes traços corporativistas, que se constituíam em instrumentos usados pelo Estado para subordinar e atrelar os sindicatos 
Compreende-se, a partir do exposto anteriormente, que o mundo do trabalho se transforma para atender às exigências impostas pelo sistema capitalista. Assim, o trabalho é reconfigurado, precarizado e intensificado devido às novas exigências que embasam a flexibilização de suas relações. A precarização do trabalho representa o desmonte dos direitos trabalhistas que se apresenta por meio do trabalho temporário, desvalorizando o desemprego e, ao mesmo tempo, desqualificando as relações no contrato trabalhista (ANTUNES, 2002).
1.2 O direito do trabalho: um percurso histórico
À luz dos pressupostos liberais está a liberdade individual, conforme concebida pelo liberalismo clássico. Hayek explica que: “a liberdade individual pressupõe que cada indivíduo tenha assegurada uma esfera privada, que exista certo conjunto de circunstâncias no qual outros não possam interferir” (HAYEK, apud AZEVEDO, 2004, p. 11). 
A partir desses ideais liberais criam-se duas classes sociais com interesses distintos, a classe do proletariado e a capitalista. Nesse contexto de trabalho a classe que compôs o proletariado não possuía direitos trabalhistas, pois produzia durante 18 horas diárias, com salários negociáveis a partir da lei da oferta e da procura, em instalações sem condições de higiene e segurança, à mercê de acidentes de trabalho. O mais emblemático ainda foi o fato do Estado não amparar esses trabalhadores nessa situação de descaso por parte do seu empregador e, também, de não existirem Leis trabalhistas que os auxiliassem a lutar por seus direitos.
Esse fato é contraditório, pois através do registro em textos antigos é perceptível que na antiguidade existia o respeito aos direitos do trabalho, conforme observamos na Bíblia, no Livro de Jeremias, capítulo 22, versículo 13: “ai daquele que edifica a sua casa com injustiça e os seus aposentos sem direito, que se serve do serviço do seu próximo sem remunerá-lo e não lhe dá o salário do seu trabalho”. Assim, no texto bíblico encontram-se as primeiras normas sobre o direito de proteção salarial.
No Brasil, somente na década de 1930, inicia-se uma fase propícia ao trabalhador, com o então presidente Vargas aprovando uma legislação social do trabalho, além de criar o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (BIGNAMI, 2007). Vargas, por meio do Decreto nº 5.452/1943 aprova a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. 
O regime de estabilidade no emprego instituído na norma constitucional da carta magna de 1937 (art. 137, letra j) na CLT (capítulo VII - Título IV), passa a ser opção pelo trabalhador a partir da edição da Lei nº 5.107/1966 que cria o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS. Esta simultaneidade perdurou até a promulgação da Constituição de 1988, a qual extinguiu o regime de estabilidade temporal, preservou os direitos adquiridos, estabelecendo o sistema do Fundo de Garantia. 
No que concerne ao termo de rescisão do contrato de trabalho, conforme garante a CLT, art. 477, §1º: 
É assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação do respectivo contrato, e quando não haja ele dado motivo para cessação das relações de trabalho, o direito de haver do empregador uma indenização, paga na base da maior remuneração que tenha percebido na mesma empresa. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970).
§ 1º - O pedido de demissão ou recibo de quitação de rescisão, do contrato de trabalho, firmado por empregado com mais de 1 (um) ano de serviço, só será válido quando feito com a assistência do respectivo Sindicato ou perante a autoridade do Ministério do Trabalho e Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) (BRASIL, 1970).
No decorrer da historicidade da origem do direito do trabalho, algumas reformas priorizaram a competência da União em organizar o trabalho no Brasil. 
O Brasil promoveu reformas no que diz respeito à legislação que ampara o direito ao trabalho, tendo em vista o fato da Consolidação das Leis do Trabalho e, também, por ser signatário da Convenção nº 81 da Organização Internacional do Trabalho - OIT. 
Nesse limiar de direitos, as normas trabalhistas garantem melhores condições de trabalho ao trabalhador. 
Contemporaneamente, conforme consta nos fundamentos do Regulamento da Inspeção do Trabalho, esta tem por objetivo:
[...] assegurar, em todo o território nacional, a aplicação das disposições legais, incluindo as convenções internacionais ratificadas, os atos e decisões das autoridades competentes e as convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho, no que concerne à proteção dos trabalhadores no exercício da atividade laboral (BRASIL, 2002, cap. I, art. 1º).
Assim, o Decreto nº 4.552/2002 é coerente com a previsão da Consolidação das Leis do Trabalho, a qual incumbe às autoridades competentes do Ministério do Trabalho “a fiscalização do fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho” (BRASIL, 1943, art. 626). Compreende-se, então, que a fiscalização do trabalho busca efetivar as disposições legais dos imperativos de Lei com o objetivo de atuar visando conduzir a obediência aos direitos previstos.
O Poder Constituinte conferiu a possibilidade da mitigação de direitos por acordo entre sindicatos ou entre sindicatos e empregadores. Assim, por disposição constitucional, as regras de Direito do Trabalho podem sofrer restrições por acordo negocial entre associações ou entre essas e empregadores.
Pode ser citado ainda como exemplo de flexibilização o inciso XI, do artigo 7º, da Carta Magna (participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei). 
Os acordos coletivos de trabalho também foram reconhecidos pela Constituição Federal de 1988, além das convenções coletivas, conforme inciso XXVI, do mesmo artigo acima citado, observando a participação obrigatória dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho (art. 8º, inciso VI, da CF/88). 
Pode-se ainda citar outras leis em que se é possível verificar a ocorrência da flexibilização dentro do ordenamento jurídico, quais sejam: Lei n.º 5.107/66, que instituiu a Lei do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Lei n.º 6.019/74, lei do trabalho temporário e Lei n.º 9.601/98, que introduziu o contrato de trabalho por tempo determinado.
Barros (2006) ressalta o caráter protetivo da norma trabalhista a qualquer interesse de ordem econômica embora reconheça que a gênese do Direito do Trabalho, por várias razões e principalmente pelo seu conteúdo normativo, possui, sem dúvida, um sentido político-econômico refletidode forma clara não só nas leis que dispõe sobre matéria salarial, mas também naquelas disciplinadoras das licenças, dos descansos e das férias, além de outras, pois nesses períodos, a empresa necessitará de mais empregados para manter os níveis de produção.
Todavia, não obstante essa vinculação estreita com a economia, o Direito do Trabalho é motivado, essencialmente, por objetivos de ordem político-social, que visam a corrigir as diferenças, elevando o nível social da classe trabalhadora, como imposição da solidariedade, que nos torna responsáveis pela carência dos demais (BARROS, 2006, p.82).
Conforme Vecchi (2007), o trabalho não pode ser visto com uma visão predominantemente utilitarista ou econômica, pois na verdade é muito mais que isso, é o trabalho um dos pilares da sociedade, e é por meio do trabalho que a pessoa humana deve buscar a sua dignidade. Deste modo, não pode o trabalho ser maleável de forma mais agradável aos custos do empregador, e mudanças sociais como um todo.
No mesmo sentido afirma Cunha (2004) que o direito do Trabalho, ao valorizar o trabalhador e o trabalho, valoriza a sociedade como um todo.
1.2.1 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO
O direito do trabalho cumpre uma função tutelar do trabalhador, protegendo-o diante do poder econômico, para que não seja por este absorvido. Conforme Nascimento (2004), não há dúvida sobre isso, porque o direito do trabalho nasceu para dar proteção ao empregado perante o empregador. 
Com efeito, o Direito do Trabalho é a parte da ciência jurídica que possui como objeto primordial a defesa do hipossuficiente, assim considerado a parte mais fraca na relação trabalhista. Por essa razão, nenhuma normatividade, seja ela legal ou contratual pode desconsiderar o sistema jurídico e os princípios que orientam a sua prática. Até mesmo as questões econômicas não possuem o condão de desfazer a missão precípua dessa justiça especializada, assim como ao capitalismo não é dada a prerrogativa de se sobrepor aos direitos consumeristas. (SOARES, 2011).
Dentre as várias normas regulamentadoras da relação de trabalho, deve-se aplicar sempre a norma que mais favoreça o empregado. Assim, verifica-se que, em matéria trabalhista, a norma hierarquicamente superior será sempre aquele mais favorável ao trabalhador. (NASCIMENTO, 1997).
No âmbito laboral, principalmente para impedir procedimento fraudatório praticados pelo empregador no sentido de tentar mascarar o vínculo de emprego existente, ou mesmo conferir direitos menores dos que os realmente devidos tem-se o Princípio da primazia da realidade, sendo assegurado, também, no art. 9º da CLT, vindo estabelecer que os fatos prevalecem sobre a forma contratual, imperando, pois, a realidade sobre a forma (SARAIVA, 2012).
Praticamente todas as normas legais em matéria de trabalho são cogentes, imperativas. Mas sua inderrogabilidade pela vontade das partes, ou por outra fonte do direito, há de ser entendida sem perder de vista que elas traduzem um mínimo de garantias, que não pode ser negado, mas que pode, sem dúvida, ser ultrapassado: a derrogação de tais normas é admitida num sentido favorável aos trabalhadores. (MARANHAO, 2000).
O Princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, mais comumente reconhecido como irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas, nada mais é do que projeção do princípio anterior, porém, acrescido de certa qualidade, qual seja a irrenunciabilidade de direitos tanto de forma unilateral como bilateral que acarrete prejuízo ao trabalhador (DELGADO, 2011).
Este princípio se encontra confirmado no art. 9º da CLT ao dizer que serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação (SARAIVA, 2012, p. 42).
Comenta Resende (2011) que é importante que se tenha em mente que o objetivo principal do Direito do Trabalho é reequilibrar a relação jurídica capital/trabalho (empregador x empregado) mediante o estabelecimento de mecanismos de proteção à parte mais fraca na relação jurídica. 
Do Princípio da proteção pode se extrair três subprincípios, quais sejam o Princípio da norma mais favorável, Princípio da condição mais benéfica e o Princípio in dubio pro operário.
Quanto ao subprincípio da norma mais favorável, afirma Resende (2011) que, segundo este princípio, não prevalece necessariamente, no Direito do Trabalho, o critério hierárquico de aplicação das normas, ou seja, existindo duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo caso concreto, dever-se-á aplicar a que for mais favorável ao empregado, independentemente do seu posicionamento na escala hierárquica.
O subprincípio da condição mais benéfica é imposto ao longo do contrato, por meio da cláusula contratual mais vantajosa ao trabalhador, que se reveste do caráter de direito adquirido (art. 5º, XXXVI, CF/88). Ademais, comenta Delgado (2011) que, para o princípio, no contraponto entre dispositivos contratuais concorrentes, há de prevalecer aquele mais favorável ao empregado.
O terceiro e último subprincípio, o Princípio in dubio pro operário, diz que havendo uma regra com duas ou mais interpretações, deverá prevalecer a mais benéfica ao trabalhador (RESENDE, 2011.
Tal princípio, entretanto, apresenta dois problemas: o primeiro, menos grave, essencialmente prático, consiste no fato de que ele abrange dimensão temática, já acobertada por outro princípio justrabalhista específico (o da norma mais favorável). O segundo problema, muito grave, consistente no fato de que, no tocante à sua outra dimensão temática, ele entra em choque com princípio jurídico geral da essência da civilização ocidental, hoje, e do Estado Democrático de Direito: o princípio do juiz natural (DELGADO, 2011, p.205).
Entretanto pondera Saraiva (2012) que, no campo comprobatório, não se aplica o princípio in dubio pro operário, pois o Direito Processual (CLT, art. 818. CPC, art. 333) impõe ao autor a prova do fato constitutivo do direito, e, ao réu, a prova do fato modificativo, extintivo ou impeditivo do direito.
Em obediência ao Princípio da inalterabilidade contratual lesiva são, em regra, vedadas as alterações do contrato de trabalho que tragam prejuízo ao empregado. Ao contrário, as alterações favoráveis ao empregado são permitidas e inclusive incentivadas pela legislação (RESENDE, 2011).
1.3 Competências da Justiça do Trabalho
A competência para reconhecer a relação de emprego é da Justiça do Trabalho, conforme prevê o artigo nº 114 da Constituição Federal de 1988, ao referir-se ao exercício de atividade jurisdicional por esse ramo do Poder Judiciário. Conforme o art. Nº 114 compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; 
II as ações que envolvam exercício do direito de greve; 
III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; 
V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102;
VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; 
VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; 
IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. 
§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposiçõesconvencionais e legais mínimas de proteção ao trabalho.
§ 3° Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Até 2004 os processos envolvendo questões relacionadas a contrato de trabalho sem vinculo empregatício eram de competência do juízo cível, cabendo à justiça do trabalho processar e julgar apenas causas que envolvessem os contratos com vinculo. Com o advento da Emenda Constitucional 45, de 31 de dezembro de 2004cabe à justiça do trabalho também julgar todos os processos envolvendo contrato de trabalho, mesmo sem o vinculo empregatício.
No art. Nº 114 da Constituição Federal explicita-se que o Legislador constituinte alargou a competência originária da Justiça Laboral. Neste contexto, atraiu para o ramo especializado todas as ações originárias da relação de trabalho. Outrossim, uma alteração significativa se concentra no inciso VII. Assim, é fundamental analisar que a competência para organizar, manter e executar a inspeção do trabalho é, especificamente, da União, corroborado no art. Nº 21, XXIV (BRASIL, 1988), sendo que até ser promulgada a referida emenda constitucional, à Justiça Federal cabia julgar as ações nos termos do inciso I, art. Nº 109 da Constituição Feral.
CAPÍTULO II – A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS COMO MEDIDA PROTETIVA DO EMPREGO NA GLOBALIZAÇÃO
2.1 A Terceira Revolução Industrial e o Mundo do Trabalho
A chamada Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-científica Informacional tem seu marco inicial em meados dos anos 1970, alcançando seu pleno desenvolvimento no transcorrer do século XXI ocorrendo inicialmente tanto nos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia (informática, telecomunicações), como no Japão (robótica, microeletrônica) e na Europa ocidental, em particular na Alemanha (biotecnologia, química fina).
A Terceira Revolução Industrial caracteriza-se pelo predomínio de indústrias altamente sofisticadas, como as mencionadas, e que exigem muita tecnologia e maior qualificação da força de trabalho, gerando o desemprego tecnológico, comum a todas as revoluções industriais, onde as empresas passam a substituir a mão de obra humana por máquinas e computadores. Postos de trabalho são eliminados e, em diferentes ramos da economia, o trabalhador tradicional desaparece.
“Com isso, atividades antes desempenhadas por empregados dessas empresas, agora passam a ser exercidas por trabalhadores autônomos, temporários, pequenos empresários, sem as garantias e os direitos sociais e trabalhistas que antes possuíam, diminuindo os postos de emprego formais”. (SINGER, 1998, p.17).
Assim, tem-se o desemprego estrutural, aquele em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou processos produtivos mais modernos. Aquele trabalho executado por dezenas de trabalhadores agora só necessita de um operador, ou melhor, dezenas de empregos transformaram- se em apenas um. É claro que se a economia estiver aquecida será mais fácil para estes trabalhadores encontrarem outros postos de trabalho. 
2.2 A precarização das relações de trabalho num mundo globalizado
A precarização das relações de trabalho é característica observada no capitalismo contemporâneo. As garantias sociais e trabalhistas conquistadas pela classe trabalhadora durante longos anos de luta operária são desintegradas, principalmente, pela força de trabalho terceirizado. Gorz apud Singer (1998) traduz esta realidade como “flexibilidade externa” com altos índices de desemprego estrutural. A flexibilidade externa procura traduzir a gestão do pessoal o que representa o método just in time na gestão dos estoques. Trata-se de evitar estoques de mão de obra sem utilidade imediata. Procurar-se-á, pois, ajustar continuamente o nível de efetivos o mais rente possível às flutuações do mercado. Emprego estável só será assegurado a um núcleo de trabalhadores de difícil substituição em função de suas qualificações, de sua experiência e de suas responsabilidades. 
Ao redor deste núcleo estável gravitará um número variável de trabalhadores periféricos, engajados por um prazo limitado, pouco qualificados e, portanto, substituíveis. As vantagens da flexibilidade externa são evidentes no curto prazo. A empresa pode funcionar com mais flexibilidade, sem se preocupar em continuamente encher sua carteira de pedidos e, sobretudo, manter o sindicato em posição de fraqueza. É difícil organizar sindicalmente os precários, e a solidariedade entre o pessoal estável entre eles é fraca (GORZ, apud SINGER, P., 1998, p. 25-26).
Uma força de trabalho externa à organização, como a terceirização ou a subcontratação traz a vantagem de não ter representatividade sindical, garantindo-se a estabilidade do emprego apenas aos trabalhadores qualificados experientes e de difícil substituição. Faria (1999), nessa perspectiva, revela que a flexibilidade tende a ocorrer em três níveis simultâneos no mercado de trabalho:
[...] um núcleo cada vez menor de trabalhadores polivalentes estáveis, trabalhando em tempo integral com ampla ‘flexibilidade funcional’ dentro das empresas, desfrutando de direitos trabalhistas, gozando de benefícios sociais e dispondo de relativa segurança, assegurada pela dificuldade de sua substituição em face de sua qualificação, de sua experiência e de suas responsabilidades; uma mão-de-obra periférica de baixa qualificação, contratável e demissível segundo as conveniências das empresas, sem seguro-desemprego, flutuando ao acaso da conjuntura econômica (‘flexibilidade numérica’); e os trabalhadores ‘externos’ (eventuais ou temporários, pouco especializados, e contratados por tarefa), para os quais as empresas não têm maiores obrigações jurídicas (FARIA, 1999, p. 230-31).
Para Offe (1995), este quadro favorece excepcionalmente os empregadores na esfera do mercado de trabalho já que os custos sociais do desemprego são descarregados sobre os desempregados e sobre terceiros. Dessa forma, os empregadores extraem enormes vantagens do desemprego, em diversos níveis. A probabilidade constante de despedimento acarreta alterações no comportamento dos obreiros, tendo em vista que provoca alguns benefícios relacionados à produtividade, à disciplina e ao desempenho. Ao nível das negociações salariais, percebe-se uma “tendência declinante dos aumentos, que de modo geral encontram-se atualmente abaixo do índice de inflação: isto significa que quaisquer aumentos possíveis na produtividade podem ser apropriados pelos empregadores sem custos adicionais (de salários)” (OFFE, 1995, p. 116).
Segundo Antunes (2002), a diminuição do emprego formal acarreta, por sua vez, o aumento da subproletarização do trabalho que, em suas diversas espécies, tem como característica a precariedade do emprego e da remuneração; a desregulamentação das condições de trabalho e, em consequência, dos direitos sociais e trabalhistas desses trabalhadores, com um contingente expressivo é composto por mulheres. Segundo o autor:
[...] paralelamente à redução quantitativa do operariado industrial tradicional dá-se uma alteração qualitativa na forma de ser do trabalho, que de um lado impulsiona para uma maior qualificação do trabalho e, de outro, para uma maior desqualificação. [...] O avanço científico e tecnológico, a automatização,a robótica, acarretam o crescimento da dimensão mais qualificada do trabalho, pela intelectualização do trabalho social. [...] Paralelamente a esta tendência, verifica-se a desqualificação dos trabalhadores que levaram “à desespecialização do operário industrial oriundo do fordismo” que significou, antes de mais nada, o “ataque ao saber profissional dos operários qualificados, a fim de diminuir seu poder sobre a produção e aumentar a intensidade do trabalho.” E à grande massa de trabalhadores temporários, parciais, terceirizados, subcontratados e vinculados à economia informal (ANTUNES, 2002, p. 47-50):
Em determinados setores, os trabalhadores transformaram-se em operários-técnicos, com grande responsabilidade dentro da empresa, assegurando o pleno funcionamento das instalações extremamente automatizadas. Offe (1995) menciona que se está diante ”não só do alto, mas também caracteristicamente estruturado desemprego”, que afeta diferentes grupos de formas muito diversas. Diante desse contexto, os riscos inerentes ao mercado de trabalho são distribuídos de maneira muito desigual, de forma nitidamente estruturada (OFFE, 1995, p. 21), entre as diferentes categorias de trabalhadores. Assim, 
[...] o problema político do mercado de trabalho consiste não só no crescimento global da demanda pela força de trabalho, mas também (e cada vez mais) na distribuição bem equilibrada e justa dessa demanda entre as categorias da força de trabalho (potencial) afetadas pelos riscos do mercado de trabalho de maneiras muito diferentes (OFFE, 1995, p. 21).
Para Antunes (2002), tais transformações desconcentraram a classe operária, com o abismo existente entre o núcleo estável e a periferia precarizada e descartável. Tal fato reduz drasticamente o poder sindical, historicamente ligado aos empregados estáveis e hoje incapaz de aglutinar o exército de trabalhadores em seus diversos tipos como os de tempo parcial, temporários, subcontratados e os precários, pertencentes à economia informal. 
Segundo Faria (1999), o sindicalismo entra em crise apontando novas tendências como a individualização das relações de trabalho, deslocando o eixo da negociação do âmbito nacional para o local de trabalho, como demonstra o sindicalismo de envolvimento ou sindicato-casa; atuando em posição defensiva, esvaziando qualquer possibilidade de alternativa que aponte para além do capitalismo. Na mesma esteira, acredita Antunes (2002) que este quadro mascara o intento exploratório do capital sobre o trabalho, pois o esvaziamento da consciência de classe e, em decorrência, do movimento sindical, viabiliza esta estratégia.
Para Singer (1998), essa massa de trabalhadores precários no mundo globalizado, do neoliberalismo, das organizações produtivas flexíveis, facilmente é desprezada, pois é desprovido do gozo de seus direitos legais, aumentando o nível de pobreza, tanto o número de pobres quanto o aumento da miséria. Surge uma nova pobreza, a “new poor”,formada por indivíduos que pertenciam à classe média e que perderam seus empregos em razão da automação ou da divisão internacional do trabalho. O desemprego tecnológico e o desemprego estrutural elevam os índices de desemprego aberto, ou seja: a proporção de pessoas que não exercem outra atividade que a de ativamente procurar trabalho. “Estas pessoas em geral pertencem a famílias cuja subsistência está assegurada por reservas ou por outro membro, que está ocupado.” (SINGER, 1998, p. 31). Para o autor, as noções de desigualdade, de pobreza e de exclusão merecem ser esclarecidas, pois embora altamente inter-relacionadas, são distintas, sendo que:
[“...] a desigualdade refere-se principalmente à renda, consumo ou acesso a serviços e oportunidades”. Pobreza é “privação do mínimo necessário para manter a pessoa viva e saudável”. Por fim, a exclusão social “pode ser vista como uma soma de várias exclusões, habitualmente muito inter-relacionadas”. [...] “contrariamente à desigualdade e pobreza, que são situações, a exclusão social é um processo, embora captado estatisticamente pelos excluídos” (SINGER, 1998, p. 60-62). 
A grande parte dos socialmente excluídos é formada por indivíduos não inseridos nas principais fontes de renda, ou seja, aqueles que foram excluídos do modelo adotado no mercado de trabalho formal, haja vista que os de idênticas categorias de classe são obrigados a trabalhar em situações deploráveis ou em atividades sazonais ou em trabalhos praticamente clandestinos como vendedores ambulantes, lavadores e guardadores de carros, etc: 
“Eles participam não somente do assim chamado mercado de trabalho informal como produtores, mas também dos chamados assentamentos informais como moradores; o que implica a utilização de todo tipo de mercados de consumo informal, como os camelôs, atendimento informal de saúde e coisas do gênero” (SINGER, 1998, p. 64). 
Essas pessoas acabam por perder qualquer possibilidade de “manter-se em contato com o mundo” (SINGER, 1998, p. 64).
Afirma Faria (1999), que existe um perverso círculo vicioso entre integração econômica e exclusão social. As condições de vida e de trabalho são determinadas pelos processos de obtenção de ganhos econômicos e aqueles que não se inserem nesse contexto, serão retirados da sociedade no que se refere a gozo de direitos, tendo em vista que essa situação não se traduz em liberação de deveres e obrigações jurídicas. Para o autor, a ampliação dos coeficientes de desigualdade; a crescente vulnerabilização de mulheres, jovens, velhos e minorias provocada pelo desemprego aberto; a segregação e a corrosão dos mecanismos de integração e coesão sociais; a degradação ambiental, os problemas crônicos de espaço urbano e a multiplicação dos bolsões de miséria nas regiões metropolitanas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento; a violação sistemática dos direitos humanos; o aparecimento de zonas controladas pelo crime organizado; a explosão das taxas de violência, a elevação dos níveis de marginalidade e os crescentes índices de desobediência, são apenas algumas das consequências mais visíveis dessa ‘seleção biológica’ feita pelo mercado de trabalho no âmbito da economia globalizada. 
Conforme Mascaro Nascimento (2009), um dos reflexos da globalização nas relações de emprego é a redução da força laboral a níveis mais altos. Com o avanço tecnológico, somado com aumento potencial da produção, vem resultando na problemática do desemprego. Tem-se o aumento do salário em alguns setores e diminuição em outros. A remuneração liga-se com aumento da produtividade e desempenho das empresas. Também são adotadas jornadas de trabalho reduzidas para diminuir gastos.A terceirização alcançou níveis antes não conhecidos. Cria-se um problema, a exemplo das cooperativas fraudulentas, que serve para aliviar custos do trabalho sob forma de emprego.
Depreende-se, deste modo, que a exclusão social é intrínseca às características de produção própria do sistema capitalista. Lembrando-se que este modelo contribui para a deterioração das condições de trabalho, aumentadas na atualidade, pela globalização, pelo neoliberalismo e o consequente desmonte do keynesianismo, pelo incremento da produtividade com a adoção de novas tecnologias e de inovadoras técnicas produtivas. Nessa perspectiva de segmentação, de dilapidação e de exclusão social decorrentes da crescente exploração capitalista, onde os ricos tornam-se mais ricos e os pobres cada vez mais miseráveis, é necessário buscar novas perspectivas para o trabalho humano no intuito de garantir a inclusão social e, principalmente, garantir a efetiva observância do consagrado princípio da dignidade da pessoa humana.
2.3 Proteção do emprego na globalização
O neoliberalismo, apoiado na não intervenção do Estado, gera o encolhimento dos mecanismos de efetivação dos direitos sociais. Do mesmo modo, a Terceira Revolução Industrial também opera mudanças que podem ser notadas até mesmo no âmbito estatal, através da flexibilização dos direitos e do desregulamento da economia, bem como pela privatização das empresas estatais.[...] o ‘desemprego estrutural’ ocorre porque os que são vítimas da desindustrialização em geral não têm pronto acesso aos novos postos de trabalho. Estes vão sendo tipicamente ocupados por mão-de-obra feminina, muitas vezes empregada em tempo parcial, ao passo que os ex-operários moram em zonas economicamente deprimidas, são muitas vezes arrimos de família, dispõem de seguro-desemprego proporcional aos salários que ganhavam antes, geralmente mais elevados que os proporcionados pelas novas ocupações. O desemprego estrutural, causado pela globalização, é semelhante em seus efeitos ao desemprego tecnológico: ele não aumenta necessariamente o número total de pessoas sem trabalho, mas contribui para deteriorar o mercado de trabalho para quem precisa vender sua capacidade de produzir. Nesse sentido, a globalização e a Terceira Revolução Industrial se somam (SINGER,1998. P. 23).
O afastamento do Estado das relações de trabalho é inconcebível visto que é por meio da intervenção estatal que se pode garantir a intangibilidade de algumas normas, sem as quais não se pode preservar a dignidade dos trabalhadores.  
Todavia, uma racional flexibilização das normas trabalhistas usada com o único fim de manter a saúde das empresas e consequentemente a mantença dos postos de trabalho, pode ser percebida como algo positivo. Conforme Cassar (2010), a flexibilidade de normas trabalhistas de forma responsável, utilizada como medida excepcional para a manutenção ou recuperação da saúde da sociedade empresária ou empresário, é a resposta que mais harmoniza com os postulados constitucionais de valoração da dignidade da pessoa humana e como proteção ao princípio fundamental ao trabalho. A medida também ajuda a evitar uma crise social mais grave e o aumento do desemprego.
Ressalte-se, de oportuno, que flexibilizar é diferente de desregulamentar. Afirma Süssekind (2001) que a flexibilização tem por objetivo o atendimento a peculiaridades regionais, empresariais ou profissionais; a implementação de nova tecnologia ou de novos métodos de trabalho e a preservação da saúde econômica da empresa e o emprego dos respectivos empregados. 
Já a desregulamentação retira a proteção do Estado ao trabalhador, permitindo que a autonomia privada, individual ou coletiva, regule as condições do trabalho e os direitos e obrigações advindas da relação de emprego. Portanto, a desregulamentação do Direito do Trabalho que alguns autores consideram uma das formas de flexibilização, com esta não se confunde. (SÜSSEKIND ,2001, p. 52).
Martins (2009) considera a flexibilização como sendo o conjunto de regras que tem por objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem econômica, tecnológica, política ou social existente na relação entre o capital e o trabalho.
2.4 A Flexibilização das Normas Trabalhistas no Brasil
A máxima da acumulação do capital dominou sempre o pensamento capitalista, bem como os artifícios utilizados pelas classes dominantes para que seus interesses particulares sejam vistos como universais. Deste modo, o direcionamento dado às questões relativas à classe operária sempre atingiram os interesses do mundo capitalista. Os anos que se seguiram à década de 80 são palco de um processo de restauração capitalista, assentada num duplo movimento: 
1) A redefinição das bases da economia‐mundo através da reestruturação produtiva e das mudanças no mundo do trabalho; 2) A ofensiva ideia política necessária à construção da hegemonia do grande capital, evidenciada na emergência de um novo imperialismo e de uma nova fase do capitalismo, marcada pela acumulação com predomínio rentista (HARVEY, 2005,p.8)
 Considerando-se a lógica capitalista perversa de maximização da acumulação do capital, a tendência parece ser a elevação da taxa de desemprego e a acentuação da precarização das condições de trabalho, avultando uma situação de exclusão social. A contingência de estar à margem do mercado de trabalho, leva as pessoas a adentrar em uma fase de exclusão social. Aliada à pobreza e a desigualdade, a retirada do mercado de trabalho solapa as condições de vida digna e, quando as condições se sobrepõem, aumenta o grau de exclusão.
O acesso ao trabalho, nessa perspectiva, é condicionante dos demais direitos, visto que é capaz de assegurar ao trabalhador o alcance a proteção por parte do Estado no que tange ao aspecto social. Ademais, o trabalho formal se coloca como uma das principais formas de progresso a fim de ser obter a tão sonhada liberdade social. Poder-se-ia mencionar alternativas ao trabalho humano dentro da lógica capitalista. Todavia, a exclusão social faz parte desta lógica contraditória e seletiva e, dificilmente será encontrada uma solução possível para a melhoria das condições de trabalho numa sociedade que envolve interesses extremamente conflitantes, já que de um lado existem os hipossuficientes e, de outro, os detentores do poder econômico. Dessa forma, afirma-se que a dignidade da pessoa humana é um princípio constitucional, não se revestindo apenas do caráter normativo, acrescendo-lhe aspectos éticos – valorativos. 
 Sob a alegação de que as normas trabalhistas mais rigorosas trazem um aumento do desemprego o tema flexibilização tem sido cada vez mais discutido sendo percebido como sendo a adaptação das normas de trabalho em consonância com as mudanças econômicas do Brasil atual. 
Nascimento (2003) conceitua flexibilização como sendo o afastamento da rigidez de algumas leis para permitir, diante de situações que o exijam, maior dispositividade das partes para alterar ou reduzir os seus comandos.
Para Martins (2009) a flexibilização das condições de trabalho é:
Um conjunto de regras que tem por objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem econômica, tecnológica ou social existentes na relação entre o capital e o trabalho (MARTINS, 2009, p.570). 
Conforme Cassar (2010), no Brasil predominam basicamente dois tipos de flexibilização, quais sejam a legal e a sindical. A legal ocorre quando a própria lei prevê as exceções ou autoriza, em certas hipóteses, a redução de direitos. A sindical ou negociada sindicalmente acontece quando as normas coletivas autorizam a diminuição de direitos. 
Segundo Goldschmidt (2009), a flexibilização é concebida no ordenamento jurídico, principalmente no âmbito constitucional-trabalhista, mantendo-se maleável, em detrimento da rigidez legal dos direitos sociais. É possível relacionar, mesmo provisoriamente, que a flexibilização pode adaptar-se ao texto constitucional, tendo em vista os direitos sociais e às variantes do mercado de trabalho, somadas às exigências de competitividade econômica e de modernização tecnológica das empresas privadas.
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 7º,incisos VI, XIII e XIV, traz exemplos de disposições normativas trabalhistas flexibilizadas, in verbis:
Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva.
O Poder Constituinte conferiu a possibilidade da mitigação de direitos por acordo entre sindicatos ou entre sindicatos e empregadores. Assim, por disposição constitucional, as regras de Direito do Trabalho podem sofrer restrições por acordo negocial entre associações ou entre essas e empregadores.
Pode ser citado ainda como exemplo de flexibilização o inciso XI, do artigo 7º, da Carta Magna (participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei). 
Os acordos coletivos de trabalho também foram reconhecidos pela Constituição Federal de 1988,além das convenções coletivas, conforme inciso XXVI, do mesmo artigo acima citado, observando a participação obrigatória dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho (art. 8º, inciso VI, da CF/88). 
Pode-se ainda citar outras leis em que se é possível verificar a ocorrência da flexibilização dentro do ordenamento jurídico, quais sejam: Lei n.º 5.107/66, que instituiu a Lei do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Lei n.º 6.019/74, lei do trabalho temporário e Lei n.º 9.601/98, que introduziu o contrato de trabalho por tempo determinado.
Entretanto, Barros (2006) ressalta o caráter protetivo da norma trabalhista a qualquer interesse de ordem econômica embora reconheça que a gênese do Direito do Trabalho, por várias razões e principalmente pelo seu conteúdo normativo, possui, sem dúvida, um sentido político-econômico refletido de forma clara não só nas leis que dispõe sobre matéria salarial, mas também naquelas disciplinadoras das licenças, dos descansos e das férias, além de outras, pois nesses períodos, a empresa necessitará de mais empregados para manter os níveis de produção.
Todavia, não obstante essa vinculação estreita com a economia, o Direito do Trabalho é motivado, essencialmente, por objetivos de ordem político-social, que visam a corrigir as diferenças, elevando o nível social da classe trabalhadora, como imposição da solidariedade, que nos torna responsáveis pela carência dos demais (BARROS, 2006, p.82).
Conforme Vecchi (2007), o trabalho não pode ser visto com uma visão predominantemente utilitarista ou econômica, pois na verdade é muito mais que isso, é o trabalho um dos pilares da sociedade, e é por meio do trabalho que a pessoa humana deve buscar a sua dignidade. Deste modo, não pode o trabalho ser maleável de forma mais agradável aos custos do empregador, e mudanças sociais como um todo.
No mesmo sentido afirma Cunha (2004) que o direito do Trabalho, ao valorizar o trabalhador e o trabalho, valoriza a sociedade como um todo.
CAPÍTULO III – A AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS D’	E TRABALHO
3.1 Evolução histórica dos contratos
O homem primitivo desconhecia o direito de propriedade, razão que fez com que cada indivíduo ou cada grupo se valessem do único direito que conheciam: o direito da força. 
Assim, conforme Jefferson Daibert (1995) o homem fez-se destoar dos outros de sua espécie pela força, astúcia e destreza, para se isolar ou se agrupar e assim manter o poder sobre os demais, sem se importar e sem atender à consciência e ao mínimo que se entendesse de justiça. 
Num segundo momento o homem percebeu que o uso da força nem sempre era a melhor solução e assim, conforme Arnaldo Rizzardo (2004) começou a fazer uso da troca de produtos numa espécie ou princípio de contrato para a época.
Não foi em Roma que se forjaram primeiramente os contratos, embora seja a principal fonte histórica do direito ocidental. Relata Arnaldo Rizzardo (2004) que os Hebreus conheciam o instituto do contrato antes da fundação de Roma. No antigo Egito, conheciam-se formas rudimentares de contratos, uns disciplinando o casamento, exigindo a sua inscrição no registro público, para estabelecer a filiação; outros, relativos a translação da propriedade e que se complementavam em três atos equivalentes à venda, ao juramento e a tradição. Na Grécia, onde predominavam as artes e as letras, o direito não teve grande resplendor, porém conheciam-se, desde os primórdios das cidades-estados Esparta e Atenas, formas rudes de relações jurídicas, especialmente ligadas ao casamento e aos bens materiais, não raramente inspiradas em práticas rituais.Entretanto, foi em Roma que sua sistematização jurídica tornou-se mais nítida. 
Conforme Marques (1995), os romanos empregavam o termo “convenção” (pacto convenctio), com significado amplo de contrato, considerando-a o gênero, eis que abarcava toda a espécie de acordo de vontade, quer resultassem ou não de acordo de vontades, quer resultassem ou não de obrigações; e o termo “contrato” (contractus), que aparecia como espécie e era a relação jurídica constituída por obrigações exigíveis mediante ações cíveis. A conventio abrangia os contratos propriamente ditos, ou as relações previstas e reconhecidas no direito civil, com força obrigatória, e os pactos comuns, não previstos pelo direito civil, e despidos de força e do amparo de urna ação.
No Direito Romano Pós-clássico foi conferida a alguns pactos mais utilizados a proteção via actio. São contratos como a compra e venda, locação, mandato e sociedade. Essa categoria de contratos passou a ser denominada contratus solo consensu, já que não requeriam formalidade bastando a declaração de vontade das partes. 
Os demais contratos que não estavam previstos nas categorias de Litteris, Verbis, Re e Solo Consensu, não eram considerados contratos, já que não produziriam uma obrigação civil, apenas uma obrigação natural.
Comenta Enzo Roppo (2009) que o Direito Medieval sofreu forte influência do Direito Canônico, Romano e Germânico costumeiro e assim apresentava parte do formalismo do Direito Romano. Com o crescimento da economia mercantil esse formalismo contratual passou a ser um entrave para as contratações, que pretendiam ser cada vez mais rápidas. Tornou-se, assim, comum, no instrumento contratual, constar que as fórmulas foram cumpridas, mesmo que, na prática, não fossem realizadas. Além disso, era comum, ao se celebrar um contrato, fazer um juramento com motivos religiosos para dar força àquele contrato.
Segundo Fernando Noronha (1994) a Europa no Século XVII passava por transformações políticas e econômicas com a Revolução Industrial, que para alguns doutrinadores foi o início ou fortalecimento do capitalismo pela sua progressiva concentração industrial e comercial. Na era pós-Segunda Guerra Mundial acentua-se a massificação dos contratos, quando ainda prevalecia como norte da obrigação contratual o princípio da autonomia de vontade, que tinha o valor de regra imutável entre as partes.
Afirma Silvio Rodrigues (2002) que a única interpretação aceita na época da teoria clássica para a revisão dos contratos, ou mesmo o único motivo para interferência pública na esfera da liberdade privada das partes em negociação, era aquela que pudesse corrigir os vícios decorrentes dos equívocos e defeitos da manifestação subjetiva, conforme ensina Maria Helena Diniz:
A interpretação do ato negocial situa-se na seara do conteúdo da declaração volitiva, pois o intérprete do sentido negocial não deve ater-se, unicamente, à exegese do negócio jurídico, ou seja, ao exame gramatical de seus termos, mas sim em fixar a vontade, procurando suas conseqüências jurídicas, indagando sua intenção, sem se vincular, estritamente, ao teor linguístico do ato negocial. Caberá, então, ao intérprete investigar qual a real intenção dos contratantes, pois sua declaração apenas terá significação quando lhes traduzir a vontade realmente existente. O que importa é a vontade real e não a declarada; daí a importância de se desvendar a intenção consubstanciada na declaração. (DINIZ, 2005, p.124)
Todavia, conforme Rodolfo Pamplona Filho (2005) a solidificação da função social do contrato fortalecida ou até mesmo desenvolvida através do estado social de direito, fez com que a autonomia de vontade sofresse alguns condicionamentos, para não ser mais absoluta e assim causar desequilíbrio econômico entre as partes.
Assim, percebe-se que a autonomia da vontade não é mais absoluta, devendo ser aplicada conjuntamente com os demais princípios bem como com a função social do contrato. O contrato, tal qual o entendemos hoje, é fruto do jusnaturalismo e do nascimento do capitalismo. 
Carlos Roberto Gonçalves (2006) define contrato como uma espécie de negócio jurídico, que por si só não transfere a propriedade, mas sendo o negócio jurídico uma categoria mais ampla serve de veículo de transferência. Esse modelo alemão foi adotado em nosso Código de 1916 e mantido até hoje.
Na interessante definição de Pablo Stolze (2006), é um negócio jurídico por meio do qual as partes,

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