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Dissertação Grupos Kurt Lewin

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TÍTULO: ANÁLISES DOS PROCESSOS PSICOLÓGICOS GRUPAIS NA 
ATIVIDADE DE TRABALHO NA SEÇÃO DE NUTRIÇÃO DO HU. - PROJETO: 
TRABALHO E SUBJETIVAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR 
 
ORIENTADORA: Profa. Dra. Inara Barbosa Leão 
 
AUTORA: Priscilla Soares Teruya 
 
ENDEREÇO: Rua Espanha, 851 Vila Jacy. Campo Grande – MS / CEP.: 79006-580 
 
TELEFONE: (67) 3386-9340 / (67) 9228-6509 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISES DOS PROCESSOS PSICOLÓGICOS GRUPAIS NA ATIVIDADE 
DE TRABALHO NA SEÇÃO DE NUTRIÇÃO DO HU. - PROJETO: 
TRABALHO E SUBJETIVAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR 
 
Resumo do Projeto 
A subjetividade do indivíduo é constituída no processo de relação com a objetividade, 
através de instrumentos de mediação como o trabalho, a linguagem e as emoções. Essas 
mediações permitem aos indivíduos a interiorização do mundo material, através das 
suas atividades, portanto, ativamente. O trabalho do homem é uma atividade social que 
assente a cooperação entre indivíduos, o que supõe uma divisão técnica das funções do 
trabalho. Na produção os homens não agem apenas sobre a natureza. Eles produzem 
colaborando de uma determinada maneira e distribuindo entre si suas atividades. Para 
produzir entram em relações e ligações determinadas uns com os outros e não é senão 
nos limites destas relações sociais que se estabelecem a sua ação sobre a natureza, a 
produção. Partindo desses pressupostos teóricos, a presente pesquisa visa analisar a 
dinâmica material e psico-grupal que sustenta a produção e as relações interindividuais 
na Seção de Nutrição do Núcleo do Hospital Universitário e, conseqüentemente, 
entender quais os processos psíquicos lhes são peculiares, necessários e aqueles que 
redundam de dificuldades geradas pelo/no trabalho e suas conseqüências individuais. 
Tais ações serão realizadas apoiadas nas Teorias Psicológicas Sócio-Histórica e aquelas 
próprias dos processos grupais que nos permitirem a apreensão de suas determinações 
sociais, utilizando como metodologia a pesquisa participativa. As atividades 
desenvolvidas visam atender, também as exigências para o cumprimento dos Estágios 
Supervisionados em Psicologia Organizacional I, II e III 
 
Palavras-chave 
 SUBJETIVIDADE – PSICOLOGIA DO TRABALHO – INSTITUIÇÃO 
HOSPITALAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARECER 
 
 
 
 
Eu, professora doutora Inara Barbosa Leão, sou de parecer favorável à 
apresentação para inscrição no Prêmio Silvia Lane, promovido pela 
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP, do Relatório Final 
do Estágio Supervisionado em Psicologia Organizacional II e III pela, 
então, acadêmica: Priscilla Soares Teruya, resultante das atividades 
desenvolvidas sob minha orientação durante a 5ª série no período letivo de 
2005-2006 e já aprovado pela Comissão de Estágio supervisionado do 
Curso de Psicologia/CCHS. 
Minha opinião favorável se deve ás características do trabalho e da 
instituição onde se desenvolveu e ao tratamento dado aos dados. 
 
 
Campo Grande, 28 de fevereiro de 2007. 
 
 
 
 
InaraBLeão 
Profa. Dra. Inara B. Leão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso de Psicologia 
 
Campo Grande, 28 de março de 2007. 
 
PARECER 
 
 O Curso de Psicologia da Universidade Federal do Mato Grosso do 
Sul/Campus de Campo Grande, tem a honra de inscrever trabalhos dos seus 
ex-alunos, para o Premio Silvia Lane, promovido pela Associação Brasileira 
para o Ensino de Psicologia – ABEP. 
 Esta Universidade, mesmo diante de tantas adversidades, tem tentado 
incentivar o aluno a pesquisar, produzir textos e a apresentar esta produção em 
eventos regionais, nacionais e internacionais. Acreditamos que é necessário 
dar mais ênfase na criação e não sermos apenas reprodutores de conteúdos 
acadêmicos. A Universidade precisa resgatar o seu papel de produtora de 
conhecimento, incentivando na vida acadêmica a construção de novos 
pesquisadores. A Universidade que presa pelo ensino de qualidade está 
diretamente determinada pela pesquisa. E isto não deve ser apenas retórica. 
 Sendo assim, o Curso de Psicologia indica para concorrer a este 
importante prêmio de incentivo à produção acadêmica os trabalhos abaixo 
listados, informando que estes foram selecionados dentro da instituição por 
apresentarem: coerência do texto em relação ao que foi proposto; boa 
articulação entre estudo teórico-prático e clareza na conexão das idéias. 
 Desta forma apresento os trabalhos que foram selecionados: 
 
Para a categoria Relatório de Estágio: 
 
1) Análises dos processos psicológicos grupais na atividade do trabalho na 
seção de nutrição do Hospital Universitário. Período: 2005-2006. – 
Projeto: Trabalho e subjetivação em uma instituição hospitalar. Relatório 
de estágio, sob a orientação da profª.drª. Inara Barbosa Leão. 
 
Para a categoria Trabalho de Conclusão de Curso: 
 
2) Esperança e expectativa dos desempregados: a supremacia do sentido 
sobre o significado. Trabalho de Conclusão de Curso, sob a orientação 
da profª.drª. Inara Barbosa Leão; 
3) O sentido subjetivo do trabalho para a profissional do sexo. Trabalho de 
Conclusão de Curso, sob a orientação da profª.drª. Alexandra Ayach 
Anache. 
 
O Curso de Psicologia parabeniza os trabalhos acima e deseja aos 
participantes boa sorte! 
 
Profª. Rosilene Caramalac. 
Coordenadora do Curso de Psicologia 
UFMS/CCHS – Campo Grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriano Kasiorowski Araujo 
Claudiane Coimbra da Silva 
Éder Juliano A. Blanco. 
Elódia Herminia Maldonado 
Fabíola Sampaio de Oliveira Córdova 
Fernando Ulisses Rosalino 
Guilherme Espindola 
Heriel A. B. da Luz 
Leonardo Bastos 
Lívia Gomes dos Santos 
Luciléa Rezende Arguelho 
Luis Henrique Moura 
Priscilla Bolfer Moura 
Priscilla Soares Teruya 
 
 
ANÁLISES DOS PROCESSOS PSICOLÓGICOS GRUPAIS NA ATIVIDADE 
DE TRABALHO NA SEÇÃO DE NUTRIÇÃO DO HU. 
- PROJETO: TRABALHO E SUBJETIVAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO 
HOSPITALAR 
 
 
Supervisão: Profa. Dra. Inara 
Barbosa Leão 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATOGROSSO DO SUL 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
CURSO DE PSICOLOGIA – FORMAÇÃO DE PSICÓLOGO 
CAMPO GRANDE. 
JUNHO DE 2006. 
 
SUMÁRIO 
 
1 - Introdução .................................................................................................................. 3 
2 - Apresentação do local e condições nas quais a atividade de estágio aconteceu..... 5 
3 - Descrição do trabalho ................................................................................................ 7 
3.1. - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................ 7 
3.1.1 A Teoria Psicológica Sócio-Histórica........................................................................................7 
3.1.2 A Teoria da Atividade..............................................................................................................13 
3.1.3 A Teoria de Campo de Kurt Lewin..........................................................................................17 
3.1.4 Sistema, Grupo e Poder – Ignácio Martin-Baró.......................................................................32 
3. 2 – FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA ............................................................. 38 
4 - Apreciação sobre o desenrolar das atividades e dos desafios enfrentados ............ 41 
4.1 ANÁLISE DO GRUPO DE NUTRICIONISTAS........................................................ 41 
4.1.a Devolutiva da Análise do Grupo das Nutricionistas ................................................................54 
4.2 ANÁLISE DO GRUPO DE COZINHEIROS .............................................................. 56 
4.2.a Devolutiva da Análise do Grupo dos Cozinheiros ...................................................................60 
4.3 ANÁLISE GRUPO DOS AUXILIARES DE COZINHA ........................................... 64 
4.3.a Devolutiva da Análise do Auxiliares de Cozinha.....................................................................72 
4.4 ANÁLISEGRUPO DE COPEIROS............................................................................ 74 
4.4.a Devolutiva da Análise do Grupo de Copeiros..........................................................................78 
4.5 ANÁLISE GRUPO DE ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS ............................... 81 
4.5.a Devolutiva da Análise do Grupo de Assistentes Administrativos............................................82 
4.6 ANÁLISE DO GRUPO DE AUXILIARES OPERACIONAIS.................................. 84 
4.6.a Devolutiva da Análise do Grupo de Auxiliares Operacionais.................................................88 
5. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DAS ANÁLISES DA SEÇÃO DE NUTRIÇÃO 
DO HU. .......................................................................................................................... 93 
6- CONCLUSÃO.......................................................................................................... 107 
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 110 
 
 
 
 
3 
 
 
 
1 - Introdução 
 
 Ao longo deste relatório, apresentamos os procedimentos, fundamentos teórico-
metodológicos, considerações e resultados alcançados pelas intervenções realizadas. 
 Para tanto, iniciamos pela explicitação dos pressupostos epistemológicos que 
fundamentam e justificam o tipo de abordagem e de prática adotada, explanando 
também acerca dos objetivos que nortearam as atividades realizadas. 
 Seguimos com uma apresentação sintética da Fundamentação Teórica que nos 
embasou, definindo os conceitos teóricos relacionados à problemática analisada, a partir 
dos pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica, a Teoria da Atividade de Leontiev, os 
constructos da Teoria de Campo de Kurt Lewin e, também, os estudos de Martin-Baró 
sobre grupos. 
Através de uma interlocução e de uma relação dialógica e sintetizadora entre tais 
autores é que foram desenvolvidas as intervenções e análises dos fatores envolvidos. 
 O trabalho segue, então, pela descrição das atividades realizadas e dos meios que 
utilizamos para alcançarmos tais objetivos, ou seja, a Metodologia adotada, que no caso 
apóia-se no Materialismo Histórico Dialético e na Pesquisa-ação. Em seguida, serão 
apresentadas as análises, propostas e possíveis recomendações. 
Antes, é importante frisarmos que, para compreendermos os processos 
psicológicos de um grupo, devemos partir do reconhecimento de que existe uma série 
de influências sociais, muito amplas e profundas, sobre todo e qualquer indivíduo ou 
grupo. Estas influências sociais implicam na forma como as instituições se organizam e 
em como o trabalho é realizado nestas. Dentre os modos de organização institucional, 
determinado socialmente, está o que é chamado de Divisão Social do Trabalho, que 
consiste em separar por etapas e por grupos as tarefas que devem ser executadas. Por 
exemplo: o grupo de cozinheiros, de nutricionistas, de copeiros e demais grupos 
possuem funções diferentes, bem específicas, e cada um é responsável por uma etapa de 
todo o processo, e isso é um exemplo de Divisão do Trabalho. Mas, esta divisão não é 
própria desta instituição, é uma construção histórica, ou seja, que foi elaborada ao longo 
de muito tempo pelos homens e serve para todas as instituições, não só para o HU. O 
mesmo pode ser dito sobre o modo de organização hierárquico das instituições. 
 
4 
Tais modos de organizações sociais, como a estrutura hierárquica e a divisão 
social do trabalho, impõem certas condições para cada grupo: cada um terá suas 
possibilidades e seus limites estabelecidos pelo próprio trabalho que executa, pela 
própria função que desempenha no processo geral. 
Dessa forma, os problemas e conflitos que surgem nestes processos não são 
conflitos pessoais e não devem ser abordados como “culpa de alguém”, 
individualmente. São resultantes do próprio trabalho e da forma como ele é executado, 
ou seja, das próprias condições, possibilidades e limites que o ordenamento hierárquico 
e a divisão social do trabalho impõem a cada grupo. Tanto que se trocássemos todos os 
indivíduos, as dificuldades não desapareceriam. 
Assim, tínhamos claro que as influências sociais e todas estas condições dadas 
pela hierarquia institucional e pela divisão do trabalho, no presente caso, partem das 
relações que se estabelecem desde o Ministério da Educação e o da Saúde com o HU 
como um todo, e continuam nas relações entre o HU e a Seção de Nutrição, e é dessa 
forma que tais influências chegam até os grupos que compõem esta Seção, regulando as 
relações entre estes grupos e participando da formação dos aspectos psicológicos aí 
presentes. 
 
5 
2 - Apresentação do local e condições nas quais a 
atividade de estágio aconteceu 
 
 O Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, “Rosa 
Pedrossian”, localiza-se em Campo Grande, é um dos principais hospitais responsáveis 
por receber toda população do Estado é considerado referência estadual para o 
atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). 
 Configura-se como um Hospital Escola, sendo mantido com recursos 
provenientes do Ministério da Saúde e da Educação. Como Hospital Escola é campo de 
estágio para vários cursos e universidades, entre elas a Universidade Federal de Mato 
Grosso do Sul (UFMS), Universidade para o Desenvolvimento do Pantanal (UNIDERP) 
e Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). 
 A divisão do trabalho no H.U./UFMS é organizada em razão das funções e 
objetivos de cada atividade, portanto, é dividido em Seções. Uma delas é a Seção de 
Nutrição que é responsável por preparar as refeições dos pacientes internados, 
acompanhantes, funcionários e residentes. Por sua vez a Seção de Nutrição também é 
subdividida em função das atividades desenvolvidas. 
 O início das atividades se deu quando a Chefe do Setor Administrativo da 
referida Seção solicitou os serviços à área de Psicologia do Trabalho do Curso de 
Psicologia do CCHS/UFMS com vista a eliminar os conflitos identificados entre os 
funcionários e que, na opinião da solicitante, impediam o bom andamento das 
atividades do grupo. A partir desta demanda, foi constituído um grupo de Estagiários 
que se interessaram pela temática e que foram supervisionados pela professora 
responsável pelas intervenções psicológicas requeridas. Este grupo, por sua vez, foi 
dividido em subgrupos, cada qual responsável por um Setor da Seção de Nutrição, 
sendo eles: Nutricionistas, Cozinheiros, Auxiliares de Cozinha, Assistentes 
Administrativos, Auxiliares Operacionais e Copeiros. 
 Com base nos dados levantados - através das reuniões em grupo e de observação 
de campo - foram feitos os confrontos entre os diversos dados coletados buscando as 
relações e a totalidade do fenômeno estudado, visando a partir disso e das pesquisas 
bibliográficas, elaborarmos sínteses e propostas de modificação da realidade estudada. 
Tendo em vista tal intuito, foram feitas as análises psicológicas das informações 
colhidas, a partir das quais foram criadas as representações gráficas apoiadas nos 
conceitos de Martín-Baró sobre Identidade, Conhecimento e Poder, a fim de facilitar a 
 
6 
exposição para os funcionários na reunião de devolutiva. 
 Este trabalho constitui-se, portanto, na síntese das atividades e resultados obtidos 
ao longo de aproximadamente um ano das atividades desenvolvidas nas Disciplinas 
Estágio Supervisionado em Psicologia Organizacional II e III, junto à Seção de Nutrição 
do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 
(UFMS). A atuação conjunta dos acadêmicos que cursavam os dois níveis de Estágio se 
deve a estratégia do grupo para garantir que não haja quebra de continuidade das ações 
em decorrência da formatura dos acadêmicos estagiários no nível III. Portanto, Neste 
momento as ações junto aos trabalhadores e a organização hospitalar continuam em 
desenvolvimentoa partir do que foi desenvolvido até o momento da elaboração deste 
Relatório. 
 No período letivo de 2005-2006, período contemplado por este Relatório, o 
Trabalho no Estágio Supervisionado em Psicologia Organizacional III, foi cumprido 
pelos acadêmicos que concluíram o curso em Junho de 2006. Portanto, a decisão de 
apresentarmos este para a apreciação neste Concurso foi tomada em comum acordo com 
os participantes e o termo de consentimento se encontra sob a guarda da Professora 
Supervisora. 
 
 
 
 
 
 
7 
3 - Descrição do trabalho 
 
 
3.1. - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
3.1.1 A Teoria Psicológica Sócio-Histórica 
 
 - Consciência e Trabalho 
 
 O contexto atual no qual o trabalho é realizado é o do capital, no qual há a 
acumulação deste por uma classe social, mediante a utilização do trabalho de uma outra. 
A classe que detém os meios de produção e condiciona o trabalho é chamada de classe 
burguesa e a que vende sua força de trabalho é a classe trabalhadora. Porém, esta 
relação de trabalho não foi sempre assim, pois esta forma de organização do trabalho se 
instalou a partir das Revoluções Francesa e Industrial, as quais consagraram o 
capitalismo como sistema sócio-econômico vigente. 
Entretanto, a forma de produção de mercadorias e o trabalho humano não podem 
ser confundidos. O trabalho é a atividade do homem por excelência, sendo através dele 
que a espécie humana pôde modificar a natureza em seu benefício, além de constituir a 
sua subjetividade e transformar o seu corpo. 
O trabalho se caracteriza desde quando o homem ainda era um ser nômade, que 
vivia da coleta de alimentos que era a forma de saciação de sua necessidade primeira: 
alimentação. Conforme as alterações ambientais e a falta de alimentos suficientes para a 
manutenção da espécie, o homem passou a criar instrumentos capazes de protegê-lo do 
frio, dominar o fogo, confeccionar armas e utensílios com elementos da natureza. Essas 
criações humanas, exigidas pelo enfrentamento com a natureza e propiciada pelo 
trabalho, transformam a organização psíquica do homem, que cria não só instrumentos 
práticos para lidar com a realidade, mas também instrumentos psicológicos, os quais o 
fazem dar um salto qualitativo em sua relação com a realidade material. 
A princípio, seu primeiro instrumento é seu próprio corpo: ao conquistar a 
bipedia, o homem reorganiza sua concepção de ambiente, sua percepção e 
psicomotricidade. A natureza segue exigindo maneiras mais sofisticadas de atuação para 
a consecução dos objetivos humanos, isto é, o homem novamente faz novo salto 
qualitativo ao modificar sua mão com o movimento de pinça, movimento este que 
 
8 
possibilita manipular instrumentos mais sofisticados, de maneira a, mais uma vez, 
reorganizar sua forma de lidar com o mundo externo. Engels (1999, s/p), em “Sobre o 
papel do trabalho na transformação do macaco em homem” diz: 
 
“Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza que tivera início 
com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do 
homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades 
até então desconhecidas”. 
 
O trabalho teve então o papel de transformar, historicamente, o macaco no 
homem de hoje, e as modificações que promoveu no ambiente físico propiciaram a 
transformação para a consciência do homem, fazendo dele o produtor de sua própria 
existência. 
O trabalho estabeleceu também a necessidade de uma linguagem, que nasce da 
atividade simpráxica que o homem exerce na natureza. Algumas convenções 
lingüísticas se fizeram necessárias e, a partir do trabalho conjunto, tivemos o advento da 
linguagem enquanto representação da realidade, a princípio como referencial, ou seja, 
ligada diretamente ao seu objeto e, posteriormente, a linguagem conceitual, a qual 
trouxe a possibilidade das Funções Psicológicas Superiores do homem, tais como o 
pensamento, a abstração, a emoção, a memória superior, etc. 
Concomitantemente às alterações biopsíquicas e à utilização da linguagem, o 
homem produz a cultura e a passa de geração a geração. Neste contexto, o homem deixa 
de ser nômade e passa ao sedentarismo, em decorrência da exaustão das possibilidades 
da coleta e a decorrente necessidade de cultivar seu próprio alimento. 
Este homem trabalhador já mantém com a natureza uma relação de domínio e o 
trabalho torna-se mais elaborado com a divisão natural do mesmo, ou seja, os homens 
mantinham trabalhos diferentes dos das mulheres, crianças e velhos, devido às suas 
compleições físicas e estrutura corpórea. Às mulheres cabia a criação dos filhos e os 
trabalhos artesanais das tribos humanas. 
Aqui, o homem já havia domesticado os animais, e produzia sua existência sem 
acumulação, sendo que todo produto do trabalho do grupo era dividido entre os seus 
membros. Mas esta situação foi constantemente modificada conforme a história, pois 
houve o aumento na produção e surgiu a necessidade de troca entre os membros. 
No século XII a.C., os gregos detinham propriedade privada e o trabalho era 
feito pelos escravos, resultantes das derrotas das guerras, os quais não tinham 
propriedade e prestavam-se a seus senhores. Com o desenvolvimento da ordem sócio-
política, cria-se a divisão pela propriedade da terra e estabelecem-se os reinos, 
 
9 
principalmente entre os séculos IV e IX, onde já estava vigendo um novo sistema 
social: o feudalismo. 
No feudalismo, o senhor feudal era o dono das terras, onde eram produzidos os 
meios de sobrevivência dos senhores e dos servos – trabalhadores que trocavam sua 
força de trabalho pela proteção dos senhores feudais. Neste modo de produção, os 
trabalhadores recebiam uma parte da produção ao trabalharem para seus senhores; 
conforme os meios de produção que possuíam, o que permitiu não só a reprodução de 
si, mas, em alguns casos, iniciarem a acumulação de bens e capital. 
Contudo, foi com o feudalismo que houve a emergência de trabalhadores 
manufatureiros, os quais fabricavam produtos artesanais e não tinham relação de 
serventia com os senhores feudais. Estes criam os Burgos, agregados de trabalhadores 
que exerciam o comércio e acumulavam riqueza. 
O período histórico em que os burgos surgiram e deram condições para a 
emergência de uma nova classe social, devido ao seu poder econômico, é chamado de 
mercantilismo. Neste, as mercadorias adquirem valor de troca e as terras já não mais as 
únicas fontes de poder. 
E deste período histórico em diante, esta nova classe se torna revolucionária, 
lutando contra os senhores feudais e o poder político exercido pela Igreja. Estas lutas, 
associadas com o desenvolvimento técnico do trabalho produtivo, produzem as 
condições necessárias para a nova configuração social, culminada com as Revoluções 
Francesa e Industrial, que instauram o capitalismo sob as bases da ideologia liberal. 
 
 
 
 – O Trabalho no Capitalismo 
 
Com o capitalismo, a classe burguesa surge como a detentora dos meios de 
produção, bem como do poder político, instituindo as leis do novo sistema social. O 
liberalismo, atrelado à idéia de liberdade da burguesia, torna-se hegemônico e é 
representada pela frase: “liberdade, igualdade e fraternidade”. Agora os homens eram 
livres, mas esta liberdade referia-se a não mais depender dos senhores feudais, o que 
levaria os homens agora livres, porém desprotegidos, a venderem sua força de trabalho 
aos detentores dos meios de produção capitalista. 
O capitalismo sustenta-se na acumulação do capital e esta se dá da seguinte 
forma: os homens, agora livres, têm a possibilidade de vender sua força de trabalho aos 
 
10 
capitalistas, ou seja, alienam parte de seu tempo livre e sua força de trabalho para 
trabalhar para aqueles que ficam com o produto do trabalho, trocado por um valor 
monetário, o qual deve servir para que os indivíduos consigam manter a si mesmos e 
suas famílias. 
No entanto, os capitalistasficam não apenas com o produto do trabalho, mas 
também com o valor agregado a esse produto pelo trabalho que não foi pago. Este 
trabalho não pago chama-se mais-valia, conceito desenvolvido por Marx (1999) e que 
se refere ao valor que um produto tem ao ser produzido, ou seja, seu valor de uso; e o 
valor que o produto passa a ter, acrescido da produção extra feita pelo trabalhador e não 
paga pelo capitalista, isto é, seu valor de troca. 
É sob estas condições que o trabalhador contemporâneo produz sua existência e 
sua consciência: não detendo o produto de seu trabalho, não percebendo como suas 
relações com a realidade se dão de forma parcial em decorrência deste modo de 
produção, e mais, também não se reconhecendo como produtor de sua própria vida. 
 
 
– A Consciência 
 
A consciência, de acordo com a Teoria Psicológica Sócio-Histórica, é um 
conjunto de conteúdos e processos subjetivos, tais como imagens de percepção e as 
Funções Psicológicas Superiores. É através da consciência que o homem irá se 
relacionar com o ambiente material e social sendo que é, por ela também, que pôde 
construir a cultura e a sociedade. 
A gênese da consciência se dá por meio da atividade do sujeito na realidade 
objetiva. Ao entrar em atividade, o sujeito cria novas conexões intrapsíquicas, formando 
assim as Funções Psicológicas, com as quais irá se orientar no mundo. A consciência é 
pautada pela representação social, isto é, pelo significado – conjunto de representações 
construídas socialmente e convencionadas por determinada cultura, e pelo sentido – 
representação individual produzida pela atividade do sujeito em relação ao significado 
social. Em outras palavras, o significado é social e o sentido é individual. 
 
O significado que, inicialmente, está no contexto sócio-cultural onde o sujeito 
se insere, é ressignificado pela sua atividade, mediando-a, atribuindo-lhe sentido 
próprio com base nas suas experiências afetivas anteriores. Aquele nos permite 
analisar o objeto, distinguir nele propriedades essenciais e relacioná-lo a 
determinada categoria, mas é o sentido que exprime os componentes afetivos 
para a exploração da realidade. 
 
11 
 
Para se entender consciência, faz-se necessário a explicação de como seus 
conteúdos e processos são interiorizados. A princípio, o homem, dotado da capacidade 
de ser afetado pela realidade objetiva, entra em relação com ela em busca da saciação de 
suas necessidades, sejam elas biológicas ou sociais e, para isso, necessita entrar em 
atividade em seu meio social. 
Porém, essa atividade deve ser motivada, e é este motivo que indica os objetos 
para a consecução de seus objetivos, isto é, o motivo é a contradição dialética entre 
necessidade individual e condições de saciação dessa necessidade dadas pela realidade 
material. O motivo da atividade é essencialmente emocional, tanto que nos sentidos do 
sujeito encontramos seus motivos, ou seja, encontramos o princípio emocional que o 
levou a entrar em atividade. 
A consciência do indivíduo é tratada por Leontiev (1995) como um reflexo da 
realidade, mas não um reflexo imediato, sendo, ao contrário, mediado por sua atividade. 
A consciência do homem é a representação do mundo para este homem, e esta 
representação está restrita às formas em que a cultura se organiza, às formas de 
produção material da vida e ao contexto histórico em que se dão as relações humanas. 
Segundo Leontiev (Idem), o homem reflete a realidade a partir de mediadores de 
sua consciência, que são os chamados instrumentos mediadores. Vários são os 
instrumentos mediadores da consciência: a linguagem, devido à sua capacidade 
representativa e comunicativa; a emoção, por ser a representação social dos afetos 
sentidos pelo homem e discriminados segundo a cultura e o momento histórico em que 
se dão. Portanto, se retomarmos a discussão acerca dos sentidos e significados, 
podemos dizer que para a consciência, a emoção é a contradição entre os afetos 
individuas e a representação social dos mesmos, sendo que por isso dizemos que o 
sentido é emocional, pois é o produto dessa contradição. Em outras palavras, os afetos 
do homem, quando significados socialmente, são sentidos por esse homem como 
particulares. 
Outro elemento mediador da consciência é o grupo social do qual o indivíduo 
faz parte. Este grupo representa a macro-sociedade, mas com algumas particularidades 
condicionadas à sua própria dinâmica e organização. Segundo Vigotsky (1999), a 
palavra é o microcosmo da consciência, o que nos indica que ela – elemento 
representativo da linguagem, que é também um mediador da consciência – carrega a 
significação e o sentido para o sujeito. Contudo, esta representação da linguagem é 
 
12 
contingente ao processo grupal no qual se dão as representações. 
Portanto, temos vários instrumentos mediadores da consciência do homem, e 
todos estão em constante processo de mudança, segundo o processo histórico. Não se 
pode tomá-los separadamente, devido ao fato de a atividade do homem ser tão diversa 
quanto seus processos intersubjetivos. Esta característica de multideterminação da 
consciência indica a complexidade dos processos individuais e seus matizes 
significativos, uma vez que o homem, este ser em movimento, está cotidianamente 
reestruturando sua consciência a partir de sua atividade em um mundo em constante 
transformação. Muito embora não concebamos esta mudança facilmente, as nuances 
cotidianas nos transformam aos poucos e, segundo o método dialético, este pouco se 
transforma em muito por saltos qualitativos, o que caracteriza o reconhecimento da 
mudança. 
Finalmente, a consciência é a instância produzida pela atividade do homem e 
que está constantemente produzindo o homem, em conjunto com o movimento histórico 
da humanidade. 
 
 
13 
 
3.1.2 A Teoria da Atividade 
 
O ser humano está inserido em um contexto sociocultural, e é através das 
relações que mantém nesse contexto que desenvolverá suas Funções Psicológicas 
Superiores, que são meios estruturados que promovem o funcionamento psicológico 
humano, surgindo a partir de diferenciações promovidas pelo desenvolvimento histórico 
e social do homem, através das relações reais estabelecidas no meio social. Assim, de 
acordo com Aguiar (2001, p. 96), "o homem está em relação com esse mundo; atua 
interferindo no mundo (atividade) e ao mesmo tempo é afetado por essa realidade 
constituindo seus registros [psicológicos]". Portanto, é com a atividade que o homem se 
insere no mundo, e por meio dela que ele se constitui, o que nos leva a concluir que o 
estabelecimento, desenvolvimento e caracterização da atividade é um dos processos que 
compõe e promove o funcionamento psicológico do ser humano. 
A atividade pode ser melhor compreendida como mediação, entre o homem e a 
realidade. Ela não é a ação, embora sob alguns aspectos possamos dizer que a atividade 
é a ação do homem sobre o mundo, inclusive sobre ele mesmo. Ela caracteriza-se por 
ocorrer a partir de uma necessidade que é demonstrada por um objetivo a ser alcançado: 
é assim que o motivo é objetivado e direciona a atividade; isto porque os motivos 
impulsionadores da atividade não são conscientes. Enquanto se toma consciência dos 
fins, a compreensão dos motivos permanece inconsciente, embora estejam presentes sob 
a forma de tônus emocional das ações. O verdadeiro motivo só será conhecido quando 
as ações explicitarem o motivo pessoal e, a partir dessa explicitação, levar ao motivo 
social interiorizado e transformado em interesse pessoal. Portanto, a emoção constituí-se 
quando o motivo é objetivado e, antes que ocorra a valorização social de sua atividade, 
são os estados emocionais que direcionam o sujeito para determinado objeto, ou seja, é 
a partir da emoção que a atividade é dotada de significação. 
De acordo com Wertsch (1988, p. 210 apud Leão, 1999, p. 31), a Teoria da 
Atividade de Leontiev diferencia trêsníveis de atividade, cada um caracterizado por um 
tipo específico de unidade. No primeiro nível, estão as atividades reais, concretas, 
desenvolvidas e determinadas pelo contexto sociocultural no qual o homem está 
inserido. 
O outro nível é o fato de "ser a unidade de uma ação orientada para um objetivo" 
(Leão, 1999, p.31). A ação é um meio de realizar a atividade e, conseqüentemente, de 
 
14 
satisfazer o motivo. O traço característico de uma ação é o fato de que é sempre 
orientada para um objetivo, almejando satisfazer um objetivo particular. Isso significa 
que ela pode fazer parte da realização de diversas atividades, de forma relativamente 
independente, uma vez que um motivo pode ser constituinte de diferentes atividades. O 
terceiro nível refere-se às operações, que se relacionam com as circunstâncias 
específicas que estão envolvidas na execução da ação e constituem o meio pelo qual 
uma ação é realizada. Enquanto uma atividade é orientada por um motivo, as ações são 
orientadas para as metas, e as operações orientadas pelas condições. Uma atividade é 
realizada através de ações cooperativas ou individuais, podendo se estabelecer cadeias 
ou redes de ações que estão relacionadas umas com as outras por buscarem atingir a 
mesma meta. Uma característica importante de uma ação é que ela é planejada antes de 
sua execução 
Dessa forma, a ação tem seu aspecto intencional e o operacional, que não se 
define pelo objetivo em si, mas pelas circunstâncias objetivas na qual se desenvolve. Na 
ausência de um motivo, realizam-se apenas ações ou operações, que são partes 
constitutivas da atividade, mas não são a própria atividade. 
A atividade tem papel determinante na formação da consciência, que é a mente 
humana como um todo, e a atividade é a interação humana com sua realidade objetiva - 
é através da atividade que a consciência vai diferenciar o mundo real das impressões 
interiores individuais; tendo a capacidade de observar a si mesma, de forma a manter a 
estabilidade objetiva das propriedades materiais, independente das subjetivas. 
É a partir da atividade que ocorrerá uma apreensão da realidade objetiva, não de 
forma passiva, mas de maneira ativa, criativa, sobre a base e no decorrer da 
transformação prática da realidade. Para que isso ocorra, é necessário que aja uma 
interiorização da atividade, que se dará por meio de signos sociais - a linguagem. Sua 
origem é social, e a linguagem tem grande importância em sua constituição, uma vez 
que a noção de "eu" se constrói na relação com o outro, desempenhando a função de 
contato social. Ela caracteriza-se pela relação que o indivíduo faz entre sentido (pessoal) 
e significado (social), através da atividade, quando o sujeito apreende a realidade como 
sendo particular e a torna consciente. 
A tomada de consciência, portanto, é a apreensão do sentido individual da 
atividade, que é uma construção social. Assim, a partir da atividade, o homem modifica 
o meio ao mesmo tempo em que é modificado, pois é pela atividade que o homem se 
objetiva e transforma a realidade, ao mesmo tempo em que transforma a si mesmo e se 
subjetiva. Por isso, deve ser objeto de estudo da psicologia, por situar o homem na 
 
15 
realidade objetiva e transformar tal realidade em subjetividade. 
A atividade também é determinante na constituição da identidade, que é um 
processo resultante da relação que o sujeito estabelece com o meio. Todas as funções 
Psicológicas Superiores são, inicialmente, fenômenos sociais, e como tal, não têm 
nenhuma característica de permanência. Porém, enquanto representação social de um 
indivíduo, a sua identidade é apenas pressuposta, cabendo ao indivíduo, através da 
atividade, acatar ou não a representação que lhe é atribuída pelos outros, sendo que, 
portanto, a identidade se constrói através da atividade. 
A atividade, ao mesmo tempo em que é construção do homem, é também 
"determinada pela forma que a sociedade se organiza para o trabalho" (Aguiar, 2001, 
p.99). Pois, como o trabalho é uma das manifestações da atividade humana que tem a 
centralidade na sua vida, ao ser interiorizado, reconfigura e se expressa em todas as 
demais atividades, por meio de signos sociais. Conseqüentemente, qualquer 
consideração acerca da atividade, da consciência ou de aspectos psicológicos do ser 
humano deve, necessariamente, considerar o contexto no qual ele está inserido, e é neste 
que os significados das palavras são construídos. 
A linguagem é um mediador para o processo de transmissão, reprodução de 
conhecimento e constituição do pensamento. Ela "reproduz uma visão de mundo, 
produto das relações que se desenvolveram a partir do trabalho produtivo para a 
sobrevivência do grupo social" (Lane, 1994, p. 32-33). Entretanto, a partir da atividade, 
essa linguagem social é interiorizada e transforma-se em Sentido pessoal das atividades 
e de seus contextos. 
 
 
 A Atividade Subjetiva 
 
O sentido da realidade e das atividades nela desenvolvidas é pessoal, relacionado 
diretamente "com a realidade, com a própria vida e com os motivos de cada indivíduo". 
(Lane, 1994, p.34). 
Isto porque, para satisfazer suas necessidades, o homem precisa atuar sobre o 
mundo, o que resulta também na construção do fenômeno psicológico, aqui entendido 
como "atividade do homem de registrar a experiência e a relação que mantém com o 
ambiente sociocultural" (Aguiar, 2001, p.98). Assim, 
 
"o homem constrói seu mundo interno na medida em que atua e 
 
16 
transforma o mundo externo. Mundos externo e interno são, portanto, 
imbricados, pois são construídos num mesmo processo, e a existência 
de um depende da do outro. Atuar no mundo é uma propriedade do 
homem, isto é, a atividade é uma das suas determinações". (Bock, 
1999, p. 143). 
 
A subjetivação da realidade ocorre a partir da sua interiorização, concebida 
como o processo pelo qual alguns aspectos da atividade que ocorreram externamente 
passam a acontecer no plano interno, onde sofrem modificações, adaptações e, 
principalmente, podem desenvolver-se de forma a extrapolar as possibilidades da 
atividade externa. 
Tal conceito, desenvolvido por Vigotsky, possibilitou o desenvolvimento das 
idéias psicológicas concretas sobre a origem das operações internas de pensar (Leontiev, 
1978). 
A atividade interna é um processo histórico: foi a partir do desenvolvimento 
ontológico que o homem tornou-se capaz de raciocinar e resolver tarefas apoiando-se na 
linguagem, sem que ocorresse a externalização de sua ação. Ela começa como uma 
atividade material e, devido às ações e operações requeridas pelo uso da linguagem, se 
interioriza em forma de sistemas neuropsicológicos sobre a base do sistema fisiológico, 
o que foi propiciado pelo desenvolvimento filogenético dos seres humanos. 
Portanto, a atividade interna é constituída socialmente, mas é produto da 
interação social sobre a atividade cerebral, uma vez que os processos psíquicos e 
fisiológicos formam uma unidade indissociável. 
De acordo com Leão (1999, p. 45), 
 
"... o pensamento apresenta-se como uma atividade propriamente dita, com 
ações e operações, e as funções cerebrais que as possibilitam. Essas 
transformações têm por base o desenvolvimento da linguagem e da palavra, 
quando estas passam a permitir a realização de ações, pela transmissão verbal 
de certos conteúdos. Especificamente, estes conteúdos só podem organizar os 
aspectos de planificação, organização e direção de uma atividade, visto que 
não podem produzir alterações físicas na natureza." 
 
 Nestas condições, qualquer operação ou ação de trabalho é dialeticamente 
promotora da conformação e de alterações na subjetividade dos homens, tornando-os, 
ao mesmo tempo, tão iguais e completamente diferentes. 
 
 
17 
 
 3.1.3 A Teoria de Campo de Kurt Lewin 
 
A Teoria de Campo de Kurt Lewin é um conjunto de conceitos por meio dos 
quais se pode representar a realidade psicológica.É um enfoque no qual o 
comportamento é visto como algo que ocorre em um campo ou sistema organizado, 
considerando os fatores externos e internos à pessoa, pois estes interagem para a 
determinação deste comportamento. 
Para Lewin, a Teoria de Campo não seria apenas um conjunto de conceitos com 
os quais se pode representar a realidade psicológica. A sua contribuição foi tornar os 
conceitos da Psicologia de Campo suficientemente abrangentes para serem aplicados à 
todas as espécies de comportamento e, também, torná-los específico para permitir a 
representação de uma pessoa definida em uma situação concreta. 
Assim, a Teoria de Campo de Lewin cria uma linha de pesquisa que, 
posteriormente, passa a ser conhecida, vulgarmente, como Dinâmica de Grupos. Ela 
permite justamente demonstrar e explicitar de uma maneira coerente com a ciência 
como essas relações que se dão entre as pessoas de determinados grupos podem ser 
percebidas, demonstradas e trabalhadas lógica e formalmente. Portanto, diferentemente 
daquilo que vinha sendo proposto, por exemplo, pela psicanálise e pela fenomenologia, 
que fazem uma abordagem com a intenção de lidar com a subjetivação, com 
mecanismos eminentemente psicológicos e inconscientes ou incompreensíveis à luz da 
consciência; a idéia de Lewin é que é possível mostrar esses processos através de 
conceitos e representações gráficas. 
As principais características da Teoria de Campo são as proposições que: 
- o comportamento é função do campo que existe no momento em que ele 
ocorre; 
- a análise começa com a situação como um todo, a partir da qual são 
diferenciadas as partes componentes; 
- a pessoa concreta, em uma situação concreta, pode ser representada 
matematicamente. 
O campo é definido como a “totalidade dos fatos coexistentes, concebidos em 
termos de mútua interdependência” (Lewin apud Hall & Lindzey, 1966, p. 234). O 
campo no qual o comportamento ocorre, é dividido em pessoa e meio, sendo este último 
diferenciado em partes psicológicas e não-psicológicas. Pessoa e meio psicológico são 
 
18 
mutuamente interdependentes. As forças que atuam no campo precisam ser entendidas e 
apreendidas e a cognição é o elemento fundamental que permitirá ao indivíduo conhecer 
e agir na realidade, pois ela descreve os processos psicológicos implicados na obtenção, 
no uso, no armazenamento e na modificação do conhecimento sobre o mundo e sobre as 
pessoas. Neste processo de cognição, o indivíduo constrói estruturas explicativas da 
realidade, sendo que tais estruturas orientarão a sua ação psíquica e, portanto, a sua 
interação em um grupo. Ao falarmos em estruturas cognitivas, estamos nos referindo às 
crenças, às opiniões, às expectativas, às hipóteses, às teorias e aos esquemas que o 
indivíduo já possui, bem como às indagações sobre estes, às possibilidades de respostas 
para estas indagações e aos recursos de organização para construção dessas respostas. A 
cognição é o processo que vai construir o significado do comportamento que será 
emitido pelo indivíduo. 
Na teoria proposta por Lewin, a pessoa é representada como ser distinto, e como 
parte de uma totalidade maior. O isolamento da pessoa do resto do universo é obtido 
através do desenho de uma figura fechada. 
 
 
 NÃO – PESSOA NÃO - PESSOA 
 
 
 
Tudo o que está dentro dos limites de P é pessoa; o que está fora é não-pessoa. O 
aspecto significativo desta figura é que ela descreve uma área totalmente delimitada e 
que se insere dentro de uma área maior. 
Porém, como a pessoa não é uma unidade perfeita, a estrutura da pessoa é 
heterogênea, subdividida em partes separadas, mas interdependentes e 
intercomunicantes. A pessoa se diferencia em região percepto-motora e região 
intrapessoal, sendo, esta última, dividida em células periféricas e células centrais. Dessa 
maneira, a pessoa é definida como uma região diferenciada no espaço vital. 
 
O espaço vital é o todo da realidade psicológica, o qual contém a totalidade dos 
fatos possíveis e capazes de determinar o comportamento do indivíduo, ou seja, o 
espaço vital representa o padrão total de fatores e influências que afetam o 
comportamento, em dado momento. O espaço vital inclui tudo o que for necessário para 
a compreensão do comportamento concreto de um ser humano individual em um dado 
 
P 
 
19 
meio psicológico e em determinado tempo. 
 
 
 
NÃO-PSICOLÓGICO NÃO-PSICOLÓGICO 
 
 
 P + M = V 
(M): meio psicológico; 
(P): pessoa; 
 (V): espaço vital. 
 
 A região entre os dois perímetros constitui o meio psicológico M e a área total 
dentro da elipse, incluindo o círculo, é o espaço vital V. 
O espaço fora da elipse é denominado, por conveniência, de mundo físico – 
apesar de não ser restrito apenas aos fatos físicos - e esta região representa os aspectos 
não-psicológicos do universo. 
Lewin, ao explicar o comportamento humano como uma função da interação 
entre a pessoa e o meio psicológico, propõe a seguinte equação: 
 
 C = f (P + M) 
(C): comportamento; 
(F): função; 
(P): pessoa; 
(M): meio psicológico 
 
Diante disso, podemos afirmar que o comportamento é uma função do espaço 
vital, pois se P + M = V, temos 
 
 
 O espaço vital é rodeado pelo meio físico, sendo que estas regiões distintas 
fazem parte de uma totalidade maior. Lewin chamou a região exterior e contígua ao 
limite do espaço vital de “invólucro externo do espaço vital”. O limite entre o espaço 
vital e o mundo exterior possui a propriedade de permeabilidade e assim, fatos não-
C = f (V) 
 
M M
 P
 
20 
psicológicos podem, e de fato o fazem, alterar fatos psicológicos. Também é verdadeiro 
que fatos psicológicos podem produzir alterações no mundo físico. 
 
- Invólucro Externo 
 
Outra propriedade do espaço vital é a de que a pessoa não é parte do meio psicológico e 
nem está incluída nele. 
Entretanto, o limite entre a pessoa e o meio é também permeável e, assim, os 
fatos do meio podem influenciar a pessoa e os fatos relativos à pessoa podem 
influenciar o meio. 
 
 
 
 
 
INVÓLUCRO EXTERNO 
 
 Quanto ao meio, também é necessário que este seja subdividido em regiões, pois 
o meio homogêneo e não diferenciado, no qual todos os fatos são igualmente influentes 
sobre a pessoa, não representa o verdadeiro status quo. Contudo, não é preciso 
distinguir entre diversas regiões do meio, já que todas as regiões são iguais. 
 Com isso, o espaço vital é, neste momento, representado por uma pessoa 
diferenciada, circundada por um meio diferenciado e, portanto, o espaço vital consiste 
de um conjunto de sistemas interconectados. Para Lewin, duas regiões estão conectadas 
quando um fato1, em uma região, está em comunicação com um fato em outra região e, 
também, quando os fatos de uma região são acessíveis aos fatos de outra. Quando isto 
acontece, temos uma ocorrência e o grau de interligação ou a extensão da influência 
entre as regiões é determinado pela resistência das delimitações, – se a resistência for 
forte, as regiões próximas possuirão pouca influência recíproca; já se a resistência for 
fraca, as regiões poderão sofrer influência recíproca mesmo muito separadas - pelo 
número de regiões intervenientes e pelas qualidades de superfície das regiões. 
 O número de regiões no espaço vital é determinado pelo número de fatos 
psicológicos separados, existentes em determinado momento. Por exemplo, se existem 
 
1 Para Lewin, fato é também algo não observável diretamente, mas que pode ser deduzido de algo 
observável. Existem fatos empíricos e fatos hipotéticos ou dinâmicos. O fato é representado por uma 
região. 
 
ESPAÇO VITAL 
 
21 
apenas dois fatos, a pessoa e o meio, só há duas regiões no espaço vital. Na pessoa, o 
número de regiões é determinado pelo número de fatos relacionadoscom a mesma. 
Se, por exemplo, a sensação de fome é o único fato existente, a esfera 
intrapessoal só terá uma região. 
 Em um meio diferenciado em regiões, os fatos de uma determinada região 
influenciam mais a pessoa do que os fatos de outra região. A compreensão de uma 
situação psicológica concreta exige o conhecimento da posição da pessoa no seu meio 
psicológico. Fisicamente, a pessoa pode estar em uma audiência mas, psicologicamente, 
pode estar pescando. 
 O modo pelo qual as regiões que formam o espaço vital se relacionam, é 
entendido através do grau de influência ou acessibilidade entre as regiões. A influência 
exercida pelas regiões do meio entre si é expressa através da facilidade com que uma 
pessoa pode mover-se de uma região a outra. A isto, Lewin denominou locomoção. Ao 
realizar uma locomoção, a pessoa move-se através do meio psicológico, porém, essa 
locomoção não significa movimento físico através do espaço. A influência mútua entre 
duas regiões intimamente conectadas é exercida quando as locomoções se tornam 
possíveis entre essas regiões. O meio psicológico, para Lewin, é uma região em que a 
locomoção se torna possível. 
 O processo pelo qual as regiões da pessoa expressam sua influência mútua, foi 
denominado comunicação. As regiões da pessoa estão conectadas quando podem 
comunicar-se entre si: a região perceptiva, por exemplo, se comunica com as células 
periféricas da região intrapessoal e, por sua vez, estas se comunicam com as células 
mais centrais. 
 De acordo com Lewin, locomoção e comunicação são ocorrências, pois resultam 
da interação de fatos. É necessário seguir três princípios ao deduzir-se uma locomoção, 
uma comunicação ou uma ocorrência do espaço vital. 
1. Princípio da conexão: uma ocorrência resulta sempre da interação de 
dois ou mais fatos. 
2. Princípio da concreção: somente os fatos concretos, isto é, aqueles que 
existem no espaço vital, podem ter efeitos. 
3. Princípio da contemporaneidade: apenas os fatos presentes podem criar 
comportamento atual. 
Kurt Lewin chamou de reestruturação do espaço vital todas as mudanças ou 
ocorrências estruturais resultantes da ação de uma região sobre outra. Dentre estas, 
podemos citar: o número de regiões pode aumentar ou diminuir, de acordo com a adição 
 
22 
ou subtração de fatos novos ao espaço vital; duas regiões distantes podem se aproximar 
e vice-versa; uma delimitação permeável pode tornar-se forte e uma forte tornar-se 
fraca. 
Há ainda duas outras dimensões do espaço vital. Uma é a de níveis de realidade, 
coordenada com conceitos de realidade e irrealidade. A realidade consiste em uma 
locomoção verdadeira, enquanto que a irrealidade consiste em uma locomoção 
imaginária. As locomoções se tornam mais fáceis, geralmente, à medida que a pessoa 
caminha em direção da irrealidade, pois as delimitações se tornam menos rígidas e a 
qualidade das superfícies das regiões mais fluidas. Lewin acredita que o conceito de 
níveis de realidade se aplica não somente às estruturas do meio, mas também à estrutura 
da pessoa, apesar de não ter trabalhado nesta questão. 
A outra dimensão é a do tempo. Apesar de passado e futuro não poderem afetar 
o comportamento atual, as atitudes, pensamentos e sentimentos da pessoa a respeito do 
passado e do futuro podem ser influentes sobre sua conduta. “O presente, portanto, 
inclui o passado psicológico e o futuro psicológico” (Lewin apud Hall & Lindzey, 1966, 
p. 250). 
Acima, vimos os principais conceitos estruturais da teoria lewiniana. Agora, 
veremos os principais conceitos dinâmicos constituintes da chamada psicologia vetorial. 
Lewin postula que a pessoa é um sistema complexo de energia. A energia 
psíquica é a que realiza o trabalho psicológico e é liberada quando a pessoa procura 
voltar ao estado de equilíbrio após um estado de desequilíbrio. Este é provocado por um 
aumento de tensão em uma parte do sistema, como resultado de um estímulo externo ou 
uma mudança interna. 
A tensão é um estado de uma região intrapessoal em relação a outras regiões 
intrapessoais. Como visto anteriormente, a pessoa é diferenciada em regiões e, a região 
intrapessoal, é dividida em células. Ao se referir às propriedades dinâmicas da região ou 
célula intrapessoal, Lewin chama a região de sistema. 
A tensão possui duas propriedades conceituais significativas. A primeira é que 
um estado de alta tensão em um determinado sistema tenderá a passar para os demais 
sistemas circunvizinhos, em estado de baixa tensão, até que o sistema todo atinja o 
equilíbrio. O meio psicológico pelo qual a tensão se equilibra é chamado processo, e 
este pode ser o ato de pensar, lembrar, sentir, perceber, agir. 
O estado de equilíbrio não significa, obrigatoriamente, que o sistema esteja sem 
tensão, embora a tensão sempre acabe por atingir a condição de equilíbrio. O equilíbrio 
no sistema significa que a tensão no sistema como um todo está bem distribuída ou que, 
 
23 
em um sub-sistema cujo volume de tensão seja desigual, está cercado e isolado dos 
outros sistemas interpessoais. 
A segunda propriedade é a pressão que a tensão exerce sobre a delimitação do 
sistema. Se essa delimitação for firme, a difusão da tensão de um sistema para os outros 
estará bloqueada, mas se não, a tensão fluirá de um sistema para os demais. Uma 
delimitação é uma região de resistência ou uma barreira. A força exercida na região de 
delimitação contra a força que é gerada dentro desta região é, provavelmente, 
determinada pelos estados de tensão nos sistemas circunvizinhos. 
O aumento de tensão ou a liberação de energia na região intrapessoal é causada 
pelo aparecimento de uma necessidade. Pode ser uma condição fisiológica como a 
fome, a sede, o sexo e pode ser o desejo de algo ou a intenção de realizar alguma coisa, 
portanto, um conceito motivacional, que equivale a termos como motivo, desejo, 
impulso. A necessidade é determinante do comportamento, ou seja, é iniciadora do 
comportamento. 
Para Lewin, cada necessidade é um fato concreto, devendo ser descrita em todas 
as suas especificidades a fim de que possamos compreender a verdadeira realidade 
psicológica. 
As necessidades de uma pessoa, segundo Lewin, são, em grande parte, 
determinadas por fatores sociais. 
Para conectar a motivação com o comportamento, Kurt Lewin utiliza os 
conceitos de valência e força ou vetor. 
A valência é a propriedade conceitual de uma região do meio psicológico, é o 
valor dessa região para a pessoa. Há dois tipos de valência: positiva e negativa. A região 
de valor positivo é a que contém um objetivo que reduz a tensão quando a pessoa nela 
penetra e, a de valor negativo, é a que aumenta a tensão. As valências positivas atraem e 
as negativas repelem. 
A fonte primária da valência é a necessidade, que organiza o meio em um 
trançado de regiões que atraem e repelem. A força de uma valência depende da força da 
necessidade somada a fatores não psicológicos que influenciam a valência de uma 
região. Contudo, uma valência não é uma força. Ela dirige a pessoa através do seu meio 
psicológico, mas não provê a pessoa do poder motivador para locomover-se. 
A locomoção ocorre sempre que uma força age sobre uma pessoa. Força e 
tensão são conceitos diferentes, pois a força existe no meio psicológico e a tensão é uma 
propriedade do sistema intrapessoal. 
 
24 
A direção, energia e ponto de aplicação são três propriedades conceituais de 
força, e estão representadas matematicamente pelo vetor. Quando apenas um vetor age 
sobre a pessoa haverá uma locomoção ou tendência para mover-se na direção do vetor, 
mas quando dois ou mais vetores impulsionam a pessoa para diferentes direções, 
dizemos que a locomoção será decorrente da resultante de todas as forças envolvidas. 
 
 
 
 
 
 A direção de um vetor é determinada pela localização de uma região, seja de 
valência positiva ou negativa; a força de um vetor está relacionadacom a força da 
valência, com a distância psicológica entre a pessoa e a valência e com a potência 
relativa de outras valências. 
 Percebemos que uma necessidade libera energia, aumenta a tensão, comunica 
valor e cria força e, em geral, qualquer locomoção pode ser atribuída aos conceitos de 
necessidade, tensão, força, valência, barreira, às propriedades do meio, à dimensão da 
realidade-irrealidade e à perspectiva do tempo. 
 A reestruturação dinâmica do meio psicológico pode ser resultado de mudanças 
nos sistemas de tensão da pessoa, da locomoção ou dos processos cognitivos. A 
reestruturação também pode resultar da interferência de fatores do invólucro externo no 
meio psicológico. 
 O retorno da pessoa à um estado de equilíbrio é o objetivo último de todos os 
processos psicológicos e, para que esse objetivo seja alcançado, é preciso que ocorra 
uma locomoção adequada no meio psicológico. 
 Notamos também que Lewin procura matematizar seus conceitos porque 
acredita que as representações matemáticas requerem uma formulação precisa, além de 
ser possível compor as equações racionais que conectam conceitos diferentes e formular 
relações funcionais. Porém, a matemática utilizada por ele é um tipo de matemática para 
descrever interconexões e intercomunicações das regiões espaciais, sem nenhuma 
referência a grandeza ou forma. 
 
 
 
 
 
P 
 
25 
 
 Maiorias e Minorias Psicológicas 
 
Lewin se utiliza, ainda, dos conceitos de maioria e minoria psicológica, 
afirmando que toda minoria psicológica possui, antes de tudo, dimensões sociais, ou 
seja, são sociais em sua origem, em suas estruturas e em sua evolução. 
Desde o início de seus estudos, procurou distinguir as definições de 
minoria/maioria da Demografia e da Psicologia. 
Em Demografia, a maioria é composta de cinqüenta por cento mais um dos 
indivíduos que compõe a população em que está inserido e, por sua vez, todo grupo 
composto por menos de cinqüenta por cento da população é tido como a minoria. Em 
Psicologia, a maioria psicológica é aquela que dispõe de estruturas, de um estatuto e de 
direitos que lhe permitam autodeterminar-se, independentemente do número ou da 
porcentagem de seus constituintes. É classificado como minoria psicológica o grupo 
que não possui direitos totais ou um estatuto pleno que lhes permita optar quanto a seu 
futuro, tendo seu destino subordinado à boa vontade de um outro grupo, se percebendo, 
então, em estado de tutela, também independentemente do número ou porcentagem de 
seus constituintes. 
Em uma maioria psicológica, as forças existentes no grupo são forças positivas e 
de atração, havendo força centrípeta – que atrai o indivíduo para o centro do grupo – 
proporcionando, com isso, maior coesão e integração grupal. As forças são positivas 
quando as condições presentes no grupo são condizentes com as necessidades de seus 
membros e aí, não há o desejo de abandonar o grupo. 
Já em uma minoria psicológica as forças são negativas e de repulsão, havendo 
força centrífuga – que repele o indivíduo para a periferia ou para as margens do grupo – 
comprometendo, com isso, a coesão e integração grupal. Os indivíduos que se mantêm 
nesta margem constituem os denominados marginais, que são dotados do que Lewin 
chama de Chauvinismo Negativo – o qual consiste em um ódio a si e ao seu grupo. Este 
ódio surge justamente quando as condições do grupo não atendem as necessidades dos 
seus membros, fazendo com que estes desejem abandonar o grupo. Porém, o grupo 
majoritário não os aceitam como membros e, assim, estes marginais são impedidos de 
se integrarem ao grupo majoritário, mas não desejam pertencer ao grupo minoritário, 
permanecendo na margem deste. 
A superação desta situação exige que o grupo se imponha e conserve um 
Chauvinismo Positivo, uma lealdade ao grupo, e não espere concessões do grupo 
 
26 
majoritário. 
Para tanto, pode tornar-se necessária a presença de alguns líderes e, sobre isso, 
Lewin afirma que o bom líder é aquele que não guarda – ocultamente em si – nenhuma 
forma de chauvinismo negativo e possui plena lealdade e aceitação de seu grupo, isto é, 
não busca a liderança apenas para se destacar de seu grupo por não aceitá-lo e para se 
aproximar do grupo majoritário. 
 
 
Campos e Conhecimento 
 
 Entre os pressupostos de Lewin, cabe discorrermos ainda a respeito das idéias de 
campo perceptual e campo de conhecimento, e a relação entre o conhecer e o que vai 
fazer suporte a esse conhecimento, dado pela dinâmica de figura e fundo, tal qual ela é 
apresentada na geometria e na física, e pela idéia do insight como a possibilidade de 
apreensão de um conhecimento verdadeiro, a partir do momento em que a percepção 
coincide com as estruturas, pois essa é a idéia das estruturas biológicas humanas como 
similares às estruturas da natureza. A estrutura é a mesma e vai ter um momento em que 
elas vão coincidir. 
 A compreensão de uma situação psicológica concreta requer o conhecimento da 
posição da pessoa no meio psicológico. O espaço vital representa o padrão total de 
fatores e influências que afetam o comportamento, em dado momento. As forças do 
campo precisam ser entendidas e apreendidas no campo e a cognição é o elemento 
fundamental para permitir que o indivíduo conheça, use, guarde e depois aja naquela 
realidade. E nesse processo de cognição, o indivíduo constrói estruturas explicativas 
desta realidade e estas estruturas explicativas vão orientar a sua ação psíquica e, 
portanto, a sua interação no grupo. A Cognição descreve os processos psicológicos 
implicados na obtenção, no uso, no armazenamento e na modificação do conhecimento 
sobre o mundo e as pessoas. Então, conforme o indivíduo tenha possibilidade de obter, 
usar, armazenar e modificar conhecimento, ele vai dar uma determinada configuração 
ao seu campo psicológico, ao espaço aonde ele vive. 
As estruturas cognitivas compreendem as crenças, opiniões, expectativas, 
hipóteses, teorias e esquemas que o indivíduo já possui, as indagações que ele tem sobre 
eles, as possibilidades de respostas que o indivíduo tem pra estas explicações e os 
recursos de organização para construção dessas respostas. 
 Um indivíduo, ao construir hipóteses, ou elaborar algum tipo de teoria, está 
 
27 
utilizando o conhecimento que tem para construir novo conhecimento e, ao faltar 
informações e/ou dados, o próprio esquema cognitivo vai fazer com que o indivíduo 
busque estas informações que faltam. A cognição é o processo que vai construir o 
significado do comportamento que o indivíduo vai emitir, ou seja, depende do 
significado que tem o estímulo que o indivíduo vai receber. Assim, trabalhando com um 
grupo, é possível entender porque o grupo reage a alguns estímulos vindos de membros 
do grupo e não reagem a outros vindos de pessoas externas ao grupo, o que leva Lewin 
a afirmar que para mudar o sujeito deve-se mudar o grupo. O que vai determinar esta 
significação, é a experiência psíquica de cada indivíduo, aquilo que Lewin vai chamar 
de campo, a existência no campo. 
 Dentro do campo existe algumas condições para que os fenômenos sejam dados, 
e Lewin trata disso através de alguns conceitos que vão permitir descrever as 
propriedades de um grupo, como o grau de coesão dentro deste. Entender o grau de 
coesão significa poder determinar qual é o grau de atração mútua entre os membros do 
grupo, entre os sujeitos que apresentam acontecimentos psíquicos no campo vital. 
Quanto mais coesos são os fenômenos no campo vital, mais forte é o campo, portanto, 
mais forte a estrutura. A estrutura de quase todos os grupos é hierárquica, as posições 
são ordenadas quanto ao status e ao poder, das mais elevadas às mais baixas. Sujeitos 
com alto grau de coesão intragrupal, em geral, são sujeitos de difícil transformação, são 
chamados de sujeitos fortes. 
Segundo Lewin, as condições nas quais vão se dar o processo, que dinâmicaserá 
instituída e que tipos de forças estarão em relação, dependem da gênese do grupo. 
 O que vai garantir, estruturar e organizar a forma de funcionamento e as relações 
dentro de um grupo, é como este surgiu e a dinâmica que se dá na relação entre os 
participantes para a construção dos seus objetivos. A idéia de dinâmica de grupo de 
Lewin está baseada na Gestalt e a idéia de estruturas é de estruturas baseadas na gênese. 
Portanto, é necessário estar dentro do grupo para compreender como se deu seu 
nascimento e, a partir de como surgiu, os objetivos que vai perseguir e que 
comprometem e envolvem os seus participantes. Sem conhecer a gênese do processo, 
não há como entender a dinâmica que se estabelece a partir disso. Portanto, a dinâmica é 
indissociável da gênese porque são os momentos iniciais de formação do grupo que 
determinam como ele vai seguir, qual o seu dever e quais são as suas etapas. 
 O campo não se restringe àquilo que podemos entender como espaço do grupo. 
Para saber qual é o campo do grupo deve-se olhar intragrupo, ou seja, as relações entre 
os sujeitos e qual é a construção de cada um dos sujeitos que compõe o grupo, a própria 
 
28 
dinâmica do grupo e, então, o grupo para a sociedade e a sociedade para o grupo. 
Portanto, o campo está sendo constituído pela pessoa, pelo meio psicológico como ele 
existe para o indivíduo e o macrogrupo, que é a sociedade como um todo. 
 Assim, para compreender a dinâmica de um grupo é necessário entender o 
ambiente onde ele se dá. A relação intragrupo são relações sociais de forças no espaço 
vital do indivíduo, porque o espaço vital está organizado a partir da cognição e a 
cognição é individual. Quantos indivíduos tiverem no grupo, tantas cognições, então 
tantos campos psicológicos terão. Esses campos se relacionam e é a partir deles que as 
pessoas se comportam. Assim, relações intragrupos são compreendidas pelo 
entendimento de como o campo psicológico está organizado pela cognição e a 
totalidade disso é o espaço vital do indivíduo, a totalidade dos acontecimentos 
psicológicos, incluindo pessoas e ambiente. 
 Se a cognição em si faz com que o indivíduo entenda e depois concorde, o 
comportamento é movimento no espaço e, dependendo do espaço que este tem, a 
possibilidade de desenvolvimento está praticamente condicionada. 
Já que existem essas complicações entre as relações intragrupos, as estruturas de 
cognição e o ambiente, é necessário considerar que o indivíduo e o grupo são um 
sistema interdependente. 
 A idéia do Lewin é contra as abordagens atomísticas, e faz uso de uma 
abordagem que permite o entendimento da totalidade fazendo o confronto entre o 
perceptível e o ponto determinante e, portanto, é o determinado enquanto figura e o 
determinante enquanto fundo. Sendo assim, os métodos atomísticos, para ele, são 
improváveis de darem conta desse objeto porque o fenômeno de grupo se torna 
inteligível quando se consegue praticar neste fenômeno cortes analíticos sociais 
concretos. Quanto menor a área de corte, maior a possibilidade de se entender a 
dinâmica porque há o acompanhamento do funcionamento sem destruir o objeto. 
 Segundo Lewin, para ser válida a exploração científica dos grupos relativa ao 
campo da psicologia das relações intergrupais, deve se dar em constante referência à 
sociedade global, na qual o fenômeno do grupo se manifesta. Assim, nunca deve-se 
trabalhar um grupo como se ele existisse independente da sociedade. E, ao abordar e 
interpretar cientificamente os fenômenos da magnitude destes que o grupo envolve e 
desta complexidade, deve-se realizar uma aproximação complementar com todas as 
ciências sociais. 
 O que faz a dinâmica do grupo são as relações intergrupais, e estas relações 
estão calcadas na comunicação que se estabelece dentro deste. Porém, Lewin afirma que 
 
29 
estas comunicações são precárias. Quando a compreensão é comum no grupo, as 
pessoas compreendem o que as outras estão falando e, então, a relação é sincera, 
imediata, e isso cria a possibilidade do grupo liberar a sua capacidade de criar e agir, 
porque ele já não tem mais estas quebras comunicacionais. 
A comunicação é o aspecto mais relevante dentro das relações interpessoais em 
um grupo. Ele afirma que a produtividade e a eficiência de um grupo estão 
estreitamente relacionadas não apenas com a competência de seus membros, mas com a 
solidariedade de suas relações interpessoais. 
A partir das experiências de Lewin com grupos, Shultz – um psicólogo norte-
americano, professor da Universidade de Harvard – descreve as suas idéias sobre 
comportamentos interpessoais. Ele afirma que um membro só aceita fazer parte de um 
grupo a partir do momento em que tem “necessidades fundamentais” satisfeitas dentro 
desse grupo, caso contrário, ou ele se recusa a participar, ou é eliminado do grupo 
(Shultz apud Mailhiot, 1977, p.66). 
Considerando grupo como um conjunto de indivíduos que se inter-relacionam 
por sua interdependência, considera-se que o mesmo é o terreno onde o indivíduo se 
sustenta e satisfaz as suas necessidades, sendo o alicerce sobre o qual ele se mantém e o 
apoio que lhe concede ou nega status social, segurança e auxílio. O grupo ao qual o 
indivíduo pertence não é somente uma fonte de segurança ou proteção, como também 
determina o que o indivíduo considera certo ou errado, seus desejos e seus objetivos. 
 As necessidades do indivíduo no grupo são interpessoais, pois só são satisfeitas 
em e pelo grupo. Podem ser resumidas em três: necessidade de inclusão, de controle e 
de afeição. A forma como o indivíduo satisfaz essas necessidades depende do seu 
comportamento dentro do grupo; os dependentes quanto à sua inclusão, demonstram ser 
mais abdicadores quanto ao controle e hiperpessoais quanto à afeição; os 
contradependentes, mais autocratas e hipopessoais; e finalmente os interdependentes, 
que são mais democratas e interpessoais. 
 Segundo Bavelas (apud Mailhiot,1977), a comunicação só existe quando se 
estabelece entre duas ou mais pessoas um contato psicológico, sendo que este último só 
surge em uma relação autêntica, em que se tem bem definido o que sabe, sente e pensa 
um grupo organizado para que se alcance determinado objetivo. 
 Em diversas pesquisas, compreende-se diversos tipos de comunicação humana, 
que variam segundo os instrumentos de contato, pessoas e objetivos. 
 Segundo os instrumentos, têm-se as comunicações verbais e não-verbais, sendo 
que uma não pode sobressair à outra, complementando-se reciprocamente. Quanto às 
 
30 
pessoais, ela pode ser a dois, de modo pessoal ou profissional, ou de grupo em relações 
intragrupo ou intergrupo. 
E finalmente, quanto aos seus objetivos, a comunicação pode ser consumatória, 
quando é gratuita e espontânea, ou instrumental, quando a utiliza o sujeito da 
comunicação com objetivo de assegurar ganhos e satisfazer interesses. 
 Uma comunicação autêntica não existirá ou será impedida quando houver 
distâncias físicas ou psicológicas. Para que isso não ocorra, deve-se identificar as vias 
de acesso à comunicação. São mencionados como vias de acesso, os meios de 
comunicação e os canais de comunicação (divididos em formais, espontâneos ou 
clandestinos), ambos constituindo uma rede de comunicação. Segundo Bavelas, “quanto 
mais forem espontâneas as vias de acesso ao outro e menos formais os canais de 
comunicação, mais a comunicação com ele tem possibilidade de tornar-se adequada e 
autêntica” (apud Mailhiot,1977, p.75). 
 Em um grupo, também é importante que se observe a forma de relacionamento, 
que pode ser igualitária ou horizontal (em círculo, quando o grupo é democrático, ou em 
cadeia, quando o grupo se caracteriza pelo modo “laissez-faire”), ou pode ser 
hierarquizada ou vertical (em “y”, quando o grupo é democrático, mas em vias de 
tornar-se autocrático, ou em roda, quando o grupo é especificamente autocrático). Neste 
aspecto,Bavelas conclui que “quanto mais a autoridade se exerce de modo democrático, 
mais o clima de grupo torna-se e se mantém igualitário e, em conseqüência, as 
comunicações tornam-se e permanecem mais abertas” (Idem, p.77). 
 A comunicação possui os seguintes componentes: o emissor; o receptor; a 
mensagem, que pode ser ideacional, quando se trata de informação, afetiva, podendo ser 
positiva ou negativa, ou vital quando possui conteúdos intelectuais e afetivos; o código, 
que pode ser público ou secreto; e o destaque ou camuflagem quanto ao conteúdo 
constante na mensagem e o código utilizado. 
 Em uma comunicação problemática, podem haver bloqueios provisórios (ruídos) 
ou permanentes, que interrompem completamente a comunicação, ou também há 
filtragens, em que se interrompe parcialmente a comunicação. Os bloqueios e filtragens 
perturbam as percepções do sujeito quanto a si mesmo e aos outros, tornando falsas as 
atitudes e os comportamentos interpessoais. 
 As perturbações e distorções provisórias ou temporárias na comunicação podem 
provir de seis fontes diferentes: do emissor, como inibições interiores ou tabus 
exteriores; do código, quando há diferenças culturais; e quando há percepção seletiva do 
receptor, estados de alienação ou sensibilidade exclusiva para a comunicação verbal. 
 
31 
Quando se trata de grupos autocráticos, dois modos de perturbação ou distorção são 
identificados: a hostilidade autista de quem detém o poder e a transmissão seletiva do 
subordinado. 
 Segundo Mailhiot (1977), as relações interpessoais podem ser acentuadamente 
prejudicadas pelos preconceitos, pelas distâncias sociais (em uma relação intergrupal) e 
pelas barreiras psicológicas (na relação intragrupal, quando há uma percepção vertical 
do outro, onde alguns dos membros de um grupo são vistos de baixo para cima). 
 Ainda de acordo com Mailhiot (idem), “para chegar ao altruísmo e tornar-se 
capaz de abertura em suas comunicações humanas, o ser humano, qualquer que seja seu 
grau de socialização, deve liberar-se dessa falsa obsessão de que só aqueles que nos 
parecem semelhantes nos são próximos e que para serem fraternais conosco, os outros 
devem ser idênticos a nós”. Dessa forma, está dado o primeiro passo no aprendizado da 
autenticidade, que é a especificidade desenvolvida para que o grupo alcance o seu 
objetivo. 
 
 
 
32 
 
3.1.4 Sistema, Grupo e Poder – Ignácio Martin-Baró 
 
 
 Em geral, os autores definem grupo como sendo uma unidade que se dá quando 
os indivíduos interagem entre si e compartilham algumas normas e objetivos. Muitos 
são os aspectos indicados como relevantes para diferenciar um grupo de outras situações 
em que verificamos a presença de várias pessoas em uma mesma atividade. 
 Neste sentido, Martín-Baró fala em processo grupal e não em grupo ou dinâmica 
de grupo. Não se trata apenas de diferença na denominação, mas uma diferença 
profunda no fenômeno estudado. Ao falar em processo, os autores remetem ao fato do 
próprio grupo ser uma experiência histórica, que se constrói num determinado espaço e 
tempo, fruto das relações que vão ocorrendo no cotidiano, ao mesmo tempo, que traz 
para a experiência presente vários aspectos gerais da sociedade, expressos nas 
contradições que emergem no grupo. O autor define grupo como "uma estrutura de 
vínculos e relações entre pessoas que canaliza, em cada circunstância, suas necessidades 
individuais e/ou interesses coletivos" (1989, p.206). 
Ressalta ainda que um grupo é uma estrutura social, “é uma realidade total, um 
conjunto que não pode ser reduzido à soma de seus membros” e que "a totalidade do 
grupo supõe alguns vínculos entre os indivíduos, uma relação de interdependência que é 
a que estabelece o caráter de estrutura e faz das pessoas membros" (Idem, ibidem). 
Assim, segundo o autor, um grupo constitui um canal de necessidades e 
interesses em uma situação e circunstância específicas, afirmando, com isso, o caráter 
concreto e histórico de cada grupo. 
O autor considera seis fatores que são necessários para a caracterização de um 
grupo: 
1. A percepção dos membros – pois, somente quando os indivíduos se percebem 
como relacionados uns com os outros, podem atuar em função dessas relações. 
Para que isto ocorra, deve também existir a percepção da totalidade das ações 
unitárias; 
2. Uma motivação compatível - a condição essencial para existência de um grupo 
se encontra na necessidade e motivação das pessoas, que as levam a buscar sua 
satisfação através da relação com outras pessoas; 
 
33 
3. Possuir um objetivo comum – Diferentemente da motivação, o objetivo comum 
será o que irá garantir a unidade grupal, fortalecendo o grupo. 
4. Uma organização - a natureza do grupo não está nas partes, e sim no todo; o 
elemento unitário não se dá pela característica comum a todos os indivíduos, e 
sim, por um ordenamento peculiar e mais ou menos estável dos vínculos entre 
eles; 
5. Interdependência – a vinculação dos indivíduos entre si faz com que eles se 
tornem dependentes um dos outros, e esse fato é o que garante a unidade; 
6. Interação entre os membros – é essencial para a existência do grupo, tal qual a 
norma, e implica em dizer que a ação de um deve estar necessariamente ligada à 
ação do outro. 
 
 Apresenta ainda, três parâmetros principais para a análise do processo grupal: a 
identidade do grupo, ou seja, a definição do que é e o que o caracteriza como tal frente a 
outros grupos; o poder de que dispõe o grupo em suas relações com os demais grupos e 
a atividade grupal e mais a significação social do que produz essa atividade grupal 
(1989, p. 208), pontuando que não são aspectos grupais independentes. 
 Um dos fatores para análise do grupo é a identidade, que se define pelo grau e 
pelo caráter da formação organizativa do grupo, pela relação com outros grupos e pela 
consciência que seus membros têm acerca de seu próprio grupo. Entretanto, a 
Identidade demanda a existência de uma totalidade, uma unidade de conjunto, que acaba 
por gerar uma peculiaridade que a diferencia dos outros grupos. A identidade do grupo 
acaba por transcender e condicionar a identidade individual dos membros. 
 A identidade se formará tendo em vista os seguintes critérios: 
• Forma de organização – é o grau de estruturação interna, a 
institucionalização ou normatização do grupo. Ela é a primeira organização a 
surgir, pois determina as condições para que os indivíduos pertençam aos 
grupos. Essas normas vão traduzir a identidade do grupo; 
• Relação com outros grupos – são as relações com outros grupos que 
configurarão a identidade, primeiro criando-a e depois a mantendo; 
• A consciência de pertencer a um grupo – quando a pessoa pertence à um 
grupo ela toma como referência para sua própria identidade a identidade do 
grupo e isso requer que ela interiorize o pensamento do grupo. 
 O poder é a capacidade de obter diferenciais vantajosos em relação a outros 
grupos que lhe permitem alcançar seus objetivos, inclusive impondo sua vontade à 
 
34 
outros grupos sociais, ainda que não seja de forma coercitiva. 
 O que garante o poder é a superioridade que os grupos possuem em suas 
relações sociais. O grupo que possuir mais recursos (sejam de qualquer natureza), será o 
grupo dominante. Um grupo pode ser poderoso por ter a capacidade técnica e cientifica 
ou por conhecer a práxis, entretanto, os recursos serão definidos pela sociedade em que 
eles vivem. 
Para entender um grupo é necessário compreender sua dinâmica de 
funcionamento e sua atividade, o que faz, que tarefa desenvolve, quais suas metas. 
Já o Conhecimento, é aquilo que entendemos do mundo e de nós mesmos e que 
utilizamos psicologicamente para realizarmos as ações necessárias para as nossas vidas, 
sendo adquirido através das nossas próprias atividades. Cada grupo tem que ser capaz 
de produzir um efeito real da vida social para afirmar sua identidade, e a ação

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