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ESTUDO DE UMA EDIFICAÇÃO DE VALOR HISTÓRICOESTÉTICO_O CASO DA RESIDÊNCIA JOSÉ GONÇALVES DANTAS 1955

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6º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação 
Belo Horizonte/MG de 20 a 22 de novembro de 2019. 
 
 
ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO: A PESQUISA NA ÁREA DA 
HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO 
ESTUDO DE UMA EDIFICAÇÃO DE VALOR HISTÓRICO/ESTÉTICO: 
O CASO DA RESIDÊNCIA JOSÉ GONÇALVES DANTAS (1955). 
MIRANDA, MAYDA B. (1); PINHEIRO, DANILO M. (2); MATIAS, RAPHAELA DOS 
S. (3); FREIRE, LUCAS R. (4) 
 
 
1. Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. 
Praça Samuel de Oliveira, 1 - Centro, Laranjeiras - SE, 49170-000 
mayda_barbosa@hotmail.com 
 
2. Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. 
Praça Samuel de Oliveira, 1 - Centro, Laranjeiras - SE, 49170-000 
danilomlp@bol.com.br 
 
3. Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. 
Praça Samuel de Oliveira, 1 - Centro, Laranjeiras - SE, 49170-000 
karolinersvm@gmail.com 
 
4. Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. 
Praça Samuel de Oliveira, 1 - Centro, Laranjeiras - SE, 49170-000 
lucasfreire201290@gmail.com 
 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho procura demonstrar através de uma análise teórica, o valor patrimonial-histórico 
da Residência José Gonçalves Dantas, cujo projeto data de 1955, e está localizada na Rua Vila 
Cristina, epicentro da contextualização da arquitetura moderna na cidade de Aracaju (SE), a partir da 
sua expansão urbana. Partindo de uma pesquisa sobre o objeto de estudo e com base nas teorias de 
restauro, teve-se a intenção de formular um aparato de documentação conceitual capaz de fornecer 
as informações necessárias para a catalogação do mesmo como patrimônio arquitetônico. Baseado 
nos valores patrimoniais estabelecidos por Alois Riegl (2014) e Cesare Brandi (2004), a edificação foi 
analisada a partir de seu projeto original, levantamento cadastral, croquis e registros fotográficos que 
compõem o estudo técnico, estético e histórico da mesma. Apesar do objeto analisado não 
apresentar uma configuração projetual estritamente moderna, possui características modernistas 
fundamentais para a valoração histórica desse movimento na conjuntura aracajuana da época. 
Palavras-chave: Arquitetura Moderna, Patrimônio Arquitetônico, Valoração Histórica. 
 
 
 
 
Introdução 
Esta pesquisa se refere à exposição de um estudo realizado sobre o aspecto patrimonial da 
Residência José Gonçalves Dantas, projetada em 1955, compondo o pioneirismo da 
estética moderna no cenário de Aracaju, capital de Sergipe. Por ser uma obra advinda de 
um desenhista em um processo de introdução do modernismo na arquitetura sergipana, sua 
composição não alcança todos os parâmetros para se enquadrar neste movimento. Para 
sua análise como acervo do patrimônio material da cidade, este trabalho busca verificar sua 
valoração além do semblante estético desta obra, aprofundando-se desta forma na sua 
importância dentro do contexto em que se insere a partir das características proto-modernas 
que a mesma apresenta. 
Para tanto, foi feito uma pesquisa sobre a relação de tal movimento no âmbito nacional e 
local, seguido pela consulta da visão dos teóricos Alois Riegl (2014) e Cesare Brandi (2004), 
culminando em uma exploração in loco onde croquis e fotografias foram registrados para o 
ensaio da morfologia da edificação. Assim sendo este trabalho demonstrará que a 
classificação de uma edificação como patrimônio material deve ir além das suas 
características formais, sendo imprescindível a erudição acerca da expressividade 
arquitetônica da mesma no ambiente em que se encontra. 
Arquitetura Modernista 
Contexto Nacional 
 O estilo modernista foi apreciado em território brasileiro pela primeira vez a partir da 
Semana de Arte Moderna de 1922, que se apresentou como um movimento de vanguarda 
artística que desnudava a ruptura estilística já vigente na Europa Ocidental desde o final da 
Primeira Guerra Mundial. O modernismo brasileiro passou a ser fomentado a partir do 
movimento ocorrido em 1930 que se desdobrou sob três aspectos relevantes a esta análise: 
a) em termos políticos, no governo Getúlio Vargas; b) em termos econômicos: no incentivo à 
industrialização; c) em termos culturais, à nomeação de Lucio Costa para a direção da 
Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. A partir desse período as obras públicas de grande 
vulto passaram a ser fomentadoras da arquitetura moderna e de sua interferência na 
paisagem urbana, movimento manifestado pelo concurso para o Ministério da Educação e 
da Saúde (Rio de Janeiro, 1935), passou pelo Complexo da Pampulha (Belo Horizonte, 
1942) e teve como ápice o concurso para a nova capital federal (Brasília, 1956). Esse novo 
tratamento conferido pelo movimento modernista à arquitetura brasileira combinou 
elementos característicos já vigentes na Europa Ocidental com elementos desenvolvidos no 
Brasil que garantiram a adequação climática e cultural. Por um lado cultivou-se a ideia da 
eliminação dos adornos e da adequação da forma à função aliada ao uso de pilotis, terraços 
 
 
 
 
jardim, panos de vidro, janelas em fita e brise-soleil. Por outro lado, dois elementos 
passaram a compor intensivamente o repertório arquitetônico brasileiro: os revestimentos de 
painéis de azulejaria e os elementos vazados que permitiam ventilação e iluminação 
naturais (cobogós). Benevolo (2016) descreve o rigor estilístico modernista empreendido no 
Ministério da Educação e da Saúde: 
Essa é, de fato, a primeira realização de um tipo de edificação que Le 
Corbusier de há muito cogitava – o arranha-céu cartesiano, com função 
direcional, em vão projetado para Paris, Argel, Nemours , Buenos Aires – e 
aqui estão rigorosamente aplicados todos os princípios de seu ideário 
arquitetônico: os pilotis, o terraço jardim, o pan de verre, o brise-soleil. 
(Benevolo, 2016. p. 712) 
 Já Cordeiro manifesta a adequação do estilo modernista referendada pelas necessidades 
bioclimáticas locais: 
No entanto, analisando a história da arquitetura moderna no Brasil, 
especialmente entre as décadas de 1930 e 1960, ficam evidentes as 
características de adaptação bioclimática, das quais se pode destacar o 
emprego de quebra-sois e cobogós, amplamente adotados por arquitetos 
desse período. (Cordeiro, 2018, p. 49) 
Contexto Aracajuano 
Esta situação política de evolução não se diferencia em Sergipe, neste período Aracaju 
conta com a construção de importantes edificações da cidade. Nos anos de 1950 a maioria 
das cidades que carregam o título de capital do estado, terá seus limites físicos e seu 
cenário modificados. Impulsionadas pela crescente migração de contingentes populacionais 
do campo para a cidade, novos bairros irão surgir. A solicitação por novos espaços de morar 
aliado ao discurso de progresso e modernização irão paulatinamente inserir no cenário 
urbano novas residências e além delas o edifício alto, todos eles com um repertório formal 
moderno. 
No contexto acima apresentado a expansão do tecido urbano se apresenta como uma 
necessidade. Em Aracaju essa irá ocorrer em dois eixos, um ao leste que será destinado à 
população menos abastada o outro ao sul reservado à população de maior poder aquisitivo. 
Assim, banhado pelo Rio Sergipe surge o bairro São José, que desde os primeiros tempos 
foi dotado de infraestrutura e pavimentação pela prefeitura da cidade. Segundo NERY e 
ARAGÃO (2007), essa é uma “área privilegiada na primeira grande expansão qualificada da 
cidade”, reflexo disso são as dimensões dos lotes encontrados. 
Segundo NERY (2003), o crescimento populacional e geográfico da cidade é impulsionado 
pelo enfraquecimento das atividades agrícolas e portuárias, em contraponto com a 
crescente atividade industrial e têxtil. Contando também com a descoberta do petróleo no 
estado em 1963, instalando assim a Petrobrás, ingressa com a empresa funcionários de 
 
 
 
 
poder aquisitivo compatível com aimplantação de serviços bancários, de transporte e 
imobiliário. Esse movimento provocou uma expansão da cidade em dois eixos, um a oeste 
da região central e o outro a sul. A oeste, seguindo o eixo rodoviário se instala a população 
menos favorecida. Enquanto ao sul originou-se o bairro São José, uma região provida pela 
urbanização realizada pela prefeitura da cidade, ocupada pela população mais abastada. 
Onde está localizada a edificação que é objeto de estudo desse trabalho: Residência José 
Gonçalves Dantas. 
É possível inferir que as principais influências para a composição formal da residência em 
foco são oriundas das experimentações do Rio de Janeiro e mais expressivamente de 
Recife, cidade que assim como Aracaju localiza-se no Nordeste brasileiro e por esse motivo 
apresenta características climáticas, econômicas e de desenvolvimento semelhantes. As 
características formais e estéticas da edificação resultam dos símbolos que compõem o 
vocabulário da Arquitetura Moderna. É importante ressaltar que se trata de uma 
experimentação formal ainda em processo de maturação e que diferente dos resultados 
obtidos no eixo composto por Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais não estão no grupo 
de obras onde essa modernidade constitui um movimento formado. 
Visão Teórica 
Alois Riegl (2014) 
 A criação e a conservação de monumentos constituem-se num mecanismo de preservação 
cultural, artisticamente e historicamente datado e localizado, valendo-se como instrumento 
de transmissão das memórias entre gerações. Sob essa perspectiva, Riegl (2014) classifica 
a valoração do patrimônio considerando duas abordagens fundamentais, quais sejam as 
valorações artística e histórica. Por um lado o valor artístico é tradicionalmente identificado 
por características atribuídas “às suas propriedades de concepção, forma e cor” (Riegl, 2014, 
p.34) que traduzem os critérios objetivos de adequação estética, modernamente 
relativizados pelo entendimento de que a percepção dessa valoração varia nos diferentes 
momentos históricos. Por outro lado, atribui valor histórico às referências que demonstram a 
evolução do modo de vida humano, em suas palavras “tudo o que foi e não é mais nos dias 
de hoje” (Riegl, 2014, p. 32), mas que guarda importância para a compreensão da sucessão 
de eventos da atividade humana ao longo do tempo. Dessa forma, há que se verificar sob 
essa perspectiva, que o fator tempo guarda relevância excepcional na compreensão e 
valoração do patrimônio, alcançando inclusive, o valor das modificações que a obra sofreu 
ao longo do tempo decorrido e a sua percepção pela atividade humana não restrita à 
intelectualidade, conforme se verifica a seguir: 
 
 
 
 
O monumento apresenta-se como não mais do que um substrato – evidente 
e inevitável – para evocar no observador contemporâneo a representação 
do ciclo da gênese e do desaparecimento, o surgimento do indivíduo para 
além da generalidade e a sua dissolução gradual no universo, premido pela 
natureza. Desde que essa evocação não pressuponha experiências 
científicas, nem exija para a sua satisfação, quaisquer conhecimentos 
adquiridos por intermédio da formação histórica, mas seja provocada 
unicamente por uma percepção física, que se exterioriza por uma sensação; 
ela pode ser compartilhada não apenas pelos homens cultos, para os quais 
a conservação dos monumentos fica necessariamente limitada aos 
históricos, mas estender-se também para as massas, para todos os homens 
sem distinção de formação intelectual. (Riegl, 2014, p. 38) 
Cesare Brandi (2004) 
A partir das postulações de Brandi (2004), foi possível identificar e aferir o valor estético do 
objeto. Segundo o autor a obra de arte se apresenta como um ato mental que se manifesta 
em imagem tendo como veículo de transmissão a matéria. Entendemos que a residência 
com sua composição prismática e carregada de elementos do vocabulário moderno – os 
elementos vazados, sendo o da fachada norte uma construção amebóide, forma encontrada 
com recorrência no paisagismo de Burle Marx, além do telhado invertido conhecido também 
como borboleta– é fruto do desejo de modernização que se faz presente não apenas no 
proprietário que encomendou o projeto, mas em uma grande parte da população que vê na 
arquitetura residencial um meio para alcançar os ideais disseminados no período. Assim, a 
modernidade se apresenta como ideia e utiliza da matéria para se expressar. Quando essa 
expressão toma forma resulta em obras como essa a qual estamos analisando. Brandi 
(2004) entende a obra de arte (o objeto) como imagem material que responde e interage 
com a percepção do observador, e o reconhecimento desta percepção deve ser apoiado na 
análise dos aspectos físicos, da figura estética com suas particularidades, e as mudanças e 
significados agregados ao longo do tempo (historicidade) gerando um juízo de valor que 
estabelece as diretrizes para a preservação do objeto, mantendo dentro do possível a 
“essência primeira do objeto”, mas também preservando suas marcas (pátina). 
Análise da Edificação 
Estudo Técnico, Estético e Histórico. 
A residência José Gonçalves Dantas, teve seu projeto aprovado em 1955 pela Prefeitura De 
Aracaju. Foi um ano de grande importância para a cidade que completou seu centenário. 
Em seu cartão de lembrança já apresentava edificações de cunho modernista na Rua João 
Pessoa e Art Déco na delegacia fiscal (ver Figura 01). 
 
 
 
 
 
Figura 01: Lembrança do centenário de Aracaju, onde aparecem obras do movimento moderno, 
como o Hotel Palace e a delegacia fiscal representando o Art Decó. 
Fonte:<https://www.facebook.com/AracajuAntigaMinhaTerraSerigy/photos/a.221108811356000.56849
.221106918022856/221113178022230/?type=3&theater>.Acesso em 06 de agosto de 2018. 
A antiga Residência José Gonçalves Dantas, utilizada atualmente como Centro de Apoio 
Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP), localiza-se no Bairro São José, especificamente na 
Rua Vila Cristina, n° 194 (esquina com a Rua Senador Rollemberg). O CAP, não foi o uso 
proposital desta edificação, inicialmente de caráter residencial. Foi projetada e construída 
por seu proprietário, mas o desenho em seu projeto original é assinado pelo desenhista 
Walter Freire Barros, responsável por algumas obras de natureza modernista na cidade. 
Não existem muitos relatos históricos antigos da obra, no entanto a função atual da mesma 
já completa 10 anos segundo a Prefeitura de Aracaju. Devido aos poucos usos 
diferenciados, a edificação passou por poucas intervenções degradatórias, mas é importante 
ressaltar a discrepância construtiva apresentada entre seu projeto e sua condição atual, esta 
por sua vez pressupostamente em seu processo de execução. 
 
Figura 02: Localização e Situação Fonte: https://www.google.com.br/maps. Acesso em: 02 de agosto 
2018. LAPEM, 2018. 
 
 
 
 
O bairro São José - onde está implantada a edificação - se encontra ao sul do Centro, sítio 
inicial da ocupação da cidade de Aracaju fundada em 17 de Março de 1855 e representa 
uma das primeiras áreas de expansão da cidade. Ela está localizada no cruzamento das 
ruas Vila Cristina e Senador Rollemberg, em seu entorno o que se nota é a presença de 
outros elementos arquitetônicos expressivos e relevantes para a história da cidade. São eles 
o terreno onde se localizava a Associação Atlética de Aracaju, o Colégio Atheneu 
Sergipense e o Edifício Atalaia, primeiro arranha céu da cidade construído em 1958. A 
existência desses prédios indica para o tipo de ocupação do bairro e o público ao qual se 
buscava atender. Na figura 02 relatamos também o caso do isolamento da edificação no 
lote, deslocando as fachadas do limite e dando a este uma leitura de objeto isolado. É 
preciso ressaltar que esse resultado só se torna possível por conta das dimensões 
generosas do lote (14,00 X 31,00 m). Por estar localizado numa esquina, o projeto previu 
um recuo no pavimento térreocriando assim um diálogo da residência com o tecido urbano 
em que se encontra. 
 
Figura 03: Croqui de estudos “In situ”; fotos do recuo e do espelho d’água. Fonte: Autores, 2018. 
A composição da edificação parte do volume prismático característico das obras do 
movimento Moderno e que corrobora para a leitura unitária do objeto. A residência 
apresenta uma volumetria prismática gerada a partir das platibandas que embutem o 
telhado invertido. Suas fachadas apresentam poucos elementos ornamentais, dentre eles os 
frisos horizontais que percorrem toda a edificação, conferindo destaque à altura das janelas. 
O nível do pavimento térreo foi elevado em 60 cm em relação ao nível da rua. Essa 
elevação junto com a configuração da cobertura atribuiu à edificação um destaque para a 
sua verticalidade, como se pode observar na figura 03. Ocorre, entretanto, que essa relação 
 
 
 
 
da edificação com a rua encontra no muro uma barreira visual que dificulta o diálogo 
descrito. O recuo no pavimento térreo apoiado num pilar de seção circular, que a despeito 
de não traduzir o térreo livre das edificações modernistas apoiadas em pilotis, a elas fazem 
referência. A presença do espelho d’água concebido durante a execução do projeto é outro 
elemento de vocabulário moderno ressaltado neste ponto. 
 
 
Figura 04: Planta-baixa térreo em projeto original e levantamento cadastral. Escada interna 
engastada. Esquadria interna como divisória. Fonte: LAPEM, 2018; Autores, 2018. 
Há poucas discrepâncias entre a planta-baixa do projeto original e a elaborada a partir do 
levantamento cadastral, muito relacionado ao fato de atualmente possuir um uso diferente 
do original, tendo assim apenas as alterações quanto às atribuições dos cômodos. Como se 
trata de uma obra de caráter experimental, não há ainda uma composição de planta livre 
como o previsto dentro do modernismo, no entanto há detalhes como a presença dessa 
escada engastada que já demonstra uma evolução da técnica construtiva, atrai leveza com 
seu balanço e contrasta com o revestimento de pedra também presente na área externa da 
edificação. Muito se deve ao uso do concreto armado em sua estrutura que aparece como 
outra novidade no cenário aracajuano da década de 1950. No canto esquerdo (ver Figura 
04) temos uma esquadria interna, cujo o detalhe orgânico se repete na maioria delas, sua 
composição em madeira e vidro proporcionam permeabilidade visual e atua como divisória 
dos ambientes, já prevista no projeto original. 
 
 
 
 
 
Figura 05: Planta-baixa 1º pav em projeto original e levantamento cadastral. Esquadria interna folha 
dupla. Piso de taco original. Fonte: LAPEM, 2018; Autores, 2018. 
Já em relação ao pavimento superior, o levantamento cadastral constata o cômodo 
acrescido durante a construção do projeto (ver Figura 05, direita superior) que é 
responsável por formular um de seus principais elementos modernos, o telhado que será 
demonstrado mais à frente. Fora isso, as alterações são as mesmas relatadas na planta do 
pavimento térreo (ver Figura 04, direita superior). De acordo com a figura 05, à esquerda 
temos as esquadrias de folha dupla, confeccionadas em madeira e vidro, onde para o lado 
de fora se apresentam com venezianas, garantindo privacidade e auxiliando no conforto 
térmico através da preservação da ventilação natural. À direita temos os pisos de quase 
toda área comum da residência, são pisos de tacos de madeira em diferentes tonalidades e 
com configuração geométrica variada, e encontra-se em um bom estado de conservação 
atualmente. 
 
 
 
 
 
Figura 06: Fachada Norte projeto original. Fachada Norte atualmente. Detalhe cobogó medida. 
Detalhe cobogó desgaste. Croqui de estudo com corte de funcionamento do cobogó. Fonte: LAPEM, 
2018; Autores, 2018. 
Um elemento característico das obras de vocabulário moderno, vastamente encontrado em 
Recife, é o telhado invertido, também conhecido como borboleta, onde a queda das águas 
converge para o centro da edificação. Em outras obras residenciais tal recurso aliado ao uso 
de platibandas objetiva a omissão da cobertura. Nessa residência, a decisão de expor esse 
elemento garante ao objeto uma volumetria trapezoidal. 
Os elementos que caracterizam a obra são as aberturas em sistema móvel e fixo. Ao 
analisar a presença deles no modernismo recifense Holanda, afirma: 
“O primeiro grupo inclui as esquadrias, nas suas diversas formas e materiais, 
e o brise-soleil móvel (horizontal ou vertical). Do segundo grupo fazem parte 
o elemento vazado, nos seus diversos materiais e desenhos, o brise-solei 
em concreto e o peitoril ventilado. Esses sistemas fixos eram utilizados em 
superfícies voltadas para as orientações de menor incidência de ventilação 
(oeste), permitindo a saída permanente do ar dos ambientes e controlando 
a incidência direta solar nos cômodos. Os elementos vazados foram mais 
extensivamente utilizados do que qualquer outro sistema fixo, 
provavelmente pelo seu baixo custo e fácil manutenção”. (Holanda, 1976, 
p.21) 
Compõem o objeto arquitetônico estudado, diversos desses elementos vazados fixos e o 
que chama atenção pelo seu caráter experimental é que esses foram moldados in loco e 
confeccionados em concreto. Vale ainda ressaltar que consiste nessas peças o valor 
 
 
 
 
arquitetônico e estético da obra. Elas deixam claro que mesmo em condições adversas, com 
a inexistência de tecnologias avançadas e um mercado que disponibilize a comercialização 
dessas peças, não houve obstrução às pretensões modernistas da construção. 
 A configuração orgânica dos cobogós instalados na fachada norte cria um ponto de 
contraste com as linhas retas e a geometrização predominante na composição plástica da 
edificação e não representa um elemento meramente ornamental. Ela contribui também 
para a ambientação climática no interior da edificação. A fachada norte apresenta elementos 
vazados circulares com diâmetro de 10 cm e que foram reunidos em formato ameboide (ver 
Figura 06), carregando assim o aspecto significativo de memória da obra para a sociedade 
de Aracaju, pois é comum conhecer a localização do CAP a partir da identificação como 
“casa da ameba”. 
 “O cobogó ocorre frequentemente nas construções modestas do Nordeste, 
com desenhos fantasiosos ou ingênuos, mas sempre um elemento simples, 
leve, resistente, econômico, sem exigências de manutenção e com alto grau 
de padronização dimensional. Com o estágio de racionalização atingido, 
num processo natural de seleção, o combogó é um componente preparado 
para a grande produção industrial” (Holanda, 1976, p.22). 
Já a fachada leste apresenta como destaque os elementos vazados quadrados que também 
foram moldados durante a obra e possuem um recorte em chanfro que reduzem sua 
abertura e promovem a filtragem da iluminação natural no interior da edificação ao mesmo 
tempo em que funcionam como indutor da ventilação. Tal elevação permite também 
identificar um traçado predominantemente ortogonal e a composição de materiais diferentes 
em seus elementos constitutivos. Além dos cobogós moldados em concreto, a varanda do 
pavimento superior apresenta um adorno em bandeira de madeira com venezianas (ver 
Figura 07, superior) e esquadrias em alumínio e vidro (que indicam as alterações sofridas 
pela edificação já que não corresponde a um material utilizado na construção civil da época). 
Por fim, o revestimento em pedra aplicado na base da edificação, na parede lateral 
esquerda e no tanque do espelho d'água (ver Figura 07, inferior) finalizam junto com a 
vedação em alvenaria a combinação dos materiais ora utilizados. 
 
 
 
 
 
Figura 07: Fachada Leste projeto original. Fachada Leste atualmente. Estudo de cores e materiais. 
Detalhe do cobogó. Fonte: LAPEM, 2018; Autores , 2018. 
Nesta última remessa de figuras continuamos com a análise da paleta de cores, 
demonstrando o destoante elemento contemporâneo acrescido,uma nova tecnologia de 
proteção térmica como intervenção, que seriam os toldos em um tom de azul mais forte, 
descaracterizando a proposta arquitetônica original. Além de apresentar as instalações 
hidráulicas aparentes, outra solução funcional utilizada de forma negativa para sua 
composição estética, que em se tratando de patrimônio é uma das características mais 
difíceis de lidar. Abaixo temos a demonstração de áreas fortemente afetadas justamente 
pelo que Fernando Diniz Moreira menciona em “Os desafios postos pela conservação da 
arquitetura moderna”, publicado pela revista CPC (São Paulo, 2011), a ausência de uma 
cultura da manutenção, e a dificuldade de aceitação da pátina nos edifícios modernos, são 
alguns dos desafios para a conservação da arquitetura moderna. Como se pode observar na 
figura 08, grande parte das anomalias, perda do reboco, pintura, e cerâmica, deve-se ao 
 
 
 
 
desgaste do tempo e uso sem manutenção adequada principalmente decorrente da 
umidade. 
 
Figura 08: Estudo de cores e materiais. Instalações hidráulicas Fachada Oeste. Detalhe de 
desgastes. Detalhe de desgastes viga. Fonte: Autores , 2018. 
Considerações Finais 
A partir da argumentação acima mencionada e da análise dos elementos arquitetônicos que 
se destacam na edificação resta nesse momento verificar a adequação de suas 
características à estética modernista. Sob esse aspecto é relevante considerar que se trata 
de um projeto datado de 1955, contemporâneo ao ápice da arquitetura moderna no Brasil. A 
nível local, entretanto, trata-se de um momento histórico que apresenta as primeiras 
manifestações modernistas, incentivadas por aspectos econômicos que capitanearam a 
expansão urbana em Aracaju/SE. 
Considerando tal singularidade, foi possível identificar o caráter experimental que a 
edificação promoveu, sendo uma das primeiras expressões de natureza moderna na cidade. 
Elementos arquitetônicos consolidados da estética modernista foram incluídos nessa 
edificação. A cobertura formatada em telhado borboleta e o espelho d’água implantado na 
fachada leste são elementos inseridos desde o processo de concepção. Ademais, o uso de 
cobogós nas vedações revela a solução funcional brasileira para a adequação desta estética 
aos fatores climáticos imperativos do litoral nordestino. Sob esse aspecto é importante 
 
 
 
 
considerar ainda que a forma amebóide utilizada em um dos elementos vazados foi uma 
característica do modernismo brasileiro que quebrou a tradição europeia das linhas retas 
inserindo soluções orgânicas ao desenho arquitetônico. 
Ademais, porém não menos importante, há que se identificar ainda os elementos que, 
apesar de não estarem efetivamente localizados nessa edificação, remetem às 
características da arquitetura modernista. Nessa categoria enquadram-se o recuo no 
pavimento térreo apoiado num pilar de seção circular, que a despeito de não traduzir o 
térreo livre das edificações modernistas apoiadas em pilotis, a elas fazem referência. Outras 
características são as grandes aberturas e os frisos em relevo nas paredes da fachada e 
que contornam toda a edificação. Esses elementos marcam uma tentativa de horizontalizar 
a percepção visual da obra. 
Dessa forma, identificados os elementos que experimentaram a estética modernista a nível 
local e a relevância histórica dessa edificação para a cidade de Aracaju. Há que se registrar 
o valor patrimonial a ela conferido e a importância de sua conservação como marco de uma 
época. Acredita-se que esta deve ser considerada patrimônio, pois ainda segundo Riegl 
(2014) se esta obra fosse a única testemunha artística do movimento em questão, ela assim 
seria considerada como elemento de arte absolutamente indispensável. 
Como reforço desse desfecho temos o Anexo XI da Lei Complementar 42/2000 que 
estabelece o Plano Diretor de Aracaju, nele temos o quadro que classifica os “Bens de 
Patrimônio Cultural”, sendo que todas as residências da fase modernista são declaradas 
como de interesse cultural, apesar de nenhuma delas ter passado por processo de 
tombamento, logo não possuem a proteção legal para que sua conservação e uso ocorram 
de modo que não afete a sua valoração artística e histórica como símbolo da presença do 
movimento na cidade. 
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