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MOVIMENTOS SOCIAIS E SOCIOLOGIA ORGANIZACIONAL

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MOVIMENTOS SOCIAIS E 
SOCIOLOGIA ORGANIZACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2 
 
 
Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com 
(31) 3270 4500 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 
 
1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS ........................................................................ 06 
1.1 O contexto mundial do século XVIII ........................................................... 06 
1.2 Movimentos sociais no Brasil ..................................................................... 09 
1.2.1 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ................................... 16 
1.2.2 Movimento dos Trabalhadores Sem Teto ................................................ 17 
1.2.3 Fórum Social Mundial .............................................................................. 18 
1.2.4 O movimento hippie ................................................................................ 19 
1.2.5 Os movimentos feministas ...................................................................... 20 
1.2.6 O movimento estudantil ........................................................................... 21 
 
2 ESTUDOS SOCIOLÓGICOS DAS ORGANIZAÇÕES ................................. 24 
2.1 O surgimento da sociologia ........................................................................ 24 
2.2 O estudo das organizações ........................................................................ 26 
2.3. As organizações como agentes sociais ..................................................... 31 
 
3 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS – DESAFIO 
PARA O SERVIÇO SOCIAL ............................................................................ 33 
 
REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .......................................... 46 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com 
(31) 3270 4500 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Sejam bem-vindos aos estudos acerca dos movimentos sociais brasileiros 
pertencentes ao curso de Especialização em SERVIÇO SOCIAL, oferecido pelo 
Instituto Pedagógico de Minas Gerais - IPEMIG. 
Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação 
daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências 
atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. 
As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, 
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos 
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou 
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e 
provado pelos pesquisadores. 
Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos 
colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada 
está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar 
nosso trabalho. 
Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês 
são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: 
aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é 
demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos 
nossos/ seus alunos. 
O objetivo desta apostila é apresentar e discorrer sobre os diversos 
movimentos sociais que aconteceram e ainda vêm ocorrendo no Brasil, ao que 
podemos denominar ―retrospectiva histórica‖, além de tratar da responsabilidade 
social das empresas e o papel do Assistente Social. 
4 
 
 
Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com 
(31) 3270 4500 
 
História é um conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade 
segundo o lugar, à época e o ponto de vista escolhido ou uma ciência que estuda a 
ação do homem ao longo do tempo. Ferreira (2005) define como narração metódica 
dos fatos notáveis ocorrido na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade 
em geral. 
Nossa história é muito rica em detalhes sendo óbvio que todo evento é 
conjecturado, arquitetado, planejado tendo sempre como objetivo, levar vantagens a 
determinados grupos em determinadas épocas, o que pode ser bom ao conseguir 
atingir uma grande massa de pessoas bem como pode levar a opressão de outros 
grupos. 
Segundo Boris Fausto (2004) a história tem uma lógica, tem normas, tem um 
processo; tem, portanto, uma objetividade. É uma ciência igual a outras disciplinas 
humanas, é uma ciência humana. Isso quer dizer que também tem uma certa 
relatividade, dependendo da visão do historiador. 
A história é vital para a formação da cidadania. Ela nos mostra que, para 
compreender o que está acontecendo no presente, é preciso entender quais foram os 
caminhos percorridos pela sociedade brasileira. 
O historiador se vale de uma série de fontes, as quais incluem desde 
documentos oficiais até notícias na imprensa ou coisas aparentemente inesperadas, 
como um rótulo de remédio. Tudo depende do tipo de pesquisa e do tema definido. 
O fato histórico é um acontecimento com impacto coletivo na vida do presente 
e que deve ser explicado e interpretado pelos historiadores e o processo histórico é 
definido como o desenrolar dos acontecimentos ao longo da história. Como esses 
acontecimentos têm uma lógica, uma relação de causa e efeito, damos a isso o nome 
de processo (FAUSTO, 2004). 
Feitas estas breves explicações, nos interessa então, discorrer sobre os 
movimentos sociais, os quais podem ser bons ou ruins, dependendo do grupo que vai 
levar vantagens ou desvantagens. Nossa intenção não é defender este ou aquele 
movimento, somente lançar conteúdos que os façam refletir. A ação de defender ou 
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acusar, ou mesmo criticar deixamos para você que terá farto material para leitura, 
entendimento e conclusões pessoais. 
Ressaltamos que trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores 
que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. 
Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de 
redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. 
Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final 
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar 
dúvidas e aprofundar os conhecimentos. 
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1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL 
 
Vários dos autores consultados ao iniciar a pesquisa para construirmos a 
história dos movimentos sociais nos levam a crer no enfoque teórico oriundo do 
marxismo, sejam eles vinculados ao espaço urbano e/ou rural e tomam como marco 
a década de 1960 com o movimento dos trabalhadores sem terra, como por exemplo, 
Lisboa (1988) ao inferir que os movimentos sociais brasileiros só tiveram 
reconhecimento em meados de 1960, quando surgiram os primeiros movimentos de 
luta contra a política vigente, ou seja, a população insatisfeita com as transformações 
ocorridas tanto no campo econômico e social. 
 Mas acreditamos ser importante, dar uma volta no passado e buscar no 
período do império (século XVIII) as revoltas desencadeadas a partir da Revolução 
Francesa (1789) e da Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, que abriram o 
caminho para o avanço do capitalismo para outros países (PRADO JUNIOR, 1988; 
FURTADO, 2007). 
É verdade que tais revoltas tinham aparentemente motivos políticos, mas 
algumas delas deixam transparecer claramente o descontentamento com a condição 
de vida das classes menos favorecidas. 
 
1.1 O contexto mundial no século XVIII 
 
A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra integra o conjuntodas 
―Revoluções Burguesas‖ do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, 
na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos 
que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução 
Francesa, que sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade 
Moderna para Contemporânea. Em seu sentido mais pragmático, a Revolução 
Industrial significou a substituição da ferramenta pela máquina, e contribuiu para 
consolidar o capitalismo como modo de produção dominante. Esse momento 
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revolucionário, de passagem da energia humana para motriz, é o ponto culminante de 
uma evolução tecnológica, social, e econômica, que vinha se processando na Europa 
desde a Baixa Idade Média. 
A situação da França no século XVIII era de extrema injustiça social. O 
Terceiro Estado era formado pelos trabalhadores urbanos, camponeses e a pequena 
burguesia comercial. Os impostos eram pagos somente por este segmento social com 
o objetivo de manter os luxos da nobreza. 
A França era um país absolutista nesta época, ou seja, o rei governava com 
poderes absolutos, controlando a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião 
dos súditos. Havia a falta de democracia, pois os trabalhadores não podiam votar, nem 
mesmo dar opiniões na forma de governo. Os oposicionistas eram presos na Bastilha 
(prisão política da monarquia) ou condenados à guilhotina. 
A sociedade francesa do século XVIII era estratificada e hierarquizada. No 
topo da pirâmide social, estava o clero que também tinha o privilégio de não pagar 
impostos. Abaixo do clero, estava a nobreza formada pelo rei, sua família, condes, 
duques, marqueses e outros nobres que viviam de banquetes e muito luxo na corte. A 
base da sociedade era formada pelo terceiro estado (trabalhadores, camponeses e 
burguesia) que, reforçando, sustentava toda a sociedade com seu trabalho e com o 
pagamento de altos impostos. Pior era a condição de vida dos desempregados que 
aumentavam em larga escala nas cidades francesas. 
A vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, portanto, 
desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho. A burguesia, mesmo tendo 
uma condição social melhor, desejava uma participação política maior e mais 
liberdade econômica em seu trabalho. 
A situação social era tão grave e o nível de insatisfação popular tão grande 
que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do governo a 
monarquia comandada pelo rei Luis XVI. O primeiro alvo dos revolucionários foi a 
Bastilha. A Queda da Bastilha em 14 de julho de 1789 marca o início do processo 
revolucionário, pois a prisão política era o símbolo da monarquia francesa. 
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O lema dos revolucionários era ―Liberdade, Igualdade e Fraternidade‖, 
resumindo perfeitamente os desejos do terceiro estado francês. Durante o processo 
revolucionário, grande parte da nobreza deixou a França, porém a família real foi 
capturada enquanto tentava fugir do país. Presos, os integrantes da monarquia, entre 
eles o rei Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta foram guilhotinados em 1793. O clero 
também não saiu impune, pois os bens da Igreja foram confiscados durante a 
revolução. 
No mês de agosto de 1789, a Assembleia Constituinte cancelou todos os 
direitos feudais que existiam e promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão. Este importante documento trazia significativos avanços sociais, garantindo 
direitos iguais aos cidadãos, além de maior participação política para o povo. 
A Revolução Francesa foi um importante marco na História Moderna da nossa 
civilização. Significou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza. O povo 
ganhou mais autonomia e seus direitos sociais passaram a ser respeitados. A vida 
dos trabalhadores urbanos e rurais melhorou significativamente. Por outro lado, a 
burguesia conduziu o processo de forma a garantir seu domínio social. As bases de 
uma sociedade burguesa e capitalista foram estabelecidas durante a revolução. A 
Revolução Francesa também influenciou, com seus ideais iluministas, a 
independência de alguns países da América Espanhola e o movimento de 
Inconfidência Mineira no Brasil (COTRIM, 2008). 
No Brasil a situação não era muito diferente e devido ao modo como D. Pedro 
I reinava (autoritarismo, fechamento da Assembleia Constituinte, etc.) acabou por 
abdicar do trono em favor de seu filho Pedro II, menor de idade. Sucederam-se várias 
regências. O que nos interesse mostrar é que as várias revoltas aconteceram devido 
ao agravamento da situação econômica e o anseio das camadas popular e média, por 
uma maior participação política. 
As rebeliões provinciais foram movimentos de revolta contra o governo central 
do Império e o regime monárquico em vigor. Mas a característica mais importante das 
rebeliões provinciais foi a ampla participação popular, principalmente das camadas 
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sociais mais humildes, embora quase sempre manipuladas pelas classes ricas na 
defesa de seus interesses diante da condução do governo imperial pelas regências. 
A historiografia mais recente tem mostrado que tais movimentos não foram 
apenas produtos da instabilidade do governo central, ou uma resposta a ela. Cada 
movimento guarda sua peculiaridade e condicionantes, mas, é impossível negar sua 
estreita vinculação com a questão das condições sociais da população do Brasil. No 
grupo que foca a instabilidade política, encontram-se revoltas citadinas ocorridas nos 
maiores centros urbanos do país, cujos atores centrais foram o povo e a tropa. As 
principais reivindicações desses movimentos incidiam sobre o alto custo de vida nas 
cidades, o controle de parte do comércio pelos portugueses, além da desvalorização 
da moeda nacional. No segundo grupo, as rebeliões atingiram áreas mais amplas de 
diferentes províncias do Império, colocando em risco a ordem do país. Os maiores 
exemplos desse segundo ciclo foram a Cabanagem no Pará (1835-1840), a Sabinada 
em Salvador (1837-1838), a Balaiada no Maranhão (1838-1841), a Farroupilha no Rio 
Grande do Sul (1835-1845), a Revolução Liberal em São Paulo, Minas Gerais e Rio 
de Janeiro (em 1842) e a Praieira em Pernambuco (1848-49) (SANTOS, 2010). 
A presença escrava pode ser verificada em diversos movimentos insurretos 
do período regencial, como a Revolta dos Cabanos, a Balaiada e a Cabanagem. 
Contudo, dentre esses movimentos, o levante dos Malês na cidade de Salvador, em 
1835, foi o único liderado por escravos e libertos africanos. As origens desse 
movimento são anteriores ao período regencial, remetendo-se ao início do século XIX, 
quando se iniciou um ciclo de rebeliões escravas africanas na cidade e em seu 
entorno. Assim como no Rio de Janeiro, em Salvador os escravos e libertos eram os 
principais responsáveis pelo trabalho pesado da cidade, saindo ao ganho para realizar 
diferentes tipos de atividades. Todavia, a composição étnica dessa escravaria era 
muito diversa da encontrada na Corte imperial (SANTOS, 2010). 
Enfim, é claramente visível que lá atrás, no século XVIII, as desigualdades, os 
problemas socioeconômicos e os anseios por justiça social já davam a tônica dos 
movimentos que viriam a explodir no século XX. 
 
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1.2 Movimentos sociais no Brasil 
 
Voltemos então para o século XX, para o enfoque marxista dado aos 
movimentos sociais! 
Segundo estudos de Souza (2004) tais movimentos, quando se referiam ao 
espaço urbano possuíam um leque amplo de temáticas como, por exemplo, as lutas 
por creches, por escola pública, por moradia,transporte, saúde, saneamento básico 
etc. Quanto ao espaço rural, a diversidade de temáticas expressou-se nos 
movimentos de boias-frias (das regiões cafeeiras, citricultoras e canavieiras, 
principalmente), de posseiros, sem-terra, arrendatários e pequenos proprietários. 
Cada um dos movimentos possuía uma reivindicação específica, no entanto, 
todos expressavam as contradições econômicas e sociais presentes na sociedade 
brasileira. 
No início do século XX, era muito mais comum a existência de movimentos 
ligados ao rural, assim como movimentos que lutavam pela conquista do poder 
político. Em meados de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram 
visibilidade através da realização de manifestações em espaços públicos (rodovias, 
praças, etc.), muito em parte devido às transformações ocasionadas pelo 
desenvolvimento do capitalismo, ou seja, o processo de industrialização e urbanização 
que vinha causando grandes transtornos para a população brasileira. É uma nova 
realidade para a população brasileira, que até então não conhecia os efeitos do 
capitalismo. 
São rupturas que abrangem todos os setores, desde o político até o social, 
sendo este o setor mais afetado e onde há mais necessidade de reestruturação, 
mesmo em pleno século XXI. 
O processo de industrialização brasileiro provocou várias mudanças na 
sociedade, ou seja, criou-se uma série de expectativas na população, que estão 
sempre em busca de um melhor padrão de vida. A industrialização provoca um grande 
êxodo rural, quando muitas famílias vão em busca de uma vida melhor, isto, alguns 
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saíram do campo em busca de emprego nos grandes centros, outros foram expulsos 
devido a modernização no campo. Estes fatos provocaram outros grandes problemas 
sociais, o crescimento desordenado das cidades, o aparecimento do trabalho 
assalariado e o desemprego, são alguns destes problemas. 
Em consequência surgem os primeiros movimentos, que até então só eram 
reconhecidos como movimento de classe, ou seja, da classe operária. As lutas dos 
operários que reivindicavam melhores condições de trabalho e salários maiores. 
Esses movimentos sociais eram considerados como tradicionais, pois não tinham 
força para se organizarem, onde estavam sempre ligados a algum partido com 
interesse próprio. Outros movimentos sociais necessariamente se viam obrigados a 
se unirem ao movimento de classe, ou seja, aos trabalhadores, para ganhar força 
como movimento de massa, os movimentos sociais viviam a subordinação e o 
autoritarismo dessas organizações políticas, que tinham toda uma postura ideológica 
(FIALHO, 2011). 
A partir da década de 1970, surge uma nova ideia de movimento social, que 
será totalmente inovador, colocando em questão uma nova compreensão sobre a vida 
política econômica e social do povo. Esses novos movimentos, tem a capacidade de 
auto se organizarem, não se vinculando a nenhum tipo de organização, sendo a sua 
única preocupação a igualdade entre os membros e buscando sempre superar algum 
tipo de carência, pois só assim poderiam alcançar alguns objetivos (LISBOA, 1988). 
Alguns autores discordam da questão da luta ligada meramente as 
carências, como Maria da Glória Gohn (1991, p. 57): 
Não bastam as carências, pois, se assim fosse, já deveria ter ocorrido uma 
revolução no Nordeste brasileiro [...]. As lutas se agravam a partir da articulação de carências 
e setores organizados, mobilizados, que ―puxam‖ as lutas. 
Cabe ressaltar que os novos movimentos sociais, não estão somente ligados 
ao mesmo tipo de carência, existem muitos outros fatores como identidade, autonomia 
e emancipação, que os unem dando mais força a estas lutas que estão cada vez mais 
articuladas com as igrejas, que se mostram mais sensibilizadas com a população, 
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contribuindo com os movimentos, pois, na maioria das vezes é com o apoio da igreja 
que os integrantes encontram forças para continuarem a luta. 
Enfim, como lembra Fialho (2011) não é só a igreja que contribui com os 
movimentos sociais, muitos são os órgãos que ajudaram dando sua contribuição a 
favor desse movimento visando seus interesses. 
[...] O que aproxima tais mediadores externos é o fato deles serem portadores 
de recursos humanos e materiais para os movimentos [...] (MEDEIROS et al., 1994, 
p. 179). 
[...] Reserva-se a designação apenas para os que são considerados 
comprometidos com os interesses dos trabalhadores. (MEDEIROS et al., 1994, p. 
181). 
Existem vários tipos de movimentos sociais no Brasil, mas os que mais tiveram 
repercussão foram os movimentos urbanos e os movimentos de luta pela terra. 
Dentre os movimentos urbanos podemos destacar: 
 Movimento de bairros; 
 Movimento dos favelados; 
 Luta de inquilinos; 
 Movimento dos sem teto. 
 
Fialho (2011) pondera que esses movimentos começam e terminam 
rapidamente, talvez seja o fato da falta de amadurecimento e conscientização de seus 
membros, apesar de serem diferentes da luta do campo, diferente em relação aos 
setores onde um é o setor urbano e o outro é o campo. A essência é a mesma, estão 
em busca dos seus direitos, respeito e dignidade, portanto merecem reconhecimento 
como qualquer outro movimento. 
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Já os movimentos que lutam pela terra, sempre tiveram maiores 
repercussões, pois é uma luta que parece nunca ter fim. Esse problema tem suas 
raízes no período de colonização do Brasil, onde as terras foram mal distribuídas. 
Segundo Fialho (2011) ao estudarmos a questão agrária no Brasil, nos 
deparamos com questões completamente divergentes onde uns autores defendem o 
campesinato e outros não defendem, como se fosse algo que nunca tivesse existido 
no nosso país. 
Quem explica bem essa questão é Prado Jr (1981 apud Almeida e Paulino, 
2000, p. 119): 
[...] Na base e origem de nossa estrutura e organização agrária não 
encontramos, tal como na Europa, uma economia camponesa, e sim a 
mesma grande exploração rural que se perpetuou desde o início da 
colonização brasileira até os nossos dias; [...]. 
 
Em certas horas podemos associa-lo a Kautsky, teórico clássico alemão que 
defendia o fim do campesinato em prol do capitalismo. Kautsky descriminava a classe 
camponesa e colocava os trabalhadores como seres ignorantes. ―Operários bem 
nutridos e bem remunerados, além de inteligentes, eis a condição indispensável para 
uma grande exploração racional‖ (KAUTSKY, 1980 apud ALMEIDA E PAULINO, 
2000, p. 115). 
Por outro lado autores como Chayanov (s.d apud FIALHO, 2011) defende o 
trabalho familiar, deixando bem claro que antes de qualquer dedução sobre essa 
classe, deveria ser feito uma análise profunda sobre essa forma de produção, ou seja, 
o campesinato. Segundo esse autor, deveria haver um equilíbrio entre o que se produz 
e o que consome, ou seja, o que a família produz e o que consomem dessa produção. 
Ele chama a atenção para o balanço entre o trabalho e o consumo, diz que teóricos 
como Kautsky, deveriam ter feito essa análise antes de qualquer definição sobre o 
trabalho familiar. 
Outro teórico que também defende o trabalho familiar é José de Souza Martins 
(2000), que concorda que a única forma de resolver os problemas da questão agrária 
no país é a reforma agrária, que nada mais é que a luta contra o capital, o que pode 
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acontecer através da formação de cooperativas (diga-se de passagem, mais um 
campo de atuação do assistente social). 
Como diz Gorgen e Stédile (1991 apud Almeida e Paulino, 2000, p. 126): 
As associações e as cooperativas não devem se organizar apenas com 
objetivos econômico,mas também com objetivos políticos, de longo prazo, 
que permitem conscientizar os trabalhadores para fortalecer as suas lutas, 
tendo em vista a transformação da sociedade, e chegar ao controle absoluto 
dos meios de produção. 
 
Mais um fator que tem contribuído para a exploração dos camponeses 
assentados e com a quase extinção desta classe é o processo de modernização no 
campo, que tem substituído cada vez mais a força do trabalho familiar, que muitas 
vezes acaba levando a ser um trabalhador assalariado. 
Segundo Ariovaldo Oliveira (1986), esse processo de industrialização do 
campo tem levado graves alterações tanto na área econômica, como social. Levando 
essa classe a redefinir toda a sua estrutura socioeconômico. 
Um outro movimento social que também merece destaque são os movimentos 
contra as barragens, que lutam pela sobrevivência e pela natureza, como diz Luiz 
Paulo Costa, secretário da Comissão Nacional dos Atingidos por Barragens (CRAB), 
tendo quatro razões para a luta: ambientais, socioculturais, econômicas e falta de 
democracia (MEDEIROS et al., 1994, p. 163). 
Bem, ainda temos os movimentos populares urbanos que foram 
impulsionados pelas Sociedades Amigos de Bairro - SABs - e pelas Comunidades 
Eclesiais de Base - CEBs. Nos anos 1960 e 1970, mesmo diante de forte repressão 
policial, os movimentos não se calaram. Havia reivindicações por educação, moradia 
e pelo voto direto. Em 1980 destacaram-se as manifestações sociais conhecidas como 
―Diretas Já‖ (SOUZA, 2004). 
Em 1990, o MST e as ONGs tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos 
coletivos, tais como os movimentos sindicais de professores. 
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Concomitante às ações coletivas que tocam nos problemas existentes no 
planeta (violência, por exemplo), há a presença de outras ações coletivas: 
 Ações coletivas que denunciam a concentração de terra, ao mesmo tempo em 
que apontam propostas para a geração de empregos no campo, a exemplo do 
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); 
 Ações coletivas que denunciam o arrocho salarial (greve de professores e de 
operários de indústrias automobilísticas); 
 Ações coletivas que denunciam a depredação ambiental e a poluição dos rios 
e oceanos (lixo doméstico, acidentes com navios petroleiros, lixo industrial); 
 Ações coletivas que têm espaço urbano como locus para a visibilidade da 
denúncia, reivindicação ou proposição de alternativas (SOUZA, 2004, p. 3). 
 
As passeatas, manifestações em praça pública, difusão de mensagens via 
internet, ocupação de prédios públicos, greves, marchas entre outros, são 
características da ação de um movimento social. A ação em praça pública é o que dá 
visibilidade ao movimento social, principalmente quando este é focalizado pela mídia 
em geral. Os movimentos sociais são sinais de maturidade social que podem provocar 
impactos conjunturais e estruturais, em maior ou menor grau, dependendo de sua 
organização e das relações de forças estabelecidas com o Estado e com os demais 
atores coletivos de uma sociedade (SOUZA, 2004). 
Quem resume bem a situação dos movimentos é Scherer-Warren (2006): 
A realidade dos movimentos sociais é bastante dinâmica e nem sempre as 
teorizações têm acompanhado esse dinamismo. Com a globalização e a 
informatização da sociedade, os movimentos sociais em muitos países, 
inclusive no Brasil e em outros países da América Latina, tenderam a se 
diversificar e se complexificar. Por isso, muitas das explicações 
paradigmáticas ou hegemônicas nos estudos da segunda metade do século 
XX necessitam de revisões ou atualizações ante a emergência de novos 
sujeitos sociais ou cenários políticos. 
 
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Tentaremos em breves linhas seguir o caminho da autora acima, pois 
concordamos plenamente com seu pensamento. 
Na atualidade, a noção de sociedade civil que envolve os sujeitos sociais e os 
cenários políticos passa por uma rede, chamada sociedade das redes, onde o 
associativismo localizado (ONGs comunitárias e associações locais) ou setorizado 
(ONGs feministas, ecologistas, étnicas, e outras) ou, ainda, os movimentos sociais de 
base locais (de moradores, sem teto, sem terra, etc.) percebem cada vez mais a 
necessidade de se articularem com outros grupos com a mesma identidade social ou 
política, a fim de ganhar visibilidade, produzir impacto na esfera pública e obter 
conquistas para a cidadania. 
Nesse processo articulatório, atribuem, portanto, legitimidade às esferas de 
mediação (fóruns e redes) entre os movimentos localizados e o Estado, por um lado, 
e buscam construir redes de movimento com relativa autonomia, por outro. Originase, 
a partir desse fato, uma tensão permanente no seio do movimento social entre 
participar com e através do Estado para a formulação e a implementação de políticas 
públicas ou em ser um agente de pressão autônoma da sociedade civil. 
Nas sociedades globalizadas, multiculturais e complexas, as identidades 
tendem a ser cada vez mais plurais e as lutas pela cidadania incluem, frequentemente, 
múltiplas dimensões do self: de gênero, étnica, de classe, regional, mas também 
dimensões de afinidades ou de opções políticas e de valores: pela igualdade, pela 
liberdade, pela paz, pelo ecologicamente correto, pela sustentabilidade social e 
ambiental, pelo respeito à diversidade e às diferenças culturais, etc. (SCHERER-
WARREN, 2006). 
As redes, por serem multiformes, aproximam atores sociais diversificados – 
dos níveis locais aos mais globais, de diferentes tipos de organizações –, e 
possibilitam o diálogo da diversidade de interesses e valores. Ainda que esse diálogo 
não seja isento de conflitos, o encontro e o confronto das reivindicações e lutas 
referentes a diversos aspectos da cidadania vêm permitindo aos movimentos sociais 
passarem da defesa de um sujeito identitário único à defesa de um sujeito plural, 
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contando evidentemente com a participação do Assistente Social que apresenta uma 
atuação multifacetada como vimos ao longo do curso. 
 
1.2.1 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 
 
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido pela 
sigla MST, é um movimento social brasileiro de inspiração marxista cujo objetivo é a 
implantação da reforma agrária no Brasil. Teve origem na aglutinação de movimentos 
que faziam oposição ou estavam desgostosos com o modelo de reforma agrária 
imposto pelo regime militar, principalmente na década de 1970, o qual priorizava a 
colonização de terras devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de 
excedentes populacionais e integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o 
MST declara buscar a redistribuição das terras improdutivas. 
Apesar dos movimentos organizados de massa pela reforma agrária no Brasil 
remontarem apenas às ligas camponesas, associações de agricultores que existiam 
durante as décadas de 1950 e 1960, o MST proclama-se como herdeiro ideológico de 
todos os movimentos de base social camponesa ocorridos desde que os portugueses 
entraram no Brasil, quando a terra foi dividida em sesmarias, por favor real, de acordo 
com o direito feudal português, fato este que excluiu em princípio grande parte da 
população do acesso direto à terra. 
Uma das atividades do grupo consiste na ocupação de terras improdutivas 
como forma de pressão pela reforma agrária, mas também há reivindicação quanto a 
empréstimos e ajuda para que realmente possam produzir nessas terras. Para o MST, 
é muito importante que as famílias possam ter escolas próximas ao assentamento, de 
maneira que as crianças não precisem ir à cidade e, desta forma, fixar as famílias no 
campo. 
A organização não tem registro legal por serum movimento social e, portanto, 
não é obrigada a prestar contas a nenhum órgão de governo, como qualquer 
movimento social ou associação de moradores. 
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O movimento recebe apoio de organizações não governamentais e religiosas, 
do país e do exterior, interessadas em estimular a reforma agrária e a distribuição de 
renda em países em desenvolvimento. Sua principal fonte de financiamento é a própria 
base de camponeses já assentados, que contribuem para a continuidade do 
movimento. 
Dados coletados em diversas pesquisas demonstram que os agricultores 
organizados pelo movimento têm conseguido usufruir de melhor qualidade de vida que 
os agricultores não organizados. 
O MST reivindica representar uma continuidade na luta histórica dos 
camponeses brasileiros pela reforma agrária. Os atuais governantes do Brasil têm 
origens comuns nas lutas sindicais e populares, e, portanto, compartilham em maior 
ou menor grau das reivindicações históricas deste movimento. Segundo alguns 
autores consultados, o MST é um movimento legítimo que usa a única arma que 
dispõe para pressionar a sociedade para a questão da reforma agrária, a ocupação 
de terras e a mobilização de grande massa humana. 
 
1.2.2 Movimento dos Trabalhadores Sem Teto 
 
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) surgiu em 1997 da 
necessidade de organizar a reforma urbana e garantir moradia e a todos os cidadãos. 
Está organizado nos municípios do Rio de Janeiro, Campinas e São Paulo. É um 
movimento de caráter social, político e sindical. 
Em 1997, o MST fez uma avaliação interna em que reconheceu que seria 
necessária uma atuação na cidade além de sua atuação no campo. Dessa 
constatação, duas opções de luta se abriram: trabalho e moradia. 
Hoje estão em quase todas as metrópoles do País. São desdobramentos 
urbanos do MST, com um comando descentralizado. As formas de atuação variam de 
um movimento para outro. Em geral, as ocupações não têm motivação política, apenas 
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apoio informal de filiados a partidos de esquerda. O objetivo das ocupações é 
pressionar o poder público a criar programas de moradia e dar à população de baixa 
renda acesso a financiamentos para a compra de imóveis. 
Atualmente, o MTST é autônomo em relação ao MST, mas tem uma aliança 
estratégica com esse. 
 
1.2.3 Fórum Social Mundial 
 
O Fórum Social Mundial (FSM) é um evento alter-mundialista organizado por 
movimentos sociais de diversos continentes, com objetivo de elaborar alternativas 
para uma transformação social global. Seu slogan é ―Um outro mundo é possível‖. 
É um espaço internacional para a reflexão e organização de todos os que se 
contrapõem à globalização neoliberal e estão construindo alternativas para favorecer 
o desenvolvimento humano e buscar a superação da dominação dos mercados em 
cada país e nas relações internacionais. 
A luta por um mundo sem excluídos, uma das bandeiras do I Fórum Social 
Mundial, tem suas raízes fixadas na resistência histórica dos povos contra todo o 
gênero de opressão em todos os tempos, resistência que culmina em nossos dias com 
o movimento irmanando milhões de cidadãos e não cidadãos do mundo inteiro contra 
as consequências da mundialização do capital, patrocinada por organismos 
multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e a 
Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outros. 
O Fórum Social Mundial (FSM) se reuniu pela primeira vez na cidade de Porto 
Alegre, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, entre 25 e 30 de janeiro de 2001, com o 
objetivo de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Davos. Esse Fórum 
Econômico tem cumprido, desde 1971, papel estratégico na formulação do 
pensamento dos que promovem e defendem as políticas neoliberais em todo mundo. 
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Sua base organizacional é uma fundação suíça que funciona como consultora da ONU 
e é financiada por mais de 1.000 empresas multinacionais. 
 
1.2.4 O movimento hippie 
 
Os ―hippies‖ (no singular, hippie) eram parte do que se convencionou chamar 
movimento de contracultura dos anos 1960 tendo relativa queda de popularidade nos 
anos 1970 nos EUA, embora o movimento tenha tido muita força em países como o 
Brasil somente na década de 1970. Uma das frases ideomáticas associada a este 
movimento foi a célebre máxima ―Paz e Amor‖ (em inglês ―Peace and Love‖) que 
precedeu à expressão ―Ban the Bomb‖, a qual criticava o uso de armas nucleares. 
As questões ambientais, a prática de nudismo, e a emancipação sexual eram 
ideias respeitadas recorrentemente por estas comunidades. 
Adotavam um modo de vida comunitário, tendendo a uma espécie de 
socialismo-anarquista ou estilo de vida nômade e à vida em comunhão com a 
natureza, negavam o nacionalismo e a Guerra do Vietnã, bem como todas as guerras, 
abraçavam aspectos de religiões como o budismo, hinduísmo, e/ou as religiões das 
culturas nativas norte-americanas e estavam em desacordo com valores tradicionais 
da classe média americana e das economias capitalistas e totalitárias. Eles 
enxergavam o patriarcalismo, o militarismo, o poder governamental, as corporações 
industriais, a massificação, o capitalismo, o autoritarismo e os valores sociais 
tradicionais como parte de uma ―instituição‖ única, e que não tinha legitimidade. 
Nos anos 1960, muitos jovens passaram a contestar a sociedade e a pôr em 
causa os valores tradicionais e o poder militar e econômico. Esses movimentos de 
contestação iniciaram-se nos EUA, impulsionados por músicos e artistas em geral. Os 
hippies defendiam o amor livre e a não violência. Como grupo, os hippies tendem a 
viver em comunidades coletivistas ou de forma nômade, vivendo e produzindo 
independentemente dos mercados formais, usam cabelos e barbas mais compridos 
do que era considerado ―elegante‖ na época do seu surgimento. Muita gente não 
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associada à contracultura considerava os cabelos compridos uma ofensa, em parte 
por causa da atitude iconoclasta dos hippies, às vezes por acharem ―anti-higiênicos‖ 
ou os considerarem ―coisa de mulher‖. 
Foi quando a peça musical Hair saiu do circuito chamado off-Broadway para 
um grande teatro da Broadway em 1968, que a contracultura hippie já estava se 
diversificando e saindo dos centros urbanos tradicionais. 
Os Hippies não pararam de fazer protestos contra a Guerra do Vietnã, cujo 
propósito era acabar com a guerra. A massa dos hippies eram soldados que voltaram 
depois de ter contato com os Indianos e a cultura oriental que, a partir desse contato, 
se inspiraram na religião e no jeito de viver para protestarem. 
 
1.2.5 Os movimentos feministas 
 
Feminismo é um discurso intelectual, filosófico e político que tem como meta 
os direitos iguais e a proteção legal às mulheres. Envolve diversos movimentos, 
teorias e filosofias, todas preocupadas com as questões relacionadas às diferenças 
entre os gêneros, e advogam a igualdade para homens e mulheres e a campanha 
pelos direitos das mulheres e seus interesses. De acordo com Maggie Humm e 
Rebecca Walker (apud SOUZA, 2004), a história do feminismo pode ser dividida em 
três ―ondas‖. A primeira teria ocorrido no século XIX e início do século XX, a segunda 
nas décadas de 1960 e 1970, e a terceira teria ido da década de 1990 até a atualidade. 
A teoria feminista surgiu destes movimentos femininos, e se manifesta em diversas 
disciplinas como a geografia feminista, a história feminista e a crítica literária feminista. 
O feminismo alterou principalmente as perspectivas predominantes em 
diversas áreas da sociedade ocidental, que vão da culturaao direito. As ativistas 
femininas fizeram campanhas pelos direitos legais das mulheres (direitos de contrato, 
direitos de propriedade, direitos ao voto), pelo direito da mulher à sua autonomia e à 
integridade de seu corpo, pelos direitos ao aborto e pelos direitos reprodutivos 
(incluindo o acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela 
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proteção de mulheres e garotas contra a violência doméstica, o assédio sexual e o 
estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a licençamaternidade e salários iguais, e 
todas as outras formas de discriminação. 
Durante a maior parte de sua história, a maior parte dos movimentos e teorias 
feministas tiveram líderes que eram principalmente mulheres brancas de classe 
média, da Europa Ocidental e da América do Norte. No entanto, desde pelo menos o 
discurso Sojourner Truth, feito em 1851 às feministas dos Estados Unidos, mulheres 
de outras raças propuseram formas alternativas de feminismo. Esta tendência foi 
acelerada na década de 1960, com o movimento pelos direitos civis que surgiu nos 
Estados Unidos, e o colapso do colonialismo europeu na África, no Caribe e em partes 
da América Latina e do Sudeste Asiático. Desde então as mulheres nas antigas 
colônias europeias e no Terceiro Mundo propuseram feminismos ―pós-coloniais‖ - 
nas quais algumas postulantes, como Chandra Talpade Mohanty, criticam o feminismo 
tradicional ocidental como sendo etnocêntrico. Feministas negras, como Angela Davis 
e Alice Walker, compartilham este ponto de vista. 
Desde a década de 1980, as feministas standpoint argumentaram que o 
feminismo deveria examinar como a experiência da mulher com a desigualdade se 
relaciona ao racismo, à homofobia, ao classismo e à colonização. No fim da década 
de 1980 e início da década seguinte as feministas ditas pós-modernas argumentaram 
que os papeis sociais dos gêneros seriam construídos socialmente, e que seria 
impossível generalizar as experiências das mulheres por todas as suas culturas e 
histórias. 
 
1.2.6 Movimento estudantil 
 
O movimento estudantil, embora não seja considerado um movimento popular, 
dada a origem dos sujeitos envolvidos, que, nos primórdios desse movimento, 
pertenciam, em sua maioria, a chamada classe pequeno burguesa, é um movimento 
de caráter social e de massa. É a expressão política das tensões que permeiam o 
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sistema dependente como um todo e não apenas a expressão ideológica de uma 
classe ou visão de mundo. 
Em 1967, no Brasil, sob a conjuntura da ditadura militar, esse movimento inicia 
um processo de reorganização, como a única força não institucionalizada de oposição 
política. A história mostra como esse movimento constitui força auxiliar do processo 
de transformação social ao polarizar as tensões que se desencadearam no núcleo do 
sistema dependente. 
O movimento estudantil é o produto social e a expressão política das tensões 
latentes e difusas na sociedade. Sua ação histórica e sociológica tem sido a de 
absorver e radicalizar tais tensões. Sua grande capacidade de organização e 
arregimentação foi capaz de colocar cem mil pessoas na rua, quando da passeata dos 
cem mil, em 1968. Ademais, a histórica resistência da União Nacional dos Estudantes 
(UNE), como entidade representativa dos estudantes, é exemplar. 
O movimento estudantil é um movimento social da área da educação, no qual 
os sujeitos são os próprios estudantes. Caracteriza-se por ser um movimento 
policlassista e constantemente renovado - já que o corpo discente se renova 
periodicamente nas instituições de ensino. 
Podem-se encontrar traços de movimentos estudantis pelo menos desde o 
século XV, quando, na Universidade de Paris, uma das mais antigas universidades da 
Europa, registraram-se vários movimentos grevistas importantes. A universidade 
esteve em greve durante três meses, em 1443, e por seis meses, entre setembro de 
1444 e março de 1445, em defesa de suas isenções fiscais. Em 1446, quando Carlos 
VII submeteu a universidade à jurisdição do Parlamento de Paris, eclodiram revoltas 
estudantis - das quais participou, entre outros, o poeta François Villon - contra a 
supressão da autonomia universitária em matéria penal e a submissão da 
universidade ao Parlamento. Frequentemente, estudantes eram detidos pelo preboste 
do rei e, nesses casos, o reitor dirigia-se ao Châtelet, sede do prebostado, para pedir 
que o estudante fosse julgado pelas instâncias da universidade. Se o preboste do rei 
indeferia o pedido, a universidade entrava em greve. Em 1453, um estudante, 
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Raymond de Mauregart, foi morto pelas forças do Châtelet e a universidade entrou 
novamente em greve por vários meses. 
Contemporaneamente, destacam-se os movimentos estudantis da década de 
1960, dentre os quais os de maio de 1968, na França. No mesmo ano, também se 
registraram movimentos em vários outros países da Europa Ocidental, nos Estados 
Unidos e na América Latina. No Brasil, o movimento teve papel importante na luta 
contra o regime militar que se instalou no país a partir de 1964 (SOUZA, 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 ESTUDO SOCIOLÓGICO DAS ORGANIZAÇÕES 
 
2.1 O surgimento da sociologia 
 
No século XVIII, o ocidente começou a sofrer profundas transformações. 
Foram descobertas novas técnicas, que implicaram na criação de máquinas e 
equipamentos que revolucionaram o antigo modo de produção de mercadorias. Com 
a Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra, as formas antigas de organização 
mudariam radicalmente. Com o crescimento da população mundial, a demanda de 
produtos cresceu e ocorreram mudanças significativas nas formas de produção e de 
organização. 
A Sociologia surgiu no século XIX num momento em que se consolidava a 
primeira fase da Revolução Industrial. Suas abordagens iniciais buscavam 
compreender o contexto da industrialização e o papel desempenhado na sociedade 
pelas novas e dinâmicas organizações empresariais e os seus principais agentes: o 
empresário capitalista e o operário. Desenvolveu-se essa nova disciplina 
primeiramente com o objetivo de compreender as mudanças que estavam ocorrendo 
na nova sociedade que se erguia sob a influência da indústria; em seguida, passou 
para uma abordagem analítica e crítica. 
O surgimento da Sociologia ao longo do século XIX é possível porque há uma 
crescente tomada de consciência da existência de uma sociedade complexa e 
dinâmica, geradora de novos problemas sociais, que gradativamente vai sendo 
considerada como objeto de análise, em cujo estudo se pode adotar o método 
científico. 
Auguste Comte (1798-1857) é considerado o pai da Sociologia, pois 
estabeleceu claramente o campo de pesquisa da nova ciência como sendo a 
sociedade. A disciplina por ele criada teve continuidade com Herbert Spencer, Émile 
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Durkheim e Max Weber, entre outros, que foram estabelecendo os limites de atuação 
da Sociologia. 
O estudo das interações humanas e da sociedade vai se tornando cada vez 
mais o ponto central de referência para as ciências sociais. 
Entre os pontos em comum que tinham entre si os primeiros sociólogos 
(agrupados na denominada Sociologia Clássica), encontra-se a importância que é 
dada à ―indústria como núcleo da organização social, tanto em suas possibilidades 
de desenvolvimento e progresso real para as condições de vida das pessoas 
individuais como em seu aspecto de instituição que abriga e gera conflitosnunca 
conhecidos em épocas anteriores‖ (LUCAS MARIN, 2002, p. 6). 
A partir da Revolução Industrial as organizações passaram a exercer um papel 
fundamental na vida humana, a tal ponto que hoje seria inconcebível pensar o 
cotidiano sem elas. De fato, estão presentes ao longo de toda nossa vida e nos 
relacionamos com diversas organizações ao longo de um único dia. Constituem 
exemplos: as empresas, os sindicatos, as cooperativas, os clubes esportivos, os 
bancos, os partidos políticos, as escolas, as organizações não governamentais, as 
penitenciárias, os hospitais, entre outras. 
Não há muita dificuldade em identificarmos as organizações, no entanto não 
é tão fácil estabelecer as diferenças entre elas ou em relação a outras formas sociais, 
como a família, os movimentos sociais e as comunidades, por exemplo. 
Este fato nos remete à necessidade de aprofundarmos a base conceitual 
através de estudos de organizações concretas. Assim, o grande número de 
organizações, o papel que desempenham nos processos sociais e seu papel como 
agentes ou opositoras de mudanças sociais as converteram, portanto, em objeto de 
estudo das ciências sociais de um modo geral, e da sociologia em particular (DIAS, 
2008). 
A desestruturação da sociedade tradicional, com a perda de suas principais 
referências, que garantia um mínimo de estabilidade, como a organização econômica 
baseada na agricultura, e a existência de um claro domínio político da nobreza 
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provocaram a necessidade de encontrar alternativas que servissem como modelo a 
um novo tipo de organização social. E, para tanto, era necessário surgir uma ciência 
que estudasse os fenômenos que estavam ocorrendo, visando entendêlos, interpretá-
los e propor alternativas viáveis (DIAS, 2008). 
Os precursores da Sociologia e os primeiros sociólogos vislumbraram como 
núcleo dessa nova sociedade a forma de organização trazida pela indústria, 
destacando-se o papel dos empresários e da racionalidade científica como elementos 
novos de articulação de uma nova ordem. 
Nesse sentido, a nova forma de organização, a indústria, passa a ocupar lugar 
de destaque na sociedade, principalmente pelo fato de que o aumento de 
produtividade permitiu o atendimento de um número maior de consumidores de 
produtos a que outrora somente as classes superiores tinham acesso. 
Assim, ao lado da necessidade de estudar os novos fenômenos sociais 
trazidos pela industrialização, a indústria por si mesma torna-se objeto de estudo das 
ciências sociais. Esse fato mostra que a necessidade de estudo da organização 
industrial caminha concomitantemente com a construção dessa nova ciência, a 
Sociologia. Num primeiro momento, o estudo da indústria coube a uma vertente 
denominada Sociologia industrial, que pode ser considerada a precursora da 
disciplina. 
Assim, a disciplina Sociologia das Organizações nasce juntamente com a 
Teoria das Organizações, e torna-se muito difícil desvencilhar uma da outra, sendo 
que ao longo de todo o século XX podemos afirmar que o estudo sociológico das 
organizações confunde-se com aquele realizado em torno da Teoria das 
Organizações. 
 
2.2 O estudo das organizações 
 
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Podemos encontrar ideias relevantes para o estudo das organizações ao 
longo de toda a história, no entanto, os primeiros estudos sistemáticos do 
comportamento organizacional foram realizados no final do século XIX. Motivados 
pelas mudanças na estrutura social, que estavam associadas com a industrialização 
e a crescente burocratização, intelectuais das mais diversas disciplinas começaram a 
prestar mais atenção às organizações e seus efeitos na vida social (SCOTT, 2004 
apud DIAS, 2008). 
O conceito de organização tem como ponto de partida a sociologia, mas tem 
vínculos com outras disciplinas, tanto em termos de estudo quanto aplicação, que 
correspondem basicamente às ciências sociais e do comportamento (Sociologia, 
Antropologia e Psicologia) e ao econômico empresarial (administração, economia). 
As primeiras abordagens tiveram como foco principal a racionalização do 
processo de trabalho, deixando num segundo plano (e até ignorando) o ambiente 
externo da organização e o papel dos grupos informais no processo de trabalho, 
destacando-se nesse período os trabalhos de Taylor e Fayol. As análises e conclusões 
de Weber sobre as transformações no sistema administrativo das administrações 
governamentais, e a importância que deu ao sistema administrativo racional-legal, 
contribuíram para reforçar as proposições desse conjunto de autores reunidos no que 
denominamos de Escola Clássica. 
Como uma reação a essas versões tecnocráticas, os cientistas sociais durante 
as décadas de 1930 e 1940 passaram a se contrapor a essa concepção racional-
instrumental da organização. Entre esses pesquisadores, os psicólogos descobriram 
motivos individuais mais complexos, e os estudos de antropólogos e sociólogos 
revelaram a existência não oficial de padrões informais de cooperação, normas 
compartilhadas e conflitos dentro de cada grupo e entre gerentes e trabalhadores 
(SCOTT, 2004 apud DIAS, 2008). 
Destacaram-se nesse período os trabalhos de Elton Mayo sobre o 
comportamento das trabalhadoras de uma fábrica da Western Electric e que 
constituem o marco inicial da Teoria das Relações Humanas. 
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O que estava ausente nessas abordagens iniciais tanto da Escola Clássica 
quanto da Teoria das Relações Humanas era a análise da organização como uma 
unidade social, um agente diferenciado da sociedade. Considerando este aspecto 
entre os primeiros que estudaram a organização como uma unidade de interesse 
estavam Barnard e Selznick, que observaram que as organizações não eram somente 
sistemas de produção técnica, mas também sistemas sociais adaptáveis que 
buscavam sobreviver em seu meio ambiente (BARNARD, 1971 apud DIAS, 2008). 
Barnard dedicou bastante atenção à interdependência das estruturas formais 
e informais no interior das organizações, o que lhe permitiu perceber que a função 
primária do executivo não é projetar sistemas eficientes, mas criar e promulgar visões 
morais relacionadas com a missão da organização que irão comprometer, de forma 
mais concreta, os seus integrantes. 
Selznick (1971), por sua vez, enfatizou que as organizações poderiam ser 
encaradas sob dois pontos de vista, analiticamente distintos. Por um lado, qualquer 
organização representa um sistema de relações que define a disponibilidade de 
recursos escassos e que podem ser manipulados em termos de eficiência e eficácia. 
Por outro lado, constituem sistemas cooperativos e estruturas sociais adaptáveis. 
Na década de 1950, Gouldner (1959 apud DIAS, 2008) sintetizou estas duas 
visões, identificando-as com um sistema racional e um sistema natural. 
A perspectiva do sistema racional considera as organizações como 
instrumentos que podem ser conscientemente manipulados e moldados para realizar 
determinados fins. A perspectiva do sistema natural vê a organização como um 
sistema orgânico buscando sua sobrevivência, como coletividade que envolve 
espontaneamente processos indeterminados. 
Na década de 1950, ainda destacam-se como contribuição à Sociologia das 
Organizações, além dos já citados, os trabalhos de Robert K. Merton (Estrutura 
burocrática e personalidade), Talcott Parsons (Sugestões para um tratado sociológico 
da teoria da organização), Philip Selznick (Fundamentos da teoria da organização) e 
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Peter M. Blau (A dinâmica da burocracia), entre outros, que foram reunidos por Etzioni 
no livro Complex organizations publicado em1961 (ETZIONI, 1973). 
Nesse mesmo período, um coletivo de intelectuais de diferentes disciplinas 
reunidos no Instituto Tavistock construiu um modelo sociotécnico de análise 
organizacional apresentado num relatório técnico elaborado por Frederick Emery em 
1959 e, posteriormente, publicado por Emery e Trist em 1960, que incorpora os 
aspectos sociais e técnicos numa perspectiva de estudo das organizações como 
sistemas abertos (DIAS, 2008). 
Algumas limitações dos estudos sociológicos das organizações que vinham 
sendo feitos até então foram apontadas por Etzioni no final da década de 1950, 
afirmando que: 
―Com relação ao efetivo estudo das organizações, pode-se dizer - e isto se 
aplica também à sociologia de organizações econômicas - que a maioria dos estudos 
tende a focalizar a unidade organizacional e as inter-relações entre seus elementos e 
evidenciam uma tendência para negligenciar suas relações com outras unidades 
sociais, mesmo as significativas, como outras organizações e coletividades. 
Frequentemente, dá-se ênfase às características genéricas e aos processos de 
unidades da organização, e não às estruturas específicas e aos processos dos vários 
subtipos da organização‖ (ETZIONE, 1973). 
Etzioni (1973) considerava que a sociologia organizacional era potencialmente 
capaz de desenvolver bases sadias para um estudo geral e comparativo das 
organizações e focalizou o estudo das organizações de acordo com quatro pontos de 
vista: 
1. As organizações são analisadas como unidades sociais, e o interesse se 
divide entre o estudo da estrutura formal e o da não formal. 
2. O estudo das organizações aborda a relação de uma estrutura 
organizacional, como unidade, com outras estruturas de organizações, e com 
unidades sociais que não são organizações (coletividades), tais como: família, 
comunidades, grupos étnicos, classes sociais e a própria sociedade. 
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3. As organizações são analisadas do ponto de vista de suas relações com 
a personalidade e a cultura. Quanto à personalidade, relacionam-se com as 
necessidades da estrutura organizacional e as necessidades das personalidades dos 
participantes. O estudo das relações da organização com sistemas culturais abrange, 
por um lado, as orientações de valor, as fontes de legitimação da autoridade e as 
relações dinâmicas entre os ideais e objetivos da organização e as necessidades da 
própria estrutura organizacional, e por outro lado envolve os meios pelos quais o 
conhecimento é adquirido e institucionalizado dentro das organizações. 
4. A relação entre as organizações e o meio ambiente incluiria o estudo do 
comportamento das organizações relacionado com a capacidade biológica e 
fisiológica, inclusive as necessidades dos participantes e o estudo das respectivas 
adaptações entre a organização e o ambiente geográfico e físico. 
Aqui nos interessa os pontos 2 e 4 dos quais podemos fazer um gancho para 
nossos estudos que virão a seguir sobre a questão da responsabilidade social das 
empresas e o papel do Assistente social, visto ser este nosso objeto e objetivo de 
estudo. 
Segundo Dias (2008), para alguns autores a Sociologia das Organizações tem 
como conteúdo central o estudo de cinco grandes características que são encontradas 
em todas as organizações: alguns objetivos específicos que orientam os outros 
aspectos estruturais e funcionais; uma rede de posições ocupadas por indivíduos 
substituíveis; uma dedicação responsável às tarefas de sua posição por parte dos 
indivíduos que a ocupam; uma estrutura ou sistema estável e coordenado de relações 
entre as diferentes posições; e um ou mais centros de poder que controlam a atividade 
da organização e a dirigem para a realização de seus objetivos. 
Atualmente, podemos afirmar que, especificamente, a sociologia 
organizacional se preocupa em estudar as formas organizacionais como sistemas 
sociais em contínua interação com o seu ambiente externo, que gera efeitos em seus 
processos internos (os indivíduos, suas interações, comportamentos, processos 
sociais básicos, relações de poder etc.) e na organização como um todo. 
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Nesse contexto, e a partir da perspectiva, interesse e metodologia adotada 
pelo pesquisador, a sociologia pode abordar o fenômeno organizacional de três modos 
distintos, tendo como referência básica: o indivíduo, a organização e a ação da 
organização na sociedade. 
Do ponto de vista do indivíduo, os problemas objeto de estudo são aqueles 
que dizem respeito às pessoas que pertencem à organização, ao tipo e grau de 
participação, seu comportamento, motivação, cultura adquirida, identificação com a 
organização etc. 
Quanto à organização, trata-se de considerá-Ia um todo complexo, e o seu 
estudo foca a estrutura (hierárquica, física, de dominação, das relações de poder), os 
diversos subsistemas que contém (técnico, de normas, entre outros), a ideologia, os 
fins, objetivos e metas. Incluem-se nesse referencial, também, os processos de 
cooperação, os conflitos, a comunicação, a influência do ambiente externo na 
organização, entre outros. 
O terceiro modo de se abordarem as organizações é considerá-Ias enquanto 
atores sociais, partindo-se do pressuposto de que são agentes ativos de 
transformações (sociais, econômicas, culturas etc.) que podem incluir tanto mudanças 
como manutenção de determinado status quo. Trata-se, em resumo, da ação 
organizacional no seio da sociedade, da relação com seu público externo, com as 
instituições públicas, privadas e do terceiro setor, e da comunidade que vive em seu 
entorno imediato. 
 
2.3 As organizações como agentes sociais 
 
As organizações, de um modo geral, para alcançar seus objetivos devem se 
submeter às limitações impostas pelo meio sociocultural do qual fazem parte, 
cumprem um papel social como peças de um todo complexo e articulado ao qual 
denominamos sociedade, desempenhando funções sociais importantes e socialmente 
legitimadas. 
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Por outro lado, as organizações modificam o ambiente onde estão localizadas, 
e quanto maiores, mais significativas são as modificações que provocam, pois o 
entorno das organizações mais poderosas está bem controlado por elas, é bastante 
estável e está formado por outras organizações com interesses semelhantes ou por 
interesses que elas controlam. 
Assim, as organizações são agentes sociais que controlam determinados 
bens, estabelecem novas relações na sociedade onde estão inseridas e provocam 
modificações no ambiente sociocultural. As organizações são protagonistas na 
sociedade, em todos os âmbitos em que esta se estrutura (privado ou público) (DIAS, 
2008). 
As organizações devem ser consideradas como agentes sociais coletivos que 
influenciam e determinam a vida de outros agentes (coletivos e individuais). 
Tomando como exemplo uma organização econômica (empresa), temos como 
principais âmbitos em que intervém: 
 Criação do mercado de trabalho, entendido como o conjunto de práticas que 
regulam a contratação e o controle da atividade produtiva dos trabalhadores; 
 Contribuição eficaz e decisiva para a estratificação social; 
 Modificação do meio natural ou ecológico, do qual toma seus recursos e sobre 
o qual intervém de muitos modos ao longo do processo produtivo; 
 Através da produção de mercadorias, ou seja, bens e serviços que se oferecem 
ao mercado mediante um preço: 
- produz valores de uso, bens úteis, que respondem a 
necessidades individuais e coletivas, reais ou fictícias, naturais ou 
criadas; 
- produz valores de troca, cujos preços são construídos pelas 
empresas; 
- cria identidade, não somente dentro das organizações, mas 
também no contextoda sociedade, ao relacionar o consumo de certos 
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produtos com a posição social, ou com o pertencimento a determinados 
setores sociais. É a busca permanente de novas formas de gosto como 
afirmação da própria identidade. 
 
3 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS – DESAFIO 
PARA O SERVIÇO SOCIAL 
 
No Brasil, a gravidade dos problemas sociais e a emergência de alternativas 
para o enfrentamento dessa realidade trazem à tona a discussão sobre a 
responsabilidade social das empresas. No setor privado, o movimento da 
responsabilidade social (RS) é composto por ambiguidades e controvérsias que, 
somadas às discussões sobre a situação de boa parte da população, cujas 
necessidades básicas ainda não estão sequer sendo supridas, tornam a RS das 
empresas brasileiras um desafio ainda maior (REIS, 2007). 
No contexto mundial, o movimento da RS existe desde os anos 1960, mas, no 
Brasil, ele tomou forma e concretude nos anos 1980. Sua disseminação é lenta e 
carrega uma tradição histórica de filantropia assistencialista, portanto, trata-se de uma 
discussão em curso e com produção reduzida. Para efeitos dessa reflexão, 
sistematizaram-se alguns autores, sem a preocupação de pautar linhas de divergência 
e convergência a respeito do tema, e utilizaram-se informações estatísticas do Instituto 
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com o intuito de destacar algumas 
características do movimento no Brasil. 
Nessa perspectiva, as referências que seguem caracterizaram: em primeiro 
lugar, as origens e a evolução da responsabilidade social das empresas, tendo por fim 
destacar o entendimento do seu significado; em segundo, uma síntese da evolução 
da ação social das empresas brasileiras; e, por fim, por meio de informações 
empíricas, em que estágio se encontravam as ações de RS nas empresas brasileiras 
como alternativa para a construção de uma sociedade com efetiva justiça social, 
econômica e sustentável (REIS, 2007). 
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Origens e evolução da responsabilidade social das empresas 
O movimento da responsabilidade social das empresas, cuja projeção nos 
EUA e na Europa aconteceu em meados dos anos 1960, passou a ser pauta na 
agenda dos empresários brasileiros, com mais visibilidade, ao longo dos anos 1990, 
incentivado pelo período de redemocratização e abertura econômica do País e pelos 
direitos conquistados com a Constituição Federal de 1988. No meio acadêmico, as 
reflexões sobre o tema iniciaram nos anos 1980, trazendo à tona as peculiaridades da 
RS em um país como o Brasil, cuja gravidade dos problemas sociais e a 
responsabilidade das empresas, seja no agravamento desses problemas, seja na 
contribuição para o seu enfrentamento, já não podiam mais passar despercebidos. 
Uma das primeiras referências acadêmicas ao assunto, no Brasil, aponta a 
responsabilidade social das empresas como ―(...) parte da premissa de que as 
organizações têm responsabilidade direta e condições de abordar os muitos 
problemas que afetam a sociedade (...) (TOMEI, 1984, p. 189)‖. 
Nessa ótica, assim como as empresas têm responsabilidade pelos problemas 
sociais, também têm capacidade de utilizar ferramentas empresariais para seu 
enfrentamento. Oliveira (1984, p. 205) reforça essa premissa, ao sustentar que a RS 
das empresas é a ―(...) capacidade da empresa de colaborar com a sociedade, 
considerando seus valores, normas e expectativas para o alcance de seus objetivos‖ 
e acrescenta que ambas — empresa e sociedade — podem atingir seus objetivos. 
Essa definição revela a convergência de interesses das empresas e da sociedade, e 
veio ao encontro do momento político de abertura econômica do País, pois o ingresso 
de capitais norte-americano e europeu reforça e qualifica o debate sobre a RS das 
empresas. 
A RS das empresas também deveria contemplar o atendimento às demandas 
da sociedade, na perspectiva de progresso, desenvolvimento humano e melhoria das 
condições de vida da população: ―(...) o modelo de responsabilidade social deveria 
resultar de uma preocupação em se aliar o desenvolvimento econômico ao 
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desenvolvimento de qualidade de vida‖ (GUIMARÃES, 1984, p. 215). Nessa ótica, a 
questão do desenvolvimento econômico, humano e social foi contemplada como parte 
das responsabilidades das empresas. 
Em uma perspectiva mais ampla, a RS das empresas é vista (...) como um 
compromisso (...) com relação à sociedade e à humanidade em geral, e uma forma de 
prestação de contas do seu desempenho, baseada na apropriação e no uso de 
recursos que originalmente não lhe pertencem (MELO NETO E FROES, 1999, p. 
84). 
Sob esse prisma, as empresas consomem recursos da sociedade, renováveis 
ou não, mas que são patrimônio gratuito e coletivo da humanidade; logo, contraem 
―uma dívida social‖ (Melo Neto e Froes, 1999), sendo seu compromisso restituir à 
sociedade o que dela é absorvido, por meio de investimentos na área social e no meio 
ambiente. 
A evolução da RS das empresas pode ser dividida em três estágios, que, ao 
contemplarem permanentemente diferentes enfoques e públicos-alvo, envolvem todas 
as partes interessadas no processo de gestão social empresarial, através de ações 
gerenciais desenvolvidas para o enfrentamento das novas demandas sociais. Tais 
estágios são: ―(...) 1º estágio – exercício da gestão social interna (...) 2º – exercício 
da gestão social externa (...) 3º – exercício da gestão social cidadã (...)‖ (MELO NETO 
E FROES, 2001, p. 80-81). 
Em relação ao primeiro, o exercício da gestão social interna tem o foco de 
atuação voltado para os funcionários e seus familiares, e refere-se a questões 
regulares da empresa, como saúde, segurança, qualidade no ambiente de trabalho e 
benefícios. O fato de o primeiro estágio ter como objetivo os funcionários gera 
questionamentos sobre os interesses envolvidos nessa decisão: se é o de aumentar 
a motivação, a satisfação e o comprometimento dos funcionários somente para 
incrementar a produtividade, tornando a gestão social interna um fim em si mesma, ou 
se visa a contemplar objetivos sociais mais amplos, de mudança de cultura. 
O segundo estágio, relativo à gestão social externa, refere-se à sociedade, às 
comunidades e aos consumidores em questões como preservação do meio ambiente, 
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impactos socioeconômico, político e cultural na sociedade, segurança e qualidade dos 
produtos. 
O terceiro estágio é o exercício da gestão social cidadã, que extrapola a 
comunidade e se estende à sociedade como um todo. As empresas inserem-se 
socialmente na comunidade, cooperando para o desenvolvimento e fomentando 
projetos locais e regionais, mediante ações de filantropia, incentivo à geração de 
empregos e estabelecimento de parcerias com o Governo e outras entidades, além da 
promoção de campanhas de conscientização social e de cidadania (MELO NETO E 
FROES, 2001). Mas a ação de filantropia, que, em realidade, apenas reproduz 
determinadas condições sociais vigentes ao invés de transformá-las, é uma questão 
presente na atuação social das empresas, e requer um repensar sobre sua 
efetividade. 
Na gama de definições de responsabilidade social das empresas, também são 
utilizadas outras terminologias, como o conceito de cidadania empresarial, que parte 
de duas visões que se complementam, pois ―(...) pressupõe uma concepção de 
empresa que é corresponsável pelo bem-estar da comunidade‖ (Melo Rico, 1998, p. 
38), indo além do cumprimento de sua função econômica, ao assumir compromissos 
éticos que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, e sendo 
também definidocomo ―(...) um conjunto de princípios e sistemas de gestão 
destinados à criação ou à preservação de valor para a sociedade (...)‖ (Soutello Alves, 
2001, p. 4), ou seja, uma empresa que possa desenvolver métodos de gestão 
socialmente responsáveis e capazes de atender a diferentes anseios, não só das 
comunidades, mas de toda a sociedade. 
A cidadania empresarial manifesta-se na cultura da empresa cidadã, que é 
aquela que ―assume o compromisso e define políticas em relação a cada um de seus 
parceiros. Cultiva e pratica livremente um conjunto de valores (...)‖ (MARTINELLI, 
2006, p. 83). 
É cidadã porque preserva e respeita os interesses das partes com as quais 
tem relações diretas e indiretas, adotando uma postura proativa, que contribui para 
encaminhar soluções aos diversos problemas sociais, mobilizando recursos como 
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informação, técnicas de gerenciamento, cultura de resultados, senso de prioridades, 
além de recursos financeiros, materiais e humanos, colocando-os à disposição da 
sociedade como fatores estratégicos para o desenvolvimento do bem comum. Mas a 
filantropia e a doação ainda são muito presentes no movimento da responsabilidade 
das empresas no Brasil. Nessa ótica, ―a filantropia empresarial é um setor em 
crescente movimento e que representa algo novo não apenas no cenário 
organizacional, mas também no cenário da sociedade brasileira‖ (Melo Rico, 1998, p. 
25), no qual os recursos privados do setor empresarial são utilizados para o 
atendimento das necessidades e dos interesses de fins públicos. 
A filantropia empresarial, ao investir na sociedade, não está prestando favores 
ou doando benefícios. A nova ação social empresarial está procurando algum retorno, 
colaborar com o desenvolvimento do País, demonstrando que a iniciativa privada deve 
ser consciente, ter uma responsabilidade social em relação aos problemas que 
atingem a sociedade como um todo. A empresa cidadã é aquela que, além de cumprir 
sua função econômica, trabalha para a melhoria da qualidade de vida de toda a 
sociedade (MELO RICO, 1998, p. 29). 
As empresas atuam nos espaços em que a ação social do Estado, por si só, 
é inconsistente para enfrentar graves problemas, como a situação de miséria e 
exclusão social que assola o País, seja por uma questão de ineficiência na aplicação 
de políticas sociais, seja por falta de recursos. Embora haja a compreensão de que a 
gestão de políticas e programas de erradicação da pobreza e das desigualdades 
sociais é ainda competência do Estado, a filantropia empresarial, por meio da doação 
e de investimentos em programas sociais, e articulada a ações do Estado e ao 
Terceiro Setor, pode contribuir para melhores resultados e maior abrangência dos 
programas, assim como para minimizar e enfrentar as demandas sociais. 
Desse modo, percebe-se que a filantropia das empresas tem por objetivo 
possibilitar que projetos sociais de interesse público possam ser iniciados, e, para isso, 
é necessária a doação de recursos financeiros, tanto para o desenvolvimento de 
projetos próprios das empresas, apoiando projetos de ONGs, quanto para a criação 
de institutos e fundações, muitas vezes em associação com outras empresas. O que 
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tem sido discutido na atualidade é que as empresas devem acompanhar os projetos 
e aperfeiçoar as ações, de modo a gerarem retorno em face dos investimentos 
realizados, não em lucros financeiros para si mesmas, mas para a sustentabilidade do 
projeto. 
Por outro lado, o processo de globalização da economia faz com que, cada 
vez mais, as empresas se preocupem com a sustentabilidade de seu negócio e com 
sua imagem pública. ―Portanto, o investimento em projetos sociais pode estar ligado 
à eficácia da produção e à lucratividade da empresa (...)‖ (MELO RICO, 1998, p. 37). 
Mas, se o interesse econômico como um fim em si mesmo, muitas vezes, é o 
que desperta o interesse da empresa pela responsabilidade social e até pode ser o 
exercício inicial da sua atuação social, a ―(...) pressão na sociedade civil como um 
todo, no sentido de 'cobrar' ações efetivas do empresariado para se envolver no 
processo de desenvolvimento social do País (Melo Rico, 1998, p. 37), também está 
despertando maior conscientização das empresas sobre seu papel no 
desenvolvimento humano e social do Brasil. 
Assim, com base nas definições destacadas, é possível referir que o processo 
de implementação da responsabilidade social nas empresas brasileiras é muito 
recente e encontra desafios nas históricas peculiaridades dos agentes econômicos do 
País. Por exemplo, como a RS no Brasil não está expressa em caráter obrigatório, 
mas no de ajuda, no de colaboração ou de adesão, a ambiguidade da ação da 
empresa se faz presente a todo momento. Ou seja, os empresários e as instituições 
têm o pleno conhecimento do significado e da necessidade de atuarem nessa 
perspectiva, porém, na prática, essa compreensão não se evidência como um 
movimento consciente. 
Nos termos desta reflexão, é fundamental destacar que o Segundo Setor tem 
papel preponderante na construção de uma sociedade mais justa, por meio de 
decisões e de ações socialmente responsáveis, transparentes e éticas, que preservem 
os interesses de todos os stakeholders, decisões essas que não suprimam dos 
indivíduos seu trabalho, seu sustento e o de sua família e uma vida digna. Isso é 
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condição e requisito para a sustentabilidade social e econômica não apenas da 
sociedade, mas do próprio negócio. 
No Brasil, as necessidades básicas de grande parcela da população ainda não 
estão sendo supridas. Questões relativas à sobrevivência, à fome, ao desemprego e 
à exclusão social, dentre outras, remetem as discussões acerca da responsabilidade 
social das empresas a um outro patamar. Os primórdios das discussões sobre 
responsabilidade social empresarial nos Estados Unidos e na Europa tratavam de 
problemas relativos ao meio ambiente e aos direitos dos consumidores. A realidade 
brasileira suscita outros questionamentos, muito mais intensos e urgentes de serem 
enfrentados e solucionados (REIS, 2007). 
 
Um pouco de história... 
Historicamente, a parceria entre Estado e sociedade civil já vem sendo 
costurada desde a década de 1930 (Mestriner, 2005) e intensificada ao longo dos 
anos, oscilando entre ampliações e retrações. Realizando atendimentos que, a priori, 
seriam responsabilidades do Estado, a iniciativa privada reforça o discurso da 
ineficiência governamental — mesmo que seu financiamento muitas vezes seja 
proveniente dele. 
Assim, o ―terceiro setor‖ (que juntou num mesmo pacote conceitual ONGs, 
movimentos religiosos, associações de moradores e filantropia empresarial, só para 
citar alguns) passa a executar ações sociais, fortalecendo uma postura clientelista nos 
atendimentos. Dessa forma o enfrentamento da ―questão social‖ por meio da 
(re)filantropia e do terceiro setor se ampliou. 
Ao tornarem-se ―parceiros‖ do poder público para a implantação e gestão de 
programas e projetos sociais, consolidam uma transferência de responsabilidades 
para a iniciativa privada no campo do investimento social, que, na verdade, seria uma 
atribuição constitucional do Estado brasileiro em todos os níveis de governo. Passou 
a ser um canal onde as demandas sociais resultantes da ―questão social‖ podem ser 
absorvidas, desarticuladas, pulverizadas e transmutadas em ―questões sociais‖, 
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esvaziando sua origem nas contradições de classe, buscando respaldo no discurso 
da solidariedade e munido de uma legitimidade outorgada pela sociedade e pelo 
financiamento

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