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Lei Anticrime - Frederico Cattani

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Prévia do material em texto

FREDERICO CATTANI 
 
 
 
PACOTE ANTICRIME 
Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019 
(aperfeiçoa a legislação penal e processual penal) 
Anotações Artigo por Artigo 
 
 
 
 
@fredericocattani.advogado 
 
 
 
2020 
www.fredericocattani.com.br 
frederico@fredericocattani.com.br 
 
http://www.fredericocattani.com.br/
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
2 
 
 
ÍNDICE 
I. O que é este material? 
II. Notas iniciais 
III. Origem: Projeto Anticrime 
IV. Dos Vetos pelo Presidente da República 
V. O Vacatio legis da Lei 13.964 de 2019 
VI. Decisões no STF – a suspensão parcial do Pacote Anticrime 
VII. Advertências 
VIII. Anotações sobre a Lei 13.964 de 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
3 
 
I. O que é este material? 
Este trabalho surgiu, incialmente, com alguns rascunhos pessoais que eram feitos durante a leitura da lei 
oriunda do Pacote Anticrime, ainda quando havia sido publicada em dezembro de 2019. Após observar que 
algumas destas alterações ansiaram maior atenção, começou o rascunho a ter a pretensão de ser um ou outro 
artigo jurídico isolado, onde seriam comentadas as inovações legislativas pontualmente. Então, o trabalho se 
resume a anotações pessoais sobre as primeiras impressões que tive com a nova lei e que serve de consulta 
pessoal. Este material é um esboço de ideias, pois aos poucos vamos lendo e tendo conhecimento de outras 
opiniões e, assim, por certo que muito existe a ser trilhado. 
 Prefiro resumir que este material serve como parte de um debate sobre a vasta atualização que foi 
proposta para o sistema penal brasileiro, mas sabendo das limitações que uma primeira anotação sobre temas 
novos possuem. Com isso, espero, após o dialogo com amigos, (quem sabe) atualizar este material para algo mais 
definitivo, ampliando e revisado1. 
 Sobre mim, sou advogado, professor de processo penal e tenho publicado alguns artigos e ensaios sobre 
visões do universo jurídico. Fiz meu Mestrado em Ciências Criminais junto a PUCRS (Porto Alegre, RS), e 
especialização em Direito Empresarial pela FSG (Caxias do Sul, RS). Fui membro da Comissão de Direitos Humanos 
e Conselheiro do Tribunal de Ética e Disciplina, ambos na OAB seccional da Bahia. 
 
II. Notas iniciais. 
 O objeto em análise surgiu às vésperas do Natal de 2019, quando o Presidente da República sancionou a 
Lei que tem por pretensão aperfeiçoar a legislação penal e processual penal, com grande impacto para o universo 
jurídico, em razão da amplitude e complexidade, inclusive com temas estranhos a atual formatação do processo 
penal. A Lei foi publicada em 24 de dezembro de 2019 sob o número 13.964, e trouxe alterações diretas a 
dezessete leis com enfoque penal que já estavam vigentes, tendo grande abrangência nos Códigos penal e de 
processo penal, mas ainda percorrendo a legislação extravagante (especial). Essencialmente, dentro do conteúdo 
que percorrem os seus 20 artigos, surgem mudanças extensas, novidades jurídicas e pontos de grande discussão, 
inclusive exigindo reestruturação judiciária. 
 As alterações trazidas pelo pacote anticrime se consolidaram no Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº 
2.848, de 7 de dezembro de 1940), o Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941), a 
Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072, de 25 de 
julho de 1990), na Lei que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento 
ilícito (Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992), a Lei que trata das Interceptações Telefônicas (Lei nº 9.296, de 24 de 
julho de 1996), a Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998), a Lei que trata sobre registro, 
posse e comercialização de armas de fogo e munição (Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003), Lei de Drogas 
(Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006), a lei que dispõe sobre a transferência e inclusão de presos em 
estabelecimentos penais federais de segurança máxima (Lei nº 11.671, de 8 de maio de 2008), a Lei que dispõe 
sobre a identificação criminal do civilmente identificado (Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009), a Lei sobre o 
processo e o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações 
criminosas (Lei nº 12.694, de 24 de julho de 2012), a Lei das Organizações Criminosas (Lei nº 12.850, de 2 de 
agosto de 2013), a Lei sobre o Disque Denúncia (Lei nº 13.608, de 10 de janeiro de 2018), sobre as normas 
procedimentais para os processos perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal (Lei nº 
 
1 As críticas e sugestões podem ser enviadas para frederico@fredericocattani.com.br. 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
4 
 
8.038, de 28 de maio de 1990), sobre o Fundo Nacional de Segurança Pública (Lei nº 13.756, de 12 de dezembro 
de 2018) e o Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969). 
A pesar da estrutura ser de larga escala, o chamado aprimoramento da legislação penal e processual 
penal infelizmente não foi tratado com a seriedade necessária que lhe cabe, ainda que seja de grande 
importância o que foi ventilado. O certo é que existiam projetos, mais antigos, que enfocavam a atenção 
necessária para uma reforma real e integral do sistema penal, com códigos novos em contraposição aos vigentes, 
principalmente os que foram editados na época do Estado Novo de Getúlio Vargas. Mais uma vez, o legislador 
optou por colocar panos novos junto à roupa velha, expandindo os retalhos e tapando aberturas pontuais, que se 
perdem na total falta de sistemática, pois ficam sem amparo de uma força motriz central conectada a sociedade 
moderna e a Constituição Federal de 1988. 
Observe que as alterações pontuais, no estilo de reforma parcial, com a envergadura que se fez, tendem a 
produzir resultados semânticos imprecisos, pois são formuladas sobre conceitos novos e aplicadas a modelos 
antigos. Os artigos de um código ou de uma lei não devem ser interpretados de forma totalmente isolada e 
desconectada com seu entorno. Para ilustrar, a nova legislação dispõe de uma redação mais limpa e objetiva para 
o artigo 283 do Código de Processo Penal, impondo que a prisão por condenação criminal somente ocorre após 
trânsito em julgado. No entanto, esta mesma lei trouxe, pouco mais a frente, a inclusão da possibilidade de prisão 
em sentença, obrigando a execução provisória da pena oriunda do Tribunal do Júri, nos casos de condenação a 
uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão. Uma contradição ao sistema. 
Esta contradição é histórica. O Código de Processo Penal original previa, nos casos de sentença penal 
condenatória recorrível, o efeito da ser o réu preso ou conservado na prisão. Para além, o revogado2 artigo 594 do 
Código de Processo Penal também previa na prisão em primeira instância condição de preparo recursal. Dizia o 
antigo artigo que o réu não poderia apelar sem recolher-se à prisão. Cabe destacar, que o Supremo Tribunal 
Federal se manifestou em mais de uma oportunidade, sendo que no Habeas Corpus 103.529 fez expressa menção 
a incompatibilidade da Constituição Federal e a execução provisória da pena, situação que foi reforçada no 
julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade sobre a redação do artigo 283 do Código de Processo 
Penal . Ou seja, mutatis mutantis, a nova lei 13.964, após recente manifestação do STF mantém que só existe no 
processo a prisão em flagrante, a prisão cautelar e a prisão em virtude de condenação criminal transitada em 
julgado (art. 283), mas, se contradiz ao incluir a possibilidade execução provisória das penas coma inclusão do 
artigo 492, I, “e” no Código de Processo Penal. 
De qualquer forma, são diversos os pontos, e com certeza existem críticas positivas e negativas. Em 
verdade, são alterações que em grande parte são demandas antigas, e em outra parte são instrumentos jurídicos 
novos que, se bem recepcionados, serão importantes para o alavancamento de um novo marco penal para 
desenvolvimento do sistema penal brasileiro. 
 
III. Origem: Projeto Anticrime 
O Projeto de Lei chamado de Pacote Anticrime foi apresentado em fevereiro 2019 pelo Ministro da Justiça 
Sergio Moro – Ex-Juiz Federal que atuava no Estado do Paraná e que foi centro de decisões judicias de grande 
repercussão na Operação Lavajato. Em verdade, as proposições andaram em conjunto ao Projeto de Lei 
10.372/2018, do Deputado José Rocha do PR/BA e outros membros da Câmara dos Deputados, como Marcelo Aro 
do PHS/MG, Wladimir Costa do SD/PA e Nilson Leitão do PSDB/MT. 
 
2 No ano de 2008 aconteceu uma reforma do Código de Processo Penal, por meio da Lei 11.719, momento em que foram 
revogados diversos dispositivos, entre estes o artigo 594. Cabe destacar que o mesmo já era matéria de embate nos 
Tribunais Superiores, e a Jurisprudência do STF se firmava no sentido de sua não recepção pela Constituição Federal de 1988. 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
5 
 
Pode-se dizer que houve uma caminhada em conjunto para o chamado aprimoramento da legislação 
penal e processual penal da forma em que se deu, tendo sido motivada pelo debate contra a corrupção, mas que 
compreendeu, ao final, a importância das reformas em áreas de garantias individuais também serem 
instrumentos desta guerra, afastando um modelo totalmente discricionário com notas de direito penal do 
inimigo. Frisa-se, ainda não foi desta vez o momento que se aproveitou a atenção existente para realização da sua 
total reforma, com códigos integralmente novos. De qualquer forma, são alterações que em grande parte são 
demandas de uma parcela da população e de políticos, e em outra parte são instrumentos jurídicos importantes 
para o aperfeiçoamento penal e para o desenvolvimento processual junto ao judiciário. 
Um das características deste projeto foi a Comissão de Juristas coordenada pelo ministro do Supremo 
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que destacou ser modificações que visam o “combate ao crime 
organizado”, exigindo “racionalidade instrumental e priorização de recursos financeiros e humanos direcionados 
diretamente para a persecução da macro criminalidade”, e que por isso “tornou imprescindível uma clara e 
expressa opção de combate a macro criminalidade”, mas que, silenciosamente, atingirá toda e qualquer forma de 
fato penal, ao ponto de ser inegável que a proposta atingirá “a criminalidade individual, praticada sem violência 
ou grave ameaça”3. 
Em razão da complexidade e amplitude das modificações que estavam sendo postas para deliberação, e 
com o intuito de facilitar a tramitação das proposições legislativas, inclusive se criou um grupo de trabalho 
destinado a analisar e debater as mudanças promovidas na legislação penal e processual penal pelos Projetos de 
Lei nº 10.372/2018, nº 10.373/20184, e nº 882/ 2019. Deve ser observado que o projeto, frente a sua dimensão, 
teve uma tramitação célere, inclusive com Senado Federal, enquanto Casa Revisora, aprovando sem alterações a 
redação final do texto legislativo - por meio do Projeto de Lei nº. 6.341/2019. 
Outros temas deverão afetar o sistema penal de forma impactante, sem que demore muito tempo, 
principalmente sobre a prisão em segunda instância e momento em que se dará o trânsito em julgado, mas que 
fugiram da realidade do atual projeto de lei, que foi encaminhando ao Presidente da República que o sancionou 
com poucos vetos (frente ao tamanho da reforma). 
 
IV. Dos Vetos pelo Presidente da República 
O Presidente da República, amparado pelo § 1º do art. 66 da Constituição Federal, decidiu por vetar 
parcialmente o Projeto de Lei nº 6.341/2019 do Senado Federal (nº 10.372/18 na Câmara dos Deputados), que 
teve por objeto aperfeiçoar a legislação penal e processual penal, com os principais fundamentos de 
contrariedade ao interesse público e inconstitucionalidade. 
 
3 Alexandre de Moraes sendo citado na Justificação ao Projeto de Lei, assinado pelo Deputado José Rocha, que assim 
registrou: “Por Ato da Presidência desta Casa Legislativa, publicado no Diário da Câmara dos Deputados de 10 de outubro de 
2017, foi instituída Comissão de Juristas com a atribuição de elaborar proposta legislativa de “combate à criminalidade 
organizada, em especial relacionada ao combate ao tráfico de drogas e armas.” Tal Comissão de notáveis foi presidida pelo 
Exmo. Sr. Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Ao trazer a esta Casa o resultado dos trabalhos 
propostos, encaminhou Ofício o Nobre Jurista, que se reproduz a seguir, com os devidos agradecimentos e homenagens. 
Constitui, pois, essa apresentação feita por seus renomados autores a Justificação desta matéria. 
4
 O PL 10.373/2018 dispõe sobre a ação civil pública de perdimento de bens, caracterizada como a perda de bens, direitos ou 
valores, consistente na extinção do direito de posse e de propriedade, e de todos os demais direitos reais ou pessoais sobre 
bens de qualquer natureza e valores que sejam produto ou proveito, direito ou indireto, de atividade ilícita e de sua 
transferência em favor da União, dos Estados, do Distrito Federal ou Municípios, sem direito à indenização, podendo ser 
proposta contra pessoa física ou jurídica. Por ser uma sanção cível, não se trata de matéria correlata, sendo incompatível 
com a análise e deliberação do Projeto de Lei 10.372, de 2018, com vários temas sensíveis de aplicação na seara criminal. Por 
estas razões houve o desapensamento do Projeto de Lei nº 10.373, de 2018. 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
6 
 
No total a nova lei teve 22 (vinte e dois) vetos5 que, para melhor sistematização do presente texto, serão 
apresentados e comentados oportunamente, permitindo maior fluidez e sistematização. Cabe destacar, todavia, 
o veto à proposição de incremento do § 2º ao art. 141 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848 de 1940), que seria 
alterado pelo art. 2º do projeto de lei. 
A repercussão deste veto se dá em razão do combate as Fake News, pois o legislador tinha a pretensão de 
triplicar a pena de injuria, difamação e calúnia nos casos em que o crime fosse cometido ou divulgado em 
quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores. As razões sobre o veto foram: 
“A propositura legislativa, ao promover o incremento da pena no triplo quando o crime 
for cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial 
de computadores, viola o princípio da proporcionalidade entre o tipo penal descrito e a 
pena cominada, notadamente se considerarmos a existência da legislação atual que já 
tutela suficientemente os interesses protegidos pelo Projeto, ao permitir o agravamento 
da pena em um terço na hipótese de qualquer dos crimes contra a honra ser cometido 
por meio que facilite a sua divulgação. Ademais a substituição da lavratura de termo 
circunstanciado nesses crimes, em razão da pena máxima ser superior a dois anos, pela 
necessária abertura de inquérito policial, ensejaria, por conseguinte, superlotação das 
delegacias, e, com isso, redução do tempo e da força de trabalho para se dedicar ao 
combate de crimes graves, tais como homicídio e latrocínio.” 
 
V. O Vacatio legis da Lei 13.964 de 2019. 
Ao sancionar e publicar uma nova lei, faz necessário determinar um prazo, um período de tempo, no qual 
haja condições para que o novo texto legal possa ser conhecido e exploradopela doutrina e, inclusive, momento 
este que será utilizado para tomar as medidas necessárias a uma nova estruturação por aqueles que terão que 
dar o cumprimento da pretensão normativa, ao ponto que se possa exigir sua aplicação obrigatória. 
O prazo estipulado para a assimilação do conteúdo da nova lei 13.964 veio determinado em seu artigo 20, 
ao prever que esta Lei entra em vigor após decorridos 30 (trinta) dias de sua publicação oficial. Alguns tópicos 
novos, mesmo que venham a entrar em vigor, como o caso do “juiz de garantias”, vão depender de uma 
regulamentação para sua aplicação prática, uniforme e sistematizada, inclusive em razão de afetar 
(possivelmente) as previsões orçamentarias. 
A Lei sofre com a ansiedade do legislador em ver sua vigência no início deste ano eleitoral. O prazo de 30 
(trinta) dias é insuficiente. A Lei nº 11.719, de 20 de junho de 2008, que foi uma reforma parcial e pontual do 
Código de Processo Penal previu um prazo de vacância de 60 (sessenta) dias, que já era (e se demonstrou) 
pequeno. O prazo de 30 (trinta) dias para vigência desta nova lei, além de exíguo, se deu em um período de 
recesso do judiciário, em plena festas e feriados de final de ano, sem comentar a grande parcela de profissionais 
da área jurídica que optam por férias e se afastam de suas funções neste período. 
A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância é feita com a 
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua 
consumação integral. Assim, considerando que a Lei foi publicada em 24/12/2019 e que os trinta dias encerraram 
em 22/01/2020, tem-se como primeiro dia subsequente o dia 23/01/2020. 
 
VI. Decisões no STF – a suspensão parcial do Pacote Anticrime 
 
5 Se forem somados os três incisos do também vetado Caput do art. 17-A da Lei nº 8.429/1992, que seriam acrescidos pelo 
art. 6º do projeto de lei, somam-se 25 vetos ao total. 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
7 
 
O Ministro Luiz Fux, Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu por tempo 
indeterminado a eficácia das regras do Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019) que instituem a figura do juiz das 
garantias. A decisão cautelar, proferida nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 6298, 6299, 6300 e 
6305, será submetida a referendo do Plenário. O ministro Fux também suspendeu a eficácia do artigo 310, 
parágrafo 4º, do Código de Processo Penal (CPP), que prevê a liberalização da prisão pela não realização da 
audiência de custódia no prazo de 24 horas. Deve ser observado que o presidente do Supremo Tribunal Federal 
(STF), ministro Dias Toffoli, já havia se manifestado pela validade da norma que institui o juiz das garantias, mas, 
diferentemente da decisão do Ministro Fux, havia fixado prazo de 180 dias, a contar da publicação da decisão, 
para sua implementação. Em verdade, a decisão do Ministro Toffoli foi no sentido de estabelecer regras de 
transição. 
Em suma, ficaram suspensos: 
a) a implantação do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-F, do 
Código de Processo Penal); 
b) a alteração do juiz sentenciante que conhecer de prova declarada inadmissível (157, §5º, do Código de 
Processo Penal); 
c) alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (28, caput, Código de Processo 
Penal); 
d) Da liberalização da prisão pela não realização da audiência de custodia no prazo de 24 horas (Artigo 
310, §4°, do Código de Processo Penal); 
 
VII. Advertências 
 Para compreensão do formato adotado, os capítulos estão sendo apresentados em numerais Romano (I, 
II, III, IV,...), os artigos da lei 13.964/2019 estarão dispostos na cor vermelha, e as modificações legislativas que 
constam em cada um destes artigos, vão ser apresentadas em quadros comparativos. Sempre que a lei atual não 
possuir previsão para a alteração que está sendo proposta, seja pela inclusão de um artigo ou de um inciso ou 
novo parágrafo, constará o termo “sem previsão”. Por fim, nas principais alterações, se buscou trazer um título 
indicativos em negrito, para chamar a atenção do leitor e ajudar a sistematizar a leitura. 
 Em diversas alterações foi apresentada a posição do Ministério Público por meio de seus Enunciados. Em 
que pese os mesmos serem parte das anotações, não significa concordância com os seus termos. Na verdade, 
como o presente material é um guia para ser consultado conforme a necessidade, optou-se por anotar tudo que 
pode ser relevante. Da mesma forma, não se fez neste momento uma crítica aos Enunciados, uma vez que não é 
o objetivo deste trabalho que são somente anotações. 
 Sempre que for possível, por favor, não esqueça de mandar seus comentários, análises, críticas, dicas e 
sugestões para frederico@fredericocattani.com.br. 
 
 
 
 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.br www.fredericocattani.com.br 
8 
 
VIII. Da analise da Lei 13.964 de 2019. 
 
Art. 1º Esta Lei aperfeiçoa a legislação penal e processual penal. 
 
O legislador, enquanto ator político, foi um dos pontos, entre os diversos existentes, que levaram a 
criação de uma lei com fortes incidências no sistema penal. Tópicos como combate a corrupção, fake News, 
sensacionalismo, prisão em segunda instância, dimensionados em um país que se via em crise econômica, depois 
de viver uma alavancagem econômica com base no crédito do sistema financeiro, provocaram desde eleições 
com personagens diferentes em todas as esferas, até a indicação de um Ministro da Justiça e Segurança Pública 
que foi juiz de processos ligados à força-tarefa conhecida como Lava Jato. 
A lei surge como uma forma de resposta a diversas demandas, tantos políticas quanto jurídicas, tanto 
populares quanto eleitoreiras. E, neste complexo lugar de se fazer importante e de bom volume, é que se coloca o 
slogan de que esta lei aperfeiçoa a legislação penal e processual penal. 
Muito mais forte do que votar um novo Código de Processo Penal e um Novo Código Penal, que teriam 
assimilações demoradas e aplicação prática em longo prazo, trazer alterações para aquilo que já existe se 
demonstrou o melhor caminho político para o discurso do combate a corrupção, e para respostas jurídicas 
pontuais que eram demandadas por diversos setores. Por isso, a questão nunca será se a nova lei realmente 
aperfeiçoou a legislação penal e processual penal. 
A estrutura da Lei 13.964/2019 não é criar uma nova lei penal em específico, como se fosse um novo 
código, ou algo do gênero. Em verdade, sua função é trazer as alterações e modificações que serão percebidas 
nas leis que já estão em vigência, como é o caso do Código Penal, a Lei de Execução Penal, a Lei de Lavagem de 
Dinheiro, entre outras. 
A melhor forma de receber esta lei seria como um projeto de transição para uma integralmente nova 
realidade jurídico-penal, com a votação de novos códigos e revisão das leis especiais em vigor. Isto é, oportunizar 
que tão logo se vote um novo Código Penal e um novo Código de Processo Penal, sendo que esta lei que entrou 
em vigor na véspera do natal será um caminho para o aperfeiçoamento de um sistema de engrenagens 
desencontradas e sem qualquer base no movimento Constituinte dos anos 80. 
 
Art. 2º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes 
alterações: (CÓDIGO PENAL) 
 
- Exclusão de ilicitude: legitima defesa 
Antiga redação Nova redação 
Art. 25 – [...] 
Sem previsão 
Art. 25. [...]. 
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste 
artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de 
segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima 
mantida refém durante a prática de crimes. 
 
@fredericocattani.advogado frederico@fredericocattani.com.brwww.fredericocattani.com.br 
9 
 
Houve a inclusão do parágrafo único no artigo 25 do Código Penal para falar da legitima defesa do agente 
de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de 
crimes. Sem trazer inovações ao caput ou ao artigo 23 que trata das exclusões de ilicitude, o legislador adota uma 
postura simbólica e, no máximo, traz luz sobre um debate entre o estrito cumprimento do dever legal e a legitima 
defesa de terceiro. 
Explica-se, os casos em que o agente público não se enquadra em estrito cumprimento do dever legal 
geram controvérsia sobre o enquadramento pela legitima defesa de terceiro, um debate que atingiria a forma de 
se portar dos agentes de segurança pública. Em verdade, a lei em seu caput permite a qualquer um agir para 
repelir injusta agressão atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Na Exposição de Motivos ficou o registro 
de que tal alteração tem por função corrigir a “situação atual de absoluta insegurança do policial, pois impõe-lhe 
aguardar a ameaça concreta ou o início da execução do crime para, só depois, reagir”. De outra forma, o 
legislador quer viabilizar juridicamente mecanismos proativos de atuação do agente de segurança pública. Frisa-
se, o agente público não estava desagasalhado com a antiga redação, mas a modificação buscou deixar expresso 
uma proteção para a atuação ativa na proteção da sociedade. O melhor exemplo se dá nos casos de atiradores de 
elite da Policia Militar que deflagram suas armas de fogo contra infratores, muitas vezes levando os mesmos a 
óbito. 
Com a alteração, ainda continuara respondendo o agente que age com excesso doloso ou culposo, ou que 
faz uso desmoderado dos meios necessários, ou usa meio desnecessário. No mesmo sentido, não se trata de uma 
carta branca para atuação proativa dos agentes de segurança pública, o texto é expresso ao prever o termo 
“repele agressão ou risco de agressão”, o que leva a concluir que não é a simples qualidade da “vítima mantida 
refém durante a prática de crimes” que excluiria eventual ilicitude de um fato típico praticado por agente de 
segurança pública. Tanto assim, que não foi utilizado o verbo prevenir (figura aberta e de alcance alargado para 
evitar que algo aconteça), optando o legislador pelo verbo repelir (muito mais que prevenção, exige que algo 
esteja acontecendo para que haja uma ação de repulsa, de afastamento). 
A diferença entre o estrito cumprimento do dever legal para legitima defesa de terdceiro se dá frente a 
medida a ser adotada pelo agente público ser autorizada/prevista na lei. Por exemplo, o simples matar alguém 
não é um dever legal do agente público. Em outras palavras, usar uma arma de fogo contra cidadão não é 
previsto como dever legal do policial para toda e qualquer situação. Ao ponto, o recurso do uso de armas só se 
justifica quando absolutamente necessário para vencer a resistência ou proteger a incolumidade do executor da 
prisão ou a de auxiliar seu. Ora, caso o agente da segurança pública faça uso de arma de forma proativa para 
repelir agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes, não estará ele dentro 
dos padrões que a lei determina como dever legal e, é neste ponto, que o legislador tornou expresso que estará 
ele (agente público) em legítima defesa de terceiro. 
 
- Pena de Multa 
Antiga redação Nova redação 
Art. 51 - Transitada em julgado a sentença 
condenatória, a multa será considerada dívida de 
valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação 
relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, 
inclusive no que concerne às causas interruptivas 
e suspensivas da prescrição. 
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será 
executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida 
de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda 
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e 
suspensivas da prescrição. 
 
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A modificação do artigo 51, para determinar que a execução da pena de multa seja feita perante o juiz da 
execução penal, é dar evidência a pretensão do legislador em trazer eficácia a uma da searas que muitas vezes 
era tida como esquecida. Em poucas palavras, o legislador busca mecanismos efetivos para cobrança das multas 
aplicadas em razão de condenação penal sem que haja barreiras como as de piso de valor para iniciar uma 
execução da fazenda pública. Neste sentido, na Exposição de Motivos constava a justificativa da proposta como 
meio de retirar da Vara das Execuções Fiscais a competência para ajuizamento destas cobranças, em razão do 
fato de que elas se perdem em meio ao imenso número de execuções fiscais, o que confere ao condenado 
sensação de impunidade, além de refletir em baixo retorno aos cofres públicos. Trata-se de um desdobramento 
lógico, e é certo que o juiz que inicia a execução da pena cumulará em uma única oportunidade a execução da 
multa. 
Para os mais atentos, a redação do artigo 51 teve a sua primeira alteração com a lei número 9.268 no ano 
de 1996, quando, até então, a pena de multa era executada pelo Ministério Público, perante a Vara de Execução 
Penal e previa a possibilidade de conversão da multa (aplicada em dias-multa) em pena privativa de liberdade, 
nos casos de condenados solventes que deixavam de pagá-la ou que frustravam a execução. Naquela 
oportunidade, era também falado em uma mudança necessária para facilitar a cobrança da multa criminal e para 
afastar obstáculos que conduziam a prescrição da sanção. Houve quem defendeu que a modificação era uma 
adequação a Constituição Federal, somente no sentido de não converter divida de valor em prisão. Vencido este 
tempo, com o pacote anticrime, mantêm-se, todavia, as normas da legislação relativas à dívida ativa da Fazenda 
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição, mas deve ser observado 
que o juízo de execuções penais será competente e deverá trabalhar cada execução em autos próprios6, não 
somente com a finalidade de delimitar a matéria, mas garantindo que desdobramentos atinentes a execução da 
pena não influenciem na execução da multa, e vice-versa. Não precisa ser frisado, mas cabe o registro, a alteração 
do Pacote Anticrime não autoriza converter pena de multa inadimplida em pena de prisão. 
Sobre a titularidade ativa da execução da multa, cabe destacar que o Supremo Tribunal Federal decidiu 
que cabe legitimamente ao Ministério Público requerer o pagamento de penas de multa resultantes de 
condenações penais, seja pelo interesse da Fazenda Pública, seja da sociedade: 
Execução penal. Constitucional. Ação direta de inconstitucionalidade. Pena de multa. 
Legitimidade prioritária do Ministério Público. Necessidade de interpretação conforme. 
Procedência parcial do pedido. 1. A Lei nº 9.268/1996, ao considerar a multa penal como dívida 
de valor, não retirou dela o caráter de sanção criminal, que lhe é inerente por força do art. 5º, 
XLVI, c, da Constituição Federal. 2. Como consequência, a legitimação prioritária para a execução 
da multa penal é do Ministério Público perante a Vara de Execuções Penais. 3. Por ser também 
dívida de valor em face do Poder Público, a multa pode ser subsidiariamente cobrada pela 
Fazenda Pública, na Vara de Execução Fiscal, se o Ministério Público não houver atuado em prazo 
razoável (90 dias). 4. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga parcialmente 
procedente para, conferindo interpretação conforme à Constituição ao art. 51 do Código Penal, 
explicitar que a expressão “aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da 
Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição”, 
não exclui a legitimação prioritária do Ministério Público para a cobrança da multa na Vara de 
ExecuçãoPenal. Fixação das seguintes teses: (i) O Ministério Público é o órgão legitimado para 
promover a execução da pena de multa, perante a Vara de Execução Criminal, observado o 
procedimento descrito pelos artigos 164 e seguintes da Lei de Execução Penal; (ii) Caso o titular 
da ação penal, devidamente intimado, não proponha a execução da multa no prazo de 90 
(noventa) dias, o Juiz da execução criminal dará ciência do feito ao órgão competente da Fazenda 
Pública (Federal ou Estadual, conforme o caso) para a respectiva cobrança na própria Vara de 
Execução Fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/1980. (ADI 3150, Relator(a): Min. MARCO 
 
6 O atual artigo 164 da Lei de Execução Penal já prevê que extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em 
julgado, que valerá como título executivo judicial, o Ministério Público requererá, em autos apartados, a citação do 
condenado para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à penhora. 
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AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 
13/12/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-170 DIVULG 05-08-2019 PUBLIC 06-08-2019). 
O Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e o 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM), a fim de contribuir com a atividade-
fim dos membros do Ministério Público na interpretação da Lei Anticrime (Lei nº 13.964/2019), emitiu o seguinte 
enunciado: 
ENUNCIADO 1 (ART. 51, CP): Cabe preferencialmente ao membro do Ministério Público 
com atribuição para execução penal ingressar com a ação para a execução da pena de 
multa perante o juízo das execuções penais, sob o rito da Lei 6.830/80. 
Por fim, tal pena consiste no pagamento de determinado valor em dinheiro em favor do Fundo 
Penitenciário Nacional, que foi instituído pela Lei Complementar nº 79/1994 para os fins de custear o sistema de 
cumprimento de pena no país7, inclusive dispondo sobre a transferência obrigatória de recursos do Fundo 
Penitenciário Nacional para os fundos dos Estados, Distrito Federal e Municípios. 
 
- Cumprimento da pena 
Antiga redação Nova redação 
Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas 
privativas de liberdade não pode ser superior a 30 
(trinta) anos. 
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas 
privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 
(trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender 
ao limite máximo deste artigo. 
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade 
não pode ser superior a 40 (quarenta) anos. 
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade 
cuja soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser 
unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. 
 
O tempo máximo de cumprimento de pena no Brasil foi acrescido de uma década, passando de 30 (trinta) 
anos para 40 (quarenta) anos, sob a principal justificativa de acompanhar à atual expectativa de vida dos 
brasileiros, muito superior àquela existente quando promulgado o Código Penal em 1940. 
A justificativa baseada em dados de expectativa de vida do brasileiro serve principalmente para justificar 
o seu caráter não perpétuo, sendo oportuno destacar que a Constituição Federal de 1988 proíbe expressamente a 
existência de penas perpétuas (art. 5.º, XLVII, b). 
No entanto, no viés prático, a Exposição de Motivos não trouxe números sobre quantos condenados 
deixaram a prisão em razão de atingirem o tempo máximo de prisão de 30 (trinta) anos e os consequentes 
impactos. De qualquer maneira, na sua função simbólica, o aumento para 40 (quarenta) anos poderia reforçar a 
pretensão repressiva da pena, pois é inegável que a vasta legislação penal, a unificação das penas, e o 
cometimento de concurso de crimes podem levar a uma nova gestão da pena, principalmente nas intenções de 
combate a corrupção. 
Por sua vez, a redação do parágrafo primeiro foi alterada para se adequar ao Caput do artigo, no tocante 
aos agentes que forem condenados a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a do período máximo 
de 40 (quarenta) anos, devendo as mesmas serem unificadas para atendê-lo. Desse modo, na hipótese de 
condenação a várias penas privativas de liberdade, como no caso de concurso material previsto no artigo 69, 
 
7 Art. 2º Constituirão recursos do FUNPEN: [...] V - multas decorrentes de sentenças penais condenatórias com trânsito em 
julgado; 
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caput do Código Penal, estas deverão ser somadas para efeito de conhecer o novo limite máximo, observando o 
disposto na Súmula 715 do STF: “a pena unificada para atender ao limite de 30 (trinta) anos de cumprimento, 
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para outros benefícios, como o livramento 
condicional ou regime mais favorável de execução”. Em outras palavras, o limite de 40 anos previsto pelo Pacote 
Anticrime não pode igualar uma pessoa condenada a 40 anos de prisão a outra que foi condenada a 226 anos de 
prisão, razão pela qual, apenas se reporta ao tempo máximo de efetivo cumprimento da pena, não podendo 
servir de cotejo para a aferição de requisitos temporais necessários à obtenção de outros benefícios legais8. 
 
- Requisitos do Livramento condicional 
Antiga redação Nova redação 
Art. 83 – [...] 
 III - comprovado comportamento satisfatório durante 
a execução da pena, bom desempenho no trabalho que 
lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria 
subsistência mediante trabalho honesto; 
[...] 
Art. 83. [...] 
III - comprovado: 
a) bom comportamento durante a execução da pena; 
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; 
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e 
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho 
honesto; 
 
O chamado livramento condicional, conforme o próprio nome sugere, é espécie de antecipação da 
liberdade daquele que se encontra em confinamento penal, o qual se dá mediante o cumprimento de 
determinados requisitos. Trata-se de um benefício concedido ao apenado que cumpra as exigências previstas na 
lei. 
Aparentemente, a alteração parece ser pela inclusão do requisito objetivo de “não cometimento de falta 
grave nos últimos 12 (doze) meses”, o qual a jurisprudência não incluía como causa impeditiva por falta de 
previsão legal9. É uma verdadeira novatio legis in pejus, que determina parâmetros objetivos diferenciados para 
concessão do benefício de liberdade condicional. O debate se dá sobre os presos que já estão computando o 
prazo para o pedido de liberdade condicional e o sistema constitucional (e do próprio Código Penal), que impede 
que se apliquem leis penais supervenientes mais gravosas. 
Sempre se defendeu que quanto mais objetivos forem os requisitos em matéria de ordem penal, melhor 
assistido estará o apenado no momento de requerer o seu direito. No entanto, a nova redação do pacote 
anticrime continuará sendo matéria sensível de trato, pois, em uma leitura mais atida, modificou-se o dispositivo 
do Código Penal para exigir, subjetivamente, o “bom comportamento”, e não apenas o “comportamento 
satisfatório”, conforme a antiga redação. Por satisfatório, a jurisprudência avaliava de forma global a situação do 
interno. 
A modificação pelo Pacote Anticrime atende a movimentos que ansiavam maior robustez a lei penal, 
suprindo a lacuna que recaia sobre a falta grave e, no mesmo folego, para adequar a Lei Penal com a redação da 
Lei de Execuções Penal. Isto, pois, o art. 112 da Lei de Execução Penal, antes da vigência do Pacote Anticrime, 
trazia na redação do seu caput, a exigência do bom comportamento para sua progressão, comotambém o fazia, 
 
8 Neste sentido: HC 98.450, rel. min. Gilmar Mendes, 2ª T, j. 14-6-2010, DJE 154 de 20-8-2010. 
9 STJ Súmula 441 - A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional. (Súmula 441, TERCEIRA 
SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 13/05/2010). 
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da mesma forma, no seu parágrafo segundo, para o livramento condicional, enquanto o Código Penal falava em 
comportamento satisfatório. 
 
- Efeitos da condenação 
Antiga redação Nova redação 
Sem previsão “Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei 
comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser 
decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens 
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do 
condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. 
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se 
por patrimônio do condenado todos os bens: 
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o 
benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos 
posteriormente; e 
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante 
contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. 
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da 
incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. 
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente 
pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, 
com indicação da diferença apurada. 
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da 
diferença apurada e especificar os bens cuja perda for decretada. 
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por 
organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em 
favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a 
ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das 
pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser 
utilizados para o cometimento de novos crimes.” 
 
Um dos maiores símbolos da luta contra a corrupção, e do Pacote Anticrime, a nova redação dado aos 
efeitos da condenação penal, forte na busca e no perdimento de bens em razão das atividades ilícitas. Trata o 
legislador dos efeitos indiretos (extrapenal) da condenação, ampliando o que já era existente, ao exemplo do 
disposto no artigo 91 do Código Penal, que prevê que são efeitos da condenação a perda do produto do crime ou 
de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso, assim 
como, a perda dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou 
detenção constitua fato ilícito. Outros exemplos de efeitos indiretos da pena são a reparação civil, perda de 
cargo/função pública/mandato eletivo, incapacidade para exercer o poder familiar, inabilitação para dirigir, entre 
outros. 
A redação do novo artigo 91–A tem por finalidade trazer um alargamento sobre a busca e perdimento de 
bens que integrem o patrimônio direto e indireto do condenado. Fica previsto que poderá ser decretada a perda, 
como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do 
condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. Da mesma forma, os instrumentos 
utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos, ainda 
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que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de 
ser utilizados para o cometimento de novos crimes. 
Esta nova mudança da Lei não tratada criminalização do enriquecimento sem causa, que fez parte dos 
debates do Projeto da Lei, que seria uma figura típica nova no âmbito penal. O artigo 91-A tem por escopo uma 
consequência para a condenação penal envolta em crimes com penas elevadas. Se, atualmente, o que a legislação 
previa era a possibilidade de perdimento dos bens adquiridos com recursos auferidos com o crime, ou seja, bens 
que decorrem diretamente com a prática criminosa, com a nova redação, fica autorizado o Estado declarar o 
perdimento de bens que vão além daqueles relacionados com o crime ou além daquele relacionado diretamente 
com a figura do criminoso, sendo a chamada perda alargada. 
Basta à condenação em infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão. 
Não se trata de condenação superior a seis anos de reclusão, mas que a lei preveja para o tipo penal (em 
abstrato) tal possibilidade. Se a infração tiver pena de dois anos a doze anos de Reclusão, como é o caso do 
peculato, ainda que o réu seja condenado a pena mínima (dois anos), já seria possível alargar a busca de bens e 
declarar o seu perdimento. A redação legal deste novo artigo do Código Penal não faz limites aos possíveis valores 
auferidos pela atividade criminosa em que foi condenado, tão pouco ingressa no patrimônio que tenha origem 
lícita, simplesmente condicionando o perdimento a todo o patrimônio que não tenha origem justificável. 
Observe que a Lei penal declara como ilícito o patrimônio adquirido sem que haja uma justificação lícita, 
sendo um passo forte em debates que não se restringem a seara penal. Para além, apresenta uma formula 
simples e sem maiores desdobramentos, o que em uma sociedade, que vive a margem de uma cultura fiscal-
contábil, trará grande repercussão e embates. 
O Ministério Público, ao ofertar a sua denúncia, deverá requerer expressamente a perda do produto ou 
do proveito do crime, inclusive por meio aritmético simples, realizado pela diferença entre o valor do patrimônio 
do condenado e aquele que seria compatível com o seu rendimento lícito. Neste casos, o pedido será instruído 
com indicação da diferença apurada. A importância de abertura de oportunidade para o contraditório faz com 
que o requerimento de perdimento de bens seja realizado junto com a denúncia. Somente assim o condenado 
poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. 
O Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e o 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM), a fim de contribuir com a atividade-
fim dos membros do Ministério Público na interpretação da Lei Anticrime (Lei nº 13.964/2019), emitiram o 
seguinte enunciado: 
ENUNCIADO 2 (ART. 91-A, caput e parágrafo 3º, do CP) Nos casos de confisco alargado 
(art. 91-A), para efeito de indicação do valor a ser perdido (parágrafo 3º), basta a 
apresentação de cálculo simplificado, baseado nos dados disponíveis no momento do 
oferecimento da denúncia, sem prejuízo do incremento do quantum decorrente de 
eventuais provas que venham a ser aviadas aos autos no curso da instrução processual. 
Não houve inversão do ônus probatório e ainda é dever do Ministério Público justificar, de forma 
fundamentada, o que foi considerado rendimento lícito do acusado para, somente então, apontar o que 
considerou proveito ilícito. Observe que no processo penal vige o principio da presunção de não culpabilidade, e o 
perdimento de bens está como consequência e efeito da condenação criminal. 
Vencido o contraditório processual e sobrevindo condenação penal com adesão do julgado ao 
perdimento de bens, é certo que haverá a inversão da presunção de licitude para uma certeza legal de origem 
ilícita em relação ao patrimônio, de modo a possibilitar o confisco sobre todo o patrimônio desproporcional às 
receitas do condenado. Frisa-se, não são as circunstâncias que irão autorizar a presunção de que determinado 
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bem tenha sido obtido em decorrência da prática de condutas ilícitas, mas elementos objetivos de receita líquida 
lícita versus patrimônio, não estando autorizada a inversão da carga probatória. 
Para efeito da perda prevista neste novo artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens 
de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da 
infração penal ou recebidos posteriormente. Também será considerado como seu o patrimônio transferido a 
terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. 
Em que pese a letra da lei fazer soar ser um tema de simples aritmética, na prática não será tão fácil assim 
e, para além, poderá trazer um problema ainda maior para o desenrolar do processo penal, como impugnações 
por terceiros e o próprio contraditório sobre a licitude dos bens. Observe, o processo penal terá que tratar, em 
uma visão superficial, do fato crime, do valor mínimo indenizatório e do perdimento de bens que não tenham 
origem lícita. Neste sentido, o melhor caminho seria uma espécie de incidente processual autônomo especial, 
julgado a parte, ainda que ao mesmo tempo que seja dada a sentença da ação penal. 
 
- causa impeditiva da prescrição 
Antiga redação Nova redação 
Art. 116 – [...] 
II - enquanto o agente cumpre pena no 
estrangeiro. 
(Sem previsão) 
 
Art. 116 [...] 
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; 
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos 
Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e 
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não 
persecução penal. 
 
A causa impeditiva é aquela que barra a prescrição de correr, suspendendo o seu computo de tempo, 
sendo medida para os processos que ainda não tiveram sentença transitada em julgado, mas que dependem de 
uma situação adversa ao seu trâmite normal para serem finalizados. Nestes casos, se não houvesse esta 
suspensão em razão da causa impeditiva, levaria a derrocada do processo em razão do tempo. 
São objetivas as causas que o legislador entende que prejudicam o decurso do prazo prescricional por 
impedirem o andamento do processo, e por isso passa a prever a suspensão do sua contagem. Houve o acréscimo 
de duas novas causas impeditivas e a alteração da redação de outra já existente. Sobre a mudança de redação, o 
inciso II falava do agente que cumpre pena no estrangeiro, o novo texto altera para “enquanto o agente cumpre 
pena no exterior”. 
O primeiro acrescimento diz ser uma causa de impedimento, da contagem do prazo prescricional, a 
pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis. O motivo 
alegado para a validade de suspender o prazo prescricional em razão de um fator previsto internamente para o 
próprio trâmite do processo se dá, em linhas gerais, para combater o uso destes expedientes como mecanismos 
para declarar a impunidade. 
Deve ser observado que um Recurso ou Embargos de Declaração podem não ser conhecidos em razão de 
serem inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão 
recorrida. A lei penal deve ser lida de forma restritiva, isto é, o simples não conhecimento do recurso não é causa 
de impedimento da prescrição, assim como não será causa de suspensão o recurso, ou embargos, ser julgado 
prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida. 
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16 
 
A lei foi expressa ao tratar dos casos que forem inadmissíveis. Para esclarecer, o Relator quando faz o 
juízo de admissibilidade e inadmissibilidade quando verifica os requisitos intrínsecos (cabimento, legitimidade, 
interesse em recorrer e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer) e requisitos extrínsecos 
(preparo, tempestividade e regularidade formal). 
Se diz que um recurso é prejudicado quando, tendo os requisitos de admissibilidade, sobrevém situação 
que prejudica o seu conhecimento, como ocorre na hipótese de falta superveniente de interesse recursal. 
O caso do recurso que não enfrenta os fundamentos empregados na decisão recorrida é, novamente, 
estar frente a um recurso que seria admissível, mas que por não atacar, de forma específica, a decisão contra a 
qual se insurge, deixará de ser conhecido. 
O problema, dogmático, é que a jurisprudência não é tão formal e técnica, e trabalham "recurso 
prejudicado" e "recurso que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida" como 
espécies de "recurso inadmissível". Porém, a redação do artigo 932 do Código de Processo Civil diferenciaria as 
espécies de não conhecimento do recurso (que seria então o gênero). 
O recurso prejudicado poderia ser falta superveniente de interesse recursal (falta de um requisito 
intrínseco); e o recurso que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida, teria 
defeito na regularidade formal (falta de um requisito extrínseco). Se assim o fosse, poderiam ser abarcadas pelo 
recurso inadmissível, mas o legislador optou por prevê-las de forma expressa e separada no Código de Processo 
Civil, e a alteração do Código Penal foi expressa sobre os casos de inadmissibilidade. Em resumo, se a intenção do 
legislador fosse abarcar todas as espécies, poderia ter optado pelo termo não conhecido. 
A causa de suspensão não ocorre nos casos em que os embargos de declaração ou o Recurso ao Tribunal 
superior é julgado improcedente, pois nestes casos os mesmos foram conhecidos (admissíveis). 
Para a contagem da suspensão do prazo prescricional, deverá ser considerada a data da interposição do 
embargos de declaração ou do recurso aos Tribunais Superiores até a publicação da decisão de inadmissibilidade, 
isto, pois, é entre estes dois períodos que estaria o processo pendente no judiciário de ter seu trâmite regular. 
No caso de embargos de declaração sobre a decisão de não recebimento de um recurso por ser 
considerado inadmissível, e vindo os embargos a serem também considerados improcedentes (ou no caso de 
novo recurso sobre a decisão de inadmissibilidade, e vindo este novo recurso a ser julgado improcedente), o 
prazo prescricional será suspenso desde a interposição do primeiro recurso até a data de publicação da última 
decisão que confirmou a inadmissibilidade (período total de pendência). No caso de haver, por qualquer motivo, 
reversão na decisão que declarou a inadmissibilidade (passando a admitir o recurso ou os embargos de 
declaração), certo é que não haverá impeditivo, ainda que sejam julgados improcedentes após conhecidos, e não 
será aplicada a suspensão do prazo prescricional. 
 
- Vetado – qualificadora do homicídio com arma de fogo 
Antiga redação Nova redação 
 Sem previsão Art. 121. […] 
§ 2º. […] 
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: 
 
Razões do veto: 
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17 
 
“A propositura legislativa, ao prever como qualificadora do crime de homicídio o 
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, sem qualquer ressalva, viola o 
princípio da proporcionalidade entre o tipo penal descrito e a pena cominada, além de 
gerar insegurança jurídica, notadamente aos agentes de segurança pública, tendo em 
vista que esses servidores poderão ser severamente processados ou condenados 
criminalmente por utilizarem suas armas, que são de uso restrito, no exercício de suas 
funções para defesa pessoal ou de terceiros ou, ainda, em situações extremas para a 
garantia da ordem pública, a exemplo de conflito armado contra facções criminosas.” 
- Vetado –triplo da pena crime no crime contra honra 
Antiga redação Nova redação 
 Sem previsão 
Art. 141. [...] 
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidadesdas redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em 
triplo a pena. 
 
Razões do veto: 
“A propositura legislativa, ao promover o incremento da pena no triplo quando o crime 
for cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial 
de computadores, viola o princípio da proporcionalidade entre o tipo penal descrito e a 
pena cominada, notadamente se considerarmos a existência da legislação atual que já 
tutela suficientemente os interesses protegidos pelo Projeto, ao permitir o agravamento 
da pena em um terço na hipótese de qualquer dos crimes contra a honra ser cometido 
por meio que facilite a sua divulgação. Ademais a substituição da lavratura de termo 
circunstanciado nesses crimes, em razão da pena máxima ser superior a dois anos, pela 
necessária abertura de inquérito policial, ensejaria, por conseguinte, superlotação das 
delegacias, e, com isso, redução do tempo e da força de trabalho para se dedicar ao 
combate de crimes graves, tais como homicídio e latrocínio.” 
 
- Causas de aumento de pena no crime de roubo 
Antiga redação Nova redação 
Art. 157. [...] 
 
§ 2º. [...] 
Sem previsão 
 
Art. 157. [...] 
§ 2º. [...] 
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma 
branca; 
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de 
arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena 
prevista no caput deste artigo. 
 
O Código Penal passou a prever duas novas causas de aumento de pena para o crime de roubo. O roubo 
diferencia-se do furto em razão do agente fazer uso de grave ameaça ou de violência à vítima, com o fim de 
subtrair coisa móvel, e as inovações legislativas se dão exatamente sobre os meios que o agente utiliza para fazer 
a grave ameaça ou violência. 
Com isso, a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade se a violência ou grave ameaça é exercida 
com emprego de arma branca, e para os casos da violência ou grave ameaça ser exercida com emprego de arma 
de fogo de uso restrito ou proibido, aplicar-se em dobro a pena prevista no caput do artigo (Pena - reclusão, de 
quatro a dez anos, e multa). 
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18 
 
A Lei 13.964/2019, que entrou em vigor, diferencia arma de fogo das chamadas armas brancas, e corrige a 
alteração dada pela Lei nº. 13.654 de 2018 que passou a prever causa de aumento de pena específica para o uso 
de arma de fogo, mas deixou de fora as situações envolvendo armas brancas10. A lei de 2018 revogou a redação 
que dava como causa de aumento de pena a violência ou ameaça que era exercida com emprego de arma, ao 
ponto que deixava a interpretação aberta, compreendendo que estas seriam qualquer espécie de arma, como um 
simples estilete11 ou uma arma de fogo12. De qualquer forma, o legislador volta a dar atenção sobre o uso de 
armas brancas e armas de fogo com o Pacote Anticrime, e o faz de forma acertada, pois são circunstâncias que 
devem ser balizadas na hora de fixação da pena. Sobre o conceito de arma branca, ele é vago e aberto, mas deve 
ser tratado por exclusão as denominadas armas de fogo. Assim, a doutrina tende a classificar as armas brancas 
como próprias e impróprias: 
ao tratarmos das denominadas armas brancas (por exclusão, as que não são de fogo), 
sejam próprias (destinadas ao ataque ou defesa, como punhais, lanças, espadas etc.), 
sejam impróprias (destinadas a outros fins, como machados, martelos, serrotes etc., mas 
usadas para ataque ou defesa, eventualmente) [...]13 
O Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e o 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM), a fim de contribuir com a atividade-
fim dos membros do Ministério Público na interpretação da Lei Anticrime (Lei nº 13.964/2019), emitiram o 
seguinte enunciado: 
ENUNCIADO 3 (ART. 157, parágrafo 2º, VII, CP): O conceito de arma branca, previsto no 
inciso VII do § 2º, do art. 157, engloba as armas próprias e impróprias. 
O próprio conceito de arma de fogo, seja de uso permitido, restrito ou proibido, depende de normas 
auxiliares para sua identificação, como é o caso dos Decretos nº. 9.845, 9.846 e 9.847 de 2019, da Presidência da 
República, somados a Portaria nº. 1.222 de agosto de 2019, do Comando do Exército Brasileiro. 
Somado com a nova redação do Pacote Anticrime, o Código Penal passa a prever as seguintes situação 
para o crime de roubou nos contextos acima expostos: 
i) aumento de pena de 1/3 até metade se a violência ou grave ameaça é exercida com 
emprego de arma branca; 
ii) aumento de 2/3 se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; 
iii) aplica-se o dobro da pena se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de 
arma de fogo de uso restrito ou proibido. 
 
- Modificações no crime de estelionato 
Antiga redação Nova redação 
Art. 171 [...] Art. 171 [...] 
 
10
 “Com o advento da Lei 13.654, de 23 de abril de 2018, que revogou o inciso I do artigo 157 do CP, o emprego de arma 
branca no crime de roubo deixou de ser considerado como majorante, a justificar o incremento da reprimenda na terceira 
fase do cálculo dosimétrico, sendo, porém, plenamente possível a sua valoração como circunstância judicial desabonadora, 
nos moldes do reconhecido no acórdão ora impugnado.” (HC 543.353/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, 
julgado em 03/12/2019, DJe 16/12/2019). 
11
 HC 127.661/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 14/05/2009, DJe 08/06/2009. 
12 HC 168.266/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 19/10/2011. 
13 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas – vol. 1. 12 ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019. 
p. virtual 134 (e-book). 
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19 
 
 
sem previsão 
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: 
I - a Administração Pública, direta ou indireta; 
II - criança ou adolescente; 
III - pessoa com deficiência mental; ou 
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. 
 
Com a nova Lei em vigor, o crime de estelionato será, como regra, de ação penal pública condicionada à 
representação da vítima, isto é, dependerá do interesse e da manifestação de vontade de quem sofreu o crime 
para que seja dado início a persecução penal em desfavor do agente ofensor. A previsão é salutar, pois retira a 
obrigatoriedade de ser instaurada uma investigação criminal por simples noticia que chegue até a autoridade 
policial. Para além, sequer o registro de ocorrência pela vítima autorizará a investigação policial, pois deve ser 
expressa a intenção de representação para todos os fins penais (art. 39 do Código de Processo Penal). 
Na antiga sistemática, a ação penal em relação ao crime de estelionato tinha como regra ser pública 
incondicionada, tendo por exceção a previsão contida nas disposições gerais tratadas no art. 182 do Código Penal 
para os Crimes Contra o Patrimônio. Naquela sistemática, o estelionato seria de ação penal pública condicionada 
a representação nos casos em que o sujeito passivo fosse: a) o cônjuge desquitado ou judicialmente separado; b) 
o irmão, legítimo ou ilegítimo; e, c) o tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Com a modificação dada pelo 
Pacote Anticrime, inverteu-se a toda esta lógica, passando o legislador a prever quatro causas específicas de 
exceção à necessidade de representação, isto é, quando o inquérito policial e a ação penal serão incondicionados 
e independentes da vontade da vítima. Sendo, estes casos, quando o crime for contra: I - a Administração Pública, 
direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) 
anos de idade ou incapaz. 
A representaçãopossui prazo decadencial próprio e não pode ser livremente gerenciada pela vítima. Em 
palavras objetivas, o ofendido, ou seu representante legal, terão o prazo de seis meses para exercer o seu direito 
de representação (o Pacote Anticrime não trouxe prazos diversos), contado do dia em que vier a saber quem é o 
autor do crime (art. 38 Código de Processo Penal), e não poderão se retratar depois de oferecida a denúncia (art. 
25 Código de Processo Penal) . 
Por ser uma situação jurídica que pode beneficiar o ofensor, nos casos anteriores a Lei e que não houve 
representação penal, mas existe investigação penal ou processo penal, surge a questão que deverá ser encarada 
como novatio legis in mellius. Eis um problema jurídico de uma lei com tamanha repercussão e envergadura 
entrar em vigor em prazo tão exíguo, e não existir regras de transição, cabendo ao judiciário enfrentar a afetação 
do direito de retroatividade de lei penal mais benéfica. 
 Os crime de estelionato que tiveram data base antes da vigência da nova disposição penal, como devem 
ser tratados? Em uma visão superficial e rápida, os que não tiveram portaria de abertura de investigação penal 
pela autoridade policial ou denúncia penal por estelionato sido ofertada pelo Ministério Público, devem ficar na 
pendência de manifestação expressa da vítima, pois o inquérito policial, nos crimes em que a ação pública 
depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado, da mesma forma não poderá haver ação penal 
quando a lei exige a representação do ofendido. Mas e quando já houver investigação em curso ou denúncia 
penal pelo Ministério Público? Em miúdos, recaí sobre a matéria temas como irretroatividade da lei penal, salvo 
para beneficiar o réu (art. 2.º, parágrafo único do Código Penal e art. 5.º, XL da Constituição Federal) e o da 
aplicabilidade imediata da lei processual (art. 2.º do Código de Processo Penal). 
A representação é uma norma que cuida da ação penal, sendo, em regra, norma processual. Assim, a lei 
entra em vigor no momento de sua publicação e não retroage (tempus regit actum). Por ter que respeitar os atos 
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já praticados, inquéritos policiais em andamento e ações penais já iniciadas, poderiam ter seus procedimentos 
tidos como válidos e seguirem como incondicionados, independentemente de representação da vítima. Isto, pois, 
mesmo que pudesse ter incidência de direito material, a extinção da punibilidade pela falta de representação 
seria de caráter processual, não tendo aplicabilidade para a validade de relação processual já instaurada. No 
entanto, não se pode ignorar que a modificação no texto, trazendo nova causa de extinção de punibilidade, 
deverá ser tratado como fato novo benéfico para o autor do crime de estelionato, afetando o direito a liberdade. 
Assim, a lei retroagiria para fatos anteriores a sua vigência, reconhecendo a sua incidência de forma imediata. 
Para os inquéritos e ações penais em andamento, surge a questão de viabilidade de ser aberto prazo para 
que a vítima, ou seus representantes, possam expor sua vontade, no mesmo prazo de seis meses. O Superior 
Tribunal de Justiça, no voto do Relator Ministro Gilson Dipp, registrou no Recurso Especial nº 1.227.746 – RS que 
tratava sobre a (então) nova redação do art. 225 do Código Penal, dada pela lei 12.015/2009, que se versava de 
lei penal mais benéfica, ao transformar a ação penal pública incondicionada em ação penal pública condicionada 
à representação, dizendo que nestes casos as ações penais deveriam ser suspensas para que as vítimas 
manifestassem desejo de representar contra o réu14. 
O Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e o 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM), a fim de contribuir com a atividade-
fim dos membros do Ministério Público na interpretação da Lei Anticrime (Lei nº 13.964/2019), emitiu o seguinte 
enunciado: 
ENUNCIADO 4 (ART. 171, parágrafo 5º, do CP – ART. 91 da Lei 9.099 c/c art. 3º do CPP): 
Nas investigações e processos em curso, o ofendido ou seu representante legal será 
intimado para oferecer representação no prazo de 30 dias, sob pena de decadência. 
O debate se dá sobre a ausência de representação no prazo decadencial aos fatos anteriores a nova lei 
sem sentença penal. 
 
- Aumento de pena: crime Concussão 
Antiga redação Nova redação 
Art. 316. [...]. 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
Art. 316. [...]. 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
 
O crime de concussão é grave, principalmente em razão da posição mantida pelo funcionário público 
frente a vítima que, a depender do caso, dobra-se a exigência para evitar prejuízos pessoais. Ocorre que a 
concussão se dá quando o agente, funcionário público, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas 
sempre em razão desta função, exige, direta ou indiretamente, vantagem indevida. O crime de concussão é, sem 
dúvidas um ato de corrupção no seu sentido lato, mas diferencia-se da corrupção passiva prevista no Código 
Penal (art. 317). Os dois tipos penais (concussão e corrupção passiva), preveem vários elementos idênticos, como 
a finalidade especial (para si ou para outrem), a forma (direta ou indiretamente), o tempo (ainda que fora da 
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela) e o objeto (vantagem indevida). Contudo, diferenciam-se no 
seu núcleo, pois a concussão prevê o verbo “exigir”, enquanto a corrupção passiva utiliza os verbos “solicitar ou 
receber […] ou aceitar”. 
 
14 REsp 1227746/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 02/08/2011, DJe 17/08/2011. 
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Com a modificação dada pelo Pacote Anticrime, houve expressiva elevação da pena, ainda que tenha 
mantido a pena mínima em dois anos, pois a nova lei 13.964/2019 trouxe o aumento na sua previsão de pena 
máxima, passando de oito anos para doze anos de reclusão. 
 
Art. 3º O Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar com as 
seguintes alterações: (CÓDIGO PROCESSO PENAL). 
 
- Sistema acusatório 
Antiga redação Nova redação 
Sem previsão Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a 
iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação 
probatória do órgão de acusação. 
 
Advertência: 
O artigo terceiro do Código de Processo Penal faz parte do Livro I, que trata “Do Processo em Geral”, 
estando sob a rubrica do Título I, na qual se preveem as “Disposições Preliminares”. É importante que se faça um 
destaque sobre a impropriedade científica da terminologia empregada no “Livro I”, quando fala de processo penal 
em geral, pois aloca sob o mesmo uma fase pré-processual15, ou seja, estas disposições preliminares tem um 
alcance amplo a tudo que interfira no processo penal, seja antes ou depois de uma denúncia. Dito assim, as 
alterações da Lei 13.964/2019, referente ao acréscimo dos artigos 3º-A até o 3º-F, com seus incisos e parágrafos, 
que são referentes a estrutura acusatória e ao chamado juiz de garantias, se aplicam ao instituto “processo 
penal”, isto é, em sua forma mais ampla, seja a mesma pré-processual, seja ela processual. 
Nesta esteira, o artigo 3º -A não trata do juiz de garantias particularmente, ainda que deva ser observada 
a sua previsão legal por este magistrado. Isto, pois, a temática do referido artigo é de algo muito mais amplo, que 
deve ser aplicado ao processo penal em geral, sendo errada a colocação geográfica deste artigo sob o tema (ou 
nome jurídico) de juiz de garantias, pois que deve ser observado por todo e qualquer juiz, em toda e qualquer fase 
do processo penal (enquanto instituto). 
Dito isso, a decisão do SupremoTribunal Federal sobre a suspensão do art. 3º-A deveria ser tida como 
imotivada, pois que se utiliza dos fundamentos que se aplicam ao juiz de garantias16 previsto nos artigos 
subsequentes (3º - B ao 3º - F). Em por menores, esta previsão (art. 3º – A) não consiste em normas de 
organização judiciária, mas de norma processual pura, ainda que afete aqueles que participam do judiciário. Ora, 
afirmar que o sistema processual é acusatório não influi em reestruturação de unidades judiciárias ou 
redistribuição de recursos materiais e humanos. No máximo, trata de (re)educação do material humano do 
judiciário. Ainda, com outra visão, se manifesta PACELLI17: 
 
15
 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de Processo Penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial. 6 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2014, p. 29. 
16
 “[...] ao instituírem a função do juiz de garantias, os artigos 3º-A ao 3º-F teriam apenas acrescentado ao microssistema 
processual penal mera regra [...]preponderantemente em normas de organização judiciária [...]” Voto do Ministro Luiz Fux na 
Medida Cautelar que suspendeu a vigência do art. 3º - A, enquanto Relator das ADIs 6.298,6.300 e 6.305 junto ao Supremo 
Tribunal Federal. 
17 Pacelli, Eugênio. Curso de Processo Penal. 24. ed. – São Paulo: Atlas, 2020. 
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A decisão liminar, na verdade, se funda em critérios supostamente econômicos que 
estariam envolvidos na sua instituição. Fosse esse mesmo o caso, bastaria limitar os 
efeitos dos novos dispositivos às comarcas em que já há, em atuação regular, dois ou 
mais juízes criminais. Por que a decisão não chegou até aí, se podia ir além, sem 
qualquer acréscimo de despesa orçamentária? 
Por fim, ainda que redação dada pela Lei não seja a melhor possível, não se pode concordar que a 
aplicação do artigo 3º-A seja exclusivamente da fase investigativa e para conhecimento exclusivo do juiz de 
garantias, tratando-se de colocação retórica de quem pretende fazer uso do sistema inquisitivo. 
Um sistema acusatório para além da gestão das provas 
A doutrina se debruça para estudar os sistemas processuais por seus mais diversos aspectos. Por 
exemplo, da Alemanha nazista, se estuda o sistema jurídico que lhe era próprio, que consistia em um sistema 
judicial de partido para o qual, o intérprete do direito, deveria atuar decidindo exatamente do modo como 
supostamente o Führer (Hitler) decidiria os casos concretos: 
[...] tem-se a impressão que a atuação desse tribunal era randômica, multifacetária, e que 
sua ira punitiva voltava-se contra todos os delitos perseguidos, não importando o 
potencial ofensivo e o resultado prático. Era um tribunal espalhafatoso, com grande 
acompanhamento midiático; a frequente revelação de suas ações e intransigências 
exerciam papel pedagógico, na visão dos líderes nazistas, que utilizavam as sentenças do 
tribunal como ferramentas de intimidação18. 
No entanto, doutrinariamente, busca-se nomear e identificar dois modelos de sistemas, que 
representariam a forma que o Estado-juiz se posiciona frente às exigências do Direito Penal e da sociedade de sua 
época, variando entre o modelo inquisitivo e o acusatório, conforme o utilitarismo judicial de encontrar as 
respostas com base no respeito às liberdades individuais ou por meio da repressão e autoritarismo19. O sistema 
processual, em sua prática, pode ser tido como o núcleo motriz que move aquele que julga, determinando o 
movimento das engrenagens sobre o modelo judicial penal a ser adotado pelo magistrado nas causas que lhe são 
postas. Se o direito é a forma por excelência da vida social, o direito processual é a forma desta forma, e se 
presta, com grande precisão, para avaliar a índole de outras realidades mais profundas na vida jurídica20. 
O juiz não é um ser divino, no entanto, os ritos do judiciário o elevam a semelhança das funções sacerdotais, 
ainda mais quando é nutrido o processo penal com um discurso sobre a outorga legal de poderes ao magistrado 
para a busca de uma verdade e, é neste discurso, sobre a busca de uma verdade e os poderes conferidos ao juiz, 
que se encontra o divisor de águas entre os sistemas processuais21. Cabe destacar que o sistema inquisitivo nasce, 
exatamente, da insatisfação do julgador com a atuação da acusação22, transvestindo, pejorativamente, o termo ex 
officio naquilo que lhe representaria de forma anômala, pois não é função (ofício) do juiz demandar, mas sim 
julgar (sentenciar)23. Em verdade, “o juiz brasileiro se acostumou a tomar para si o dever de persecução 
 
18 GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Processo Penal, Estado de Exceção e o Volksgerichthof: O Tribunal do Povo na 
Alemanha Nazista. Revista Brasileira de Ciências Criminais (RBCCRIM): CRIME E SOCIEDADE. Vol.. 127, Jan. 2017. 
19
 DEVOS, Bryan Alves; VERAS NETO, Francisco Quintanilha. Trajetória e mutações do utilitarismo jurídico-penal: um ensaio de 
história das ideias. Rev. direito GV, São Paulo , v. 15, n. 2, e1922, 2019 . 
20
 MONCADA, Cabral de. O processo perante a Filosofia do direito. Boletim da Faculdade de Direito (suplemento XV). 
Homenagem ao Doutor José Alberto dos Reis. Vol. I. Universidade de Coimbra, Portugal, 1961. 
21
 THUMS, Gilberto. O mito sobre a verdade e os sistemas processuais. Revista Ibero-Americana de Ciências Penais. Porto 
Alegre, n.º 8, 2003. 
22 LOPES JR, Aury. Fundamentos do processo penal. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 139. 
23 HAMILTON, Sergio Demoro. A Ortodoxia do sistema acusatório no processo penal brasileiro: uma falácia. Revista da 
Faculdade de Direito de Campos, Ano 11, N° 2 e Ano 111, N° 3 - 2001-2002 (pgs. 247 a 273). 
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23 
 
penal, cuidando da investigação e, sobretudo, do processo, como verdadeiro presidente da construção da verdade 
processual24”. 
A principal maneira de diferenciar sistema acusatório do sistema inquisitório, com certa unanimidade, se 
dá sobre uma característica que recai na gestão da prova por aquele que julga. Mas isso é uma caricatura para um 
mundo de “dicas” e “quadros explicativos”. Não se pode despejar toda a magnitude de um sistema “somente” na 
gestão das provas, ainda que aqui esteja sua forma extrínseca e mais audível. Isto é, estrutura inquisitória não 
está somente na liberdade de gerir a prova pelo julgador, ainda que seja na gestão da prova que a mesma tenha 
grande entonação, por tornar o processo um descompasso entre qual seria a função das partes e qual seria a 
função de quem julga. Para ilustrar, a complexidade do enraizamento de um sistema, se dá quando in dubio pro 
societati se torna princípio processual penal para aceitar como justas as acusações frágeis, que mitigam ao 
processo a função de servir como instrumento de investigação, ignorando a função da formação da causa antes 
do processo penal. Tal situação somente tem lugar na (inexistente) outorga legal da busca de uma verdade 
(inalcançável), e não de julgamento de verossimilhança entre fatos e provas postas. Neste caso, a maneira de se 
posicionar do juiz é inquisitiva, pois se permite ver mais do que o acusador lhe apresentou quando da denúncia. 
Em pormenores, a Lei 13.964 de 2019 reconhece que o processo penal terá estrutura acusatória, 
englobando toda a sua forma (intrínseca e extrínseca) que, entre outras coisas, veda a iniciativa do juiz na fase de 
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. Nenhum sistema é infalível, e nenhum 
sistema (inquisitivo ou acusatório) trará segurança pública. Na verdade, reconhecer o sistema acusatório não é 
declarar impunidade, mas punição (ou absolvição) dentro de regras. Por isso, o sistema acusatório tende a ser 
justo na equiparação da relação entre as partes, delimita a função

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