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Centro Universitário da Amazônia Curso: Bacharelado em Direito Aula 04: Ética Disciplina: Filosofia do Direito Professora Dra. Nazaré Rebelo E-mail: professoranazarerebelo@gmail.com • O corpo de tal modo nos inunda de amores, paixões, temores, imaginações de toda sorte, enfim, uma infinidade de bagatelas que, por seu intermédio, não recebemos nenhum pensamento sensato, não, nem uma vez sequer! (Platão 426-348 a.C.) Ética nos pré-socráticos • A literatura homérica deixou uma herança cultural considerável. • Sobre ética, encontramos nos poemas de Homero o desenvolvimento de um modelo que tem por finalidade a procura do ideal heroico de afirmação de si. • Aquiles ouve as recomendações do seu pai que lhe diz para "ser sempre o primeiro, o melhor e superior aos outros". • A possessão da virtude é a medida das façanhas cumpridas. • Esse ideal de afirmação de si que faz procurar o desafio e a competição é associado a uma ética da vergonha ou da honra. • Aquiles é um dos mais famosos heróis gregos. Filho de Tétis (deusa grega do mar) e Peleu (rei dos mirmidões), teve seu principal momento no cerco à cidade de Tróia. • Participou junto com outros heróis e príncipes da Grécia de várias batalhas. • Tornou-se famoso por sua bravura e força. • Conta a mitologia grega que a mãe mergulhou Aquiles, recém- nascido, nas águas do Estige (rio que dava sete voltas no inferno). Este fato tornou o filho invulnerável, salvo pelo calcanhar que não foi banhado, pois a mãe o segurava por esta parte do corpo. • Para vingar a morte de Pátroclo, seu amigo, que sucumbira às mãos de Heitor, matou este último, mas foi mortalmente ferido no calcanhar por uma flecha envenenada arremessada por Paris. • Este fato ocorreu durante a Guerra de Tróia, que foi retrata na Ilíada de Homero. • Em geral, podemos dizer que as grandes obras literárias gregas que tratam das reflexões éticas são anteriores ou contemporâneas a Sócrates. • Porém, a essência da filosofia ética, como reflexão sobre a conduta humana, lhe é posterior. Os sofistas • Os sofistas foram os grandes artífices da construção da prática democrática ateniense. • Os cidadãos da polis ateniense não eram em número quantitativamente elevado, já que excluídos de tal condição estavam as mulheres, as crianças, os velhos, os escravos, os estrangeiros. • Proprietários e homens livres que reuniam a condição de cidadania agiam em deliberação coletiva e direta para resolver os problemas e questões pertinentes à polis. Sofistas • O desenvolvimento da democracia em Atenas e a prática das discussões públicas sobre assuntos de interesse dos cidadãos, levaram ao surgimentos dos Filósofos Sofistas. • Negam a possibilidade de um conhecimento verdadeiro e enfatizam o uso da retórica e das técnicas de persuasão: • a verdade de um discurso estaria na sua adequação a um fim desejado. Protágoras de Abdera Isócrates HípiasGórgias http://1.bp.blogspot.com/_22CS1x-Dqxc/SiWIbNId_6I/AAAAAAAAAp0/O5rmU26_Lb8/s1600-h/protagoras2.jpg http://4.bp.blogspot.com/_22CS1x-Dqxc/SiWIazH1m8I/AAAAAAAAAps/w5fYi1SwbYY/s1600-h/isocrates.jpg Os sofistas • Em Atenas os cidadãos discutiam diretamente, em praça pública, e seu interesse somente se fazia garantido por meio de sua própria expressão verbal. Os sofistas Eram mestres da retórica, ensinando a boa construção dos argumentos aos cidadãos. Não tinham um apreço intrínseco a tal ou qual ideia, mas, antes, ensinavam a expor bem qualquer ideia. Seus préstimos eram fundamentais ao cidadão ateniense. A boa retórica era o instrumento necessário para a melhor persuasão dos concidadãos. Ensinando a argumentar, os sofistas formavam a elite política ateniense. Sócrates e os sofistas Sócrates se recusa a considerar os sofistas filósofos, justamente pelo desamor destes aos conceitos e ideias, na medida em que possibilitavam a venda das próprias ideias. Tal moralidade socrática, que considera a filosofia como o amor ao saber, e, portanto, orienta a busca filosófica em direção dos conceitos estáveis, desprovidos das ambiguidades e dos floreios das argumentações, foi sempre muito apreciada pela filosofia medieval e moderna, o que fez de Sócrates o paladino da filosofia em contraposição aos sofistas, vendilhões da verdade. Os sofistas Creditavam à verdade, à moralidade, à religião, à justiça e os conceitos políticos e sociais ao consenso, a uma convenção entre os homens. Era da persuasão (retórica) que se formava a verdade. Ela não estava inscrita na natureza, na medida em que até os juízos sobre a natureza são humanos. Os sofistas encaminharam a filosofia a uma apreciação direta das questões sociais e políticas enquanto questões humanas, culturais, construídas de modo aberto e não dogmático. Sócrates Para Pensar • Vivemos numa sociedade que estimula a busca por prazeres e a afirmação das individualidades. Porém, será que a realização pessoal é suficiente para uma vida feliz? Por exemplo, é possível ter prazer saboreando um lanche se, ao lado, vemos uma pessoa faminta? Em outras palavras: é possível ser indiferente à situação do outro e conviver passivamente com as injustiças? Quem foi Sócrates? Sócrates foi um ateniense que viveu no século V a.C., período conhecido como a “Idade de Ouro” de Atenas. Não deixou nenhum escrito; o que sabemos de suas ideias deve-se a citações, sobretudo daqueles que o conheceram, como seu discípulo Platão (428-347 a.C.). • Desapegado de bens materiais, tinha o hábito de caminhar pela cidade propondo diálogos aos cidadãos. • Esses diálogos giravam em torno de assuntos aparentemente triviais, mas, a partir deles e por meio de hábeis perguntas, Sócrates acabava por abordar questões complexas, que costumavam deixar seus interlocutores perplexos. Sócrates – 469-399 a.C. O elemento mais surpreendente do pensamento socrático é a sua convicção em afirmar que a racionalidade, ou o saber, é um meio de progredir até a virtude. O saber é a raiz de toda ação ética e a ignorância a fonte de todos os erros. A "vida ética" que persegue a eudaimonia (felicidade, prosperidade). Os gregos, em geral, não conceberam vida ética sem ter a felicidade por recompensa. • Para Sócrates, o bem maior é apenas um, o conhecimento, mas Platão também menciona a ordem, a medida e o limite. • Segundo Sócrates, há uma ligação direta entre aretê (virtude) e eudaimonia (felicidade, prosperidade). ; • A virtude é condição necessária e suficiente para a felicidade. • O ser humano virtuoso será sempre feliz. • A partir de Sócrates, e graças a ele, a ética grega passa a ser centrada no agente (antropocêntrica). • O desenvolvimento ético do indivíduo resulta na formação e na perfeição de seu caráter ético. • Ultrapassa o modelo homérico de ética dos heróis. Sócrates Opunha-se frontalmente tanto ao estilo de pensamento dos sofistas – na medida em que não vendia argumentos – quanto também ao horizonte filosófico por eles proposto. A verdade e o justo não se reduzem ao nível das convenções, como afirmavam os Sofistas. Não são mera estipulação variável, de acordo com as opiniões ou com a maioria. Também a mera apreciação do justo como uma physis calcada nas tradições, sem melhor investigação filosófica, era rejeitada por Sócrates. Sócrates • Era preciso buscar o fundamento das ideias e dos conceitos. • A atividade primeira do filósofo é a indagação sobre o que é, no sentido do esclarecimento e da iluminação em direção do verdadeiro. • Ao contrário do sofista, que afasta a verdade porque a considera uma convenção, e, portanto, trabalha com as verdades, Sócrates busca a verdade. • O que configura o pensar socrático é justamente esse processo de busca. • Não é Sócrates um professor que dá respostas aos seus alunos. • Antes, é um perquiridor, que se indaga, reflete, pondera, faz volteios pelos caminhos da verdade. Sócrates • Adota comodivisa fundamental de sua filosofia a célebre frase “só sei que nada sei”, o que dá demonstrações de que seu pensamento não se constrói consolidando verdades estabelecidas, mas, antes, procurando-as, numa espécie de negatividade da razão, que vem a demolir as certezas socialmente assentadas. • O processo de procura torna-se fundamental. • Mais importante que a própria conclusão sobre a verdade, é o método utilizado em todo esse processo. Sócrates Seu método de indagação é justamente a busca por extrair, no seio da multidão das opiniões e concepções divergentes, a essência da ideia e da verdade. As contradições das pessoas com as quais Sócrates dialoga dá mostras da importância não do floreio entre argumentos – porque a vitória de um sofista em um argumento nunca é a vitória da verdade, mas do mais forte retoricamente – e, sim, do processo de desbastar as falsas impressões para que se possa surgir, do fundo das múltiplas opiniões, o uno da ideia e da verdade. Sócrates • “Conhece-te a ti mesmo” • Dissipa os preconceitos, as visões deturpadas e ligeiras, o ser humano há de chegar à verdade. • Essa espécie de iluminação da alma é a pedagogia socrática e é também o sentido de sua filosofia enquanto prática de demonstração da ignorância de cada qual e de sua necessidade de reflexão mais profunda e menos convencional. Sócrates É justamente no entorno da busca pela verdade, entendida por Sócrates não como convenção, mas como objeto específico e passível de ser definido dialeticamente, que se situa sua reflexão sobre o direito. É, ao mesmo tempo, aquele que rompe com a visão mitológico-religiosa e com a visão sofista sobre o justo. Método socrático • No diálogo de Platão, Sócrates define a função do filósofo como sendo semelhante à de uma parteira: seu objetivo seria dar à luz a ideias. • Chama-se MAIÊUTICA o método socrático de obtenção da verdade segundo o qual cada pessoa seria capaz de atingi-la, cabendo ao filósofo apenas facilitar esse encontro, por meio de perguntas. Sócrates acreditava que o primeiro passo para se chegar a essa verdade era o reconhecimento da própria ignorância (“só sei que nada sei”). Método de Sócrates • Nas conversas ele abusava da ironia como forma de abalar crenças constituídas e expor a fragilidade das argumentações. • É importante frisar que há um princípio ético na base do pensamento socrático. • Uma vez que o ser humano é racional, ele teria a capacidade de conhecer a verdade, que não se encontra somente nele, mas também na natureza. Método de Sócrates • Sócrates dizia ouvir uma voz divina que o levava a fazer o que era certo e, para isso era necessário o conhecimento, ou seja, a conexão com a verdade expressa pela natureza – um pré- requisito para fazer o bem. • Com o conhecimento, o ser humano ganha a autonomia, isto é, a capacidade de determinar sua própria conduta e suas próprias regras. Método de Sócrates • Por isso Sócrates dava tanta importância à consciência ética: ao determinar sua conduta, o homem deveria, necessariamente, considerar sua relação com a verdade. • A mais importante contribuição de Sócrates para a filosofia foi a identificação do ser humano com sua psyche, ou “alma”, caracterizada ao mesmo tempo como centro da racionalidade, da personalidade e da consciência ética. Sócrates e o Direito Pela primeira visão, tradicional, o Direito exprimia um mundo intermediado pela religião. Sócrates se insurge contra tal perspectiva, na medida em que sua pergunta não se orienta sobre o revelado, mas sobre o conhecido. Sua inquirição é racional. O justo e o jurídico não são objeto das velhas tradições. Inclusive, ao quebrar em seus adversários de diálogo suas antigas convicções, nada mais faz Sócrates do que abalar os velhos entendimentos sobre o direito. Sócrates e o Direito Sua busca é a de extrair o conceito do justo por meio da razão. Apologia de Sócrates Levado ao tribunal, antes do julgamento, Sócrates se defende e inclusive dialoga diretamente com seu acusador, Meleto. Sócrates não busca se valer de subterfúgios para escapar à condenação. Antes, busca esclarecer, por meio do diálogo, as acusações que lhe são imputadas, de corromper os jovens com novas ideias e de trazer novos deuses ao culto dos atenienses. Sua argumentação vai ao fundamento do que se acusa e sobre sua relação com os juízes e as leis de Atenas Apologia de Sócrates • Acreditas que um Estado pode subsistir quando as sentenças legais nele não têm força e, o que é mais grave, quando os indivíduos as desprezam e destroem? Apologia de Sócrates Sócrates não se submete às leis por reconhecer seu acerto. Tampouco considera a sua sentença justa. Sua proposta, ao não fugir da execução, não se encaminha pela justeza do direito positivo. Sua visão é muito mais moral e filosófica: acima do direito positivo há um justo, que pode ser compreendido pela razão, e aceitar o justo é um dever. Apologia de Sócrates O fato de Sócrates não ter fugido não quer representar uma admiração aos mecanismos de aplicação imediata das normas jurídicas. Pelo contrário, Sócrates declara a injustiça da pena que contra ele se impõe. Contra a ausência de rigidez moral e de alcance da verdade dos cidadãos atenienses é que ele se opõe, e sua submissão à sentença é, na verdade, uma ação política de abalo e incômodo. A morte de Sócrates, Jacques Louis David, 1787 • A pintura, produzida mais de 2000 anos após a morte do filósofo grego, retrata a dor e o desespero de seus amigos diante da arbitrariedade de sua condenação. • Mas a injustiça cometida contra Sócrates não os deixou indiferentes; pelo contrário, pode-se dizer que fortaleceu os ideais defendidos pelo filósofo e estimulou a atividade de novos pensadores, dentre eles Platão, cujo pensamento está na base da cultura ocidental.
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