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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - ICS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Amaro Antônio da Costa Junior RA:N314265 Beatriz Ferreira da Silva RA:N2550G1 Larissa Conceição de Mendonça RA:D7546F0 Maria Eduarda Inácio RA:N316560 Matheus Henrique Brandão dos Reis RA:D738BE4 Rebeca Emanuele Anacleto de Lima RA:D7452H9 RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO: ENFERMEIRO-PACIENTE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2019 1. INTRODUÇÃO A enfermagem lida com o ser humano e sua dor desde os primórdios, além de ser inerente da profissão a relação profissional-paciente, que busca garantir boas condições de saúde física e mental, por meio de mecanismos de enfrentamento das adversidades, da dor e sofrimento. Dentre isso, existe o sofrimento psíquico, onde suas proporções atingem não somente aquele que sofre, mas também as pessoas que o rodeiam. Por decorrência disso, Hildegard Peplau, em 1952, consolidou os estudos sobre o relacionamento terapêutico, que se concentravam em técnicas psicoterápicas e intervenções tradicionais da enfermagem psiquiátrica. Portanto, foi desenvolvido a Teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem, que se baseia na própria experiência, colocando o enfermeiro não como modelo, mas sim como profissional que contribui para o desenvolvimento dos pacientes por meio da aprendizagem levando rumo à independência e autonomia, para que seja possível a integração das diferentes necessidades do ser humano – social, fisiológica, biológica, psicológica e intelectual. Desse modo, consideramos o relacionamento terapêutico como um instrumento de cuidado para a reintegração e reorganização da pessoa em sofrimento psíquico. Trata-se, portanto, de uma tecnologia baseada em saberes práticas destinadas ao entendimento do ser humano em sua totalidade, de suas limitações, possibilidades, necessidades imediatas e potencialidades, permitindo o conhecimento pessoal e reconhecimento do paciente como importante promotor do autocuidado e o desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento do sofrimento e da reintegração social. 2. RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO O Relacionamento Terapêutico constitui uma série de processos com diversas fases e etapas, que possuem características próprias destinadas ao entendimento do ser humano em sua totalidade, de suas limitações. Com objetivo de curto, médio e longo prazos elaborados em conjunto com o cliente e sua família com foco em suas necessidades e singularidades, sendo o principal objetivo desenvolver a capacidade e potencial do paciente, para enfrentar adversidades, além da sua reintegração social. A relação enfermeiro-paciente tem como foco o enfermeiro e essência o objetivo de ajudar o indivíduo e a família a enfrentarem e compreenderem a experiência da dor, do sofrimento pela qual passam. Desse modo, é importante diferenciar o relacionamento terapêutico social e o de ajuda, sendo o social algo mais caracterizado como amizade, companheirismo ou contato para a realização de uma atividade. Segundo Plepau, o RT de ajuda é um processo entre duas pessoas ou mais; que se torna mais útil quando ambos, enfermeira e paciente, "crescem" como resultado da aprendizagem ocorrida na situação de cuidado. O interagir com o paciente se torna terapêutico quando o enfermeiro compreende sua função na comunicação e assume responsabilidade sobre esta. 3. COMPONENTES ESSENCIAIS DO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO O desenvolvimento do relacionamento terapêutico exige do profissional conhecimento e domínio sobre os componentes essenciais, como: • Manifestações de comportamentos decorrentes de risco à saúde mental sobre os componentes do relacionamento; • Os recursos terapêuticos como limites e oferecimento de apoio; • A comunicação e a competência em comunicação terapêutica. Na assistência de enfermagem, o enfermeiro interage com o paciente o tempo todo, usando a comunicação verbal e não verbal. Quando se convive por mais tempo com o paciente, como em casos de doenças crônicas ou transtornos com cuidado mais prolongado, ambos experimentam fenômenos, sentimentos, pensamentos e reações que interferem no RT. Os componentes essenciais são :capacidade de amar e ser amado, dependência aceita, interdependência e independência, confiança, respeito, autoconhecimento, aceitação e não-julgamento, e empatia. 3.1. Capacidade de amar e ser amado As manifestações de comportamento de enfermeiro que expressam amor ao paciente é que o levam a sentir-se amado. Mesmo ações que parecem insignificantes podem ser valiosas ao paciente. O enfermeiro também deve analisar como encontra-se a satisfação de suas necessidades de amar e ser amado para conhecer e compreender melhor as necessidades do paciente. 3.2. Dependência aceita, interdependência e dependência Ao experimentar alterações no comportamento habitual, a pessoa vivencia uma situação de dependência. Essa dependência tem de ser aceita pelo enfermeiro e ele tem que estar alerta para percebe-lo. Cabe ao enfermeiro ajuda-lo a aceitar a interdependência necessária e saudável e estimular a independência para o paciente. O enfermeiro não deve fazer as coisas pelo paciente e sim junto a ele. Encorajar o paciente a usar seus próprios recursos reduz sentimentos de desesperança e dependência. Ao estimular a participação do cliente no movimento de dependência para independência, pode analisar e avaliar seu potencial para mudanças. 3.3. Confiança Sentimento de fidedignidade com o outro. A confiança permite à pessoa aprender a lidar com o mundo e a resolver os desafios que apresentam. Flexibilidade, cumprimento de promessas, manutenção de contato visual, respeito ao silencio do cliente, planejamento das atividades diárias e promoção de alivio da sua ansiedade podem propiciar o surgimento mais rápido de confiança. 3.4. Respeito mútuo Ter respeito pela pessoa é acreditar em sua dignidade e seu valor, independentemente de seu comportamento. É a demonstração de sentimento empático, associada ao fato de que o cuidado não é só uma tarefa, trata-se uma oportunidade para auxilia-lo a desenvolver seu potencial e seus recursos pessoais para enfrentar a situação vivenciada. O respeito é transmitido ao outro principalmente por ações, ou seja, de modo não-verbal. 3.5. Empatia e envolvimento pessoal A empatia contém diversos aspectos cognitivos, emocionais, comunicacionais e racionais. É a tentativa de sentir o mundo do outro através da visão dele, dos sentimentos e suas emoções. Para que ela ocorra, é necessário a percepção da realidade do paciente, considerando seus sentimentos e pensamentos. A comunicação empática ocorre quando o profissional consegue transmitir ao outro que ele é compreendido tal qual ele vivencia seu mundo. Além disso, o profissional deve experimentar a empatia sem que haja envolvimento pessoal que possa prejudicar o relacionamento, portanto, não terapêutico. No RT é esperando que haja envolvimento emocional em algum grau, mas deve-se permanecer nos limites terapêuticos para minimizar efeitos subjetivos. 3.6. Aceitação e não-julgamento A pessoa que sofre psiquicamente, pode ter uma sobrecarga por decorrência de preconceitos socais, perda de emprego e ansiedade em vários níveis, o que leva a apresentar comportamentos não aceitáveis socialmente. O enfermeiro deve ser capaz de aceitar e compreender o cliente da forma que ele é, sendo possível a pessoa experimentar segurança e confiança. 3.7. Autoconhecimento É o desenvolvimento da capacidade de reconhecer as próprias atitudes e dão vida ao comportamento do ser humano. O esforço para se autoconhecer deve ser feito por toda vida, pois quanto mais ela se conhece, mais consciente ela é de suas atitudese da influência dessas em suas ações ou em seu modo de ser. 4. FASES DO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO O relacionamento terapêutico compreende 4 fases importantes envolvendo suas características próprias e os desafios a serem vencidos em cada uma delas. São normalmente conhecidas como fase da pré internação, fase inicial, fase de continuação e a fase final. Neste momento é fundamental que se observe cada fase se iniciar, pois, dependendo do caso clinico do paciente pode não haver ocorrência de algumas dessas fases. 4.1. Fase da pré internação Caracterizada pelo conhecimento do cliente pelo enfermeiro tendo a finalidade de obter informações de como se comporta e quem ele é, construindo assim a primeira impressão do cliente. Logo em seguida o enfermeiro deve verificar a veracidade das informações obtidas com sua equipe e se possível com o auxílio de familiares, respeitando sempre a privacidade das informações do paciente. Em seguida o enfermeiro deve realizar uma análise minuciosa do comportamento do paciente, como são suas atitudes, como se sente a respeito de sua primeira impressão sobre ele, a partir deste momento que se inicia o processo do relacionamento terapêutico. O enfermeiro pode se deparar com desafio de observar detalhes que o levam a não aceitar inicialmente o cliente em decorrência da sua identificação com ele ou por ser um membro familiar e, ou até mesmo identificar uma situação vivenciada anteriormente. Por este motivo é de extrema importância que o enfermeiro analise muito bem seus sentimentos antes de assumir o compromisso com o relacionamento terapêutico com o cliente. Basicamente as atividades que podemos ver nesta fase são: • Obtenção e validação de dados adquiridas pela observação do comportamento e na entrevista feita ao cliente; • Analise da atitude e dos sentimentos em relação ao cliente e a família; • Decisão sobre assumir ou não o compromisso com o desenvolvimento desse relacionamento; • Identificação precoce dos problemas percebidos a partir dos dados adquiridos e devidamente registrados. 4.2. Fase Inicial Caracterizada pelo conhecimento mútuo entre enfermeiro e cliente, ou seja, são suas pessoas estranhas que se encontraram para firmar um contrato com o relacionamento terapêutico, com foco no presente momento e na perspectiva de vida para o cotidiano. É normal que surja algumas reações de transferência e contratransferência e é neste momento que o enfermeiro deve ser cauteloso para que não ocorra reações inadequadas que possam prejudicar a evolução deste relacionamento. O enfermeiro sempre ao abordar o cliente deve chama-lo por seu nome conservado títulos, apresentar-se informando seu nome, qual função que desempenha e em que unidade de serviço, horário e dia da semana em que trabalha, sua disponibilidade geral, como é a rotina diária do serviço e previsão do termino. Nesta fase é importante deixar claro ao cliente qual o objetivo, como será desenvolvido com o ele, horário, dias e duração que pode variar de 15 a 30 minutos da interação do relacionamento terapêutico. O cuidado diário com o cliente pode ser realizado pelo enfermeiro isoladamente ou junto com a equipe ou por meio de visita domiciliar. Informar sobre o caráter confidencial da relação e dos registros da mesma, considerando os limites da confidencialidade do RT. É necessário ter em mente que, durante o estabelecimento do RT, o enfermeiro ouve o cliente sem caráter de julgamento, procurando perceber e respeitar seus valores, suas crenças e suas opiniões etnoculturais. Após efetivação do compromisso com o RT realiza-se uma nova entrevista com o cliente e a família para adquirir novos dados e validar os que já foram coletados, analisa-se também informações existentes no sistema sobre o cliente, em seguida o enfermeiro foca nos diagnósticos de enfermagem e nos resultados iniciais esperados. Obter a confiança do paciente nesta fase é primordial. O enfermeiro pode se deparar nesta fase com desafio de rejeição por parte do cliente sobre o RT, e pode se consultar com seu supervisor para chegar a uma solução que, se alcançada, os impulsiona para a próxima fase. 4.3. Fase de continuação Caracterizada na elaboração pelo enfermeiro com a participação do cliente dos resultados esperados. Construindo assim possibilidades de soluções para os desafios apresentados para o cliente. Nesta fase o enfermeiro inicia a validação dos desafios já identificados, a obtenção de dados novos e a priorização das intervenções de enfermagem. Também identificando os aspectos fortes do cliente para enfrentar os desafios. • Fenômenos que podem ser alcançados nessa fase são: - Aceitação mútua; - Dependência aceita; - Confiança; - Empatia; - Envolvimento emocional; - Interdependência; - Independência. Alguns problemas podem ser observados nesta fase como o estado de confiança e a falta de confiança, rejeição, teste e manipulação. O enfermeiro deve aceitar o comportamento adotado do cliente como evolução do RT, dialogar e estabelecer limites sobre estes junto ao cliente. 4.4. Fase do Término Caracterizado em geral pela observação do relacionamento terapêutico vivenciando a consecução de suas metas. Nesta fase o enfermeiro faz com o cliente faça a análise dos progressos, ganhos e dificuldades ocorridas na elaboração do relacionamento terapêutico. Existem alguns motivos em que podem ocasionar o final do RT como: • Alta do cliente • Transferência do cliente • Abandono do tratamento • Deslocamento do enfermeiro para outro local Os fenômenos que surgem nessa fase são gratificação e independência rumo a autonomia. 5. IMPASSES TERAPÊUTICOS Os impasses terapêuticos ou bloqueios de progressão são originados por diversos motivos e criam barreiras no relacionamento terapêutico. No entanto, o enfermeiro deve lidar com essas adversidades o mais rápido possível, pois podem provocar sentimentos como ansiedade e frustação, tanto no profissional como no cliente. São três principais. (STUART & LARAIA, 2002) 5.1. Resistência A resistência pode ser considerada como uma tentativa do paciente de não perceber os aspectos que geram ansiedade em si próprio e pode ser percebida como uma relutância em tomar conhecimento dessas situações. Geralmente, a resistência resulta em uma perda de vontade do cliente de mudar quando reconhece a necessidade de mudança e normalmente é apresentado na fase de trabalho de RT, pois é a parte que mais há a resolução de problemas. Alguns exemplos de resistência: - Supressão e repressão de informações pertinentes; - Intensificação dos sintomas; - Autodepreciação e visão negativa quanto ao futuro; - Busca forçada em relação à saúde, na qual o paciente experimenta uma recuperação súbita, mas de curta duração. 5.2. Transferência É uma reação inconsciente e inadequada em que o paciente experimenta sentimentos e atitudes pelo enfermeiro que estavam originalmente associados a figuras significativas em sua vida. É necessário que o enfermeiro esteja preparado para identificá-la e não responder de forma inadequada. Essa condição está, normalmente, associada à necessidade de afeição, respeito ou dependência e apresenta dois tipos, sendo as reações hostis e as reações de dependência. 5.3. Contratransferência É um impasse criado pelo profissional, geralmente em resposta a resistência do paciente. O enfermeiro pode estimular, sem perceber, a dependência do cliente ou adotar um comportamento defensivo, fazendo uso inadequado de sua autoridade, provocando uma perda de confiança mútua surgida no processo e desenvolvimento da independência. 6. CONCLUSÃO Conclui-se, portanto, o relacionamento terapêutico vem sendo construído ao longoda história como um conjunto de saberes e técnicas que busca humanizar o cuidado com o paciente no atendimento psiquiátrico, sendo o trabalho de Plepau um dos mais importantes referenciais, pois permitiu subsidiar a assistência ao paciente em sofrimento psíquico e os outros estudos sobre o tema. Sendo assim, podemos considerar o RT como um instrumento de ajuda e compreensão do outro, onde cabe a enfermagem se adaptar a singularidade do cliente, entendendo sua trajetória e planejando a assistência a ser prestada de acordo com suas necessidades. Empatia é o ponto fundamental para o processo, visto que o profissional deve conhecer o paciente, respeitando suas particularidades e sabendo lidar com todas adversidades. Além disso, o enfermeiro tem papel fundamental na desconstrução de medos e inseguranças que permeiam as relações interpessoais, devendo oferecer ajuda para enfrentar esse sofrimento de forma que a independência, autonomia e reintegração social sejam alcançadas, possibilitando uma qualidade de vida ao paciente. REFERÊNCIAS Kantorski LP, Pinho LB, Saeki T, Souza MCBM. Relacionamento terapêutico e ensino de enfermagem psiquiátrica e saúde mental: tendências no estado de São Paulo. São Paulo: Revista da Escola de Enfermagem da USP; 2005. STUART, G.W & LARAIA, M.T. Enfermagem psiquiátricas.4. ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso editores; 2002. Stefanelli M C et al, organizadora. Enfermagem psiquiátrica em suas dimensões assistenciais. Barueri: Manole; 2008.
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