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As distintas concepções acerca dos conceitos de alfabetização Bruna Pereira Alves* Resumo: O processo de alfabetização é contínuo, ele não se restringe à aprendizagem da leitura e escrita, ele é muito mais amplo. Tem-se buscado conceitos diversos sobre alfabetização, já que este termo tem se modificado com o passar dos anos. Ela pode ser compreendida como o aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação, sendo definida como um processo que não se resume apenas à aquisição das habilidades mecânicas do ato de ler, mas da capacidade de interpretar, compreender, criticar e produzir conhecimento. Além disso, venho escrever este artigo para levantar a importância do processo de alfabetização ser coerente, que respeite as diferenças dos alunos em suas dificuldades de aprendizagem, compreendendo ainda, que estaremos sempre nos alfabetizando, sempre adquirindo novos conhecimentos, desvendando e descobrindo coisas e, que a alfabetização dos alunos continuará por toda a vida. Palavras-chave: Alfabetização, conceitos, processo. The different conceptions about the concepts of literacy Abstract: The process of literacy is continuous, it is not restricted to the learning of reading and writing, it is much broader. It has been searched several concepts about literacy, since this term has been modified over the years. It can be understood as learning the alphabet and their use as a code of communication, defined as a process that is not simply the acquisition of the mechanical skills of the act of reading, but the ability to interpret, understand, criticize and produce knowledge. Furthermore, I write this article to raise the importance of the literacy process be consistent, respecting the differences of students in their learning difficulties, including yet, we were always in literate, when acquiring new knowledge, uncovering and discovering things, and that the literacy of students will continue throughout life. Key words: Literacy, concepts, processes. Hoje, sabe-se que o processo de aprendizagem é contínuo e nos acompanha sempre, da infância à velhice. Assim também ocorre com o processo de alfabetização, sendo este, considerado um processo permanente, que não se restringe à aprendizagem da leitura e da escrita e que tem forte influência na vida social das pessoas. Geralmente discute-se muito sobre educação, sobre alfabetização e sua importância para as pessoas e para o país. Porém, se observarmos os investimentos que o Brasil faz, perceberemos que ele cresce muito a cada dia em tecnologia, em produção, em exportações, mas em proporções muito menores, em educação. Nosso país é rico em diversos recursos, mas boa parte de sua população vive em condições precárias e recebem uma educação de baixa qualidade. Além disso, é muito comum escutarmos que o ensino das escolas públicas é inferior se comparado às escolas particulares. Mas por que isso acontece? Essa é uma pergunta complicada de ser respondida, já que sabe-se que os recursos que deveriam ser usados na qualificação da educação ofertada nas escolas públicas geralmente não chegam a elas. Com isso, os alunos das classes sociais mais baixas, que não têm condições de freqüentar uma * Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria. Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar – Nº 17 – dez.2008/jan./fev./mar. 2009 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178 37 escola “melhor” acabam enfrentando as mesmas dificuldades que seus pais enfrentaram, sem maiores oportunidades. Pensando assim, na importância do processo da educação e do processo de alfabetização no desenvolvimento do cidadão, é necessário compreendermos o que realmente significa alfabetização, considerando ainda que ela depende das características culturais, econômicas e tecnológicas em que cada sujeito vive, devendo ser levadas em consideração cada uma destas características como fator relevante e diferencial na aprendizagem pessoal do aluno. Tem-se buscado conceitos diversos sobre alfabetização, já que este termo tem se modificado com o passar dos anos. No Brasil hoje, por exemplo, é considerado alfabetizado (letrado) aquele que é capaz de localizar, compreender e usar informações fornecidas por diferentes tipos de textos; já em outros lugares, saber assinar o nome já significa estar alfabetizado. Com base nestas declarações, reafirma-se assim, a idéia de que há diferentes conceitos de alfabetismo, dependendo das necessidades e condições sociais presentes em cada momento histórico, em cada grupo ou cultura. Referencial teórico Durante muitos anos na história do Brasil, poucas crianças conseguiam ler e escrever. Na década de 40, menos de 50% das crianças brasileiras conseguiam passar da 1ª série, ou seja, não conseguiam ler e escrever (SOARES, 2003). Com o passar do tempo, a história foi aos poucos se modificando, mas ainda enfrentamos diversos problemas na educação, diversos problemas com a alfabetização. As causas do "fracasso" da alfabetização são vistas de acordo com perspectivas diferentes do processo de alfabetização a partir de diferentes áreas. Cada uma destas perspectivas parte de pontos distintos e buscam a explicação para o problema ora no aluno, ora no professor, ora no contexto cultural, ora no método, na escola, no material didático, ou no próprio código escrito. Considerando a importância da alfabetização e seus distintos significados ao longo dos tempos, é relevante considerar os aspectos que a cercam e seus diversos conceitos, assim como, as significações que a envolvem. Geralmente, quando falamos de alfabetização surgem dúvidas sobre o analfabetismo, este, é um grave problema na maioria dos paises subdesenvolvidos, comprometendo o exercício pleno da cidadania e o desenvolvimento sócio-econômico do país, sendo visto por algum tempo como fator de inferioridade da pessoa analfabeta em relação às demais. Segundo Mortatti, (...) o analfabetismo foi-se constituindo, especialmente ao longo do século XX, como um problema não apenas político, mas também social, cultural e econômico, acentuando-se as atitudes de discriminação e marginalização em relação ao analfabeto, sob o argumento que ele era incapaz (MORTATTI, 200-. p. 17). Lagos (1990, p. 16) traz um conceito de Magda Soares sobre analfabeto, ela diz que: "Analfabeto é aquele que não usufrui do mundo da escrita, por não ter as habilidades ou por tê-las, mas não usá-las, por não poder ou não querer fazê-lo". Assim, é papel do professor proporcionar ao aluno possibilidades de adquirir essas habilidades e incentivá-lo a querer usá-las, pois somente assim, a alfabetização acontecerá de verdade. Segundo a Unesco, analfabeta é a pessoa acima de 15 anos que não sabe ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Além disso, considera que: Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar – Nº 17 – dez.2008/jan./fev./mar. 2009 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178 38 (...) uma pessoa funcionalmente analfabeta é aquela que não pode participar de todas as atividades nas quais a alfabetização é requerida para uma atuação eficaz em seu grupo e comunidade, e que lhe permitem, também, continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo a serviço de seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento de sua comunidade. (WIKIPÉDIA) Além do conceito de analfabeto, é necessário que se compreenda ainda, o conceito de analfabetos funcionais. Eles são pessoas que mesmo tendo aprendido a decodificar minimamente a escrita, geralmente dominam apenas frases curtas e não desenvolveram a habilidade de interpretação. Com base nestes conceitos de analfabeto e analfabetismo funcional, o que podemos concluir que é ser alfabetizado? O que é alfabetização? Soares (2003, p. 15), diz que alfabetização é "em seu sentido próprio, específico: processo de aquisição do códigoescrito, das habilidades de leitura e escrita." Além disso, afirma que "a alfabetização é um processo de representação de fonemas em grafemas, e vice- versa, mas é também um processo de compreensão/expressão de significados por meio do código escrito" (Soares, 2003, p. 16). Assim, é preciso reconhecer a alfabetização como necessária, como processo sistemático de ensino e não só, de aprendizagem da escrita alfabética. Na Conferência Internacional de EJA, a UNESCO diz que a alfabetização passa ser concebida como: ...conhecimento básico, necessário a todos num mundo em transformação; em sentido amplo, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. Existem milhões de pessoas, a maioria mulheres, que não têm a oportunidade de aprender (...) a Alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser requisito básico para a educação continuada durante a vida (UNESCO, 1999, p. 23). Pode-se considerar então, a alfabetização como o aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação, sendo definida como um processo no qual o sujeito constrói a gramática e suas variações, não se resumindo apenas à aquisição das habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas da capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve ainda o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral, promovendo a socialização dos sujeitos, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com outros, acesso a bens culturais e a facilidades oferecidas pelas instituições sociais. A alfabetização é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo. Soares (2003), afirma que: (...) uma teoria coerente da alfabetização deverá basear-se em um conceito desse processo suficientemente abrangente para incluir a abordagem "mecânica" do ler/escrever, o enfoque da língua escrita como um meio de expressão/compreensão, com especificidade e autonomia em relação à língua oral, e, ainda, os determinantes sociais das funções da aprendizagem da língua escrita (SOARES, 2003, p. 18). Pensando no código escrito, percebe-se então, que seu processo de descoberta pela criança letrada é mediado pelas significações que os diversos tipos de discursos têm para ela, ampliando seu campo de leitura através da alfabetização. Antigamente, acreditava-se que a criança era iniciada no mundo da leitura somente ao ser alfabetizada, sem levar em conta toda a experiência com leitura que ela tem, antes mesmo de ser capaz de ler os signos escritos. Por exemplo, quando alguém lê uma história para a criança e vai mostrando-lhe o Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar – Nº 17 – dez.2008/jan./fev./mar. 2009 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178 39 livro, ela vai tomando conhecimento do código escrito, mesmo sem saber decodificá-lo. Portanto, a criança deve, aos poucos, ir tendo contato com materiais escritos, para, ao chegar à escola, ir sendo orientada para se apropriar do sistema de escrita. Considerações finais A alfabetização é um processo de natureza complexa e está cercada por sentidos diversos e distintos. Assim, é papel do professor perceber que qualquer sistema de comunicação escrita é profundamente marcado por atitudes e valores culturais, pelo contexto social e econômico em que é usado, sendo diferente em cada contexto e, que em decorrência destes contextos distintos, cada aluno tem seu tempo para aprender, para se alfabetizar, que deve ser respeitado pelo professor. O professor deve levar em consideração todas as concepções que envolvem o processo da alfabetização, para que assim, seja possível concretizar-se uma teoria coerente de aprendizagem, que não culpe o professor ou o aluno, nem os métodos, nem o contexto cultural e nem o código escrito por não ter sido bem sucedida; mas que trabalhe para que se ponha em prática um processo de alfabetização de qualidade para o aluno, buscando sempre superar os problemas e dificuldades pelos quais os alunos passam, objetivando também, proporcionar uma educação mais prazerosa. Além disso, é importante não esquecermos também, de que o processo de aprendizagem da leitura e da escrita exige planejamento de quem ensina, levando em consideração a diversidade e a seqüência das atividades de aprendizagem. Além do mais, é importante considerar as experiências que a criança teve ou não em relação à leitura e à escrita, incluindo os critérios que definem estar alfabetizado no contexto daquela cultura. Enfim, acrescento que não é somente o professor que tem papel essencial no processo de alfabetização, é também dever do Estado proporcionar, através da educação, o acesso de todos os cidadãos ao direito de aprender a ler e a escrever, possibilitando assim, o direito à aprendizagem como uma das formas de inclusão social, cultural e política, construindo a democracia e possibilitando a todos, maiores oportunidades de vida e, maior qualidade na educação. Referências BORGES, Liana. O conceito de alfabetização no Brasil e no mundo. In: FARIA, Dóris Santos de (org.) Alfabetização: práticas e reflexões. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. LAGOS, Ana. Afinal, o que é alfabetizar? Nova Escola, [S.l]: Ago. 1990. p. 12-17. MORATATTI, Maria do R. L. Analfabetismo, alfabetização, escola e educação. In: Educação e letramento. [S.l]: [s.n.], [200-]. p. 15-27. SOARES, Magda. As muitas facetas da alfabetização. In: Alfabetização e letramento. São Paulo: Contextos, 2003. p. 13-25. UNESCO. Conferência Internacional de EJA. Alemanha, Hamburgo, 1999. WIKIPÉDIA, Enciclopédia livre. Alfabetização. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetiza>. Acesso em: 20 out. 2007.
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