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DOCENTE: CLÁUDIA ALBAGLI DISCENTE: NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES DISCIPLINA: FILOSOFIA DO DIREITO RESOLUÇÃO DE ATIVIDADE ORIENTADA I - Escola e Movimento: O Jusnaturalismo Cosmológico é uma fase jusnaturalista que abarca toda a Antiguidade Clássica de Grécia e Roma e se perpetua até o fim do Império Romano. Este movimento, por sua vez, retrata uma forte relação entre o Estado e a Mitologia Grega (religião da época), em um contexto onde a justiça era consolidada por meio da adequação da conduta humana à ordem ideal do cosmo e da alma, constituindo ela a lei suprema da sociedade organizada como Estado. E, onde os direitos naturais corresponderiam à dinâmica do próprio universo, refletindo as leis eternas e imutáveis que regem o funcionamento do cosmos. Nesse período, importantes conceitos surgiram como: pólis (a cidade-estado, unidade política e palco de todos os discussões da ágora); a virtude (um conceito muito mais político do que moral, que questiona a postura do indivíduo perante a sociedade) e o de felicidade (“feliz era o homem que alcançava a plenitude, que completava sua existência, realizava a sua existência enquanto cidadão). É importante ressaltar que, segundo os postulados do Jusnaturalismo Cosmológico, o Direito Natural estava sempre acima do Direito Positivo. No que tange a relação do CONCEITO DE JUSTIÇA com o JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO e, consequentemente com a decisão judicial que nos fora enviada (mais a frente explicada de forma mais explícita), elencam-se dois importantes filósofos em destaque: PLATÃO E ARISTÓTELES. Platão e Aristóteles revelam abordagens distintas da tarefa de se estabelecer a ordem social e criar mecanismos que estruturem a existência social. Enquanto adotavam metodologias distintas, ambos afirmavam que uma ordem natural era inerente a esse mundo e, uma vez que seus princípios fossem conhecidos, tal ordem poderia constituir as bases da ordem social do homem. - PLATÃO: Platão vinha de uma família que desempenhara importante papel na política ateniense e, o curso natural seria que este desse prosseguimento a essa tradição. Entretanto, ao se deparar com o universo corrupto político e, inconformado com a execução de seu amigo Sócrates (de quem incorporou várias ideias, como as ideias de justiça, poder e educação), decidiu não se manter no mesmo caminho dos seus ascendentes. E, em 386 a.C. fundou a Academia, no intuito de um dia formar um rei filósofo. O IDEALISMO PLATÔNICO, uma das principais teorias de Platão, retrata a ideia de que nós, como sujeitos, devemos sempre buscar o ideal. E, este seria o papel da Filosofia, exercitar o indivíduo para que ele possa transcender o mundo sensível/terreno e alcançar a essência das coisas no mundo inteligível/ideal. Como principal referencial, trabalhou com a ideia do Mito da Caverna de Platão, que traduzia a caverna como mundo sensível (tudo era impuro e mutável) e, a saída da caverna que apresentava um mundo onde estava a realidade das coisas e sua pureza, imutabilidade. Em se tratando de JUSTIÇA, Platão dizia que esta representava a busca pelo comum, pelo bem estar coletivo. Um Estado seria justo se assim pudesse viabilizar/conceber um bem comum a todos. E, nesse contexto, o Direito serviria como o viabilizador dessa vida coletiva justa, na medida em que assegurasse o mínimo comum a todos. Cabe aqui ressaltar também, a relação entre lei e virtude: para Platão, afastando-se do conceito de virtude como um agir politizador, a lei seria de fato virtuosa se buscasse um bem comum para a comunidade. Por fim, vale frisar a ideia de República Ideal para Platão, que para que funcione, necessita de uma unidade não fracionada de Estado. E, para além de leis, essa República necessitaria de defesa, a ser realizada pelos guardiões (cidadãos de alma de prata). Ademais, os artesãos tratariam com a parte do trabalho manual e os filósofos pensariam por esta e a administrariam. - ARISTÓTELES: Aristóteles, discípulo de Platão, é considerado por muitos como o maior sistematizador de toda Filosofia pelo caráter estruturado e lógico do seu pensamento. Rompendo com o idealismo platônico, na medida em que voltava seu olhar para o agir humano concreto e delimitava o seu lugar de fala. Para ele, há apenas um mundo (e não o dualismo apresentado por Platão), que é o que habitamos e a essência das coisas estão na nelas mesmas. Esse importante filósofo, trouxe para a Filosofia a DISTINÇÃO ENTRE DOIS SABERES: o teorético e o prático. Para ele, o saber teorético é aquele cuja causa e efeito são alheios ao homem, isto é, toda forma de conhecimento que independe da vontade humana. Enquanto que, o saber prático, é resultado ação humana no mundo. Com relação ao saber prático, este ainda se dividiria em duas vertentes: a técnica (conhecimento que uma vez produzido se separa do homem) e a práxis (toda forma de conhecimento que não se distingue de quem produziu) Para além mais, decorre de seus postulados também, uma distinção entre ética e política. A ética, seria a condição do indivíduo com a sua própria existência; ao passo que a política teceria uma relação entre indivíduo x sociedade. A singularidade do pensamento de Aristóteles, é se voltar para ação humana, o exame de seus pressupostos e consequências. Neste sentido, a ação tem um caráter teleológico, isto é, voltada a determinados fins. Para ele, segundo a própria DIALÉTICA DA POTENCIALIDADE, o homem só se realiza na sua experiência, sendo resultado das capacidades individuais de cada um e juntamente com as possibilidades de desenvolvê- las. Aristóteles dizia que FELICIDADE é o objetivo último da ação humana em sociedade. O sentido de felicidade para ele, dizia respeito à realização do homem frente a sua vida coletiva, muito ligada com a noção de bem estar. Todavia, como tudo em sua teoria, a felicidade seria resultado de uma ação, sobretudo virtuosa. E, a VIRTUDE para ele seria representada no equilíbrio do chamado “JUSTO-MEIO”, uma ação equilibrada. A grande excepcionalidade da filosofia do Direito de Aristóteles se revela pela sua SISTEMATIZAÇÃO FILOSÓFICA DA JUSTIÇA. Para ele, entre todas as virtudes, a justiça é a maior delas, já que encarna a própria noção de equilíbrio (não por caso o símbolo da justiça é uma balança, que significa a capacidade de entre os extremos encontrar o ponto intermediário). Em seu Livro Ética a Nicômico, livro destinado ao seu filho, ele conclui que uma sociedade justa seria aquela que observa e cumpre as leis vigentes. A justiça total ou política, seria a noção de justiça voltada a sociedade como um todo. Devendo esta ser encapada pelo próprio Estado (naquele contexto pela pólis), para realizar a manutenção pacífica das relações da sociedade, antenadas ao bem comum. A justiça seria a soma entre equidade e alteridade. Por equidade, entende-se, que seria a noção do justo diante do caso concreto, em outras palavras, significa dizer que mesmo que existisse uma norma, poderia se afastar essa norma existente para se decidir de acordo com o que na situação de fato fosse mais justo. Ao passo que, a alteridade (elemento que já havia aparecido em Platão) aparece como uma percepção do outro, respeito a diferença na sua peculiar situação de outro. Ele separa dois grandes campos de compreensão sobre a Justiça: tomada no sentido universal e tomada no sentido particular. No sentido universal, a justiça é tomada num sentido lato. Ela é tanto uma manifestação geral da virtude quanto uma apropriação do justo à lei que, no geral, é tida por justa. Para Aristóteles, a lei, produzida na pólis a partir de um princípio ético, é diretamente relacionada ao justo, mas não por conta de sua forma (ou seja, não é justa somente porque é formalmente válida), e sim em razão de seu conteúdo. Ou seja, para ele, uma má lei, não é uma lei. A justiça é a virtude que está emtodas as demais justiças, é a única virtude universal. No sentido particular, pode-se afirmar que a justiça também é uma justiça em si mesma. Somente ela tem um conteúdo específico que não em acréscimo outra virtude. A virtude compreende uma ação de distribuição, que demanda uma qualidade de estabelecer o que é de cada qual. Ou seja, considera-se justiça a ação de dar a cada um o que é seu. Há duas manifestações da justiça no sentido estrito: justiça distributiva e justiça corretiva, que se subdivide em voluntária e involuntária. Por JUSTIÇA DISTRIBUTIVA, entende-se que está relacionada a distribuição de prêmios e honrarias, que se relaciona a ideia de proporcionalidade: a distribuição na medida da igualdade material, em que o indivíduo só receberá na proporção que contribuiu, nos lembrando uma visão meritocrática. A proporcionalidade caracteriza o justo, e a sua falta é o injusto. A JUSTIÇA CORRETIVA, diz respeito ao fato da justiça ser tratada como algo para recomposição de condições que eventualmente tenham sido alteradas, ou que tragam um prejuízo a alguém. Essa noção de reparação pode surgir quando ambas as partes queriam estar na relação e sofreram prejuízo OU quando uma das partes sofreu prejuízo sem querer estar na relação. A justiça corretiva ou reparatória, como dito anteriormente, pode ser por ação involuntária, isto é, há um dano a umas das partes sem que ela desejasse estar na relação, à exemplo do crime; ou, por ação voluntária, quando ambas as partes desejam estar na relação jurídica (vontade recíproca), mas uma das partes sofre um prejuízo e deve ser reparada por tal. Por fim, é importante ressaltar o sentido de prudência, do grego, phrônesis, como uma virtude/razão prática do indivíduo, isto é, agir de maneira razoável, equilibrada. Isso, converge toda a ideia de virtude já traçada. Feita toda essa análise do Jusnaturalismo Cosmológico e, ressaltando as figuras de Platão e Aristóteles, com suas contribuições, sobretudo no que tange o conceito de justiça, seguem correlações com a sentença do Acórdão da 6ª Turma Civil, de Classe, APELAÇÃO, do Acórdão de N. 1030056, de Processo de N. 20140110590008APC (0013604-17.2014.8.07.0018) no qual o Apelante LEVINO PEREIRA DA SILVA, entra com um processo em relação a Danos Morais causado por uma funcionária pública de um determinado posto de saúde do DISTRITO FEDERAL. 1) A fixação dos danos morais não pode ser tão exacerbada, a ensejar o enriquecimento sem causa da vítima, tampouco irrisória, a incentivar o desdém ante a inócua impunidade, devendo gerar no agente causador uma efetiva admoestação educativo-punitiva. Sendo a vítima das ofensas verbais, proferidas por recepcionista de posto de saúde, pessoa idosa e com a saúde visivelmente debilitada no momento do fato, e considerando a obrigação do Estado de prestar serviço adequado e respeitoso aos seus usuários, tem-se por adequada a majoração do quantum indenizatório. Nessa parte da sentença, percebe-se alguns dos temas abordados pela noção de JUSTIÇA POR ARISTÓTELES, como: Quando se refere a fixação dos danos morais não poder ser nem tão exacerbada tampouco irrisória, nos remete a ideia da justiça ser a maior virtude, segundo Aristóteles, porque encarna a própria noção de equilíbrio. Não por acaso o símbolo da justiça é uma balança, referindo-se à capacidade de entre os extremos encontrar o ponto intermediário. E seguindo por essa mesma lógica de Aristóteles, da ponderação, têm-se outra parte na sentença que exemplifica muito bem isso, onde a Juíza não cedendo aos extremos, seguindo uma ideia de virtude como meio justo, uma justiça equilibrada, defere uma quantia indenizatória de R$5.000,00 (nem excluindo a possibilidade de indenização tampouco extrapolando os valores). Cabe citar também, a noção de prudência, do grego, phrônesis, como uma virtude/razão prática do indivíduo que reflete no agir de maneira razoável, equilibrada. Como se vê também em: 2)“... apesar de entender ser devida a responsabilização do réu pelo comportamento não condizente com o esperado de um servidor público, decerto não é razoável a concessão de uma indenização de valor tão exacerbado como o requerido pela parte autora. Portanto, atenta a estes norteadores, fixo a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), quantia essa apta a compensar os danos morais injustamente suportados pelo autor, sem se prestar ao seu enriquecimento sem causa, como também ao réu, de modo a que passe a melhor prestar os seus serviços, evitando situações como a descrita na inicial” Depois, nota-se em: 3)“A juíza sentenciante, ao arbitrar o quantum indenizatório devido, ponderou (fl. 113v): Nesse contexto, certo é que o ato praticado por agente público, responsável por recepcionar pacientes, não condiz com o comportamento que se espera de um servidor, atendente de um posto de saúde da rede pública” Que o argumento da Juíza utilizado, traça uma relação com a ideia de Platão, que traz na sua concepção de justiça uma consideração de que é tudo aquilo que é necessário para o bem estar coletivo, sendo, portanto, um Estado justo, aquele onde todos vivem felizes, satisfazendo o bem comum. Dessa forma, percebe-se, que o comportamento da funcionária não estaria enquadrado em uma forma justa, isto é, não pensou em trazer um bem estar coletivo, um bem comum para ambos. Fato este, que por não acontecer, acabou gerando tal inconveniente. Mais adiante em: 4) Na hipótese dos autos, as circunstâncias que envolvem o fato autorizam a fixação de indenização em patamar superior àquele aplicado em primeira instância. Isso porque o ofendido é pessoa vulnerável, tanto pela sua condição de idoso (à época com 62 anos de idade), como pelo estado de enfermidade em que se encontrava no momento do fato. Conforme declarações feitas pela testemunha Maria Cleudes, "o autor estava com estado de saúde aparentemente muito ruim", situação esta que, por si só, exigiria do Estado, por meio de seus agentes, a prestação de serviço adequado e respeitoso ao paciente. Todavia, não foi o que ocorreu, passando a recepcionista do posto de saúde a proferir ofensas verbais contra o autor diante de terceiros. Desse modo, observando-se o caráter punitivo e compensatório da sanção, a natureza intrínseca da indenização, a gravidade da repercussão da ofensa, as circunstâncias específicas do evento, os incômodos sofridos pelo autor, bem como a natureza do direito subjetivo fundamental violado, o quantum indenizatório deve ser majorado de R$ 5.000,00 para R$10.000,00. Em relação aos honorários advocatícios de sucumbência, também devem ser majorados. Têm-se, a retomada novamente do conceito de Aristóteles da ponderação dos fatos, de forma que se chegue a um equilíbrio e não preponderância dos extremos. Dessa forma, o autor teve um reajuste majorado de R$5.000,00 para R$10.000,00 em danos morais. Pode-se relacionar também, ao conceito de Justiça Distributiva de Aristóteles, que se relaciona a ideia de proporcionalidade: a distribuição na medida da igualdade material, em que o indivíduo só receberá na proporção que contribuiu, nos lembrando uma visão meritocrática. A proporcionalidade caracteriza o justo, e a sua falta é o injusto. E, mais além, pode-se ainda fazer uma conexão da postura da funcionária, com a ideia do justo total, que ao agir de tal maneira não cumpriu com o “uma sociedade justa é aquela que observa e cumpre as leis vigentes”, não agiu de forma a plantear a ideia de justiça voltada a sociedade como um todo. Cabe ainda relacionar tal passagem com a falta de concordância da funcionária do posto com conceito de alteridade em Aristóteles, isto é, a inexistência do olhar para o outro na sua peculiar situação de outro. Acredito que ainda seja cabível, relacionar tal passagem, com o conceito dejustiça reparatória, que traz o justo como algo para a recomposição de condições que tenham sido eventualmente alteradas e/ou que traga prejuízo a alguém. Esta noção é aplicada quando ambas as partes da situação queriam estar na relação e sofreu prejuízos ou quando uma das partes sem sofre prejuízo sem querer estar na relação (que é o caso do dessa sentença). Depois em: 5) Compareceu nesta Circunscricional LEVINO PEREIRA DA SILVA, comunicando-nos que hoje, 07/04/2014, por volta das 8 horas, foi ao posto de saúde nº 6 do Riacho Fundo II-DF, buscar seus remédios e fazer o tratamento médico, todavia, ao chegar na farmácia não havia a maior parte dos medicamentos, que reclamou da situação e foi destratado pela servidora do setor de atendimento, que na frente dos demais usuários do posto de saúde agrediu-lhe verbalmente, chamando-o de velho nojento, rabugento, e que todas as vezes que vem aqui ela cria esse clima. O comunicante informa ainda que esse é um padrão de atendimento do posto 6 do Riacho Fundo II e que já chegou até a desmaiar nesse posto de saúde. Nota-se que: Como o próprio Aristóteles traça em seus pensamentos, o homem seria definido por sua ação. Com isso, a funcionária do posto de saúde, tendo assumido respectiva postura, irá ser julgada por tal e, mais além, a partir disso se chegará a conclusões que permeiam a ideia do justo ou não justo, do virtuoso e do não virtuoso. Assim, essa funcionária, ao não agir de forma equilibrada (novamente retornando ao pensamento de Aristóteles da noção de prudência, do grego, phrônesis, como uma virtude/razão prática do indivíduo que reflete no agir de maneira razoável, equilibrada), não seria virtuosa, justa e prudente, já que a justiça é a própria personificação do equilíbrio e não da escolha dos extremos. Ademais em: 6) Deve o magistrado, ao fixar o valor da reparação por dano moral, atentar- se a duas balizas. Tal reparação deve existir como um meio de punição do infrator da norma legal e, ao mesmo tempo, não promover o enriquecimento ilícito do autor. No caso concreto, apesar de entender ser devida a responsabilização do réu pelo comportamento não condizente com o esperado de um servidor público, decerto não é razoável a concessão de uma indenização de valor tão exacerbado como o requerido pela parte autora. Portanto, atenta a estes norteadores, fixo a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), quantia essa apta a compensar os danos morais injustamente suportados pelo autor, sem se prestar ao seu enriquecimento sem causa, como também ao réu, de modo a que passe a melhor prestar os seus serviços, evitando situações como a descrita na inicial. Percebe-se que: A ideia de Justiça dentro do conceito definido por Platão é, mais uma vez, retomada. Na medida em que, para Platão, a justiça seria definida a partir da ideia de bem estar coletivo, em que, consequentemente, um Estado justo seria aquele capaz de produzir esse bem estar. E, isso se expressa, sobretudo na parte final deste parágrafo em “de modo que passe a melhor prestar os seus serviços, evitando situações como a descrita no final”.
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