Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA REGIONAL BANCÁRIA DA COMARCA DE BLUMENAU – SC FULANA, brasileira, RG nº xx, CPF nº xx, residente e domiciliado à rua xx, por intermédio de seus procuradores, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO DECLARATÓRIA NULIDADE DE CONTRATO BANCÁRIO C/C CONVERSÃO EM AVENÇA DE MÚTUO CONSIGNADO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face de BANCO OLE BONSUCESSO CONSIGNADO S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n°- 71.371.686/0001-75, com sede à Rua Alvarenga Peixoto, n° 974, 8º andar, Santo Agostinho, Belo Horizonte/MG, CEP 30.180-120, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor a seguir: I - DOS FATOS A parte autora, na qualidade de aposentada, celebrou alguns contratos de empréstimos consignados, sendo a requerida uma das instituições cujo contrai tal obrigação. Ocorre que, quando formalizado o contrato, autorizando o desconto dos valores pela requerida, a autora acreditando que estava por realiza, como de costume, a contratação de outro empréstimo (mútuo) consignado, diante quando lhe apresentado inúmeros descontos e variação dos valores das prestações está não vislumbrou de pronto a ilegalidade da cobrança, passando-se a quitação de inúmeras parcelas até verificar que fora induzida a contratar algo que não objetivava, tratando-se de suposto “cartão de crédito consignado”. EMENTA • Hipossuficiência técnica e financeira do cliente. • Violação do dever de informação e prática abusiva. • Vício de consentimento pela oferta de serviço diversa das condições que constam escrito no contrato de adesão (letras pequenas, informações confusas). • Contrato de empréstimo consignado pessoal tranformado ilegalmente pelo banco em contrato de cartão de crédito, com reserva de margem consignável. • Cartão não solicitado e nem utilizado. • Desfazimento do negócio e reparação moral. INFORMAÇÕES RELEVANTES Tutela de Urgência Preferência tramitação – Idoso Desinteresse em audiência Contrato: xxx Banco: xxx Data da inclusão: xxx 2 Essa modalidade de empréstimo, funciona da seguinte maneira: o banco credita na conta bancária do requerente ─ antes mesmo do desbloqueio do aludido cartão e sem que seja necessária a sua utilização ─ o valor solicitado, e o pagamento integral é enviado no mês seguinte sob a forma de fatura. Se o requerente pagar integralmente o valor contraído, nada mais será devido. Não o fazendo, porém, como é de se esperar, será descontado em folha apenas o VALOR MÍNIMO desta fatura e, sobre a diferença, incidem encargos rotativos, evidentemente abusivos. Desde modo, o valor a ser pago no mês seguinte ao da obtenção do empréstimo é o valor TOTAL da fatura, isto é, o valor total obtido de empréstimo, acrescido dos encargos e juros. Esse pagamento deve ocorrer por duas vias: o mínimo pela consignação (desconto em folha) e o restante por meio de fatura impressa enviada à residência do consumidor com valor integral. Como dificilmente aquele que busca empréstimo consignado ─ como é o caso do Autor ─ tem condições de adimplir o valor total já no mês seguinte, incidirão em todos os meses subsequentes juros elevados sobre o valor não adimplido. Além disso, o desconto via consignação leva o cliente a ilusão de que o empréstimo está sendo adequadamente quitado. Em verdade, o cartão de crédito (plástico) contratado, muitas vezes, nem chega a ser encaminhado para o endereço do consumidor, tampouco as faturas ou informações detalhadas do débito. Ademais, a autora nunca, sequer, utilizou o aludido cartão magnético, posto que sua pretensão sempre foi pleitear perante à requerida certa soma em dinheiro, a título de mútuo, e não “cartão de crédito consignado” para uso cotidiano, como são esses cartões. Mas, entretanto, a requerida de maneira ilegal, quando realiza o desconto dos valores em sua conta bancária, realiza um “abatimento” de encargos moratórios, posto que não utilizado o cartão não há que se falar em outro tipo de cobrança, sendo que o valor principal disponibilizado não entra nesta amortização, criando uma obrigação eterna. Assim, por meio de tal artifício, a requerida impõe perpetuamente uma obrigação, porquanto não há pagamento do valor principal da dívida e, que ainda não bastasse tal conduta, o cálculo de pagamento dos juros são muito superiores do constante no contrato de mútuo consignado, haja vista utiliza os juros de cartões de crédito, impondo ainda mais prejuízos a autora. Por tais razões, contra a conduta abusiva perpetrada pela requerida, não há alternativa senão o ajuizamento da presente questio para dirimir e tutelar o direito da autora, declarando-se as nulidades dos contratos celebrados entre as partes, cujo se amoldam à situação ora posta, consoante seu direito e, por medida de imperiosa justiça! II - DO DIREITO II. a - PREAMBULARMENTE 3 II.a.1 - DA JUSTIÇA GRATUITA Pugna a parte autora seja deferido em seu favor os benefícios da Justiça Gratuita, ficando eximida ao pagamento de custas processuais e honorários de advogado, eis que preenche todos os requisitos previstos no art. 98 do CPC. Para fins de concessão de tal benesse, vale gizar que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por meio de seus julgados, extrai que há a possibilidade de adoção dos mesmos critérios utilizados pela Defensoria do Estado de Santa Catarina, vejamos: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. JUSTIÇA GRATUITA. DEFERIMENTO. ELEMENTOS DE CONVICÇÃO QUE DEMONSTRAM A IMPOSSIBILIDADE DE ARCAR COM AS DESPESAS PROCESSUAIS. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS UTILIZADOS PELA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. No âmbito deste Tribunal, (...), utilizam-se os parâmetros adotados pela Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina, de acordo com os quais a hipossuficiência se caracteriza pelo percebimento de renda líquida mensal inferior a três salários mínimos, descontados os valores despendidos com aluguel de moradia e sustento de dependentes, na proporção de meio salário mínimo por dependente, situação que se ajusta ao caso dos autos. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4012733- 91.2017.8.24.0000, de Canoinhas, rel. Des. Janice Goulart Garcia Ubialli, Quarta Câmara de Direito Comercial, j. 17-10- 2017). Partindo-se da premissa de referida jurisprudência, a parte autora possui renda líquida de até três salários mínimos, após o abatimento do valor despendido com moradia e gastos com dependentes, não tendo como suportar os gastos judiciais deste processo que não foi interposto por sua culpa, mas sim, a busca de tutelar um direito seu, contra um ato abusivo da instituição financeira. Assim, consoante os documentos ora acostados, pugna pelo deferimento da Justiça Gratuita em seu favor, sob pena de prejuízo de sua mantença e de sua família. II.b – DO MÉRITO II.b.1 - DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Não há dúvida que a relação entre as partes é de consumo, proveniente de contrato de adesão, sendo a parte autora consumidora, enquanto que a casa bancária é prestadora de serviços, ambos qualificados no CDC no 2º e 3º. Assim, necessária a responsabilização da instituição financeira, independentemente da existência da culpa, nos termos do que estipula o CDC: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. No caso dos autos existiu defeito na prestação de serviços, eis que a autora fora 4 ludibriada pela instituição ré, que lhe impingiu encargo que não objetivava contratar, o que importa na responsabilização objetiva da fornecedora. Para que se tenha uma melhor compreensão da situação em que o consumidoré envolvido para casos de contratação nesta modalidade, vale o esclarecimento: O cliente pensionista é habitualmente pessoa idosa ou pessoa com deficiência que levou ao recebimento de pensão. Por ser pensionista, o cliente geralmente tem uma renda baixa, sendo a pensão sua única fonte de renda que deve ser suficiente para mensalmente suprir suas necessidades de vida. Por ser pessoa idosa e com o nome facilitado para solicitar empréstimo, o idoso habitualmente é assediado por seus próprios familiares, pedindo ajuda para conseguir um dinheiro fácil e rápido, sem burocracia, como prometem nas propagandas. Ao pesquisar sobre as possibilidades de empréstimo as financeiras deixam claro que o procedimento é rápido e com todos os direitos garantidos, fazendo marketing agressivo com promessas e insistência A instituição financeira sabe a realidade de necessidade do idoso, e vê nele uma presa fácil, que aceitará a condição para resolver um problema pessoal ou ajudar um parente que precisa de dinheiro, sem se aprofundar nas condições que são explicadas apenas de forma muito superficial. Como está diante de um funcionário treinado para ser altamente gentil e cliente se sente confiante. Ocorre que a expectativa da negociação ofertada pessoalmente não é o que o idoso encontra escrito no papel, em letras pequenas, texto difícil e cheio de asteriscos e entrelinhas. Quando analisa profundamente seu extrato, seus compromissos, sente-se perdido, não tem informação, não tem suporte e se sente enganado, lesado e altamente constrangido até mesmo para buscar ajuda. Sem a providência do Poder Judiciário com ajustes para cada caso específico e obrigação de que as casas bancárias reparem as lesões causadas, cada vez mais os idosos no Brasil continuarão sendo enganados, ou seja, a decisão a ser proferida neste processo reflete não apenas uma questão de direito, mas uma verdadeira questão de justiça social. Assim, ante a hipossuficiência e fragilidade da autora na relação jurídica, busca seja deferido em seu favor a inversão do ônus da prova (art. 6o, VIII CDC), eis que os documentos carreados evidenciam a verossimilhança de suas alegações. A Autora comprova que foi lesada pela instituição financeira, haja vista seu intento ser somente em buscar um empréstimo consignado e, não a reserva de margem consignável, como promovido pela casa bancária. A Autora é consumidora hipossuficiente, pessoa de idade, frente à grande instituição financeira bem organizada e estrutura, que vê na consumidora uma oportunidade de 5 se beneficiar, pois sabe que preenche o perfil de aposentada, pessoa humilde, que à duras penas sobrevive com o pouco que recebe. Igualmente requer seja aplicado à presente demanda a estabilizar da relação desigual entre as litigantes, com a interpretação do contrato com cláusulas favoráveis ao consumidor, assim como a nulidade de condições excessivamente onerosas. II.b.2 - DA NULIDADE DO CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO E POSSIBILIDADE CONVERSÃO EM PACTO DE MÚTUO CONSIGNADO A Autora, por estar com necessidades financeira, de fato, contraiu empréstimo, todavia objetivava apenas a contração de empréstimos usual qual seja, aquela com parcelas fixas e já pré estabelecidas mas, para sua surpresa, após buscar extrato de débitos do INSS verificou que havia um desconto com nome de “RMC” onde, teve o conhecimento de que, realizara outra contratação do momento em que contraiu o empréstimo consignado, sendo-lhe realizado descontos mensais, com juros abusivos e sem data para findar tal cobrança. A instituição financeira, aproveitando da condição de hipossufiência da Autora, utilizando-se de ardil na confecção de INÚMEROS E CONFUSOS documentos levou a segunda a contratar serviço diverso do pretendido, tolhendo mensalmente quantia qual a Autora sequer tinha conhecimento, tratando-se de prestação vitalícia, causando verdadeiro prejuízo aos seus parcos rendimentos. A aludida situação encontra-se repelida quando se trata de uma relação consumerista, mormente violam princípios básicos e inerentes ao Direito do Consumidor, taxativamente explicitados no artigo 39, do CDC, em seus incisos IV e V, in verbis: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; (...) IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; Tal situação, inclusive, já se encontra pacificada nas Câmaras de Direito Comercial Catarinense, valendo a ressalva de recente decisão, ambas de dezembro de 2020: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE CONTRATO, COM PEDIDOS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DESCONTOS DE RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC) EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA, QUE: ANULOU O CONTRATO FIRMADO, RETORNANDO AS PARTES AO STATUS QUO ANTE; DETERMINOU À PARTE AUTORA QUE PROCEDA A DEVOLUÇÃO AO BANCO RÉU DO VALOR TOMADO EMPRESTADO; DETERMINOU À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA O RESSARCIMENTO DOS VALORES DESCONTADOS INDEVIDAMENTE DO BENEFÍCIO DA PARTE DEMANDANTE, ASSIM COMO OUTROS PAGAMENTOS EVENTUALMENTE REALIZADOS; CONDENOU A PARTE RÉ AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS À PARTE AUTORA, NO VALOR DE 6 R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS); E MANTEVE A TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DEFERIDA AB INITIO. RECLAMO DO BANCO DEMANDADO. DEFENDIDA LEGALIDADE DA CONTRATAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO, COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. TESE REPELIDA. NULIDADE CONTRATUAL, POR VÍCIO DE CONSENTIMENTO. FORMALIZAÇÃO DE AVENÇA DIVERSA DA PRETENDIDA. HIPÓTESE EM QUE A FINANCEIRA RÉ, PREVALECENDO-SE DA HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA DO CONSUMIDOR, INDUZIU-O EM ERRO. DEMANDANTE QUE, ACREDITANDO ESTAR CELEBRANDO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO, PACTUOU CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. ENGANO DO CONTRATANTE DECORRENTE DA AUSÊNCIA DE ESCLARECIMENTOS QUANTO ÀS ESPECIFICIDADES DO PACTO EFETIVAMENTE AJUSTADO. VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO E PRÁTICA ABUSIVA (ARTS. 6º, INC. III E 39, INC. IV, AMBOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA). CONFIGURAÇÃO DE VÍCIO DE VONTADE. ANULAÇÃO DA CONTRATAÇÃO ACERTADA. PRETENDIDO AFASTAMENTO DO COMANDO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DESCABIMENTO, ANTE O DESFECHO DA SENTENÇA, CONFIRMADO NO PRESENTE JULGAMENTO. DANOS MORAIS. CASA BANCÁRIA QUE ALMEJA O EXPURGO DA CONDENAÇÃO OU A MITIGAÇÃO DO IMPORTE ARBITRADO. PARCIAL ACOLHIMENTO. RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL DE CARTÃO DE CRÉDITO DESCONTADA DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA DEMANDANTE. CARTÃO NÃO SOLICITADO E NEM UTILIZADO. ACIONANTE QUE HAVIA ACREDITADO TER CELEBRADO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO PADRÃO. PRÁTICA ABUSIVA DECORRENTE DA FALTA DE ESCLARECIMENTOS QUANTO ÀS ESPECIFICIDADES DO PACTO EFETIVAMENTE AJUSTADO. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. ABALO MORAL PRESUMIDO. DEVER DE INDENIZAR. MONTANTE COMPENSATÓRIO ESTIPULADO EM SENTENÇA - R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) - ACIMA DAQUELE ARBITRADO POR ESTE ÓRGÃO FRACIONÁRIO EM CASOS DESTE JAEZ. MITIGAÇÃO QUE SE IMPÕE PARA R$ 2.000,00 (DOIS MIL REAIS). DECISÃO MODIFICADA NO TÓPICO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. PREQUESTIONAMENTO. TEMÁTICAS SUSCITADAS EXAMINADAS À SACIEDADE E DE FORMA FUNDAMENTADA. APRECIAÇÃO DE TODOS OS ARGUMENTOS E DISPOSITIVOS APONTADOS PELOS LITIGANTES DESNECESSÁRIA, QUANDO INCAPAZES DE INFIRMAR A CONCLUSÃO ADOTADA PELO JULGADOR. APELAÇÃO DA CASA BANCÁRIA CONHECIDA E PROVIDA PARCIALMENTE. (TJSC, Apelação n. 5002189- 37.2020.8.24.0092, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Tulio Pinheiro, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 17-12-2020). APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDODE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES. TESES RECURSAIS QUE SE CONFUNDEM, A JUSTIFICAR A ANÁLISE CONJUNTA DOS RECURSOS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO VIA CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL - RMC. DOCUMENTAÇÃO CARREADA AO BOJO DO PROCESSADO DEMONSTRANDO QUE A PARTE AUTORA POSSUÍA MARGEM DE CRÉDITO CONSIGNÁVEL DISPONÍVEL PARA CONTRATAR A MODALIDADE PRETENDIDA E NÃO A UTILIZADA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE VIOLOU O DIREITO DE INFORMAÇÃO AO OFERTAR CONTRATAÇÃO MAIS ONEROSA. VONTADE DECLARADA DA PARTE 7 AUTORA NO SENTIDO DE CONTRATAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO PESSOAL E NÃO VIA CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL, O QUE ENSEJA NA CONVERSÃO DO CONTRATO PARA A MODALIDADE PRETENDIDA. PRECEDENTES. SENTENÇA REFORMADA NO PONTO. DANOS MORAIS. CONDUTA NEGLIGENTE COMETIDA PELA CASA BANCÁRIA DECORRENTE DA UTILIZAÇÃO INDEVIDA DA RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL NA MODALIDADE CARTÃO DE CRÉDITO. REALIZAÇÃO DE DESCONTOS INDEVIDOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR. DEVER DE INDENIZAR INCONTESTE. QUANTUM INDENIZATÓRIO. PLEITO DE MINORAÇÃO DA QUANTIA FIXADA PELA PARTE RÉ, ENQUANTO A PARTE AUTORA POSTULA SUA MAJORAÇÃO. VALOR QUE DEVE SER MAJORADO, EIS QUE FIXADO AQUÉM DOS PARÂMETROS UTILIZADOS POR ESTE ÓRGÃO FRACIONÁRIO, ATENDENDO, OUTROSSIM, OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. JUROS DE MORA FIXADOS ACERTADAMENTE A CONTAR DA CITAÇÃO (ART. 405 DO CÓDIGO CIVIL). HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. RÉU QUE PRETENDE A SUA REDUÇÃO, ENQUANTO A PARTE AUTORA REQUER A RESPECTIVA MAJORAÇÃO. INSUBSISTÊNCIA. ELEVAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE REFLETE NA REFERIDA VERBA E EM OBSERVÂNCIA À NORMA DISPOSTA NO ART. 85, § 2º E 8º, DO CPC/2015. RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS. (TJSC, Apelação n. 5011694-51.2019.8.24.0039, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. José Maurício Lisboa, Primeira Câmara de Direito Comercial, j. 17-12-2020). Ademais, age dolosamente a instituição financeira, quando induz o contraente do empréstimo à erro, causando negócio jurídico anulável, por força do CC: “Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”. Ainda, não obstante, dispondo que o dolo no caso do aludido dispositivo deve ser aquele que dá causa à infração, o dolo, no caso em apreço, consiste em deixar de informar o contraente sobre os termos dos serviços contratados, de maneira voluntária a instituição financeira agindo nesta absoluta má-fé também incorre no que prevê o artigo 147 do mesmo estatuto civil, senão vejamos: Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. De mesmo rumo, o próprio CDC, prevê em seu artigo 6º que um dos direitos básico do consumidor é a clara informação sobre o produto ou serviço oferecido além, de toda sua composição qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentarem, além de proteção contra práticas e cláusulas abusivas no fornecimento de produtos e serviços. No caso em testilha, é incontroverso que a Autora não detinha informações claras sobre o serviço contratado, apenas sendo informada sobre a necessidade de assinatura de inúmeros documentos para ser atendido seu pedido de empréstimo CONSIGNADO e, não, contratar um cartão de crédito com reserva de margem consignável (RCM), que lhe fez um débito eterno em favor da instituição bancária. Não bastasse isso, a informação dos descontos tampouco lhe é de fácil compreensão, 8 haja vista, somente com acesso junto ao seu extrato do INSS que se informa o desconto que, todavia, não é bem demonstrado, bem como que aquele desconto não se presta para, sequer, pagar o que não utiliza, tratando-se de uma prestação vitalícia. Neste sentido, a jurisprudência atual é firme no sentido de rechaçar o negócio jurídico celebrado por ocasião da dolosa contratação, senão vejamos em ementa robusta sobre o tema: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL, C/C TUTELA DE URGÊNCIA, DANOS MORAIS E MATERIAIS (RMC). SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RECLAMO DA PARTE AUTORA. DEMANDANTE QUE SUSTENTA A OCORRÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO EM RELAÇÃO À CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO POR MEIO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM DESCONTOS REALIZADOS EM SEU BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO A TÍTULO DE RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL - RMC. TESE ACOLHIDA. CONTEXTO FÁTICO- PROBATÓRIO QUE INDICA PRÁTICA ABUSIVA DA CASA BANCÁRIA REQUERIDA, CONSISTENTE NA INEXISTÊNCIA DE INFORMAÇÃO CLARA ACERCA DA MODALIDADE CONTRATUAL CELEBRADA ENTRE AS PARTES. CONSTATAÇÃO, ADEMAIS, DE QUE NÃO HOUVE UTILIZAÇÃO, TAMPOUCO PROVA ACERCA DO ENVIO OU DO RECEBIMENTO DO CARTÃO DE CRÉDITO NO ENDEREÇO DO REQUERENTE. EVIDENTE DESVIRTUAMENTO DA REAL INTENÇÃO DO DEMANDANTE DE CONTRATAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO COMUM, O QUAL ORIGINOU NEGÓCIO JURÍDICO LEONINO, FORÇANDO O CONSUMIDOR (APELANTE) A CONTRAIR OBRIGAÇÃO EXTREMAMENTE ONEROSA. MANIFESTA PRÁTICA ABUSIVA E VIOLAÇÃO DAS NORMAS DE PROTEÇÃO AO DIREITO DO CONSUMIDOR. EXEGESE DOS ARTS. 6º, III E 39, V, DO CDC. RECURSO PROVIDO NO PONTO PARA RECONHECER A NULIDADE DO CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES. IMPERIOSO RETORNO DOS CONTRATANTES AO STATUS QUO ANTE, COM POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DOS VALORES ENTRE OS LITIGANTES, NOS TERMOS DO ART. 368 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. REQUERENTE QUE DEVE DEVOLVER O VALOR RECEBIDO A TÍTULO DE EMPRÉSTIMO DE DINHEIRO, DEVIDAMENTE ATUALIZADO, E INSTITUIÇÃO FINANCEIRA REQUERIDA QUE DEVE RESTITUIR, DE FORMA ATUALIZADA E SIMPLES, TODA A QUANTIA DESCONTADA DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO POSTULANTE A TÍTULO DE RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. "Quando se desvirtua ou se sonega o direito de informação, está-se agindo em sentido diametralmente oposto a boa-fé objetiva, ensejando, inclusive, a enganosidade. A informação deve ser clara, objetiva e precisa, pois, do contrário, equivale ao silêncio, vez que influi diretamente na manifestação de vontade do consumidor sobre determinado serviço ou produto - corolário da confiança que o consumidor deposita no fornecedor. O banco, ante as opções de modalidades de empréstimo ao consumidor, sem dotá-lo de 9 informações sobre os produtos, fez incidir um contrato de cartão de crédito com reserva de margem consignável, quando o interesse do consumidor era simplesmente obter um empréstimo, haja vista que o cartão de crédito nunca foi usado [...]" (Apelação Cível n. 0301831-55.2018.8.24.0092, da Capital, rel. Des. Guilherme Nunes Born, Primeira Câmara de Direito Comercial, j. 13-12-2018). "A prática abusiva e ilegal de contrair modalidade de empréstimo avesso ao objeto inicialmente pactuado é conduta infensa ao direito, sobretudo quando a Instituição Financeira, ao difundir seu serviço, adota medida anômala ao desvirtuar o contrato de mútuo simples consignado, modulando a operação via cartão de crédito com reserva de margem. Ao regular seus negócios sob tal ótica, subverte a conduta que dá esteio as relações jurídicas, incidindo em verdadeira ofensa aos princípios da transparência e da boa fé contratual, situando o consumidor em clara desvantagem, provocando, por mais das vezes, a cobrança de valores reconhecidamente descabidos e infundados, gerando toda sorte de injusto endividamento. Na hipótese, constata-se devidamente demonstrada a consignação ilegal da reserva de margem consignável (RMC) em cartão de crédito jamais utilizado pela demandante. Assim, resta inequívoca a nulidade contratual, retornando-se a relação ao "status quo ante" [...]" (Apelação Cível n. 0301157-67.2017.8.24.0042, de Maravilha, rel. Des. Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 29-10-2018). "Não obstante a constatação de que o consumidorjamais optou por efetuar empréstimo consignado pela via de cartão de crédito, o reconhecimento da nulidade de tal pacto importa, como consequência lógica, o retorno das partes ao status quo ante, ou seja, o consumidor deve devolver montante que recebeu (apesar de não haver contratado), sob pena de enriquecer-se ilicitamente, ao passo que ao banco cumpre ressarcir os descontos indevidamente realizados no benefício previdenciário do contratante." (Apelação Cível n. 0302945-30.2016.8.24.0082, da Capital, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 4-10-2018) [...]" (Apelação Cível n. 0302606-07.2017.8.24.0092, da Capital, rel. Des. Dinart Francisco Machado, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 13- 11-2018). PLEITO DE CONDENAÇÃO DA CASA BANCÁRIA DEMANDADA AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACOLHIMENTO. EVIDENTE VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ CONTRATUAL E DO DEVER DE INFORMAÇÃO. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. ABALO ANÍMICO CONSUBSTANCIADO NO FATO DE QUE OS DESCONTOS REALIZADOS, MÊS A MÊS, NO PARCO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR, COLOCARAM O ORA APELANTE EM EVIDENTE SITUAÇÃO TEMERÁRIA, TENDO EM VISTA A EXPROPRIAÇÃO INDEVIDA E DURADOURA DE VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR. RECLAMO PROVIDO NO PONTO. "Nas relações de consumo o fornecedor de serviços responde objetivamente na reparação de danos causados aos consumidores, nos casos de 10 defeito ou por informações não prestadas ou inadequadas (art. 14 do Código do Consumidor). Assim, para a configuração do dever de indenizar, necessária a prova do ato ilícito, do dano e nexo causal entre a conduta do agente e os prejuízos causados (arts. 186 e 927 do Código Civil). Tratando-se, no caso, de pessoa que percebe aposentadoria por tempo de contribuição equivalente a menos de um salário mínimo (R$ 937,00), embora o valor descontado possa sugerir quantia ínfima, se considerada isoladamente, afigura-se significativa quando suprimida por período duradouro, a estampar, no caso, inequívoco abalo anímico, sobretudo quando neste montante, agrega-se valores não entabulados [...]" (Apelação Cível n. 0301099-64.2017.8.24.0042, de Maravilha, rel. Des. Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 20-11-2018). QUANTUM INDENIZATÓRIO. FIXAÇÃO DA VERBA EM R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) QUE SE MOSTRA RAZOÁVEL PARA REPARAÇÃO DO DANO E CONDIZENTE COM AS CONDIÇÕES ECONÔMICAS DAS PARTES, ALÉM DE SATISFAZER O CARÁTER PEDAGÓGICO E INIBIDOR DA SANÇÃO. "Na hipótese em análise, trata-se de pessoa cujo benefício previdenciário perfaz a cifra de pouco menos de um salário mínimo mensal, enquanto que a responsável pela reparação é instituição financeira dotada de grande poder econômico com larga atuação no mercado creditício. Sopesando tais circunstâncias, principalmente em atenção ao caráter punitivo pedagógico da condenação, entende-se adequada a fixação do "quantum" indenizatório em R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigidos pelo INPC, a partir do presente arbitramento, e com incidência de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, desde o evento danoso (Súmulas 362 e 54 do STJ, respectivamente) [...]" (Apelação Cível n. 0301650-54.2018.8.24.0092, da Capital, rel. Des. Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 11-12-2018). REQUERIMENTO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. NÃO ACOLHIMENTO. VIABILIDADE DA RESTITUIÇÃO NA FORMA SIMPLES. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. IMPERIOSA INVERSÃO. PARTE RÉ (APELADA) QUE DEVE SER RESPONSABILIZADA PELO PAGAMENTO INTEGRAL DAS CUSTAS PROCESSUAIS E DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS NA SENTENÇA SINGULAR. HONORÁRIOS RECURSAIS. PROVIMENTO PARCIAL DO APELO. HIPÓTESE QUE INVIABILIZA A MAJORAÇÃO DOS ESTIPÊNDIOS PATRONAIS EM GRAU RECURSAL. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO PELO TRIBUNAL DA CIDADANIA (RESP N. 1.573.573/RJ) E ACOMPANHADO POR ESTE ÓRGÃO JULGADOR. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Apelação n. 5000814-35.2019.8.24.0092, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Rejane Andersen, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 15-12-2020). Ainda, a conduta suso mencionada é criminosa à luz do que preleciona o artigo 67 do CDC, quando induz o cliente à erro, posto que pratica publicidade enganosa, consoante assim positivado: “Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou 11 deveria saber ser enganosa ou abusiva. Pena Detenção de três meses a um ano e multa”. Entrementes, o negócio jurídico é de todo nulo, por ferir tanto dispositivos do Código Civil quanto, mais condundentemente, o CDC, dada o caráter diverso da contratação qual a Autora buscara quando da celebração do negócio Jurídico, ferindo os princípios mais básicos como o da transparência e da boa-fé, não olvidando-se do dever de respeito que deveria ter a instituição bancária não celebrando negócio jurídico totalmente nulo! Desta feita, consoante o todo alegado não resta outra alternativa senão a possibilidade da manutenção do negócio jurídico em seus termos iniciais pretendidos pela Autora, anulando e convertendo aquele abusivo por medida de direito. II.b.3 - DA DIFERENÇA ENTRE AS TAXAS DE JUROS REMUNERATÓRIOS É cediço que as taxas praticadas na modalidade de empréstimo consignado são muito mais baixas do que aquelas dispostas quando realizada a contratação de cartão de crédito. Logo, caso mantida a contratação abusiva, esta relação jurídica da qual a parte autora se socorro nos autos, apenas trará ônus exacerbado ao contratante. Diz-se isto, mormente os valores pagos à título de empréstimo consignado já é pré fixado quando de sua contratação ao passo que, na modalidade de cartão de crédito os juros são cíclicos e exorbitantes. Assim, uma vez alternada a modalidade da contratação (de cartão de crédito para empréstimo consignado) se faz necessária a aplicação da taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central à época da contratação. Neste norte, realizada a alteração e adequação do contrato de cartão de crédito, passando este a figurar na modalidade de empréstimo consignado, há de ser readequada, também, a taxa aplicada conforme preconiza a legislação e jurisprudência. Nesta toada extrai-se da jurisprudência, senão vejamos: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DO INDÉBITO. CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO NA MODALIDADE DE DESCONTO DA MARGEM CONSIGNÁVEL DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO ATRAVÉS DE DÉBITO EM CARTÃO DE CRÉDITO (RMC). SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES. RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. AVENTADA LEGALIDADE DO EMPRÉSTIMO, NA MODALIDADE DE DESCONTO DE MARGEM CONSIGNÁVEL EM CARTÃO DE CRÉDITO (RMC). TESE RECHAÇADA. MALGRADO A PARTE AUTORA RECONHEÇA A EXPRESSA PACTUAÇÃO, NÃO VEIO AOS AUTOS O CONTRATO CELEBRADO ENTRE AS PARTES, TAMPOUCO OS EXTRATOS DO CARTÃO DE CRÉDITO. NEGATIVA GENÉRICA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO É SUFICIENTE PARA DERRUIR AS ASSERTIVAS VERTIDAS À INICIAL. SUFICIENTEMENTE COMPROVADO QUE A PARTE AUTORA VISAVA À CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO, SENDO-LHE IMPOSTO, ENTRETANTO, 12 EMPRÉSTIMO EM FORMA DIVERSA. UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO NÃO COMPROVADA. PRÁTICA ABUSIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. POSSIBILIDADE, ENTRETANTO, DE ADAPTAÇÃO DO CONTRATO ENTÃO VIGENTE PARA A OPERAÇÃO DE SIMPLES EMPRÉSTIMO CONSIGNADO, MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR. RECURSO DA PARTE AUTORA. TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA E DOS JUROS DE MORA. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. JUROS DE MORA DA CITAÇÃO E CORREÇÃO MONETÁRIA DO ARBITRAMENTO. SENTENÇA ALTERADA NO PONTO. QUANTUM REPARATÓRIO ARBITRADO EM PRIMEIRO GRAU. PLEITO DE MAJORAÇÃO. VALOR ARBITRADO NA ORIGEM QUE SE MOSTRA ADEQUADO ÀS FINALIDADES DA REPARAÇÃO CIVIL. SENTENÇA QUE SE MANTÊM. ALTERAÇÃO DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA EM RAZÃO DO NOVO RESULTADO DA DEMANDA. RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS. (TJSC, Apelação Cível n. 0302659-47.2017.8.24.0040, de Laguna, rel.Rogério Mariano do Nascimento, Primeira Câmara de Direito Comercial, j. 07-03-2019). Colhe-se lúcido excerto do acórdão suso ementado, ipsis litteris: Em situações assim, em que resta incontroverso o aperfeiçoamento do empréstimo através da liberação do montante em favor do consumidor, necessário se faz a manutenção da avença com sua adequação à modalidade de empréstimo consignado, sob pena de enriquecimento ilícito da aderente. Assim, os descontos decorrentes do financiamento bancário devem ser adequados ao empréstimo consignado, cujos juros remuneratórios devem observar a taxa média divulgada pelo BACEN, referente aos empréstimos concedidos aos aposentados/pensionistas à época da contratação, sendo os valores deduzidos do benefício da autora descontados do saldo devedor até a quitação integral do empréstimo. (grifo nosso) Desta feita, imperiosa a alteração do contrato dolosamente proposto da modalidade diversa da pretendida pela Autora, para aquela inicialmente pleiteada, como também a aplicação da taxa de juros remuneratórios publicada pelo Banco Central à época da contratação, nos moldes legais vigentes. II.b.4 - DA NECESSIDADE DE NOVO CÁLCULO DO SALDO DEVEDOR EM FACE DA ALTERAÇÃO CONTRATUAL Alterada a modalidade de empréstimo para a inicialmente pretendida, necessário se faz, também a apuração dos valores a serem devolvidos para a Autora. Entrementes, para que ocorra um proveito por parte da Autora dos valores a serem dispendidos pela instituição financeira, o Égrégio Tribunal de Justiça tem adotado parâmetros para a realização e readequação do saldo devedor dos empréstimos, bem como o ressarcimento da Autora dos valores pagos ilicitamente. O acórdão abaixo ementado trouxe algumas digressões sobre tal situação, senão vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. "AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DESCONTO 13 EM FOLHA DE PAGAMENTO/AUSÊNCIA DO EFETIVO PROVEITO CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA". TOGADA DE ORIGEM QUE JULGA PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS DEDUZIDOS NA EXORDIAL. IRRESIGNAÇÃO DO BANCO. DIREITO INTERTEMPORAL. DECISÃO PUBLICADA EM 19-10-18. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. PROCESSUAL CIVIL. CONSTATAÇÃO, DE OFÍCIO, DE ATUAÇÃO EXTRA PETITA. SENTENÇA QUE SE MOSTRA INCONGRUENTE COM OS LIMITES DA CAUSA DE PEDIR E PEDIDO. DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA QUE SE IMPÕE. PROCESSO EM CONDIÇÕES DE IMEDIATO JULGAMENTO. INCIDÊNCIA DO ART. 1.013, § 3º, INCISO II, DO CÓDIGO FUX. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). DESCONTOS REALIZADOS DIRETAMENTE NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA REQUERENTE, PESSOA HIPOSSUFICIENTE E COM PARCOS RECURSOS. CONTEXTO PROBATÓRIO QUE INDICA QUE A AUTORA PRETENDIA FORMALIZAR APENAS AVENÇA DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. INEXISTÊNCIA DE ADEQUADA DECLARAÇÃO DE VONTADE QUANTO À CELEBRAÇÃO DE AJUSTE DE CARTÃO DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO E TAMPOUCO DO SEU ENVIO PARA O ENDEREÇO DA CONSUMIDORA. PRÁTICA ABUSIVA CONFIGURADA. INTELIGÊNCIA DO ART. 39, INCISOS I, III E IV DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRECEDENTES DESTE AREÓPAGO. IMPERATIVA DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO DECORRENTE DA "PROPOSTA DE ADESÃO CARTÃO DE CRÉDITO E CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO". IMPERATIVA CONVERSÃO DO AJUSTE PARA A MODALIDADE DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO, COM AS ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS. COGENTE RECÁLCULO COM COMPENSAÇÃO DOS VALORES JÁ ADIMPLIDOS PELA CONSUMIDORA, ADITADOS DE CORREÇÃO MONETÁRIA DESDE A DATA DE CADA DESEMBOLSO INDEVIDO E JUROS DE MORA, ESTES A CONTAR DA CITAÇÃO, POR FORÇA DO ART. 397, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL E 219, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REPETIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO EM CASO DE CONSTATAÇÃO DE SALDO CREDOR EM FAVOR DA CONSUMIDORA. DANO MORAL. CABAL MATERIALIZAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO DEVER DE INFORMAÇÃO E INOBSERVÂNCIA À BOA-FÉ CONTRATUAL. AFERIÇÃO DO ABALO ANÍMICO EXPERIMENTADO PELA AUTORA PELA ANÁLISE CONJUNTA DOS SEGUINTES ASPECTOS: (A) EMPRÉSTIMO BANCÁRIO REALIZADO EM MODALIDADE DIVERSA DAQUELA ALMEJADA PELA AUTORA, OCASIONANDO DESVANTAGEM EXAGERADA E CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS INESPERADAS; (B) DESCONTOS INDEVIDOS SOBRE VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR E DIMINUIÇÃO DA MARGEM DE CRÉDITO CONSIGNADO DISPONÍVEL A REQUERENTE; (C) CONTEÚDO DA AVENÇA QUE NÃO PERMITIU O CONTROLE PRÉVIO DA COMPOSIÇÃO DO SALDO DEVEDOR, BEM COMO A COMPREENSÃO DA EVOLUÇÃO DA DÍVIDA; E (D) IMPOSIÇÃO DA QUITAÇÃO POR MEIO DE PARCELA MÍNIMA DO CARTÃO DE CRÉDITO, REDUNDANDO NA OBRIGATORIEDADE DE CONTRATAÇÃO DE CRÉDITO ROTATIVO QUANTO A PARCELA REMANESCENTE, COM CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS DÍSPARES E MAIS GRAVOSAS EM RELAÇÃO ÀQUELA QUE INICIALMENTE INTENCIONAVA A DEMANDANTE. CONTEXTO FÁTICO QUE AUTORIZA A CONDENAÇÃO DA REQUERIDA AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. AUTORA QUE DECAIU DE PARTE MÍNIMA DOS PEDIDOS VERTIDOS NA PEÇA 14 DEFLAGRATÓRIA. DEVER DA CASA BANCÁRIA DE ARCAR COM A TOTALIDADE DAS CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INTELIGÊNCIA DO ART. 86, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC/2015. PEDIDOS VAZADOS EM CONTRARRAZÕES. PLEITO DE REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA CONFERIDO NA ORIGEM A AUTORA. TESE REJEITADA. REQUERIDA QUE NÃO LOGROU ÊXITO EM POSITIVAR A ALEGADA SUFICIÊNCIA FINANCEIRA DA INSURGENTE. BALIZAMENTOS DO ART. 5º, INCISO XXXV, DA "CARTA DA PRIMAVERA" E DOS ARTS. 98, CAPUT, E 99, §§ 2º E 3º, AMBOS DO CPC/2015. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ DA AUTORA. INOCORRÊNCIA DE QUALQUER DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 80 DO NOVEL CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. GARANTIA CONSTITUCIONAL DE DIREITO DE AÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 5º INCISO XXXV DA "CARTA DA PRIMAVERA". PLEITO DEFENESTRADO. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS RECURSAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 85, §§ 1º E 11º, DO CÓDIGO FUX. VIABILIDADE, EM TESE, DE FIXAÇÃO DE OFÍCIO EM RAZÃO DA DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA NESTE GRAU DE JURISDIÇÃO COM JULGAMENTO OPERADO NA FORMA DO ART. 1.013, § 3º DO CPC/2015. VERIFICAÇÃO, CONTUDO, DA INEXISTÊNCIA DE OFERECIMENTO DE CONTRARRAZÕES AO RECURSO. VERBA SUCUMBENCIAL RECURSAL QUE DEIXA DE SER ESTABELECIDA. RECURSO PREJUDICADO. (TJSC, Apelação Cível n. 0301090- 05.2017.8.24.0042, de Anchieta, rel. José Carlos Carstens Köhler, Quarta Câmara de Direito Comercial, j. 12-03-2019). Do corpo do aresto, se extrai: Assim, configurada a prática abusiva, nula é a manifestação de vontade da Consumidora em relação à contratação de empréstimo via cartão de crédito com contrato de reserva de margem consignável, sendo imperativa a determinação de conversão do contrato para empréstimo consignado, por ser este o ajuste cuja formalização foi pretendida pela Autora, conforme expressamente consignado na exordial, devendo serem seguidas as seguintes diretrizes: (i) o montante liberado na conta da Autora (fl. 51) - R$ 939,00 (novecentos e trinte e nove reais) - seja descontado do benefício previdenciário da Requerente como empréstimo consignado desde quando celebrado; (ii) o número de parcelas do ajuste deve levar em consideração o valor máximo por prestação de R$ 39,40 (trinta e nove reais quarenta centavos), por ter sido este o montante mensal descontado da Autora quando da celebração do negócio jurídico, desde que dentro da margem consignável disponível (fl. 52); (iii) deve haver o recálculo do montante, computados juros remuneratórios dentro dos balizamentos de empréstimos consignados com a taxa autorizada para desconto em benefícios previdenciários, observado como máximo o teto para operações iguais; (iv) verificar-se-á a compensação de tudo aquilo que a Requerente adimpliu a título de juros remuneratórios de cartão de crédito e demais consectários vinculados a esta modalidade contratual; (v) ainda no que se refere à compensação, os valores pagos a maior - cartão de crédito consignado - deverão ser aditados monetariamente pelo INPC desde a data de cada desembolso e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a contarda citação; e (vi) caso haja saldo positivo em favor da Autora, depois de efetuado o recálculo global, faz jus a mesma à repetição simples do indébito, e não em dobro como busca a Recorrente. 15 Neste diapasão o v. Acórdão atacou diametralmente a questão acerca da forma de realização do novo cálculo em favor da Autora, ressalvado, data vênia, a questão de repetição simples determinada, posto que, ao nosso sentir, deve ser realizada em dobro, consoante preconiza o artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, atacado no seguimento da presente peça. II.b.5 - DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO CONFORME O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Conforme dito alhures, realizada a compensação dos valores em favor da Autora e, havendo saldo em benefício da mesma, há de ser aplicado o disposto no artigo 42, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor, in verbis: Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável Dita norma se amolda ao caso em viso, mormente é retumbante que a Autora fora alijada e prejudicada quando da contratação do empréstimo, sendo a quantia descontada da mesma como Reserva de Margem Consignável (RMC) indevida e, assim, possível de restituição em dobro consoante suso mencionado. No caso em testilha, evidente o dolo da instituição financeira, o que viabiliza a aplicação da aludida sanção, como será demonstrado. Agira a instituição financeira de má-fé, objetivando extrair, para si, vantagem ilícita, promovendo a criação de uma nova modalidade de negócio jurídico qual seja, a reserva de margem consignável por meio de expedição de cartão plástico para uso na modalidade de crédito o que inexiste, posto que é consabido que o cartão de crédito é contratação qual a instituição bancária disponibiliza cero valor como meio de crédito rotativo, mas não crédito rotativo extraído de outro crédito (empréstimo consignado) para tal fim. A intenção é clara, porquanto ao passo que o contrato de empréstimo consignado as taxas aplicadas são deveras menores daquela disposta nos contratos de cartão de crédito, trazendo prejuízos eis que, ante a natureza se tornará impossível o adimplemento daquele valor inicial disposto como reserva de margem consignável, cingindo-se a Autora à apenas realizar o pagamento deste juros mensais. Por esta razão, é latente que a conduta abusiva da instituição financeira que realiza esta cobrança indevida de maneira velada e, dolosamente, impõe um débito eterno para com a mesma trazendo desvantagem na relação consumerista. Em recente decisão, o Pretório Catarinense se manifesta no mesmo sentido: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE CONTRATUAL CUMULADA COM PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES EM DOBRO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.INSURGÊNCIA DA PARTE 16 AUTORA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO E TERMO DE ADESÃO A CARTÃO DE CRÉDITO COM ABATIMENTO DE "RESERVA DE MARGEM" (RMC) DIRETAMENTE NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO RECEBIDO PELO DEMANDANTE. DEFENDIDA A ILEGALIDADE DO CONTRATO. TESE ACOLHIDA. PRÁTICA ABUSIVA EVIDENCIADA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO QUE MERECE REPRIMENDA JUDICIAL AMPARADA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CONTRATO ANULADO. RETORNO DAS PARTES AO STATUS QUO ANTE. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE QUE DEVE OCORRER NA FORMA DOBRADA. EXEGESE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. PERMITIDA A COMPENSAÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 368 DO CÓDIGO CIVIL. DANOS MORAIS. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA DEVIDA. PRECEDENTES DESTA CORTE. QUANTUM COMPENSATÓRIO ARBITRADO DE ACORDO COM AS PECULIARIDADES DO CASO. INVERSÃO DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA EM RAZÃO DO RESULTADO DO JULGAMENTO. HONORÁRIOS RECURSAIS. ART. 85, §§ 1º E 11, DO CPC/15. CRITÉRIOS CUMULATIVOS NÃO PREENCHIDOS (STJ, EDCL NO AGINT NO RESP 1.573.573/RJ). RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJSC, Apelação n. 5021506-23.2019.8.24.0038, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Jaime Machado Junior, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 17-12-2020). Ainda, comprovando o entendimento sedimentado nas Cortes, colige-se julgado do ano de 2018, senão vejamos: AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO, CUMULADA COM PEDIDOS DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DE DANOS MORAIS. DEMANDANTE QUE ADUZ TER PACTUADO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO E SIDO SURPREENDIDA COM DESCONTO DE RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC) EM SEU BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO, VINCULADA À CONTRATAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA PARA CONVERTER O CONTRATO DE "CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO" PARA SIMPLES "EMPRÉSTIMO CONSIGNADO" E DETERMINAR A ADEQUAÇÃO DOS DESCONTOS À MODALIDADE DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO AUTORIZADA PELA AUTORA. APELO DO BANCO DEMANDADO. [...] POSTULADA DEVOLUÇÃO DOS VALORES INDEVIDOS NA FORMA DOBRADA. ACOLHIMENTO. APROPRIAÇÃO INDEVIDA E REITERADA DE IMPORTES ORIUNDOS DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CULPA GRAVÍSSIMA. ENGANO JUSTIFICÁVEL NÃO DEMONSTRADO PELO RÉU. APLICAÇÃO DA PENALIDADE PREVISTA NO ARTIGO 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, QUE SE FAZ IMPERATIVA. [...] Nessa senda, tem entendido esta Corte que o ato de se apropriar indevidamente de valores de benefício previdenciário configura hipótese de culpa gravíssima, equiparada, portanto, ao dolo, razão pela qual sujeita a casa bancária que assim proceder à restituição em dobro dos valores descontados, na forma do artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor. (Apelação Cível n. 0310866-43.2017.8.24.0005, de Balneário Camboriú, rel. Des. Tulio Pinheiro, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. em 23-08-2018). Assim, deve ser reconhecida a possibilidade da restituição em dobro por parte da instituição financeira, consoante o aludido. 17 II.b.6 - DOS DANOS MORAIS Por tal atitude, a instituição financeira deve ser compelida à indenizar a Autora, diante da flagrante ilegalidade perpetrada contra uma pessoa de certa idade, leiga e que recebe parcos rendimentos oriundos de longos e árduos anos de trabalho. Trata-se Excelência, de prejuízo diante da indução, à erro, da Autora quando, sem qualquer orientação devida à singela pessoa, faz com que esta contrate um cartão de crédito gerando uma dívida vitalícia à esta. O abalo é inconteste, mormente a Autora está sendo tolhida de certa quantia mensal, por longos anos e, que, diante de seus parcos rendimentos, faz com que este valor seja necessário para a manutenção da vida um aposentado/pensionista, sendo considerada verba alimentar. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina, de maneira lúcida e se colocando no papel de pessoa simples que, por muitas vezes, é aposentado/pensionista de poucas posses e rendimentos, cujo laboraram anos para poderem se aposentar (muitas vezes não recebendo o valor que dispunhas como salário) já decidiu que a relação de consumo e hipossuficiência destes configura dano moral in re ipsa, senão vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. AUTORA QUE PRETENDIA OBTER EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. EFETIVAÇÃO DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL - RMC. DESCONTOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DESTINADOS AO PAGAMENTO MÍNIMO INDICADO NA FATURA DO CARTÃO. TAXA DE JUROS INCOMPATÍVEIS COM A ESPÉCIE CONSIGNADA. PRÁTICA ABUSIVA. ADEQUAÇÃO DA MODALIDADE CONTRATUAL QUE SE IMPÕE. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. DANO MORAL PRESUMIDO. DEVER DE INDENIZAR. REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTEPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0301181-95.2017.8.24.0042, de Maravilha, rel. Des. Cláudio Barreto Dutra, Quinta Câmara de Direito Comercial, j. 27-09-2018). Ainda: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE CONTRATUAL DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RMC CUMULADA COM PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA.INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES.EMPRÉSTIMO CONSIGNADO E TERMO DE ADESÃO A CARTÃO DE CRÉDITO COM DESCONTO DE "RESERVA DE MARGEM" (RMC) DIRETAMENTE NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO RECEBIDO PELA DEMANDANTE. NULIDADE DO PACTO DECLARADA.RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DEFENDIDA A LEGALIDADE DO CONTRATO. TESE AFASTADA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO QUE MERECE REPRIMENDA JUDICIAL AMPARADA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PACTO ANULADO. RETORNO DAS PARTES AO STATUS QUO ANTE MANTIDO.APELO DA AUTORA. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE QUE DEVE OCORRER NA FORMA DOBRADA. 18 EXEGESE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. REFORMA DO DECISUM NA PARTE. DANOS MORAIS. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA DEVIDA. PRECEDENTES DESTA CORTE. QUANTUM COMPENSATÓRIO ARBITRADO DE ACORDO COM AS PECULIARIDADES DO CASO. REDIMENSIONAMENTO DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA EM RAZÃO DO RESULTADO DO JULGAMENTO.HONORÁRIOS RECURSAIS. MAJORAÇÃO DEVIDA. ART. 85, §§ 1º E 11, DO CPC/15. CRITÉRIOS CUMULATIVOS PREENCHIDOS (STJ, EDCL NO AGINT NO RESP 1.573.573/RJ).RECURSO DA AUTORA CONHECIDO E PROVIDO. RECURSO DO BANCO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJSC, Apelação n. 5003982-73.2020.8.24.0039, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Jaime Machado Junior, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 17-12-2020). Do acórdão se extrai: (...) conforme exaustivamente delineado neste decisum. Outrossim, nos termos do entendimento consolidado por esta Corte, o abalo moral em casos deste jaez é presumido. A propósito, corrobora-se as palavras do eminente Desembargador Guilherme Nunes Born proferidas em caso similar: [...] A sensação de menosprezo e de inferioridade com que foi submetido o consumidor ensejaram angústias além do dissabor cotidiano oriundo das relações em sociedade, haja vista que valores oriundos de sua subsistência foram manipulados e restringidos por ato ilícito do banco réu. [...](Apelação Cível n. 0310 973-87.2017.8.24.0005, de Balneário Camboriú. Rel. Des. Guilherme Nunes Born, j, em 30.08.2018). Neste diapasão, consoante a atitude realizada pela instituição bancária, como também o pacífico entendimento sobre o tema, é medida imperativa o deferimento de indenização em favor da Autora, seja pelo ato ilícito cometido, seja como medida pedagógica e inibitória para que tais abusos sejam descontinuados pela primeira. Deferida a indenização, imperioso discorrer acerca do quantum indenizatório, posto que consoante o suso mencionado, além da reparação pelo ato realizado pela instituição bancária o valor deve ser, também, para coibir a reintegração da prática pela mesma. É cediço que “o quantum indenizatório deve ser fixado levando-se em conta os critérios da razoabilidade, bom senso e proporcionalidade, a fim de atender seu caráter punitivo e proporcionar a satisfação correspondente ao prejuízo experimentado pela vítima sem, no entanto, causar-lhe enriquecimento, nem estimular o causador do dano a continuar a praticá-lo.”. (Apelação Cível n. 0302945- 30.2016.8.24.0082, da Capital, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 04-10-2018). Ainda, quanto a relação das partes, por certo que: O valor arbitrado, portanto, não poderá ser inexpressivo em alusão ao porte financeiro do banco demandado, tampouco exacerbado ao ponto de causar o enriquecimento sem causa do postulante. No caso em exame, tem-se de um 19 lado a autora qualificada como pensionista (evento 1 - petição inicial) e do outro uma das maiores instituições financeiras do país. (TJSC, Apelação n. 5003982- 73.2020.8.24.0039, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Jaime Machado Junior, Terceira Câmara de Direito Comercial, j. 17-12-2020). Nesta senda, resta claro o poderio econômico da instituição bancária e, de outro lado, a Autora pessoa já de idade avançada que recebe parcos rendimentos oriundos de anos de trabalho e que é retirado sem qualquer pudor pela primeira. Assim, não como ser arbitrado um valor irrisório frente à criar na mente da instituição financeira sentimento de que “o errado compensa e é lucrativo”, tampouco trazer o sentimento de desrespeito ao dano promovido pela mesma. Neste norte, pugna-se pelo pagamento de indenização por danos morais em favo da Autora em valor não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais) vez que, servirá como medida pedagógica e reparatória da ilicitude cometida pela instituição financeira. E, por conseguinte, insta frisar que no valor arbitrado deve incidir a correção monetária pelo INPC, à partir da data de prolação de sentença ou acórdão (súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça), bem como os juros moratórios devem respeita a monta de 1% ao mês, a contar do evento danoso (data do primeiro desconto operado diretamente no benefício previdenciário da autora ou assinatura do contrato no caso de inexistência do primeiro), conforme preconiza a súmula 54 do Superior Tribunal de Justiça. De mesmo rumo a jurisprudência do Egrégio Tribunal Catarinense: Na hipótese em análise, trata-se de pessoa cujo benefício previdenciário perfaz a cifra de pouco menos de um salário mínimo mensal, enquanto que a responsável pela reparação é instituição financeira dotada de grande poder econômico com larga atuação no mercado creditício. Sopesando tais circunstâncias, principalmente em atenção ao caráter punitivo pedagógico da condenação, entende-se adequada a fixação do "quantum" indenizatório em R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigidos pelo INPC, a partir do presente arbitramento, e com incidência de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, desde o evento danoso (Súmulas 362 e 54 do STJ, respectivamente) [...]. (Apelação Cível n. 0301650-54.2018.8.24.0092, da Capital, rel. Des. Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 11-12-2018). Desta feita, é medida que se impõe a condenação da instituição bancária à indenizar a Autora, consoante os termos suso alegados. II.b.7 - DA TUTELA DE URGÊNCIA Diante da lesão ao direito da Autora, mister se faz o restabelecimento de seu direito, de imediato, conforme o todo alegado e documentos ora acostados. Dispõe o CPC: “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao 20 resultado útil do processo”. No caso dos autos, conforme os extratos juntados à esta exordial têm-se que os descontos continuam sendo realizados e, assim, mês após mês, lesando a Autora. Outrossim, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, que origina o pedido liminar reside no fato de que os valores descontados trazem prejuízos à manutenção da subsistência da Autora, sem olvidar que o desconto é realizado no benefício desta, reconhecidamente verba de caráter alimentar o, que, por si só, já demonstra a grave lesão ocasionada pela instituição financeira. Assim, requer-se a concessão da tutela de urgência para determinar a imediata suspensão dos descontos relativos aos valores relacionado à Reserva de Margem Consignável (RMC), até decisão definitiva e, em caso de descumprimento desde já, requer, em caso de não cumprimento por parte da instituição financeira multa no importe de R$ 1.000,00 (hum mil reais) mensais até a retirada do desconto. III - DO DESINTERESSE NA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO A Autora, ainda, se manifesta a teor do que dispõe o artigo 319, inciso VII, do CPC, o seu desinteresse na designação e realização de audiência de conciliação, porquanto é consabidoque em casos análogos são infrutíferas os atos conciliatórios, bem como tratando-se de matéria relativa à direito requer-se, também, após apresentada a manifestação à contestação, o julgamento antecipado do feito. Entrementes, em caso de interesse em transigir no feito a instituição financeira pode formular proposta, por escrito, por ocasião da apresentação de contestação ou, mesmo, entrar em contato com os patronos da Autora. IV - DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: a) Seja concedido o benefício da Justiça Gratuita em favor da parte autora, observando o disposto no artigo 98, parágrafo 1°, incisos I ao IX, do CPC. b) Seja deferida a tramitação em carater preferencial em razão da parte autora ser pessoa idosa. c) Seja o feito analisado sob a ótica do CDC, deferindo-se a inversão do ônus da prova em desfavor da instituição financeira (art 6º, VIII). d) Que seja concedida a TUTELA DE URGÊNCIA para determinar a suspensão dos descontos relativos aos valores relacionado à Reserva de Margem Consignável (RMC), até decisão definitiva e, em caso de descumprimento. Desde já, requer, em caso de não cumprimento por parte da instituição financeira multa no importe de R$ 1.000,00 (um mil reais) mensais até a retirada do desconto. e) Manifesta a parte autora o desinteresse na audiência de conciliação que dispõe o artigo 319, inciso VII, do CPC. 21 f) Seja determinada a citação da parte ré, para, querendo, apresentar resposta no prazo legal, sob pena das sanções legais. g) Seja deferida a produção de todas as provas em direito admitidas, nos termos do artigo 369 do CPC, em especial, a juntada de documentos, requisições de informação, perícia judicial, depoimento pessoal e oitiva de testemunhas. h) Ao final, julgar TOTALMENTE PROCEDENTE a presente demanda para: h.1) Declarar a nulidade do contrato de cartão consignado e determinar a sua consequente conversão à modalidade de empréstimo consignado; h.2) Limitar os juros remuneratórios a taxa média de mercado publicada à época da contratação, se mais favoráveis à parte consumidora; h.3) Determinar o cálculo do valor descontado até o efetivo cumprimento de sentença, em consonância ao delineado na presente peça e julgados, especialmente aquele constante nos autos de Apelação Cível nº 0301090- 05.2017.8.24.0042 (TJSC); h.4) Após, realizada (ou não) as compensações estabelecidas e, subsistindo saldo credor em favor da Autora, determinar sua repetição dobrada, como determina o artigo 42, parágrafo único, do CDC; h.5) Condenar a instituição financeira ao pagamento de indenização por danos morais, em valor não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), acrescido dos consectários legais (correção monetária pelo INPC, desde a sua determinação e súmulas 362 e 54 do Superior Tribunal de Justiça). i) A condenação da parte ré ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios nos termos do artigo 85, § 2o do Código de Processo Civil. Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Termos em que pede deferimento. Em 22/02/2021.
Compartilhar