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“A Ciência é feita de fatos da mesma forma que uma casa é feita de tijolos, mas um amontoado de fatos não é Ciência, da mesma forma que um amontoado de tijolos não é uma casa” Henri Poincaré (1854 - 1912) Pré-Enem Atitude Material original 2020 Miolo: Prof. Carlos Ivan Falcão Fehlberg Capa: Profa. Lorrana Bernardes Bastos 1. Introdução à Física . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2. Procedimentos Científicos na Física . . . . . . . . . . . . . . . . .8 3. Grandezas, medidas e gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 4. Sistema Internacional de Unidades . . . . . . . . . . . . . . . . .17 5. Análise de Gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 6. Grandezas Escalares e Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 SUMÁRIO Na capa deste material você encontra escrito “Física: Conhecimentos básicos e fundamentais”. O que isso quer dizer? Quer dizer que aqui dentro vamos ver o que você precisa saber para aprender Física! Acho que a primeira delas é: por que eu preciso aprender Física? E eu vou ser bem sincero: você não precisa aprender, você já sabe! O que vamos te ajudar a fazer é colocar o que sabe de Física nas caixinhas certas. Primeiro você deve querer saber que história é essa de que já sabe Física. Se você já trocou uma lâmpada, jogou basquete, fez café ou mesmo só caminhou ao ar livre, você o tempo todo usou Física: como funciona a eletricidade pra saber a hora de trocar a lâmpada e não tomar choque; como é que a gravidade afeta objetos com velocidade para fazer a cesta; como o fogo esquenta a água que ferve e cozinha o pó; como eu devo fazer força com meus pés, usar roupas frescas e protetor solar num passeio. Tudo isso é Física e você sabe fazer muito bem! Mas aí você vai se perguntar: por que eu devo estudar isso na escola ou no cursinho? Porque quando você organiza e melhora seu conhecimento, é capaz de fazer muito mais coisas. Já INTRODUÇÃO À FÍSICA 3 precisou escrever um e-mail importante e agradeceu por ter tido aulas de Língua Portuguesa? Você saberia escrever o e-mail da direita sem aulas? Ou sairia algo mais pra mensagem da esquerda? Pois é, com Física é a mesma coisa. Só com ela você saberia explicar porque uma ligação mal feita faz com que a lâmpada de 40 W brilhe mais que a de 100 W. Tudo bem, organizar em caixinhas ajuda. Mas quais são essas caixinhas? Bem, agora vamos colocar na primeira caixinha: o que nós chamamos de caixinhas podem ser conceitos, categorias ou ramos da Física. A própria Física já é um ramo. Ela faz parte do Conhecimento Humano. Dentro dele, ela se distingue por alguns motivos. O primeiro é o jeito como é feita, através de procedimentos especiais, científicos. E, por isso, dentro do Conhecimento Humano, a Física é uma Ciência. Não Arte, não Tecnologia. Ciência. Quais são esses procedimentos a gente vai discutir daqui a pouco. Mas mesmo dentro da Ciência, tem diferença. Física não estuda seres humanos. Você até pode estudar a temperatura de uma pessoa ou como ela corre, mas podia ser uma bola de basquete que a Física não ia ver diferença. Por isso, a Física, que estuda a natureza, é uma Ciência Natural. Mas não estudamos mudanças na composição dos objetos, muito menos as complexidades da vida. Estudamos as INTRODUÇÃO À FÍSICA 4 características básicas da natureza. E isso nos faz Física. Como os gregos que deram esse nome e o F grego é um FI, essa letra é nosso símbolo. Dentro da Física os ramos também se dividem. O primeiro é a Mecânica. Estuda o movimento e as condições para sua ausência. Se divide em Cinemática, que estuda como é o movimento; Dinâmica, que estuda porque acontece o movimento; e Estática, que diz o necessário para não haver movimento. Estuda também movimentos internos em fluidos e sólidos, especialmente quando um fluido está parado, a Hidrostática. Ela que estuda Oscilações e Ondas Mecânicas (inclusive o som) que de tão especiais, ganham uma parte só delas: Ondulatória. Também é a Mecânica que estuda o que faz uma maçã cair e a Lua girar em torno da Terra, na Gravitação. A Mecânica está na capa deste material com o movimento de um peso preso a uma roldana. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 5 A outra parte da Física é a Termodinâmica (ou Termologia). Ela se divide em Termometria que estuda temperatura; Calorimetria que estudar o calor e seus efeitos; Gases já que sólido e líquido a Mecânica faz bem sozinha; e Termodinâmica que relaciona tudo isso a o que o sistema pode fazer. Pra Termodinâmica reservamos na capa um termômetro. A terceira grande parte é o Eletromagnetismo. Ele estuda a Eletricidade: carga e corrente elétricas e suas propriedades; o Magnetismo: ímãs, bússolas; a junção da eletricidade e do magnetismo; e a radiação eletromagnética ou luz, na Óptica. Pro Eletromagnetismo deixamos o campo magnético do nosso planeta Terra. Toda essa Física foi feita antes de 1900 e por isso é chamada de Física Clássica. A Física do século XX em diante é chamada de Física Moderna, a qual continua desenvolvendo a Termodinâmica e o Eletromagnetismo, mas causa problemas para a Mecânica e a forma como vemos o mundo. INTRODUÇÃO À FÍSICA 6 Um dos problemas envolve a constituição das coisas que vai se mostrando incompatível com a Mecânica Clássica. Daí surge a Mecânica Quântica que como grande triunfo tem a explicação da Estrutura da Matéria. Não à toa ela tem o átomo em nossa capa. O outro problema vem do conflito da Mecânica Clássica com alguns resultados da própria Física Clássica. Daí surge a Teoria da Relatividade que nos mostra especialmente a Estrutura do Espaço-tempo. Ela ganhou em nossa capa sua equação (e talvez de toda a Física) mais famosa. No começo eu disse que a Física não era arte. Mas é inegável sua beleza. Olhem para essa equação acima. Três letras (E para energia, m para massa e c para velocidade da luz), um número, um símbolo de igual. Uma das letras é uma constante da natureza sobre luz (justamente sua velocidade). E é esta equação que pode trazer os avanços da energia nuclear e os retrocessos da bomba atômica. A Física, seu ensino e seu estudo, têm justamente esse papel: fazer com que as pessoas entendam o poder de um átomo e uma equação juntos e decidam se querem iluminar ou destruir uma cidade. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 7 Você já deve ter ouvido falar no Método Científico, né? Hipóteses, observação, medidas, testes, conclusões e leis. Uma receita de bolo. Mas você já fez bolo em casa? Pois é… fazer ciência é que nem fazer bolo caseiro: a receita não é tão precisa, cada um tem sua receita e cada um faz de um jeito. Nem sempre dá certo, mas quando dá, o bolo é delicioso, independente de quem fez. Apesar de tantas diferenças, algumas coisas se mantém. Na Ciência, mesmo que o caminho seja diferente, alguns passos se repetem e os chamamos de procedimentos científicos. Eles não precisam acontecer em ordem, nem todos precisam acontecer, podem acontecer mais procedimentos que os listados. E por isso não podemos falar em um método, um caminho. O procedimento mais fundamental é escolher um problema. Isso pode vir de uma observação da natureza, de uma leitura ou raciocínio sobre a teoria, do resultado do trabalho de outra pessoa. O importante é saber que pessoas diferentes vêem problemas diferentes na mesma situação, pois sabem coisas diferentes. Mas quem diz quem está certo ou errado é o fato. Devemos abrir mão do que sabemos se um fato for contraditório a ele. Por exemplo, você e seu pai vêem uma lâmpada de 40 W brilhando mais que uma de 100 W. Você que viu isso numa PROCEDIMENTOS CIENTÍFICOS NA FÍSICA 8 aula, não vê como problema. Já seu pai que sabia que lâmpadas de 100 W sempre brilhavam mais, vê um problema, mas como bom cientista amador, abre mão do que sabia e aceita o fato de uma de 40 W pode brilhar mais. Outro procedimento é adotar uma proposta de solução, normalmente chamadahipótese. Adotar pois pode não ser sua, mas você acredita, ou mesmo que não acredite, quer saber onde ela te levará. Mas não pode ser qualquer hipótese: ela precisa poder ser testada e, principalmente, negada. Por exemplo, sua mãe chega e, assim como seu pai, vê na situação das duas lâmpadas um problema. Ela propõe que a lâmpada está com defeito. Seu pai acha que seres microscópicos são atraídos pela luz e acabam diminuindo sua passagem. Podemos testar e ver se a lâmpada funciona e mesmo sabendo que isso vai acontecer você também adota a hipótese da sua mãe, mas toda vez que fizermos um teste sobre os seres do seu pai, ele dirá uma nova propriedade deles que invalida nosso teste e, portanto, sua própria hipótese. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 9 Os testes da solução são procedimentos científicos e podem ser de vários tipos. O primeiro deles é o teste experimental, onde criamos as condições reais ou observamos onde elas já existem para tentar negar ou encontrar mais indícios da validade da solução. No nosso caso, podemos pegar as duas lâmpadas e ligar num testador que temos, uma por vez. Você e sua mãe adotaram a hipótese dela, ela acreditando e você querendo ver onde vai dar. Ao verem as lâmpadas funcionando normalmente, sabem que a solução é inválida. Então abrem mão da hipótese em favor do fato. E criam outra. Sua mãe agora acha que é a forma como elas estão conectadas. Enquanto isso, seu pai, que acredita ter encontrado a solução e que ninguém pode negar a hipótese, não vê mais como um problema e faz a ideia dele valer mais que o fato. Do outro lado dos testes experimentais estão os testes teóricos. Eles podem se basear em argumentação lógica, esquemas, diagramas, equações matemáticas, simulações de computador, entre outras. Essas duas últimas formas são muito vantajosas: elas não deixam espaço para ambiguidade, respeitam as exigências feitas sobre os outros procedimentos. Dentro dos testes teóricos, os testes matemáticos (que incluem os computacionais) são muito PROCEDIMENTOS CIENTÍFICOS NA FÍSICA 10 especiais. Você explica pra sua mãe que existem fórmulas que relacionam o brilho da lâmpada, a rede, a conexão e a lâmpada em si. Fazem as contas juntos e vêem que numa ligação em série, a lâmpada de 40 W brilha mais que a de 100 W. Agora é hora de comunicar e a comunicação de resultados é um importante procedimento científico. Ela deve permitir que o outro entenda o resultado, repita os testes e concorde ou discorde com o que você diz. É importante ter em mente o que você vai comunicar a partir dos resultados e estar disposto a debater as críticas e aceitar o fato caso seja negada sua teoria. Você e sua mãe vão comunicar a outras pessoas. Sua mãe diz para sua tia que vocês perceberam que para a ligação de vocês a teoria sobre ligação em série era válida e explica a conta que fizeram. Você falha nesse ponto e conta pra um amigo que vocês provaram a equação que fala de ligação em série. Não se pode concluir isso do seu experimento, nem de nenhum. Mas como essa lei foi criada? CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 11 A busca de leis gerais é um procedimento científico que deve ser cauteloso. É necessário pois não queremos que a ciência seja só uma coleção de fatos, queremos colocá-los em caixinhas. Mas nenhum experimento ou conta específica prova uma lei geral. Essas leis gerais podem ser construídas a partir de leis mais gerais ou generalizando leis mais específicas, mas isso só muda a lei a ser criada. Todas estas partem de suposições e resultados experimentais que, após muito sucesso e nenhuma negação, vai ganhando a solidez de uma lei geral. Todos esses procedimentos científicos são igualmente importantes, mas nenhum é estritamente obrigatório. A única obrigatoriedade em Ciência e que deve ser levada para a vida é estar disposto a aprender com os fatos, questionar o que não for fato e aceitar as críticas. PROCEDIMENTOS CIENTÍFICOS NA FÍSICA 12 Falamos ali atrás que o procedimento de testes pode ser experimental ou teórico, mas sabemos que a realidade, a verdade, a Ciência, ou mais especificamente a Física, são únicas. Então os dois procedimentos precisam conversar. Isso se dá pelo processo de representação: representar uma ligação por um desenho de um circuito, representar o movimento pelo diagrama de forças, representar o movimento molecular no aquecimento pela simulação... Entretanto o procedimento teórico mais poderoso é sem dúvida o matemático. Um desenho torto pode ser mal interpretado, uma argumentação pode não ser seguida ou repetida. Já a Matemática tem todas as características que a Ciência precisa para usar como testagem teórica. Cabe ressaltar que as representações induzem formas de linguagem. O significado é dado pelo experimento, pela observação, pelo fato, pelo mundo real. A representação é dada pelo elemento da linguagem. E justamente porque a Matemática é, das linguagens, a com possibilidades de significados mais precisos, graças à ciência que a estuda (e que também se chama Matemática), ela é a representação mais fiel do mundo real em Ciências, especialmente Física. GRANDEZAS, MEDIDAS E GRÁFICOS 13 Criamos então representações matemáticas de partes da realidade chamadas grandezas: velocidade representa o movimento e sua rapidez, voltagem representa a fonte elétrica e seu "poder". Construimos relações entre as representações, usando as regras da linguagem matemática, que representações das relações no mundo real: as fórmulas. Podemos usar todo o poder dessa linguagem e obter uma relação a partir de outra. Mas como saber se essas novas relações são válidas? As definições devem ser válidas, mas e se as regras da Matemática (ou de outra linguagem) não são as regras da vida real? Para isso fazemos comparações que, no caso da matemática, chamamos de medidas. Tomamos duas situações no mundo real, por exemplo o pé de um rei e uma parede. Comparamos. Fazemos a medida, ou seja, a representação, matemática dessa comparação e dizemos que a GRANDEZAS, MEDIDAS E GRÁFICOS 14 parede tem 8 pés de comprimento. Comparamos as outras partes da relação e encontramos que esta possui 6 pés de altura. Verificamos a relação entre as medidas: Trazemos de volta para o mundo real e verificamos se a relação se mantém, comparando a diagonal da parede com o pé do rei e encontrando 10 pés. Esse processo é o de medição, fundamental para relacionar teoria e experimento. Se fizermos várias medidas de duas grandezas relacionadas para ver se a relação vale em todos os casos, teremos uma lista de pares de medidas. Ou se escrevermos a relação na forma de uma grandeza em função da outra, teremos uma “lista infinita” de pares. Em ambos os casos podemos fazer mais uma representação dessas listas, em forma de um tipo especial de desenho. Um gráfico. Onde a forma dessas linhas que aparecem dizem muito sobre o que está acontecendo: se a grandeza está aumentando, diminuindo, se mantendo, se está aumentando cada vez mais rápido... CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 15 Entretanto medidas, fórmulas e gráficos são apenas três das ferramentas que a Matemática oferece para a Ciência. Existem muitas outras que o ser humano foi aprendendo a usar com sua história. Você pode até não gostar de Matemática, mas duas coisas precisam ficar claras: Física não é Matemática, vamos muito além, a Matemática é só nossa melhor linguagem; e sem a Matemática provavelmente a Ciência e a Tecnologia estariam muito mais atrasadas. Aprenda Física, aprenda Matemática, aprenda Ciências. GRANDEZAS, MEDIDAS E GRÁFICOS 16 Dissemos que o processo de medir é um processo de comparar. Mas comparar com o que? Demos o exemplo do pé do rei e isso é válido. Mas científico? Acho que não... Vamos descrever como era o processo de medição em alguns pontos e, ao corrigirmos esses pontos de forma a tornar a medição um procedimento cada vez mais científico, vamos construir o que chamamoshoje de Sistema Internacional de Unidades (SI). Um rei determinou que as medidas deveriam ser comparações com seu corpo: seu polegar, seu pé e seu braço. Assim, todos que quisessem vender coisas nos mercados oficiais, deveriam ter em suas oficinas barras com essas medidas comparadas diretamente com o polegar, o pé e o braço do rei. Quando uma coisa tinha medidas incompletas, usava-se a seguinte relação: um braço (os dois braços abertos) são seis pés, um pé são doze polegadas. Esse rei morreu e seu filho decidiu dar sequência ao legado do pai. Assim, as medidas passaram a ser feitas em relação polegar, pé e braço do novo rei. Ele assumiu o trono muito novo, e com o tempo foi crescendo e as medidas também foram mudando. SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES 17 Quais são os problemas desse sistema de medidas? Primeiro: ele é incompatível com o de qualquer outro local. Por isso é interessante adotar padrões que não sejam ligados à cultura de um determinado local, mas padrões mais objetivos. Por exemplo, podemos fabricar uma barra e determinar seu comprimento como padrão. Segundo: a relação entre as medidas (12 polegadas e 6 pés) é matematicamente "inusitada". Como nosso sistema numérico é decimal, fazer as contas com 10 é mais fácil. Terceiro: as medidas mudavam com o tempo, o que não é interessante se você não quer refazer medidas cotidianamente. A escolha do padrão deve levar isso em conta tomando, por exemplo, uma barra de material mais resistente à temperatura e pressão, isolado de forma segura. Quarto: a necessidade de comparação com algo em específico torna a validação das medidas mais difícil. Devem haver outras fontes seguras de validação ou, se possível, basear em padrões da natureza que qualquer um pode repetir. Para resolver tudo isso, foi feita a adoção do Sistema Internacional de Unidades, mantido continuamente pelo Gabinete Internacional de Pesos e Medidas (BIPM). Esse sistema está em constante atualização, caminhando sempre para os moldes científicos. SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES 18 Ele foi construído e adotado por um grupo numeroso de países ainda no século XIX. Isso já amenizava o problema da compatibilidade, de cara. Sua base numérica é chamada de Sistema Métrico Decimal, de base dez e dotado de prefixos para múltiplos e submúltiplos da unidade. Para garantir a estabilidade com o tempo, os padrões construídos foram feitos em materiais confiáveis e posteriormente guardados em locais isolados. Várias cópias desses padrões foram distribuídas aos laboratórios de medição para facilitar a validação de medidas. Mais recentemente, o SI tem buscado redefinir suas unidades em termos de padrões da natureza, o que resolveria o primeiro e os dois últimos problemas de forma muito mais elegante. Essa construção científica da medição tem nome: a Metrologia é a ciência que estuda o processo de medição. A Matemática e a Metrologia serem ciências facilita o trabalho do físico. Não abordamos a construção da Ciência Matemática aqui porque vocês têm professores de Matemática mais capazes. Mas a Metrologia vocês não verão em outro lugar, então coube a nós apresentar essa ciência. E como diria o lema do BIPM (gabinete que mantém o SI), no brasão da página anterior, usem medidas! ΜΕΤΡΩ ΧΡΩ Vamos agora apresentar as unidades, o sistema métrico decimal e suas propriedades, que serão nossos guias práticos no estudo da Física. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 19 O construção de todas as unidades do SI se dá através de sete unidades base: segundo, unidade de tempo; metro, unidade de comprimento; quilograma, unidade de massa; ampere, unidade de corrente elétrica; kelvin, unidade de temperatura absoluta; mol, unidade de quantidade de matéria; e candela, unidade de medida de intensidade luminosa. Desde 20 de maio de 2019, o Sistema Internacional de Unidades é definido apenas em termos de constantes da natureza. Ou seja, sete constantes foram escolhidas e seus valores foram definidos de forma fixa, especificando assim as sete unidades. A construção de novas unidades se dá por multiplicação e potenciação das unidades base. Lembrando que divisão é potenciação por número negativo. Vamos discutir isso mais adiante. Algumas dessas unidades derivadas ganham, além da definição, nomes especiais, como joule, newton, ohm, entre outras. Além das unidades, o SI conta com um sistema numérico decimal, composto de prefixos. Trazemos aqui uma tabela com os mais comuns. Algumas unidades que conhecemos (hora, especialmente) não estão no SI, mas são aceitas em uso com unidades SI, como velocidade máxima de 80 km/h. SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES 20 Por exemplo, se temos 1000 metros, temos 1 quilômetro (kilometro), ou 10³ metros. Veja que colocar no sistema decimal permite o aparecimento dessas potências de dez. Entre o centi e o kilo existem outros prefixos, assim como além do tera e aquém do pico. Os dessa tabela são os que mais aparecem para nós no dia a dia: internet de 10 MB/s, distância de 30 km, PING de 20 ms. Quando fazemos conta com as grandezas, devemos ficar atentos com as unidades: quando as medidas são multiplicadas e elevadas à certas potências, suas unidades e seus valores numéricos também o são. Quando somamos duas medidas, precisamos garantir que sejam duas de mesma grandeza. Não podemos por exemplo somar 3 metros com 6 segundos. Mas podemos dividir e encontrar 0,5 m/s. Para facilitar essas contas, criou-se o conceito de notação científica, que consiste no seguinte: escrever um número n em notação científica é encontrar números m e e tais que: CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 21 Não entendeu nada? Calma… Vamos pegar por exemplo a distância de Cariacica a Baixo Guandu, duas cidades capixabas, que é de mais ou menos 200 km. Se fôssemos escrever diretamente na unidade base do SI, teríamos 200.000 metros. Esse número está entre quais potências de 10? Entre 100.000 e 1.000.000, ou entre 105 e 106. Se dividirmos 200.000 por 105 , sendo 5 o expoente, temos o resultado igual a 2, chamado mantissa. Ou seja, Perceba que 2 está entre 1 e 10 e temos um expoente igual a 5. Porém 105 não corresponde a nenhum prefixo. Ele está entre os prefixos kilo e mega. Reescrevemos da seguinte forma, portanto: Veja que 200 km não está em notação científica, mas faz uso dos prefixos do SI e apresenta o valor numérico de forma bem “clara”. Para chegar nesses resultados usamos propriedades matemáticas dos expoentes. Vamos escrever essas propriedades na base 10, a que usaremos para falar do sistema métrico. SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES 22 Essa notação e o uso de prefixos ainda tem outra vantagem: toda medida carrega uma incerteza. Nenhuma medida é perfeita e, mais recentemente, descobrimos que certas medidas nunca conseguiremos melhorar. Não discutiremos as ideias de incerteza aqui, mas muitas vezes essa incerteza é tão grande que a mantissa pode ser qualquer uma entre 1 e 10. Nesses casos usamos a ideia de ordem de grandeza. Vmaos olhar três medidas e suas ordens de grandeza. A ordem de grandeza é definida da seguinte forma: se a mantissa é menor que 3,16 a ordem de grandeza é a potência que aparece. Se a mantissa é maior que 3,16 a ordem de grandeza é a próxima. Mas por que 3,16 como separação? Se fazemos o meio entre um expoente e seu próximo, olha o que vamos encontrar: Então, o “meio” entre duas ordens de grandeza é justamente 0 3,16. Bom, já desvendamos uma parte dos mistérios das grandezas: seu valor e sua unidade. Primeiro vamos aproveitar isso para construir melhor uma ferramenta poderosa: gráficos. Depois vamos descobrir que mais segredos uma grandeza pode esconder, mas não de um cientista. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 23 Anteriormente dissemos que um gráfico pode surgir de duas formas: se fazemos várias medidas de duas grandezas ou se temos uma relação entre essas grandezas. Primeiro vamos ver como isso acontece. Suponha que vocêfez um experimento em que soltava um objeto de uma determinada altura e media o tempo que demorava para chegar ao chão. Você pode ter obtido os seguintes dados, organizados em uma tabela: O lado esquerdo é a altura h, medida em centímetros (cm). O lado direito é o tempo t medido em centisegundos (cs). Cada linha foi um teste: o objeto foi lançado da altura escrita e demorou o tempo escrito. Vamos fazer o gráfico. Normalmente o lado esquerdo é o eixo das abcissas (eixo horizontal) e o direito o eixo das ordenadas (eixo vertical). O eixo das abcissas é “definido” e o das ordenadas é “medido”. ANÁLISE DE GRÁFICOS 24 h/cm t/cs 72 48 96 65 110 69 184 79 244 82 Os pontos acima estão marcados de acordo com a tabela anterior. Eles concordam com ela em todas as informações: quanto maior a altura maior o tempo. Mas eles vão além e mostram que, para alturas muito grandes, a diferença vai diminuindo. Gráficos trazem mais informações que tabelas nesse sentido. Na maioria das vezes não vamos lidar com gráficos vindos de tabelas, mas sim de relações completas. Se já soubéssemos da relação entre tempo de queda e altura, poderíamos plotar o gráfico abaixo. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 25 Normalmente quando estudamos construção de gráficos na Matemática nos dizem para, a partir da relação, criar alguns pontos, marcá-los, e então ligar eles. Quanta força bruta! Vamos analisar o gráfico anterior e a partir dele vamos aprender a analisar qualquer gráfico (e construir também). Primeiro vamos falar no sinal do gráfico e seu valor. Todos os valores de tempo são positivos. Isso é óbvio, né? Mas para outras grandezas, nem tanto. Podemos ter velocidade negativa (ir de ré), temperatura em Celsius negativa (o frio da Rússia), carga elétrica negativa (o elétron). Num gráfico, devemos estar atentos a isso. Os positivos ficam acima do eixo horizontal e os negativos abaixo. Quanto maior o valor, mais pra cima. Quanto menor, mais pra baixo. Depois temos a inclinação. Se um gráfico está “subindo” para a direita, dizemos que a grandeza está crescendo. Se ela desce para a direita, está diminuindo. No caso do nosso gráfico ele sempre sobe, então o tempo de queda sempre cresce com a altura. Mas quanto mais inclinado, maior o crescimento ou decrescimento. Quanto mais deitado, menor a mudança. Vemos que a inclinação vai diminuindo no nosso. Quando o gráfico está totalmente deitado, na horizontal, a grandeza é constante. A inclinação mede a mudança no valor (e no sinal), mas ela mesma muda. Pra isso temos a curvatura. Ela nos diz se o gráfico parece com uma reta ou não. Se a inclinação não muda, o gráfico é uma reta, sem curvatura. Se o gráfico sobe mais rápido (ou desce mais devagar) que uma reta, ele tem curvatura positiva. Caso contrário, negativa. Podemos ver que o nosso gráfico tem curvatura negativa, ou seja, cresce mais devagar que uma reta. Vou tentar resumir todos os casos possíveis com um exemplo. ANÁLISE DE GRÁFICOS 26 Você deve reconhecer esses gráficos. 2020 é o ano da luta contra a pandemia de COVID-19. E nesse momento Ciência é fundamental. Vamos analisar os gráficos. Temos três gráficos. Um que é uma constante (capacidade do sistema de saúde) e outros dois que são chamadas curvas gaussianas. O nome dessas curvas não importam agora. Vejam que ambas têm períodos crescentes e decrescentes (subida e descida). O da esquerda, por ser mais inclinado (em ambos os casos), está subindo (e descendo) mais rápido. A curvatura de ambos começa positiva (eles crescem mais rápido a medida que o tempo passa), fica negativa (eles começam a diminuir o ritmo de crescimento e, quando começam a diminuir o número de casos, diminuem cada vez mais rápido) e depois volta a ser positiva (os casos continuam diminuindo, mas cada vez mais devagar). Veremos muitos gráficos em Física. Muitos deles serão discussões simples sobre como a água ferve. Alguns outros têm impacto maior, podendo falar de atropelamentos caso não freie no tempo certo. Olhar para um gráfico e saber o que esperar pode salvar vidas. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 27 Um último comentário. Fizemos os gráficos do tempo de queda de duas formas: experimento e teoria. E se compararmos? Vão dar a mesma coisa? O que isso significa? Que fizemos alguma coisa errada? Ou que o modelo está errado? Nem um, nem o outro, necessariamente. A discordância entre a curva e os pontos é comum. Apenas significa que nossas teorias não são perfeitas. Veja que, por mais que os pontos não estejam na curva, eles têm o mesmo comportamento: crescente com curvatura negativa. Isso é um bom sinal. Outro bom sinal é que todos os pontos estão acima da curva, mesmo que longe. Provavelmente medimos algo errado. A revisão de teorias e experimentos é constante. O problema surge quando, por mais que revisemos, não consigamos fazer ambos concordarem que não é o nosso caso. Medi o tempo de queda manualmente. Posso usar sensores para melhorar a medida ou descobrir um jeito de descontar o tempo que eu demoro para pausar o cronômetro. E aí, os pontos cairão quase que perfeitamente sobre a curva. ANÁLISE DE GRÁFICOS 28 Já sabemos que as grandezas possuem um valor numérico e uma unidade. Só podemos somar (e subtrair) grandezas iguais (de mesma unidade). Multiplicar e dividir podemos fazer com qualquer uma. Mas será que isso é tudo? Se você tem um pacote de pó de café de 250 g e compra outro, você tem dois pacotes (1+1) e 500 g (250 g + 250 g). Somar pacotes de pó de café e massas é simples: só somar. Vamos agora imaginar outras três situações onde somamos distâncias. Imagine que cada seta representa que você andou 3 m seguindo aquela orientação. Qual sua distância do ponto de partida? Por mais que em todos os casos você tenha andado seis metros (distância percorrida eu posso somar), a distância do ponto inicial depende de como você andou os seis metros (distância final, deslocamento, não posso somar tão diretamente). Esse como está ligado justamente à orientação das setas. Grandezas que podem ser somadas diretamente e que, portanto, não tem orientação, são chamadas grandezas escalares. Grandezas que precisam de regras especiais de soma que dependem da orientação são chamadas grandezas vetoriais. GRANDEZAS ESCALARES E VETORIAIS 29 Escalares são as representações com um número e uma unidade das grandezas escalares. As grandezas vetoriais são representadas por vetores, com um número (seu módulo, magnitude), uma unidade e uma orientação, muitas vezes separada em direção e sentido. O primeiro caso do nosso exemplo, ambos os vetores estão na mesma direção e mesmo sentido, portanto, mesma orientação. No segundo caso, estão na mesma direção, mas apontam em sentidos opostos. No terceiro e último, não estão sequer na mesma direção. Da mesma forma que não podemos somar grandezas de unidades diferentes, não podemos somar vetores com escalares, mesmo que tenham a mesma unidade. Isso pode ocorrer muito com distância e deslocamento, mesma unidade, mas um é vetor e o outro é escalar. Mas podemos multiplicar escalar por vetor. Se representamos o vetor por uma seta, seu tamanho indica seu módulo. O escalar multiplica apenas o módulo, obviamente não alterando a orientação. Assim sendo, ele apenas estica ou contrai a seta. < x0,5 - - x2 > Mas nosso real objetivo é, por enquanto, descobrir como somar vetores. Vamos voltar ao nosso primeiro exemplo. Se andarmos naquelas direções indicadas, temos uma pista do primeiro e segundo casos: Mesma direção e sentido: somamos normalmente. Mesma direção, sentido oposto: subtraímos, calculamos o GRANDEZAS ESCALARES E VETORIAIS 30 módulo e a orientação é dada pelo maior. Quando estivermos procurando a soma para dois vetores em direções quaisquer, precisamos lembrar que ela deve se aplicar nesses casos também. Vamos analisar o terceiro caso, onde as direções formam 90°. Podemos ligaro ponto final ao inicial novamente com um vetor, cujo módulo será a distância que queremos calcular e cuja orientação será a que liga os dois pontos. Façamos abaixo, sem indicar os sentidos. Se isso é um triângulo retângulo e queremos saber justamente a hipotenusa, aplicamos o Teorema de Pitágoras. Vamos escrever as três relações que temos: Vamos melhorar isso. Primeiro trocando os números por magnitudes quaisquer de vetores, A e B, chamando sua soma de S. Depois, vamos aproveitar que a última está ao quadrado e elevar todas aos quadrado. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 31 Agora você deve estar lembrando que havia uma regra com cosseno do ângulo entre os vetores. Vamos não pensar nisso por enquanto. Porque tudo pode ser repensado em termos de somas de coisas perpendiculares, que chamamos componentes. Vamos ver dois exemplos. Podemos “quebrar” o segundo vetor em suas componentes: uma na mesma direção do primeiro e uma perpendicular a ele. Para isso precisamos saber o ângulo entre o segundo vetor e o prolongamento do primeiro (a linha pontilhada). Vamos chamar de θ (letra grega theta). Novamente temos a hipotenusa como segundo vetor e a linha pontilhada como cateto adjacente ao ângulo. A componente do vetor nessa direção é então seu módulo multiplicado pelo cosseno de theta. Na direção perpendicular, resta seu módlo vezes o seno de theta. Ficamos com a imagem assim. Veja que o segundo vetor, agora pontilhado, é a soma dos dois novos vetores. Só temos vetores na mesma direção ou perpendiculares, e esses sabemos somar. O vetor soma é dado pelo vetor tracejado. GRANDEZAS ESCALARES E VETORIAIS 32 θ Ainda precisamos aprender a multiplicar vetores. E essa brincadeira de colocar eles na mesma direção e na direção perpendicular já é a resposta. Quando multiplicamos um vetor pela componente do outro que está na mesma direção, obtemos o chamado produto escalar. Isso porque ele resultado em um escalar, mais especificamente na forma Esse produto é importante para entender os efeitos que uma coisa causa numa determinada direção, como o movimento nessa linha. Quando multiplicamos um vetor pela componente do outro que está na direção perpendicular, obtemos o módulo do produto vetorial. O nome denuncia. Se temos o módulo, resta a orientação. O produto vetorial é perpendicular aos dois que o geraram e aponta para o sentido dado pela regra da mão direita. Esse cara nos diz o efeito de um vetor na direção perpendicular do outro, normalmente ligado a rotações, giros. CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS 33 Com isso estamos munidos de tudo que precisamos para estudar Física. Repito, vamos aprender coisas novas, fenômenos novos, nomes novos. Mas muita coisa você já conhece. Física é um jeito de contar a história que a natureza nos conta. E o idioma, de certa forma, está nessa apostila. GRANDEZAS ESCALARES E VETORIAIS 34 Esta apostila é material complementar das aulas de Física do Pré-Enem Atitude, mas de livre utilização. Ela aborda conhecimentos introdutórios de Física e outras ciências que permeiam todas as aulas do ano. Bons estudos e boa leitura!
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