Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
C A P Í T U L O 2 4 873O Pan -africanismo e a Integração Regional Os primórdios do pan -africanismo, definido como um “movimento político e cultural que considera a África, os africanos e os descendentes de africanos de além -fronteiras como um único conjunto, e cujo objetivo consiste em regene- rar e unificar a África, assim como incentivar um sentimento de solidariedade entre as populações do mundo africano1”, foram evocados no volume VII desta obra, outros elementos foram igualmente examinados no capítulo 23 do pre- sente volume. Dois aspectos característicos deste movimento após 1935, todavia, não foram abordados, o pan -africanismo como força de integração e o pan- -africanismo como um movimento de libertação. O primeiro aspecto constitui o tema do presente capítulo, o segundo será tratado no capítulo seguinte. Na qualidade de força de integração visando a unidade ou a cooperação política, cultural e econômica na África, o pan -africanismo conhece três fases distintas: a fase colonial, de 1935 a 1957; a fase da independência, como movimento de libertação; e uma terceira fase iniciada nos anos 1970, no curso da qual, o pan- -africanismo como força de integração foi sobremaneira reforçado pelas espeta- culares mudanças ocorridas na economia mundial e pelas pesadas repercussões destas mudanças nas economias africanas. 1 P. O. ESEDEBE, 1980, p. 14. O Pan -africanismo e a Integração Regional S. K. B. Asante, em colaboração com David Chanaiwa 874 África desde 1935 O pan -africanismo, como movimento de integração, conheceu um belo impulso nos anos 1920, em testemunho, notemos as atividades do Congresso of British West Africa, as quais conduziram, especialmente, à formação da Bri- tish West African University, da West African Press Union e da British West African Cooperative Association, assim como àquela de associações estudantis tal qual a West African Students Union (WASU). Ele perdeu o seu poder de atração ao longo dos anos 1930 e 1940, décadas características do apogeu colonial na África. Nos anos 1940, Kwame Nkrumah e George Padmore, em Londres e o senegalês Alioune Diop conferiram -lhe certo vigor. A partir de 1942, ele defendia que todas as colônias da África Ocidental “deveriam antes unir -se e formar uma entidade nacional, totalmente livre do jugo estrangeiro, previamente a ser -lhes possível implantar, de fato e em larga escala, uma coo- peração internacional2”. Foi justamente o ano 1947 que marcou o nascimento da Presénce africaine, movimento cultural que retomava as grandes ideias dos apóstolos do pan -africanismo e do Primeiro Congresso Pan -africano. Os inte- lectuais negros e europeus reunidos, em torno de Alioune Diop, estiveram na origem de obras fundamentais, tal como Nations nègres et cultures de Cheikh Anta Diop. Para os militantes da Presénce africanine, tratava -se de provar que o florescimento da cultura negra era inconcebível em um contexto de independên- cia política e, que os negros deveriam se unir e se mostrar solidários na luta. Eles deveriam, portanto, distinguir -se do outro, o colonizador, afirmando -se como negros. Convidado a prefaciar La philosophie bantoue do padre Tempels, Alioune Diop compreendeu -o na qualidade de “leitura obrigatória para os negros, com vistas a sensibilizá -los mais fortemente e ajudá -los a decifrar as suas relações com a Europa”. Pan ‑africanismo e integração continental A despeito dos esforços integracionistas empreendidos no transcorrer dos anos 1930 e 1940, não houve resultado algum antes de 1957. Justamente nesta data, com a conquista da independência de Gana, sob a enérgica conduta de Nkrumah, somente então o pan -africanismo, como movimento de integração, realmente definiu os seus objetivos e encontrou a sua dinâmica. À época, tratava- -se de alcançar a integração política, cultural e econômica, em níveis regional, 2 K. NKRUMAH, 1962, p. 33. 875O Pan -africanismo e a Integração Regional continental e extra -regional (em outras palavras, África e Comunidade Econô- mica Europeia). Na ocasião, era certamente Nkrumah quem mostrava o caminho. A sua primeira iniciativa foi constituir a união Gana -Guiné (1958) e a união Gana- -Guiné -Mali, primeira etapa rumo à “União dos Estados Africanos”. A segunda foi organizar a Conferência dos Estados Independentes, sediada em Accra, em abril de 1958, não mais que um ano após a independência de Gana. A ela participaram todos os Estados independentes da África de então, a saber, Egito, Etiópia, Gana, Libéria, Líbia, Marrocos, Sudão e a Tunísia. Ela foi sucedida pela Conferência dos Povos Africanos, igualmente organizada em Accra, no ano de 1958 – o capítulo seguinte retornará a esta reunião de histórica importância. Sobrevieram, posteriormente, a cúpula Guiné -Libéria realizada em Sanniquelli, em julho de 1959, a segunda Conferência dos Estados Africanos Independentes, na capital Monróvia, em agosto de 1959 e a terceira dentre elas, ocorrida em Addis -Abeba, no ano de 1960. Todas estas conferências proclamavam, entre outras, a constituição de um vasto mercado comum em escala continental. A primeira conferência de 1948, por exemplo, clamava pela eliminação das barrei- ras aduaneiras e de outros entraves ao comércio dos Estados africanos entre si, assim como pela conclusão de acordos de pagamento multilaterais com o intuito de desenvolver as trocas econômicas e lutar pela criação de um mercado comum. Foi justamente para reforçar este aspecto econômico, que foi criada, em 1958, a Comissão Econômica para a África da ONU (CEA) – as suas atividades, desde então, foram examinadas no capítulo 14, em detalhes. Todas estas conferências recomendavam, de modo igualmente incisivo, a integração política ou a unidade política da África. Nkrumah era o campeão neste aspecto, defendendo com ardor e paixão indomáveis a unidade africana e a criação de um mercado comum pan -africano. Aos seus olhos, unidade e mercado comum constituíam um pré -requisito indispensável ao rápido e total desenvolvimento, não somente do continente em sua totalidade, mas igualmente dos Estados independentes associados no seio da união. Conquanto defendesse a “alta política”, representada pela união política do continente, ele expressava reservas em respeito ao regionalismo. Ele desconfiava das federações regionais, temia que as concessões ao regionalismo não favorecessem um determinado jogo de forças ou “impedissem aos imperialistas e aos neocolonialistas pescar em águas turbulentas3”. Em razão do seu acoplamento com o movimento de 3 K. NKRUMAH, 1963, p. 215. 876 África desde 1935 unificação política, o projeto de um mercado comum continental não atraiu sequer o mínimo interesse dos dirigentes africanos opostos à união política. Pois, embora outros governos africanos subscrevessem a análise de Nkrumah, eles não estavam necessariamente dispostos a aceitarem uma solução política ambiciosa. O neocolonialismo não era, por eles, considerado uma tamanha ameaça, a ponto de justificar medidas tão draconianas quanto a transferência da soberania a uma autoridade política central. A conferência de Addis -Abeba, de 1960, revestiu- -se de grande importância em razão de evidenciar as divisões e os desacordos existes entre Estados africanos no tocante às vias para a unidade do continente. A conquista da independência por elevado número de Estados africanos, entre 1960 e 1964 – o número de Estados independentes passou de 9 para 26, em 1960, dentre os quais todas as ex -colônias francesas, acrescidas em número pela Nigéria, pelo Zaire e pela Somália, atingindo 33 países em 1964 –, preju- dicou consideravelmente a ação integradora do pan -africanismo. Os dirigentes africanos dividiram -se horizontalmente em dois blocos, um deles pró -ocidental e o outro pró -socialista, bem como verticalmente, em revolucionários, progres- sistas, reacionários, capitalistas, socialistas, tradicionalistas e moderados. Ade- mais, como veremos no próximo capítulo, o objetivo prioritáriodas conferências pan -africanas dos anos 1960 era intensificar a luta política, com vistas a permitir aos países ainda submetidos à tutela colonial conquistarem a sua independência. Eis a razão pela qual o desenvolvimento econômico, a despeito da sua crucial importância, não ter sido considerado um objetivo maior. Em suplemento, os dirigentes dos novos países independentes consagravam toda a sua atenção aos imediatos problemas territoriais impostos pela unificação de grupos étnicos e regionais; ao fortalecimento do seu próprio partido e do seu poder sobre as massas e sobre os chefes oposicionistas; à luta contra a pobreza, a doença e a ignorância; à segurança do país no contexto da Guerra Fria; e à ameaça de golpes de Estado. Em razão destas prioridades, tensões e conflitos internos, era difícil para alguns chefes de Estado independentes engajarem -se em uma política pan -africanista além das suas próprias fronteiras ou, em seu território nacional, aplicarem resoluções pan -africanistas. Os dirigentes africanos começaram, portanto, a situarem -se em campos opostos, particularmente em respeito à questão do futuro da dimensão inte- gracionista do movimento pan -africano. Em 1961, Gana, Guiné, Egito, Mali, Marrocos, Líbia e o governo argelino no exílio constituíram o Grupo de Casa- blanca, ao passo que outras antigas colônias francesas, acompanhadas da Nigéria, da Etiópia, da Libéria e de Serra Leoa, formavam o Grupo de Monróvia. De modo geral, o Grupo de Casablanca era favorável a uma forte união política, 877O Pan -africanismo e a Integração Regional inspirando -se nos Estados Unidos da África, conclamados por Nkrumah. Ele reunia aqueles dirigentes africanos militantes do pan -africanismo, do socia- lismo e do não alinhamento, preconizando uma planificação e um centralizado desenvolvimento econômico, um sistema de defesa e de segurança em esfera continental, além de defender a restabelecimento da honra da cultura africana. O Grupo de Monróvia, por sua vez, era favorável a uma confederação “male- ável” de Estados africanos, soberanos e independentes, que favorecesse uma participação e uma cooperação voluntárias no âmbito dos intercâmbios culturais e da interação econômica. Os seus membros eram particularmente inflexíveis no tocante ao respeito pela soberania e à integridade territorial de cada Estado, desconfiando das ambições de certos Estados do Grupo de Casablanca e ante- vendo uma possível ingerência em seus assuntos internos. Todavia, como veremos no capítulo seguinte, os dois grupos permaneceram fiéis ao seu engajamento histórico em favor da total libertação das derradeiras colônias e em prol do não alinhamento. Graças aos incessantes esforços do Grupo de Casablanca, especialmente empreendidos por Nkrumah, mas também por Sékou Touré e Modibo Keïta, bem como graças ao apoio do imperador da Etiópia, Haïlé Sélassié, uma conferência de cúpula dos Estados africanos inde- pendentes foi organizada em Addis -Abeba, no ano de 1963, para colocar um ponto final às dissensões, unir os dirigentes e criar uma estrutura pan -africana comum. Após múltiplas propostas e contrapropostas, bom número de reuniões de comissões e intensa negociação bilateral, trinta dirigentes africanos, chefes de Estado ou de governo em países independentes, assinaram, em 25 de maio de 1963, a Carta Manifesto pela Unidade Africana, criando a Organização pela Unidade Africana (OUA). Encontraremos no capítulo seguinte precisões em respeito à OUA, aos seus objetivos, estrutura e atividades, desde a sua criação. Aqui basta notar que, se a constituição desta organização respondia, ainda que parcialmente, às aspirações integracionistas do pan -africanismo, ela encontrava -se distante de alcançar a satisfação dos velhos radicais pan -africanistas, dentre os quais, Nkrumah era o chefe de pelotão. Até a sua queda em 1966, Nkrumah quase nunca, ao longo das reuniões da OUA, deixou de arguir, obstinada e apaixonadamente, em favor da transformação da Organização em um governo de união continental ou, verdadeiros Estados Unidos da África; conquanto longos, circunstanciados e emocionantes fossem os seus discursos, ele não logrou êxito. Em razão da criação da OUA e da sua ação concentrada em referência à dimensão libertadora do pan -africanismo, examinada a seguir, assim como da grande atenção dedicada pelos numerosos Estados independentes à sua evolução 878 África desde 1935 interna e ao fortalecimento dos seus laços com as antigas potencias coloniais, em suplemento e, sobretudo, em função da derrubada de Nkrumah, o pan- -africanismo, na qualidade de vetor de integração, perdeu o seu ímpeto durante a segunda metade dos anos 1960, geralmente, em proveito de movimentos favorá- veis a constituição de agrupamentos regionais e interestatais. Segundo Adebayo Adedeji, secretário -executivo da CEA, existiam em 1977 “mais de vinte organi- zações intergovernamentais de cooperação econômica multissetorial” na África, bem como uma centena de organizações multinacionais unissetoriais engajadas em promoverem no continente a cooperação técnica e econômica4. Muitas den- tre elas foram criadas nos anos 1960, época apogística da integração africana. Entretanto, este decênio igualmente representou o declínio de muitos agrupa- mentos regionais. No início dos anos 1970, quiçá anteriormente, os esforços pela integração dos países africanos estavam manifestadamente comprometidos. Por exemplo, as duas iniciativas dos países francófonos da África Ocidental que se haviam traduzido pela implantação sucessiva da União Aduaneira da África do Oeste (UDAO), em julho de 1959, e da União Aduaneira e Econô- mica dos Estados da África do Oeste (UDEAO), em junho de 1966, em suma, constituíram dois fracassos. A Comunidade Econômica da África do Oeste (CEAO), constituída em 1973, apresenta -se como a mais recente tentativa de integração regional dos Estados desta região, oriundos em sua maioria da antiga Federação da África Ocidental Francesa (AOF). A União Aduaneira e Econômica da África Central (UDEAC), instaurada em janeiro de 1966, em nada obteve maior êxito; as restrições decorrentes da abertura dos mer- cados e o desrespeito às regulamentações que ela estabelecera usurparam da União o essencial da sua força, na qualidade de sistema de integração. Destarte, o Conselho da Entente, fundado no ano 1959, por iniciativa do presidente marfinense Houphouët -Boigny, parece perder a sua importância, levando as atenções a se voltarem progressivamente para um agrupamento dinâmico, mais amplo, a CEAO. À efêmera Organização dos Estados Ribeirinhos do Senegal (OERS, 1968 -1971), sucedeu, em 1972, a Organização para a Valorização do Rio Senegal (OMVS), a qual, todavia não viria a criar um mecanismo viável de cooperação. Igualmente, os acordos de cooperação estabelecidos, entre os novos membros do Comitê Consultivo Permanente do Magreb, nascido em novembro de 1965, não seriam jamais ratificados. 4 A. ADEDEJI, 1977, p. 10. 879O Pan -africanismo e a Integração Regional figura 24.1 Os quatro chefes de Estado do Conselho da Entente após uma reunião no palácio do Eli- seu, Paris, em abril de 1961. Da esquerda para a direita: o presidente de Daomé (atual Benin) H. Maga, o presidente da Costa do Marfim F. Houphouët Boigny, o presidente da Nigéria H. Diori e o presidente de Alto -Volta (atual Burkina Faso) M. Yameogo. (Foto: AFP Photos, Paris.) Em contrapartida, nenhum entendimento econômico regional foi realizado ao longo dos primeiros anos subsequentes à independência nos países africanos anglófonos, excetuando a África Oriental que conquistou a independência como comunidade econômica. Se os países francófonos da África do Oeste, ao seu turno, sempre se esforçaram para preservar as instituições comunitárias criadas antes da independência e mesmo a proliferarem -nas, os países anglófonos, por sua vez, decidiram, essencialmente sob a pressão de Gana, dissolver as poucas instituições comunitárias implantadaspelos britânicos − o Ofício Monetário da África Ocidental para o Cacau e a West African Airways Corporation −, acelerando, por conseguinte, o processo de “balcanização” nesta região. A Comunidade da África Oriental, considerada à época como a mais bem concebida estrutura de cooperação regional do Terceiro Mundo, trouxe consigo 880 África desde 1935 preocupantes e diferentes problemas; ela conheceu, no transcorrer dos anos 1960, tensões de tamanha agudez que, ao final do decênio, a integração econô- mica havia recuado. Para medir o grau concretude da integração dos países da África Oriental, basta observar que, no momento da independência, o comér- cio exterior, as políticas fiscais e monetárias, as infraestruturas de transporte e comunicações, assim como o ensino superior, estavam organizados em nível regional. Posteriormente, estes laços e estes organismos foram sistematicamente desmantelados e toda a esperança esmoreceu quando o Quênia, Uganda e a Tanzânia evoluíram em direção a uma estrutura totalmente federada, dotada de um governo único. Em julho de 1977, a Comunidade da África Oriental, este modelo de cooperação regional na África, havia integralmente desmoronado. É verossímil que os diferentes projetos de integração econômica, lançados em meio ao otimismo no decorrer dos anos 1960, tenham estado todos mori- bundos ao final da década. Assim sendo, a despeito dos discursos a exaltarem a solidariedade pan -africana e malgrado o número de estruturas decisórias esta- belecidas, este período representou, paradoxalmente, o declínio da integração regional africana. As múltiplas expressões de lealdade aos princípios do pan- -africanismo em nada se desdobraram no tocante à constituição de bases sólidas para eventuais acordos regionais. Como explicar esta lentidão e esta hesitação? Seria em razão dos países africanos não perceberem as vantagens da integração econômica regional e da autonomia coletiva? Ou alguma força subjacente teria surgido, para solapar as próprias bases da cooperação? No curso dos primeiros anos pós -independência, os problemas e obstáculos associados à integração na África eram múltiplos e constituíam certamente uma ameaça. Eles se aferravam a fatores históricos, a um só tempo internos e exter- nos, dentre os quais figuravam, vivamente, o desenvolvimento da consciência nacional e o seu impacto sobre a integração regional. O colonialismo deixara atrás de si um mosaico de Estados soberanos que não eram, eles próprios, senão entidades artificiais. Não se podia, de forma alguma, falar de nações; estes Esta- dos não representavam todavia senão um quadro territorial no qual os movi- mentos independentistas haviam semeado os germes da identidade nacional. A principal tarefa dos novos governos era trazer o adubo que faria crescer a semente. Temerosos em favorecerem a integração nacional, os novos dirigentes foram obrigados a aterem -se ao quadro estritamente nacional e privilegiarem o desenvolvimento político, econômico e social do seu próprio povo. A sua primeira preocupação consistiu em edificar Estados nacionais viáveis, fundados sobre as suas tradições e os seus próprios costumes, assim como, em promessas que haviam sido feitas às massas populares. De modo inversamente proporcio- 881O Pan -africanismo e a Integração Regional figura 24.2 Da esquerda para a direita: o presidente tanzaniano J. Nyerere, o presidente ugandês A. M. Obote e o presidente queniano J. Kenyatta, por ocasião da assinatura do Tratado de Cooperação na África do Leste, em Kampala, no mês de junho de 1967. (Foto: Topham, Londres.) nal à prioridade acordada à consolidação nacional, a cooperação com os outros países africanos não podia senão ser relegada ao segundo plano. Uma autêntica cooperação exigia necessariamente engajamentos no longo prazo, demonstrou- -se pouca rapidez, o que era compreensível, em tomar decisões que restringissem a soberania nacional em alguns setores -chave, especialmente aquele relativo à formulação de projetos de desenvolvimento. Se esta reticência não impedia as iniciativas comuns com vistas a certas formas de integração regional, ela revelava a existência de limites muito concretos, além dos quais, os Estados africanos não estavam dispostos a renunciar a sua soberania e tampouco compartilhá -la. Em lugar algum na África demonstrou -se disposição a sacrificar os inte- resses nacionais no altar da integração regional. Os Estados africanos não se colocavam de acordo para liberalizar as trocas ou repartir as indústrias senão à condição de não se estabelecer um conflito entre os objetivos da integração regional e os imperativos nacionais, quer se tratasse de segurança, de prestígio ou de vantagens econômicas. Esta tendência foi acentuada, especialmente pelos diversos agrupamentos econômicos existentes na África antes da Convenção de Lomé: o sistema de Yaoundé, reunindo dezoito países de língua francesa asso- 882 África desde 1935 ciados à Comunidade Econômica Europeia (CEE); o acordo comercial especial assinado em janeiro de 1966 (todavia jamais aplicado) entre a CEE e países não associados ou associados ao Commonwealth, a exemplo da Nigéria; e o acordo de Arusha, de setembro de 1969, que unia três Estados da África Oriental − o Quênia, Uganda e a Tanzânia. Segundo um ponto de vista político -econômico, pode -se igualmente estimar que diversos fatores, em primeiro lugar a heterogeneidade econômica e política do continente, complicaram o funcionamento de sistemas de cooperação econô- mica5. Com efeito, as clivagens políticas, econômicas e ideológicas ameaçaram até os sistemas de cooperação econômica existentes e inclusive, viáveis, como a Comunidade da África Oriental, extinta nos dias atuais. A estes obstáculos e problemas cruciais acrescentavam -se o que Timothy Shaw denominou “os pro- blemas insolúveis da politização das organizações”, os quais se desdobraram em “tensões no seio das instituições e em seu desabar6”. A Comunidade da África Oriental apresenta -se como um exemplo clássico, mas notemos igualmente que na África francófona as organizações estavam sujeitas a mudanças frequentes de rumo, fenômeno em parte devido às disparidades regionais. Em razão destas insuperáveis dificuldades, a criação de agrupamentos regio- nais na África, no transcorrer dos dez anos posteriores ao retorno da indepen- dência, geralmente resumiu -se à simples declaração de intenções ou à expressão de um alinhamento em escala continental. Nem o entusiasmo manifesto por Nkrumah pelo nobre ideal pan -africano de unidade política e de integração econômica do continente, tampouco o progressivo regionalismo que deveria a termo conduzir ao pan -africanismo e para o qual pendia Julius Nyerere, não ultrapassaram o estádio do debate teórico. A ironia impõe que, em que pesem os resultados decepcionantes, a integração, como solução para os problemas conhecidos pela África, suscita um crescente entusiasmo há alguns anos. Como indicado a seguir, este fenômeno explica -se pela crise de desenvolvimento que atravessa a África e, especialmente, pela prevalente e excessiva dependência do continente, em relação à economia internacional dominada pelos países ocidentais, agravar ainda mais esta trágica situação. Se, durante os anos 1960, o pan -africanismo, como movimento de libertação, teve como efeito distender os laços políticos que uniam a África à Europa, assistiu -se simultaneamente ao fortalecimento da sua dependência econômica e cultural vis -à -vis desta mesma Europa e do mundo desenvolvido em geral. Assim sendo, o neocolonialismo e 5 T. M. SHAW, 1975b. 6 T. M. SHAW, 1975b. 883O Pan -africanismo e a Integração Regional a dependência econômica aumentavam na justa proporção que o colonialismo econômico declinava. Uma breve descrição da comumente chamada “crise do continente africano” permitirá compreender a retomada de popularidade da qual se beneficia o pan -africanismo como busca de integração. Pan ‑africanismo, regionalismoe desenvolvimento econômico Desde os anos 1970, o pan -africanismo como força de integração em nível regional provocou, efetivamente, uma renovação do entusiasmo. Qual seria a natureza deste novo interesse e como se explicaria? Estas duas questões foram abordadas no capítulo 14 e nós focaremos aqui os aspectos integracionistas desta evolução. A principal razão, como sublinhado por A. Adedeji no capítulo 14, deve ser buscada nos decepcionantes resultados econômicos da África no curso dos vinte e cinco últimos anos. A despeito dos esforços empreendidos para estimular o crescimento industrial, encorajar a produção agrícola e lançar novos programas de desenvolvimento, com vistas a por em marcha mudanças mais radicais no cerne das estruturas econômicas herdadas do colonialismo, o fato peremptório consiste na permanência da transformação do continente, projetada como concomitante à independência política, na esfera das esperanças. Nume- rosos países africanos não computaram qualquer sensível progresso econômico após 1960. A África conta com 16 dos 25 países classificados pela Organização das Nações Unidas, em 1971, na categoria dos “países menos avançados”, e dentre os 32 países, identificados pela Assembleia Geral das Nações Unidas, na sua sexta sessão extraordinária de 1974, como “os mais gravemente afetados” pela “atual crise econômica”, 20 encontram -se na África. No início dos anos 1960, os dirigentes africanos esperavam que os intercâm- bios comerciais com os países industrializados, conjugados com ajuda destes países, fornecessem os recursos necessários para permitir o desenvolvimento autônomo e contínuo ao qual eles aspiravam, mas estas esperanças não se con- cretizaram. Os anos 1960 compuseram, portanto, o tempo da desilusão. Nem o comércio, nem as políticas de apoio seguidas pelos países industrializados, pude- ram acelerar o desenvolvimento econômico. Ao término do primeiro Decênio das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1960 -1970), a taxa de crescimento da África era a mais fraca do mundo em vias de desenvolvimento: 2% contra 4,1% para o sul da Ásia; 5,6% para o leste asiático; 4,5% para a América Latina e 7,2% para o Oriente -Médio. As primeiras indicações disponíveis em relação 884 África desde 1935 ao segundo Decênio das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1970 -1980) não permitem entrever progressos. Assim sendo, a despeito dos seus conside- ráveis recursos naturais, a África não logrou atingir uma taxa de crescimento suficiente, nem tampouco um nível de vida satisfatório ao longo dos últimos vinte e cinco anos7. Em que pesem as suas exportações, numerosos países africanos conheceram, durante os anos 1970, um crescimento econômico letárgico, fracos níveis de produtividade, uma base industrial limitada e fracionada, uma forte dependência das exportações, baseada em uma gama perigosamente reduzida de produtos básicos, fracos índices no tocante à expectativa de vida e um déficit crescente em seu saldo de operações correntes. A sua renda real por habitante diminuiu, de modo inversamente proporcional às taxas de inflação, as quais foram mul- tiplicadas por dois, com níveis equivalentes a mais de 20% ao ano, de 1977 a 1979. O déficit global na balança de operações correntes passou de 4 bilhões de dólares em 1974, para cerca de 10 bilhões em 1978 -19798. Ainda mais grave, de 1970 a 1979, a dívida externa dos países da África subsaariana passou de 6 para 32 bilhões de dólares, enquanto a porcentagem das receitas de exportação consagrada ao pagamento do serviço da dívida (para todos os países impor- tadores de petróleo) passava de 6 para 12%9. Pode -se assim dizer, retomando a expressão de T. M. Shaw, que se a herança do colonialismo não suscitava “nenhum engajamento”, em 1960, ela se apresentaria ainda menos promissora em 1980. Entretanto e mais preocupante, a África é um terreno fértil para o que se convencionou chamar, desde então, neocolonialismo e dependência, os quais contribuíram, em larga medida, para mergulhar o continente em uma difícil situação. Ao final dos anos 1970, a África estava mais dependente dos países ocidentais, comparativamente a tempos passados. A maioria dos países africanos se haviam tornado ainda mais fortemente dependentes dos interesses, dos investimentos, da tecnologia e das capacidades estrangeiras, das teorias de desenvolvimento e de crescimento econômico elaboradas além de suas fronteiras e, sobretudo, da exportação de matérias -primas e de produtos agrícolas para os ricos países ocidentais. No contexto econômico mundial, a África sempre se encontrou em uma situação de subordinação, caracterizada pela assimetria e pela desigualdade das suas relações econômicas com os países industrializados ocidentais. Mesmo se 7 OUA, 1981, parágrafo 10. 8 J. B. ZULU e S. M. NSOULI, 1984, p. 5. 9 Banco mundial, 1981, p. 3. 885O Pan -africanismo e a Integração Regional considerarmos que a teoria da dependência não solucione, senão insuficiente- mente, a questão dos sistemas e das relações econômicas africanas, é inegável que o continente encontra -se em situação desfavorável na esfera econômica interna- cional. Esta preocupante situação foi agravada pelos efeitos da crise planetária marcada pelo fim do sistema de Bretton Woods, pelos choques petrolíferos provocados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), pela crise energética e pela estagnação advinda a partir de meados dos anos 1970, elementos que evidenciaram, pela primeira vez, a extrema vulnerabilidade da quase totalidade dos países africanos diante das forças externas. Frente a esta implacável realidade, os dirigentes africanos foram obrigados a adaptarem as suas opções às exigências da situação e a interrogarem -se sobre o melhor meio com vistas a alcançarem o desenvolvimento econômico. À catástrofe e à ruína eminentes, respostas inovadoras impunham -se pois não era possível colocar um ponto final à degradação da economia e inverter este processo senão pela adoção de novas orientações. A esperança da África residia, portanto, em uma radical reorientação das estratégias de desenvolvimento nacio- nal e regional. A vitória da OPEP cristalizou a noção relativa à potência nascida da ação coletiva e da solidariedade. Uma ação deste tipo parecia indispensável para resolver os problemas econômicos da África. Os Estados africanos mani- festavam assim a convicção segundo a qual eles seriam obrigados a favorecer a cooperação interafricana com o intuito de fortalecer as tentativas empreendidas em nível nacional para consolidarem a sua independência. Pois, como dito pelo presidente Nyerere, tão fraco quanto for um país: “Conjuntamente ou mesmo em grupos, nós somos muito menos fracos. Nós possuímos os meios para uma ajuda múltipla e recíproca e cada um poderia tirar proveito deste apoio mútuo. Ademais, em grupo, as relações por nós mantidas com os países ricos situam -se segundo uma ótica muito diferente pois, se eco- nomicamente talvez eles não necessitem de nenhum dentre nós, em particular, por outro lado, eles não podem cortar relações com todos nós10.” Em meados dos anos 1970, a África encontrava -se portanto frente à seguinte escolha: continuar a aceitar as estruturas de dependência que ela herdara, e inclusive pela mesma ocasião, concordar com a subordinação do seu próprio desenvolvimento aos particulares interesses do sistema econômico internacional ocidental, ou, especialmente através da integração econômica regional, começar a libertar -se destas estruturas. 10 J. NYERERE, 1970b, p. 12. 886 África desde 1935 Justamente para responder ao problema crucial, posto pelos decepcionantes resultados da maioria das economias africanas e pelo fracasso do diálogo Norte- -Sul, o qual não pudera atingir o objetivo de uma nova ordem econômica, que o Plano de Ação de Lagos foi proposto. A estratégia elaborada neste importante documento foi orientada com base nos conceitos de independência econômica, desenvolvimentoautossustentável e crescimento econômico. Ela tem como tema principal a emancipação da África em relação às estratégias estrangeiras, tal como declaravam os dirigentes africanos: “Nós consideramos com inquietação a excessiva dependência da economia do nosso continente [...]. Este fenômeno tornou a economia dos países africa- nos extremamente sensível perante os acontecimentos externos e prejudicou os interesses do continente11.” Para enfrentar este fenômeno caracterizado pela excessiva dependência, os Estados africanos “resolveram adotar uma ampla abordagem regional essen- cialmente fundada sobre a autonomia coletiva”. O regionalismo, em que reside a questão exposta em todos os capítulos do Plano ou quase, compõe parte integrante da sua implantação. Sem integração regional, o Plano de Lagos está condenado, como conceito e estratégia. Justamente este contexto formou o pano de fundo para que o pan -africanismo, na qualidade de projeto de busca da integração, aparecesse nos dias atuais como um importante meio de redução da dependência dos países africanos e de con- solidação da sua posição em negociações, contribuindo assim para fortalecer o potencial de desenvolvimento, no quadro da estratégia mais geral visando alcançar uma nova ordem econômica mundial. Além das suas tradicionais van- tagens − aumento das trocas comerciais e dos investimentos − a integração econômica regional, na opinião daqueles que a defendem energicamente, seria um meio de redução da vulnerabilidade do continente frente às forças externas. Esta evolução é tanto mais urgente quanto as relações de dependência, distante de se enfraquecerem, parecem, ao contrário, reforçarem -se em razão da explo- são da dívida externa de numerosos Estados africanos. É possível esperar que a integração regional possa impor um fim a esta relação de dependência, ajudando cada Estado -membro a exportar para países vizinhos produtos manufaturados e, a termo, bens de equipamento. Na origem, existe o desejo dos países africanos e dos seus dirigentes em determinarem, tanto quanto possível, as suas próprias políticas econômicas, em função das suas aspirações nacionais, dos seus recursos 11 OUA, 1981, parágrafo 14. 887O Pan -africanismo e a Integração Regional naturais e dos seus princípios ideológicos, sem se deixarem influenciar pelos países desenvolvidos. Os problemas e as perspectivas criadas pela constituição de agrupamentos regionais merecem, portanto, ser atentamente examinados sob este prisma. As novas formas de organização regional e a questão da dependência Os últimos anos foram marcados pelo ressurgimento de uma série de proje- tos de integração regional na África, os quais constituem, perfeitamente, respos- tas mais ou menos explícitas, à dominação estrangeira herdada da era colonial. Uma dentre as mais ambiciosas e dinâmicas é a Comunidade Econômica da África do Oeste (CEDEAO, ECO -WAS em inglês) reunindo dezesseis países que, da Mauritânia ao nordeste à Nigéria a Sudeste, cobrem uma superfície de seis milhões de quilômetros quadrados e abrigam 150.000 de habitantes. Cons- tituída em Lagos, no mês de maio de 1975, a CEDEAO consiste na primeira tentativa séria de integração e cooperação econômicas na sub -região da África do Oeste e congrega países cuja língua, a história, as alianças e as instituições são distintas. Entre estes Estados, cinco empregam como língua oficial o inglês, oito o francês, dois o português e um o árabe12. Excetuando -se a CEDEAO, as duas mais recentes iniciativas têm como foco a África Austral. A primeira é a Southern African Development Coordination Conference (Conferência para a Coordenação do Desenvolvimento na África Austral, SADCC) cuja consagração oficial ocorreu em abril de 1980, através da Declaração de Lusaka, tocante à liberação econômica acordada pelos cinco países da linha de frente − Angola, Botsuana, Moçambique, Tanzânia e Zâmbia − aos quais se reuniram Lesoto, Malaui, Suazilândia e o Zimbábue. A SADCC, fora concebida originalmente na qualidade de braço econômico do grupo dos Estados da linha de frente que, desde 1974, estavam estreitamente associados à luta de libertação travada na Namíbia, na África do Sul e na Rodésia de então, luta esta por eles sustentada e à qual eles, em certa medida, participaram direta, militar, política e diplomaticamente. A Conferência assim reagrupa nove países cobrindo uma superfície de 5 milhões de quilômetros quadrados e abrangendo uma população total de 60 milhões de habitantes. A segunda organização − a 12 Para um estudo aprofundado da CEDEAO, conferir S. K. B. ASANTE, 1985. 888 África desde 1935 Preferential Trade Area for Eastern and Southern States (Zona de Comércio Preferencial dos Estados da África Oriental e Austral, PTA)− encorajada em dezembro de 1981 em Lusaka, por nove dos seus dezoito membros potenciais, finalmente foi declarada em Harare, no mês de julho de 1984. A despeito do seu nome e do seu detalhamento, ela não se limita somente às suas relações comerciais e à sua definição. A sua ação interessa à quase totalidade dos setores ligados ao desenvolvimento da integração econômica regional. À imagem da CEDEAO, a PTA foi concebida por Adebayo Adedeji, secretário -executivo da CEA. Mas, enquanto a PTA é um exemplo de laboriosa evolução desde a sua base, a SADCC, tanto quanto a CEDEAO, são a expressão de uma vontade política deliberada, carregando a marca pessoal dos presidentes e primeiros- -ministros dos Estados a ela afiliados. Tal como os seis membros francófonos da CEAO, signatários do Tratado da CEDEAO, os Estados membros da SADCC são todos membros potenciais da PTA. Ademais, como no caso da CEDEAO e da CEAO, existem, nas origens, estruturas institucionais, fontes de financia- mento, ideologias e estratégias da SADCC e da PTA, diferenças marcantes, em que pese a similaridade geral dos seus objetivos e programas, assim como a convergência crescente dos seus procedimentos. Outra manifestação do interesse que suscita atualmente a cooperação regio- nal na África foi a criação, em dezembro de 1981, da Confederação Senegam- biense que reúne a Gâmbia e o Senegal, com vistas a uma união econômica e monetária. A Confederação é o desenlace de muitos anos de esforços mantidos para estabelecer uma mais estreita cooperação econômica entre os dois países. A última iniciativa em matéria de integração econômica é o tratado, assinado em 1983, na capital Libreville, concernente à criação da Comunidade Econô- mica dos Estados da África Central (CEEAC). Esta comunidade, reunindo os atuais membros da UDEAC e aqueles da Comunidade Econômica dos Países dos Grandes Lagos, está destinada a desempenhar, na África Central, o papel exercido pela CEDEAO na África do Oeste. Estas novas formas de integração regional partilham o mesmo objetivo fun- damental: reduzir a dependência dos Estados -membros em respeito às forças externas que tentam influenciar as políticas e orientações econômicas dos países africanos; coordenar os programas de desenvolvimento nos diferentes setores e subsetores, com vistas a acelerar o ritmo do crescimento econômico e do desenvolvimento. A CEDEAO, por exemplo, atribui -se como principal obje- tivo a expansão da cooperação e do desenvolvimento em praticamente todas as esferas de atividade econômica, buscando “progressivamente reduzir a depen- dência econômica da Comunidade perante o mundo exterior”, no que consiste 889O Pan -africanismo e a Integração Regional o pré -requisito indispensável à realização dos objetivos estruturais básicos do desenvolvimento. Igualmente, a SADCC nasceu do anseio comum aos seus nove membros, qual seja, reduzir a sua dependência econômica relativamente à África do Sul e, a termo, dela livrar -se. Pretória está no centro das suas preocupações, entretanto, não se trata unicamente dela, das quais eles desejam libertar -se. Tal como sublinhou o presidente Machel, de Moçambique, em sua alocução pronunciada quando da inauguração da segundaConferência da SADCC, em Maputo, no ano 1980, “as sequelas do colonialismo subsistem em nosso país [...] assim como a mentalidade própria à dependência, o fatalismo13”. Em con- trapartida, a PTA, cujos membros são mais numerosos, não busca diretamente livrar -se da África do Sul. Ela prefere preconizar uma abordagem positiva do problema, afirmando que, caso ela consiga estimular as trocas e o desenvolvi- mento na região, a dependência, atualmente alarmante, em relação à África do Sul, diminuiria nas mesmas proporções. No contexto de uma nova ordem econômica internacional, faz -se fundamental conceber nestas novas iniciativas regionais, a expressão direta do ensejo, mais geral, dos países pobres da África em ver eliminadas, ou ao menos reduzidas, as desigualdades inerentes ao sistema econômico internacional existente. Em quais medidas, efetivamente, estas novas organizações, disporiam elas dos meios e do poder, suficientes, para enfrentarem os preocupantes problemas impostos pela cilada representada pela dependência e pelo neocolonialismo? Noutras palavras, mediante quais circunstâncias, seriam elas capazes de criarem as condições a permitirem um desenvolvimento autônomo e autossustentável? Sob o prisma africano, neste contexto, uma evolução deste tipo não pode proce- der da transformação das estruturas produtivas. A CEDEAO, a SADCC ou a PAT, poderiam elas contribuir para este tipo de transformação? Não saberíamos insistir em demasia sobre o fato, mediante o qual, não se pode esperar efetiva integração regional produzir resultados incontestes, enquanto os parceiros regio- nais permanecerem integrados ao sistema internacional. Em outros termos, a autonomia regional é incompatível com a integração mundial e transnacional. Por quais maneiras estas novas organizações regionais lograram, em alguns anos de existência, reduzir a dependência? Qual seria o porvir dos sistemas de integração econômica regional na África? Nos dias atuais, numerosos teóricos do desenvolvimento admitem que os processos evolutivos regionais não são nem autóctones e, tampouco, espontâ- 13 A. KGAREBE, 1981, p. 23. 890 África desde 1935 neos, mas, respondem às relações de interdependência e interação, características da ordem mundial. Pois, se dermos crédito a Philippe Schitter, “seria extrema- mente difícil isolar os debates regionais do seu contexto mundial de dependência econômica e política, sejam quais tenham sido as intenções primeiras, às quais eles tenham respondido em sua origem14”. A ação das forças externas, ou do chamado por Schmitter “penetração externa”, influi profundamente sobre o curso de todo processo de estabelecimento da integração. As análises de Steven Langdon e Lynn Mytelka da UDEAC15 ou aquela realizada por Peter Robson para a CEAO16 fornecem -nos excelentes exemplos do modo pelo qual as empre- sas transnacionais e outros interesses externos, não somente tiraram proveito da integração regional africana, em detrimento dos Estados -membros mas, igual- mente, impediram estes países de utilizarem, o melhor possível, as instituições de cooperação econômica e modificarem as estruturas produtivas e as estruturas industriais para desenvolverem as trocas no interior das fronteiras africanas e, tornarem o continente menos dependente do estrangeiro. Considerando -se esta situação concreta, pode -se facilmente prever o tipo de problemas que a penetração externa eventualmente traria às novas formas de integração regional. Seria necessário, por exemplo, liberar os Estados -membros da CEDEAO, da SADCC, da PTA ou da CEEAC dos laços de dependência que os unem às potências estrangeiras, através do exercício do controle mais estrito sobre os recursos, por intermédio das instituições nacionais e regionais. Dada a complexidade do problema, a questão colocada é a seguinte: as disposi- ções dos tratados em respeito à criação destas novas estruturas regionais, seriam elas suficientes para enfrentar o desafio da dependência? Os fatos levam a supor que nenhuma dentre as novas instituições regio- nais disponha dos meios jurídicos suficientes para enfrentar o complexo pro- blema, qual seja, a redução da dependência. Assim sendo, embora o protocolo da CEDEAO sobre as regras primordiais contenha dispositivos estabelecidos para remediar os problemas impostos pelos laços com o exterior, a questão da participação e dos interesses estrangeiros, em seus termos, não é verdadeira- mente abordada. Ora, durante ainda muito tempo, os interesses estrangeiros permanecerão majoritários na maior parte das empresas industriais da África do Oeste. Notemos, a este propósito, um importante fato: embora o artigo 32 do Tratado da CEDEAO convide expressamente o Conselho dos Ministros 14 P. C. SCHMITTER, 1972, p. 8. 15 S. LANGDON e L. K. MYTELKA, 1979, pp. 179 -180. 16 P. ROBSON, 1983, p. 41. 891O Pan -africanismo e a Integração Regional desta organização a tomar medidas eficazes com vistas a reduzir progressiva- mente a dependência, não existe, no seio da CEDEAO, nenhuma estrutura ou mecanismo habilitado a iniciar negociações com os atores externos, em nome da Comunidade17. O Tratado da CEDEAO não contém tampouco sequer uma disposição relativa a um regime comum, aplicável aos investimentos estrangei- ros, bem como à redução progressiva da participação estrangeira na composição social do capital; por outro lado, contrariamente ao previsto no âmbito do Mer- cado Comum Andino, na América do Sul, não existe nenhum órgão encarre- gado de supervisionar as importações de tecnologias. Assim sendo, o Tratado da CEDEAO passou, muito amplamente, em silêncio sobre a redefinição das relações desta organização com o mundo exterior, o que está, entretanto, no cerne do problema da dependência. Embora os países membros da SADCC tenham escolhido reduzir a sua dependência vis -à -vis da África do Sul, prioritariamente no tocante ao setor dos transportes e das comunicações, além de terem, com este propósito, criado a Comissão dos Transportes e das Comunicações da África Austral (SATCC), a colocação em prática deste louvável projeto está, paradoxalmente, subordinada à existência de uma ajuda e de investimentos de origem estrangeira. Pode pare- cer contraditório que uma organização, a qual se atribuiu a tarefa de favorecer a autonomia e a redução da dependência econômica em respeito a todo país ou grupo de países, se tenha dedicado com tanta indústria a cultivar relações vantajosas junto a cordiais parceiros estrangeiros, principalmente ocidentais; a SADCC foi levada a admitir, finalmente, que as suas prioridades não coinci- dissem talvez, necessariamente, com aquelas das partes, das quais, ela esperava obter uma assistência ao desenvolvimento. No passado, esta política teve como efeito levar a organização a apresentar projetos em função, menos das vantagens que obteria a região, mas sobretudo, do interesse que eles apresentassem para os eventuais países doadores. Assim sendo, ansiosos por escaparem do domínio da África do Sul, os membros da SADCC, aparentemente, estão colocados à mercê de novos doadores ocidentais, situação esta a constituir uma nova forma de dependência. Ademais, concentrando os esforços no restabelecimento do sistema de transportes herdados do colonialismo, a SADCC pode perpetuar e reforçar as estruturas “neocoloniais” das trocas e da produção, bem como impor obstáculos ao desenvolvimento dos intercâmbios entre os seus países -membros. 17 J. P. RENNINGER, 1982, p. 170. 892 África desde 1935 Regionalismo versus pan -africanismo extrarregional O difícil problema da dependência colocado para as novas organizações regionais foi consideravelmente complicado pelo surgimento de um novo tipo de pan -africanismo, extra -regional, que ilustra a Convenção de Lomé, reali- zada entre a CEE e a África. Pois, do ponto de vista da mudança estrutural, especialmente, o novo “regime” de Lomé não representa, em nada, um meio de provocar uma espetacular conversão da Europa ou da África.A perenidade das estruturas da dependência, datadas da colonização, é tão perceptível quanto a mudança, caso exista. O neocolonialismo praticado pela CEE consiste em con- solidar e manter o statu quo que caracterizava a antiga ordem − as tradicionais estruturas de dependência estabelecidas após a conferência de Berlim de 1884 e as estruturas pós -coloniais. Se, por sua vez, a conferência de Berlim instaurou a dominação colonial na África, o Tratado de Roma, criador da CEE, consagrou o advento do neocolonialismo e da dependência no continente. Eis a razão pela qual Nkrumah, o campeão do pan -africanismo, imediatamente denunciou a CEE da qual subjazia, aos seus olhos, um novo modo de “colonialismo coletivo, futuramente mais potente e mais nocivo que os antigas desgraças das quais tentamos nos livrar”. O acordo de Lomé não é um documento progressista a abrir as vias para o estabelecimento de benéficas e melhor estruturadas relações de interdependência entre a Europa e a África, mas, antes, um novo avatar do imperialismo. Aqui reside o porquê, malgrado a diversidade da assistência con- cedida pela Europa aos novos grupos regionais de Estados africanos, segundo a ótica de Lomé I e Lomé II, ser incontestável que as relações estabelecidas entre a Europa e a África tenham consideravelmente reforçado a dependência coletiva desta última frente à primeira, por intermédio de relações comerciais, da cooperação industrial, do desenvolvimento econômico através da ajuda da CEE e dos serviços de assessoria oferecidos por diversos organismos. Por conseguinte, sob muitos aspectos, este novo pan -africanismo extra- -regional que ilustra as Convenções de Lomé é, essencialmente, incompatível não somente com os objetivos fundamentais do Plano de Lagos mas, tam- bém, com as concepções, com as estratégias de desenvolvimento e os objetivos essenciais do pan -africanismo em nível regional e com as novas organizações regionais africanas, notadamente a CEDEAO, a SADCC e a PTA, em razão destas últimas terem adotado uma estratégia, como já afirmamos, de desenvol- vimento autônomo, com vistas a reduzirem a sua independência vis -à -vis das antigas metrópoles e do sistema econômico internacional, em termos gerais 893O Pan -africanismo e a Integração Regional (especificamente no caso da SADCC e da PTA igualmente frente à África do Sul). Por outro lado, Lomé instaura entre a Europa e a África relações verticais, ao passo que os novos sistemas de organização regional, são o reflexo de relações horizontais Sul -Sul18. No plano estrutural, este novo tipo de pan -africanismo não oferece portanto nenhuma orientação à África, ele não apresenta nenhum caráter inovador e não abre qualquer nova perspectiva. Ao contrário, ele sanciona a validez da atual concepção para o desenvolvimento africano e favorece a pene- tração capitalista na África. Em resumo, os diferentes sistemas de integração econômica regional na África devem imperativamente reforçar a sua autonomia econômica para reduzirem a sua dependência perante os países industrializados, senão ao menos liberá -los desta subordinação, favorecendo assim o seu desen- volvimento, entretanto, resta pouca dúvida que esta estratégia possa desdobrar -se no quadro das Convenções de Lomé. Pan ‑africanismo e regionalismo: síntese e conclusão Para o melhor e para o pior, a África atingiu a sua maioridade. A idade de ouro do pan -africanismo na qualidade de movimento de descolonização política, portador das maiores esperanças, está resoluta. Sucedeu -lhe a idade de ouro do pan -africanismo como instrumento de integração regional e descolonização econômica. O tipo de regionalismo que surgiu a partir de meados dos anos 1970 esta profundamente ligado à mais ampla questão relativa à autonomia coletiva e à integração histórica da África ao sistema internacional. Não há dúvida que a permanência da África no sistema internacional comprometeu seriamente o progresso do regionalismo no continente. Nos dias atuais, com efeito, grande parte da cooperação econômica regional não atende aos interesses dos países africanos mas, àqueles dos organismos de ajuda estrangeiros, dos consultores e das empresas transacionais19. Logo identificou -se, por exemplo, no caso da SADCC, da UDEAC e da CEAO, que os principais beneficiários da integração regional eram os centros fornecedores da ajuda, das técnicas e dos investimentos estrangeiros. A África enfrenta, portanto, um problema maior, pois a cooperação econômica, constituinte da espinha dorsal da autonomia coletiva, não pode ser eficazmente utilizada como instrumento de desenvolvimento regional, enquanto 18 S. K. B. ASANTE, 1984. 19 A. JALLOH, 1976, p. 49. 894 África desde 1935 os países participantes não tiverem realmente o domínio dos setores -chave da economia ou dos recursos que alimentam os projetos comuns. Ademais, as elites africanas ou os grupos que colaboram com o estrangeiro, e cujos interesses estão muito próximos daqueles de algumas forças transnacio- nais ou estrangeiras, provavelmente opor -se -ão a todo esforço que vise alcançar um elevado nível de integração, a provocar uma diminuição da dependência, ou a qualquer mudança radical que pudesse desdobrar -se em uma reforma das estruturas políticas e econômicas, assim como das relações com o estrangeiro e, igualmente, fosse contrária à orientação tradicional, voltada para o exterior. Assim sendo, a integração estrutural das economias africanas e das forças sociais e políticas dominantes do continente ao sistema capitalista internacional tem, em larga medida, impedido os países africanos de modificarem radicalmente esta estrutura de dependência, mesmo se estivessem eles dispostos a fazê -lo. Ademais, considerando -se o profundo enraizamento do neocolonialismo na África e a grande variedade de mercados e de fontes de provisão, no tocante a investimentos e técnicas, existentes nas diferentes potências metropolitanas, toda brutal ruptura das estreitas relações que a África mantém com os países industrializados, provavelmente, teria consequências intoleráveis sobre a frágil economia dos países do continente. Portanto, os países africanos podem escolher participar do sistema, buscando, todavia, beneficiarem -se de condições que lhes permitiriam conquistar maior peso no mundo industrializado. Deriva a neces- sidade, para os países africanos, de adotarem uma atitude pragmática e maleável frente à questão da dependência e da ameaça neocolonial. Sob esta perspectiva, as organizações regionais africanas seriam talvez condu- zidas a diversificarem as suas relações econômicas com o mundo externo, como Ali Mazrui fez observar: “[...] há casos nos quais a liberdade começa com a multiplicação dos mestres. Se a propriedade e o poder de controle estão nas mãos de uma só potência, a liberdade é muito amiúde e particularmente restrita. Bastaria uma sociedade africana cultivar a arte de constituir o objeto de uma rivalidade entre várias potências e a porta da libertação poderia entreabrir -se. Depender de dois gigan- tes, especialmente se forem rivais, permite eventualmente colocá -los um contra o outro e melhor tirar partido da sua situação20.” As organizações regionais africanas possuem outro meio para livrarem -se da dependência: estabelecer relações econômicas privilegiadas com o sistema 20 A. A. MAZRUI, 1980a, p. 82. 895O Pan -africanismo e a Integração Regional de integração regional da Ásia e da América Latina, entretanto e concreta- mente, este tipo de “integração horizontal” subentende o desenvolvimento da cooperação econômica entre países em desenvolvimento, cooperação esta que, segundo Elvin Laszlo, constitui “o novo imperativo para o desenvolvimento nos anos 1980”. A ação conjunta na esfera da cooperação econômica e técnica abre vastas perspectivas. Ela pode desempenhar um papel crucial ao permitir àqueles países em vias de desenvolvimento defenderem o preço das suas exportações de matérias -primas, além de reforçara sua soberania em respeito aos seus recursos naturais. Ela pode, igualmente, favorecer o desenvolvimento das capacidades locais nos domínios científico e técnico, facilitar a comercialização dos produtos provenientes dos países em desenvolvimento, ajudá -los a aumentar a sua capa- cidade industrial e, antes e sobretudo, reforçar o seu poder decisório no seio das instituições multilaterais. Os países africanos e os seus dirigentes devem estar dispostos a modificar radicalmente as suas políticas e as suas instituições, além de, especialmente, redefinir os objetivos de desenvolvimento em níveis nacional e regional, com vistas a considerar plenamente o eficaz papel cabível à integração regional em referência à solução dos problemas da dependência e do subdesenvolvimento. Todavia, seria impossível, nestas circunstâncias, a existência de real estratégia de desenvolvimento regional, enquanto os diferentes Estados não tenham definido uma política comum de regulamentação e planificação regionais para resolver o problema dos investimentos estrangeiros e da dependência técnica. Uma política com estas características deveria apoiar -se sobre uma ação de ampla envergadura a se desdobrar na criação de um instituto comum de pesquisa e de desenvolvi- mento industriais, igualmente encarregado de estudar a utilidade da tecnologia estrangeira e as condições mediante as quais conviria adquiri -la ou adaptá -la aos objetivos dos projetos comuns do desenvolvimento. Finalmente, e seja qual for a estratégia adotada para superar o estado de dependência, a prioridade deverá ser concedida às reformas de política interna. Tais reformas exigem disciplina e sacrifício. Nós, africanos, naquilo que nos compete, devemos aceitar a disciplina, a moderação e a austeridade necessárias à instauração daquilo que se poderia chamar a nova ordem interna, caso, um dia, pretendamos transformar as relações de dependência permanente, por nós mantidas junto aos países industrializados, em laços de interdependência bené- ficos que desencadeariam, no seio da sociedade africana, o motor necessário a um crescimento econômico perene. Como nota o eminente historiador africano Ade Ajayi, com “prudente otimismo”: “A visão de uma nova sociedade africana deverá, necessariamente, elaborar -se na África, proceder da experiência histórica 896 África desde 1935 africana e do sentido próprio à continuidade da história africana. O africano ainda não é mestre do seu destino, contudo, ele tampouco persiste somente como um objeto sujeito aos caprichos deste mesmo destino21.” 21 J. F. A. AJAYI, 1982, p. 8. C A P Í T U L O 2 5 897Pan -africanismo e libertação Se, por sua vez, o pan -africanismo, como movimento de integração, obteve algum sucesso ao final dos anos 1950 e no início dos anos 1960, se conheceu êxitos mais variáveis e sofreu derrotas a partir de meados dos anos 1960, e se, finalmente, demonstra um forte impulso desde meados dos anos 1970, o pan -africanismo como movimento de libertação, quanto a ele, alcançou o seu apogeu nos primeiros dez anos posteriores à conquista da independência pela África. Porém não sobreviveu a este período e exauriu -se ao final dos anos 1960. Após a conquista da independência, o princípio unificador do pan -africanismo — a vontade de lutar contra as potências coloniais — enfraqueceu -se em alguns Estados africanos, em que pese a persistência, na África Austral, de um conflito cuja permanência poria em suspenso a completa libertação do continente. O pan -africanismo nasceu no Novo Mundo, nos séculos XVIII e XIX, em favor da luta dos negros pela libertação, contra a dominação e a exploração dos brancos. Estes movimentos traduzem -se pelo separatismo religioso afro- -americano (que se estenderá pouco após na África). No próprio continente africano, o pan -africanismo, como movimento de libertação remonta, como vimos no capítulo 23, à invasão da Etiópia pelos fascistas italianos, em 1935, assim como e, sobretudo, ao quinto Congresso Pan -africano reunido em Man- chester, em outubro de 1945. Neste congresso, pela primeira vez, durante toda a história do movimento pan -africano, os representantes africanos eram os Pan -africanismo e libertação Edem Kodjo e David Chanaiwa 898 África desde 1935 mais numerosos e os debates envolveram, essencialmente, a libertação da África colonizada. O congresso de Manchester foi organizado por um Secretariado Especial, presidido por Peter Milliard da Guiana britânica (atual Guiana), e incluindo R. T. Makonnen, das Antilhas (tesoureiro), Kwame Nkrumah, da Costa do Ouro (atual Gana) e George Padmore, de Trinidad e Tobago (cosse- cretários), Peter Abrahams, da África do Sul (secretário encarregado das relações públicas) e Jomo Kenyatta, do Quênia (secretário adjunto). O congresso agregou mais de duzentos delegados vindos, em sua maioria, das colônias britânicas na África, entre os quais figuravam os futuros chefes de Estados independentes. Um veterano do pan -africanismo, W. E. B. Du Bois, presidiu todas as sessões do congresso. figura 25.1 Quinto Congresso Pan -Africano realizado em Manchester, Inglaterra, em outubro de 1945. Da direita para a esquerda, à mesa diretora: Peter Milliard, Sra. Amy Jacques Garvey, o prefeito de Manchester e I. T. A. Wallace -Johnson. (Foto: Hulton -Deutsch Collection, Londres.) 899Pan -africanismo e libertação As deliberações e principalmente as resoluções do congresso de Manchester estavam marcadas por um tom mais pugnaz e radical, comparativamente aos congressos precedentes. As declarações dirigidas às potências coloniais exigiam, especialmente: 1. A emancipação e a total independência dos africanos e dos outros grupos raciais submetidos à dominação das potências europeias, as quais pretendiam exercer, sobre eles, um poder soberano ou um direito de tutela; 2. A revogação imediata de todas as leis raciais e outras leis discriminatórias; 3. A liberdade de expressão, de associação e de reunião, bem como a liberdade de imprensa; 4. A abolição do trabalho forçado e a igualdade de salários para um trabalho equivalente; 5. O direito ao voto e à elegibilidade para todo homem ou mulher com idade a partir de vinte um anos; 6. O acesso de todos os cidadãos à assistência médica, à seguridade social e à educação. A reivindicação em prol da integração econômica foi examinada no capítulo 14. Os representantes exigiam igualmente que a África se livrasse da “dominação política e econômica dos imperialismos estrangeiros”. Evento da maior impor- tância, pela primeira vez os africanos advertiam formalmente as potências euro- peias, para muito bem atentarem ao fato que eles também recorreriam à força para se libertarem, caso elas persistissem em querer governar a África pela força. Simultaneamente, em uma declaração dirigida ao povo africano, os repre- sentantes enfatizaram o fato da luta pela independência política ser somente a primeira etapa e o meio para se atingir a completa emancipação nas esferas econômica, cultural e psicológica. Eles exortaram a população das cidades e dos campos africanos, os intelectuais e os profissionais liberais a se unirem, organizarem -se e lutarem até a absoluta independência. Em suma, o quinto Congresso tornou o pan -africanismo uma ideologia de massas, elaborada pelos africanos e em seu próprio favor. Inicialmente ideologia reformista e protestante em favor das populações de origem africana, habitantes na América, o pan -africanismo tornara -se uma ideologia nacionalista orientada para a libertação do continente africano. O pan -africanismo mundial de Du Bois, o combate de Garvey pela autodeterminação e autonomia, o regresso à cultura africana preconizada por Césaire, pertenciam, doravante, inteiramente ao nacionalismo africano. Diversos delegados, como Nkrumah ou Kenyatta, saíram de Londres rumo à África, onde eles iriam conduzir o seu povo à independência. 900 África desde 1935 Todos os movimentos nacionalistas inscreveram em seus estatutosdisposições inspiradas pelo pan -africanismo. O pan ‑africanismo e a libertação da África Na história do pan -africanismo, como movimento de libertação, o período entre 1950 -1965 foi dominado pela figura de Kwame Nkrumah. Através de suas declarações, da sua ação e do seu exemplo, Nkrumah mobilizou, em favor da causa pan -africana, os dirigentes africanos dos movimentos de libertação e dos Estados independentes. Segundo ele, como declarou na noite da conquista da soberania pelo seu país, a independência de Gana não tinha sentido senão na perspectiva de uma libertação completa do continente africano. Igualmente, organizou sem delongas vários congressos pan -africanos (reuniões examinadas no capítulo precedente). Estes encontros foram inaugurados, como vimos, pela primeira Conferência dos Estados Africanos Independentes, realizada em abril de 1958, na capital Accra, sede de Gana Independente. Participaram desta conferência o Egito, a Etiópia, Gana, Libéria, Marrocos, o Sudão e a Tunísia, assim como grande número de delegados que haviam assistido ao quinto Con- gresso Pan -africano. A ordem do dia e as resoluções da conferência de Accra abordaram, essencialmente, as relações entre os países africanos independentes, o apoio aos movimentos de libertação em toda a África, as relações entre a África independente e as Nações Unidas, e os meios possíveis para colocar a África ao abrigo das fissuras provocadas pela Guerra Fria, iniciada entre o Leste e o Oeste. Esta conferência identificou os principais temas que o pan -africanismo deveria desenvolver na era da independência; ela lançou, sem dúvida, as bases para a Organização da Unidade Africana (OUA), estabelecendo princípios, tais como, o primado da independência política, o apoio aos movimentos de libertação, a formação de uma frente única no seio da Organização das Nações Unidas e o não alinhamento. A segunda Conferência dos Estados Africanos Independentes teve lugar em Monróvia, no mês de agosto de 1959. Ela adotou quatro resoluções: a primeira condenava os testes nucleares efetuados pela França no Saara; a segunda pedia uma trégua política entre os dois Camarões; a terceira solicitava a abertura de negociações de paz na Argélia; e a quarta proclamava o direito à autodetermi- nação dos territórios coloniais. A terceira Conferência realizou -se em Addis- -Abeba, em 1960. 901Pan -africanismo e libertação Durante este período, Nkrumah e os seus compatriotas, partidários do pan- -africanismo, reuniram -se em conferências nas quais os dirigentes dos Estados independentes e dos movimentos de libertação puderam trocar ideias e discutir estratégias a serem adotadas e postas em prática, em prol da luta pela inde- pendência. A primeira Conferência dos Povos Africanos, sediada em Accra no mês de dezembro de 1958, reuniu duzentos e cinquenta delegados e muitos observadores. Ela tinha como temas o anticolonialismo, o anti -imperialismo, o antirracismo, a unidade africana e o não alinhamento. Os delegados discutiram especialmente as fronteiras coloniais, as organizações regionais, assim como o papel dos chefes tradicionais e dos chefes dos movimentos religiosos separatis- tas. Fato da maior relevância, homens políticos e sindicalistas africanos vindos de Estados ou de colônias de língua francesa, inglesa, árabe ou portuguesa pude- ram, nesta ocasião, fortalecer as relações ideológicas e pessoais, dentre as quais algumas, como aquela unindo Nkrumah e Patrice Lumumba, então delegado pelo Congo belga, revelar -se -iam duráveis. A segunda Conferência dos Povos Africanos, reunida em Túnis no ano 1960, congregou setenta e três delegações africanas e adotou uma série de resoluções relativas, em sua maioria, à descolo- nização. A terceira conferência ocorreu no Cairo, em 1961. Existiam duas organizações pan -africanas regionais às quais se havia atri- buído o objetivo de coordenar a luta pela libertação. O Pan -African Freedom Movement for Eastern, Central and Southern Africa, comumente chamado PAFMECSA, reagrupou, entre 1958 e 1963, a Etiópia, o Quênia, Uganda, a Somália, a Tanganyika, Zanzibar e os movimentos nacionalistas da África Central e Austral. A outra organização transterritorial, a Reunião Democrá- tica Africana (RDA), foi criada nas antigas colônias francesas, por ocasião do Congresso de Bamako, em 1946, pelos dirigentes nacionalistas que desejavam ir além da limitadíssima autonomia prevista pela Constituição de 1946, autonomia esta, apenas ampliada pela lei de enquadramento de 1956. Em 1958, quando De Gaulle decidiu fazer aprovar, por referendo, o seu projeto de Comunidade Franco -Africana1, o RDA ofereceu aos africanos uma tribuna pan -africana onde eles pudessem debater vantagens e inconvenientes deste projeto e fazer ouvir a sua opinião perante o governo francês. Por ocasião do referendo, somente a Guiné, representada por Sékou Touré, pronunciou -se contra o projeto de Comu- nidade e por uma total independência; após este voto, Sékou Touré juntou -se a Nkrumah na União dos Estados Africanos. 1 Para maiores detalhes, consultar J. de BENOIST, 1980. 902 África desde 1935 Figura 25.2 Discurso de abertura da primeira Conferência dos Povos Africanos em Accra, Gana, em dezembro de 1958. (Foto: Newslink Africa, Londres.) A OUA e a libertação da África O nascimento de numerosos Estados africanos, entre 1960 e 1964, com- plicou a tarefa do pan -africanismo, como movimento de integração, contudo, incontestavelmente facilitou e acelerou o seu desenvolvimento na qualidade de movimento de libertação. Se por um lado, os novos dirigentes africanos estavam em desacordo em relação à natureza da integração política que devia ser realizada na África, era quase unânime o reconhecimento da urgente neces- sidade em libertar inteiramente o continente do colonialismo; os Grupos da Monróvia e da Casablanca continuaram fiéis ao seu compromisso histórico em favor do não alinhamento e da libertação completa das últimas colônias. Esta adesão geral em prol da libertação é realmente uma das razões, senão a principal delas, da unificação dos grupos que formaram a OUA logo após um memorá- vel encontro em Addis -Abeba, em maio de 1963. Como a OUA teria ela sido criada e organizada, e qual papel teria ela desempenhado durante a evolução do pan -africanismo? 903Pan -africanismo e libertação Os esforços, notadamente, de Kwame Nkrumah, de Sékou Touré e de Modibo Keita, aqueles do imperador da Etiópia, mas também a conquista da independência pela Argélia (1962), a qual reduziu sensivelmente a tensão entre os Grupos da Casablanca e da Monróvia, levaram os países membros destes dois grupos a decidirem formar, como vimos no capítulo anterior, uma organização única. Os seus ministros das relações exteriores encontraram -se entre 15 e 21 de maio de 1963, com o propósito de redigir um projeto de pauta para as discussões dos chefes de Estado. A conferência dos chefes de Estado e do governo foi inaugurada no dia 23 de maio de 1963. Os seguintes trinta Estados estavam nela representados (as denominações são aquelas da época): Argélia, Burundi, Camarões, Congo- -Brazzaville, Congo -Léopoldville, Costa do Marfim, Dahomey, Etiópia, Gabão, Gana, Guiné, Alto -Volta, Libéria, Líbia, Madagascar, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Uganda, República Árabe Unida, República Centro -Africana, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Tanganyika, Tchade, Tunísia2. Em 25 de maio, os chefes de Estado e de governo assinaram a Carta da Unidade Africana. O preâmbulo da Carta enumera as considerações sobre as quais se fundava o seu projeto: o direito dos povos em disporem de si próprios (autodeterminação dos povos), o ideal da liberdade, da justiça e da igualdade, um desejo comum de união e de ajuda mútua, a preocupação em preservar a independência e a soberania dos Estados africanos, a fidelidade dos signatários à Carta das Nações Unidas e à Declaração Universal dos Direitos Humanos. O primeiro artigo cria a Organizaçãoda Unidade Africana; o artigo 2 definiu os objetivos; o artigo 3 declara os princípios a serem respeitados para atingir estes objetivos; os artigos 4, 5 e 6 dizem respeito à composição da Organização; do artigo 7 ao 13 descre- vem as suas instituições; o artigo 27 contém indicações relativas à interpretação da Carta. A Carta da Unidade africana também reflete outro aspecto do pan- -africanismo ao definir uma ética política. Ela enuncia, de fato, princípios tais como: a igualdade de todos os Estados membros; o princípio da não ingerência nos assuntos internos dos Estados; o respeito à soberania dos Estados, à sua integridade territorial e ao seu direito inalienável a uma existência independente; o tratamento pacífico das contendas, através da negociação, da mediação, da conciliação ou da arbitragem; a condenação sem reservas do assassinato político 2 Em razão do assassinato do presidente Sylvanus Olympio, Togo não foi admitido na conferência. Por sua vez, o Marrocos recusou -se a participar. Estes dois Estados assinaram, todavia e posteriormente, a Carta da OUA. 904 África desde 1935 e das atividades subversivas, mesmo se praticadas pelos Estados vizinhos ou por quaisquer outros Estados; um compromisso sem reservas em favor da libertação completa dos territórios africanos ainda dependentes; a asserção de uma política de não alinhamento perante todos os blocos. Esta ética pan -africana propunha aos Estados membros um conjunto de princípios destinados a reforçar o seu desejo de unidade e de solidariedade. O pan -africanismo, inicialmente considerado como “um movimento de ideias e de emoções”, soube, portanto, modelar os sentimentos, a energia e as aspirações dos povos da África e expressou -os no conteúdo da Carta da Unidade Africana. De 1963 a 1982, esta carta não sofreu senão leves modificações. Desta forma, o número de comissões especializadas fora reduzido de cinco para três, além de ter sido decidido que a Comissão de mediação, de conciliação e de arbitragem não contaria mais com membros permanentes. No quadro da própria reforma estrutural processada em 1979, suprimiu -se o epíteto “administrativo” do título Secretário -geral. No mesmo ano, em sua décima sexta sessão, a Conferência dos chefes de Estado e de Governo criou um comitê encarregado de revisar a Carta, em função da nova situação gerada pelas mudanças ocorridas na África. Com efeito, tornara -se necessário, após alguns anos, remodelar a Carta para que ela estivesse mais bem adaptada às lutas do século XXI e à prioridade acordada ao desenvolvimento sob todas as suas formas, especialmente culturais, desenvolvi- mento fundado no respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais dos povos. A sede da Secretaria -geral é em Addis -Abeba, na Etiópia. O primeiro Secretário -geral, nomeado em 1963 a título provisório, foi o Dr Tesfaye Gebre Egzy. Em 1964, a Conferência dos Chefes de Estado e de Governo elegeu o guineense Diallo Telli, para substituí -lo. Este último, reeleito em 1968, foi substituído no ano de 1972 pelo camaronês Nzo Ekangaki. Outro camaronês, William Eteki Mboumoua, foi eleito em 1974. Em 1978, o posto de Secretário- -geral foi confiado ao togolês Edem Kodjo. Posteriormente, sucederam -se o nigeriano Peter Omu, em 1983, o nigeriano Ide Oumarou, em 1985, e o tan- zaniano Salim Ahmed Salim, em 1989. O Secretário -geral é assistido pelos adjuntos, cujos número passou de quatro para cinco em 1979. Cada um destes adjuntos representa uma região do continente. Eles dirigem as seções técnicas da Organização e formam, juntamente com o Secretário -geral, o gabinete polí- tico. O papel do Secretário -geral foi objeto de interpretações divergentes. Para alguns, ele não seria nada além de um funcionário ornamentado com um título de prestígio. Em contrapartida, outros quiseram atribuir -lhe uma função política e um papel de coordenador. Em julho de 1978, o presidente Omar Bongo, então 905Pan -africanismo e libertação presidente em exercício da OUA, declarava à Jeune Afrique que as estruturas da OUA estavam amplamente obsoletas, precisamente porque elas limitavam a atividade do Secretário -geral a tarefas puramente administrativas. Estatutos definem as funções do Secretário -geral, dos seus adjuntos e dos outros membros do quadro pessoal, assim como as modalidades do seu recruta- mento. Na ocasião do décimo aniversário da OUA, o Conselho dos Ministros criou um comitê encarregado de revisar as estruturas da Organização e as regras que regem o seu funcionamento. As conclusões deste comitê foram adotadas pela cúpula de Cartum, em 1978, e, posterior e progressivamente, aplicadas em função dos recursos orçamentários. O órgão supremo da OUA é a Conferência dos Chefes de Estado e de Governo. Ela reunia -se em sessão ordinária uma vez ao ano e elegia a cada assembleia uma mesa dirigida por um presidente. Este tornou -se, ao longo dos anos, o presidente de facto da OUA3. A outra assembleia da OUA, o Conselho dos Ministros, reunia -se em ses- são ordinária duas vezes ao ano. Uma destas sessões ocorria no início do ano; ela era consagrada essencialmente às questões administrativas e financeiras. O Conselho prepara os encontros dos chefes de Estado e assegura a continuidade de suas decisões. A OUA: a descolonização e a libertação A ajuda planejada, oferecida pela OUA aos movimentos de libertação nacional dos povos colonizados da África, constituiu -se em uma das suas mais regulares e eficazes contribuições em benefício da causa pan -africanista. No transcorrer da conferência constituinte de Addis -Abeba, em maio de 1963, os Estados independentes adotaram uma vigorosa resolução relativa à descoloni- zação, segundo a qual eles reconheciam unanimemente que “todos os Estados africanos independentes têm o dever de ajudar os povos dependentes da África que lutam pela liberdade e pela independência”. Eles admitiram, igualmente, o reconhecimento “da imperiosa e urgente necessidade de combinarem e inten- sificarem os seus esforços para acelerar a incondicional conquista da indepen- 3 A Carta não menciona este posto de presidente, ele foi criado progressivamente. Um chefe de Estado, o gabonês Omar Bongo, disse em respeito ao presidente em exercício que tudo se realizava à sua revelia, que ninguém o escutava ou lhe prestava satisfações. 906 África desde 1935 dência nacional, de todos os territórios africanos ainda submetidos à dominação estrangeira4”. Após ter ouvido os representantes dos movimentos de libertação nacional da África Oriental, Central e Austral, os chefes de Estado afirmaram, em relação às colônias de povoamento e das diferentes possíveis linhas de conduta: 1. que a preservação do regime colonial constituía uma flagrante violação dos direitos inalienáveis dos legítimos habitantes dos respectivos territórios e representava uma ameaça para a paz continental; 2. que a Grã -Bretanha deveria respeitar a resolução 1515 das Nações Unidas relativa à independência e não conceder a independência à minoria branca da Rodésia do Sul (atualmente Zimbábue); 3. caso a Grã -Bretanha concedesse a independência a esta minoria, os membros da OUA ofereceriam um efetivo apoio, de ordem moral e material, a todas as legítimas medidas que pudessem ser tomadas pelos dirigentes nacionalistas africanos e, eventualmente, por eles próprios, contra todo Estado que reconhecesse o governo desta minoria; 4. que a Namíbia era um território africano sob mandato das Nações Unidas cujos habitantes tinham direito à autodeterminação e à independência, consistindo a ocupação deste território, pelos sul -africanos, em um ato de agressão; 5. que os portugueses cometiam um genocídio na África e os aliados ocidentais de Portugal deveriam escolher entre a sua amizade pelo povo africano e o apoio que eles forneciam à opressão e à exploração coloniais. Os chefes de Estado adotaram, igualmente, um programa de ação relativo à descolonização. Eles enviaram uma delegação (composta por
Compartilhar