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COMPILAÇÃO TEXTOS SOBRE LEI 13 964 19 pdf

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O DIREITO PENAL BRASILEIRO: DA DÉCADA DE 90 AO “PACOTE 
ANTICRIME” 
Desde a década de 1990, o Direito Penal brasileiro tem se tornado mais e mais 
punitivista: Lei dos Crimes Hediondos (lei 8.072/1990), Lei do Crime 
Organizado (Lei 9.034/1995), a Nova Lei de Organizações Criminosas (Lei 
12.850/2013), culminando no Pacote Anticrime. 
Nas palavras de Bitencourt: 
Com efeito, a escassez de políticas públicas que sirvam de suporte para a 
progressiva diminuição da repressão penal, unida à ineficácia do sistema penal, 
produzem o incremento da violência e, em consequência, o incremento da 
demanda social em prol da maximização do Direito Penal. Essa foi a 
experiência vivida no Brasil durante alguns anos da década de 1990, pautada 
por uma política criminal do terror, característica do Direito Penal simbólico, 
patrocinada pelo liberal Congresso Nacional, sob o império da democrática 
Constituição de 1988, com a criação de crimes hediondos (Lei n. 8.072/90), 
criminalidade organizada (Lei n. 9.034/95) e crimes de especial gravidade. 
(BITENCOURT, 2018, p. 141). 
O resultado dessa produção em massa de leis de tons mais punitivistas já deu 
resultado: 726 mil presos, a 3ª maior população carcerária no mundo. O número 
de presos provisórios chega a 35% desse montante. Um desrespeito ao princípio 
da presunção de inocência: 
Presos algemados por dias a viaturas em frente a delegacias por falta de vagas 
no sistema penitenciário. A cena, registrada na última semana em Porto Alegre 
(RS), é um retrato da realidade do país. Um ano após uma ligeira queda na 
superlotação, os presídios brasileiros voltaram a registrar um crescimento 
populacional sem que as novas vagas dessem conta desse contingente. O 
percentual de presos provisórios também voltou a crescer, mostra um 
levantamento do G1, dentro do Monitor da Violência, feito com base nos dados 
dos 26 estados e do Distrito Federal. 
(…) Há hoje 704.395 presos para uma capacidade total de 415.960, um déficit 
de 288.435 vagas. Se forem contabilizados os presos em regime aberto e os que 
estão em carceragens da Polícia Civil, o número passa de 750 mil. 
Os presos provisórios (sem julgamento), que chegaram a representar 34,4% da 
massa carcerária há um ano, agora correspondem a 35,9%. 
Essa produção massificada é precedida de pouco estudo teórico, resultando em 
leis pessimamente redigidas. Um grande vácuo da lei 9.034/95 é sequer ter dado 
a definição jurídica para o que deveria ser considerada “organização criminosa”, 
vácuo apenas corrigido com a Lei 12.850/2013: 
Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação 
criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o 
procedimento criminal a ser aplicado. 
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais 
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas 
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional. 
A Lei 12.850/2013, base jurídica principal da controversa “Operação Lava Jato”, 
importou do Direito estadunidense o instituto da colaboração premiada, 
pessimamente aplicado na prática forense brasileira: 
Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de 
outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: 
I – colaboração premiada. 
Um dos poucos aspectos positivos do Pacote Anticrime é a previsão do Juiz das 
Garantias, que aliás vem sendo rechaçado por membros do Judiciário de norte a 
sul do país. Uma das poucas instituições de magistrados a defender a inovação 
foi a Associação Juízes para a Democracia. O Judiciário, em linhas gerais, tem 
defendido posicionamentos extremamente conservadores, no pior sentido da 
palavra. 
Enquanto a mídia elegeu a preocupação com os crimes de corrupção nas esferas 
políticas como a maior preocupação do Direito Penal brasileiro, o país ostenta 
altas taxas de homicídio, com pouca resolutividade e muita demora na conclusão 
do inquérito policial e oferecimento da denúncia pelo MP: 
O aprimoramento também se justifica pela lentidão do processamento de 
homicídios no Brasil. De acordo com o estudo realizado pelo Instituto Sou da 
Paz e publicado por meio de um edital da SENASP, a média de tempo entre 
crime e encerramento do inquérito foi de 539 dias em São Paulo, com mediana 
de 406 dias. Como o oferecimento de denúncias criminais contra suspeitos de 
homicídios tende a demorar mais de um ano, contabilizar somente as 
ocorrências que geram um processo penal no mesmo ano do fato pode implicar 
no subdimensionamento do esclarecimento de homicídios em alguns estados. A 
inclusão das denúncias criminais de homicídios de um determinado ano base e 
aquelas oferecidas no ano subsequente no Indicador de Esclarecimento de 
Homicídios atenua essa limitação sensivelmente. (Dados do Instituto Sou da 
Paz.). 
Diante desse panorama, há pouca possibilidade de otimismo no futuro do Direito 
Penal brasileiro. 
 
REFERÊNCIAS 
BITENCOURT, Cezar Roberto. TRATADO DE DIREITO PENAL, VOL. 1. 24ª 
edição. São Paulo: Saraiva, 2018. 
INSTITUTO SOU DA PAZ. Link: http://soudapaz.org/o-que-fazemos/conhecer/. 
Notícia G1. SUPERLOTAÇÃO AUMENTA E NÚMERO DE PRESOS 
PROVISÓRIOS VOLTA A CRESCER NO BRASIL. Publicada em 
26/04/2019. Link. 
LFG – canal ciências criminais: https://canalcienciascriminais.com.br/o-direito-penal-
brasileiro-da-decada-de-90-ao-pacote-anticrime/ 
 
O veto ilógico: as organizações 
criminosas agradecem ao governo - 
Modificação ao art. 41 da lei de execução 
penal 
https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2019/04/26/superlotacao-aumenta-e-numero-de-presos-provisorios-volta-a-crescer-no-brasil.ghtml
https://canalcienciascriminais.com.br/o-direito-penal-brasileiro-da-decada-de-90-ao-pacote-anticrime/
https://canalcienciascriminais.com.br/o-direito-penal-brasileiro-da-decada-de-90-ao-pacote-anticrime/
Guilherme Nucci 
Não temos como compreender o veto absoluto à nova lei, mormente vindo de um 
Governo que se proclama rigoroso no combate ao crime organizado. Esperamos que 
o Parlamento derrube o veto. 
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019 
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Quando menciono em minhas obras, em aulas dos cursos de Direito 
(graduação e pós-graduação) e em palestras realizadas nos congressos que 
o Estado Brasileiro não tem nenhuma política criminal definida, trata-se de 
verdade incontestável, pois se legisla de qualquer forma e em descompasso 
com a atuação efetiva do Poder Executivo, além de olvidar a jurisprudência 
majoritária dos tribunais Superiores. O que cada vez mais se pode 
demonstrar. 
O Congresso Nacional enviou para sanção presidencial a alteração ao art. 41 
da lei de execução penal, transformando o parágrafo único em § 1º, incluindo 
os §§ 2º e 3º. Ei-los: “§ 2º A correspondência de presos condenados ou 
provisórios, a ser remetida ou recebida, poderá ser interceptada e analisada 
para fins de investigação criminal ou de instrução processual penal, e seu conteúdo 
será mantido sob sigilo, sob pena de responsabilização penal nos termos do 
art. 10, parte final, da lei 9.296, de 24 de julho de 1996. § 3º A interceptação e 
análise da correspondência deverá ser fundada nos requisitos previstos pelo art. 
2º da lei 9.296/96, e comunicada imediatamente ao órgão competente do Poder 
Judiciário, com as respectivas justificativas” (grifamos). 
Há, portanto, um objetivo maior e mais relevante do que simplesmente conferir o 
conteúdo da correspondência para entregá-la ao preso ou permitir que este a 
envie para destinatário fora do presídio. Esse controle se faz há muito tempo, 
tanto assim que se consegue detectar planos dos presos contra a vida de 
autoridades, além de outras práticas criminosas.A nova lei, ora vetada, criava a interceptação de correspondência para fins 
investigatórios e formadores de prova contra o preso. Tanto assim que o 
legislador se valeu exatamente da lei 9.296/96, reguladora da interceptação 
de comunicações telefônicas, impondo, para a interceptação da 
correspondência do preso, para formar prova, os mesmos requisitos da 
interceptação telefônica, como se pode constatar no art. 2º da referida lei: 
“Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando 
ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da 
autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por 
outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal 
punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer 
hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, 
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo 
https://api.whatsapp.com/send?text=https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI316163,11049-O+veto+ilogico+as+organizacoes+criminosas+agradecem+ao+governo
https://api.whatsapp.com/send?text=https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI316163,11049-O+veto+ilogico+as+organizacoes+criminosas+agradecem+ao+governo
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9296.htm
impossibilidade manifesta, devidamente justificada”. Embora na forma 
negativa (não será admitida, exceto quando...), deve-se ler: admite-se a 
interceptação telefônica quando houver indícios razoáveis da autoria ou 
participação em infração penal; quando a prova não puder ser feita por outros 
meios disponíveis; quando o fato investigado constituir infração penal punida 
com reclusão; existir requerimento motivado e específico. Desse modo, a 
interceptação de correspondência do preso poderá ser realizada se esses 
requisitos estiverem presentes. 
Em primeiro lugar, deve-se avaliar o entendimento atual do 
termo correspondência. Se, em 1984, quando a lei de execução penal foi feita, 
significava um conjunto de cartas ou mensagens escritas em papel ou material 
similar, hoje, além desse perfil a correspondência se dá por meios eletrônicos, 
em redes sociais, e-mails e aplicativos como o WhatsApp. Logo, com a nova 
lei, é possível interceptar mensagens eletrônicas, inclusive. Embora o preso 
não devesse ter celular no estabelecimento penal, sabe-se que muitos deles 
possuem e se valem dos aparelhos para comunicação com o mundo externo. 
Antes de analisar os requisitos para a interceptação de correspondência, há 
que se avaliar a constitucionalidade da nova norma, confrontando-a com o 
disposto pelo art. 5º, XII, da CF: “é inviolável o sigilo da correspondência e 
das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, 
salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei 
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”. 
Em princípio, pode-se apontar a seguinte leitura do referido inciso XII: é 
inviolável o sigilo da correspondência, das comunicações telegráficas, de 
dados e das comunicações telefônicas; como exceção, no caso das 
comunicações telefônicas, para fins de investigação criminal ou instrução 
processual penal, por ordem judicial, conforme previsto em lei, podem estas 
ser violadas. Por isso, algumas vozes sustentam ser inviolável – sem 
qualquer exceção – o sigilo da correspondência. Não é o que temos 
argumentado. Em primeiro lugar, há quem diga, voltando à época da 
Constituinte, que a expressão “salvo, no último caso” foi inserida depois, por 
quem deu a redação final, vale dizer, assim não foi votado pelo Plenário do 
Parlamento. Entretanto, inexistem provas disso. O segundo argumento é a 
inexistência de direitos absolutos, mesmo dentre os direitos e garantias 
individuais, previstos no art. 5º da CF. A propósito disso, é completamente 
ilógico supor que a principal comunicação – a telefônica – pode ser violada, 
mas a secundária, nos tempos atuais, que é a correspondência não poderia. 
Outro fator diz respeito à natural privação de certos direitos fundamentais de 
quem está preso, cumprindo pena ou cautelarmente, como a liberdade de ir e 
vir e, por via de consequência desta restrição, também não pode se 
comunicar com o mundo exterior a bel prazer. Seria outra grave contradição 
sugerir que o preso perde o bem maior – a liberdade de locomoção – mas 
pode acessar o mundo externo como bem quiser e as autoridades 
penitenciárias não poderiam ter nenhum controle sobre isso. 
Em suma, em interpretação lógico-sistemática, entendemos constitucional a 
nova lei, agora vetada, que introduziu a interceptação de correspondência no 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
ambiente carcerário, não com a finalidade de garantir a segurança, pois isso 
já era feito, mas com a meta de captar prova contra o condenado ou preso 
provisório. Em tempos de organização criminosa, inclusive os grupos 
existentes dentro de estabelecimentos penais que tanto mal tem causado à 
sociedade em geral e aos outros presos, com mortes e agressões físicas de 
toda ordem, é preciso que o Estado tenha todo o poder necessário, previsto 
em lei, para enfrentar essa situação. 
O mesmo governo que enviou ao Parlamento o pacote anticrime, propondo 
formas mais rigorosas de lidar com o Direito Penal; o mesmo Executivo que 
pretende garantir aos agentes policiais maior autonomia para deter 
criminosos, inclusive, matando-os, esse mesmo Poder de Estado bloqueia um 
avanço que poderia haver na legislação da execução penal. 
Sobre os requisitos para a interceptação de correspondência, conforme a 
nossa interpretação já realizada no âmbito da lei 9.296/96: a) haver indícios 
razoáveis de autoria ou participação em infração penal: não optou o legislador 
pela tradição da legislação brasileira, que menciona, como regra, 
indícios suficientes de autoria; deve-se inferir que razoáveis são os suficientes. 
Outra falha é apontar a divisão em autoria e participação; a regra é mencionar 
somente indícios suficientes de autoria (neste termo está incluída a 
participação). O preso, condenado ou provisório, precisa ser suspeito do 
cometimento um crime, dentro ou fora do cárcere. Por outro lado, não se 
inicia uma investigação criminal por meio da interceptação de 
correspondência, mas depois de se captar indícios suficientes de autoria em 
outras fontes; b) haver inviabilidade para captar outras provas em meios diversos 
da interceptação de correspondência: como mencionado acima, a interceptação 
precisa ser indispensável à investigação ou instrução processual; havendo 
fartura de outras provas, não se quebra o sigilo. Outro ponto é a 
singela denúncia anônima: isoladamente, não autoriza a interceptação. É 
preciso que, a partir da denúncia anônima, recolham-se dados suficientes 
para, depois disso, requerer a interceptação ao juiz; c) o crime em questão deve 
ser punido com a pena de reclusão: excluídas estão todas as infrações apenadas 
com detenção, prisão simples ou somente multa. Embora não concordemos 
com essa limitação, quer-se demonstrar que apenas se procede à 
interceptação em casos mais graves. Exclui-se, com isso, o crime de ameaça, 
tão comum no cenário da organização criminosa e da violência doméstica; 
d) requerimento motivado e objeto específico: viola-se o sigilo da 
correspondência, para valer como prova em matéria criminal, desde que 
haja fundamento claro para isso e a indicação, com qualificação, do(s) 
investigado(s), salvo se impossível naquele momento. É inadmissível um 
pleito de interceptação genérico, envolvendo, por exemplo, todos os presos 
de determinado estabelecimento, apenas para procurar conteúdo probatório. 
Há uma situação possível de ocorrer. Se a correspondência que entra e sai 
de um presídio é fiscalizada, torna-se possível descobrir, durante essa 
análise,um conteúdo que sirva de prova para investigação criminal ou para a 
instrução de um processo. É preciso recolher esse material e verificar se há 
qualquer outra prova a respeito, em inquérito ou processo em andamento; 
havendo, com base nesses elementos pleiteia-se que a correspondência, já 
apreendida na fiscalização, possa ser utilizada como prova. A lei 
nova, lamentavelmente vetada, prevê que o sigilo da correspondência seja 
mantido no inquérito ou processo-crime, sob pena de responsabilização penal 
nos termos do art. 10, parte final, da lei 9.296/96: “Constitui crime realizar 
interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou 
quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não 
autorizados em lei. Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa” (grifamos). 
Eis o publicado no site da Câmara dos Deputados: “em edição extra do DOU, 
publicada no início da tarde desta terça-feira (26), o presidente Jair Bolsonaro 
comunicou o veto total ao projeto aprovado pela Câmara dos Deputados e 
pelo Senado que autorizava a interceptação da correspondência de presos, 
condenados ou provisórios, para auxiliar investigação criminal ou processo 
penal. Mais cedo, o Diário Oficial da União informava a sanção da proposta, 
que teria virado a lei 13.913/19. Agora, o governo corrigiu o erro e informou 
que essa lei se refere ao projeto que permite a redução da extensão de faixa 
não edificável à margem de rodovias por lei municipal ou distrital, aprovado 
pela Câmara no mês passado. Sobre o veto ao projeto que permitia a quebra 
do sigilo da correspondência de presos, Bolsonaro afirmou que a medida gera 
insegurança jurídica por estabelecer, para a fiscalização das 
correspondências dos presos, um regime de tratamento legal equiparado ao 
das interceptações telefônicas, em descompasso com a Constituição, que as 
tratam de modo diverso. Ele alega ainda que o controle sobre o conteúdo das 
correspondências dos presos agravará a crise no sistema penitenciário do 
País, “impactando negativamente o sistema de segurança e a gestão dos 
presídios, especialmente nos presídios de segurança máxima”. O veto será 
analisado agora em sessão do Congresso Nacional, a ser marcada. Para ser 
derrubado, um veto precisa do voto contrário da maioria absoluta de 
deputados (257) e de senadores (41)” (Clique aqui.). 
Os motivos do veto: a) a medida gera insegurança jurídica por estabelecer, 
para a fiscalização das correspondências dos presos, um regime de 
tratamento legal equiparado ao das interceptações telefônicas em descompasso 
com a Constituição; b) o controle sobre o conteúdo das correspondências dos 
presos agravará a crise no sistema penitenciário do país; c) tudo isso impactará 
negativamente o sistema de segurança e a gestão dos presídios. É inacreditável!! As 
correspondências já são fiscalizadas, senão o caos teria vencido há muito 
tempo a gestão dos presídios. Quer-se dar outro passo, permitindo que as 
correspondências criminosas sirvam de prova. Pode-se até argumentar que 
algumas vozes se insurgiriam contra isso, mas várias outras estariam a favor. 
Alegar que o controle de correspondência de presos agravará a crise do 
sistema penitenciário chega a ser um sofisma, pois o projeto anticrime – 
enviado pelo mesmo Governo que vetou esta lei – torna muito mais rigoroso o 
cumprimento da pena. Assim, os presos podem ficar mais tempos detidos, ter 
menos direitos para deixar o cárcere, perder vários outros benefícios 
diretamente ligados à liberdade, mas o que pode gerar caos no sistema é o 
controle de correspondência?? O impacto negativo no sistema de segurança 
http://www.in.gov.br/web/dou/-/despacho-do-presidente-da-republica-229209118
https://www.camara.leg.br/noticias/600359-PLENARIO-APROVA-PROJETO-QUE-PERMITE-REDUCAO-DE-FAIXA-NAO-EDIFICAVEL-A-MARGEM-DE-RODOVIAS
https://www.camara.leg.br/noticias/600359-PLENARIO-APROVA-PROJETO-QUE-PERMITE-REDUCAO-DE-FAIXA-NAO-EDIFICAVEL-A-MARGEM-DE-RODOVIAS
https://www.camara.leg.br/noticias/617617-GOVERNO-CORRIGE-ERRO-E-INFORMA-VETO-EM-PROJETO-SOBRE-SIGILO-DE-CORRESPONDENCIA-DE-PRESOS
e na gestão dos presídios advém do completo descaso que o Executivo 
destina ao sistema carcerário brasileiro há muito tempo. Ademais, os presos 
falam com pessoas fora dos presídios, usando celulares e outras mensagens, 
mas o grande pivô da crise poderia ser interceptar as correspondências... Não 
temos como compreender o veto absoluto à nova lei, mormente vindo de um 
Governo que se proclama rigoroso no combate ao crime organizado. 
Esperamos que o Parlamento derrube o veto. 
_________ 
*Guilherme Nucci é desembargador do TJ/SP. 
 (https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI316163,11049-
O+veto+ilogico+as+organizacoes+criminosas+agradecem+ao+governo) 
 
Entenda o impacto do Juiz das Garantias 
no Processo Penal 
27 de dezembro de 2019, 8h00 
Por Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da Rosa 
Em menos de 30 dias entrarão em vigor 
reformas no CPP e no CP decorrentes da Lei 13.964/2019. Por isso decidimos 
aproveitar as colunas de janeiro para analisar em tópicos, iniciando com o Juiz das 
Garantias (art. 3º, B, C, D e E). Não iremos fazer um juízo do que poderia ter sido 
feito e sim do que temos. Falaremos das mudanças no cotidiano forense, em especial 
em processos iniciados por magistrados que acumulavam as funções de garantia e 
julgamento que não poderão mais julgar as ações penais em que tenham servido na 
fase preliminar, por força do impedimento, causa objetiva de nulidade da decisão, 
prevista no art. 3º-D. Se julgarem, as decisões serão anuladas. 
Desde já cabe sublinhar a divisão, sem comunicação, entre as fases procedimentais e 
personagens diversos. Aplica-se a todos os procedimentos, excetuado os Juizados 
Especiais Criminais (CPP, art. 3º-C). Restou declarado expressamente no art. 3º - A. 
“O processo terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase da 
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão da acusação”. Na 
fase de investigação e recebimento da acusação, atuará o Juiz das Garantias, 
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI316163,11049-O+veto+ilogico+as+organizacoes+criminosas+agradecem+ao+governo
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI316163,11049-O+veto+ilogico+as+organizacoes+criminosas+agradecem+ao+governo
https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/limite-penal-entenda-impacto-juiz-garantias-processo-penal#author
enquanto na fase de julgamento, o Juiz de Julgamento não receberá, nem se 
contaminará pelo produzido na fase anterior, já que somente as provas irrepetíveis, 
medidas de obtenção de provas e antecipação de provas serão encaminhados. O 
restante deverá permanecer acautelado no Juiz das Garantias (CPP, art. 3-B, § 3º), 
com acesso às partes (CPP, art. 3-B, §4º), acabando-se com o uso manipulado de 
declarações da fase de investigação, porque só vale o produzido oralmente perante o 
Juiz de Julgamento. Trata-se de um pleito por nós defendido há décadas – da 
exclusão física dos autos do inquérito – que finalmente é recepcionada. Só assim 
estará assegurada a distinção entre atos de investigação e atos de prova e, por 
consequência, efetivado o direito de ser julgado com base em ´prova´, produzida em 
contraditório judicial. 
Nem se invoque o art. 155 do CPP porque a disposição atual muda a estrutura da 
lógica de aproveitamento do inquérito policial ou flagrante. Abandona-se o 
procedimento escrito/inquisitório em nome da oralidade que deverá presidir os 
pedidos, normalmente em audiências presenciais ou por videoconferência (exceção 
justificada). 
O Juiz das Garantias é responsável (civil, penal e administrativamente) pelo controle 
de legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais 
cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário (reserva 
de Jurisdição), competindo-lhe especialmente: 
a) Controle da Legalidade do Flagrante e daPrisão Cautelar: receber a 
comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da 
Constituição Federal (quem deixa de fazer incide em abuso de autoridade – art. 12 
lei 13.689/19), bem assim o auto de prisão em flagrante para controle da legalidade 
da prisão, observando o art. 310, na nova redação: receber o APF, no prazo máximo 
de até 24 (vinte e quatro horas) após a realização da prisão, sob pena de punição § 
3º, art. 310 c/c art. 9º, parágrafo único, incisos, da Lei 13.689/19), o juiz deverá 
promover audiência de custódia com a presença do conduzido, seu advogado 
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público 
(desobedecida abuso de autoridade art. 15, parágrafo único, inciso II, Lei 
13.689/19), e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: I – relaxar a 
prisão ilegal; ou II – converter a prisão em flagrante em preventiva, quando 
presentes os requisitos constantes do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou 
insuficientes as medidas cautelares da prisão, vedada a prisão de ofício (CPP, art. 
311), ou, III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança (vide art. 9º, Lei 
13.689/19). O não recebimento do APF nas 24 horas a contar da prisão, implica em 
relaxamento da prisão ilegal (4º, do art. 310, CPP), apuração de responsabilidades, 
podendo-se decretar depois, nos autos, prisão preventiva. Se a investigação 
necessitar de mais de 15 dias para finalização, a prisão deverá ser relaxada (CPP, art. 
3-B, § 2º) Anote-se que foi acolhida pela nova redação do art. 312 do CPP, no 2º, a 
necessidade de fundamentação concreta de fatos novos ou contemporâneos, 
vinculados ao processo, sendo abuso de autoridade a prisão desprovida de motivação 
e fundamentação adequadas, entendidas por não fundamentadas, na forma do art. 
315, §2º, do CPP, as que se limitam a indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato 
normativo, sem explicar a sua relação com o caso concreto, empregar conceitos 
jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso, 
invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão, não enfrenta 
os argumentos deduzidos, limita-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, 
jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar que o caso sob 
julgamento se ajusta àqueles fundamentos e deixar de aplicar enunciado de súmula, 
jurisprudência ou precedente sem apostar a distinção ou superação, conforme os 
fatos do caso (vide art. 9º, Lei 13.689/19). A prisão obrigatória em face da conduta 
(CPP, art. 310, §2º) viola a proporcionalidade conforme diversas decisões do STF, 
valendo citar a ADIN 3.112. No caso de pedido de prisão ou prorrogação, deverá ser 
garantido o contraditório em audiência pública e oral. 
b) Controle das investigações e violação da duração razoável: A investigação 
criminal deve ser informada ao Juiz das Garantias, pouco importando se no âmbito 
do Ministério Público ou outra Instituição, devendo-se controlar os respectivos 
prazos (CPP, art. 3-B, IV c/c § 2º), requisição de documentos e andamento (CPP, 
art. 3-B, X), trancando investigações desprovidas de fundamentos (CPP, art. 3-B, 
IX). 
c) Garantir os direitos do investigado e conduzidos: Além de observar pelos direitos 
do preso, inclusive podendo determinar seja trazido, a qualquer tempo, para 
esclarecimentos vinculados à violação de direitos, deve garantir acesso a todos os 
elementos informativos e provas produzidos na investigação, salvo as diligências em 
andamento. Em caso de dúvidas, deve realizar o exame de sanidade mental (CPP, 
art. 3-B, XIII). Deverá vedar o uso da imagem do preso, até porque abuso de 
autoridade (art. 13, I e II, da Lei 13.689/19). Será competente para conhecer e julgar 
dos habeas corpus impetrados antes do recebimento da denúncia (ato também do 
Juiz das Garantias, inc. XIV). 
d) Produzir antecipadamente provas: se houver necessidade de produção de provas, 
a requerimento das partes/jogadores, nunca de ofício, demonstrada a urgência, 
relevância e proporcionalidade, o ato pode ser realizado, garantido o contraditório e 
direito ao confronto, em decisão concretamente fundamentada (STJ, Súmula 455). 
e) Analisar as cautelares probatórias: Cabe ao juiz das Garantias analisar os 
pedidos de (i) interceptação telefônica; (ii) afastamento dos sigilos (fiscal, bancário, 
de dados e telefônico); (iii) busca e apreensão domiciliar; (iv) acesso à informações 
sigilosas e outros meios de provas. 
f) Homologar delação premiada e acordo de não persecução penal: Faremos uma 
coluna específica sobre o tema. Mas o que importa no momento é que será da 
competência do Juiz das Garantias quando formulada no decorrer da investigação. 
Teremos problemas de acomodação no caso do julgamento com foro de Prerrogativa 
de Função, mas nada que impeça a utilização da lógica de separação de funções. 
g) Receber a denúncia: O Juiz das Garantias receberá a denúncia e determinará a 
citação do acusado, analisando a absolvição sumária. Superada esta fase, remetará 
ao juiz de Julgamento para realização de instrução e julgamento (CPP, art. 3º-B, 
XIV), art. 3º-C, §1º). A cisão aqui é funcional e serve para não contaminar os atos 
probatórios realizados oralmente das decisões antecedentes que embora possam ser 
revistas (CPP, art. 3º-B, §2º), 
Por fim cabe dizer que a mentalidade inquisitória deve se opor ao cumprimento da 
Reforma. Antecipamos que a dificuldade logística não se sustenta. O argumento de 
que o juiz das garantias não é viável porque temos muitas comarcas com apenas um 
juiz é pueril. Na verdade, brota de bocas ingênuas, que ignoram as soluções 
(simples, inclusive) ou de gente que manipula o argumento, pois no fundo quer 
apenas manter hígida estrutura inquisitória, a aglutinação de poderes e o 
justicialismo (obvio que o juiz das garantias é uma tragédia para um juiz 
justiceiro...). E quais são as soluções? 
 Existem diversas comarcas com apenas um juiz, mas que já deveriam ter 
dois, dado o volume de processos criminais e cíveis (logo, faz uma distribuição 
cruzada). A reforma justifica a abertura de concursos que estão represados e são 
necessários. Não se faz uma reforma processual ampla e séria sem investimento. 
Mas não se preocupem, sigam lendo que vamos mostrar outras soluções sem 
precisar aumentar gastos... 
 Existem centenas de comarcas com apenas um juiz, mas com comarcas 
contíguas (as vezes a menos de 100 km) em que existem dois ou mais juízes, que 
poderiam atuar como juiz das garantias (inclusive online, inquérito eletrônico). 
 Em outros casos, existem comarcas contiguas com apenas um juiz, onde 
também poderia haver uma distribuição cruzada (inclusive com atuação online). 
 Em todos os casos, diante da ampla implementação dos processos e 
inquéritos eletrônicos, é possível criar centrais de inquéritos em comarcas maiores 
para atender as comarcas pequenas na mesma região. 
 Enfim, com o processo (e inquérito) eletrônicos, não interessa mais o lugar, 
o “onde”, mas apenas o “quando”, isto é, estar na mesma temporalidade. Ora 
sabemos todos nós desse novo referencial, basta ver que trabalhamos o tempo 
todo no virtual, com várias pessoas em tempo real e o que menos importa é 
“onde” se está. Eis um “novo” paradigma que na verdade já integra o nosso 
cotidiano há décadas. 
Não estamos inventando a “roda”. As razões do veto ao § 1º, ao art. 3-B, sob o 
fundamento de que é possível o uso de videoconferência (STJ, RHC 77.580), bem 
demonstram que é possível a realização dos atos indicados na figura do Juiz das 
Garantias. Mas existem Tribunais que nem sequer fazem audiência de custódia, 
ainda. E quem não fizer custódia terá os conduzidos soltos por se tratar de prisão 
ilegal expressa, sendo ainda que os que não relaxarem a prisão devem responder por 
abuso de autoridade. Voltaremos ao tema, sublinhando, também, duas possíveis 
manipulações: a) criação de Varas Colegiadasque aparentemente superam o Juiz das 
Garantias, nos termos da redação dada ao art. 1º-A da Lei 12.694/12 pela reforma; b) 
a falácia da produção de provas em favor da defesa. 
Pelo reduzido espaço antecipamos as primeiras impressões, já que estamos 
atualizando nossos livros: Direito Processual Penal (Saraiva, Aury) e Guia do 
Processo Penal conforme a Teoria dos Jogos (EMAis, Alexandre). Achamos que 
estaríamos em férias. Pelo menos o livro segue em breve para gráfica. Mas ficamos 
felizes em parte porque mitigou-se um atraso histórico. As externalidades da 
promulgação ser verão em diversos processos, dentre eles o de Flávio Bolsonaro, 
porque o Juiz atual não poderá julgar. Aliás, nas colunas próximas vamos sugerir um 
modelo de chamamento à ordem dos processos em andamento. 2020 nem começou e 
promete. Feliz ano novo. 
Aury Lopes Jr. é advogado, doutor em Direito Processual Penal e professor titular da PUCRS. 
Alexandre Morais da Rosa é juiz em Santa Catarina, doutor em Direito pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR) e professor de Processo Penal na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na 
Universidade do Vale do Itajaí (Univali). 
(https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/limite-penal-entenda-impacto-juiz-garantias-
processo-penal) 
 
mailto:aurylopes%40terra.com.br
mailto:alexandremoraisdarosa%40gmail.com
https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/limite-penal-entenda-impacto-juiz-garantias-processo-penal
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Juiz das Garantias: um grande avanço 
civilizatório 
27 de dezembro de 2019, 6h10 
Por Marcos da Costa 
A figura do Juiz das Garantias, prevista na recém promulgada Lei nº 13.964, 
também conhecida como Lei Anti-Crime, tem gerado enorme polêmica na mídia, 
parte dela por conta de efetivos problemas que precisarão ser enfrentados na sua 
implantação, parte dela por causa da falta de melhor compreensão do que 
efetivamente seja o instituto. 
O conceito é simples. O juiz que atua e profere decisões durante o inquérito policial 
não será o mesmo que presidirá a futura ação penal. A razão para isso é clara: 
assegurar maior concretude para um princípio fundamental do processo: o da 
imparcialidade do julgador. 
Juízes não são autômatos, mas, sim, humanos, que têm emoções e interagem 
psicologicamente com os fatos sob seu julgamento, de forma não voluntária, do 
mesmo modo como ocorre com qualquer outro de nós. Atribuir a um magistrado a 
função de conduzir toda a fase de investigação e a outro magistrado distinto a função 
de julgar o caso é uma maneira de isolar qualquer influência psicológica que o 
primeiro possa ter recebido ao, durante essa fase de cunho inquisitorial, apreciar 
fatos ainda incompletos e determinar medidas mais ou menos gravosas como a 
busca e apreensão, quebra de sigilos bancário ou telefônico, prorrogação do prazo de 
investigação, prisão preventiva, dentre outras que possam afetar o íntimo do juiz 
acerca da sua convicção sobre a culpa do investigado. O juiz que julgará a causa, 
não tendo participado do inquérito, estará com a mente limpa de influências 
anteriores e ouvirá cada uma das partes - acusação e defesa - com a mesma sensação 
de novidade, dadas as mesmas oportunidades de manifestação de cada qual, 
assegurando assim outro princípio fundamental do processo: a isonomia entre as 
partes. 
Não se trata, pois, o Juiz das Garantias, como alguns setores da mídia vêm 
apresentando, de um magistrado que irá rever as decisões de outro juiz, chegando 
alguns mesmo a compará-lo, no esforço de explicar ao público leigo esse seu 
equivocado entendimento, com a também recém criada figura do VAR, no futebol. 
Na verdade, os juízes atuarão em momentos diferentes: um na fase do inquérito 
policial; outro, na fase da ação penal, se vier a ser ajuizada. 
O Juiz das Garantias, ao contrário do que muitos têm afirmado, não é sequer uma 
figura nova no mundo jurídico. Na Comarca Central de São Paulo há muitos anos a 
condução dos inquéritos é atribuída aos juízes do Departamento de Inquéritos 
Policiais (DIPO), função que a nova lei atribui ao Juiz das Garantias, e o comando 
das ações que a eles se seguirem caberá a outros juízes, que ocupam as Varas 
Criminais da Capital. 
Soam igualmente equivocadas algumas afirmações também veiculadas nos meios de 
comunicação de que a nova lei seria inconstitucional por vício de origem, já que 
avançaria sobre matéria ligada à organização da magistratura, cuja competência para 
início do processo legislativo foi reservada ao Supremo Tribunal Federal. Com o 
https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/opiniao-juiz-garantias-grande-avanco-civilizatorio#author
devido respeito pelos que assim afirmam, não há nenhuma relação possível entre 
uma coisa e outra, posto que a nova lei nem afeta a estrutura dos cargos judiciais, 
nem tão pouco regula a carreira dos magistrados. A nova norma se restringe a tratar 
de questão tipicamente processual, qual seja, o impedimento dos magistrados. 
A propósito, nem sequer se pode dizer que a lei trata de competência dos órgãos 
judiciais, como outros têm afirmado, às vezes até em defesa do novo instituto. 
Competência é atributo de órgão judicial, enquanto o impedimento atinge a pessoa 
do magistrado, independentemente do órgão que ocupe. Pois, então, é na verdade de 
impedimento, e não de competência, que fala a lei, ao vedar que a mesma pessoa 
que presidiu o inquérito policial aprecie e julgue a posterior ação penal. 
Registre-se, ainda, que a lei, com induvidosa clareza, determina que “o juiz das 
garantias será designado conforme as normas de organização judiciária da União, 
dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem 
periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal”. Ou seja, deixa em aberto para a 
organização judiciária estabelecer regras e critérios que definam quais juízes 
conduzirão quais inquéritos, fixando a nova lei tão somente que estes estarão 
impedidos de julgar a causa. 
É preciso reconhecer, porém, que são válidas as críticas sobre a falta de estrutura do 
Poder Judiciário como um todo, para implementação do Juiz das Garantias nas 
Comarcas menores. De fato, muitas delas não têm sequer um magistrado, quanto 
mais um segundo, para ocupar essa nova função. Note-se, entretanto, que a lei não 
deixou de antever essa situação, estabelecendo, em resposta , que os tribunais criarão 
um sistema de rodízio de magistrados nas comarcas em que há apenas um juiz. 
Nesse ponto, é possível opor que o projeto não concedeu um prazo razoável para que 
o Poder Judiciário se estruturasse para dar conta desse novo instituto. O prazo geral 
de 30 dias para entrada em vigor da lei é por demais exíguo. 
Mas, por outro lado, não se pode admitir que, por conta dessa ausência de estrutura, 
se combata a própria figura do Juiz das Garantias, um grande avanço civilizatório 
enquanto instrumento de aperfeiçoamento da imparcialidade do juiz, como se fosse 
admissível jogar o problema nos ombros da cidadania, mitigando ou suprimindo o 
direito a um devido processo legal, apenas porque o Estado não consegue enfrentar 
as suas próprias mazelas, deixando sempre para um amanhã distante o cumprimento 
de seus deveres e responsabilidades, dentre os quais, aquele que lhe é mais inerente, 
o de prestar Justiça. 
Marcos da Costa é advogado e ex-presidente da OAB-SP. 
(https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/opiniao-juiz-garantias-grande-avanco-civilizatorio) 
 
mailto:mcosta%40adv.oabsp.org.br
https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/opiniao-juiz-garantias-grande-avanco-civilizatorio
Advocacia exalta 'juiz das garantias', 
enquanto magistratura se mostra 
receosa 
25 de dezembro de 2019, 12h58 
Por Fernando Martines, Fernanda Valente e Sérgio Rodas 
O presidente Jair Bolsonaro sancionou ontem (24/12) a lei apelidada "pacote 
anticrime". Pelo menos no primeiro momento, o que mais chamou a atenção foia 
confirmação da criação do juiz das garantias — usado em outros países, na 
instrução, para garantir o distanciamento na hora de julgar. A iniciativa é separar o 
juiz que se envolve na investigação do que vai, efetivamente, aferir a existência ou 
qualidade da prova e da acusação. 
 
Trata-se de uma nova divisão de trabalhos em um processo. Um juiz toma as 
medidas necessárias para a investigação criminal. Depois, outro magistrado recebe e 
a denúncia e, se for o caso, dá sentença. 
A medida desagrada o ministro da Justiça, Sergio Moro. Este, quando juiz, destacou-
se na operação "lava jato" por atuar em todas as fases do processo. A advocacia 
celebra de forma quase unânime, enquanto a magistratura não parece contente. 
Visão da magistratura 
Do lado dos juízes, a recepção parece não ser tão calorosa. Fernando Mendes, 
presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), ressalta que a 
entidade era contrária à medida, mas que o importante é agora regulamentar. 
“Em relação ao juiz de garantias, tema mais polêmico do pacote, embora a posição 
da Ajufe fosse contrária ao instituto, uma vez incorporado ao Processo Penal pela 
Lei 13.964/19, o importante agora é a sua regulamentação. Ela terá de ser uniforme. 
Não faz sentido ter juiz de garantias apenas nas Capitais e para os crimes de 
colarinho branco. Se o instituto é importante, tem se ser aplicado para todos, seja 
nos processos da lava jato, seja nos processos de crimes comuns, que são milhares e 
que tramitam no interior do país e que precisam ter as mesmas garantias. A Justiça 
Federal terá de redesenhar a estrutura de sua competência penal para tornar isso 
possível e Ajufe vai colaborar nessa agenda", diz Mendes. 
A Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) divulgou nota se posicionando 
contra o juiz de garantia. A entidade acredita que a medida irá criar custos 
desnecessários. 
"A implementação do instituto “juiz de garantias” depende da criação e provimento 
de mais cargos na Magistratura, o que não pode ser feito em exíguos trinta dias, 
prazo da entrada em vigor da lei. A instituição do “juiz de garantias” demanda o 
provimento de, ao menos, mais um cargo de magistrado para cada comarca — isso 
pressupondo que um único magistrado seria suficiente para conduzir todas as 
investigações criminais afetas à competência daquela unidade judiciária, o que 
impacta de forma muito negativa todos os tribunais do País, estaduais e federais", 
diz a AMB. 
https://www.conjur.com.br/2019-dez-25/advocacia-exalta-juiz-garantia-magistratura-mostra-receosa#author
https://www.conjur.com.br/2019-dez-25/bolsonaro-sanciona-projeto-anticrime-mantem-juiz-garantia
Medida comemorada 
Para o criminalista Pierpaolo Bottini, o instituto preserva a autonomia e 
independência do juiz. "Faz com que o juiz, que determina as medidas cautelares no 
momento da investigação, não seja o mesmo que julga. Isso é fundamental para 
consagrar o sistema processual acusatório em que o juiz é o mesmo destinatário das 
provas produzidas ou requeridas pelas partes". 
Davi Tangerino, criminalista, vê neste quesito um dos únicos pontos positivos do 
que chama de "pacote populista" proposto por Moro. "A construção da narrativa da 
investigação, quando não unilateral, é preponderantemente da acusação. E o juiz se 
deixa perpassar por essa narrativa. É uma questão humana, não de má fé. O juízo de 
garantia nasce da singela constatação de que julgadores são humanos e que há 
arranjos mais eficientes para mitigar a inafastável condição humana da falibilidade", 
considera. 
Na análise do criminalista Conrado Gontijo, o juiz de garantias é fundamental para 
a preservação da imparcialidade dos juízes no âmbito penal. Ele diz que o juiz vem 
sendo adotado cada vez mais sistemas jurídicos de nações desenvolvidas, por isso é 
"importante para legitimar a atuação do Poder Judiciário e assegurar o efetivo 
equilíbrio de forças na dinâmica processual". 
Faz coro a Tangerino a advogada Daniella Meggiolaro. “Um dos pouquíssimos 
pontos positivos do pacote anti-crime foi acertadamente mantido pelo presidente. 
Uma grata surpresa, nesses tempos de flerte com o autoritarismo e retrocessos em 
termos de política criminal.” 
O criminalista Fabrício de Oliveira Campos também comemora a medida, mas faz 
alguns alertas. "A inserção do juiz das garantias é um passo importante para o 
aprimoramento do Processo Penal, que passa também a incorporar de modo 
explícito a sistemática acusatória, acentuando e organizando os papéis separados de 
acusar e julgar. Entretanto, o fato do juiz das garantias ter sido extraído de um 
projeto de CPP concebido há bastante tempo e, portanto, um projeto que pensava em 
agregar todas as leis processuais, pode trazer percalços sistêmicos. Exemplo é a lei 
de interceptações telefônicas (Lei 9.296/96), que no art. 1º diz que o juiz que 
determina a interceptação deve ser o juiz da ação principal. Nesse ponto, há um risco 
sério de insegurança jurídica porque o texto da lei de interceptações telefônicas 
ainda está mantido", aponta. 
"Outro problema do juiz das garantias é a possível concentração de poderes em fase 
pré-processual, com a criação de “super varas” ou, ainda pior, “super varas” 
exercendo meras funções de deferimento dos pedidos ministeriais. A criação de 
procedimentos que permitissem alguma rotatividade ou mesmo distribuição interna 
entre mais de um juiz das garantias poderia minimizar esse risco de que ele se torne 
mera extensão da atividade policial." 
Fernando Augusto Fernandes, advogado, vê como "um grande e importante passo 
para as garantias individuais no país, significando que o juiz que julgará a causa não 
pode ter participado das medidas na fase de investigação, como a prisão. Ao mesmo 
tempo foi uma enorme derrota para os juízes deixam a imparcialidade e passam a 
comandar operações e confabular com o acusador. Um claro recado ao Sergio 
Moro”. 
Para o advogado Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, esta talvez seja a 
maior evolução do processo penal dos últimos tempos. "A manutenção do juiz de 
garantias mostra-se uma decisão corretíssima do Presidente da República, a qual 
garantirá mais controle quanto à imparcialidade na jurisdição e à admissibilidade de 
acusações." 
O advogado Rodrigo Mudrovitsch entende que o instituto alinha a prática 
processual penal brasileira ao que já é feito em outros ordenamentos. "Não há 
qualquer correlação lógica entre impunidade e a criação do juiz de garantias e 
certamente haverá, a partir de agora, uma conformação institucional mais adequada 
para os direitos fundamentais do investigado no âmbito do processo penal." 
Outros pontos 
Não foram só advogados que já expressaram contentamento com a medida. Marco 
Antonio Ferreira Lima, procurador de Justiça, afirma que o juiz de garantias é 
essencial. Mas também celebrou a consolidação da audiência de custódia com a lei. 
"A audiência de custódia é garantia do preso e da sociedade. Acaba com as 
afirmações muitas vezes infundadas de torturas ou de ilegalidade nas prisões. É 
também uma forma de se dar maior segurança ao devido processo legal. A 
identificação criminal há muito deveria já estar acompanhada da coleta dos dados 
genéticos. Outra questão importante é o acordo da não persecução penal. O 
Ministério Público assume as investigações e até o arquivamento do inquérito o que 
assegura a imparcialidade do juiz. E também na semelhança do “plain bargain” 
alivia o estado de questões menores que devem ser resolvida sem processo mas por 
meio de acordos especialmente nas questões patrimoniais e crimes não violentos", 
diz Lima. 
Para André Luís Alves de Melo, promotor de justiça em Minas Gerais, o projeto 
pecou por não atuar em temas do cotidiano como simplificar as intimações, ainda 
muito arcaicas. "Também não simplificou as audiências de instrução e que 
provocam prescrição em quase 70% dos processos . Uma novidade pouco 
comentadaé a nova redação do artigo 28 do CPP. Mas, permaneceu a redação do 
Artigo 24 na qual se baseia o mito da obrigatoriedade da ação penal, embora fale 
em atribuição e não em obrigação". 
O criminalista Ticiano Figueiredo comemora a criação do juiz de garantias 
como um avanço que há muitos anos merecia o direito brasileiro. Mas lamenta o 
espírito geral da nova lei. 
"O projeto, lamentavelmente, recrudesce penas e hipóteses de prisão, praticamente 
retomando a época do encarceramento obrigatório. Já cansamos de ver que 
endurecimento de norma não é solução para o fim da violência (do contrário não 
existiria mais crime hediondo desde 1992, quando da criação da lei). Seguramente as 
entidades que zelam pelas garantias constitucionais estarão atentas e ajuizarão todas 
as ações necessárias para defesa dos direitos fundamentais. Resta agora a torcida 
para que esse protagonismo do punitivismo de um tempo da nossa pauta diária e o 
governo de atenção as pautas sociais, as quais, essas sim, teriam um verdadeiro e 
efetivo impacto na diminuição da violência na sociedade", afirma Figueiredo. 
Para o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), a sanção do texto 
representou uma "derrota acachapante para o ministro Sergio Moro". "O ministro 
teve o seu projeto, apresentado sem nenhuma discussão séria, quase completamente 
modificado. Na realidade, o projeto que foi apresentado e aprovado foi fruto do 
enorme esforço do grupo de trabalho criado pelo presidente da Câmara, Rodrigo 
Maia. O GT ouviu a sociedade e especialistas e trabalhou com o projeto antes 
apresentado pelo ministro Alexandre de Moraes", afirma. "A estratégia do político 
Moro, de dar a impressão de que perdeu pouco, foi desmascarada quando o próprio 
presidente da República não vetou o juiz de garantias." 
O presidente do Instituto do Direito de Defesa, Hugo Leonardo, afirma que 
a principal evolução da nova legislação é o juiz de garantias. Como faz questão de 
ressaltar, tópico inserido pelo Grupo de Trabalho da Câmara dos Deputados. Mas foi 
crítico a quase todo o restante da lei. 
"Com tristeza observo que a audiência de custódia foi mantida apenas para as 
prisões em flagrante, afrontando dois tratados internacionais em vigor no Brasil, 
com eficácia supra legal e infraconstitucional. Há outros pontos ainda muito 
problemáticos, como o dobro do prazo para o RDD, medida que impõe tratamento 
cruel e viola as regras de Mandela. No mais, não se esconde a prioridade do 
Presidente da República em atender os interesses de policiais ao vetar, por exemplo, 
hipótese de qualificadora do homicídio. O texto final ainda padece de muitos vícios 
de constitucionalidade que deverão ser corrigidos pelo Supremo Tribunal Federal", 
diz Leonardo. 
Trata-se de mais uma legislação aprovada sem que tenha se aproximado da 
finalidade de combater as causas do crime. O direito penal e processual penal mais 
uma vez sendo objeto de um fetichismo midiático.” 
O advogado Mauricio Silva Leite comemora a chegada do juiz de garantias, mas 
critica o fato de que ficará a cargo dele o recebimento da denúncia. 
“A ideia de instituir-se um juiz de garantias exclusivamente para a fase de inquérito 
policial é positiva, pois conferirá maior independência ao magistrado responsável 
pela ação penal, já que este não terá qualquer vinculação com as eventuais medidas 
cautelares anteriores deferidas em desfavor do acusado e poderá, assim, decidir 
livremente quando instaurado o processo judicial. No entanto, a lei sancionada foi 
infeliz ao submeter o recebimento da denúncia ao juiz de garantias. Tal providência, 
quanto à análise dos requisitos legais exigíveis para a instauração válida da ação 
penal, deveria ter sido reservada ao magistrado destinatário do processo judicial, 
justamente porque será o responsável pelo feito e não terá vinculação com atos 
anteriores praticados. Com a sanção da nova lei, é fundamental que o Poder 
Judiciário se estruture para viabilizar o cumprimento das novas regras, uma vez que 
a intervenção do juiz nas investigações é fundamental para o controle da legalidade 
dos atos praticados na fase de inquérito policial", afirma Silva Leite. 
Fernando Martines é repórter da revista Consultor Jurídico. 
Fernanda Valente é correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília. 
Sérgio Rodas é correspondente da revista Consultor Jurídico no Rio de Janeiro. 
Revista Consultor Jurídico, 25 de dezembro de 2019, 12h58 
(https://www.conjur.com.br/2019-dez-25/advocacia-exalta-juiz-garantia-magistratura-mostra-
receosa) 
Juiz das garantias é avanço e pode 
fortalecer cultura de imparcialidade 
27 de dezembro de 2019, 6h30 
Por Marcello Miller 
O juiz das garantias, instituído pela Lei 13.964/2019, sancionada nesta quarta-feira 
(25/12), representa enorme e evidente avanço civilizatório no processo penal 
brasileiro. Com efeito, a cisão da competência funcional para a etapa pré-processual 
e de admissibilidade da acusação e para a fase de instrução e julgamento vigora, já 
há bastante tempo, na vasta maioria dos países ocidentais. Com arranjos 
procedimentais e institucionais variados, tanto países mais desenvolvidos, como 
mailto:fernando%40consultorjuridico.com.br
mailto:fernanda.valente%40consultorjuridico.com.br
mailto:sergio%40consultorjuridico.com.br
https://www.conjur.com.br/2019-dez-25/advocacia-exalta-juiz-garantia-magistratura-mostra-receosa
https://www.conjur.com.br/2019-dez-25/advocacia-exalta-juiz-garantia-magistratura-mostra-receosa
https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/marcello-miller-juiz-garantias-fortalece-cultura-imparcialidade#author
França, Itália e Alemanha, quanto países de menor desenvolvimento relativo, como 
Colômbia e Chile, adotam essa cisão. Mesmo no ordenamento jurídico dos EUA, 
filiado à common law, a instituição do grand jury tem competência funcional 
coincidente com a de uma instância judiciária pré-processual, não se confundindo 
com o júri competente para julgar as questões de fato encartadas no mérito da 
pretensão punitiva. 
O modelo de juiz das garantias agora adotado no Brasil prestigia e adensa o sistema 
acusatório e se afasta de forma muito clara da figura do juiz de instrução, na medida 
em que traz a vedação à iniciativa do juiz na fase de investigação e à substituição da 
atuação probatória do órgão de acusação. O âmbito dessa nova competência 
funcional será o controle de legalidade da investigação criminal e o juízo de 
admissibilidade da acusação. No controle de legalidade da investigação criminal, o 
juiz das garantias funcionará como juiz da liberdade e da custódia pré-processual e 
como filtro de legalidade das iniciativas probatórias do Ministério Público e da 
autoridade policial que dependam de intervenção judicial. No juízo de 
admissibilidade da acusação, o juiz das garantias decidirá sobre o recebimento 
provisório e o definitivo da denúncia ou da queixa, presidindo o contraditório no 
juízo de absolvição sumária. 
A natureza jurídica do juiz das garantias é a de uma norma de competência funcional 
por fase do processo. Não se trata, ressalte-se, de um acréscimo institucional: a 
implementação do juiz das garantias não exige a criação de cargos de juiz, mas a 
adoção de formatos e critérios inovadores de fixação de competência. Na França e 
na Alemanha, por exemplo, a competência para o juízo das garantias incumbe a 
órgãos de segundo grau (Tribunal de Grande Instance e Landsgericht); embora não 
seja passível de replicação no Brasil sem alteração constitucional, essa solução 
evidencia o equívoco de imaginar que a implementação do juiz das garantias exija a 
criação de órgão judicial próprio em cada comarca e subseção judiciária. Nesse 
sentido, não haveria impedimento constitucional ou legal para soluções como a 
criação de juízos regionais ou itinerantes de garantias, territorialmente competentes 
para grupos de comarcas ou subseções judiciárias, ou ainda o estabelecimento demecanismos de tabelaridade entre juízos de comarcas ou subseções judiciárias 
vizinhas para o exercício dessa competência. 
A função constitucional do juiz das garantias é muito clara: ele constitui, a um só 
tempo, mecanismo de reforço da imparcialidade dos julgamentos criminais do Poder 
Judiciário e de qualificação da presunção de inocência. É amplamente conhecido o 
fenômeno da contaminação psicológica e intelectual do juiz que exerce jurisdição na 
etapa pré-processual e no recebimento da denúncia — essa atividade torna muito 
menos provável o julgamento do mérito da pretensão punitiva sem viés negativo 
relativamente ao réu, o que, por sua vez, embota a capacidade do juiz de reconhecer 
a existência de dúvidas razoáveis determinantes da absolvição. 
Quanto ao reforço da imparcialidade da jurisdição criminal, não se desmerece o 
esforço de todos os juízes para julgar com imparcialidade — é da deontologia de sua 
função e de sua própria vocação. Mas é intuitivo que a falta de contato prévio com a 
formação da prova e da justa causa propicia ao juiz que julgará o mérito condições 
de se desinvestir dos resultados processuais até então alcançados. Afinal de contas, a 
crítica é psicológica e intelectualmente mais fácil que a autocrítica. 
A propósito da qualificação da presunção de inocência, um dos aspectos sobre esse 
princípio menos estudados no Brasil é o que dele extrai consequências jurídicas na 
forma de neutralização das percepções derivadas do recebimento da denúncia. Todos 
sabem que há um paradoxo na arquitetura essencial do processo penal: por um lado, 
a ação penal, diversamente do que ocorre no foro cível, só pode ser proposta com 
base em conjunto probatório que torne ao menos plausível a imputação; mas, por 
outro lado, o juiz que julgará o mérito não pode tomar essa plausibilidade como 
critério de análise de provas ou sequer como premissa intelectual. O juiz do mérito é 
obrigado pelo princípio da presunção de inocência a postar-se diante da ação penal 
como se postaria diante de uma ação civil no que diz respeito às posições e 
narrativas do autor e do réu; a tratar a controvérsia penal como um jogo que ainda 
não começou a ser jogado, afastando o dado da realidade do recebimento da 
denúncia. 
É interessante lembrar, a esse respeito, que a Lei 2000-516, de 15 de junho de 2000, 
que instituiu, na França, a figura do juge des libertés et de la détention, análoga ao 
juiz das garantias, é conhecida como “lei sobre a presunção de inocência”. 
Questão relevante é a relativa ao funcionamento do juiz das garantias nos tribunais. 
O vetor de desate dessa questão pode estar no artigo 13 da Lei 13.694/2019, que, ao 
possibilitar a criação de varas criminais colegiadas para processo de e julgamento de 
certos crimes, confere a elas competência para todos os atos jurisdicionais no 
decorrer da investigação, da ação penal e da execução da pena. 
Há, aí, exceção legal à competência do juiz das garantias. O motivo dessa exceção é 
o escopo de proteção dos magistrados contra ameaças e retaliações por meio da 
coletivização da responsabilidade decisória. Mas o que possibilita, sem problemas 
de coerência, excepcionar o juiz das garantias nas varas criminais colegiadas é, 
justamente, a própria colegialidade, que constitui, ela própria, mecanismo de reforço 
da imparcialidade, uma vez que propicia o escrutínio recíproco dos membros do 
colegiado e torna menos provável o comprometimento psicológico e intelectual de 
todos eles ao mesmo tempo com teses que tenham prevalecido na fase pré-
processual. 
Observa-se que a Lei 13.394/2019 não prevê — embora tampouco proíba — a 
adoção do sistema de relatoria para as decisões das varas criminais colegiadas. Nos 
tribunais, em que Lei 8.038/90 prevê o sistema de relatoria para o processo e 
julgamento das ações penais originárias, tende a incumbir ao relator, como já ocorre, 
a competência do juiz das garantias. Não se afigura acertado, contudo, entender que 
o relator ficará impedido de funcionar no processo. Três fatores levam a essa 
conclusão: (1) a regra de impedimento estabelecida no novo artigo 3º-D do Código 
de Processo Penal fala em juiz, e não em magistrado, que é a denominação genérica 
dos exercentes da judicatura, sabendo-se que os magistrados da maior parte dos 
tribunais ostenta títulos outros que não o de juiz; (2) a Lei 13.394/2019 previu, em 
seu artigo 16, uma única modificação na Lei 8.038/90, para admitir o acordo de não-
persecução penal nas ações penais originárias — não há por que entender que o 
legislador não teria previsto a aplicabilidade, no que coubesse, da figura do juiz das 
garantias no processo penal nos tribunais se tal fosse sua intenção; (3) a 
colegialidade constitui, ela própria, como visto, mecanismo autônomo de reforço da 
imparcialidade, tornando desnecessária a figura do juiz das garantias nos tribunais. 
Não é raro — e é preocupante — ouvir de participantes do sistema de Justiça 
Criminal que a imparcialidade não existe ou é uma quimera. E é mesmo verdade que 
todo indivíduo, inclusive os juízes, é o resultado enviesado de suas próprias 
experiências e embute longa série de concepções prévias. Mas é igualmente verdade 
que a magistratura impõe ao indivíduo o esforço honesto, intenso e permanente de 
alcançar a imparcialidade possível, de lutar contra os próprios preconceitos e pôr a 
prova, em cada processo, modelos fechados de visão de mundo. O juiz das garantias 
poderá, com o passar do tempo, refinar e aperfeiçoar a cultura de imparcialidade 
que, mais que agendas de combate ou garantia, deve ser o primeiro item da pauta 
deontológica de todo juiz. 
Marcello Miller é advogado, ex-procurador da República, ex-promotor de Justiça do Distrito Federal e 
ex-diplomata. Bacharel em Direito e mestre em Direito Internacional pela Universidade do Estado do Rio 
de Janeiro. 
Revista Consultor Jurídico, 27 de dezembro de 2019, 6h30 
(https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/marcello-miller-juiz-garantias-fortalece-cultura-
imparcialidade) 
 
O juiz das garantias e o dever de 
fundamentação das decisões de 
recebimento da denúncia 
28 de dezembro de 2019, 9h33 
Por Pietro Cardia Lorenzoni 
1 - Introdução 
No dia 24 de dezembro de 2019, foi sancionada a lei nº 13.964 de 2019 — mais 
conhecida como lei do "pacote anticrime" do ministro Sérgio Moro. Segundo a 
própria lei, trata-se de aperfeiçoamento da legislação penal e processual penal 
brasileira. 
Com a alteração legislativa, deverão ocorrer diversas mudanças paradigmáticas na 
prática forense pátria em matéria penal. Como muito já foi veiculado, o juiz 
das garantias, muito possivelmente, será a maior, mas não a única, das mudanças. 
Diversos questionamentos surgem dos muitos pontos polêmicos que apenas 
principiam. De forma meramente ilustrativa, como funcionará o juiz de garantias em 
comarcas com um único juiz, ou melhor, como funcionará o sistema de rodízio de 
magistrados previsto no parágrafo único do artigo 3º-D da lei? 
Fica, aqui, o convite para o aprofundamento desse e diversos outros temas oriundos 
do pacote anticrime, que merece a devida crítica como já feito pelo maestro Lenio 
Streck. A presente coluna, diante das múltiplas questões que exsurgem da 
mencionada lei, abordará a alteração referente ao recebimento da denúncia. 
Explica-se. Parcela da jurisprudência pátria, de forma controversa,posicionava-se 
pelo entendimento que o despacho de recebimento da denúncia não possuía caráter 
decisório. Outra parcela posicionava-se pelo entendimento que a decisão de 
recebimento de denúncia, por ser decisão, possuía nítido caráter decisório, devendo, 
portanto, ser fundamentada. A hipótese desta coluna é de que a nova lei encerra a 
discussão, trazendo a definição de que se trata de uma decisão com obrigatoriedade 
de fundamentação. 
2 – O estado da arte: 
Tocante ao recebimento da denúncia, Renato Brasileiro de Lima, de forma 
mailto:marcellomiller%40hotmail.comhttps://www.conjur.com.br/2019-dez-27/marcello-miller-juiz-garantias-fortalece-cultura-imparcialidade
https://www.conjur.com.br/2019-dez-27/marcello-miller-juiz-garantias-fortalece-cultura-imparcialidade
https://www.conjur.com.br/2019-dez-28/diario-classe-juiz-garantias-dever-fundamentacao-decisoes-recebimento-denuncia#author
ilustrativa, escreve que “o magistrado não está obrigado a fundamentar a decisão de 
recebimento da peça acusatória, até mesmo para se evitar que eventual excesso de 
fundamentação acarrete indevida antecipação da análise do mérito”, uma vez que 
não se trata “de ato de caráter decisório, daí por que não se exige que seja 
fundamentado”. 
Apesar de certo descuido na formulação da frase, afinal, como uma “decisão de 
recebimento da peça acusatória” não teria “caráter decisório”? Melhor seria, como já 
fez o Supremo Tribunal Federal, chamar de ato de recebimento da denúncia, uma 
vez que o ato judicial (e não a decisão) “não se qualifica nem se equipara, para os 
fins a que se refere o inciso IX do artigo 93 da CF, a ato de caráter decisório” (HC nº 
93.065/SP, DJE de 14/05/2009; HC nº 95.354, DJE de 14/06/2010). O Superior 
Tribunal de Justiça tem entendimento no mesmo sentido (RHC Nº 76864/RJ, dje 
22/09/2017). 
Não se desconhece a existência de diversas decisões que anulam atos de 
recebimento da denúncia que se prestem a fundamentar qualquer recebimento da 
exordial acusatória, uma vez que classificam o referido ato como de natureza de 
decisão interlocutória, e não de mero despacho. Como exemplo, pode-se citar o 
RHC nº 90.509/PR (DJE 29/05/2018) e o RHC nº 59.790/SP (DJE 25/02/2016) —
 ambos julgados pelo Superior Tribunal de Justiça. 
Da análise desses e diversos outros julgados, percebe-se que há um ponto 
controverso na jurisprudência e na doutrina sobre o que configura fundamentação 
exauriente, fundamentação concisa e ausência de fundamentação, uma vez que há 
diversos exemplos de julgados que confundem de forma sistemática os três casos. 
Desse contexto, entende-se que a jurisprudência dos tribunais superiores alinha-se 
no sentido de que o ato de recebimento da inicial acusatória possui natureza de 
decisão interlocutória. 
Contudo, ainda há diversos exemplos de julgados que entendem o ato como de 
natureza de mero despacho, prescindindo, assim, de fundamentação. Na prática 
forense, é rotineira a ocorrência de atos de recebimento de denúncia com 
fundamentação genérica que não leva em conta as particularidades dos caso 
concretos. Diante desse contexto, examina-se a alteração legislativa. 
3 – A alteração 
O artigo 3º da Lei determina que o Código de Processo Penal passa a vigorar com 
algumas alteração, entre elas, os artigos 3-A e 3-B referentes ao juiz de garantias. No 
artigo 3º-B, fica estipulado que o juiz de garantias é responsável pela salvaguarda 
dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do 
Poder Judiciário, competindo-lhe especificamente: decidir sobre o recebimento da 
denúncia ou queixa nos termos do art. 399 doCPP. 
Ressalta-se o verbo utilizado pelo legislador pátrio, qual seja: decidir. O juiz de 
garantias decide sobre o recebimento da denúncia, queixa ou aditamento, porque se 
trata, agora de forma incontroversa, de decisão de recebimento, e não de mero 
despacho. O juiz de garantias, responsável pela legalidade e pela salvaguarda dos 
direitos fundamentais, será, também, responsável pela concretização de um dos 
princípios mais basilares de um Estado Democrático de Direito, previsto no 
artigo 93, IX, da nossa Constituição pátria, o do dever de fundamentação das 
decisões judiciais. 
Destarte, não é por acaso que o mencionado artigo constitucional define que todas as 
decisões judiciais serão fundamentadas. O dever de fundamentação é condição de 
possibilidade para um Estado que proponha cumprir o ruleoflaw, porque possibilita 
transparência, evita abusos de poder, impede autoritarismos e garante o controle das 
decisões judiciais. 
A reforma legislativa traz, ademais, um dispositivo que, apesar de ilustrar a 
modernidade tardia da República brasileira, tem notável importância para o dia-a-dia 
prático dos juristas — o novel parágrafo 2º do artigo 315 do Código de Processo 
Penal. Com ele, fica assentado que não se considera fundamentada qualquer decisão 
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que não explicar a relação entre 
ato normativo e a causa decidida, que empregar conceitos indeterminados sem 
explicar o motivo concreto de sua incidência e que invocar motivos que se prestem a 
fundamentar qualquer outra. 
Se, antes da reforma legislativa, uma leitura democrática do ato judicial em análise 
já direcionava, conforme o melhor entendimento jurisprudencial, para o dever de 
fundamentação ante a natureza interlocutória do recebimento da denúncia, agora, 
depois da atualização, trata-se não apenas de “desvelar a melhor luz” para 
utilizarmos Dworkin, mas de “uma interpretação discursivamente necessária”,agora 
com Alexy. Não há espaço, ante a própria construção textual do artigo 3º-B e do 
parágrafo 2º do artigo 315, para outra interpretação. 
Nesse sentido, os limites hermeneuticamente construídos à atividade interpretativa 
impossibilitam que se diga qualquer coisa sobre qualquer coisa, conforme sempre 
relembra Streck. O controle democrático das decisões judiciais, principalmente no 
específico objeto de estudo dessa coluna, impõe o dever de fundamentação ante a 
correlação dada pela Crítica Hermenêutica do Direito entre limite semântico, a 
leitura sistemática da Constituição e do Código de Processo Penal e a coerência do 
ordenamento jurídico. 
4 – Considerações finais 
Por fim, devemos lembrar, com Muller, que o Estado constitucional foi conquistado 
no combate contra uma história marcada pela ausência do Estado de Direito e pela 
falta de democracia; e esse combate continua. A democracia e o Estado de Direito 
legitimam toda a estrutura estatal pátria contemporânea. 
Assim, é imprescindível compreender em quais campos as pretensões democrático-
constitucionais são cumpridas e em quais não são, sendo um dever, principalmente 
das decisões dos juristas, operacionalizar e concretizar, a partir de processos 
racionalmente controláveis, as promessas democrático-constitucionais. 
Quando Muller aborda, no livro “Quem é o Povo”, o déficit, ou, melhor dizendo, o 
desnível entre as promessas constitucionais e democráticas promovidas pela CF/88 
com a realidade prática calcada numa inautêntica tradição autoritária e inquisitorial, 
o que adquire valor maior diante do processo penal pátrio, ele escreve que “todo e 
qualquer sistema político necessita de legitimidade interna bem como externa. 
Quanto maior a frequência com que se interprete a Constituição efetivamente ao pé 
da letra Lorenzoni — contrariando certas tradições do passado — e quanto mais 
frequentemente isso ocorra publicamente, tanto mais o próprio sistema político 
deverá a longo prazo aceitar que ele mesmo seja tomado cada vez mais ao pé da 
letra, com base na própria Constituição” (MULLER, 2003, p. 103). 
Nesse sentido, advém a legitimação do Estado não apenas por meio de textos 
(formulados de forma simbólica), mas de lográ-la apenas por meio da ação do 
Estado conforme determina o texto constitucional, consoante Muller. Assim, o 
grande autor alemão alinha-se com Streck, quando este, referindo-se à applicatio dos 
textos e à concretização das promessas constitucionais, ensina que “a consequência 
lógica disso é nos “segurarmos” nos limites semânticos, que é um modo de 
resguardarmos uma legalidade que, agora, já não é uma simples legalidade, mas, 
sim, uma legalidade constitucional” (2014, p. 81). 
Dito de outra forma, trata-se do respeito à autoridade do Direito - algo que já está 
recorrente nas colunas do diário de classe, mas que não pode ter sua importância 
diminuída. Isto é assim, pois o Direito deve conformare limitar a atuação do Estado 
e dos seus agentes de poder. Não é aquele que depende desses, mas esses que 
dependem do Direito, uma vez que apenas o ruleoflaw pode legitimar sua atuação. 
Nesse ponto, a mudança, ou melhor escrito, a adesão ao entendimento 
jurisprudencial de que a decisão de recebimento da denúncia precisa de 
fundamentação deve imperar. Ainda, afigura-se impossível aceitar decisões de 
recebimento da denúncia, queixa ou aditamento que se prestem a fundamentar 
qualquer processo ou que tenham nítido caráter genérico. Parece afirmar o óbvio, 
entretanto, nem esse é rotineiramente cumprido no sistema criminal brasileiro. 
Afinal, conforme Streck diversas vezes já advertiu e como Muller escreveu, deve-se 
levar a Constituição a sério. “Afinal de contas, não se estatuem impunemente textos 
de normas e textos constitucionais, que foram concebidos com pré-compreensão 
insincera. Os textos podem revidar” (2003, p. 105). O trabalho dos juristas nessa 
direção concretiza passo a passo a qualidade de Estado de Direito, mas não só. Esse 
mesmo trabalho garante, em igual grau, a permanência de um Estado Democrático. 
Referências bibliográficas: 
STRECK, Lenio Luiz. HERMENÊUTICA JURÍDICA E(M) CRISE: Uma 
exploração hermenêutica da construção do Direito. 11ª ed. Porto Alegre: Livraria do 
advogado, 2014. 
MULLER, Friedrich. Quem é o Povo? A questão fundamental da democracia. 3º ed. 
São Paulo: Max Limonad, 2003. 
Pietro Cardia Lorenzoni é advogado, professor de Direito Público do Centro Universitário Ritter dos Reis 
(Uniritter) e da Faculdade Monteiro Lobato (Fato), doutorando em Direito pela Universidade do Vale do 
Rio dos Sinos (Unisinos) e membro do Dasein – Núcleo de Estudos Hermenêuticos. 
Revista Consultor Jurídico, 28 de dezembro de 2019, 9h33 
(https://www.conjur.com.br/2019-dez-28/diario-classe-juiz-garantias-dever-fundamentacao-
decisoes-recebimento-denuncia) 
 
OPINIÃO 
Juízo das garantias não é novidade, ao 
menos em São Paulo 
 
30 de dezembro de 2019, 8h21 
Por Ulisses Augusto Pascolati Junior 
Como “presente de natal” a todos aqueles que buscam um processo penal de 
estrutura tipicamente acusatória, dentro de um Estado verdadeiramente democrático 
e de direito, o presidente da República sancionou a Lei 13.964 que contempla, 
dentre outras figuras, o “Juiz das Garantias”. 
Não há dúvidas de que se trata do maior avanço processual penal dos últimos anos 
uma vez que, de forma definitiva, afasta o “juiz julgador” do “juiz investigador”. 
Referida figura, nem bem terminada a comilança das sobras da ceia de natal, já 
desperta inúmeros questionamentos, notadamente quanto a sua aplicação logística e 
financeira. 
https://www.conjur.com.br/2019-dez-28/diario-classe-juiz-garantias-dever-fundamentacao-decisoes-recebimento-denuncia
https://www.conjur.com.br/2019-dez-28/diario-classe-juiz-garantias-dever-fundamentacao-decisoes-recebimento-denuncia
https://www.conjur.com.br/2019-dez-30/pascolati-junior-juizo-garantias-nao-novidade-sp#author
Não obstante o ardoroso debate, vale salientar que esta figura não é nova na cidade 
de São Paulo. Na capital, desde 1984/85 (provimento 167/84 do CSM e Provimento 
11/85 do OE), os operadores do direito convivem harmonicamente com o “Juiz da 
Garantias”. É certo que a atividade jurisdicional não é exercida com este nomen 
juris, contudo, há mais de 30 anos, é exercida pelos juízes do Departamento de 
Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária, famoso DIPO. 
Na cidade de São Paulo, o processo penal é de natureza trifásica: a) a investigação 
fica a cargo da Polícia Judiciária, por meio do Inquérito Policial, ou do Ministério 
Público, por meio dos PIC’s — Procedimento Interno de Controle (anote-se que 
agora obrigatoriamente estes deverão ser distribuídos — artigo 3º-B, IV); b) as 
medidas constritivas de direito, ou seja, aquelas que flexibilizam garantidas 
constitucionais (liberdade, privacidade, intimidade, honra, etc) são decididas por juiz 
que atua no DIPO e este juiz controla o trâmite e regularidade das investigações; c) a 
instrução e julgamento, por sua vez, é realizada por outro juiz, o qual, ressalte-se, 
não manteve contato com a investigação. 
Em São Paulo, portanto, embora não com as integrais competências trazidas pela 
nova legislação, o juiz do DIPO atua no sentido de não permitir a contaminação ou 
qualquer influência do juiz de julgamento (“de instrução”) pelas provas colhidas na 
fase inquisitiva/investigatória. 
Diferente da nova figura o Juiz do DIPO, por exemplo, não atua na fase de 
recebimento da denúncia (artigos 395/399 do CPP) e, ademais, o Juiz das Garantias 
será o competente para atuar na homologação dos acordos de não persecução penal 
(artigo 3º-B, XVII). 
Em São Paulo, saliente-se, com o DIPO, busca-se preservar a imparcialidade total 
do Magistrado, regra de ouro para o funcionamento de qualquer sistema de justiça. 
Assim, sob um olhar material, não há dúvidas de que a medida sancionada pelo 
Presidente da República, que agora será expandida para todo território nacional, é 
constitucional e adequa-se a uma visão moderna de Estado de Direito. Tanto a lei 
mostra-se materialmente constitucional que as críticas não são de essência ou de 
conteúdo, mas sim laterais relativamente a sua aplicação ou eventual aumento de 
gastos. 
É certo, outrossim, e esta crítica mostra-se adequada, que uma alteração de processo 
de tamanha envergadura mereceria um tempo maior de vacatio legis para que os 
tribunais pudessem melhor se adaptar. Entretanto, a despeito desta crítica, cremos 
que as demais quanto a gastos ou logísticas devem ser absorvidas, a uma porque não 
há reforma processual penal sem a implementação de gastos e, a duas, pode haver 
soluções que não importem gastos substanciais desde que haja, por exemplo, 
reorientação de atividades jurisdicionais já existentes, ou mesmo distribuição 
cruzada on line entre comarcas próximas ou contíguas de inquéritos digitais ou 
mesmo, como existe há mais de 30 anos, a criação de centrais de inquéritos 
semelhantes ao DIPO encarregados desta fase de “pré-mérito”. Anote-se que o CNJ, 
antecipando-se ao problema, criou, por meio da portaria 214, grupo de trabalho para 
elaboração de estudo relativo aos efeitos de aplicação da nova legislação. 
Portanto, um avanço democrático dessa natureza que, de uma vez por todas, 
colocará termo às incontáveis alegações de parcialidade do Magistrado, não pode 
ficar resumido a discussões laterais solucionáveis; ademais, o Tribunal de Justiça de 
São Paulo, na vanguarda, mostrou que é possível o funcionamento desta nova figura, 
isto há mais de 30 anos, o que mostra não se tratar genuinamente de uma 
“novidade”. 
Ulisses Augusto Pascolati Junior é juiz de Direito em São Paulo, doutor em Direito Penal USP e professor 
universitário. 
Revista Consultor Jurídico, 30 de dezembro de 2019, 8h21 
(https://www.conjur.com.br/2019-dez-30/pascolati-junior-juizo-garantias-nao-novidade-sp) 
 
Juiz de garantias, imparcialidade e a 
iniciativa probatória 
 
31 de dezembro de 2019, 7h31 
Por Ulisses Sousa 
No plano legislativo, a principal notícia do Natal de 2.019 foi a publicação da Lei 
13.964/2019, apelidada de “pacote anticrime”. 
Após a publicação da lei, sem mais qualquer jogo de futebol importante, todos os 
brasileiros passaram a “opinar” acerca do “juiz de garantias”. E, é preciso se que se 
registre, quanta bobagem se falou acerca dessa figura. As notícias acerca do assunto 
mais desinformam do que informam. 
A criação do juiz de garantias é um avanço. Isso é inegável. Mas também é inegável 
que tal mudança, tão positiva, dificilmente será implementada com sucesso nos 30 
dias compreendidos entre o Natal de 2019 e o final da vacatio legis prevista na lei 
referida. Nem Papai Noel conseguiria atender tal pedido. 
Lamentavelmente os debates acerca da Lei 13.964, por enquanto, estão sendo pobres 
em conteúdo. A maior parte das críticas dirigidas ao

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