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INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS DE RIO VERDE – GO CURSO DE GESTÃO AMBIENTAL E TECNÓLOGO EM SANEAMENTO TRATAMENTO DE EFLUENTES Bruno Botelho Saleh CREA-GO 14.308/D M.Sc. Tratamento de Efluentes. UFLA 2004 Esp. Auditoria, Perícia e Gestão Ambiental. FOC 2009 Inspetor-Chefe do CREA-GO da Inspetoria de Rio Verde-GO 2 INDICE TRATAMENTO DE EFLUENTES 1 – IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DE EFLUENTES......... ................ 04 2 – CARACTERIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUARIAS................................. 08 2.1 – CARACTERISTICAS FÍSICAS.......................................................................... 09 2.1.1 – MATÉRIA SÓLIDA ........................................................................................ 09 2.1.2 – TEMPERATURA............................................................................................ 10 2.1.3 – ODOR............................................................................................................ 10 2.1.4 – TURBIDEZ E COR......................................................................................... 11 2.2 – CARACTERISTICAS QUÍMICAS.......................................................... 11 2.2.1 – MATÉRIA ORGÂNICA .................................................................................. 12 2.2.2 – MATÉRIA INORGÂNICA .............................................................................. 13 2.3 – CARACTERISTICAS BIOLOGICAS ................................................................. 15 2.3.1 – IMPORTÂNCIA DOS MICRORGANISMOS .................................................... 16 2.3.2 – DECOMPOSIÇÃO DOS CARBOIDRATOS...................................................... 16 2.3.3 – DECOMPOSIÇÃO DAS PROTEÍNAS.............................................................. 17 2.3.4 – MICROBIOLOGIA DA DIGESTÃO ANAERÓBICA ......................................... 17 2.3.5 – VANTAGENS DE PROCESSOS ANAERÓBICOS............................................. 19 2.3.6 – EXEMPLOS DE MICRORGANISMOS............................................................. 20 3 – DEMANDA POR SISTEMAS DE TRATAMENTO LOCAL....... ............ 20 3.1 – SISTEMAS INDIVIDUAIS DE TRATAMENTO ................................................... 20 3.1.1 – PRIVADA DE FOSSA SECA............................................................................. 20 3.1.2 – PRIVADA COM FOSSA ESTANQUE................................................................ 22 3.1.3 – PRIVADA COM FOSSA DE FERMENTAÇÃO (TIPO CYNA MON) ..................... 22 3.1.4 – PRIVADA QUÍMICA ....................................................................................... 23 3.1.5 – PRIVADA COM VASO SANITÁRIO ................................................................ 24 3.2 – SISTEMAS COLETIVOS DE TRATAMENTO ..................................................... 25 3.2.1 – SISTEMA PÚBLICO CONVENCIONAL ........................................................... 26 3.2.1.1 – TECNOLOGIAS PARA TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS ............ 27 3.2.1.2 – DISPOSITIVOS DE TRATAMENTO.............................................................. 30 Robson Nota ESTUDAR ATÉ A PÁGINA 40 PARA 1ª PROVA. 3 3.2.1.2.1 – TRATAMENTO PRELIMINAR ................................................................... 30 3.2.1.2.2 – TRATAMENTO PRIMÁRIO ...................................................................... 31 3.2.1.2.3 – TRATAMENTO SECUNDÁRIO.................................................................. 33 3.2.1.2.4 – TRATAMENTO DE LODO GERADO (RESIDUO SOLIDO).......................... 39 3.2.1.2.5 – PROCESSOS DE DESIDRATAÇÃO LODO................................................. 42 3.2.2 – SISTEMA CONDOMINAL ............................................................................... 44 3.2.2.1 – PARTES DO SISTEMA................................................................................. 44 3.2.3 - OUTROS TIPOS DE TRATAMENTO................................................................ 45 3.2.3.1 – TANQUE SÉPTICO....................................................................................... 45 3.2.3.2 – FILTRO ANAEROBICO............................................................................... 48 3.2.3.4 – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO (ETE) PARA PEQUENAS LOCALIDADES ........................................................................................................ 53 3.2.3.5 – TANQUE IMHOFF E OMS........................................................................... 55 3.2.3.6 – SISTEMA FOSSA SÉPTICA - FILTRO ANAERÓBIO..................................... 56 4 – ANÁLISE AMBIENTAL DAS TECNOLOGIAS .............................................. 57 5 – ANALISES DE EFLUENTE............................................................................ 60 5.1 – RESÍDUOS FIXOS, VOLÁTEIS E TOTAIS........................................................ 60 5.2 – SÓLIDOS SEDIMENTÁVEIS............................................................................ 62 5.3 – OXIGÊNIODISSOLVIDO ................................................................................. 63 5.4 – DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO ........................................................ 65 5.5 – DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO ............................................................... 67 6 – EQUAÇÕES DA MISTURA ESGOTO – MANANCIAL .................................. 69 7 – OPERAÇÃO – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES .................. 71 7.1 - ATIVIDADES DE OPERAÇÃO ........................................................................... 72 7.2 – DISPOSITIVOS DE DISTRIBUIÇÃO E DE SAÍDA ............................................... 73 7.3 – MEDIÇÕES DIÁRIAS........................................................................................ 74 7.4 - LIMPEZA DO DECANTADOR PRIMÁRIO .......................................................... 74 7.5 - LIMPEZA DAS LAGOAS FACULTATIVAS ......................................................... 75 7.6 – DECANTADOR PRIMÁRIO (TANQUE SÉPTICO) .............................................. 75 7.7 – LAGOAS FACULTATIVAS ................................................................................ 76 8 – BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 81 4 TRATAMENTO DE EFLUENTESTRATAMENTO DE EFLUENTESTRATAMENTO DE EFLUENTESTRATAMENTO DE EFLUENTES 1.0 – A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁ RIOS A falta de tratamento dos esgotos e condições adequadas de saneamento pode contribuir para a proliferação de inúmeras doenças parasitárias e infecciosas além da degradação do corpo da água. A disposição adequada dos esgotos é essencial para a proteção da saúde pública. Aproximadamente, cinqüenta tipos de infecções podem ser transmitidas de uma pessoa doente para uma sadia por diferentes caminhos, envolvendo as excretas humanas. Os esgotos, ou excretas, podem contaminar a água, o alimento, os utensílios domésticos, as mãos, o solo ou ser transportados por moscas, baratas, roedores, provocando novas infecções. Epidemias de febre tifóide, cólera, disenterias, hepatite infecciosa e inúmeros casos de verminoses - algumas das doenças que podem ser transmitidas pela disposição inadequada dos esgotos - são responsáveis por elevados índices de mortalidade em países do terceiro mundo. As crianças são suas vítimas mais freqüentes, uma vez que a associação dessas doenças à subnutrição é, geralmente, fatal. A elevação da expectativa de vida e a redução da prevalência das verminoses que, via de regra, não são letais, mas desgastam o ser humano, somente podem ser pretendidas através da correta disposição dos esgotos. Outra importante razão para tratar os esgotos é a preservação do meio ambiente. As substâncias presentesnos esgotos exercem ação deletéria nos corpos de água: a matéria orgânica pode causar a diminuição da concentração de oxigênio dissolvido provocando a morte de peixes e outros organismos aquáticos, escurecimento da água e exalação de odores desagradáveis; é possível que os detergentes presentes nos esgotos provoquem a formação de espumas em locais de maior turbulência da massa líquida; defensivos agrícolas determinam à morte de peixes e outros animais. Há, ainda a possibilidade de eutrofização pela presença de nutrientes, provocando o crescimento acelerado de algas que conferem odor, gosto e biotoxinas à água (CETESB, 1988). Os problemas decorrentes da falta de um sistema de coleta, tratamento e disposição final do esgoto sanitário agravam-se quando existe o fornecimento de água tratada à população. 5 “Cada metro cúbico de água utilizada produz outro m etro cúbico de esgoto sanitário” Os dados do IBGE, de 1999, indicam que no Brasil: Todos os 42,8 milhões de domicílios brasileiros produzem esgoto sanitário; “Desse total, 34,2 milhões produzem esgoto sanitário de forma mais intensiva, e são mini-fábricas” de esgoto sanitário, porque utilizam à água fornecida pelas redes de abastecimento. Dessas “mini-fábricas”, 14,6 milhões despejam diariamente o esgoto a céu aberto ou em fossas sépticas, que apresentam elevado potencial de contaminação de solos, lençóis freáticos, etc. Na questão específica do saneamento básico, o quadro apontado em levantamento do IBGE de 1997 é dramático: Mais de 20% dos domicílios não eram atendidos por rede de abastecimento de água; Cerca de 54,2 % de domicílios não tinham acesso a sistema de esgoto sanitário; Na zona urbana, 7,7% não dispunham de água tratada e 47,5 % não eram atendidos por redes de esgoto sanitário. Segundo dados do governo, apenas 16% do esgoto sanitário coletado nos domicílios recebem tratamento e só uma pequena parcela tem destinação final sanitariamente adequada ao meio ambiente. Situação do setor de saneamento no Brasil tem conseqüências graves para a qualidade de vida da população, principalmente aquela mais pobre, residente na periferia das metrópoles ou nas pequenas cidades do interior. “Da população diretamente afetada, as crianças são a s que mais sofrem”. Segundo a FUNASA, para cada R$ 1,00 investido no se tor de saneamento, economiza-se R$ 4,00 na área de medicina curativa. Alguns números: • 65 % das internações hospitalares de crianças menores de 10 anos estão associadas a falta de saneamento básico (BNDES, 1998); • A falta de saneamento básico é a principal responsável pela morte por diarréia de menores de 5 anos no Brasil (Jornal Folha de S.Paulo, 17/12/99); • Em 1998, morreram 29 pessoas por dia no Brasil de doenças decorrente da falta de água encanada, esgoto e coleta de lixo (Folha de S. Paulo, 16/jul/00); • A eficácia dos programas federais de combate à mortalidade infantil esbarra na falta de saneamento básico (FSP, 17/07/00); • A utilização do soro caseiro, umas das principais armas para evitar diarréia, só faz o efeito desejado se a água utilizada no preparo for limpa (FSP, 17/12/99); Resumindo: “15 crianças de 0 a 4 anos morrem por dia no Brasil em decorrência da falta de saneamento básico, principalmente de esgoto sani tário” - (FUNASA - FSP - 16/07/00). Os quadros a seguir mostram algumas doenças resultantes da ausência de esgoto sanitário ou de água adequadamente tratada. 6 QUADRO 01: Doenças e Outras Conseqüências da Ausênc ia de Tratamento de esgoto sanitário: Poluentes Parâmetros de caracterização Tipo de Esgoto Conseqüências Patogênicos Coliformes Domésticos Doenças de veiculação hídrica Sólidos em suspensão Sólidos em suspensão totais Domésticos Industriais Problemas estéticos Depósitos de Lodo Absorção de poluentes Proteção de patogênicos Matéria orgânica biodegradável Demanda bioquímica de oxigênio Domésticos Industriais Consumo de oxigênio Mortandade de peixes Condições sépticas Nutrientes Nitrogênio Fósforo Domésticos Industriais Crescimento excessivo de algas Toxidade aos peixes Doenças em recém-nascidos Compostos não- biodegradáveis Pesticidas Detergentes Outros Industriais Agrícolas Toxidade Espumas Redução da transf. de Oxigênio Não biodegradabilidade Maus odores FIGURA 1 – Contaminação de lenços freático. 7 QUADRO 02: Doenças Relacionadas com a Ausência de R ede de Esgotos: Grupo de Doenças Formas de Transmissão Principais Do enças Formas de Prevenção Feco-Orais (não bacterianas) Contato de pessoa para pessoa, quando não se tem higiene pessoal e doméstica adequada. Poliomielite Hepatite Tipo A Giardíase Diarréia amebiana Diarréia por vírus Melhorar as moradias e as instalações sanitárias Implantar sistema de abastecimento de água Promover a educação sanitária Feco-Orais (bacterianas) Contato de pessoa para pessoa, ingestão e contato com alimentos contaminados e contato com fontes de água contaminadas pelas fezes. Febre tifóide Febre paratifóide Diarréias bacterianas, como a cólera. Implantar sistema adequado de disposição de esgotos Melhorar as moradias e as instalações sanitárias Implantar sistema de abastecimento de água e promover a educação sanitária Helmintos transmitidos pelo solo Ingestão de alimentos contaminados Contato da pele com o solo Ascaridíase (Lombriga) Tricuríase Ancilostomíase (amarelão) Construir e manter limpa as instalações sanitárias Tratar os esgotos antes da disposição no solo Evitar contato direto da pele com o solo (usar calçados) Tênia (solitárias) na carne de boi e de porco Ingestão de carne mal cozida de animais infectados Teníase e Cisticercose Construir instalações sanitárias adequadas Tratar os esgotos antes da disposição nos solos Inspecionar a carne e ter cuidado na sua preparação Helmintos associados à água Contato da pele com água contaminada Esquistossomose Construir instalações sanitárias adequadas Tratar os esgotos antes do lançamento em curso d”água Controlar os caramujos e evitar o contato com água contaminada Insetos vetores relacionados com as fezes Procriação de insetos em locais contaminados pelas fezes Filariose (Elefantíase) Combater os insetos transmissores Eliminar condições que possam favorecer criadouros e evitar o contato com criadouros Utilizar meios de proteção individual 8 FIGURA 2 – Modo de propagação de doenças por excretos humanos 2.0 – CARACTERISTICAS DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS A palavra esgoto costumava ser usada para tanto à tubulação condutora das águas servidas de uma comunidade, como também o próprio liquido que flui por estas canalizações. Hoje este termo é usado quase que apenas para caracterizar os despejos provenientes das diversas modalidades do uso e da origem das águas, tais como as de uso doméstico, comercial, industrial, as de utilidades públicas, de áreas agrícolas, de superfície, de infiltração, pluviais, etc. Os esgotos costumam ser classificados em dois grupos principais: os esgotos sanitários e os industriais. Os primeiros são constituídos essencialmente de despejos domésticos, uma parcela de águas pluviais, água de infiltração, e eventualmente uma parcela não significativa de despejos industriais, tendo características bem definidas. Os esgotos sanitários (domésticos ou domiciliares) são, basicamente, formados pela reunião de águas residuárias dos usos domésticos, comerciais e institucionais, geradas, portanto, nos domicílios, bares, restaurantes, aeroportos, rodoviárias, hotéis, farmácias, "shopping centers", hospitais, postos de saúde, escolas, casas de detenção, repartições públicas, etc. ou qualquer dispositivo de utilização das águas para fins domésticos.Nestes locais, onde o uso da água e geração dos esgotos é feito em: aparelhos sanitários como vasos sanitários, chuveiros, pias, mictórios, bidês, tanques, máquinas de lavar pratos e roupas e ralos para captação de águas de lavagens de áreas cobertas, fazem parte do volume total de esgoto sanitário gerado num município, os despejos industriais, previamente tratados e enquadrados aos padrões de lançamento na rede pública, e as parcelas de águas provenientes de precipitações pluviométricas e de lençóis subterrâneos que conseguem adentrar à rede pública de coleta e veiculação de esgotos por locais e pontos singulares do sistema impossibilitados de serem perfeitamente estanques, tais como: tampas e paredes de caixas de passagem, inspeção e poços de visita, conexões entre tubulações e até mesmo, ligações clandestinas. Em virtude dessa grande diversificação de usuários e possíveis pontos de contribuição, as características qualitativas e quantitativas dos esgotos sanitários gerados numa comunidade podem sofrer grandes variações de carga orgânica (kg DBO5/hab.dia), vazões unitárias médias (L/hab.dia) e vazões instantâneas (L/s), sendo função do clima (variações sazonais); dos hábitos e renda "Percapita" da 9 população atendida; da diversificação das atividades comerciais e industriais do município; do número de habitantes fixos e flutuantes do município; além de outros fatores, também influentes, tais como: topografia, existência de micromedição do consumo de água, custo unitário da água, etc. Desde que não haja significativa contribuição de despejos de origem industrial, a composição média do esgoto sanitário é razoavelmente constante. Cerca de 99,9% de sua massa consiste em água pura e, apenas 0,1%, de impurezas de natureza orgânica e inorgânica, constituídas de sólidos suspensos e dissolvidos, bem como de microrganismos. Conforme citado por SPERLING, 1996, no projeto de uma estação de tratamento de esgotos (ETE), normalmente não há o interesse em se determinar os diversos compostos dos quais a água residuária é constituída, tendo em vista a complexidade das análises de laboratório que seriam necessárias e a pequena utilidade prática desses resultados como elementos para subsidiar o projeto e operação da mesma. Desta forma, é preferível a utilização de parâmetros indiretos que traduzam o carácter ou potencial poluidor do despejo em questão. Esses parâmetros são divididos em três categorias físicos, químicos e biológicos. As impurezas de natureza física são causadas por substâncias cuja presença afeta as características da água, independentemente de sua natureza química ou biológica. Partículas sólidas suspensas ou em estado coloidal (orgânicas ou inorgânicas) alteram a transparência (turbidez) e cor da água, podendo precipitar-se na forma de lodo. Além disso, outras substâncias dissolvidas também poderão conferir alterações de cor, manifestação de odor e também variações de temperatura. As impurezas de natureza química constituem-se de substâncias orgânicas e inorgânicas solúveis. A fração orgânica é representada por proteínas, gorduras, carboidratos, fenóis e por uma série de substâncias artificiais, fabricadas pelo homem, como detergentes e defensivos agrícolas. As substâncias minerais mais importantes são nutrientes (nitrogênio e fósforo), enxofre, metais pesados e compostos tóxicos. As impurezas de natureza biológica são representadas pelos seres vivos liberados junto com os dejetos humanos: bactérias, vírus, fungos, helmintos e protozoários. Alguns desses seres habitam normalmente o trato intestinal do homem e não prejudicam-lhe a saúde; outros podem causar doenças e são denominados organismos patogênicos (CETESB, 1988). Os esgotos industriais, extremamente diversos, provem de qualquer utilização da água para fins industriais e adquirem características próprias em função do processo industrial empregado. Assim sendo, cada industria devera ser considerada isoladamente. As características dos esgotos variam quantitativa e qualitativamente com a sua utilização. Devido à grande amplitude de características dos esgotos industriais, somente serão consideradas, para efeito didático, as características dos esgotos domésticos, e, assim mesmo, condicionadas as comunidades providas de costumes que possam representar tipos de despejos, com características médias. 2.1 – CARACTERISTICAS FÍSICAS As características físicas de um esgoto podem ser interpretadas pela obtenção das grandezas correspondentes as seguintes determinações: • Teor de matéria sólida • Temperatura • Odor • Cor • Turbidez 2.1.1 – MATÉRIA SÓLIDA Das características físicas, o teor de matéria sólida é o de maior importância em termos de dimensionamento e controle de operações das unidades de tratamento. A pesquisa da matéria sólida é fonte de uma série de operações unitárias de tratamento. 10 A matéria sólida total do esgoto pode ser definida como a matéria que permanece como resíduo após evaporação a 103 ºC. Se este resíduo é calcinado a 600 ºC as substancias orgânicas se volatilizam e as minerais permanecem sob forma de cinza: compõem assim a matéria sólida volátil e a matéria fixa. O conhecimento da fração de sólidos voláteis apresenta particular interesse nos exames do lodo do esgoto (para se saber sua estabilidade biológica) e nos processos de lodos ativados e oxidação total (para se saber a quantidade de matéria orgânica tomando parte no processo). A matéria sólida total classifica-se ainda em matéria em suspensão e dissolvida. A matéria sólida em suspensão compõe a parte que é retida, quando um volume de amostra de esgoto é filtrado através de um filtro de asbestos num cadinho Gooch, a fração que passa pelo filtro compõe a matéria sólida dissolvida, e que está presente em solução ou sob a forma coloidal. FIGURA 03 – Sólidos totais Quanto à sedimentação a matéria pode ser classificada: Sedimentável – aquela que sedimenta num período razoável de tempo (tomado arbitrariamente em 1 ou 2 horas); Não sedimentável – finamente dividida e que não sedimenta no tempo de 2 horas; em termos práticos, a matéria não sedimentável só será removida por processos de oxidação biológica e de coagulação seguida de sedimentação. Define-se ainda como matéria decantável a fração que sedimenta num recipiente apropriado do 1 litro (cone Imhoff) após o tempo de 1 hora; a quantidade de matéria decantável é uma indicação da quantidade lodo que poderá ser removida por sedimentação nos decantadores. A matéria que passa através do filtro, no ensaio, compõe duas frações: uma de matéria dissolvida propriamente dita (presente em solução na água) e outra de matéria coloidal (diâmetro de partículas entre 10-6 e 10-3 mm). 2.1.2 – TEMPERATURA A temperatura dos esgotos é, em geral, pouco superior à das águas de abastecimento (pela contribuição de despejos domésticos que tiveram as águas aquecidas). Pode, no entanto, apresentar valores reais elevados, pela contribuição de despejos industriais. Normalmente, a temperatura nos esgotos esta acima da temperatura do ar, à exceção dos meses mais quentes do verão. Em relação aos processos de tratamento sua influencia se dá, praticamente nas operações de natureza biológica (a velocidade de decomposição do esgoto é proporcional ao aumento de temperatura) e nas operações em que ocorre o fenômeno da sedimentação (o aumenta da temperatura faz diminuir a viscosidade melhorando as condições de sedimentação). Em geral esta numa faixa de 20 a 25ºC . Sólidos Totais 100% Sólidos Sedimentáveis e em Suspensão 60% Sólidos Dissolvidos 40% Sólidos Volatéis 50% Sólidos Volatéis 20% Sólidos Fixos 10% Sólidos Fixos 20% Sólidos Volatéis 70% Sólidos Fixos 30% Sólidos Totais 100% 11 2.1.3 – ODOR Os odores característicos dos esgotos são causados pelos gases formados no processo de decomposição. Há dois tipos principaisde odores, bem característicos: • Odor de mofo, razoavelmente suportável, típico de esgoto fresco; • Odor de ovo podre, “insuportável”, típico de esgoto velho ou séptico, que ocorre devido à formação de gás sulfídrico proveniente da decomposição do lodo contido nos despejos. Quando ocorrem odores diferentes e específicos, o fato se deve à presença de despejos industriais. 2.1.4 – TURBIDEZ E COR A cor e a turbidez indicam de imediato, e aproximadamente, o estado de decomposição de esgoto, ou sua “condição”. A tonalidade acinzentada, acompanhada de alguma turbidez, é típica do esgoto fresco. A cor preta é típica do esgoto velho e de uma decomposição parcial. Os esgotos podem, no entanto, apresentar qualquer outra cor, nos casos dos despejos industriais, como por exemplo, um despejo de indústrias têxteis ou de tintas. 12 2.2 – CARACTERISTICAS QUÍMICAS A origem dos esgotos permite classificar as características químicas em dois grandes grupos: • Da matéria orgânica: compostos de proteínas, Carboidratos e Gorduras (carbono, hidrogênio, oxigênio, azoto, enxofre, Ferro, etc.) • Da matéria inorgânica: areias e substâncias minerais dissolvidas (Sulfatos, Carbonatos, Magnésio, Sódio, Potássio,etc.); 2.2.1 – MATÉRIA ORGÂNICA Nos esgotos, cerca de 70% dos sólidos são de origem orgânica. Geralmente estes compostos orgânicos são uma combinação de carbono, hidrogênio e oxigênio, algumas vezes com nitrogênio. Matéria orgânica: (1) matéria de origem vegetal, animal ou microbiana, viva ou morta, em qualquer estado de conservação, passível de decomposição. (2) porções não- minerais sólidas do solo originadas dos resíduos dos animais e das plantas. As principais fontes de matéria orgânica utilizadas para a nutrição dos vegetais são os adubos verdes, os resíduos vegetais, palhas, serragens, cascas de madeira, restos de culturas, restos industriais, vinhaça, estercos e restos de aves e peixes. A degradação da matéria orgânica consiste na redução de compostos de elevado peso molecular a compostos de baixo peso molecular através de mecanismos enzimáticos, até a última transformação de cada substrato orgânico em compostos inorgânicos. A matéria orgânica pode ser dividida em substâncias lábiles (biologicamente utilizáveis) e inerte (quimicamente refratárias). Os grupos de substâncias orgânicas nos esgotos são constituídos principalmente por: • Compostos de proteínas (40 a 60%); • Carboidratos (25 a 50%); • Gordura e óleos (10%); • Uréia, surfatans, fenóis, pesticidas (em menor quantidade),etc. As proteínas são produtoras de nitrogênio e contem carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, algumas vezes fósforo, enxofre e ferro. As proteínas são o principal constituinte de organismo animal, mas ocorrem também em plantas. O gás sulfídrico presente os esgotos é proveniente do enxofre fornecido pelas proteínas. Os carboidratos contem carbono, hidrogênio e oxigênio. São as primeiras substâncias a serem destruídas pelas bactérias, com produção de ácidos orgânicos (por esta razão os esgotos apresentam maior acidez). Entre os principais exemplos de carboidratos podem-se citar os açucares o amido, a celulose e a fibra de madeira. Gordura é um termo que normalmente é usado para se referir á matéria graxa, aos óleos e as substâncias semelhantes encontradas no esgoto. A gordura esta sempre presente no esgoto doméstico proveniente do uso de manteiga, óleos vegetais, em cozinha, da carne, etc. Pode estar presente também sob a forma de óleos minerais derivados do petróleo (querosene, óleo lubrificante), neste caso sua presença é altamente indesejável, pois geralmente são contribuições não permitidas (de garagens, postos de gasolina, indústrias) que chegam as canalizações em grande volume ou grande concentração, aderem às paredes das canalizações e provocam seu entupimento. Os surfatans são constituídos por moléculas orgânicas com a propriedade de formar espuma no corpo receptor ou na estação de tratamento em que o esgoto é lançado. Tendem a se agregar a interface ar-água, e nas unidades de aeração aderem a superfície das bolhas de ar, formando uma espuma muito estável e difícil de ser quebrada. 13 O tipo mais comum é o chamado ABS (alquil-benzeno-sulfonado), típico dos detergentes sintéticos e que apresenta resistência à ação biológica; este tipo de surfatan teve seu uso proibido nos Estados Unidos em 1965, sendo substituído pelos do tipo “LAS” (alquil-sulfonado-linear) que é biodegradável. Em nosso país sua utilização ainda é livre. Os fenóis são compostos orgânicos, originados em principalmente despejos industriais, e que tem a propriedade de causar, ainda que em baixa concentração, gosto característico à água (em especial à água clorada). Os pesticidas e demais compostos químicos orgânicos, principalmente, na agricultura, e, como tal, não costumam chegar às galerias urbanas de esgoto, mas aos rios e corpos receptores, sendo, no entanto, uma fonte de poluição e de toxidez a vida aquática. 2.2.2 – MATÉRIA INORGÂNICA A matéria inorgânica é toda àquela composta por átomos que não sejam de carbono (exceto no caso do ácido carbônico e seus sais). Os poluentes inorgânicos são os sais, óxidos, hidróxidos e os ácidos. A presença excessiva de sais, mesmo sais inertes tais como o cloreto de sódio pode retardar ou inviabilizar os processos biológicos (GRADY Jr et.al., 1980), por efeito osmótico. Em casos extremos podem inviabilizar o uso das águas por salinização. Os sais não inertes são também analisados separadamente, sendo os principais: os sulfatos que podem ser reduzidos aos sulfetos; os nitratos e nitritos que podem ser desnitrificados; sais de amônia que podem ser nitrificados. O nitrogênio e o fósforo são elementos presentes nos esgotos sanitários e nos efluentes industriais e são essenciais às diversas formas de vida, causando problemas devido à proliferação de plantas aquáticas nos corpos receptores. Nos esgotos sanitários são provenientes dos próprios excrementos humanos, mas atualmente têm fontes importantes nos produtos de limpeza domésticos e ou industriais tais como detergentes e amaciantes de roupas (VON SPERLING, 1996, p. 31). Nos efluentes industriais podem ser originados em proteínas, aminoácidos, ácidos fosfóricos e seus derivados. Os metais são analisados de forma elementar. Os que apresentam toxicidade são os seguintes: alumínio; cobre; cromo; chumbo; estanho; níquel; mercúrio; vanádio; 14 zinco. A toxicidade dos metais é função também de seus números de oxidação (cromo trivalente e hexavalente, etc.). Outros metais tais como o sódio, cálcio, magnésio, e potássio são analisados principalmente em casos de reuso de águas ou em casos nos quais a salinidade do efluente influencie significativamente em processos de corrosão, incrustação e osmose. Os principais ânions são: amônio; cianeto; carbonato, bicarbonato; hidróxido; nitrato; nitrito; fosfato; sulfato; sulfito; sulfeto. A determinação do oxigênio dissolvido é de fundamental importância para avaliar as condições naturais da água e detectar impactos ambientais como eutrofização e poluição orgânica. Do ponto de vista ecológico, o oxigênio dissolvido é uma variável extremamente importante, pois é necessário para a respiração da maioria dos 15 organismos que habitam o meio aquático. Geralmente o oxigênio dissolvido se reduz ou desaparece, quando a água recebe grandes quantidades de substâncias orgânicas biodegradáveis encontradas, por exemplo, no esgoto doméstico, em certos resíduos industriais, no vinhoto, e outros. Os resíduos orgânicos despejados nos corpos d’água são decompostos por microrganismos que se utilizam do oxigênio na respiração. Assim, quanto maior a carga de matéria orgânica, maior o número de microrganismos decompositores e, conseqüentemente, maior o consumo de oxigênio. A morte de peixes em rios poluídos se deve, portanto, à ausência de oxigênioe não à presença de substâncias tóxicas. A determinação do oxigênio dissolvido na água pode ser feita através do método "Winkler" ou eletrométrico. Nos esgotos, os teores de oxigênio dissolvido são normalmente nulos ou próximos a zero. Isto se deve à grande quantidade de matéria orgânica presente, implicando em um elevado consumo de oxigênio pelos microrganismos decompositores. Assim, adota-se usualmente, nos cálculos de autodepuração, o OD do esgoto bruto como zero. Caso o esgoto seja tratado, as seguintes considerações podem ser efetuadas: - Tratamento primário . Efluentes de tratamento primário podem ser admitidos como tendo OD igual a zero. - Tratamento anaeróbio . Efluentes de processos anaeróbios de tratamento possuem também um OD igual a zero. - Lodos ativados e filtros biológicos . Efluentes desses sistemas sofrem certa aeração nos vertedores de saída dos decantadores secundários, podendo o OD subir a 2 mg/l ou mais. Se o emissário de lançamento final for longo, este oxigênio poderá vir a ser consumido. - Lagoas facultativas . Efluentes de lagoas facultativas podem apresentar teores médios de OD elevados, em torno de 5 a 6 mg/l., face à produção de oxigênio puro pelas algas. Decomposição: é o processo de conversão de organismos mortos, ou parte destes, em substâncias orgânicas e inorgânicas, através da ação escalonada de um conjunto de organismos (necrófagos, detritóvoros, saprófagos decompositores e saprófitos propriamente ditos). Decomposição da matéria orgânica mediante sua transformação química em compostos simples, com resultante liberação de energia. 2.3 – CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS Os contaminantes biológicos são diversos agentes patogênicos ou não. As características bacteriológicas dos esgotos referem-se à presença de diversos microrganismos tais como bactérias inclusive do grupo coliforme, vírus e vermes (VON SPERLING, 1996, p. 19). No caso das indústrias, as que operam com o abate de animais também são grandes emissoras de microrganismos, bem como muitas produtoras de alimentos. Os microrganismos presentes contaminam o solo, inclusive os lençóis subterrâneos e as águas superficiais, sendo responsáveis pelas doenças de veiculação hídrica. 16 Obs. NMP – Número mais provável; UT – unidade de toxicidade; CENO Concentração máxima de efeito não observado. As bactérias, organismos unicelulares, constituem o elemento mais importante deste grupo de organismos, uma vez que são responsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica. São também uma forma de alimento dos protozoários, servindo como elemento mantedor do equilíbrio entre as diferentes formas de organismo. Divididas em três grandes classes, distinguem se: • As bactérias aeróbias , que sintetizam a matéria orgânica, respirando o oxigênio livre, dissolvido na massa líquida; • As bactérias anaeróbias , que quebram a cadeia orgânica dos compostos hidrogenados, respirando o oxigênio quimicamente combinado e sintetizando a matéria orgânica; • As bactérias facultativas , que atuam tanto nas condições aeróbicas como nas anaeróbicas. Algumas bactérias são patogênicas, causando principalmente doenças intestinais. 2.3.1 – IMPORTANCIA DOS MICRORGANISMOS Em algum momento entre 300 milhões e 2 bilhões de anos atrás, o aparecimento de algas fotossintéticas, mudou o curso da história da vida na terra dando início à produção de oxigênio (O2) para a atmosfera, que hoje representa 21% do total de gases. Fotossíntese CO2 + 2 H2O + luz ►► (CH2O) + H2O + O2 ↑ A molécula de (CH2O) produzida na fotossíntese, representa a unidade formadora de carboidratos, matéria prima fundamental para a síntese de todos os compostos orgânicos vegetais e animais. Alguns carboidratos importantes são: glicose, frutose, xilose, sacarose, amido, glicogênio, celulose, hemicelulose e outros. Dos 10 bilhões de espécies de seres vivos que habitam o planeta, uma boa parte são microrganismos, só de fungos se calcula 1,5 milhões de espécies. Eles estão no ar, no solo e na água, e até dentro de animais como a vaca, ovelha, cabras, etc., em simbiose no rúmen, seu primeiro estomago, onde bactérias e protozoários, em número de bilhões de células por milímetro quadrado, ajudam a digestão; no ser humano a flora intestinal é fundamental para a manutenção da saúde. Sua capacidade de adaptação, reprodução, dispersão e variedade, os permite viver em qualquer substrato, habitat ou ambiente; um hectare de terra fértil, por exemplo, apresenta 4 tons de fungos e bactérias em seus 15 cm superficiais. Com tal capacidade multiplicativa e atividade metabólica, sua respiração é responsável por 90% do CO2 presente na atmosfera (0,03% do total de gases). 17 2.3.2 – DECOMPOSIÇÃO DOS CARBOIDRATOS Com a morte, pela ação de outros microrganismos, o carboidrato é degradado e o CO2 volta para a atmosfera, mantendo-se o balanço. Microrganismos (CH2O) + O2 --------> CO2 + H2O 2.3.3 – DECOMPOSIÇÃO DAS PROTEINAS (NITRIFICAÇÃO) Compostos nitrogenados como as proteínas e aminoácidos também serão oxidados ou decompostos por via biológica produzindo inicialmente a amônia, depois a oxidação a nitrito (NO2¯ ) e depois a nitrato (NO3¯ ). O nitrato é um composto mineralizado estável e solúvel, prontamente assimilável pelas plantas. A decomposição produzindo amônia se dá via aeróbia ou anaeróbia por uma série de bactérias, entretanto, a nitrificação se dá apenas pela ação de duas bactérias aeróbias: a Nitrosomonas e a Nitrobacter: As reações que ocorrem são as seguintes: Bactérias 1) Proteína ► NH3 (amônia) Nitrosomonas 2) NH3 - + CO2 + 1,5 O2 ► Nitrosomonas + NO2 ¯ Nitrobacter 3) NO2 ¯ + CO2 + 0,5 O2 ► Nitrobacter + NO3 ¯ A quantidade de O2 necessária na degradação das proteínas (nitrificação) é maior do que para a dos carboidratos, pois o processo se dá em duas etapas; a temperatura ideal para as reações se da entre 30 e 35 °C. 2.3.4 – MICROBIOLOGIA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA A digestão anaeróbia pode ser considerada como um ecossistema onde diversos grupos de microrganismos trabalham interativamente na conversão da matéria orgânica complexa em metano, gás carbônico, água, gás sulfídrico e amônia, além de novas células bacterianas. MATÉRIA ORGÂNICA X BACTÉRIAS ANAERÓBIAS = CH4 gás metano, CO2 gás carbônico, H2O água. H2S gás sulfídrico, NH3 amônia e novas células. Os microrganismos que participam do processo de decomposição anaeróbia podem ser divididos em três importantes grupos de bactérias, com comportamentos fisiológicos distintos: 18 • O primeiro grupo é composto de bactérias fermentativas que transformam por hidrólise, os polímeros em monômeros, e estes em acetato, hidrogênio, dióxido de carbono, ácidos orgânicos de cadeia curta, aminoácidos e outros produtos como glicose; • O segundo grupo é formado pelas bactérias acetogênicas produtoras de hidrogênio, o qual converte os produtos gerados pelo primeiro grupo ( aminoácidos, açucares. ácidos orgânicos e álcoois ) em acetato, hidrogênio e dióxido de carbono; • Os produtos finais do segundo grupo são os substratos essenciais para o terceiro grupo que por sua vez constitui dois diferentes grupos de bactérias metanogênicas. Um grupo usa o acetato, transformando-o em metano e dióxido de carbono , enquanto o outro produz metano, através da redução do dióxido de carbono. Embora o processo de digestão anaeróbia seja simplificadamente considerado como de duas fases, este pode ser subdividido em quatro fases principais, como a Hidrólise, Acidogênese, Acetogênese e Metanogênese. HIDRÓLISE Uma vez queas bactérias não são capazes de assimilar a matéria orgânica particulada, a primeira fase no processo de degradação anaeróbia consiste na hidrólise de materiais particulados complexos (polímeros) em materiais dissolvidos mais simples (moléculas menores) os quais podem atravessar as paredes celulares das bactérias fermentativas. Esta conversão de materiais particulados em materiais dissolvidos é conseguida através da ação de exoenzimas excretadas pelas bactérias fermentativas hidrolíticas. Na anacrobiose, a hidrólise dos polímeros usualmente ocorre de forma lenta, sendo vários os fatores que podem afetar o grau e a taxa em que o substrato é hidrolisado (Lettinga et al., 1996 e Chernicharo – Reatores Anaeróbios): • Temperatura operacional do processo de tratamento (reator ou lagoa anaeróbica, etc.); • Tempo de residência do substrato no processo de tratamento (reator ou lagoa anaeróbica, etc.); • Composição do substrato (ex.: teores de lignina, carboidrato, proteínas e gordura); tamanho das partículas; • pH do meio; concentração de NH4+-N; • Concentração de produtos da hidrólise (ex.: ácidos graxos voláteis). ACIDOGÊNESE Os produtos solúveis oriundos da fase de hidrólise são metabolizados no interior das células das bactérias fermentativas, sendo em diversos compostos mais simples, os quais são então excretados pelas células. Os compostos produzidos incluem ácidos graxos voláteis, álcoois, ácido lático, gás carbônico, hidrogênio, amônia e sulfeto de hidrogênio, além de novas células bacterianas. Como os ácidos graxos voláteis são os principais produtos dos organismos fermentativos, estes são usualmente designados de bactérias fermentativas acidogênicas. A acidogênese é efetuada por um grande e diverso grupo de bactérias fermentativas, a exemplo das espécies Clostridiun e Bacteroids. As primeiras constituem uma espécie anaeróbia que forma esporos, podendo dessa forma, sobreviver em ambientes totalmente adversos. As bacteróids encontram-se comumente presentes nos tratos digestivos, participando da degradação de açúcares e aminoácidos. A maioria das bactérias acidogênicas são anaeróbias estritas, mas cerca de 1% consiste de bactérias facultativas que podem oxidar o substrato orgânico por via oxidativa. Isso é particularmente importante, uma vez que as bactérias estritas são protegidas contra a exposição ao oxigênio eventualmente presente no meio (Van Haandel & Lettinga et al. 1996 e Chernicharo). ACETOGÊNESE 19 As bactérias acetogênicas são responsáveis pela oxidação dos produtos gerados na fase acidogênica em substrato apropriado para as bactérias metanogênicas. Dessa forma, as bactérias acetogênicas fazem parte de um grupo metabólico intermediário que produz substrato para as metanogênicas. Os produtos gerados pelas bactérias acetogênicas são o hidrogênio, o dióxido de carbono e o acetato. Durante a formação dos ácidos acético e propiônico, uma grande quantidade de hidrogênio é formada, fazendo com que o valor do pH no meio aquoso decresça. De todos os produtos metabolizados pelas bactérias acidogênicas, apenas o hidrogênio e o acetato podem ser utilizados diretamente pelas metanogênicas. Porem pelo menos 50% da DQO biodegradável é convertida em propianato e butirato, os quais são posteriormente decompostos em acetato e hidrogênio pela ação das bactérias acetogênicas. METANOGÊNESE A etapa final no processo global de degradação anaeróbia de compostos orgânicos em metano e dióxido de carbono é efetuada pelas bactérias metanogênicas. As metanogênicas utilizam somente um limitado número de substratos, compreendendo ácido acético, hidrogênio /dióxido de carbono, ácido fórmico, metanol, metilaminas e monóxido de carbono. Em função de sua afinidade por substrato e magnitude de produção de metano, as metanogênicas são divididas em dois grupos principais, um que forma metano a partir de ácido acético ou metanol, e o segundo que produz metano a partir de hidrogênio e dióxido de carbono, como a seguir: - bactérias utilizadoras de acetato ( acetoclásticas ); - bactérias utilizadoras de hidrogênio ( hidrogenotróficas ). Além das fases descritas anteriormente, o processo de digestão anaeróbia pode incluir, ainda, uma outra fase, dependendo da composição química do despejo a ser tratado. Despejos que contenham compostos de enxofre são submetidos à fase de sulfetogênese (redução de sulfato e formação de sulfetos ), conforme descrito a seguir: SULFETOGÊNESE A produção de sulfetos é um processo no qual o sulfato e outros compostos a base de enxofre são utilizados como aceptores de elétrons durante a oxidação de compostos orgânicos. Durante este processo, sulfato, sulfito e outros compostos sulfurados são reduzidos a sulfeto, através da ação de um grupo de bactérias anaeróbias estritas, denominadas bactérias redutoras de sulfato (ou bactérias sulforedutoras). As bactérias sulforedutoras são consideradas um grupo muito versátil de microrganismos, capazes de utilizar uma ampla gama de substratos, incluindo toda a cadeira de ácidos graxos voláteis, diversos ácidos aromáticos, hidrogênio, metanol, etanol, glicerol, açúcares, aminoácidos, e vários compostos fenólicos. As bactérias sulforedutoras dividem-se em dois grandes grupos Bactérias sulforedutoras que oxidam seus substratos de forma incompleta até o acetato e Bactérias sulforedutoras que oxidam seus substratos completamente até o gás carbônico. ( Visser, 1995 e Chernicharo) 2.3.5 – VANTAGENS DOS PROCESSOS ANAERÓBIOS • Baixa produção de lodo, cerca de 5 a 10 vezes inferior a que ocorre nos processos aeróbios; 20 • Não há consumo de energia elétrica, uma vez que dispensa o uso de bombas, aeradores, válvulas solenóides, painéis elétricos etc. • Baixa demanda de área, reduzindo os custos de implantação; • Produção de metano, um gás combustível de elevado teor calorífico; • Possibilidade de preservação da biomassa (colônia de bactérias anaeróbias) , sem alimentação do reator, por vários meses, ou seja, a colônia de bactérias entra em um estágio de endogenia, sendo reativada a partir de novas contribuições. A titulo de exemplo, podemos citar as casas de praia ou de campo que ficam longos períodos sem nenhuma contribuição, e a partir do uso dessas residências, o sistema volta a operar normalmente. • É importante frisar, que contrariamente ao processo anaeróbio, nos processos aeróbios , onde as bactérias dependem do oxigênio que é injetado através de aeradores, a falta de energia elétrica ou queima de motor, coloca todo o sistema em colapso, uma vez que não havendo oxigênio, perde-se todo o campo biológico (morrem todas as bactérias aeróbias) . 2.3.6 – EXEMPLO DE MICRORGANISMOS Levedos Algas Protozoários Actinomicetes FIGURA 04 – exemplos de microrganismos Cianobactérias Algas Bactérias FIGURA 05 – exemplos de microrganismos 3.0 – DEMANDA POR SISTEMAS DE TRATAMENTO LOCAL 21 É de conhecimento amplo a crise que atravessa o saneamento no Brasil, conforme foi identificado pelas pesquisas realizadas pela ABES e pelo IBGE no final dos anos 80 e inicio dos anos 90. Os dados referentes ao esgotamento sanitário são alarmantes, indicando índices de cobertura da população, por redes coletoras de apenas 30%, e um percentual de municípios que possuem estações de tratamento inferior a 10%. Mesmo nos municípios que se incluem nesta pequena parcela, em geral, as estações de tratamento atendem a apenas uma parte da população, muitas vezes as eficiências são reduzidas e problemas operacionais são freqüentes. (Barros et al., 1995). Diante desse enorme déficit sanitário, aliado ao quadro epidemiológico e ao perfil sócio-econômico das comunidades brasileiras, constata-se a necessidade por sistemas locais e simplificados, de coleta e tratamento dos esgotos. Estes sistemas devem conjugar baixos custos de implantaçãoe operação, simplicidade operacional, índices mínimos de mecanização e sustentabilidade do sistema como um todo. Nesse sentido, as seguintes alternativas, dentre outras, devem ser consideradas: Sistemas individuais de tratamento e disposição de excretas e esgotos, que se separam pelas condições locais: Locais onde existe e não existe água encanada utilizam os seguintes sistemas: À medida que as comunidades e a concentração humana tornam-se maiores, as soluções individuais para remoção e destino do esgoto doméstico devem dar lugar às soluções de caráter coletivo denominadas sistema de esgotos . 3.1 – SISTEMAS INDIVIDUAIS DE TRATAMENTO 3.1.1 – PRIVADA DE FOSSA SECA A privada de fossa seca compreende a casinha e a fossa seca escavada no solo, destinada a receber somente os excretas, ou seja, não dispõe de veiculação hídrica. As fezes retidas no interior se decompõem ao longo do tempo pelo processo de digestão anaeróbia. Lugares livres de enchentes e acessíveis aos usuários. Distante de poços e fontes e em cota inferior a esses mananciais, a fim de evitar a contaminação dos mesmos. A distância varia com o tipo de solo e deve ser determinada localmente. Adotar uma distância mínima de segurança, estimada em 15 metros. Para dimensionamento da fossa seca deverá ser levado em consideração o tempo de vida útil da mesma e as técnicas de construção. As dimensões indicadas para a maioria das áreas rurais são as seguintes: • Abertura circular com 90cm de diâmetro, ou quadrada com 80cm de lado; • A profundidade varia com as características do solo, o nível de água do lençol freático, etc., recomendando-se valores em torno de 2,50m. 22 Figura 03 – corte longitudinal privada com fossa seca Figura 04 – corte longitudinal privada com fossa seca Sendo fossa seca é contra-indicado o lançamento de água no seu interior; serão lançados apenas os dejetos e o papel higiênico (papel de limpeza). Entretanto, se ocorrer mau cheiro, recomenda-se empregar pequenas porções de sais alcalinizantes, como sais de sódio, cálcio e potássio, sendo comum o uso de cal ou cinza.Justifica-se essa medida pelo mau cheiro que a excreta desprende em fase da digestão ácida (séptica). No início da digestão, há tendência para o desenvolvimento de bactérias próprias do meio ácido, responsáveis pela produção de compostos voláteis mal cheirosos como ácido sulfídrico e outros. Entretanto, com pH elevado, haverá o desenvolvimento de bactérias responsáveis pela produção de gases inodoros, como metana e gás carbônico. A porta da casinha deve estar sempre fechada e o buraco tampado quando a fossa estiver fora de uso. 3.1.2 – PRIVADA COM FOSSA ESTANQUE Consta de um tanque destinado a receber os dejetos, diretamente, sem descarga de água, em condições idênticas a privada de fossa seca. a) esta solução é adotada geralmente em: zonas de lençol muito superficial; zonas rochosas ou terrenos muito duros; terrenos facilmente desmoronáveis; lotes de pequenas proporções, onde há perigo de poluição de poços de suprimento de água. O tanque da fossa estanque deverá ter capacidade para armazenar até 1.000 litros de excretas e deve 23 ser construído de concreto ou alvenaria, e totalmente impermeabilizado. Para uma família de cinco pessoas, um tanque de 1.000 litros ficará cheio após o período de um ano. Nessa ocasião o tanque será esvaziado por uma tampa atrás da casinha; o material retirado será imediatamente enterrado, não se prestando para adubo. Figura 6 – Privada com fossa estanque 3.1.3 - PRIVADA COM FOSSA DE FERMENTAÇÃO (TIPO CYNAMON) Consta essencialmente de duas câmaras (tanques) contíguas e independentes destinadas a receber os dejetos, tal qual nas privadas de fossa seca. Apropriada para outros tipos de terrenos desfavoráveis à construção de privada de fossa seca. Para facilitar a compreensão do seu funcionamento, chama-se de I e II as duas câmaras: • Isolar a câmara II, vedando a respectiva tampa no interior da casinha; • Usar a câmara I, até esgotar a sua capacidade. Para uma família de seis pessoas, a câmara ficará cheia em um ano, aproximadamente; • Isolar a câmara I, vedando a respectiva tampa. O material acumulado sofrerá fermentação natural; • Usar a câmara II, até esgotar a sua capacidade. Durante o período de uso, o material da câmara I terá sido mineralizado; • Retirar o material da câmara I, removendo as respectivas tampas externas recolocando-as após. Por ocasião da limpeza, é necessário deixar pequena porção de material já fermentado, a fim de auxiliar o reinício da fermentação; • Isolar a câmara II e usar a câmara I, como anteriormente. 24 Figura 7 – Planta e corte transversal privada com fossa de fermentação Figura 8 – cortes transversal e longitudinal privada com fossa de fermentação 3.1.4 – PRIVADA QUÍMICA É constituída de um tanque cilíndrico, de aço inoxidável, contendo solução de soda cáustica (NaOH), destinado a receber os dejetos procedentes de uma bacia sanitária comum. Esse tanque é removível. Devido ao seu custo elevado, só é aplicável em circunstâncias especiais: acampamentos, colônias de férias, ônibus, aviões, etc. No funcionamento a soda cáustica no interior do cilindro, liquefaz o material sólido e destrói as bactérias, os ovos de helmintos e outros microorganismos. A dosagem recomendada é de 10kg de soda cáustica para 50 litros de água. Periodicamente, o tanque é esvaziado e reabastecido com nova porção de solução química. A OMS recomenda cuidados especiais nos pontos de recepção e esvaziamento, objetivando a saúde coletiva e a dos manipuladores. Devem os locais ter água quente e fria e o esvaziamento ser auxiliado por dispositivos mecânicos evitando o manuseio direto. No Quadro 03 – vantagens e desvantagens dos principais sistemas. 25 Quadro 03 – Vantagens e Desvantagens de sistema de T ratamento Individuais onde não possui água encanada TIPO DE SISTEMA VANTAGENS DESVANTAGENS PRIVADA COM FOSSA SECA • Baixo custo; • .Simples operação e manutenção; • Não consome água; • Risco mínimo à saúde; • Recomendada p/ áreas de baixa e média densidade • Aplicável a tipos variados de terrenos; • Permite o uso de diversos materiais de construção. • Imprópria para áreas de alta densidade; • Podem poluir o subsolo; • Requer solução para outras águas servidas. PRIVADA COM TANQUE ESTANQUE • Baixo custo; • Fácil construção; • Simples operação e manutenção; • Não consome água; • Mínimo risco à saúde; • Não polui o solo; • A solução poderá ser definitiva. • Imprópria para áreas de alta densidade; • Requer soluções para as outras águas servidas. PRIVADA COM FOSSA DE FERMENTAÃO (TIPO CYNAMON) • Pode ser adotada em todas as situações idênticas àquelas em que se aplica a fossa seca; • Pode ser aplicada em locais de lençol de água mais próximo da superfície, porque a profundidade das câmaras é de apenas 1,00m. Em casos mais difíceis, a privada poderá ser elevada do solo; • Também pode ser aplicada em terrenos rochosos em que a escavação poderá ser mais rasa, ficando as câmaras semi- enterradas; • Tem duração maior que a fossa seca. A solução é praticamente definitiva; • Encarecimento é relativamente pequeno em relação à fossa executada em terrenos de idênticas condições; apenas o custo da casinha será um pouco maior; • Volume de terra a ser escavado é o mesmo; • A escavação é mais fácil, já que as câmaras são mais rasas; • Em igualdade de condições de terreno, a quantidade de material usado no revestimento e o trabalho requerido é o mesmo. • Imprópria para áreas de alta densidade populacional; • Requer solução para outras águas servidas. Locais onde existe água encanada utilizam os seguintes sistemas: 3.1.5 – PRIVADA COM VASO SANITÁRIO Constade uma bacia especialmente construída para recolher os dejetos e permitir seu afastamento por um sistema de transporte hídrico. A bacia é dotada de sifão, o qual estabelece um fecho hidráulico que impede o refluxo de gases provenientes da rede de esgotos ou de outras instalações de destino final. A maioria das bacias tem forma especial com assento. O tipo denominado bacia turca possui pisadores onde o usuário apoia os pés ficando de cócoras. O vaso sanitário é geralmente construído de louça ou cerâmica esmaltada. Este material é o mais recomendado por ser de fácil limpeza e conservação. Desde que sejam asseguradas boas condições de resistência e facilidade de limpeza, pode- se instalar vasos sanitários rústicos, feitos de cimento e tijolos, barro vidrado ou cimento polido. 26 O uso da privada de vaso sanitário exige a instalação de dispositivos para a descarga de água. A solução recomendada é a caixa de descarga, a qual implica na existência de água encanada, é tolerável, nesse caso, dispor de depósito de água dentro da casinha da privada. Haverá sempre à mão uma vasilha, para que com ela a água seja jogada dentro do vaso. Em alguns casos esse dispositivo poderá ser utilizado para que a casinha possa também servir como local de banho. O esgoto doméstico (água residuária de atividade higiênica e/ou de limpeza), deve ser conduzido, preferencialmente, à rede pública de esgoto, quando houver dispositivos de tratamento no final da rede. Não havendo rede pública, o esgoto doméstico poderá ser levado a um tanque séptico ou tanque Imhoff e o efluente, desses tanques, poderá ser conduzido a sumidouro, vala de infiltração ou vala de filtração. Em condições especiais, o esgoto doméstico poderá ser ligado diretamente a um sumidouro ou poço absorvente. 3.2 – SISTEMAS COLETIVOS DE TRATAMENTO Tipos de sistemas a) Sistema unitário Consiste na coleta de águas pluviais, dos esgotos domésticos e dos despejos industriais em um único coletor. Além da vantagem de permitir a implantação de um único sistema, é vantajoso quando for previsto o lançamento do esgoto bruto, sem inconveniente em um corpo receptor próximo. No dimensionamento do sistema deve ser previstas as precipitações máximas com período de recorrência geralmente entre cinco e dez anos. Como desvantagem, apresenta custo de implantação elevado e problemas de deposições de material nos coletores por ocasião da estiagem. Quanto ao tratamento, o custo de implantação é também elevado tendo em vista que a estação deve ser projetada com capacidade máxima que, no sistema unitário, ocorre durante as chuvas. Outrossim, a operação é prejudicada pela brusca variação da vazão na época das chuvas, afetando do mesmo modo a qualidade do efluente. b) Sistema separador absoluto Neste sistema, o esgoto doméstico e o industrial ficam completamente separados do esgoto pluvial. É o sistema adotado no Brasil. O custo de implantação é menor que o do sistema anterior, em virtude das seguintes razões: • . As águas pluviais não oferecem o mesmo perigo que o esgoto doméstico, podendo ser encaminhadas aos corpos receptores (rios, lagos, etc.) sem tratamento; este será projetado apenas para o esgoto doméstico; • Nem todas as ruas de uma cidade necessitam de rede de esgotamento pluvial. De acordo com a declividade das ruas, a própria sarjeta se encarregará do escoamento, reduzindo assim, a extensão da rede pluvial; • Esgoto doméstico deve ter prioridade, por representar um problema de saúde pública. O diâmetro dos coletores é mais reduzido; • Nem todo esgoto industrial pode ser encaminhado diretamente ao esgoto sanitário. • Dependendo de sua natureza e das exigências regulamentares, terá que passar por tratamento prévio ou ser encaminhado à rede própria. • Sistema misto A rede é projetada para receber o esgoto sanitário e mais uma parcela das águas pluviais. A coleta dessa parcela varia de um país para outro. Em alguns países colhe- se apenas as águas dos telhados; em outros, um dispositivo colocado nas bocas de 27 lobo recolhe as águas das chuvas mínimas e limita a contribuição das chuvas de grande intensidade. 3.2.1 – SISTEMA PÚBLICO CONVENCIONAL Partes do sistema • Ramal predial: são os ramais que transportam os esgotos das casas até a rede pública de coleta; • Coletor de esgoto: recebem os esgotos das casas e outras edificações, transportando-os aos coletores tronco; • Coletor tronco: tubulação da rede coletora que recebe apenas contribuição de esgoto de outros coletores; • Interceptor: os interceptores correm nos fundos de vale margeando cursos d’água ou canais. São responsáveis pelo transporte dos esgotos gerados na sub-bacia, evitando que os mesmos sejam lançados nos corpos d’água. Geralmente possuem diâmetro maiores que o coletor tronco em função de maior vazão; • Emissário: são similares aos interceptores, diferenciando apenas por não receber contribuição ao longo do percurso; • Poços de visita (PV): são câmaras cuja finalidade é permitir a inspeção e limpeza da rede. Os locais mais indicados para sua instalação são: 1. Início da rede; 2. Nas mudanças de: (direção, declividade, diâmetro ou material), nas junções e em trechos longos. Nos trechos longos a distância entre PVs deve ser limitada pelo alcance dos equipamentos de desobstrução. • Elevatória: quando as profundidades das tubulações tornam-se demasiadamente elevadas, quer devido à baixa declividade do terreno, quer devido à necessidade de se transpor uma elevação, torna-se necessário bombear os esgotos para um nível mais elevado. A partir desse ponto, os esgotos podem voltar a fluir por gravidade. • Estação de Tratamento de Esgotos (ETE): a finalidade da ETE é a de remover os poluentes dos esgotos, os quais viriam causar uma deterioração da qualidade dos cursos d.água. Um sistema de esgotamento sanitário só pode ser considerado completo se incluir a etapa de tratamento. A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), pode dispor de alguns dos seguintes itens, ou todos eles: • Grade; • Desarenador; • Sedimentação primária; • Estabilização aeróbica; • Filtro biológico ou de percolação; • Lodos ativados; • Sedimentação secundária; • Digestor de lodo; • Secagem de lodo; • Desinfecção do efluente. • Disposição final: após o tratamento, os esgotos podem ser lançados ao corpo d.água receptor ou, eventualmente, aplicados no 28 solo. Em ambos os casos, há que se levar em conta os poluentes eventualmente ainda presentes nos esgotos tratados, especialmente organismos patogênicos e metais pesados. As tubulações que transportam estes esgotos são também denominadas emissário. Figura 9 – Fluxograma do sistema de tratamento de esgoto público 3.2.1.1 – TECNOLOGIAS PARA TRATAMENTO DE ESGOTOS SA NITÁRIOS No campo de tecnologias para o tratamento de esgotos sanitários, a escolha entre as diversas alternativas disponíveis é ampla e depende de diversos fatores, dentre eles, podem ser citados: • Área disponível para implantação da ETE; • Topografia dos possíveis locais de implantação e das bacias de drenagem e esgotamento sanitário; • Volumes diários a serem tratados e variações horárias e sazonais da vazão de esgotos; • Características do corpo receptor de esgotos tratados; • Disponibilidade e grau de instrução da equipe operacional responsável pelo sistema; • Disponibilidade e custos operacionais de consumo de energia elétrica; • Clima e variações de temperatura da região; • Disponibilidade de locais e/ou sistemas de reaproveitamento e/ou disposição adequados dos resíduos gerados pela ETE. O tratamento de esgotos pode ser dividido em níveis de acordo com o grau de remoção de poluentes ao qual se deseja atingir. 29 O tratamento preliminar destina-se a remoção de sólidos grosseiros em suspensão ( materiaisde maiores dimensões e o sólidos decantáveis como areia e gordura). São utilizados apenas mecanismos físicos (gradeamento e sedimentação por gravidade) como método de tratamento. Esta etapa tem a finalidade de proteger as unidades de tratamento subseqüentes e dispositivos de transporte como por exemplo bombas e tubulações, além de proteção dos corpos receptores quanto aos aspectos estéticos. O tratamento primário além dos sólidos sedimentáveis remove também uma pequena parte da matéria orgânica, utilizando-se de mecanismos físicos como método de tratamento. O tratamento secundário , geralmente constituído por reator biológico, remove grande parte da matéria orgânica, podendo remover parcela dos nutrientes como nitrogênio e fósforo. Os reatores biológicos empregados para essa etapa do tratamento reproduzem os fenômenos naturais da estabilização da matéria orgânica que ocorreriam no corpo receptor. O tratamento terciário , nem sempre presente, geralmente constituído de unidade de tratamento físico-químico, tem como finalidade a remoção complementar da matéria orgânica, dos nutrientes, de poluentes específicos e a desinfecção dos esgotos tratados. De acordo com a área, com os recursos financeiros disponíveis e com o grau de eficiência que se deseja obter, um ou outro processo de tratamento pode ser mais adequado. A estimativa de eficiência esperada nos diversos níveis de tratamento incorporados numa ETE pode ser avaliada no Quadro 04. Quadro 04 – Estimativa da eficiência esperada nos d iversos níveis de tratamento incorporados numa ETE. Tipo de tratamento Matéria orgânica (% remoção de DBO) Sólidos em suspensão (% remoção SS) Nutrientes (% remoção nutrientes) Bactérias (% remoção) Preliminar 5 – 10 5 –20 Não remove 10 – 20 Primário 25 –50 40 –70 Não remove 25 –75 Secundário 80 –95 65 –95 Pode remover 70 – 99 Terciário 40 - 99 80 – 99 Até 99 Até 99,999 Fonte: (CETESB, 1988) Algumas das principais tecnologias utilizadas para tratamento de esgotos sanitários estão descritas nos itens apresentados nos demais arquivos. Tecnologias utilizadas Tratamento Preliminar • Gradeamento manual e mecanizada, • Peneira estática e rotativas, • Remoção de areia manual e mecanizada, • Remoção de areia com sistema de ar, • Separação de óleo manual e mecanizada, • Equipamentos de separação de água e óleo. 30 Tratamento Primário • Sedimentação, • Flotação, • Equalização. Tratamento Físico Químico • Coagulação/Floculação, • Precipitação Química, • Oxidação, e • Neutralização. Tratamento Secundário (Biológicos) Anaeróbios: • Reator Anaeróbio de fluxo ascendente (RAFA), • Digestor híbrido (enchimento plástico aleatório) • Digestor de lodo biológico • Lagoa de fluxo ascendente de alta carga Aeróbios: • Lodo ativado convencional (aeração mecanizada), • Lodo ativado aeração prolongada com decantação interna, • Leito fixo – reator rotativo (Biodisco), • Filtro aerado submerso – enchimento plástico, • Filtro biológico aeróbio de alta taxa, • Lagoas aerada e de establização, • Fitodepuração – Leito filtrante/brita com plantas. Composição de tecnologias - Sistema Misto: • RAFA com reator rotativo (Biodisco), • RAFA com filtro aerado submerso, • RAFA com filtro aeróbio de alta taxa, • Digestor híbrido + filtro aerado submerso, • Lagoas anaeróbias, facultativas, aerada, fotossintética. Tratamento Terciário (avançado) • Adsorção por carvão ativado, • Troca iônica, • Osmose reversa, • Eletrodiálise, • Remoção de nutrientes (Nitrificação/Desnitrificação), Tratamento de Lodos • Leito de secagem, • Centrifugação, • Filtros prensa, • Filtros à Vácuo, • Digestão Aeróbia, • Digestão Anaeróbia, • Incineração, e • Disposição no solo. 31 3.2.1.2 – DISPOSITIVOS DE TRATAMENTO 3.2.1.2.1 – TRATAMENTO PRELIMINAR Gradeamento: com o objetivo da remoção de sólidos grosseiros capazes de causar entupimentos e aspecto desagradável nas unidades do sistema de tratamento são utilizadas grades mecânicas ou de limpeza manual. O espaçamento entre as barras varia normalmente entre 0,5 e 2 cm. Desarenador: retirada de sólidos decantáveis (areia), com isso impede que estes resíduos causem problemas principalmente de asssoreamento das unidades de tratamento a jusante de sua instalação, podem ser retangulares ou circulares como o exemplo abaixo: 32 LEGENDA: 1) Descarga 2) Lavador de areia 3) Conjunto de acionamento 4) Conjunto de acionamento central 5) Guarda corpo 6) Passadiço 7) Removedor mecanizado 8) Rosca transportadora 9) Defletor regulável 10) Mancal de fundo 3.2.1.2.2 – TRATAMENTO PRIMÁRIO DECANTADORES O processo de sedimentação é uma das etapas de clarificação, devendo ser aplicado conforme as características de cada efluente e do processo de tratamento. No caso dos processos que gerem lodos orgânicos deve-se evitar a permanência exagerada desses no fundo dos decantadores para reduzir a sua anaerobiose e a conseqüente formação de gases que causam a flutuação de aglomerados de lodos. Isto pode ocorrer por simples anaerobiose com a formação de metano e gás carbônico e pela desnitrificação com a redução dos íons nitratos a gás nitrogênio. Pode ocorrer também a formação de gás sulfídrico pela redução do íon sulfato. 33 A sedimentação é um processo físico, logo se deve evitar nos decantadores as condições para ocorrência da atividade microbiana. Nos casos de lodos originados nos processos químicos ou com efluentes originados em processos industriais inorgânicos pode-se admitir um tempo de retenção maior dos lodos no fundo dos decantadores. Os decantadores apresentam diversas formas construtivas e de remoção de lodo, com ou sem mecanização. Os decantadores podem ser circulares ou retangulares, com limpeza de fundo por pressão hidrostática ou com remoção de lodo mecanizada por raspagem ou sucção. No caso da presença de escumas (materiais flutuantes), é necessário um removedor de escuma. Como qualquer outra unidade de tratamento os tanques de decantação são projetados para um equipamento específico ou sistema de limpeza, não sendo viáveis alterações posteriores ao projeto. Decantador circular com raspador de Lodo 34 3.2.1.2.3 – TRATAMENTO SECUNDÁRIO LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO São unidades que retêm os esgotos por um período de tempo suficiente para que seja estabilizada a matéria orgânica por processos biológicos, portanto naturais, principalmente pela ação de algas e bactérias. As lagoas de estabilização podem ser facultativas, anaeróbias, aeróbias ou de maturação. A associação dos vários modelos, em série, ou a utilização de lagoas como pós-tratamento de outros sistemas é muito vantajosa e altamente eficiente em termos de redução de carga orgânica poluente. A operação das lagoas de estabilização, apesar de simples, não deve ser negligenciada. Existem procedimentos de operação e manutenção que devem ser executados dentro de uma determinada rotina, sem a qual ocorrerão problemas ambientais e redução na eficiência do tratamento. As lagoas de estabilização são consideradas como uma das técnicas mais simples de tratamento de esgotos. Dependendo da área disponível, topografia do terreno e grau de eficiência desejado, podem ser empregados os seguintes tipos de sistemas de lagoas de estabilização: • Lagoas facultativas • Sistema de lagoas anaeróbias seguidas por lagoas facultativas (Sistema Australiano) • Lagoas aeradas facultativas • Sistema de lagoas aeradas de mistura completa seguida por lagoas de decantação Um outro tipo de lagoa empregada no tratamento de esgoto é a lagoa de maturação. Porém esta tem como objetivo a remoção de patogênicos ao contrário das demais citadas que são destinadas a remoção de matéria orgânica. As principais vantagensde um sistema de lagoas são: a facilidade de construção, operação e manutenção e respectivos custos reduzidos, além da sua satisfatória resistência a variações de carga. Uma grande desvantagem é a necessidade de grandes áreas para a construção. (SPERLING,1996) LAGOAS FACULTATIVAS O processo de tratamento por lagoas facultativas é muito simples e constitui-se unicamente por processos naturais. Estes podem ocorrer em três zonas da lagoa: zona anaeróbia, zona aeróbia e zona facultativa. O efluente entra por uma extremidade da lagoa e sai pela outra. Durante este caminho, que pode demorar vários dias, o esgoto sofre os processos que irão resultar em sua purificação. Após a entrada do efluente na lagoa, a matéria orgânica em suspensão (DBO particulada) começa a sedimentar formando o lodo de fundo. Este sofre tratamento anaeróbio na zona anaeróbia da lagoa. Já a matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e a em suspensão de pequenas dimensões (DBO finamente particulada) permanecem dispersas na massa líquida. Estas sofrerão tratamento aeróbio nas zonas mais superficiais da lagoa (zona aeróbia). Nesta zona há necessidade da presença de oxigênio. Este é fornecido por trocas gasosas da superfície líquida com a atmosfera e pela fotossíntese realizada pelas algas presentes, fundamentais ao processo. Para isso há necessidade de suficiente iluminação solar, portanto, estas lagoas devem ser implantadas em lugares de baixa nebulosidade e grande radiação solar. Na zona aeróbia há um equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio e gás carbônico. Enquanto as bactérias produzem gás carbônico e consomem oxigênio através da respiração, as algas produzem oxigênio e consomem gás carbônico na realização da fotossíntese. As reações são praticamente as mesmas com direções opostas: 35 Fotossíntese: CO2 + H2O + Energia Solar ==> Matéria Orgânica + O2 Respiração: Matéria Orgânica + O2 ==> CO2 + H2O +Energia À medida que se afasta da superfície da lagoa a concentração de oxigênio diminui devido a menor ocorrência da fotossíntese. Também durante a noite não há realização de fotossíntese, enquanto que a respiração continua ocorrendo. Esta zona, onde pode ocorrer ausência ou presença de oxigênio é denominada zona facultativa. Nela a estabilização de matéria orgânica ocorre por meio de bactérias facultativas, que podem sobreviver tanto na ausência quanto na presença de oxigênio. As lagoas facultativas dependem da fotossíntese para a produção de oxigênio, como já foi dito anteriormente. Desta forma, a eficiência desse tipo de sistema de tratamento depende da disponibilidade de grandes áreas para que a exposição à luz solar seja adequada, podendo a chegar a valores de 70 a 90 % de remoção de DBO. Como a atividade fundamental do processo consiste no desenvolvimento das algas e estas da presença de luz, as profundidades das lagoas restringem-se a valores variáveis entre 1,5 e 2,0 m, porém, com volumes elevados, de forma a permitir a manutenção de grandes períodos de detenção, em geral de 15 a 20 dias. LAGOAS DE SEDIMENTAÇÃO São unidades que retêm os sólidos, promovendo a sua estabilização anaeróbia no fundo da lagoa, de modo a se obter um efluente final com baixos teores de DBO e de sólidos em suspensão. Funcionam praticamente como um decantador onde não existe remoção contínua do lodo sedimentado. SISTEMAS DE LAGOAS ANAERÓBIAS SEGUIDAS POR LAGOAS FACULTATIVAS (SISTEMA AUSTRALIANO) Este sistema de tratamento de esgoto constituído por lagoas anaeróbias seguidas por lagoas facultativas, também conhecidas como sistema australiano. As lagoas anaeróbias é normalmente profunda, variando entre 4 a 5 metros. A profundidade tem a finalidade de impedir que o oxigênio produzido pela camada superficial seja transmitido às camadas inferiores. Para garantir as condições de anaerobiose é lançada uma grande quantidade de efluente por unidade de volume da lagoa. Com isto o consumo de oxigênio será superior ao reposto pelas camadas 36 superficiais. Como a superfície da lagoa é pequena comparada com sua profundidade, o oxigênio produzido pelas algas e o proveniente da reaeração atmosférica são considerados desprezíveis. No processo anaeróbio a decomposição da matéria orgânica gera subprodutos de alto poder energético (biogás) e, desta forma, a disponibilidade de energia para a reprodução e metabolismo das bactérias é menor que no processo aeróbio. A eficiência de remoção de DBO por uma lagoa anaeróbia é da ordem de 50% a 60%. Como a DBO efluente é ainda elevada, existe a necessidade de uma outra unidade de tratamento. Neste caso esta unidade constitui-se de uma lagoa facultativa, porém esta necessitará de uma área menor devido ao pré-tratamento do esgoto na lagoa anaeróbia. O sistema lagoa anaeróbia + lagoa facultativa representa uma economia de cerca de 1/3 da área ocupada por uma lagoa facultativa trabalhando como unidade única para tratar à mesma quantidade de esgoto. Devido à presença da lagoa anaeróbia, maus odores, provenientes da liberação de gás sulfídrico, podem ocorrer como conseqüência de problemas operacionais. Por este motivo este sistema deve ser localizado em áreas afastadas, longe de bairros residenciais. (SPERLING,1996) . LAGOAS AERADAS FACULTATIVAS A principal diferença entre este tipo de sistema e uma lagoa facultativa convencional é que o oxigênio, ao invés de ser produzido por fotossíntese realizada pelas algas, é fornecido por aeradores mecânicos. Estes constituem-se de equipamentos providos de turbinas rotativas de eixo vertical que causam um grande turbilhonamento na água através de rotação em grande velocidade. O turbilhonamento da água facilita a penetração e dissolução do oxigênio. Tendo em vista a maior introdução de oxigênio na massa líquida do que é possível numa lagoa facultativa convencional, há uma redução significativa no volume necessário para esse tipo de sistema, sendo suficiente um tempo de detenção hidráulica variando entre 5 a 10 dias, e como conseqüência, o requisito de área é menor. O grau de energia introduzido na lagoa através dos aeradores é suficiente apenas para a obtenção de oxigênio, porém não é suficiente para a manutenção dos sólidos em suspensão e bactérias dispersos na massa líquida. Portanto ocorre sedimentação da matéria orgânica formando o lodo de fundo que será estabilizado anaerobiamente como em uma lagoa facultativa convencional. A lagoa aerada pode ser utilizada quando se deseja um sistema predominantemente aeróbio e a disponibilidade de área é insuficiente para a instalação de uma lagoa facultativa convencional. Devido à introdução de equipamentos eletro-mecânico a complexidade e manutenção operacional do sistema é aumentada, além da necessidade de consumo de energia elétrica. A lagoa aerada pode também ser uma solução para lagoas facultativas que operam de forma saturada e não possuem área suficiente para sua expansão. (SPERLING,1996) SISTEMAS DE LAGOAS AERADAS DE MISTURA COMPLETA SEGU IDAS POR LAGOAS DE SEDIMENTAÇÃO O grau de energia introduzido é suficiente para garantir a oxigenação da lagoa e manter os sólidos em suspensão e a biomassa dispersos na massa líquida. Devido a isto, o efluente que sai de uma lagoa aerada de mistura completa, possui uma grande quantidade de sólidos suspensos e não é adequado para ser lançado diretamente no corpo receptor. Para que ocorra a sedimentação e estabilização destes sólidos é necessária à inclusão de unidade de tratamento complementar, que neste caso são as lagoas de decantação. O tempo de detenção nas lagoas aeradas é da ordem de 2 a 4 dias e nas lagoas de decantação da ordem de 2 dias. O acumulo de lodo nas lagoas de decantação é baixo e sua remoção geralmente é feita com intervalos de 1 a 5 anos. Este sistema ocupa uma menor área que outros sistemas compostos por lagoas. Os requisitos energéticos
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