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A JUSTIÇA COMO UMA VIRTUDE PARA O OUTRO Uma Análise da concepção aristotélica de Justiça em Ética a Nicômaco

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Universidade de Brasília 
Faculdade de Direito 
Dara Aldeny Lima Alves 
 
 
 
 
 
 
 
 
A JUSTIÇA COMO UMA VIRTUDE PARA O OUTRO 
Uma Análise da concepção aristotélica de Justiça em Ética a Nicômaco 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília, 14 de fevereiro de 2020 
 
 
A JUSTIÇA COMO UM VIRTUDE PARA O OUTRO 
Uma Análise da concepção aristotélica de Justiça em Ética à Nicômaco 
 
 
RESUMO 
Aristóteles considera a justiça uma virtude completa, a maior das virtudes, por se 
efetivar e se manifestar por meio dos outros. Isto é, a justiça apenas se consagra numa 
relação entre duas ou mais pessoas, juntamente com a injustiça, é um atributo que se 
volta e se efetiva por meio de comportamentos sociais. Esses comportamentos centram-
se em dois eixos principais, primeiro, a obediência às leis, segundo, as ações que visam 
o bem comum. Aristóteles apresenta duas justiças, uma universal e uma particular, 
enquanto a justiça universal pauta-se por todas as outras virtudes e elementos relativos à 
sociedade como um todo, a justiça parcial envolve apenas o que é prescrito por lei. 
Dentro da justiça particular, há ainda a justiça distributiva e a justiça corretiva, sendo a 
distributiva a que cria equilíbrio nas relações, e a corretiva a que reestabelece esse 
equilíbrio quando ele é violado. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Este artigo tem por objetivo apresentar alguns conceitos sobre Justiça 
contidas na obra Ética à Nicômaco de Aristóteles, bem como provocar alguns 
questionamentos os quais não se pretende responder ou esclarecer de forma tão objetiva, 
mas apenas possibilitar a reflexão e formas alternativas de interpretação dos conceitos 
explanados. Para isso, será utilizada não apenas a obra mencionada central a ser 
estudada, mas títulos auxiliares que trazem visões próprias sobre os conceitos 
aristotélicos, além disso, serão feitas algumas comparações entre pensadores igualmente 
relevantes, tais como Kelsen e Radbruch. 
 
O artigo é iniciado com a apresentação da justiça como virtude 
completa, isto é, virtude por excelência, a chamada justiça universal, a qual só é 
efetivada quando se volta ao a outro, fugindo de fins egoísticos, sendo que esta espécie 
de justiça envolve todas as coisas que adentram o campo de atuação e existência do 
homem bom. 
Em seguida, será apresentado o conceito de justiça particular a qual, 
apesar de também se manifestar no outro, envolve elementos particulares, tais como 
honra e coragem. Essa justiça é subdividida entre justiça distributiva e justiça corretiva; 
a distributiva é pautada pela equidade, promovendo a distribuição proporcional de 
cargos, dinheiro, funções, e outras coisas, pelos governantes, aos governados; já a 
justiça corretiva se insere nas relações privadas, sendo aplicada sempre que a 
proporcionalidade que antes havia em uma transação for quebrada, assim, tem por fim 
restaurar a equidade das relações. 
 
 
1. A Justiça Como Virtude Completa- Justiça Universal 
 
Em Ética e Nicômaco, Aristóteles apresenta sua concepção de “justiça” como: 
“aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que 
as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça se 
entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto” 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 94). 
Num primeiro momento essa conceituação se mostra inteiramente vazia por não 
ir longe de uma definição circular, uma vez que afirma que justiça é uma propensão a 
fazer e buscar o que é justo, enquanto injustiça é uma propensão a fazer e buscar o que é 
injusto. Bem, essa conceituação fica estagnada nos mesmos questionamentos que se 
tinha antes de ela ser apresentada, isto é, o que é, claramente, o justo, para que se saiba 
o que deve ser buscado por quem age com justiça? De mesmo modo, o que é injusto ou 
agir injustamente, para que seja possível identificar ao que quem age com justiça deve 
voltar suas intenções? 
Os conceitos começam a se aclarar quando Aristóteles passa a definir “justiça” 
distinguindo-a da ideia de “injustiça”, porquanto defende que, em muitos momentos, 
um estado, coisa ou faculdade são reconhecidos pelo seu contrário, a exemplo do que é 
 
saudável que pode ser identificado pelo que é considerado não saudável, ou, saindo dos 
exemplos de Aristóteles, percebe-se mais a alegria quando se sabe o que é a tristeza. De 
igual modo, entende-se que o injusto é o que foge à justiça, bem como o justo é o que se 
afasta da injustiça (ARISTÓTELES, 1991, pg. 94). 
Além da ideia de que uma coisa pode ser melhor identificada através de seu 
oposto, assim como ao conhecer o bom, também se torna conhecido o ruim, Aristóteles 
aponta que um estado também é reconhecido por meio do sujeito que o manifesta, assim 
exemplifica, o homem saudável é o que possui saúde e, trazendo esse pensamento pro 
tema deste artigo, o indivíduo justo é o que age com justiça, assim como a justiça, para 
Aristóteles, é fazer o que é justo, podendo-se aplicar o mesmo à injustiça 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 95). Veja-se nas palavras do autor: 
Ora, muitas vezes um estado é reconhecido pelo seu contrário, e não menos 
freqüentemente os estados são reconhecidos pelos sujeitos que os 
manifestam; porque, (a) quando conhecemos a boa condição, a má condição 
também se nos torna conhecida; e (b) a boa condição é conhecida pelas 
coisas que se acham em boa condição, e as segundas pela primeira. Se a boa 
condição for a rijeza de carnes, é necessário não só que a má condição seja a 
carne flácida, como que o saudável seja aquilo que torna rijas as carnes. E 
segue-se, de modo geral, que, se um dos contrários for ambíguo, o outro 
também o será; por exemplo, se o "justo" o é, também o será o "injusto". 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 95). 
 
Em que pese a possibilidade de reconhecer o justo por meio do injusto, 
Aristóteles ensina que, enquanto disposição de caráter, e não faculdade ou ciência e ao 
contrário destes, a justiça e a injustiça não são capazes de gerar efeitos opostos. Isto é, 
ao passo que, por exemplo, na medicina uma mesma coisa pode ser o antídoto e o 
veneno, a justiça, reitere-se, enquanto disposição de caráter, pode gerar apenas o que é 
justo, enquanto a injustiça, no mesmo sentido, pode gerar apenas o que é injusto 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 94-95). 
Em seguida, o significado de justo e injusto ganha contornos mais definidos e já 
apresenta a relação que Aristóteles estabelece entre justiça e direito, porquanto define o 
individuo injusto tanto como o descumpridor da Lei, quanto o que é improbo, enquanto 
o justo, por sua vez, é o que cumpre a Lei, conferindo maior destaque ao que tange o 
cumprimento à leis ao dizer que “todos os atos legítimos são, em certo sentido, atos 
justos; porque os atos prescritos pela arte do legislados são legítimos, e cada um deles, 
dizemos nós, é justo” (ARISTÓTELES, 1991, pg. 95-96)”. 
 
Quanto a esta última ideia vale questionar, é perfeitamente possível aceitar que 
todos os atos praticados pelo legislador sejam legítimos, contudo, é possível afirmar que 
todos os atos legítimos são apenas aqueles prescrito pelo legislador? Haveria outra fonte 
de legitimidade passível de ser usada como norte para definir outros atos como justos ou 
injustos? 
Esse questionamento pode ser, não respondido, mas pensado pelo ângulo do 
objetivo das leis apresentado por Aristóteles, qual seja, o de buscar a vantagem comum, 
o bem de todos, da maioria ou dos que detém o poder para, de certo modo, controlar as 
leis e estabelecer seus fins. Deste modo, seriam justos os atos voltados a criar preservar 
os elementos constitutivos da sociedade política, o que seria feito, por meio das leis, 
impondo comportamentos ancorados em virtudes e inibindo ou vedando aqueles 
expressivos da maldade (ARISTÓTELES, 1991, pg. 96). 
Esse pensamento pode servir, não para responder, mas para pensar os 
questionamentos anteriormentecolocados quanto à justiça e legitimidade, pois, se o ato 
justo é o que corresponde à leis, pois, a lei, criada por um ato legítimo, busca um bem 
geral, então, eventualmente, outros atos, não necessariamente respaldados pelo 
ordenamento jurídicos, mas capazes de buscar e gerar um bem de todos, seriam também 
fontes de legitimidade a serem utilizadas como parâmetros para definir se uma conduta 
é justa. 
Retomando, o individuo justo é o que cumpre a Lei, e a Lei, por sua vez, visa 
assegurar uma vantagem coletiva, um bem para todos, assim sendo, conclui-se que a 
justiça também caminha, senão, para ao outro. 
É nesse momento que Aristóteles afirma a justiça não só como uma virtude, mas 
como a maior delas, uma virtude completa, genuína, a virtude na qual se reúnem e se 
complementam todas as outras virtudes, isto porque é uma virtude que se exterioriza 
não só sobre quem a possui, mas também e, necessariamente, sobre os outros indivíduos 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 97). 
Deste modo, é possível entender que para Aristóteles a justiça é uma virtude 
social e não individual, porquanto afirma que a justiça é o “bem de um outro”, isto é, a 
Justiça completa aristotélica foge a fins egoísticos, é uma virtude de um indivíduo 
relacionada aos outros indivíduos, seu sentido está em uma relação com o próximo. 
 
Ou seja, ser justo então seria agir conforme o que é vantajoso ao próximo, não 
apenas para si mesmo, por isso é possível afirmar que o que é dito justo se afasta 
completamente do que puder ser considerado autocentrado e egoísta. 
Por esta razão também fica mais clara a afirmação de Aristóteles de que todas as 
outras virtudes estão contidas na Justiça, pois, como um bem para o outro, pressupõe-se 
que está intrinsicamente relacionada a outras virtudes, para além de probidade, como 
generosidade, altruísmo e empatia. 
Depreende-se, assim, que a verdadeira materialização e efetivação da justiça se 
revela, para além da obediência às leis, nas ações individuais voltadas à realização de 
um bem social, nos comportamentos probos, honestos e vantajosos em relação aos 
demais indivíduos. 
Nas palavras de Aristóteles: 
Por essa mesma razão se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes, é 
o "bem de um outro66", visto que se relaciona com o nosso próxima! fazendo 
o que é vantajoso a um outro, seja um governante, seja um associado. Ora, o 
pior dos homens é aquele que exerce a sua maldade tanto para consigo 
mesmo como para com os seus amigos, e o melhor não é o que exerce a sua 
virtude para consigo mesmo, mas para com um outro; pois que difícil tarefa é 
essa. 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 97). 
 
No entanto, pode-se há uma aparente contradição no pensamento acima, quando 
Aristóteles diz que “o pior dos homens é aquele que exerce sua maldade tanto para 
consigo mesmo como para com os seus amigos”, pois, em momento posterior, o 
filósofo questiona se seria possível um indivíduo agir injustamente em face de si 
mesmo, concluindo que não, uma vez que um ato injusto é praticado voluntariamente, 
por escolha do ator. Deste modo, afirmar que um indivíduo pode tratar a si mesmo 
injustamente seria afirmar que ele foi tratado injustamente por sua própria vontade, ou 
seja, ele pratica a injustiça e sofre com ela ao mesmo tempo (ARISTÓTELES, 1991, 
p.120). 
Há de se questionar, é possível chamar de injustiça se o injustiçado desejava a 
prática de tal ato, tanto que foi o mesmo, voluntariamente, que o praticou? 
Esse caráter voluntário do ato justo ou injusto conferido por Aristóteles é 
decorrente de sua ideia de Justiça e de Injustiça, pois, relembre-se que ele define esses 
atributos como uma disposição de caráter para buscar ou fazer o que é justo ou o que é 
 
injusto. Ser uma disposição pressupõe que todos são capazes de agir com justiça, é uma 
escolha do indivíduo buscar o que é justo ou o que é injusto. 
O que se percebe mais evidente na concepção aristotélica de justiça é que esta 
apenas se consagra numa relação entre duas ou mais pessoas, a justiça e a injustiça são 
atributos que se voltam e se efetivam por meio de comportamentos sociais. 
Essa Justiça completa, chamada de Universal, possui uma estreita relação com os 
deveres que o indivíduo deve assumir na sociedade, lembrando que os atos justos são 
aqueles prescritos pela Lei, uma vez que as leis, como atos legítimos do legislador, são 
justas (OLIVEIRA, 2018, pg. 48). 
Assim é, diz-se que a justiça universal envolve deveres dos indivíduos porque 
considera-se que há justiça quando há conformidade com a Lei e, a Lei, por sua vez, impõe 
comportamentos ao indivíduo. O indivíduo que cumpre a lei está a exercer uma virtude, 
qual seja, a Justiça, mas, ao mesmo tempo, ao obedecer a lei efetiva diversas outras 
virtudes, inclusive porque todas estão contidas na justiça (OLIVEIRA, 2018, pg.49) 
Ou seja, a Justiça como uma virtude completa, universal, se manifesta em de duas 
formas, no cumprimento das leis, e no agir voltado ao bem comum. Isto é, injusto 
descumpre a lei e age, exclusivamente, conforme seus próprios interesses, enquanto o justo 
obedece às leis e volta suas ações à satisfação tanto de seus interesses, quanto dos coletivos, 
pois a justiça como uma virtude para o próximo serve não só quem a possui, mas à 
sociedade como um todo (OLIVEIRA, 2018, pg. 51). Nas palavras de Aristóteles: 
E é evidente o modo como devem ser distinguidos os significados de "justo" 
e de "injusto" que lhes correspondem, pois, a bem dizer, a maioria dos atos 
ordenados pela lei são aqueles que são prescritos do ponto de vista da virtude 
considerada como um todo. Efetivamente, a lei nos manda praticar todas as 
virtudes e nos proíbe de praticar qualquer vício. E as coisas que tendem a 
produzir a virtude considerada como um todo são aqueles atos prescritos pela 
lei tendo em vista a educação para o bem comum. 
(ARISTÓTELES, 1991, p.99). 
 
Essa concepção de justiça conversa, de certo modo, com a concepção 
kelseniana, uma vez que, a justiça para Kelsen é social, pois é definida a partir da 
recepção de uma certa conduta pela sociedade, isto é, uma conduta é justa quando está 
de acordo com as condutas impostas pela coletividade (KELSEN, 1998, p.4-5). 
Com “recepção da sociedade” quer-se dizer a forma como um determinado 
tratamento dado por um indivíduo aos outros é recebida, vista, entendida, enfim, 
valorada socialmente, é aí que se avalia se a conduta é como deve ser, e então é justa, ou 
não é como deveria ser, e então é injusta (KELSEN, 1998, p.4-5). 
 
Kelsen explica que se houver contradição entre a norma de justiça e a norma do 
direito positivo, o valor jurídico e o valor de justiça não irão coincidir e, deste modo, a 
norma do direito positivo será injusta, uma vez que contrária à norma de justiça. 
Contudo, ainda que assim pareça num primeiro momento, essas qualidades de justiça e 
injustiça não pertencem às normas em si, mas aos atos que estabelecem essas normas, 
os atos por meio dos quais elas se materializam (KELSEN, 1998, p.6-7). 
Ou seja, além da concepção kelseana de justiça também estar relacionada à 
coletividade, e não centrada no indivíduo, também se relaciona com a lei, na medida em 
que o ato jurídico e o ato considerado justo devem coincidir. 
Enfim, ainda que o justo seja orientado pela Lei, é preciso lembrar que as leis 
são passíveis de desvirtuamento, assim sendo, pode-se dizer que nem sempre um ato 
pautado em uma lei será justo se essa lei estiver desvirtuada. Todavia, o certo é que a 
Justiça de forma plena, efetiva, como uma virtude em relação ao próximo, como um 
bem para o outro, necessariamente deve orientar-se em direção ao bem comum. 
Aristóteles apresenta, ao menos, duas ideias de Justiça, essa concepção até aqui 
explanada é a Justiça Universal. Falemos agora de um outro tipo de justiça que está 
contida nessa primeira ideia, qual seja, a Justiça Particular. 
 
2. Justiça Particular 
 
Para compreendera ideia de justiça particular, veja-se logo de início como 
Aristóteles a introduz em Ética à Nicômaco: 
É evidente, pois, que além da injustiça no sentido lato existe uma injustiça 
"particular" que participa do nome e da natureza da primeira, porque sua 
definição se inclui no mesmo gênero. Com efeito, o significado de ambas 
consiste numa relação para com o próximo, mas uma delas diz respeito à 
honra, ao dinheiro ou à segurança — ou àquilo que inclui todas essas coisas, 
se houvesse um nome para designá-lo — e seu motivo é o prazer 
proporcionado pelo lucro; enquanto a outra diz respeito a todos os objetos 
com que se relaciona o homem bom. 
 
Como visto acima, além da justiça universal, que seria em sentido amplo, há a 
justiça particular, ou justiça em sentido estrito, sendo que ambas se expressam “numa 
relação para com o próximo”. Contudo, a justiça em sentido amplo envolve tudo com o 
que se relaciona o homem bom, enquanto a justiça em sentido estrito abarca elementos 
 
mais particulares, como honra, dinheiro e segurança, sendo que o fim é o prazer 
consequente deste ganho. 
Assim, enquanto a justiça universal pauta-se por todas as outras virtudes e 
elementos relativos à sociedade como um todo, a justiça parcial envolve apenas o que é 
prescrito por lei. Isto é, relembre-se que a justiça universal apresenta duas 
manifestações, uma é a busca pelo bem comum, e a outra é o agir conforme a Lei; no 
caso da justiça particular ou parcial, há apenas uma forma de materialização, que é por 
meio do cumprimento das leis, de comportamentos compatíveis com a Lei 
(STACCIARINI, 2007, pg. 08). 
Dentro da justiça particular, Aristóteles ainda faz uma segunda separação, veja-
se: 
Da justiça particular e do que é justo no sentido correspondente, (A uma 
espécie é a que se manifesta nas distribuições de honras, de dinheiro ou das 
outras coisas que são divididas entre aqueles que têm parte na constituição 
(pois aí é possível receber um quinhão igual ou desigual ao de um outro); e 
(B) outra espécie é aquela que desempenha um papel corretivo nas 
transações entre indivíduos. 
Desta última há duas divisões: dentre as transações, (1) algumas são 
voluntárias, e (2 outras são involuntárias — voluntárias, por exemplo, as 
compras e vendas, os empréstimos para consumo, as arras, o empréstimo para 
uso, os depósitos, as locações (todos estes são chamados voluntários porque a 
origem das transações é voluntária); ao passo que das involuntárias, (a) 
algumas são clandestinas, como o furto, o adultério, o envenenamento, o 
lenocínio, o engodo a fim de escravizar, o falso testemunho, e (b) outras são 
violentas, como a agressão, o seqüestro, o homicídio, o roubo a mão armada, 
a mutilação, as invectivas e os insultos. 
(ARISTÓTELES, 1991, pg. 100) 
 
Como visto no trecho acima, a justiça particular subdivide-se entre justiça 
distributiva e justiça corretiva, conceitos que serão vistos com um pouco mais de 
profundidade adiante. 
 
2.1. Justiça Distributiva 
Aristóteles define justiça distributiva como aquela manifestada na distribuição 
de honras, deveres, dinheiro, funções, cargos, dentre outras coisas que podem ser 
divididas entre os membros da sociedade política (ARISTÓTELES, 1991, pg. 100). 
Essa distribuição se dá conforme as leis, sendo que é estabelecida uma relação 
de subordinação entre governados e governantes, que são os responsáveis pela 
distribuição (STACCIARINI, 2007, pg. 10). 
 
Quanto à forma como a distribuição de ocorrer, Aristóteles relembra: 
Mostramos que tanto o homem como o ato injustos são ímprobos ou iníquos. 
Agora se torna claro que existe também um ponto intermediário entre as 
duas iniqüidades compreendidas em cada caso. E esse ponto é a 
eqüidade, pois em toda espécie de ação em que há o mais e o menos também 
há o igual. Se, pois, o injusto é iníquo, o justo é equitativo, como, aliás, 
pensam todos mesmo sem discussão. E, como o igual é um ponto 
intermediário, o justo será um meio-termo. 
 
Depreende-se do trecho acima que, para Aristóteles, a justiça está diretamente 
ligada à equidade, veja-se, não à igualdade, mas à equidade, sendo um meio termo entre 
dois injustos. Isto é, o intermediário entre dois injustos é o justo pois, estando entre o 
mais e o menos, é exatamente o adequado para um indivíduo ou situação especifica, ou 
seja, para o caso concreto (ARISTÓTELES, 1991, pg. 100). 
Assim, entende-se que a igualdade não é absolutamente justa pois abrange 
apenas duas possibilidades, ou se tem mais dois lados, ou se tem menos, o que foge à 
justiça na medida em que, existindo situações distintas e indivíduos distintos, dois 
elementos iguais não estarão adaptados às necessidades especificas de cada um. 
Além disso, Aristóteles também defende a ideia de mérito, ideia essa que não 
permite o tratamento igual a pessoas distintas. O mérito expressa um valor moral, o que 
pressupõe que um indivíduo merece algo a ser distribuído em virtude de ter agido com 
respeito à excelência moral (STACCIARINI, 2007, pg. 10). 
Por sua vez, a equidade abrange não duas possibilidades, mas abrange ao mesmo 
tempo o intermediário, o igual e o relativo, por isso é justo. Assim, o justo é igual para 
certas pessoas, mas também é um intermediário entre duas coisas que são, cada uma, 
maiores ou menores, enquanto também é relativo a cada pessoa. Isto é, o justo se 
manifesta de formas distintas, dependendo das pessoas envolvidas (ARISTÓTELES, 
1991, pg. 100). 
Assim, a igualdade só será justa quando também for relativa aos sujeitos 
envolvidos, isto é, a distribuição igualitária é feita a indivíduos iguais, enquanto se os 
indivíduos não são iguais, a distribuição deve ser também desigual. O desrespeito a 
essas regras sempre gera disputas e reclamações (ARISTÓTELES, 1991, pg. 100). 
Reitere-se, o justo deve estar localizado entre dois extremos, podendo, assim, ser 
chamado de proporcional, isto é, o justo é um meio-termo, o proporcional, deste modo, 
é um meio-termo entre dois extremos desproporcionais. Esse critério de 
 
proporcionalidade refere-se a uma proporção de igualdade de razões, sendo a razão 
humana que irá definir o que se considera igual, sendo que, o proporcional é tratar os 
iguais como iguais e os desiguais conforme suas desigualdades (STACCIARINI, 2007, 
pg. 10). 
A ideia aristotélica de justiça distributiva segundo um critério de equidade 
alinha-se à concepção de Radbruch, para o qual a ideia de justiça deve relacionar-se 
com a ideia de igualdade, sendo que, quanto a esta última ideia, o autor a divide em dois 
tipos: a igualdade absoluta entre bens é chamada de justiça igualitária ou niveladora, 
enquanto a igualdade relativa ou proporcional é aquela que considera as particularidades 
do indivíduo, ou seja, é a mesma premissa de tratar os iguais como iguais e os desiguais 
como desiguais. Radbruch também chama essa segunda forma de igualdade de justiça 
distributiva (RADBRUCH, 2010, p. 49). 
O autor explica que a justiça igualitária se dá entre, pelo menos, dois indivíduos, 
enquanto a justiça distributiva pressupõe uma relação entre pelo menos três, sendo que, 
na primeira os envolvidos estão em posição de total igualdade, enquanto na segunda há 
um terceiro em posição de superioridade que é o responsável pelo tratamento 
proporcional ou relativo a cada um dos outros indivíduos (RADBRUCH, 2010, p. 49). 
Assim, afirma que a justiça igualitária é de direito privado, enquanto a 
distributiva é de direito público, sendo que é um ato desta justiça que permite a 
existência de igualdade entre os indivíduos que estão na relação de justiça igualitária, e 
é por isso que o autor considera a justiça distributiva como a forma originária de justiça 
(RADBRUCH, 2010, p. 49-50). 
O que se conclui sobre essa parte é que a justiça distributiva, ancorada no 
critério de equidade, visa dar a cada um o que é merecido, evitando que uma pessoa 
recebe mais ou menos do que merecepara, deste modo, impedir que os indivíduos 
tenham vantagens indevidas uns sobre os outros. Isto é, a aplicação do critério de 
proporcionalidade assegura que o que for distribuído a cada sujeito se dará conforme 
seus próprios méritos e particularidades. 
 
2.2. Justiça Corretiva 
A justiça corretiva é definida por Aristóteles como aquela responsável 
por desempenhar um papel corretivos nas transações entre os sujeitos. 
 
Enquanto a justiça distributiva é de direito público, pois envolve a 
relação de subordinação entre governados e governantes que, como dito, realizam a 
distribuição de coisas de forma equitativa, a justiça corretiva é de direito privado, 
promovendo correções nas transações particulares (STACCIARINI, 2007, pg. 14). 
Nas palavras de Luiz Fernando Barzotto: 
“De outro lado, tem-se a Justiça Corretiva. É aquela que exerce uma função 
corretiva nas relações entre os indivíduos. Ela visa o reestabelecimento do 
equilíbrio nas relações privadas, voluntárias (contratos) e involuntárias 
(ilícitos civis e penais). A igualdade buscada é a igualdade absoluta, expressa 
na equivalência entre o dano e a indenização.” 
(BARZOTTO, 2010, pg 83 apud OLIVEIRA, 2018, pg. 63) 
 
Ou seja, deve-se pensar em uma transação que gera um dano a uma das 
partes, deste modo, a justiça corretiva visa corrigir esse dano igualando as relações 
envolvidas. Isto é, a correção visa reparar uma injustiça que surgiu em uma relação 
privada para que ela retorne ao seu estado justo, assim é, a justiça corretiva devolve 
equilibro a relação que passou a apresentar uma injustiça (OLIVEIRA, 2018, pg. 64). 
O responsável por equilibrar essas relações é o juiz, o qual deve garantir 
que um sujeito que tenha recebido mais do que merece, o devolva, ou que aquele que 
deixou de receber o que merece, o receba, de modo a reestabelecer a proporcionalidade 
e a equidade que, a princípio, havia sido conferida pela justiça distributiva (OLIVEIRA, 
2018, pg.65). 
Assim, o que se depreende dessa breve e superficial explanação da 
justiça corretiva é que seu objetivo é reestabelecer o equilibro que havia sido criado pela 
justiça distributiva, deste modo, estão essencialmente atreladas, sendo que o sentido de 
uma só é mantido na existência da outra. 
 
CONCLUSÃO 
Pode-se concluir que a justiça para Aristóteles só é efetivamente 
realizada quando se volta às relações sociais. O indivíduo justo é o que cumpre a Lei, e 
a Lei, por sua vez, visa assegurar uma vantagem coletiva, um bem para todos, assim 
sendo, conclui-se que a justiça também caminha, senão, para ao outro 
Para Aristóteles, a justiça é uma virtude social e não individual, porquanto 
afirma que a justiça é o “bem de um outro”, isto é, a Justiça completa aristotélica foge a 
 
fins egoísticos, é uma virtude de um indivíduo relacionada aos outros indivíduos, seu 
sentido está em uma relação com o próximo. 
Ou seja, ser justo então seria agir conforme o que é vantajoso ao próximo, não 
apenas para si mesmo, por isso é possível afirmar que o que é dito justo se afasta 
completamente do que puder ser considerado autocentrado e egoísta. 
Depreende-se, assim, que a verdadeira materialização e efetivação da justiça se 
revela, para além da obediência às leis, nas ações individuais voltadas à realização de 
um bem social, nos comportamentos probos, honestos e vantajosos em relação aos 
demais indivíduos. 
A justiça particular, como aquela que contém a justiça distributiva e a justiça 
corretiva, é o meio pelo qual a justiça universal pode impor aos indivíduos a escolha de 
comportamentos probos, honestos e íntegros em relação aos demais, uma vez que são os 
subtipos de justiça contidos na justiça particular que, primeiro, criam equilíbrio nas 
relações e, num segundo momento, quando esse equilíbrio é quebrado, possibilitam sua 
restauração de modo a fazer as relações sociais retornarem ao seu estado de justiça. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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<https://abdet.com.br/site/wp-content/uploads/2014/12/%C3%89tica-a-
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(Capítulo I – As Normas da Justiça) 
 
OLIVEIRA, Vitor Hugo Diniz. Os Conceitos da Justiça em Aristóteles: a construção 
dos conceitos de Justiça apresentado no quinto livro da Ética à Nicômaco. 2018. 
Disponívelem:<https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-
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(Seções §§2-7 e §15-17) 
 
 
STACCIARINI, Samantha. Teoria da justiça em Aristóteles. Revista Eletrônica Direito 
e Política, Itajaí, v.2, n.1, 1º quadrimestre de 2007. Disponível em: 
www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791 
 
 
http://www.univali.br/direitoepolitica%20-%20ISSN%201980-7791

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