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AP Ind Retenção salário Rosangela x BB - Copia

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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de São Bernardo do Campo – SP.
Processo n. 1024181-15.2017.8.26.0564
(Ação Indenizatória)
ROSANGELA MARIA BORGHI FRANCO, devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, que promove em face de BANCO DO BRASIL S/A, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por sua advogada que esta subscreve, inconformada com a sentença proferida às fls. 77/79, interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, pelas razões inclusas, requerendo o seu recebimento, processamento e posterior remessa à Superior Instância.
Termos em que,
pede deferimento.
São Bernardo do Campo, 30 de novembro de 2017.
ANA LÚCIA FREDERICO DAMACENO
OAB/SP 169.165
Apelante :
Rosangela Maria Borghi Franco
Apelada : 
Banco do Brasil S/A
RAZÕES DE APELAÇÃO
Eméritos Julgadores:
Trata-se de pedido de indenização por danos materiais e morais suportados pela apelante, ante a retenção integral de seus proventos salariais realizado pelo apelado. 
A r. sentença monocrática julgou parcialmente procedente a presente ação, permitindo a retenção de 30% (trinta por cento) de seus proventos salariais, aduzindo em síntese, ser permitido ao apelado a apropriação de seus depósitos para cobrar-lhe débitos, e nessa linha, julgou improcedente o pedido de restituição dos valores debitados, uma vez que existentes as dívidas da apelante, e também o pedido de dano moral.
Contra essa r. decisão, insurge-se a apelante.
· Da impossibilidade de retenção dos proventos salariais da apelante 
O apelado inadvertidamente reteve integralmente os proventos salariais da apelante.
Através da concessão parcial da tutela antecipada pretendida, confirmada pela r. sentença monocrática, foi concedido ao apelado a retenção de 30% (trinta por cento) dos proventos salariais da apelante, em incontestável afronta ao artigo 833, IV do Código de Processo Civil, que assim dita: 
Art. 833. São impenhoráveis:
(...);
IV – os vencimentos, os subsídios, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o parágrafo 2º;
(...) – grifos nossos
Assim, tem-se que o salário da apelante não pode sofrer retenções, porquanto impenhorável.
O entendimento pacificado em nossos Tribunais socorre o direito da apelante: 
“CONTRATO BANCÁRIO - Mútuo - Ainda que haja cláusula no contrato firmado entre as partes autorizando descontos em conta corrente, tal cláusula se caracteriza como abusiva, pois coloca o consumidor em desvantagem exagerada - Desconto automático que permite ao banco forma privilegiada de cobrança - O banco deve utilizar-se das vias ordinárias para cobrança do seu crédito, não se admitindo a apropriação de valores da conta por mera conveniência e comodidade. RECURSO NÃO PROVIDO.”
(TJSP – AP. n. 1031046-28.2016.8.26.0196 – 21ª C. Dir. Privado – Rel. Des. Renato Rangel Desinano – j. 20.09.2017). – grifos nossos
“TUTELA ANTECIPADA – Ação de revisão de contratos bancários – Pretensão de que se abstenha o réu de debitar automaticamente na conta corrente da autora os valores dos débitos referentes ao contrato em discussão – Cabimento – Impenhorabilidade de salário configurada, nos termos do artigo 649, IV, do Código de Processo Civil – Autorização dos descontos em folha ou na conta corrente de recebimento de salário que se opera enquanto assim concordar o mutuário – Antecipação de tutela deferida também nesse ponto – Recurso provido”
(TJSP - Agravo de Instrumento n. 7.101.201-0 – Campinas – 23ª Cam. Dir. Privado – Rel. Des. Oséas Davi Viana – 25.10.2006 – v.u. – V. 8372). – grifos nossos
“CONTRATO – Prestação de serviços – Abertura de crédito em conta corrente – Cheque depositado na conta corrente do beneficiário e devolvido após ter sido liberado o valor nele constante – Situação que gerou débito e, consequentemente encargos – Retenção da aposentadoria do correntista para amortização do débito – Descabimento – Crédito do mútuo dado em caução, que não se sobrepõe ao crédito de natureza salarial – Incidência dos arts. 649, IV, do Código de Processo Civil, e 71 do Código de Defesa do Consumidor – Créditos que, ademais, tem natureza e índole diversas – Compensação inadmissível – Liminar cautelar mantida.”
(1º TACSP – AI n. 1.021.136-6 – Rel. Oseás Davi Viana – j. 29.08.2001) – grifos nossos
Consoante maciço posicionamento jurisprudencial, mesmo que houvesse cláusula contratual expressa, como aduzido pelo SAC do apelado, essa não teria o condão de se sobrepor à garantia constitucional, tampouco às regras e normas respectivas. 
Competiria ao apelado se socorrer de meios apropriados para efetuar a cobrança e receber seu suposto crédito, obedecendo assim, o devido processo legal.
Assim, o apelado, em hipótese alguma, poderia reter os vencimentos de natureza alimentar da apelante, por meio do exercício arbitrário de suas supostas razões, porquanto a r. sentença monocrática deverá ser reformada. 
· Da pertinente indenização dos danos materiais e morais suportados pela apelante
Os danos materiais suportados pela apelante devem ser reparados, uma vez que decorrentes da retenção irregular de seus proventos salariais. 
Assim, cabe ao apelado a restituição dos valores indevidamente debitados da conta salário da apelante, insuscetíveis para o pagamento de dívidas.
O dano moral suportado pela apelante também é devido.
Isto porque, o apelante reteve integralidade de sua verba alimentar, presumindo ofensa anormal ao atributo da personalidade, pelo sofrimento e preocupação causados a apelante com a subtração integral de seus meios de subsistência.
Nesse sentido, o entendimento pacificado em nossos Tribunais, socorre o direito da autora, senão, vejamos:
“AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO POR DANMOS MORAIS E MATERIAIS – Portabilidade de conta – Instituição financeira que deveria enviar todo o seu numerário para outra instituição, mas fazia a retenção de parte do dinheiro para pagamento de empréstimo – Razoabilidade – Banco, todavia, que reteve integralmente o 13º salário do autor – Inexistência de provas hábeis a justificar a legalidade da retenção – Precedentes – Devolução do valor retido que é medida que se impõe. Danos morais caracterizados – Verba indenizatória fixada adequadamente, atendendo aos princípios da moderação, e proporcionalidade – Sentença mantida – Inteligência do art. 252, do RITSP – Recurso não provido.”
(TJSP – Ap. n. 1119719-28.2015.8.26.0100 – 14ª C. Dir. Privado – Rel. Des. Ligia Araújo Bisogni – vu – j. 14.09.2016).
“CONTRATO BANCÁRIO – Empréstimo – Descontos em conta corrente – Retenção integral de salários – Sentença que reconheceu ilegais os descontos na conta corrente da autora e fixou indenização por danos morais no importe de R$ 10.000,00 – Insurgência do banco réu – Ainda que haja cláusula autorizando o desconto, esta se caracteriza como abusiva, pois coloca o consumidor em desvantagem exagerada- Desconto automático que permite ao banco forma privilegiada de cobrança – Inadmissibilidade – O banco deve utilizar-se das vias ordinárias para cobrança do seu crédito, não se admitindo a apropriação de valores da conta em que o cliente recebe seu salário por mera conveniência e comodidade – Dano moral configurado – Indenização mantida por ponderada – RECURSO NÃO PROVIDO.”
(TJSP – Ap. n. 3000262-11.2013.8.26.0464 – 11ª C. Dir. Privado – Rel. Des. Renato Rangel Desinano – v.u. – j. 12.11.2015). – grifos nossos
“EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. RETENÇÃO DE SALÁRIO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. AUTORIZAÇÃO NA CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. ILEGALIDADE. POSSIBILIDADE DE REVISÃO CONTRATUAL. IMPOSSIBILIDADE QUALQUER RETENÇÃO DE SALÁRIO. DANOS MORAIS. PRECEDENTES DOSTJ. ARBITRAMENTO. RAZOABILIDADE. 
(...)
2. É cabível a indenização por danos morais contra instituição bancária pela retenção integral de salário do correntista para cobrir saldo devedor da conta-corrente, mormente por ser confiado o salário ao banco em depósito pelo empregador, já que o pagamento de dívida de empréstimo obtém-se via ação judicial (art. 649, IV, CPC). 3. Não se trata, pois, daqueles empréstimos oferecidos por "consignação em folha de pagamento" nos quais a parte consente com os descontos incidentes em seu salário, mas de crédito pessoal sem tal "garantia", sendo impossível, portanto, a retenção de qualquer percentual dos valores dos salários para abatimento da dívida. 
(TJSP - Apelação Cível n. 1.0194.12.000309-1/001, Relator (a): Des.(a) Cabral da Silva, 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/02/2013, publicação da súmula em 07/03/2013) 
Segundo ministra do STJ Nancy Andrighi no julgamento do REsp 1021578, os bancos não podem reter o salário do cliente de forma extrajudicial, sendo que, ocorrendo a retenção do salário tão logo depositados na conta do correntista, faz juz à reparação dos danos morais sofridos.
Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: DIREITO BANCÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. CONTA-CORRENTE. SALDO DEVEDOR. SALÁRIO. RETENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO.- (...) Não é lícito ao banco valer-se do salário do correntista, que lhe é confiado em depósito, pelo empregador, para cobrir saldo devedor de conta-corrente. Cabe-lhe obter o pagamento da dívida em ação judicial. Se nem mesmo ao Judiciário é lícito penhorar salários, não será a instituição privada autorizada a fazê-lo. - Ainda que expressamente ajustada, a retenção integral do salário de correntista com o propósito de honrar débito deste com a instituição bancária enseja a reparação moral. Precedentes. Recurso Especial provido. 
(REsp 1021578/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/12/2008, DJe 18/06/2009) – grifos nossos
Verifica-se que a apropriação integral do salário da apelante coloca em xeque sua sobrevivência e de seus familiares, sujeitando-os a condição indigna de vida.
Assim, resta evidente a responsabilidade do apelado na reparação dos danos morais sofridos pela apelante.
Pelo que restou demonstrado, a r. sentença monocrática deve ser modificada in totum, para determinar a abstenção do apelado em reter qualquer valor da conta salário da apelante, condenando a apelado a restituição de todos os valores subtraídos de sua conta bancária, sem prejuízo do pagamento de indenização pelos danos morais suportados pela apelante.
Diante a todo o exposto, requer e aguarda seja o presente recurso conhecido e provido, reformando a r. sentença monocrática de fls. 77/79, para o fim determinar a abstenção do apelado em reter qualquer valor da conta salário da apelante, condenando a apelado a restituição de todos os valores subtraídos de sua conta bancária, sem prejuízo do pagamento de indenização pelos danos morais suportados pela apelante, invertendo o ônus sucumbencial, por ser medida da mais pura e cristalina JUSTIÇA! 
São Bernardo do Campo, 30 de novembro de 2017.
ANA LÚCIA FREDERICO DAMACENO
OAB/SP 169.165
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