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ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 1 Apresentação ................................................................................................................................ 4 Aula 1: Sistema musculoesquelético e locomotor ........................................................................ 5 Introdução ............................................................................................................................. 5 Conteúdo ................................................................................................................................ 6 História da ergonomia – parte 1 ..................................................................................... 6 Atividade proposta ............................................................................................................ 7 Teoria sobre vitimização ................................................................................................ 14 Penalogia ........................................................................................................................... 15 Referências........................................................................................................................... 16 Exercícios de fixação ......................................................................................................... 16 Notas ........................................................................................................................................... 20 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 21 Aula 1 ..................................................................................................................................... 21 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 21 Aula 2: Sistema cardiorespiratório .............................................................................................. 24 Introdução ........................................................................................................................... 24 Conteúdo .............................................................................................................................. 25 Sistema cardiorrespiratório ............................................................................................ 25 Fisiologia Cardiovascular ................................................................................................ 28 Mecanismos patológicos associados ao trabalho ..................................................... 29 Estresse e adrenalina ....................................................................................................... 32 Notas ........................................................................................................................................... 36 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 37 Aula 2 ..................................................................................................................................... 37 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 37 Aula 3: Sistema nervoso e órgãos dos sentidos .......................................................................... 41 Introdução ........................................................................................................................... 41 Conteúdo .............................................................................................................................. 42 Fisiologia do sistema nervoso ....................................................................................... 42 Atividade proposta .......................................................................................................... 47 Percepção visual .............................................................................................................. 49 Protetores auriculares ..................................................................................................... 51 Exercícios de fixação ......................................................................................................... 51 ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 2 Notas ........................................................................................................................................... 54 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 54 Aula 3 ..................................................................................................................................... 54 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 54 Aula 4: Fisiologia e trabalho ........................................................................................................ 57 Introdução ........................................................................................................................... 57 Conteúdo .............................................................................................................................. 58 Cervicalgia ......................................................................................................................... 58 Atividade proposta .......................................................................................................... 62 Cefaleia em empresas ..................................................................................................... 65 Notas ........................................................................................................................................... 70 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 70 Aula 4 ..................................................................................................................................... 70 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 70 Aula 5: Organização do trabalho ................................................................................................. 73 Conteúdo .............................................................................................................................. 74 A organização do trabalho............................................................................................. 74 O relógio biológico .......................................................................................................... 80 Notas ........................................................................................................................................... 88 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 88 Aula 5 ..................................................................................................................................... 88 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 88 Aula 6: Biomecânica ocupacional e sua relação com as lesões .................................................. 90 Conteúdo .............................................................................................................................. 91 Tipos de alavanca, aplicações práticas no trabalho .................................................. 91 Norma Regulamentadora nº 17 ....................................................................................94 Chaves de resposta ................................................................................................................... 103 Aula 6 ................................................................................................................................... 103 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 103 Aula 7: Ergonomia no posto de trabalho .................................................................................. 106 Conteúdo ............................................................................................................................ 107 Fisiopatologia do trabalho muscular ......................................................................... 107 A posição sentada.......................................................................................................... 109 Peculiaridade dos espaços de trabalho ..................................................................... 117 Chaves de resposta ................................................................................................................... 122 Aula 7 ................................................................................................................................... 122 ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 3 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 122 Aula 8: Análise ergonômica conforme a NR-17 ........................................................................ 125 Conteúdo ............................................................................................................................ 126 Notas ......................................................................................................................................... 142 Chaves de resposta ................................................................................................................... 142 Aula 8 ................................................................................................................................... 142 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 142 Conteudista ............................................................................................................................... 145 ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 4 Esta disciplina abordará os conteúdos referentes à fisiologia humana e apontará sua relação com o trabalho. Para tal, procuraremos correlacionar as bases fisiológicas do trabalho com os mecanismos que envolvem a sobrecarga e o surgimento de determinadas patologias que possam estar interligadas, além de discutir maneiras de tratá-las e prevení-las. Dentro desse contexto, também identificaremos formas de determinar e classificar riscos ergonômicos, bem como de evitá-los. De modo mais superficial, apresentaremos, ainda, algumas normas que vigoram na legislação brasileira, nas quais o trabalhador pode se ancorar para desenvolver sua atividade da maneira mais segura possível. Tais normas devem ser cumpridas pelo empregador. Do contrário, ele pode sofrer punição. Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: 1. Revisar a fisiologia dos principais sistemas do corpo humano envolvidos diretamente com a atuação do homem no trabalho; 2. Associar as condições de trabalho, comportamento, postura, jornada de trabalho, entre outros condicionantes com a saúde; 3. Integrar esses conhecimentos prévios para a análise ergonômica e avaliação do posto de trabalho, de acordo com as normas regulamentadoras vigentes. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 5 Introdução Esta aula será iniciada com o conceito de ergonomia, sua história, seu desenvolvimento e seu reconhecimento hoje pelas autoridades da área da saúde, área legislativa e também por parte dos empresários. Em seguida, daremos início ao conteúdo específico abordando inicialmente os componentes do sistema musculoesquelético e locomotor, bem como suas funções: sustentação, locomoção, proteção, contração muscular, interação com outros sistemas e perda de potência fisiológica ou alterações das referidas estruturas em função do trabalho, o que pode ocasionar algumas patologias. Objetivo: 1. Verificar brevemente a história da ergonomia e, em seguida, determinar as bases fisiológicas da contração muscular esquelética; 2. Determinar acometimentos patológicos do sistema locomotor, tais como alterações posturais e hérnias de disco. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 6 Conteúdo História da ergonomia – parte 1 A palavra ergonomia deriva originalmente de duas palavras gregas: ergon (que significa trabalho) e nomos (que significa leis, regras). Sendo assim, a palavra ergonomia deve ser entendida como as regras para a realização do trabalho. Hoje, essa palavra já ganhou um conceito bem mais amplo e é definida como sendo a “ciência de conceber uma tarefa que se adapte ao trabalhador, e não forçar o trabalhador a adaptar-se a tarefa”. Historicamente, o trabalho era visto como categoria de atividades inferiores que não eram dignas de nobres e pessoas importantes da sociedade; somente os escravos e pessoas mais simples desempenhavam essas atividades. Por isso, as condições de trabalho não despertavam interesses de estudiosos da época, por isso, pouco se encontra na literatura antiga as descrições sobre os males que podem ser relacionados ao trabalho. Excetuando-se alguns relatos na literatura, a primeira obra consistente sobre o tema foi publicada em 1700 pelo médico italiano Bernardino Ramazzini. Em seu tratado intitulado De morbis artificum diatriba (As doenças dos trabalhadores), ele descreve as doenças próprias das profissões da época (como a doença dos escribas e notórios: uma inflamação das articulações dos dedos das mãos por segurar a pena para escrever durante grandes períodos de tempo), além de outras patologias. Por isso, Ramazzini é considerado o pai da medicina ocupacional. Com o passar dos anos, outros estudiosos também publicaram outras obras descrevendo doenças relacionadas com o trabalho, como Fritz de Quervain. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 7 Atividade proposta Síndrome de De Quervain (conhecida também como: enfermidade de De Quervain, torcedura da lavandeira, tendinite estenosante de De Quervain) é uma forma de tendinite crônica identificada e descrita em 1895 por Fritz de Quervain. A tendinite estenosante de De Quervain é a constrição dolorosa da bainha comum dos tendões dos músculos abdutor longo e extensor curto do polegar, no chamado primeiro compartimento dorsal. O processo inflamatório da bainha causa a diminuição do seu espaço, comprimindo os tendões. Diagnóstico O teste de Finkelstein é usado para diagnosticar a síndrome de Quervain em pessoas que têm dor no punho. Descreva o teste de Finkelstein (explique como é realizado o teste e seu objetivo). Chave de resposta: O teste de Finkelstein é utilizado para determinar a presença da doença de Quervain, que é uma tendinite do polegar (chamada tenossinovite estenosante). O teste consiste no indivíduo cerrar o punho com o polegar no interior, seu antebraço deve ser estabilizado e, por fim, realiza-se o movimento de desvio ulnar. O teste será considerado positivo se o paciente relatar dor sobre os tendões abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar no nível do primeiro dedo da mão, indicando uma tendinite desses dois tendões. É interessante que se compare a dor com o lado normal. História da ergonomia – parte 2 Com o passar dos anos, a industrialização começou a tomar conta dos processos de trabalho, graças, em boa parte, a personagens como Taylor, Fayole Ford (este último criou a linha de produção), e as condições de trabalho se tornaram as piores possíveis: não existia uma carga horária específica para o trabalho, e homens e crianças chegavam a trabalhar até 16 horas por dia nas fábricas, o que levava a um índice de lesões e acidentes de trabalho altíssimo. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 8 Devido a isso, as autoridades intervieram e leis foram criadas para proteger o trabalhador de diminuir os acidentes e lesões provocados pelo trabalho. Atualmente a segurança e a saúde dos trabalhadores são regulamentadas pela Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, que em suas normas regulamentadoras contém as determinações para a proteção da saúde e integridade física dos trabalhadores, tendo a ergonomia papel fundamental para o alcance desses objetivos. Entretanto, para que se trabalhe de forma ergonomicamente correta, identificando falhas e corrigindo-as, a fim de ser criado um posto de trabalho que favoreça a eficiência do colaborador e reduza lesões e afastamentos por conta delas, é necessário que antes nos apropriemos da fisiologia para que possamos realizar ações de forma eficaz. E é isso que vamos fazer agora; mergulharemos no mundo da fisiologia associada à ergonomia! Vamos? Sistema musculoesquelético e locomoto O esqueleto humano desempenha várias funções, tais como: produção de sangue (hematopoiese, realizada pela medula óssea), armazenamento de minerais (como o cálcio, por sinal muito importante para a contração muscular; que veremos logo a seguir), proteção, locomoção e sustentação. Essa sustentação é dada a vários órgãos e tecidos (tecido muscular, por exemplo), e é por meio da contração dos músculos inseridos nos ossos que realizamos nossa locomoção/movimentação. Graças à locomoção/movimentação, conseguimos realizar nossas ações, dentre elas está o trabalho. Sendo assim, a compreensão da fisiologia da contração muscular é muito importante para darmos continuidade à nossa disciplina. Um músculo estriado esquelético (tipo de músculo distribuído ao longo de nosso sistema esquelético) é dividido em tendões e ventres. Tendões são as regiões que se ligarão aos ossos que formarão o que chamamos de origem e ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 9 inserção. Os tendões irão transferir a força de contração do músculo para os ossos. O ventre muscular, por sua vez, é onde encontramos as fibras musculares; essas tem poder de deslizamento de uma sobre a outra, levando ao encurtamento do ventre muscular, processo ao qual chamamos de contração. A contração muscular ocorre por um processo complexo que envolve também o sistema nervoso (falaremos mais adiante sobre isso), no entanto, é necessário um impulso nervoso para que o músculo contraia, o qual chamamos de potencial de ação. Esse tem de percorrer por um nervo periférico até que atinja o músculo (o ponto onde um nervo periférico se liga a uma fibra muscular é chamado de junção neuromuscular ou placa motora). Após a chegada desse sinal, uma série de sequências envolvendo substâncias como íons e proteínas acontecerá, até culminar com a geração do movimento produzido pela contração do músculo. Contração muscular A unidade funcional da fibra muscular é chamada de sarcômero; o sarcômero, por sua vez, é constituído de filamentos de proteínas envolvidos por uma membrana plasmática chamada sarcolema. As proteínas estão distribuídas no sarcoplasma, o citoplasma da célula muscular, e são chamadas de troponina. Esta obstrui os sítios de ligação da actina (proteína muscular responsável pela contração) e da miosina (proteína muscular que possui uma parte chamada de cabeça, a qual se liga à actina, também responsável pela contração do sarcômero), que só são liberados a partir da ligação do cálcio. Quando actina e miosina interagem, o músculo contrai, enfim. Na cabeça da miosina existe uma molécula de ATP que será quebrada para a produção de energia por uma enzima chamada ATPase. As duas últimas ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 10 proteínas citadas são as responsáveis pelo encurtamento do músculo; dentro destas células também existe uma rede de tubos chamados túbulos T (esses têm a função de permitir a passagem do impulso elétrico que deve chegar aos retículos sarcoplasmáticos mais rapidamente). O cálcio está armazenado nesses retículos, como podemos observar na figura. Dito isso, vamos à sequência de eventos necessários para a tão falada contração. Descrição da contração muscular Após a chegada do potencial de ação no sarcolema, o estímulo elétrico se propaga pela membrana da célula e ao longo dos túbulos T; por meio desse estímulo, os retículos sarcoplasmáticos liberam o cálcio neles contido e que se ligará à troponina, mudando a sua conformação tridimensional e expondo os sítios para a ligação da miosina (filamentos grossos) na actina (filamentos finos). Seguidamente, existirá o contato entre a actina e a miosina, com consequente quebra do ATP e movimentação da cabeça da miosina empurrando a actina (evento chamado de ciclo das pontes cruzadas: quando a fibra muscular se contrai) e encurtando o músculo. Quando o estímulo elétrico é cessado, o cálcio ligado à troponina é transportado novamente para o retículo sarcoplasmático, fazendo com que a tropomiosina bloqueie novamente os sítios para a ligação da miosina; isso faz com que as proteínas se desprendam e desfaça o ciclo das pontes cruzadas, o que permite ao músculo relaxar, novamente estar alongado. Esse processo complexo ocorre dentro de milésimos de segundos, gerando força e também precisão para que possamos desenvolver nossas atividades laborais: digitar, escrever, dirigir, levantar algum objeto, carregar algum peso, entre tantas outras atividades. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 11 Se durante uma jornada de trabalho não existir favorecimento para os músculos realizarem as suas contrações, brevemente eles poderão apresentar fadiga e comprometer o desempenho do trabalhador quanto à sua função. Vale ressaltar que existem nos músculos tipos de fibras musculares diferentes (chamadas de fibras brancas e fibras vermelhas), essas fibras têm características diferentes quanto à contração, pois as fibras brancas conseguem gerar mais força e potência do que as fibras vermelhas; no entanto, as fibras brancas entram em fadiga mais rapidamente. As fibras vermelhas geram menos força, porém conseguem suportar mais tempo de trabalho sem entrar em fadiga. Ações que auxiliam bastante os músculos a desenvolverem maior quantidade de fibras vermelhas são as atividades aeróbicas e os exercícios realizados pela ginástica laboral, além de alongamentos para evitar que músculos se tornem encurtados, o que pode ocasionar desvios de postura e surgimento de hérnias de disco (o nosso próximo tema). Classificação do sistema muscular Como observamos, o sistema muscular tem papel fundamental no desenvolvimento do trabalho e apresenta propriedades muito importantes que devem ser respeitadas. Além de esses músculos poderem ser classificados em brancos e vermelhos (microscopicamente), também podemos classificá-los quanto às suas funções. Um músculo pode ser: Agonista Quando o músculo é o agente principal na execução de um movimento. Antagonista Quando um músculo se opõe ao trabalho de um agonista, seja para regular a rapidez ou a potência da ação do agonista. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 12 Sinergista Quando um músculo atua em prol de eliminar movimento indesejado que poderia ser produzido pelo agonista. Exemplo: o músculo braquial quando se contrai é o agente ativo na flexão do antebraço, sendo, pois, um agonista. No momento em que o músculo tríceps braquial se contrai para fazer a extensão do antebraço, o músculo braquial opõe-se ao movimento, retardando-o, a fimde que ele não seja executado bruscamente – neste caso, atua como um antagonista. Atenção Quando o bíceps realiza a contração, ele é o músculo agonista, enquanto o tríceps é o antagonista, e vice versa. Coluna vertebral Na coluna vertebral muitos músculos estão inseridos para que ela possa se manter ereta, realizar seus movimentos e também para que suas curvaturas fisiológicas se mantenham preservadas. A coluna vertebral faz parte do esqueleto axial (esqueleto que tem função de proteção). Dentro do canal vertebral encontra-se a medula espinhal, emergindo dela os nervos periféricos (que estão em 31 pares de nervos que levarão impulsos nervosos para os 606 músculos do corpo) através dos forames intervertebrais. A coluna vertebral apresenta três curvaturas fisiológicas que se desenvolvem ao passo que o bebê começa a rolar, sentar, engatinhar e, por fim, deambular. Por volta dos 18 meses de idade, as curvaturas da coluna vertebral já estão formadas e se apresentam da seguinte forma: na região cervical, temos uma curvatura chamada de lordose cervical; na região da coluna torácica, essa curvatura é chamada de cifose; por fim, a região da coluna lombar também apresenta uma curvatura, a lordótica. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 13 O grande objetivo dessas curvaturas é realizar a dissipação de cargas sobre os discos intervertebrais localizados ao longo de toda a coluna vertebral; se isso não ocorre adequadamente, favorece-se o surgimento de hérnia de disco. Além disso, a coluna deve estar sempre alinhada tanto no plano frontal quanto no plano sagital. Quando isso não ocorre, podemos dizer que há uma alteração postural provocada pelo desvio da coluna no plano sagital e/ou no plano frontal. Em geral, desvios da coluna são produzidos por desequilíbrios musculares entre os músculos que se encontram no lado direito da coluna vertebral e os músculos que estão no lado esquerdo da coluna vertebral, podendo alguns músculos estarem mais fracos e alongados e outros mais fortes e encurtados. As causas para isso são diversas, porém uma grande incidência dessas alterações posturais é causada por manutenção de posturas inadequadas, seja no ambiente de estudo ou de trabalho. As alterações do plano sagital são as hipercifoses ou hiperlordoses; já as do plano frontal são as escolioses, que podem ser para o lado direito ou para o lado esquerdo. Alterações de postura podem levar ao surgimento de quadro álgico, compressões de raízes nervosas e, em estágio mais avançado, comprometer a funcionalidade do trabalhador. Vale ressaltar que essas alterações posturais, em graus mais elevados, podem comprometer também o sistema cardiorrespiratório, levando a uma restrição dos pulmões, impedindo que ele se expanda adequadamente. Isso ocorrendo, é passível de redução da capacidade funcional do indivíduo, levando ao surgimento de sinais e sintomas como cansaço a pequenos esforços, taquicardia, fraqueza muscular generalizada entre outros. Consequentemente, pode haver redução da capacidade de trabalho, principalmente, se o indivíduo tiver como atividade laborativa transporte de cargas, direção ou outras tarefas de maior consumo de energia. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 14 Nossa! Em quanta coisa devemos estar de “olho” quanto ao sistema locomotor... Mas ainda não acabou... Veja a seguir como ocorrem as hérnias de disco. Hérnia de disco A coluna é formada aproximadamente por 32 vértebras e entre elas encontramos um disco de tecido fibrocartilaginoso, chamado de disco intervertebral. O centro desse disco é composto por uma estrutura chamada de núcleo pulposo (onde basicamente se encontra líquido). A união de duas vértebras realizada por esses discos gera uma articulação do tipo sínfise, e são essas articulações que permitem os movimentos da coluna vertebral. Como vimos, as curvaturas da coluna têm objetivo de dissipar a carga que será imposta sobre os discos, porém, quando isso não ocorre de maneira eficaz, em longo prazo, os discos começam a apresentar lesões (desidratação do disco) e consequentes degenerações – na maioria das vezes, rompendo as fibras do tecido fibrocartilaginosos com herniação do núcleo pulposo, ocorrendo então o surgimento da hérnia de disco. Fator de risco para o surgimento dessa condição patológica é o transporte inadequado de peso no trabalho, principalmente, para trabalhadores da construção civil. Existem maneiras de se prevenir a hérnia de disco: uso de cintas abdominais, maquinários e, principalmente, limite à carga a ser transportada de uma única vez pelo trabalhador e a boa utilização das alavancas do nosso corpo, objetivando reduzir o trabalho e preservar as estruturas musculoesqueléticas. Isso é tema de nossas próximas aulas. Até lá! Teoria sobre vitimização Na teoria acerca da vitimização, na qual se enquadra o processo de vitimação, estuda-se a produção social de crianças-vítimas, sendo a violência perpetrada por meio da vitimação, que é compreendida como “uma realização determinada ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 15 das relações de força, tanto em termos de classes sociais quanto em termos interpessoais” (AZEVEDO; GUERRA; OLIVEIRA et al., 1989, p. 46). Mas, o que é vitimizar? Vitimizar, segundo Elida Séguin (2001, p. 132), significa: “Desatender qualquer direito básico do homem, nele incluídos os Direitos Humanos, os Direitos Fundamentais agasalhados na Constituição e os princípios densificadores do Estado Democrático, o que torna vasto o campo de estudos da Vitimologia e dos Direitos Humanos.” Não se pode confundir vitimizar com o processo de vitimação, que consiste em uma forma de violência estrutural, na qual as crianças passam a ser estereotipadas como “menor, pivete, pequeno bandido, menino de rua, projeto de gente” e se transformam em crianças em “situação de alto risco na medida em que possuem grande probabilidade de sofrer violação aos seus direitos fundamentais”. (Ibidem, p. 26) Penalogia O que é penalogia? A penalogia refere-se ao estudo e à sistematização das sanções penais (que compreende as penas e as medidas de segurança), assim como ao estudo de medidas cautelares processuais. Sua classificação como ciência penal autônoma surgiu no final do século XX. Por que a penalogia foi classificada como ciência penal? Em decorrência da falha do sistema penal e reconhecimento da “incapacidade” ressocializadora das penas privativas de liberdade, motivo pelo qual passou-se a buscar, mediante a adoção de políticas criminais despenalizadoras, a adoção ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 16 de medidas alternativas às penas privativas de liberdade, tendo, por base teórica, o reconhecimento do sistema penal como um sistema de garantias. Referências DUL, J; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. 2ª ed. São Paulo: Edgar Blucher, 2004. MAGEE, D. J. Avaliação musculoesquelética. 4ª ed. São Paulo: Manole, 2005. TRAVASSOS, G. Guia prático de medicina do trabalho: a influência dos ambientes de trabalho na saúde de nossos pacientes: o que todo médico precisa saber sobre saúde ocupacional. São Paulo: LTr, 2003. Exercícios de fixação Questão 1 Como vimos, a ergonomia teve sua primeira obra publicada em 1700 por Ramazzini, na qual foram descritas doenças relacionadas às ocupações da época. Com base nesse conhecimento, podemos afirmar que ergonomia é a ciência que tem como objetivo: a) Fazer com que o trabalhador desgaste todas suas reservas para dar conta de suas tarefas no trabalho. b) Adequar o homem ao trabalho para que os objetivos do empregador sejam alcançados. c) Conceber uma tarefa que se adapte ao trabalhador, e não forçar o trabalhador a adaptar-se à tarefa. d) Desenvolver meios pelos quais o trabalho seja executado com sua maior eficácia sem se preocupar com as condiçõesdo trabalhador. Questão 2 J. G. H. trabalha em uma clínica radiológica realizando exames de raios X e ele já executa essa função faz 10 anos; entretanto, J. G. H. nunca se preocupou em usar equipamento de proteção para realização de sua tarefa. Certo dia, realizou um exame de sangue em que se observou anemia profunda, e o ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 17 médico informou que foi por conta da radiação. Podemos afirmar que a função do esqueleto humano que está prejudicada é: a) Locomoção b) Hematopoiese c) Sustentação d) Armazenamento de minerais Questão 3 Podemos observar que o mecanismo de contração muscular é extremamente complexo e depende de vários eventos em sequência para que ocorra de forma adequada. Se em algum momento existir uma falha, a contração pode ocorrer sem gerar muita potência. Nas opções abaixo, essa ocasião pode estar relacionada a qual condição: a) Hipocalcemia b) Hipercalcemia c) Hiperidrose d) Hipoidrose Questão 4 M. A. trabalha em uma fábrica de calçados realizando movimentos repetitivos durante uma jornada de trabalho de oito horas diárias; no entanto, essa fábrica não tem um plano ergonômico adequado, o que leva M. A. a não realizar pausas durante sua jornada de trabalho. Ao fim do dia, ela sempre se queixa de “cansaço” no músculo, perda de força e impotência do membro superior. Segundo relato, essas queixas são referentes à: a) Fraqueza muscular b) Doença neuromuscular c) Fadiga muscular d) Hérnia de disco Questão 5 Entre as opções abaixo, marque verdadeiro (V) ou falso (F) ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 18 ( ) A contração muscular não depende do sistema nervoso. ( ) Existem três tipos de contração muscular diferentes: isométrica, concêntrica e excêntrica. ( ) As fibras musculares brancas estão relacionadas à geração de maior força. ( ) Para evitar que ocorra fadiga muscular, deve-se proporcionar ao trabalhador momentos adequados de intervalos ou rodízio entre as tarefas. Questão 6 Como vimos em nossa última aula, os músculos podem ser classificados funcionalmente entre: agonistas, antagonistas e sinergistas. Correlacione abaixo os números desses músculos com a definição correta de cada um deles: 1. Quando um músculo atua no sentido de eliminar algum movimento indesejado que poderia ser produzido pelo agonista. 2. Quando o músculo é o agente principal na execução de um movimento. 3. Quando um músculo se opõe ao trabalho de um agonista, seja para regular a rapidez ou a potência da ação dele. ( ) Sinergistas ( ) Agonistas ( ) Antagonistas Questão 7 A coluna vertebral faz parte do esqueleto axial, sendo em seu interior (canal vertebral) localizada a medula espinhal, órgão nobre do sistema nervoso central. Tendo isso em vista, podemos dizer que a principal função do esqueleto axial é: a) Locomoção b) Armazenamento de mineirais c) Proteção d) Hematopoiese ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 19 Questão 8 A coluna vertebral apresenta curvaturas que têm função de diminuir a carga imposta sobre os discos intervertebrais; porém, essas curvaturas podem sofrer alterações e prejudicar o referido mecanismo. Quando alterações estão instaladas, dizemos que ocorre um desvio. Correlacione abaixo os desvios às suas respectivas regiões: 1. Desvio no plano sagital 2. Curvatura fisiológica da coluna torácica 3. Desvio no plano frontal 4. Curvatura fisiológica da coluna lombar (..) Hipercifose e hiperlordose (..) Cifose (..) Escolioses (..) Lordose Questão 9 A coluna vertebral é uma estrutura muito importante: protege a medula espinhal e nervos que dela emergem. No entanto, suas articulações sinfisiais podem apresentar lesões e desenvolver uma condição chamada de hérnia de disco, isso ocorre devido à: a) Dissipação de cargas adequadas pela coluna vertebral. b) Rupturas das fibras de tecido fibrocartilaginoso e extravasamento do núcleo pulposo. c) Manutenção adequada das curvaturas fisiológicas. d) Adequada postura no ambiente de trabalho. Questão 10 Assinale abaixo a alternativa que apresenta corretamente maneiras de se prevenir o surgimento de hérnias de disco causadas pelo trabalho: a) Uso de cintas abdominais e horário de almoço de 2 horas. b) Limite do transporte de peso e redução da jornada de trabalho para 6 horas. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 20 c) Uso de maquinários e horário de almoço de 2 horas. d) Uso de cintas abdominais e limite de transporte de peso. Contração muscular: Existem basicamente três tipos de contração muscular: concêntrica, excêntrica e isométrica. A contração é concêntrica quando origem e inserção muscular se aproximam; a isométrica é definida pela contração do músculo sem movimento de sua origem e inserção; por fim, a contração excêntrica é a contração muscular que ocorre quando origens e inserções se afastam. Ergonomia: A Associação Internacional de Ergonomia divide a ergonomia em três amplos domínios: • Ergonomia física: lida com as respostas do corpo humano à carga física e psicológica. • Ergonomia cognitiva: conhecida também como engenharia psicológica, refere-se aos processos mentais, tais como: percepção, atenção, cognição, controle motor e armazenamento e recuperação de memória. Por meio da ergonomia cognitiva estuda-se como os referidos processos afetam as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. • Ergonomia organizacional (ou macroergonomia): relacionada com a otimização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo sua estrutura organizacional, políticas e processos. Ou seja, visa proporcionar a melhoria de segurança, conforto, saúde, produtividade e qualidade de vida. Obs.: a ergonomia é uma ciência multidisciplinar que usa conhecimentos de várias ciências, tais como: anatomia, antropometria, biomecânica, fisiologia, psicologia, etc. Fadiga: Incapacidade de um músculo em gerar trabalho de forma constante, perda de força muscular. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 21 Hérnia de disco: A expressão hérnia de disco é usada como termo coletivo para descrever um processo em que ocorre ruptura do anel fibroso, com subsequente deslocamento da massa central do disco nos espaços intervertebrais. Pode ser classificada em graus de gravidade, partindo do mais simples ao mais complexo como: prolapso, protusão, extrusão e sequestro. Geralmente, os dois primeiros graus apresentam tratamento conservador e os dois últimos tratamento cirúrgico. Origem e inserção: Origem é o ponto fixo, que não se desloca com a contração do músculo. Inserção é o ponto móvel, aquele que se desloca com a contração do músculo. Plano sagital: Descrições anatômicas do corpo ou de órgãos se baseiam em planos de secção que passam através do corpo na posição anatômica. O plano sagital divide o corpo em duas metades, direita e esquerda. Já o plano frontal (ou coronal) divide o corpo em metade anterior e posterior. Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - C Justificativa: Ergon significa trabalho e nomos significa leis normas; a palavra ergonomia tem, portanto, o sentido de normas para o trabalho. Logo, essas normas têm como objetivo adequar o trabalho ao homem, e não o contrário, para que sua “saúde” seja preservada e possa desempenhar suas tarefas com o máximo de eficiência. Questão 2 - B Justificativa: A hematopoiese e a produção de células sanguíneas; logo, quando a medula sofre alguma lesão ou fica exposta por longo períodos a radiações ionizantes, como as do raios X, sua função pode ficar prejudicada ou alterada, podendo ocorrer o surgimento até mesmo de cânceres nas células sanguíneas, como a leucemia. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 22 Questão 3 - A Justificativa: Como vimos, o cálcio é peça fundamental para a contração muscular: na deficiência desse mineral, pode não existir umaliberação adequada dos sítios da actina para a miosina e a geração de força realizada pela contração pode ficar reduzida. Questão 4 - C Justificativa: Por conta dos movimentos repetitivos sem um período adequado de pausa, os músculos acumulam uma grande quantidade de um produto chamado ácido lático. Sem ter tempo para “descansar”, esse ácido não é eliminado e proporciona ao músculo incapacidade de gerar trabalho, ocasionando os sintomas referidos. Questão 5 - F, V, V, V Justificativa: A contração depende de neurotransmissores que são levados aos músculos através dos nervos periféricos. Questão 6 - A, B, C Justificativa: Vale lembrar que um mesmo músculo, dependendo do movimento que esteja sendo realizado, pode ser classificado como agonista, antagonista ou sinergista. Questão 7 - C Justificativa: Apresentamos em nosso sistema esquelético dois tipos de esqueleto: o axial e o apendicular. Este último tem papel fundamental na sustentação e na locomoção. Dito isso, o primeiro tipo de esqueleto tem papel fundamental na proteção. Outras partes do esqueleto que fazem parte do esqueleto axial são: a caixa craniana e a caixa torácica (função de proteção do encéfalo, coração e pulmões respectivamente). Questão 8 - D, C, A, B ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 23 Justificativa: Quando obtemos uma visão da pessoa anteriormente, dizemos que a vista é referente ao plano frontal; logo, podemos observar os desvios para o lado direito ou esquerdo, chamados de escolioses. Quando observamos a pessoa em perfil, dizemos que está no plano sagital; logo, conseguimos observar as curvaturas fisiológicas da coluna torácica e lombar, que são respectivamente cifose e lordose – se elas estão aumentadas, são chamadas de hipercifose e hiperlordose, desvios posturais, ou seja, condição patológica. Questão 9 - B Justificativa: Na realidade, as outras alternativas são maneiras as quais procuraremos sempre lançar “mão” para que se previna o surgimento de hérnias de disco, que podem ocorrer em qualquer região da coluna vertebral (embora a maior incidência seja na região lombar, seguida da região cervical). Questão 10 - D Justificativa: Horário de almoço e horas de jornada de trabalho são itens determinados legalmente, discutidos em sindicatos e firmados em documentos oficiais, ou seja, não devem ser alterados a contento. Já as maneiras de se prevenir o surgimento de lesões no trabalho são melhores adaptações do trabalho ao homem, por meio de fragmentação de carga e uso de equipamentos de auxílio. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 24 Introdução Esta aula tem como ponto de discussão a interação entre os aparelhos cardiovascular e respiratório, que formam praticamente um único sistema que é responsável por manter a oxigenação e a perfusão dos tecidos. Uma falha em um desses dois sistemas prejudicaria nosso transporte de oxigênio e nutrientes, podendo nos levar a situações catastróficas. Com esta aula, pretende-se associar essas importantes relações com o trabalho. Além disso, verificar como o trabalho pode interferir nesse funcionamento tão harmonioso existente entre esses dois sistemas. Também abordaremos os mecanismos de troca gasosa e ventilação pulmonar, além de questões hemodinâmicas que podem ser alteradas pelo estresse. Objetivo: 1. Verificar os conceitos da fisiologia do sistema respiratório, com uma breve revisão anatômica. Associar essas definições ao dia a dia do trabalhador e aprender como algumas atividades laborais podem afetar esse sistema; 2. Analisar os conceitos da fisiologia do sistema cardiovascular e seus componentes anatômicos. Associar essas definições ao dia a dia do trabalhador e conferir como níveis elevados de estresse no trabalho podem influenciar diretamente esse sistema. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 25 Conteúdo Sistema cardiorrespiratório Olá, prezados alunos! Vamos iniciar mais uma aula?! Hoje falaremos sobre sistema cardiorrespiratório, um dos mais importantes para o desenvolvimento do trabalho, principalmente o relacionado a atividades laborais, que dependam de grande gasto calórico, e que são realizadas em locais de altas temperaturas e com produção de fuligem, como minas de carvão. Fase inspiratória da respiração Através do sangue, o sistema cardiorrespiratório conduz oxigênio e nutrientes para nossos órgãos e tecidos. Nesse contexto, a principal função é realizada pelo pulmão, que tem a grande e principal função de realizar a hematose (também conhecida como troca gasosa). Os indivíduos ditos normais utilizam apenas dez por cento da capacidade pulmonar total, como podemos observar no gráfico de volumes e capacidades pulmonares. Gráfico de volumes e capacidades pulmonares TLC: Capacidade Pulmonar Total / FCR: Volume Residual Funcional / VC: Capacidade Vital / IRV: Volume de Reserva Inspiratório / TV: Volume Corrente / ERV: Volume de Reserva Expiratório / RV: Volume Residual A troca gasosa é realizada nos alvéolos a partir da inspiração do ar atmosférico. Nosso sistema respiratório é constituído de vias aéreas superiores (cavidade nasal, faringe e suas divisões, e laringe) e vias aéreas inferiores (árvore traqueobrônquica e alvéolos). As vias aéreas superiores têm a função de filtrar, aquecer e umidificar o ar atmosférico que está sendo inalado, a fim de fazer com que ele chegue aos alvéolos através da árvore traqueobrônquica nas melhores condições possíveis para que seja então realizada a hematose. Clique no botão abaixo e veja como ocorre este processo. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 26 Hematose A pressão entre as pleuras (membranas que revestem o tecido pulmonar) é subatmosférica, permitindo aos alvéolos permanecerem sempre abertos. Ligado a esse tecido, temos um músculo chamado diafragma, que fica localizado na região toracoabdominal, responsável por separar essas duas cavidades. Quando esse músculo recebe um potencial de ação oriundo do sistema nervoso, ele realiza sua contração (assim como vimos anteriormente sobre a fisiologia da contração muscular, o diafragma é também um músculo estriado esquelético). Com isto, ele se rebaixa na cavidade abdominal, gerando, assim, uma pressão negativa na caixa torácica, fazendo com que o ar (contendo oxigênio a uma fração de 21 %) se desloque da atmosfera e, através das vias aéreas, chegue aos alvéolos. Essa contração diafragmática gera o que chamamos de gradiente pressórico (que é a diferença de pressão entre dois pontos, com o fluido se deslocando do ponto de maior pressão para o de menor pressão; como a pressão torácica se torna negativa, a pressão atmosférica fica maior e, devido a essa diferença de pressão, o ar invade o sistema respiratório). Após a chegada de ar nos alvéolos, o oxigênio difunde-se então para o sangue, ligando-se a proteínas chamadas hemoglobinas. O gás carbônico, por sua vez, será difundido no sentido contrário, ou seja, para os alvéolos. A Lei de Fick determina que a taxa de transferência de um gás (neste caso, o oxigênio) é diretamente proporcional a sua concentração, e sua área de troca é inversamente proporcional a espessura da membrana que o gás deve atravessar. Fase expiratória da respiração Após a hematose, os alvéolos ficam cheios de gás carbônico, que deve ser eliminado para a atmosfera. Essa fase ocorre quando o impulso nervoso, que está chegando ao diafragma pelo nervo frênico, é cessado, fazendo com que o músculo entre em estado de relaxamento e retorne à posição em que estava. Quando isso ocorre, a pressão no interior dos pulmões se torna maior do que a pressão atmosférica, ou seja, há uma inversão do gradiente de pressão. A ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 27 partir disso, o fluido gasoso se desloca então para o meio externo através dasvias aéreas, levando consigo o gás carbônico e permitindo que um novo ciclo respiratório se inicie. Algumas ocupações profissionais ou hábitos adquiridos podem comprometer os sistemas mecânicos e físico-químicos que permitem esses processos. Um grande exemplo são as doenças restritivas dos pulmões, causadas por poeiras de amianto e fuligem de carvão, que causam uma fibrose pulmonar. Isto dificulta a expansão dos pulmões, que diminui a captação de volume de ar e, também, leva a um espessamento da membrana alvéolo-capilar, desfavorecendo, assim, a difusão do oxigênio, como observado na Lei de Fick. Esse encadeamento leva o indivíduo a sobrecarregar o sistema respiratório, podendo evoluir a quadros de hipoxemia e, até mesmo, insuficiência respiratória. Antes de culminar com quadros mais graves, haverá queda na eficiência desse indivíduo no trabalho, pois este não terá a mesma capacidade funcional de antes. São maneiras de minimizar essas condições: uso de equipamentos de proteção individual (como máscaras) e exames de saúde periódicos, além da criação de leis que protejam o trabalhador. Nesse processo de respiração, o sistema cardiovascular (regido por leis físicas – hemodinâmica) é tão importante quanto o respiratório, pois é através dele que o oxigênio será transportado. Isso acontece por meio de uma grande trama vascular (cujo órgão principal é o coração), que funciona como condutos para o transporte do sangue. Vamos agora entender melhor alguns processos cardiovasculares e procurar relacioná-los com o trabalho. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 28 Fisiologia Cardiovascular O sistema cardiovascular é essencial para que todos os sistemas e órgãos do corpo funcionem adequadamente, pois fornece oxigênio e nutrientes necessários aos órgãos e, além disso, remove produtos de excreção e o gás carbônico gerado nos tecidos. O sistema cardiovascular faz também parte do sistema imunológico, visto que seus leucócitos são entregues aos tecidos para combater infecções e remover detritos. Reciprocamente, o sistema cardiovascular depende de outros órgãos para sua função. Os pulmões entregam oxigênio e removem o gás carbônico do sangue que circula por eles (através do processo de hematose que acabamos de ver em nosso conteúdo anterior). O trato gastrointestinal fornece nutrientes ao sangue para distribuição aos tecidos. O sistema urinário filtra o plasma, removendo dele substâncias químicas desnecessárias (como ureia, creatinina e ácido úrico, que são subprodutos do metabolismo das proteínas). O baço filtra o sangue e remove eritrócitos (hemácias) velhos, que são substituídos por novas células sanguíneas produzidas pela medula óssea. Os dois sistemas de comunicação (nervoso e endócrino) regulam a função cardiovascular para manter a pressão arterial média (PAM) dentro da normalidade. Esta pressão é a força que impulsiona o sangue, ou seja, é a que mantém o fluxo sanguíneo aos tecidos. O trabalho pode ter influência sobre essa pressão fisiológica por meio da alteração dos mecanismos neuroendócrinos que a controlam e, com a desestabilização da pressão fisiológica, possibilita-se gerar um quadro clínico patológico. Além disso, alguns hormônios que participam desses mecanismos regulatórios são ditos diabetogênicos. Portanto, caso a pessoa fique exposta a eles de forma crônica, facilita-se o desenvolvimento da diabetes mellitus e aumenta a probabilidade do desenvolvimento de cardiopatias isquêmicas e acidentes vasculares encefálicos (AVE). Sendo assim, veremos agora informações sobre essa regulação e os mecanismos patológicos associados ao trabalho. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 29 Mecanismos patológicos associados ao trabalho O coração é um órgão composto basicamente por músculo estriado cardíaco, e apresenta um sistema de válvulas e um mecanismo próprio de geração e condução de impulsos elétricos. O coração é o responsável por manter o nosso débito cardíaco e, para isto, ele sofre regulações intrínsecas e extrínsecas do sistema nervoso autônomo pelas suas vias simpáticas e/ou parassimpáticas, podendo aumentar ou diminuir a frequência cardíaca e, consequentemente, o débito cardíaco. Outro sistema que pode influenciar na hemodinâmica é o sistema endócrino, através da liberação de hormônios. Uma variável hemodinâmica muito importante é a pressão arterial, que pode ser definida como a força que o sangue exerce sobre a parede das artérias. Para entender a regulação da pressão arterial, observe o exemplo a seguir: Quando uma pessoa perde sangue, a resultante diminuição do volume sanguíneo causa uma queda da pressão arterial. Isto costuma desencadear várias respostas neurais e hormonais, que atuam rapidamente para novamente normalizar a pressão arterial (para que os tecidos sejam perfundidos adequadamente, recebendo nutrientes e oxigênio). Ao mesmo tempo, a queda da pressão arterial desencadeia uma diminuição da taxa de eliminação de urina pelos rins, o que ajuda o corpo a manter o volume de sangue por meio da conservação de água. Em contraste, quando uma pessoa ingere líquidos excessivamente, o volume de sangue e, consequentemente, a pressão se elevam acima do normal, desencadeando respostas neurais e hormonais em espaço curto de tempo para que ocorra diminuição da pressão, fazendo-a retornar a um valor próximo do normal (num quadro de pressão elevada, o problema não será a perfusão dos tecidos, e, sim, a lesão de células dos vasos sanguíneos e, até mesmo, a ruptura de uma artéria, podendo causar um IAM ou um AVE). Ao mesmo tempo, a elevação da pressão desencadeia um aumento da taxa de eliminação de urina pelos rins, livrando o corpo do excesso de água, o que faz o volume sanguíneo retornar ao normal. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 30 Esse controle nervoso da pressão arterial é feito através de um mecanismo de feedback negativo. Em todo sistema de retroalimentação negativa, variáveis são reguladas através do envio de informações por sensores. Neste caso, os sensores que monitoram a pressão arterial são denominados barorreceptores (baro = pressão) e estão localizados tanto na artéria aorta quanto nas carótidas. Esses receptores respondem à distensão que ocorre na parede das artérias em detrimento a alterações da pressão arterial. Essas informações são enviadas ao sistema nervoso central por via aferente e, como resposta a estas aferências, as artérias podem realizar vasodilatação quando em uma pressão elevada, ou vasoconstrição quando em uma pressão reduzida, com o objetivo de manter a pressão arterial sempre em valores de normalidade. Mecanismos patológicos associados ao trabalho – Sistema endócrino O sistema endócrino atua paralelamente ao sistema nervoso para regular a pressão arterial. Um hormônio muito importante nesse processo é a adrenalina, que é secretada pela medula das glândulas suprarrenais sobre estimulação simpática. A pressão arterial baixa (hipotensão) é um estímulo à secreção de adrenalina, que afeta tanto o débito cardíaco quanto o diâmetro dos vasos sanguíneos. Os efeitos da adrenalina sobre o sistema cardiocirculatório são: aumento da frequência cardíaca e da força de contração do coração, além de vasoconstrição. Sendo assim, a adrenalina tende a aumentar a pressão arterial. Um agravo é que a secreção de adrenalina também está associada ao estresse. Além da adrenalina, um outro hormônio também é secretado quando sob efeito do estresse: o cortisol, um glicocorticóide. “O estresse é uma condição que se manifesta através da Síndrome Geral da Adaptação (SGA), que produz certas modificações na estrutura e na composição química do corpo, as quais podem ser observadas e mensuradas.” (SELYE, 1959) ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 31 Esse estado ocorre quando estamos sob risco (mecanismo de “luta ou fuga”),medo, ansiosos ou sobre “pressão” no ambiente de trabalho, tendo que cumprir metas, prazos, etc. A longo prazo, a adrenalina pode favorecer o surgimento da hipertensão (ou pressão arterial elevada), uma pressão arterial que, em repouso, é superior a 139 mmHg (sistólica) e 90 mmHg (diastólica). Já o cortisol, que também é secretado pela glândula suprarrenal, tem as seguintes ações sobre o organismo: aumenta a disponibilidade de glicose circulante (hiperglicemia) através da inibição da secreção de insulina pelo pâncreas, e estimula a gliconeogênese. Sendo assim, níveis elevados de estresse por longo prazo podem contribuir para desencadear a diabetes. Atividade proposta Em duas situações onde alterações orgânicas estão acontecendo devido a mecanismos de adaptação relacionados ao estresse. Em geral, eles são tratados como mecanismos de “luta ou fuga”. Sendo assim, qual a relação desses mecanismos com o estresse? Chave de resposta: O estresse pode ser considerado uma síndrome clínica, que leva a alterações das funções orgânicas e celulares a partir da secreção de mensageiros químicos (hormônios), sobretudo a adrenalina e o cortisol. Quando estamos em situação de perigo, nosso corpo deve ser preparado para enfrentá- lo ou para fugir dele, e quem fará isso serão os hormônios já citados. A adrenalina promoverá o aumento da frequência cardíaca, da circulação sanguínea e da pressão arterial, além da dilatação das vias aéreas e das pupilas, deixando o indivíduo mais ágil e atento. Para que isso ocorra, necessita-se também de substrato energético, especialmente a glicose. Nesse contexto, o cortisol, então, fica responsável por aumentar a quantidade de glicose no sangue. A ação desses dois hormônios combinados promoverá os efeitos clínicos que chamamos de estresse. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 32 Estresse e adrenalina “Outro agravante da adrenalina é a estimulação de depósito de gordura nas vísceras, sendo um fator de risco para o surgimento da aterosclerose e elevação dos níveis de LDL – colesterol. Esse conjunto de alterações relacionadas constitui a chamada síndrome metabólica. Alguns estudos mostram que a síndrome metabólica está relacionada com um risco aumentado para doenças cardiovasculares e acidentes vasculares encefálicos.” (ZUARDI, 2009) Além disso, o estresse pode afetar outros sistemas, como o gastrointestinal e o imunológico, facilitando o surgimento de úlceras pépticas e levando à redução da imunidade. Como consequências gerais, o estresse crônico pode causar depressão, insônia e envelhecimento precoce. A seguir, veja alguns desencadeadores e tipos de estresse. Fontes de estresse Tipos de estresse Fontes de estresse • Eventos importantes da vida; • Problemas cotidianos; • Estressores ambientais (ruídos); • Estresse relacionado ao trabalho (sobrecarga, esgotamento, falta de controle sobre o serviço realizado, revezamento de turnos, medo de perder o emprego, assédio moral e sexual, etc.). Tipos de estresse • Estresse agudo (curta duração); • Estresse crônico (duração prolongada); • Estresse físico (cujas causas são fome, frio, etc.); ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 33 • Estresse psíquico (sobrecarga psicológica); • Estresse por sobrecarga (excessiva carga de pressão para assimilação individual). Referências GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. ZUARDI, A. W. Fisiologia do estresse e sua influência na saúde. Disponível em: <http://rnp.fmrp.usp.br/~psicmed/doc/Fisiologia%20do%20estresse.pdf> Acesso em: 08 set. 2014. Exercícios de fixação Questão 1 O sistema respiratório é composto por vias aéreas superiores, inferiores e alvéolos, cada qual com sua função, como observamos na nossa aula. Sendo assim, assinale a alternativa que corresponde corretamente às funções das vias aéreas superiores: a) Troca gasosa, filtrar e aquecer o ar b) Filtrar, aquecer e umidificar o ar c) Resfriar, filtrar e aquecer o ar d) Aquecer, umidificar e resfriar o ar Questão 2 Em nossa aula de sistema respiratório, observamos que, durante a fase de inspiração, é necessário que ocorra contração de um músculo e, a partir de então, será gerado um gradiente pressórico para que o ar seja conduzido até os alvéolos para a realização da hematose. Assinale abaixo a alternativa que corresponde ao músculo que será acionado e à definição de gradiente pressórico. a) Reto do abdome; diferença de pressão entre dois pontos b) Diafragma; igualdade de pressão entre dois pontos ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 34 c) Reto do abdome; igualdade de pressão entre dois pontos d) Diafragma; diferença de pressão entre dois pontos Questão 3 A Lei de Fick rege a difusão dos gases no processo de hematose, além de fazer referência ao oxigênio. Correlacione os pontos dessa lei em relação à condição ser (I) favorável ou (II) desfavorável à ocorrência da difusão pelo oxigênio. ( ) Aumento da espessura da membrana alvéolo-capilar. ( ) Aumento da concentração de oxigênio acima de 21%. ( ) Redução da área de contato entre alvéolo e capilar pulmonar. ( ) Redução da espessura da barreira alvéolo-capilar. A sequencia correta é: a) II, I, II, I b) I, I, II, II c) I, II, II, I d) II, II, I, II Questão 4 Para que haja a ocorrência de contração do músculo toracoabdominal, é necessário que um potencial de ação seja conduzido por um nervo até o músculo em questão. Dessa maneira, marque abaixo o nervo responsável por conduzir esse estímulo até o músculo e quantos destes nervos encontramos no sistema respiratório. a) Nervo diafragmático; um nervo b) Nervo frênico; um nervo c) Nervo frênico; um par de nervos d) Nervo diafragmático; um par de nervos Questão 5 Determinadas ocupações podem levar a complicações pulmonares, que, a longo prazo, evoluem para fibrose, comprometem a troca gasosa e reduzem a ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 35 capacidade funcional do indivíduo. Assinale abaixo a alteração mecânica que a fibrose pulmonar causa ao sistema respiratório: a) Aumento de complacência pulmonar b) Restrição pulmonar c) Broncoespasmo d) Aumento da resistência das vias aéreas inferiores Questão 6 O sistema cardiocirculatório interage com vários outros sistemas do organismo para cumprir com suas funções e vice-versa. Vimos que os sistemas nervoso e endócrio são muito importantes para o controle da pressão arterial, visto que estes fazem a regulação da pressão arterial através de um processo chamado: a) Feedback positivo b) Feedback retroativo c) Feedback negativo d) Feedback positivo e negativo Questão 7 O sistema nervoso regula a pressão arterial através de comandos para os vasos sanguíneos, que são enviados para o sistema nervoso através de aferências oriundas dos barorreceptores. Assinale abaixo a alternativa correta em relação à resposta dos vasos sanguíneos em detrimento à pressão arterial. a) Hipertensão – vasoconstrição b) Hipotensão – vasoconstrição c) Hipertensão – normoconstrição d) Hipotensão – vasodilatação Questão 8 O sistema endócrino também regula a pressão arterial através de liberação de determinados hormônios na corrente sanguínea. Vale lembrar que esse sistema trabalha de forma paralela ao sistema nervoso. Marque a alternativa que contém o hormônio secretado e a sua ação, respectivamente. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 36 a) Adrenalina – vasodilatação b) Cortisol – aumento da frequência cardíaca c) Cortisol – vasoconstrição d) Adrenalina – vasoconstrição Questão 9 A manifestação causada pelo aumento da pressão arterial, dislipidemia, hiperglicemia e obesidade abdominal recebe o nome de: a) Estresse b) Síndrome anabólica c) Síndrome metabólica d) Síndrome catabólica Questão 10 Vimosque o estresse é uma resposta a alguns agentes que são considerados nocivos ao homem, como medo, ansiedade e situações de “luta ou fuga”, que levará a uma alteração bioquímica, que pode ser de curto prazo ou prolongada, tornando-se crônica. Como efeitos gerais do estresse crônico, podemos observar: a) Insônia, envelhecimento precoce e hipoglicemia b) Doenças cardiovasculares, úlceras pépticas e hipoglicemia c) Envelhecimento precoce, hipertensão e hipoglicemia d) Diabetes, dislipidemia e hipoglicemia e) Depressão, insônia e envelhecimento precoce Feedback Negativo: Feedback Negativo é um mecanismo pelo qual o organismo reverte a direção da mudança, mantendo as variáveis fisiológicas dentro dos valores de normalidade. Esse mecanismo é regulado pelo sistema neuroendócrino. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 37 Débito cardíaco: Débito cardíaco (DC) pode ser definido como a quantidade de sangue ejetada pelo ventrículo esquerdo no período de um minuto. O DC varia em torno de 5 a 6 litros de sangue quando o indivíduo em repouso. Outra forma de definição do DC é a matemática: DC = FC x VE; onde FC é igual a frequência cardíaca e VE é igual a volume de ejeção. Gliconeogênese: É a formação de glicose a partir de ácidos graxos ou aminoácidos. Essa reação química para obtenção de energia geralmente ocorre no fígado. Hipoxemia : Hipo = pouco; hipoxemia = pouca quantidade de oxigênio no sangue arterial. Literariamente, considera-se hipoxemia quando observa-se uma PaO2 < 60 mmHg. IAM: Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): condição provocada pela obstrução do fluxo sanguíneo das artérias coronárias (artérias que irrigam o coração). Durante esse processo, as células cardíacas deixam de receber oxigênio e nutrientes, evoluindo para necrose (morte celular), com consequente parada cardíaca. Neuroendócrinos: Neuroendócrino refere-se ao sistema nervoso endócrino, que controla a pressão arterial através da liberação de hormônios e/ou impulsos elétricos sobre os vasos sanguíneos e o coração. Síndrome metabólica: Obesidade abdominal, hiperglicemia, dislipidemia e hipertensão arterial. Esse conjunto de alterações é chamado de síndrome metabólica e está diretamente relacionado com o risco aumentado de Doenças Arteriais Coronarianas (DAC) e Acidentes Vasculares Encefálicos (AVE). Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - B ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 38 Justificativa: As vias aéreas superiores não realizam a troca gasosa, pois esta somente ocorre nos alvéolos. Se o ar fosse resfriado quando o inalássemos, poderíamos sofrer um quadro de hipotermia. Logo, as vias aéreas superiores filtram o ar através dos pelos encontrados no nariz (que se chamam vibrissas). Além disso, elas umidificam e aquecem o ar por meio de uma grande trama vascular encontrada na cavidade nasal. Questão 2 - D Justificativa: Existem outros músculos que podem auxiliar no processo respiratório. No entanto, o diafragma é o principal músculo da respiração, participando com 70% da geração de volume pulmonar. Gradiente pressórico faz referência à diferença de pressão entre dois pontos, onde um fluido se desloca do ponto de maior pressão para o de menor pressão. Questão 3 - A Justificativa: Por definição, a Lei de Fick sustenta que a taxa de difusão do oxigênio é diretamente proporcional à concentração do gás, diretamente proporcional à área de contato entre alvéolo e capilar pulmonar, e inversamente proporcional à espessura da membrana alvéolo-capilar. Sendo assim, quanto maior a espessura da membrana e quanto menor o contato do capilar-pulmonar com o alvéolo, menor será a passagem de oxigênio do alvéolo para o sangue. Questão 4 - C Justificativa: O principal nervo responsável por conduzir impulsos elétricos oriundos do sistema nervoso central para o músculo diafragma é o nervo frênico. Este é encontrado em um total de um par de nervos, saindo um de cada lado da medula espinhal e fazendo junção neuromuscular com uma hemicúpula diafragmática. Questão 5 - B ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 39 Justificativa: Os distúrbios ventilatórios restritivos referem-se à perda de complacência pulmonar por conta de fibrose do tecido do pulmão, que reduz a expansão pulmonar, com consequente redução de volume corrente e oxigenação. Por conta disso, diz-se que as fibroses pulmonares levam a uma restrição pulmonar, ou seja, perda de expansibilidade. Questão 6 - C Justificativa: Mecanismos de feedback são processo de retroalimentação, ou seja, são estímulos relacionados à mudança. Quando um mecanismo de retroalimentação negativo reverte a direção da mudança, esse sistema faz com que a pressão agora seja reduzida, ou seja, reverte a direção da mudança. Questão 7 - B Justificativa: Como resposta à hipotensão, os vasos sanguíneos realizam uma vasoconstrição sobre o comando do sistema nervoso central, aumentando, assim, a força que o sangue exerce sobre a parede das artérias, consequentemente elevando a pressão arterial. Nos casos de hipertensão, os vasos sanguíneos farão uma vasodilatação. Questão 8 - D Justificativa: A adrenalina, além de realizar a vasoconstrição das artérias, também aumenta a frequência cardíaca e a força de contração do músculo cardíaco, com o objetivo de aumentar a pressão arterial. Já o cortisol atua sobre o metabolismo da glicose e das gorduras, promove o aumento do LDL (colesterol) e deprime o sistema imunológico. Questão 9 - C Justificativa: A síndrome metabólica é a junção de todas essas alterações, que geralmente são ocasionadas por períodos prolongados sob estresse, elevando cronicamente os níveis de adrenalina e costisol na corrente sanguínea. Questão 10 - E ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 40 Justificativa: Os hormônios secretados pela condição de estresse são considerados diabetogênicos. Apesar das outras opções estarem corretas, a hipoglicemia não ocorre quando da liberação desses hormônios. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 41 Introdução O sistema nervoso pode ser dividido em SNC (Sistema Nervoso Central) e SNP (Sistema Nervoso Periférico). Nesta aula, abordaremos basicamente a função do SNC, ou seja, como este é capaz de desempenhar funções tão importantes, como identificação de estímulos, geração de impulsos elétricos e a integração com todos os outros sistemas orgânicos, além de sua relação com o trabalho e como este pode afetar as suas funções. Num segundo momento, revisaremos o funcionamento dos órgãos do sentido da visão e da audição, que, sem dúvida, estão diretamente relacionados ao SNC. Esses órgãos são importantes para as nossas atividades diárias, sejam elas no trabalho ou em casa. Ademais, veremos como determinados fatores podem afetar esses sentidos tão vitais. Objetivo: 1. Determinar os processos fisiológicos necessários para a geração de potenciais de ação numa célula nervosa, e como estas células se comunicam com outras idênticas e/ou dos tipos corporais (a comunicação através das sinapses); 2. Associar os sentidos especiais com as funções do sistema nervoso, além de observar a fisiologia destes sentidos e como eles podem ser danificados. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 42 Conteúdo Fisiologia do sistema nervoso O sistema nervoso pode ser dividido em duas partes anatômicas principais: o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O sistema nervoso central consiste no encéfalo (constituído pelo telencéfalo, diencéfalo, tronco encefálico e cerebelo) e na medula espinhal. Ele recebe e processa informações dos órgãos sensoriais e das vísceras para determinar o estado dos ambientes externo e interno, respectivamente (função sensorial do sistema nervoso). O sistema nervoso integraessas informações e toma decisões, desenvolvendo ações apropriadas (função integrativa do sistema nervoso). Em seguida, ele envia instruções para determinados órgãos, como músculos e glândulas, instruindo-os a cumprir determinadas tarefas (função efetora do sistema nervoso). Por isso, o sistema nervoso, juntamente com o sistema endócrino, são os responsáveis pelo controle da homeostase corporal, que é definida como um estado de equilíbrio do meio interno, onde as variáveis fisiológicas encontram- se todas dentro de valores de normalidade. Geralmente, esse controle é realizado por um sistema de retroalimentação, conhecido como feedback negativo. Além disso, o sistema nervoso central é também o local de aprendizado, memória, emoções, pensamentos, linguagem e outras funções complexas. O sistema nervoso periférico consiste em neurônios que fazem a comunicação entre o sistema nervoso central e órgãos por todo o corpo. Ele pode ser subdividido em duas partes: aferente e eferente. Neurônios da divisão aferente transmitem informações sensoriais e viscerais dos órgãos para o sistema nervoso central. Essas informações sensitivas transmitidas ao sistema nervoso central incluem a sensibilidade da pele, músculos e articulações, informações dos sentidos especiais, como visão e audição, e também informação da ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 43 sensibilidade das vísceras, como plenitude estomacal, pressão arterial, pH sanguíneo, etc. Ao contrário, os neurônios da divisão eferente transmitem informações do sistema nervoso central para órgãos periféricos, denominados órgãos efetores, normalmente músculos e glândulas endócrinas, que realizam suas funções em resposta a comandos dos neurônios. Esses comandos circulam pelas células nervosas na forma de estímulos elétricos, que são conhecidos como potenciais de ação. Diagrama de um neurônio Veja a seguir a imagem de um neurônio típico: Neurônios são células excitáveis que se comunicam ao transmitir impulsos elétricos. A maioria dos neurônios contém três componentes principais: um corpo celular e dois tipos de processos neurais que se estendem a partir do corpo (chamado de soma), que são os dendritos e o axônio. Os dendritos se ramificam a partir do corpo celular e recebem informações de outros neurônios em junções especializadas chamadas de sinapses. Já o axônio (ou fibra nervosa) é diferente do dendrito, pois envia informações. Geralmente, um neurônio tem apenas um axônio, mas os axônios conseguem se ramificar, enviando, assim, sinais a mais de um destino. Veremos agora como essas células geram seus impulsos elétricos e se comunicam com outras células. Veja o potencial de ação. Potencial de ação Potenciais de ação são caracterizados por mudanças grandes e rápidas no potencial de membrana das células, durante as quais o interior da célula se torna positivamente carregado em relação ao exterior. Essa variação elétrica é permitida pelos canais iônicos, que podem ser permeáveis aos íons sódio e/ou ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 44 potássio. A abertura ou fechamento de canais iônicos altera a permeabilidade da membrana plasmática a um íon específico, o que resulta em mudanças nas propriedades elétricas da célula ou liberação de um neurotransmissor. Geralmente, o potencial de repouso de uma célula nervosa é de -70mV, potencial este criado por acúmulo de íons sódio no meio extracelular e maior concentração de íons potássio no meio intracelular, criando um gradiente eletroquímico onde o interior da célula está negativo e o exterior está positivo. Pela abertura de canais iônicos, esses íons agora podem se movimentar. O potencial de ação tem seu início com a abertura de canais iônicos permeáveis ao sódio e, quando isto acontece, ocorre influxo de sódio para a célula, e o meio intracelular se torna positivo, atingindo uma milivoltagem de +30mV (esta fase é chamada de despolarização). Ao passo que a célula alcança esse valor, os canais iônicos de sódio se fecham, ocasionando a abertura de canais iônicos permeáveis ao potássio. Logo, inicia-se o efluxo de potássio da célula, fazendo com que o potencial de repouso seja restaurado em -70mV (esta fase é chamada de repolarização). Quando a célula restabelece seu potencial, os canais de potássio se fecham e, a partir de então, a célula está pronta para gerar um novo potencial de ação. Quando esse potencial de ação atinge as terminações axonais, que geralmente estão se comunicando com outras células através de uma sinapse, este estímulo elétrico é transmitido até que chegue no seu órgão efetor e cause o efeito desejado. As sinapses podem se apresentar em dois tipos: elétricas e químicas. As sinapses elétricas são encontradas no sistema nervoso central e também no músculo cardíaco; já a sinapse química é encontrada, em sua grande maioria, no sistema nervoso periférico. A união entre uma célula nervosa e uma fibra muscular, chamada de junção neuromuscular, é um tipo de sinapse química. ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 45 Vejamos então como esse estímulo elétrico passa do neurônio para a célula muscular. Esse mecanismo é responsável pela contração dos nossos músculos. Estímulos elétricos Nas terminações axonais das células que estão se comunicando com as fibras musculares, encontramos vesículas contendo neurotransmissores (denominados acetilcolina). Quando o potencial de ação despolariza a membrana da terminação axonal, canais iônicos de cálcio se abrem e ocorre influxo destes íons para a terminação axonal. Logo, a concentração de cálcio no meio intracelular se eleva; isto funciona como um sinal para que a vesícula que contém os neurotransmissores possam se aproximar da membrana da célula e liberar estes neurotransmissores numa região chamada de fenda sináptica. A partir de então, os neurotransmissores se ligarão a receptores específicos nas células musculares (chamados de receptores nicotínicos), despolarizando, assim, a membrana da célula muscular e iniciando o mecanismo de contração muscular. A transmissão de impulsos elétricos pelos neurônios e também a comunicação sináptica podem sofrer degenerações e alterações por doenças congênitas (como a miastenia gravis), medicamentos (os bloqueadores neuromusculares, como o botox) e também por doenças ocupacionais, como a síndrome do túnel do carpo. Seus sintomas geralmente se manifestam por meio de dormência, perda de sensibilidade e fraqueza muscular, além de, em alguns casos mais graves, apresentar quadro álgico intenso. Pela sua importância, um dos principais sistemas que devemos proteger com a ciência da ergonomia é o sistema nervoso tanto o central quanto o periférico. Os programas, técnicas e meios para que possamos fazer isso serão discutidos a seguir. Órgãos do sentido, seu funcionamento e fatores condicionantes para redução de acuidade ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 46 Boa parte do que aprendemos acerca do mundo, descobrimos pela visão. Vamos então observar os processos fisiológicos que nos permitem esse sentido tão importante. O olho apresenta diversos componentes anatômicos e cada um tem sua função na captação e no envio da luz ao sistema nervoso central para que ocorra o processamento e criação da imagem. A camada mais externa do olho consiste em esclera, que forma o branco do olho, e a córnea, uma estrutura transparente que permite a entrada de luz no olho. Na camada média, encontramos a lente, que focaliza a luz na retina (que está localizada na camada mais interna do olho), onde as informações visuais são traduzidas ao sistema nervoso central. Ainda na camada média do olho, podemos observar a função da íris, que consiste em duas camadas de músculo liso pigmentado, localizados à frente da lente (a íris determina a cor dos olhos). Por fim, temos a pupila,
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