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Bases fisiológicas da Osteopatia Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 2 Índice 1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................... 6 2 – HISTÓRIA DA OSTEOPATIA .............................................................................................................................. 9 2.1 – Andrew Taylor Still .......................................................................................................................................... 9 2.2 – Criação da Osteopatia ..................................................................................................................................... 10 3 – OUTROS PERSONAGENS IMPORTANTES DA OSTEOPATIA ..................................................................... 12 4 – DEFINIÇÕES DA OSTEOPATIA ........................................................................................................................ 13 5 - PRINCÍPIOS DA OSTEOPATIA .......................................................................................................................... 14 5.1 - A unidade do corpo ......................................................................................................................................... 14 5.2 - A estrutura governa a função .......................................................................................................................... 15 5.3 - A autocura ....................................................................................................................................................... 15 5.4 - A lei da artéria ................................................................................................................................................. 15 6 – PRINCIPAIS FUNÇÕES DO OSTEOPATA ....................................................................................................... 16 7 – OSTEOPATIA NO BRASIL E NO MUNDO ....................................................................................................... 16 8 – ASPECTOS ANATÔMICOS E FISIOLÓGICOS RELEVANTES À OSTEOPATIA ........................................ 18 8.1 - Medula espinhal e raízes nervosas .................................................................................................................. 18 8.2 - Ramo meníngeo do nervo espinhal (nervo de Luschka) ................................................................................. 19 8.3 - Fibras nervosas................................................................................................................................................ 20 8.4 - Unidade motora ............................................................................................................................................... 21 8.5 - Potencial de ação............................................................................................................................................. 21 8.6 – Interneurônios ................................................................................................................................................ 22 8.7 - Receptores sensoriais ...................................................................................................................................... 23 8.7.1 - Receptores mecânicos .............................................................................................................................. 23 Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 3 8.7.2 – Características dos receptores ................................................................................................................. 29 8.8 - Tipos de fibras nervosas sensoriais ................................................................................................................. 30 8.9 - Segmento medular/Metâmero: ........................................................................................................................ 30 8.10 – Sistema Nervoso Visceral (autônomo) ......................................................................................................... 32 8.9.1 – Sistema Nervoso Simpático .................................................................................................................... 33 8.9.2 – Sistema Nervoso Parassimpático ............................................................................................................ 34 8.11 - Reflexos ........................................................................................................................................................ 36 8.11.1 - Reflexo Medular .................................................................................................................................... 36 8.11.2 - Reflexo somato-somático ...................................................................................................................... 37 8.11.2 - Reflexo víscero-vísceral ........................................................................................................................ 37 8.11.3 - Reflexo víscero-somático: ..................................................................................................................... 38 8.11.4 - Reflexo somato-visceral ....................................................................................................................... 39 9 – CONCEITOS DE MACRO E MICROFISIOLOGIA ARTICULAR ................................................................... 39 9.1 – Macrofisiologia articular ................................................................................................................................ 39 9.2 – Microfisiologia articular ................................................................................................................................. 40 10 – DISFUNÇÕES SOMÁTICAS ............................................................................................................................. 41 10.1 – Características clínicas ................................................................................................................................. 42 10.2 – Hipótese fisiopatológica das disfunções somáticas ...................................................................................... 43 10.2.1 – Modelo da facilitação – Irwin Korr ....................................................................................................... 43 10.2.3 – Outro modelos ....................................................................................................................................... 49 10.3 – Disfunções somáticas em articulações periféricas ........................................................................................ 50 10.4 – Disfunções primárias e adaptações secundárias ........................................................................................... 51 11 - CONCEITOS DE HIPO E HIPERMOBILIDADE .............................................................................................. 52 Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 4 11.1 – Objetivos do tratamento Osteopático ........................................................................................................... 54 12 - FACILITAÇÃO MEDULAR ............................................................................................................................... 55 12.1 – Conseqüências da facilitação medular .......................................................................................................... 57 12.2 – Sinais clínicos da facilitação medular .......................................................................................................... 57 12.3 – Caracterização das facilitações..................................................................................................................... 61 13 – MOBILIDADE VISCERAL: suas disfunções e técnicas de correção ................................................................. 62 14 – MOBILIDADE CRANIANA: suas disfunções e técnicas de correção ............................................................... 65 15 – OS 5 MODELOS DE APLICAÇÃO DA OSTEOPATIA ................................................................................... 68 15.1 – O modelo biomecânco-estrutural ................................................................................................................. 69 15.2 – O modelo respiratório-circulatório ............................................................................................................... 69 15.3 – O modelo neurológico .................................................................................................................................. 70 15.4 – O modelo metabólico ................................................................................................................................... 70 15.5 – O modelo comportamental ........................................................................................................................... 71 16 - TIPOS DE DOR ................................................................................................................................................... 73 16.1 - Características das dores devido a bloqueio articular ................................................................................... 73 16.2 - Características da dor discal .......................................................................................................................... 74 16.3 - Característica da dor ligamentar.................................................................................................................... 75 16.4 - Características da dor de origem muscular ................................................................................................... 77 16.5 - Características da dor de origem nervosa ...................................................................................................... 78 16.6 - Características da dor de origem visceral ...................................................................................................... 78 17 - DOR REFERIDA ................................................................................................................................................. 79 18 - DIAGNÓSTICO OSTEOPÁTICO ...................................................................................................................... 81 18.1- Anamnese ....................................................................................................................................................... 82 Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 5 18.2 – Inspeção (estática e dinâmica) ...................................................................................................................... 82 18.3- Palpação ......................................................................................................................................................... 83 18.4 – Testes de mobilidade .................................................................................................................................... 83 18.5 - Radiologia ..................................................................................................................................................... 84 19 - AS TÉCNICAS OSTEOPÁTICAS DE TRATAMENTO ................................................................................... 84 19.1 – Técnicas diretas (estruturais) ........................................................................................................................ 85 19.1.1 – Técnicas Rítmicas ................................................................................................................................. 85 19.1.2 – Técnicas de Thrust ................................................................................................................................ 94 19.2 – Técnicas Indiretas ou funcionais .................................................................................................................. 99 19.2.1 – Técnica de Jones ................................................................................................................................. 100 19.2.2 – Técnica de Hoover .............................................................................................................................. 101 20 - CIÊNCIA E OSTEOPATIA ............................................................................................................................... 102 20.1 - Aspectos biomecânicos da manipulação vertebral ...................................................................................... 102 20.2 - Aspectos neurofisológicos da manipulação vertebral ................................................................................. 104 21 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................... 110 Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 6 1 - INTRODUÇÃO No final do século XIX, o médico americano Dr. Andrew Taylor Still se encontrava descontente com a prática de sua profissão exercida na época. Após a perda de pacientes e familiares por algumas epidemias, passou a estudar a essência do ser humano e observar as estruturas e o funcionamento do corpo como uma verdadeira máquina que tem todos os seus sistemas inter-relacionados e também apresenta capacidade autorreguladora. Passou a deduzir que as enfermidades, suas causas e tratamentos tinham origem em desequilíbrios funcionais que poderiam repercutir sobre o organismo de maneira mecânica e também neurológica, influenciando negativamente funções fisiológicas como a atividade do sistema nervoso e vascular. De acordo com os relatos de sua biografia, após diversos fatos e anos de intensos estudos e observações, em 1874 Still criou um método de diagnóstico e tratamento o qual denominou alguns anos depois como Osteopatia. Segundo o glossário de terminologia osteopática do ECOP (Educational Council of Osteopathic Principles), a filosofia Osteopática: “é um conceito de cuidado de saúde embasado no conhecimento científico em expansão que envolve o conceito da estrutura (anatomia) e função (fisiologia) dos organismos vivos”. Enfatiza os seguintes princípios: 1 – O ser humano é uma unidade dinâmica funcional; 2 – O corpo possui mecanismos autorreguladores que são de natureza auto-curadoras. 3 – Estrutura e função são inter-relacionadas em todos os níveis. 4 – O tratamento racional é baseado nesses princípios. Andrew Still chamou de “deslocamentos ósseos” as alterações funcionais que produziam desequilíbrios fisiológicos e como consequência a perda da homeostase. Atualmente tal problema é conhecido como disfunção somática: “função alterada ou debilitada dos componentes relacionados ao sistema somático: esqueleto, articulações e estruturas fasciais, e elementos vasculares, linfáticos e neurais relacionados”. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 7 Baseado em suas observações, Still compreendeu as relações diretas e evidentes entre o sistema neuromusculoesquelético e os outros sistemas, e como os fenômenos neurofisiológicos ligados às disfunções somáticas deixariam o organismo vulnerável às enfermidades. Sendo assim, uma das ideias fundamentais do criador da Osteopatia foi utilizar o sistema musculoesquelético como interface para poder abordar os outros sistemas em um tratamento. O corpo humano apresentauma admirável capacidade de adaptação em relação aos meios (externo e interno). Quanto maior a quantidade de adaptações causadas por mecanismos disfuncionais, menor é a capacidade de defesa do indivíduo. A Osteopatia pode ser subdividida de maneira conceitual, basicamente em três categorias, contudo deve ficar claro que a filosofia Osteopática envolve o profundo conhecimento anatômico e fisiológico global, relacionando todos os sistemas. Desta forma, a Osteopatia diferencia-se de outros métodos de terapia manual, pois busca o trabalho integral proporcionando condições para que o próprio organismo busque seus próprios sistemas de equilíbrio/homeostase. A OSTEOPATIA FOCA NO INDIVÍDUO, E NÃO NA DOENÇA!!! Osteopatia Estrutural É relacionada às disfunções neuromusculoesqueléticas, atuando com foco no restabelecimento/manutenção da mobilidade tecidual (articulações, músculos, ligamentos, fascias, etc). Para isto, o Osteopata tem um amplo arsenal de técnicas manuais específicas para cada tipo de tecido. Osteopatia Craniana Um discípulo direto de Still, William Sutherland, foi inovador ao perceber a existência de um micromovimento rítmico dos ossos cranianos relacionado com tensões das meninges (dura- máter) e a dinâmica do líquido cerebroespinhal. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 8 Disfunções deste mecanismo podem repercutir principalmente sobre o sistema nervoso autônomo, nervos cranianos, e vascularização craniana, afetando o organismo de maneira global. Sutherland propôs então, o diagnóstico tratamento craniano, seguindo os princípios da filosofia Osteopática de Andrew Still. Osteopatia Visceral Está direcionada à percepção da mobilidade/motilidade dos órgãos e seus envoltórios. Trata-se de testes e técnicas de manipulações aplicadas diretamente sobre as vísceras e seus tecidos circundantes, e também a estimulação reflexa do sistema nervoso autônomo no intuito de corrigir disfunções que repercutam sobre vascularização, desequilíbrios neurovegetativos, espasmos da musculatura lisa, e aderências fasciais. O diagnóstico e tratamento Osteopáticos são realizados de forma global sem limitações de idade, integrando os sistemas corporais na busca das causas das enfermidades e não somente suas consequências. Este material descreve aspectos relevantes aos estudantes e praticantes da Osteopatia, como seu histórico, conceitos, generalidades, modelos e princípios fisiológicos. O intuito é auxiliar na preparação do aluno do Colégio Brasileiro de Osteopatia (CBO) a compreender de forma clara as informações essenciais para a sua formação, para que possa aplicar a filosofia Osteopática de forma eficaz na sua prática clínica diária, respeitando as tradições e evolução científica. Quando utilizada corretamente por um profissional devidamente qualificado e habilitado, a Osteopatia além de não produzir efeitos colaterais, costuma gerar uma resposta terapêutica rápida e segura, proporcionando a diminuição ou eliminação dos sintomas e o restabelecimento da homeostasia natural. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 9 2 – HISTÓRIA DA OSTEOPATIA 2.1 – Andrew Taylor Still Nasceu no dia 6 de agosto de 1828, nos Estados Unidos, mais especificamente em Lee County, no estado da Virginia. Desenvolveu diversas habilidades em sua vida, como de fazendeiro, mecânico, inventor, além de ter sido um dedicado homem de família. Tinha fascínio por anatomia desde sua adolescência, quando caçava animais e os dissecava para poder observar suas estruturas. Teve sua formação em medicina prática em Missouri. Sofria fortes cefaléias e náuseas quando era adolescente. Um dia encontrou uma solução temporária para o problema, que era apoiar sua cabeça sobre uma corda presa entre duas árvores. Chamou esse evento de: “primeira lição em Osteopatia”. Sugere-se que essas observações contribuíram para seus pensamentos posteriores, que direcionaram o desenvolvimento da filosofia Osteopática. Epidemias de algumas enfermidades como sarampo, tuberculose e meningite, atingiam sua comunidade e pacientes. Tais episódios fizeram com que Still refletisse sobre a impotência que a medicina praticada na época tinha para resolver algumas enfermidades. Em 1864, após retornar da guerra civil, três de seus filhos morreram em curto período de tempo devido à meningite. Algumas semanas após, falece sua filha mais nova de pneumonia. Devastado, Still passou a crer que essa medicina era muitas vezes ineficaz na compreensão da Dr. Andrew Still Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 10 etiologia das doenças, e consequentemente nos seus tratamentos. Tinha a convicção de que os tratamentos agressivos que apenas aplicavam fortes medicamentos e cirurgias eram inconvenientes para seus pacientes. Tratamentos poderiam ser mais danosos do que curadores. A partir desses eventos traumáticos e de seu sentimento de impotência, passou a estudar profundamente o funcionamento básico do ser humano no intuito de melhor compreender suas condições naturais e patológicas. 2.2 – Criação da Osteopatia No dia 22 de junho de 1874, Dr. Andrew Still relatou ter sido o momento que mudaria o rumo de sua carreira e de sua vida. O dia em que percebeu a dimensão da importância da anatomia e de suas relações com o desempenho de eventos naturais do organismo. “No dia 22 de junho de 1874, atirei à brisa a bandeira da osteopatia” Dedicou anos de sua vida analisando atentamente a anatomia e a fisiologia para buscar melhor compreender o corpo humano, e dessa forma achar novas maneiras de poder abordá-lo. Seus conceitos inicialmente sofreram resistência das pessoas ao seu redor. Foi massacrado pela comunidade médica, e considerado insano por seus amigos e familiares. Isso o levou a uma época de arruinamento financeiro. Em 1875, se mudou para Kirksville no estado de Missouri, onde viveu o resto de sua vida. Seu método foi se tornando lentamente conhecido pelos resultados promovidos. Nessa época, Still passou a ensinar seus próprios filhos a pratica da osteopatia: Harry, Charles e Herman. Percebendo que ele e seus três filhos não conseguiam atender a demanda de pacientes que surgiam, pensou em ensinar outros discípulos para poder difundir a osteopatia. Inicialmente seus alunos tinham dificuldade em compreender sua filosofia e acompanhar suas profundas noções anatômicas e fisiológicas. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 11 Em 1892 fundou a primeira escola de osteopatia na cidade de Kirksville, a American School of Osteopathy, atualmente denominada como A.T.Still University. Estrutura inicial da American School of Osteopathy com Andrew Still sentado na varanda. Surgiu a necessidade de diferenciar a titulação de um médico “tradicionalista” com reconhecimento de M.D. (Medical Doctor) daquele com a formação osteopática. Passou a existir então a titulação de Diplomado em Osteopatia – D.O Em 1900, se formou um aluno de Still: John Martin Littlejohn. Ele foi responsável por fundar em 1915, uma das escolas de osteopatia mais reconhecidas e respeitadas da Europa até hoje, a British School os Osteopathy. A partir daí ocorreu um processo de migração da osteopatia para outros países da Europa e para o resto do mundo. As principais obras publicadas pelo Dr. Andrew Still foram: • Autobiography of Andrew Taylor Still with a History of the Discovery and Development of the Science of Osteopathy, em 18971; Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 12 • Philosophy of Osteopathy, em 18997; • The Philosophy and Mechanical Principles of Osteopathy, em 19028; • Osteopathy Research and Practice, em 19109. Seguiu sua vida como osteopata clínico e professor difundindo sua filosofiaaté sua morte em 12 de dezembro de 1917, com 89 anos.. 3 – OUTROS PERSONAGENS IMPORTANTES DA OSTEOPATIA Muitas pessoas contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento e evolução da Osteopatia. Alguns desse personagens: J.Martin Littlejohn: graduado na “Ämerican School of Osteopathy”. Fundou a primeira escola em Chicago, e depois se mudou para Londres participando de forma direta na fundação da B.S.O. (British School of Osteopathy). William Garner Sutherland: aluno de Still, desenvolveu os conceitos da Osteopatia craniana e passou muitos anos desenvolvendo as teorias e técnicas do método, muitas delas aplicadas até os dias atuais. Fryette: estudou a mobilidade vertebral pela fluoroscopia. Produziu o trabalho Physical Laws of Vertebral Motion. Fred Mitchell: desenvolveu importantes pesquisas em relação à mobilidade da região pélvica e suas relações com a postura corporal. Auxiliou o desenvolvimento das técnicas de energia muscular (T.E.M.). Irwin korr: fisiologista que passou vários anos dando aulas em escolas de Osteopatia em Kirsville, Michigan e no Texas. Descreveu em seus trabalhos os princípios Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 13 neurofisiológicos das disfunções somáticas. Esses conceitos vêm sendo pesquisados continuamente até os dias atuais. Lawrence Jones: profissional do estado de Oregon que desenvolveu as técnicas de tensão/contratensão (strain/counterstrain). 4 – DEFINIÇÕES DA OSTEOPATIA A palavra osteopatia, desde a criação do método, causou dúvidas e confusão em sua definição. Deriva de duas palavras gregas: “osteon” significando osso; e “pathos” denotando doença/sofrimento ou influenciado por algo. A palavra pathos também pode ser empregada como “influenciado ou sensível a algo”. O real signficado da palavra osteopatia, respeitando suas raízes gregas seria: influenciado pelos ossos ou esqueleto. Esse nome aparentemente foi dado em contraste á alopatia e homeopatia. Em grego, alopatia significa em sua raiz, “influenciado pelo oposto”, e homeopatia significa, “influenciado pelo mesmo ou pelo semelhante”. AOA (American Osteopathic Association) “Um sistema completo de cuidado de saúde com uma filosofia que combina as necessidades do paciente com a prática atual de medicina, cirurgia e obstetrícia; que enfatiza e relação entre estrutura e função; e que tem apreciação na habilidade do corpo de curar a si mesmo”. BSO (British School of Osteopathy) “Osteopatia é um sistema de cuidados primários de saúde, complementar a outras práticas médicas. É apropriado para muitos pacientes e pode contribuir para o tratamento e Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 14 condutas de uma vasta gama de condições. Os Osteopatas trabalham principalmente através do sistema neuromúsculoesquelético, principalmente nos músculos e nas articulações, utilizando abordagens holísticas”. General Osteopathic Council of Great Britain (GOsC), “Osteopatia é um sistema de diagnóstico e tratamento estabelecido e reconhecido, que baseia sua principal ênfase na integridade estrutural e funcional do corpo. É distinta pelo fato de reconhecer que algumas dores e incapacidades das quais sofremos vêm de anormalidades na função da estrutura corporal assim como os danos causados pelas doenças 5 - PRINCÍPIOS DA OSTEOPATIA Em suas obras, Still descreveu os grandes princípios da filosofia Osteopática. 1. A unidade do corpo. 2. A estrutura governa a função. 3. A autocura. 4. A lei da artéria. 5.1 - A unidade do corpo O primeiro grande princípio refere-se à unidade do ser, de que cada indivíduo é uma expressão do corpo, mente e espírito. A pessoa é regulada, coordenada e integrada por funções fisiológicas interdependentes que relacionam diferentes elementos anatômicos, fisiológicos e psicológicos. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 15 Todas as estruturas anatômicas corporais são mecanicamente interconectadas por diferentes tipos de tecido conectivo/conjuntivo. Fisiologicamente os sistemas também se relacionam diretamente para manter as condições de homeostase. O corpo humano tem a capacidade de reencontrar o equilíbrio (físico, bioquímico, mental, etc.). 5.2 - A estrutura governa a função A estrutura representa as diferentes partes do corpo, ossos, músculos, fascias, vísceras, glândulas, etc. A função é a atividade de cada uma destas partes, como a função respiratória, cardíaca, digestiva, etc. Still observou em algumas situações, relações alteradas entre estrutura e função que eram tipicamente desconsideradas por outros. A enfermidade não pode se desenvolver se a estrutura é harmoniosa, por tanto uma desordem da estrutura pode ser a origem da enfermidade. Esta relação entre a estrutura e a função se aplica a todos os elementos do corpo. 5.3 - A autocura O corpo é auto-regulador, pois apresenta todos os elementos necessários para eliminar ou reprimir as enfermidades, com a condição de que seus “meios” estejam livres para funcionar efetivamente. Não devem existir obstáculos sobre a condução nervosa, linfática, vascular, para que a nutrição celular e a eliminação de toxinas ocorram corretamente. 5.4 - A lei da artéria O sangue é o meio de transporte de todos os elementos necessários para manter as condições homeostásicas naturais. O papel da vascularização é primordial, sendo que os desequilíbrios funcionais podem levar a má circulação arterial, debilidade do retorno venoso e Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 16 linfático, provocando o acumulo de toxinas. As enfermidades se instalam sempre sobre órgãos debilitados. 6 – PRINCIPAIS FUNÇÕES DO OSTEOPATA As funções primárias de um praticante de osteopatia, propostas atualmente, são: •Buscar as causas primárias das doenças utilizando práticas disponíveis baseadas em evidências; •Potencializar a capacidade de cura dos pacientes; •Individualizar o planejamento de abordagem ao paciente com ênfase na saúde e na prevenção de doenças; •Utilizar um diagnóstico palpatório e tratamento manipulativo com foco nas alterações das condições mecânicas, estruturais e fisiológicas. 7 – OSTEOPATIA NO BRASIL E NO MUNDO A regulamentação da osteopatia ocorre de acordo com o que cada país define para os seus padrões acadêmicos e profissionais. Recentemente, duas organizações foram criadas para ajudar na padronização da aplicação e ensino da osteopatia pelo mundo: a International Osteopathic Alliance (OIA) e a World Osteopathic Health Organization (WOHO). Em alguns países a Osteopatia está diretamente vinculada à formação médica, em outros à formação em fisioterapia e em alguns locais o Osteopata pode ter formação universitária independente de outras áreas da saúde. Em alguns países europeus, o Osteopata pode se formar com nível de graduação universitária (modelo chamado full-time) ou em cursos de formação (modelo chamado part time) se já tiver uma formação universitária em área da saúde. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 17 Foi introduzida no Brasil por Osteopatas europeus na década de 1980 e desde então vem se difundindo como modalidade terapêutica. No ano 2000 foi criado o Registro Brasileiro dos Osteopatas, órgão vinculado à Osteophatic International Alliance (OIA), que tem como objetivo o reconhecimento da Osteopatia como profissão no Brasil e sua regulamentação 19 . No ano de 2001, a Osteopatia foi reconhecida como especialidade da Fisioterapia, na resolução 220/2001 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito). No ano 2004 foi criada a Associação Brasileira dos Fisioterapeutas Osteopatas, que tem como objetivo fortalecer a especialidade Osteopatia dentro da Fisioterapia. Em 2009, a Associaçãovinculou-se ao Coffito. No ano de 2013, a Osteopatia foi reconhecida como ocupação, na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob número 2261- 10. O fisioterapeuta e o médico podem, desde então, ter como ocupação a Osteopatia. O capítulo a seguir irá abordar alguns aspectos anatomofisiológicos relevantes que devem ser compreendidos pelo leitor, para que os conceitos básicos possam ser aplicados aos fundamentos da Osteopatia. É importante ressaltar que muitos desses princípios neurofisiológicos dão suporte teórico e científico aos fenômenos que envolvem as disfunções somáticas e suas repercussões, assim como para as técnicas de tratamento utilizadas na Osteopatia. Trata-se de um tratamento reflexo baseado em respostas desencadeadas por estímulos mecânicos aplicados em receptores sensoriais Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 18 8 – ASPECTOS ANATÔMICOS E FISIOLÓGICOS RELEVANTES À OSTEOPATIA Para que o leitor possa compreender de forma clara as bases anatomofisiológicas que dão suporte à Osteopatia, é importante que alguns princípios fisiológicos básicos sejam lembrados e considerados: 8.1 - Medula espinhal e raízes nervosas A medula espinhal fica localizada no canal vertebral, formado pelos forames vertebrais sucessivos, é o principal centro reflexo e via de condução entre o corpo e o encéfalo. Da face ventral e dorsal da medula se originam as raízes anteriores e posteriores dos nervos espinhais, respectivamente. As raízes posteriores contêm fibras aferentes (sensitivas) que transportam fluxos nervosos da periferia (pele, músculos, cápsulas, ligamentos) para a medula, e as raízes anteriores contêm fibras eferentes (motoras) que se originam dos neurônios motores espinhais e seguem para o músculo esquelético. As duas raízes se unem na saída do canal vertebral para formar um nervo espinhal, que por sua vez, ramifica-se num ramo anterior e outro posterior. É importante lembrar que os dois ramos são na maioria dos casos (salvo poucas exceções) mistos, pois contém fibras aferentes (sensitivas) e eferentes (motoras). O ramo anterior sempre apresenta um longo trajeto antes de atingir seu órgão alvo (músculo, glândula...), sendo que nas regiões cervical e lombar esses ramos anteriores formam os plexos nervosos multisegmentares (cervical, braquial, lombar e sacral), e na região torácica formam os grandes nervos intercostais, que no caso, são unisegmentares. Já os ramos posteriores dos nervos espinhais normalmente apresentam um trajeto bem mais curto, pois na maioria dos casos inerva a pele, músculos profundos, capsulas articulares e o periósteo do próprio segmento medular. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 19 8.2 - Ramo meníngeo do nervo espinhal (nervo de Luschka) É o primeiro ramo originado do nervo espinhal. Logo após sair do forame intervertebral o nervo espinhal fornece um primeiro ramo que passa pelo forame intervertebral e, voltando para o canal, junto com um ramo comunicante cinzento proveniente do gânglio simpático paravertebral. Distribui-se mediante por filetes muito delgados, inervado o disco intervertebral, os ligamentos longitudinal anterior e posterior, e a porção ventral da dura-máter. Medula espinhal e raízes nervosas Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 20 8.3 - Fibras nervosas As fibras nervosas, em suas extremidades periféricas dão origem às terminações nervosas, que podem ser sensitivas ou aferentes (receptores), e motoras ou eferentes. Quando as terminações sensitivas são estimuladas adequadamente, dão origem a um impulso nervoso que é levado e interpretado no sistema nervoso central (SNC). As terminações motoras existem na porção terminal das fibras eferentes e são os elementos de ligação entre estas fibras e os órgãos efetuadores: músculo ou glândula. As fibras nervosas motoras têm sua origem no corno anterior da substância cinzenta da medula e saem da medula, por meio das raízes anteriores para inervar as fibras musculares esqueléticas. Estes neurônios podem ser de dois tipos: neurônios motores alfa e neurônios motores gama. Os neurônios alfa têm em média 14 micrometros de diâmetro e inervam as grandes fibras musculares. Os neurônios gama são menores com diâmetro médio de 5 micrometros e inervam pequenas fibras musculares, as fibras intrafusais dos fusos. Nervos espinhais e ramos meníngeos Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 21 8.4 - Unidade motora A unidade motora (UM) apresentada na figura abaixo consiste num motoneurônio e as fibras musculares inervadas por ele. O corpo do neurônio localiza-se no corno anterior da substância cinzenta da medula e deixa a medula pela raiz anterior até chegar ao músculo-alvo. A menor unidade de movimento controlada pelo sistema SNC é uma UM, definido por Sherington em 1906. Cada músculo tem muitas UMs. O número de fibras musculares na UM de músculos da mão varia de 200 a 300 e pode chegar a mais de mil nos músculos grandes do membro inferior. Quando a UM é ativada o suficiente, todas as fibras musculares pertencentes a ela vão contrair em poucos milissegundos. Esse é o chamado princípio do tudo ou nada. 8.5 - Potencial de ação As membranas das células nervosas e musculares apresentam um potencial elétrico negativo de repouso, o chamado potencial de membrana, decorrente da concentração de íons que se encontram dentro e fora das células. A abertura dos canais iônicos da membrana nervosa faz com que ocorra um potencial de ação (despolarização, repolarização e hiperpolarização) podendo alcançar valores positivos. Este potencial percorre todo o neurônio motor até alcançar a fibra Unidade motora Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 22 muscular causando um estímulo para desencadear o potencial de ação muscular. Cada potencial de ação gera uma contração muscular. Na contração muscular normal, todas as fibras musculares da unidade motora se despolarizam, produzindo repercussões elétricas no músculo que podem ser detectadas pela eletromiografia (EMG). O sinal elétrico gerado nas fibras musculares como resultado do recrutamento de uma UM é chamado de potencial de ação da unidade motora (PAUM). 8.6 – Interneurônios O PAUM pode ser facilitado ou inibido pelas informações recebidas por neurônios que fazem conexão com os neurônios motores na medula, os chamados interneurônios, que podem ser excitatórios ou inibitórios. Eles estão presentes na substância cinzenta da medula (corno anterior, posterior e nas áreas intermediárias entre os dois), e fazem sinapses com os neurônios do corno anterior, assim como mostra a figura abaixo. Potencial de ação Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 23 Quase todos os sinais sensoriais que chegam à medula provenientes dos nervos espinhais ou do cérebro, são transmitidos e processados pelos interneurônios para finalmente convergir para os neurônios motores anteriores, e controlar a função muscular. 8.7 - Receptores sensoriais Os itens relacionados a este tópico irão abordar os receptores sensoriais localizados nos músculos, tendões e cápsulas articulares, enfatizando suas ações e repercussões sobre a medula espinhal.Grande parte das atividades do sistema nervoso (SN) é iniciada pela atividade de receptores sensoriais, podendo determinar vários tipos de reações corporais. Existem basicamente cinco tipos de receptores sensoriais: mecanorreceptores, termorrreceptores, nociceptores, receptores eletromagnéticos,e quimiorreceptores. Os mecanorreceptores detectam a compressão ou o estiramento mecânico do receptor ou dos tecidos adjacentes a ele; os termorreceptores detectam alterações de temperatura, alguns frio e outros calor; os nociceptores (receptores de dor) detectam lesões teciduais; os eletromagnéticos detectam luz na retina do olho; e os quimiorreceptores detectam alterações químicas no corpo . 8.7.1 - Receptores mecânicos Os principais receptores mecânicos localizados nos músculos e tendões são os fusos musculares (FM) e os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) respectivamente. Os FM são pequenas estruturas dispostas em paralelo nos ventres dos músculos esqueléticos. Já os OTGs encontram- se em série nos tendões. Interneurônios Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 24 4.7.1.1- Fuso neuromuscular Os fusos estão espalhados no ventre dos músculos e seu número varia com a complexidade da função do músculo em que estão situados. Quanto mais complexo, maior a proporção de fusos. Cada fuso está envolto por tecido conjuntivo e tem aproximadamente 3 milímetros de comprimento. Contem numerosas fibras musculares muito finas que se chamam fibras intrafusais, e também fibras muito mais longas e potentes – extrafusais – que constituem a massa do músculo estriado. Cada fuso contém 3 a 12 fibras musculares intrafusais que se fixam nas fibras musculares extrafusais circundantes. A região central das fibras intrafusais não é contrátil, tem função sensorial. Existem dois tipos de terminações sensoriais nas fibras intrafusais: a terminação primária, fibra do tipo Ia, com diâmetro de 17 micrômetros que transmitem sinais sensoriais para a medula com velocidade de 70 a 120 m/s; e terminações secundárias, fibras tipo II com diâmetro médio de 8 micrômetros. As partes terminais das fibras intrafusais que efetivamente contraem-se são excitadas pelas fibras motoras gama originadas no corno anterior da medula espinhal, já as fibras extrafusais são excitadas por fibras motoras alfa. O estiramento e alongamento das fibras intrafusais causa deformações mecânicas de seus receptores sensoriais que enviam sinais nervosos para a medula pelas fibras aferentes e fazem sinapse com os neurônios motores alfa. Os neurônios motores alfa geram impulsos de volta para o músculo, que se contrai. Assim os FMs enviam informações para o SN mostrando o comprimento do músculo e a velocidade de variação de seu comprimento. (KOOR, 2003). Fuso neuromuscular Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 25 Fisiologicamente, as fibras intrafusais e as fibras extrafusais se contraem em paralelo: em caso de disfunção somática, alguns modelos teóricos postulam que as fibras intrafusais se contraem enquanto as extrafusais se relaxam, o que impede o relaxamento dos fusos neuromusculares. Existe um desemparelhamento entre as fibras intra e extrafusais. Hipótese da hiperatividade gama (Irwin Korr): No segmento em disfunção a atividade gama é excessiva sobre um músculo ou sobre um grupo de músculos porque os neurônios gama descarregam permanentemente e mantém as fibras intrafusais em um estado de encurtamento crônico. Terminações nervosas do fuso neuromuscular Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 26 Quando o músculo é estirado mais do que seu comprimento de repouso, o fuso também está estirado, o que faz descarregar as terminações primárias e secundárias com freqüências crescentes, proporcionais ao grau de estiramento. O encurtamento do músculo, seja por contração ou por aproximação passiva de suas inserções, diminui proporcionalmente a freqüência de descargas e também pode fazer que cessem. Descarga do fuso neuromuscular em situação de repouso Descarga do fuso neuromuscular em situação de alongamento Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 27 Os fluxos aferentes procedentes do fuso têm uma influência excitatória. Quando um músculo é estirado, o estímulo dos fusos faz que, por via reflexa, o músculo se contraia e resista a este estiramento. Portanto, a função do fuso muscular é a de fazer o músculo resistir a toda variação de comprimento em uma ou outra direção. O fuso é o componente sensitivo dos reflexos de estiramento ou reflexos miotáticos. Este mecanismo é extremamente importante na manutenção da postura. A força da gravidade tende continuamente a flexionar o corpo. Os fusos situados nos músculos extensores asseguram a estática e estão constantemente submetidos a tensão pelas forças gravitacionais. Esta tensão crônica causa uma contração tônica destes músculos anti-gravitários, o que nos permite manter retos. Da mesma forma que os receptores sensoriais estão diretamente envolvidos no aparecimento e manutenção das disfunções somáticas, o conhecimento da atividade desses mesmos receptores nos permite compreender e aplicar os princípios das técnicas de tratamento Osteopático. Descarga do fuso neuromuscular em situação de contração Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 28 4.7.1.2 - Órgão tendinoso de Golgi Estão situados nos tendões, na união músculotendinosa e em série com as fibras musculares. São fascículos tendinosos em torno dos quais se enrolam fibras nervosas aferentes, ativados pelo estiramento do tendão, detectando alterações de tensão muscular. . Toda tensão exercida sobre um tendão, deforma estes receptores. Os sinais do OTG são transmitidos por fibras nervosas do tipo Ib para o SNC. O sinal que chega a medula excita um interneurônio inibitório, que inibe por sua vez o neurônio motor anterior e a também a contração do músculo respectivo. Por tanto, sua estimulação tem como resultado uma inibição, não permitindo que o músculo realize mais tensão. É um mecanismo auto-regulador protetor. 8.7.1.3 - Receptores articulares As terminações sensitivas localizadas nas cápsulas e ligamentos periarticulares, informam constantemente medula espinhal e o restante do sistema nervoso central, através de receptores sensitivos não-adaptativos, os movimento, posições e situações gerais das articulações. Dentro e Orgão tendinoso de Golgi e suas terminações nervosas Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 29 também ao redor das articulações sinoviais existem receptores sensoriais, como os de Ruffini e de Pacini. Os receptores de Ruffini ficam dentro da cápsula e respondem a alterações na posição articular e a velocidade de movimento articular. Localizado dentro da cápsula e nos tecidos conectivos, os receptores de Pacini respondem as pressões criadas pelos músculos, assim como a dor na articulação. Esses receptores articulares, assim como os receptores localizados nos músculos, ligamentos e tendões mantêm o SN constantemente informado sobre as condições dentro e ao redor das articulações. Os receptores capsuloligamentares também atuam como reguladores do aporte sanguíneo muscular. Quando um ligamento é estirado por um movimento, envia uma mensagem para a medula espinhal, que por sua vez aumenta o fluxo sangüíneo para poder responder ao aumento do gasto energético. Movimentos mal controlados podem excitar anormalmente o sistema cápsuloligamentar e ser a origem de arcos reflexos adaptativos. 8.7.2 – Características dos receptores Uma característica em comum dos receptores sensoriais é qualquer que seja o estímulo que os excite, ocorre uma alteração no potencial elétrico da membrana do receptor. As excitações podem ocorrer de várias maneiras: pela deformação mecânica do receptor, pela aplicação de substância química, pela alteração da temperatura, pelo efeito da radiaçãoeletromagnética. Receptores articulares Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 30 8.8 - Tipos de fibras nervosas sensoriais Os sinais emitidos pelos receptores são transmitidos para o SN por fibras nervosas sensoriais. Essas fibras podem ser classificadas da seguinte maneira: Grupo Ia, fibras de terminações sensitivas dos FMs; Grupo Ib, fibras dos OTGs; Grupo II, fibras da maioria dos receptores táteis; Grupo III, fibras que conduzem sensações de temperatura, tato grosseiro e dor em picada; Grupo IV, fibras amielínicas que conduzem sensações de dor, coceira, temperatura e de tato grosseiro. Os sinais desencadeados pelos neurônios eferentes são considerados segmentares, pois produzem respostas motoras nos músculos em que se localizam os neurônios aferentes do mesmo segmento medular. 8.9 - Segmento medular/Metâmero: É a unidade funcional vertebral: composta por duas vértebras e todos os elementos que fazem parte do segmento (vasos, articulações, músculos, ligamentos dentre outras). Um metâmero é um segmento medular que proporciona inervação sensitiva e motora para regiões específicas do corpo de maneira segmentar, de acordo com a divisão embriológica. Cada metâmero recebe e envia informações (inervação aferente e eferente), por meio do sistema nervoso somático e autônomo a diferentes elementos: Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 31 - Pele (Dermátomo): É a área cutânea inervada por uma única raiz nervosa. - Músculo (Miótomo): músculos inervados por axônios motores dentro de cada nervo segmentar (raiz). Ex: L1 – iliopsoas, C5 – Bíceps braquial, C4 – Trapézio superior dentre outras. Salienta-se que cada músculo apresenta, normalmente, inervação multissegmentar. - Osso (Esclerótomo): É uma região de periósteo inervada por uma única raiz nervosa. Há uma grande variabilidade entre indivíduos. - Artéria (Angiótomo): Compreende todos os vasos, artérias, veias e sistema linfático do nível da raiz nervosa. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 32 - Vísceras (Viscerótomo): É uma víscera inervada por uma única raiz nervosa. Assim como o músculo, as vísceras apresentam inervação multissegmentar. SEGMENTO MEDULAR 8.10 – Sistema Nervoso Visceral (autônomo) A seguir será descrita uma breve revisão sobre o sistema nervoso visceral para que se compreendam suas relações com as disfunções somáticas. O intuito no momento não é aprofundar demasiadamente o conhecimento nesse complexo sistema, pois isso será realizado em outro momento do curso. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 33 O sistema nervoso visceral ou também chamado de autônomo ou neurovegetativo é um sistema involuntário e dividido em dois: sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Esses sistemas controlam as funções viscerais na busca da homeostase, e ao mesmo tempo em que podem ser considerados antagonistas, na verdade são sinergistas. Normalmente descreve-se que o sistema nervoso somático (voluntário) é totalmente independente do sistema nervoso visceral, mas sabe-se que os componentes somáticos proporcionam muitos efeitos sobre o sistema autônomo, e vice-versa. Outra grande diferença entre o sistema somático e o visceral, é que o primeiro normalmente é composto por um único neurônio, que vai da medula espinhal até seu órgão alvo (músculo, glândula...). Já o sistema visceral é, na grande maioria das vezes composto por dois neurônios que realizam sinapse antes de chegar ao destino final: neurônio pré e pós-ganglionar. 8.9.1 – Sistema Nervoso Simpático É o sistema toracolombar, pois apresenta o corpo de seus neurônios na coluna lateral da substância cinzenta da medula espinhal, desde o primeiro segmento torácico até o segundo segmento lombar normalmente. Essas fibras nervosas deixam a medula junto aos axônios motores por meio das raízes anteriores dos nervos espinhais. Deixam os nervos espinhais por meio do ramo comunicante branco para chegar à cadeia de gânglios simpáticos laterovertebrais (ou para-vertebrais), que se localizam anterolateralmente aos corpos vertebrais e muito próximos das articulações costovertebrais. Quando chegam nesse nível, os neurônios simpáticos pré- ganglionares podem fazer sinapse com os pós-ganglionares em diferentes níveis. (discutidos profundamente no momento oportuno). Na maior parte de seu curso, os nervos simpáticos viajam junto com os nervos somáticos. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 34 Esse sistema mediado pela adrenalina, geralmente acentua a atividade dos outros sistemas, preparando o corpo para situações de “luta ou fuga”, dependendo de situações externas e internas do corpo. As reações são moderadas constantemente e ajustadas em respostas às informações recebidas por centros superiores: funções viscerais, circulação, metabolismo, tônus da musculatura lisa, motilidade visceral, função cardíaca e pulmonar são reguladas. 8.9.2 – Sistema Nervoso Parassimpático É conhecido como crânio-sacral, pois a origem dos neurônios pré-ganglionares localizam-se no crânio (pares cranianos III, VII, IX e X) e no sacro (S2, S3 e S4). Fibras do III Sistema nervoso simpático Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 35 (oculomotor), VII (facial) e IX (glossofaríngeo) suprem basicamente os órgão localizados na cabeça, enquanto o restante dos órgão toraco-abdomino-pélvicos recebem sua inervação parassimpática do X (vago) e nervos pélvicos (S2, S3 e S4. Não existe inervação parassimpática nas extremidades do corpo. Os órgãos recebem duplo controle do simpático e parassimpático. Este processo é sinérgico e deve manter-se constantemente equilibrado para que o organismo mantenha-se em homeostase. As funções básicas do sistema parassimpático são de manutenção interna, incluindo digestão e excreção. Esse sistema opera com mais intensidade durante períodos de recuperação e repouso. Sistema nervoso parassimpático 8.11 - Reflexos O reflexo nervoso é uma relação básica entre um estímulo de entrada para o corpo e uma saída involuntária através de uma ação de um músculo ou um órgão secretório. 8.11.1 - Reflexo Medular Os elementos funcionais dos reflexos medulares são: receptor sensorial, neurônio aferente (sensorial), medula (interneurônios), neurônio eferente (motor) e as terminações eferentes. - Receptor: originam potenciais de ação de diferentes graduações que, provocam o aparecimento de potencial de ação. Este é conduzido centripetamente, passando diretamente do prolongamento periférico ao prolongamento central. Exemplos: corpúsculos de Paccini e Ruffini, terminações nervosas livres, FNM, OTG, terminações das mucosas das vísceras, entre outros... - Neurônio aferente (sensorial): especializado em conduzir impulsos. São aferentes os neurônios, fibras ou feixes de fibras que trazem impulsos a uma determinada área do sistema nervoso central. - Interneurônios: Os neurônios de associação constituem a grande maioria dos neurônios existentes no sistema nervoso central. Podem ter funções excitatórias ou inibitórias. - Neurônios eferentes (motores): são eferentes os neurônios, fibras ou feixes de fibras que levam impulsos de uma determinada área do sistema nervoso para a periferia. - Terminações eferentes: As fibras nervosas eferentes somáticas relacionam-se com as fibras musculares estriadas esqueléticas através de estruturas especializadas denominadas placas motoras. Na placa motora, a terminação axônica emite finos ramos contendo pequenas dilatações, os botões sinápticos de onde é liberado o neurotransmissor. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 37 *** Terminações Eferentes Viscerais:o mediador químico pode ser a acetilcolina ou a noradrenalina. Não possuem placas motoras, como nas terminações somáticas. O neurotransmissor é liberado em um grande trecho final da fibra nervosa e não apenas em sua extremidade, podendo a mesma fibra estabelecer contato com um grande número de fibras musculares ou células glandulares. 8.11.2 - Reflexo somato-somático Reflexos provocados nas estruturas somáticas gerados por estimulação na estrutura somática relacionada ao segmento medular. É uma resposta musculoesquelética por um estímulo dado a uma estrutura somática. Ex: reflexos defensivos - movimentos de retirada para um estímulo nocivo. Ocorrem quando um estímulo é aplicado a uma estrutura somática. 8.11.2 - Reflexo víscero-vísceral Ocorre quando há entrada sensorial de uma estrutura visceral, que provoca consequente atividade em um órgão. EX: distensão do intestino provocada pelo volume das fezes que resulta no aumento da contração do músculo do próprio intestino. Envolvem a atividade aferente dos receptores na medula espinhal através de interneurônios para produzir atividade eferente simpática e/ou neurônios motores parassimpáticos. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 38 8.11.3 - Reflexo víscero-somático: É causado por estímulos viscerais locais que produzem padrões de resposta reflexas nas estruturas somáticas segmentalmente relacionadas. É a repercussão no sistema musculoesquelético ao estímulo de receptores viscerais. Pode causar, por exemplo, aumento do nível de tensão muscular ou diminuição do limiar sensitivo da pele/periósteo. Diversos receptores viscerais existem na mucosa e área epitelial, que respondem a estímulos mecânicos, dolorosos e estímulos químicos. Há receptores de tensão nas camadas de músculos viscerais que respondem à distensão mecânica; receptores de tensão na camada serosa, que são mais lentos e que também monitoram plenitude da víscera, como por exemplo o corpúsculos de Paccini localizados no mesentério. Há também receptores de dor (terminações nervosas livres) nos vasos sanguíneos viscerais. Representação esquemática do reflexo viscero-somático. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 39 8.11.4 - Reflexo somato-visceral É a estimulação somática local produzindo padrões somáticos de resposta reflexa em estruturas viscerais segmentalmente relacionados. É a repercussão no sistema visceral advindo de uma alteração musculoesquelética correspondente ao mesmo segmento medular. 9 – CONCEITOS DE MACRO E MICROFISIOLOGIA ARTICULAR Alguns aspectos referentes à fisiologia articular devem ser totalmente entendidos e sempre lembrados pelos estudantes e praticantes de Osteopatia e terapia manual, pois fazem parte da prática clínica diária desses métodos de trabalho. Quando estudamos e avaliamos em nossos pacientes a fisiologia das articulações, devemos lembrar que pode-se subdividir a fisiologia articular em macrofisiologia e microfisiologia articular. 9.1 – Macrofisiologia articular É utilizada para descrever o posicionamento dos ossos em relação ao espaço (macrofisiologa estática), e também os movimentos de segmentos osteoarticulares (macrofisiologia dinâmica). A macrofisiologia estática é empregada principalmente na definição de situações ligadas à postura corporal. Anteversão pélvica, retificação da lordose cervical são exemplos de posicionamento de segmentos ósseos em relação ao espaço, que são facilmente visualizados pelo observador ou até mesmo através de exames de imagem. Já a macrofisiologia articular dinâmica descreve os principais movimentos de articulações, como por exemplo a abdução do ombro, a extensão do quadril, etc. Mas é importante entender que os grandes movimentos articulares descritos pela macrofisiologia são Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 40 sempre acompanhados e de certa forma dependentes de pequenos movimentos que ocorrem nessas articulações descritos pela microsfisiologia articular. 9.2 – Microfisiologia articular Para que possam ocorrer os macromovimentos em segmentos corporais, sempre é necessário que pequenos movimentos ocorram nas articulações envolvidas nesses movimentos. Por exemplo: num movimento de abdução do ombro descrito pela macrofisiologia, várias articulações são envolvidas e em cada uma delas existem movimentos específicos que são essenciais para uma boa fisiologia. Em determinados graus da abdução, a cabeça do úmero realiza um deslizamento inferior, depois a clavícula realiza um movimento de rotação, a articulação escapulotorácica faz um movimento em báscula e por fim as primeiras vértebras torácicas realizam pequenas inclinações para o lado oposto à abdução do ombro. Todos esses pequenos movimentos devem ocorrer de forma sistemática para que o ombro consiga chegar na amplitude máxima da abdução de 180 graus. Caso alguma das articulações envolvidas não seja capaz de realizar tais micromovimentos por uma restrição/disfunção, o macromovimento sofrerá limitações e adaptações, e possivelmente alguns tecidos moles serão expostos à situações de stress constante. A microfisiologia articular, ao contrário da macro, não é facilmente visível pelo examinador e também não é de simples análise em exames de imagem (exames dinâmicos facilitam tal análise). É necessário que o examinador Osteopata tenha profundo conhecimento de cada micromovimento que cada articulação executa para que possa aplicar os testes de mobilidade específicos e realizar as correlações clínicas. É muito importante salientar ao leitor que estas forma de análise são inter-relacionadas mas em certos casos são independentes. Exemplo: quando observa-se um indivíduo estaticamente com uma anteversão pélvica e aumento da lordose lombar (macrofisiologia articular), significa que os ossos ilíacos encontram-se rodados anteriormente e as vértebras lombares encontram-se estendidas. Este posicionamento dos ossos em relação ao espaço não Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 41 quer dizer que eles encontram-se fixados do ponto de vista da microfisiologia articular. Os ossos ilíacos podem realizar pequenos movimentos de rotação anterior e posterior (microfisiologia), mas no caso do exemplo descrito acima, não significa que pelo fato de estaticamente estarem em anteversão, os ilíacos estejam fixados em rotação anterior. É uma tendência em alguns casos, mas é possível que os ossos ilíacos apresentem seus micromovimentos livres nesse exemplo. Deve-se compreender que quando existem problemas ligados à microfisiologia de uma articulação, certamente prejuízos ocorrerão na macrofisiologia. O papel do Osteopata é analisar profundamente e detalhadamente os micromovimentos articulares, para que possa tratar de forma específica possibilitando uma macrofisiologia harmoniosa. 10 – DISFUNÇÕES SOMÁTICAS Esse termo substitui outro utilizado antigamente por Still como “deslocamento ósseos” e posteriormente de “lesão osteopática”. Para o glossário de terminologia osteopática: “Disfunção somática é a função alterada ou debilitada dos componentes relacionados ao sistema somático: esqueleto, articulações e estruturas fasciais, e elementos vasculares, linfáticos e neurais relacionados.” São alterações funcionais de parâmetro menor, ou seja, são problemas mecânicos que não são acompanhados de lesões teciduais (fratura, ruptura ligamentar, etc) seguidas de respostas inflamatórias. Não são demonstrados em exames laboratoriais e/ou de imagem, sendo que seu diagnóstico é dado através de palpação e testes de mobilidade específicos para cada tecido. Uma disfunção somática se trata de um distúrbio funcional reversível que pode afetar articulações da coluna vertebral e periferia do corpo, e também tecidos dispostosem outras zonas como nos envoltórios fasciais das vísceras, ou até mesmo o tecido conjuntivo encontrado nas suturas e membranas cranianas. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 42 A disfunção pode ser denominada de acordo com sua localização, como por exemplo: disfunção vertebral, disfunção visceral, disfunção craniana, etc. Há muito tempo tem sido considerada como o fator central e principal no contexto da filosofia Osteopática, relacionando seus impactos sobre a saúde em um contexto de globalidade do corpo humano. Diferentes teorias tentam explicar seus achados clínicos e sua fisiopatologia. Com citado anteriormente, as disfunções somáticas podem afetar distintos tipos de tecidos. Sugere-se que no caso das disfunções somáticas que envolvam níveis vertebrais, todos os tecidos inervados pelo metâmero/segmento medular envolvido (músculo, pele, osso, víscera, artéria) podem sofrer consequências negativas em sua funções. Da mesma forma, disfunções somáticas periféricas em qualquer tipo de tecido (tendão, cápsula, dura-máter, peritônio, etc...) que afetem a aferência desses tecidos ao sistema nervoso, pode originar ou manter disfunções somáticas medulares. 10.1 – Características clínicas Algumas características podem ser clinicamente observadas nas disfunções somáticas. A literatura descreve tradicionalmente esses quatro parâmetros com a sigla TART (T - tenderness, A - assimetry, R - restriction, T – texture changes): •Tenderness: aumento da sensibilidade; •Assimetry: assimetria; •Restriction: restrição; •Texture changes: Alteração da textura do tecido. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 43 10.2 – Hipótese fisiopatológica das disfunções somáticas Cronologia inicial das pesquisas sobre as disfunções somáticas: 1900: Louisa Burns, que fez parte do instituto de pesquisa A.T. Still em Chicago, realizou uma série de estudos relacionados aos distúrbios somáticos e repercussões sobre funções viscerais. 1930: J. S. Denslow e seus colegas promoveram estudos pioneiros feitos com registros de eletromiografia para obter evidências relacionadas aos achados palpatórios nas disfunções somáticas. 1945: Irwin Korr se juntou a Denslow para dar continuidade às pesquisas utilizando EMG e introduziu o conceito da facilitação medular, que será abordado posteriormente. Esse modelo ainda é frequentemente descrito em obras literárias osteopáticas nas principais escolas de Osteopatia do mundo, porém outros modelos descritos nas últimas três décadas apresentam maior suporte científico. 10.2.1 – Modelo da facilitação – Irwin Korr O fisiologista Irwin Korr propôs a relação da disfunção somática vertebral ao que ele chamou de segmento medular “facilitado”. Denominava o problema naquela época como “lesão osteopática”. Em 1947, Denslow definiu: “Uma lesão osteopática vertebral representa um segmento medular facilitado, mantido nesse estado por impulsos de origem endógena que penetram na raiz dorsal correspondente. Todas as estruturas que recebem fibras nervosas eferentes desse segmento estão consequentemente, potencialmente expostas à excessiva excitação ou inibição”. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 44 Esse modelo propõe que o fuso neuromuscular seria o principal receptor sensorial envolvido e responsável pela manutenção da disfunção. O aumento da atividade das fibras motoras gama causaria a manutenção da contração das fibras musculares intrafusais de tal forma que estiramento da porção sensitiva do fuso manteria uma contração muscular crônica palpável clinicamente. Vários mecanismos poderiam causar esse fenômeno. Na sequencia, descreve-se uma dessas possibilidades: Na posição neutra de uma articulação, os músculos antagonistas responsáveis pela manutenção da posição espacial da mesma, apresentam uma atividade gama basal, pois os fusos neuromusculares mantém o sistema nervoso central constantemente informado da situação mecânica a todo o momento. Quando ocorre uma brusca aproximação mecânica das inserções musculares por um movimento traumático, os fusos encontram-se relaxados. Dessa forma o sistema nervoso central não recebe as informações aferentes sensoriais desse receptor. Por um mecanismo reflexo, o próprio SNC automaticamente aumenta a frequência de descargas eferentes pelos motoneurônios gama para que a fibras intrafusais se contraiam e estirem a porção sensorial do fuso, para que o mesmo envie novos sinais aferentes. É um sistema de feedback que ocorre com o intuito de obter as Atividade gama em repouso Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 45 informações dos receptores musculares constantemente. A gravidade, pela influência dos centros labirínticos e dos músculos antagonistas, tende a levar a articulação novamente à posição neutra, devolvendo ao músculo seu comprimento inicial. Isso faz como que ocorra o estiramento da porção sensorial do fuso, aumentando ainda mais a descarga sensitiva desses receptores. Então o fuso vai estimular permanentemente sua porção contrátil, recusando-se a estirar. Ocorre um desemparelhamento entre as fibras intra e extrafusais. O músculo vai resistir a todo o alongamento, mantendo-se num estado de “contração” crônica. Movimento brusco Adaptação do SNC Aumento da atividade gama Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 46 Esse espasmo muscular funcional fixa a vértebra e impede a mobilidade em alguns parâmetros. A este fenômeno neurológico que explica em curto prazo a fixação articular se somam alguns fatores que explicam em longo prazo a fixação articular, a cronicidade da disfunção. Do lado fixado, existe uma perda do movimento fisiológico de abertura e fechamento das facetas articulares. As cápsulas articulares têm tendências a se retrair e formar aderências. Em um nível vertebral em disfunção, a hiperatividade gama é excessiva seja sobre um grupo de fibras musculares ou sobre o conjunto do músculo. Os neurônios gama descarregam permanentemente e conservam as fibras intrafusais em um estado de contração crônico. As causas que podem produzir este tipo de espasmo podem ser um traumatismo, uma queda, um movimento mau feito. Os músculos responsáveis pela manutenção da disfunção estarão em processo isquêmico devido à dificuldade de irrigação das arteríolas que penetram o ventre do músculo hiperativo. Acredita-se que este mecanismo tenha papel importante na formação e manutenção de pontos-gatilho miofasciais. Inúmeros fatores deixam o corpo vulnerável a desequilíbrios do sistema neuromusculoesquelético, predispondo a instalação de disfunções somáticas: Disfunção somática Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 47 Postura: habitual, ocupacional; Gravidade; Anormalidades estruturais: tamanho ou forma de vértebras alteradas, facetas articulares anormais, fusão ou falta de fusão (lombarização, sacralização); Zonas de transição de curvas/dobradiças: craniocervical, cervicotorácica, toracolombar, lombosacral; Irritabilidade muscular: stress, infecção, reflexo de outra estrutura somática ou visceral; Alterações psicológicas; Compensação de outras alterações estruturais/funcionais. A figura abaixo demonstra a relação entre alguns fatores que podem repercutir sobre o sistema neuromusculoesquelético: Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 48 10.2.2 - Modelo nociceptivo de Van Buskirk Van Buskirk, já em 1990, colocou em questão alguns conceitos propostos por Korr. Para ele, os fusos neuromusculares não seriam capazes de produzir as contrações musculares reflexas. Sugeriu que receptores sensoriaislocalizados em vários tecidos podem estar envolvidos com as disfunções somáticas, em especial os nociceptores, seriam responsáveis pela manutenção da contração muscular reflexa e aumento das descargas simpáticas. O estresse nocivo mecânico, químico ou térmico em tecidos musculoesqueléticos ou viscerais causariam alterações reflexas nos axônios que iriam bombardear o corno posterior da substância cinzenta da medula. Isto levaria a uma série de eventos nos tecidos locais tendo como consequência final a facilitação medular. Como consequência ocorreria alteração na atividade Fatores que influenciam o sistema musculoesquelético Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 49 das raízes anteriores e fibras eferentes viscerais causando respectivamente aumento do tônus muscular e repercussões nas atividades autonômicas (vasomotora, sudorípara e atividade visceral) do segmento medular envolvido. O aumento da atividade muscular causaria sinais clínicos tradicionalmente observados: restrição de mobilidade tecidual, assimetrias, e dor. A manutenção da restrição de mobilidade ao longo do tempo provocaria alterações nos tecidos conjuntivos locais ajudando a manter o distúrbio. Esse modelo neurológico das disfunções somáticas tem sido predominante nas últimas décadas na explicação das disfunções somáticas e suas relações somato-viscerais e viscero-somáticas, por mais que faltem evidências conclusivas sobre o assunto. 10.2.3 – Outro modelos O modelo fasciogênico proposto por Tozzi apresenta a perspectiva de que as disfunções somáticas possam ter, além das influências baseadas no modelo nociceptivo, relações fundamentais com alterações em algumas propriedades específicas da fascia, como sua arquitetura, contratilidade, pH e viscoelasticidade. Tais modificações teciduais poderiam justificar alguns dos sinais clínicos das disfunções somáticas encontrados palpatoriamente. Para Garry Fryer (1999), os modelos que sugerem que as contrações musculares reflexas são responsáveis pelas alterações de mobilidade encontradas nas disfunções somáticas articulares são insustentáveis. Ele destaca que estudos recentes mostram que músculos segmentares são inibidos na presença de dor. Um modelo hipotético apresentado por Fryer propõe que as disfunções seriam iniciadas por uma lesão tecidual, e as consequências seriam as alterações funcionais reversíveis direcionadas pelos estímulos nocieptivos, assim como no modelo de Van Buskirk. Tensões mecânicas impostas nos receptores localizados em cápsulas e ligamentos causam inflamação e Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 50 efusão sinovial ativando nociceptores. Reflexos axonais produzem alteração da textura tecidual local. A efusão articular e o ingurgitamento tecidual poderiam explicar a restrição de mobilidade. A atividade nociceptiva que chega ao corno posterior da medula poderia ser responsável pelo aumento da atividade simpática, provocando repercussões viscerais e imunes. Músculos segmentares estabilizadores acabariam sendo inibidos e músculos multissegmentares excitados, de tal forma que aquela articulação tornar-se-ia instável e mais suscetível a estresse mecânico. A manutenção do problema ao longo do tempo produziria modificações nas características físicas no tecido conjuntivo, contribuindo para a sustentação da restrição de mobilidade e as assimetrias. Um ciclo autossustentável se instalaria. Diversas outros modelos e descrições de hipóteses sobre os mecanismos fisiológicos envolvendo as disfunções somáticas foram e vem sendo postuladas, porém diversos aspectos como sua etiologia e suas repercussões mecânicas, neurológicas e sistêmicas continuam sendo discutidos e pesquisados até o momento. Os trabalhos científicos a serem realizadas devem responder muitas questões que ainda estão sem respostas... 10.3 – Disfunções somáticas em articulações periféricas Distúrbios funcionais em músculos esqueléticos de qualquer outra articulação do corpo podem levar a respostas similares. Por exemplo, uma irritação ou breve ruptura de fibras de músculos ligados a articulação glenoumeral causadas por movimento traumático, vão causar não somente um processo inflamatório local a princípio, mas também reações cicatriciais e alteração tônica de músculos da cintura escapular. Essa alteração tônica pode ser responsável por limitação de mobilidade (fixação) de alguma articulação envolvida. As disfunções somáticas de articulações periféricas apresentam diretamente, somente repercussões mecânicas; mas indiretamente são fontes de fluxos alterados para o sistema nervoso central, podendo causar estímulos aferentes alterados para os níveis medulares relacionados aos tecidos. Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 51 Posteriormente será discutido nessa apostila, as possibilidades de disfunções em outros tecidos como envoltórios viscerais e articulações cranianas. 10.4 – Disfunções primárias e adaptações secundárias As disfunções somáticas primárias correspondem ao primeiro stress que ocorre no organismo respeitando a cronologia do tempo. No exemplo descrito acima, a disfunção somática da articulação glenoumeral gera aferências sensitivas negativas ao corno posterior da substância cinzenta da medula nos níveis de C5-C6. Essa fonte de facilitação deve alterar o comportamento reflexo desse nível medular causando disfunções somáticas secundárias locais, e perturbando os tecidos inervados por esse nível medular/metâmero. Uma disfunção primária pode ser: Traumática: choques, quedas, etc, Fisiológica: respeitando os movimentos fisiológicos da articulação/tecido. Toda disfunção primária necessita de uma adaptação. A adaptação não necessita sempre de um tratamento, somente se persiste por tempo prolongado mantendo-se mesmo após a correção da disfunção primária. A disfunção secundária trata-se de uma adaptação, produto de uma necessidade de uma “acomodação” a uma dada situação. Por exemplo, uma disfunção primaria de um segmento vertebral ou a disfunção primaria de outra articulação (tálus, ilíaco, etc). A adaptação pode ser próxima ou distante da disfunção primária dinamicamente reversível. Se a primária é corrigida, a adaptação desaparece. Na coluna vertebral, as disfunções primárias, geralmente bloqueiam uma vértebra isolada, as adaptações neutras afetam um grupo de vértebras. As adaptações diminuem a Bases fisiológicas da Osteopatia COLÉGIO BRASILEIRO DE OSTEOPATIA Página 52 capacidade do corpo se defender. Quanto mais nos adaptamos a algo, menos podemos nos adaptar a outra coisa. Sem dúvida a persistência ao tempo da disfunção primária provocará mudanças estruturais na disfunção secundária, que deixará de ser uma adaptação para se transformar em uma compensação. Nesse caso, a correção da disfunção primária não será acompanhada pela desaparição espontânea da disfunção secundária (compensação) que irá necessitar de um tratamento direto e específico. 11 - CONCEITOS DE HIPO E HIPERMOBILIDADE Toda perda de mobilidade de um elemento conjuntivo produz de forma adaptativa, o prejuízo mecânico de outro segmento que deverá compensar essa falta de mobilidade com um funcionamento excessivo, uma hipermobilidade adaptativa. Esta hipermobilidade reacional ocorre em zonas adjacentes (supra ou subjacente) à fixação articular. Esse conceito sugere que as zonas hipermóveis normalmente se encontrarão no sistema musculoesquelético, e não em tecidos vísceras ou cranianos (menos móveis por natureza). Como descrito anteriormente, alguns modelos sugerem que uma disfunção somática é acompanhada de uma hiperatividade gama e espasmo muscular que fixa a disfunção Já a zona de hipermobilidade adaptativa se caracteriza por uma debilidade muscular local. Propõe-se que essas áreas reacionais seriam locais que
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