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CURSO BIOMEDICINA GENES DE COMPORTAMENTO A genética do comportamento busca compreender os mecanismos genéticos e neurobiológicos envolvidos em diversos comportamentos animais e humanos, graças aos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano. Essas regiões podem ser identificadas em análises de amostras de sangue de irmãos ou familiares com os mesmos traços psicológicos. Já foram encontrados genes e regiões genômicas que tornam as pessoas mais vulneráveis a adotar comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também já foram detectados genes relacionados à orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo. Os pesquisadores advertem que portar esses genes não significa que a pessoa necessariamente desenvolva o comportamento ligado a ele. Não existe determinismo genético, apenas predisposição. Diz Ridley: “Os genes podem se expressar ou não”. Quando analisamos vários aspectos do comportamento humano devemos considerar a existência de um conjunto de genes atuando de forma aditiva (poligenes) que predispõem um indivíduo a ter determinado padrão comportamental, não podemos esquecer a interferência do ambiente, cujos fatores vão interagir na expressão, da característica comportamental. Sabemos hoje que todo comportamento depende, em maior ou menor grau, de fatores genéticos e de fatores ambientais, interagindo de maneira extremamente complexa. Herdabilidade Herdabilidade é uma medida estatística que é expressa como um percentual. Esse percentual representa a extensão em que os fatores genéticos contribuem para variações, em um dado traço, entre os membros de uma população. É evidente que a quantificação da influência dos genes em um dado traço não implica no “determinismo genético”. Biologia não é destino, e os recentes estudos em genética comportamental confirmam a importância dos fatores ambientais. Mesmo uma característica fortemente hereditária como a fenilcetonúria pode ter a sua expressão fenotípica modulada de modo decisivo pelo ambiente. Alterações nutricionais podem permitir uma vida normal aos portadores destes genes, mas que sem essas mudanças da dieta certamente desenvolveriam o problema. Nos últimos anos, inúmeros pesquisadores vêm tentando identificar genes de suscetibilidade para doenças psiquiátricas ou distúrbios de comportamento. Descobriu-se, por exemplo, um polimorfismo ligado ao gene transportador da serotonina que causa uma recaptação diminuída dessa substância na fenda sináptica (Heil et alii, 1996). Trabalhos recentes confirmados na nossa população mostraram que pacientes com doença de Alzheimer (Oliveira et alii, 1998) e distúrbios psiquiátricos (depressão maior, distimia e doença bipolar) diferem quanto a esse polimorfismo em comparação com controles normais. Em um estudo muito interessante realizado na Noruega verificou-se que, entre os alcoólatras, aqueles que se tornam agressivos sob o efeito do álcool também diferem dos não-agressivos em relação a esse polimorfismo. A influência genética em doenças psiquiátricas, tais como a doença do humor (ou psicose maníaco-depressiva), a esquizofrenia ou o alcoolismo, já é amplamente aceita (Alper e Natowicz, 1993; Mallet et alii, 1994). Em uma genealogia extensa da Holanda (Brunner et alii, 1993) identificaram, em indivíduos com comportamento agressivo e anti-social, uma mutação recessiva em um gene do cromossomo X (e que portanto só afeta indivíduos do sexo masculino). Essa mutação causa a deficiência de uma enzima, a momoamina oxidase A, responsável pelo metabolismo da dopamina, serotonina e noradrenalina. Felizmente, essa deficiência parece ser rara. Trabalhos recentes em modelos animais têm mostrado que poderiam existir genes que levam ao alcoolismo ou à dependência de drogas, pois enquanto alguns se tornam dependentes outros têm aversão às mesmas substâncias (Crabbe et alii, 1994; Palmour et alii, 1997). O mesmo comportamento já havia sido observado em humanos, uma vez que um estudo realizado em um grupo de voluntários verificou que a injeção de heroína, em teste cego, provocava uma reação de prazer em alguns e de aversão em outros. Outros trabalhos muito polêmicos sugerem que o homossexualismo masculino (Hu et alii, 1995), o "bom-humor" e o otimismo também teriam influências genéticas. Segundo os autores, os genes do "bom humor", por exemplo, atuariam no metabolismo das dopaminas ou serotoninas (Hamer, 1996). Enquanto os marcadores genéticos responsáveis pelo comportamento humano continuam sendo pesquisados, a questão central é o seu uso para identificar traços de personalidade desejáveis ou não. Em seres humanos, estudos familiares servem a verificar se indivíduos aparentados apresentam maior semelhança comportamental do que indivíduos não parentes, o que sugeriria (sem no entanto demonstrar), um componente herdável no comportamento. Estudos com pares de gêmeos idênticos, gêmeos fraternos e com irmãos biológicos ou adotivos, são uma ferramenta muito importante para demonstrar e quantificar a importância da herdabilidade em características psicológicas e comportamentais em humanos. A era da engenharia genética e da biologia molecular trouxe uma revolução nas técnicas. Hoje, pode-se fazer uma busca, através de todo o genoma, de locos (regiões genômicas) contendo genes capazes de influenciar comportamentos complexos. Em humanos, vêm se tornando numerosos os estudos de associação, onde as freqüências de diferentes alelos para um gene candidato (para um neuroreceptor, por exemplo) são comparadas entre indivíduos afetados e não afetados por um determinado traço psicopatológico ou comportamental. Em modelos animais, podemos hoje criar linhagens onde um determinado gene de interesse comportamental foi completa e permanentemente inativado . Podemos, por outro lado, inativar parcial e temporariamente a expressão de um gene, com a técnica do « antisense ». Podemos ainda super expressar um gene, através de animais transgênicos. Questões de Estudo 1) O que determina a expressão comportamental de um indivíduo? 2) O que você entende por influência poligênica? 3) O que são marcadores genéticos? 4) Por que “determinismo genético” não é mais aceito pelos cientistas? 5) Estudos do comportamento apresentam melhores resultados com gêmeos (idênticos e fraternos). Explique: 6) O que é polimorfismo genético? 7) Cite um exemplo, já comprovado, que apresenta uma relação genética e ambiental.
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