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enriquecimento ambiental felinos[5635]

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE 
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 
 
 
 
 
Maria Fernanda Caggiano Aidar 
 
 
 
 
 
 
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NA REINTRODUÇÃO DE FELINOS 
NA NATUREZA (MAMMALIA: CARNIVORA: FELIDAE) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2015 
MARIA FERNANDA CAGGIANO AIDAR 
 
 
 
 
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NA REINTRODUÇÃO DE FELINOS 
NA NATUREZA (MAMMALIA: CARNIVORA: FELIDAE) 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como 
parte dos requisitos exigidos para obtenção do 
grau de Bacharel no curso de Ciências 
Biológicas. 
 
 
 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Paola Lupianhes Dall’Occo 
 
 
 
São Paulo 
2015 
MARIA FERNANDA CAGGIANO AIDAR 
 
 
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NA REINTRODUÇÃO DE FELINOS 
NA NATUREZA (MAMMALIA: CARNIVORA: FELIDAE) 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado ao Centro de Ciências 
Biológicas e da Saúde, da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
como parte dos requisitos exigidos 
para a conclusão do Curso de 
Ciências Biológicas. 
 
 
 
Aprovado em 
BANCA EXAMINADORA 
 
_______________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Paola Lupianhes Dall’Occo 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Leandro Vieira 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Magno Botelho Castelo Branco 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana 
Mackenzie, por ter iniciado meus estudos em Biologia e ter me proporcionado 
excelentes educadores e momentos maravilhosos. 
À minha orientadora Prof. Dra. Paola Lupianhes Dall’Occo pelo apoio durante 
o processo, por todo conhecimento compartilhado e por lições aprendidas que eu 
vou levar para a vida profissional e pessoal. 
Aos meus professores por participarem da minha formação, em especial, ao 
Prof. Dr. Leandro Vieira e ao Prof. Dr. Magno Botelho Castelo Branco por terem 
aceitado o convite para fazer parte da minha banca examinadora. 
À Deus, por me direcionar para o caminho certo. 
Aos meus pais Silvia e Paulo por sempre me apoiarem para que eu seguisse 
meus sonhos e me incentivarem a continuar adiante. 
As minhas Amigas da Biologia, Ana, Dani, Mari, Tha e Vivi, pelo 
companheirismo, por todos os trabalhos, as saídas de campo, as risadas, o apoio e 
as memórias inesquecíveis. 
A todos que trilharam esse caminho comigo, me incentivaram, me mantiveram 
focada e não me deixaram esquecer os meus motivos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu só queria que o mundo fosse duas vezes 
maior e metade dele estivesse inexplorado. 
(David Attenborough) 
 
 
 
RESUMO 
 
O enriquecimento ambiental em animais cativos reduz os níveis de estresse e 
execução de estereotipias, melhora o desempenho reprodutivo, mantém os 
comportamentos naturais da espécie e promove o desenvolvimento de candidatos 
mais competentes, comportamentalmente, para reintrodução. Felinos atraem a 
atenção de pesquisadores, pois tem uma tendência maior a apresentar estereotipias 
e muitas espécies estão ameaçadas, sendo a reintrodução de espécimes um dos 
métodos para mitigar a situação. A reintrodução é uma técnica de conservação 
utilizada para restaurar ou reforçar populações de espécies que sofreram um 
extenso declínio. Assim, o presente estudo tem como objetivo, através de 
levantamento bibliográfico, pesquisar e analisar métodos de enriquecimento 
ambiental utilizados em programas de reintrodução de felinos, compilando 
informações dispersas na literatura, servindo de subsídio para futuras pesquisas e 
ações de conservação. Dos artigos pesquisados nas bases de dados, apenas 4 
relacionam técnicas de enriquecimento ambiental com a reintrodução de felinos: 
desses, todos ofereceram enriquecimento alimentar e físico; 75% ofereceram 
enriquecimento social e 25% ofereceram enriquecimento sensorial; o enriquecimento 
cognitivo não foi oferecido. Após análise dos estudos, foi possível concluir que há 
poucas publicações sobre o assunto e, nas que existem, falta detalhamento quanto 
os enriquecimentos utilizados. Estudos de reintrodução utilizando essa técnica 
devem ser incentivados, tendo em vista que ela é bem sucedida em animais de 
cativeiro. As pesquisas devem ser realizadas de maneira minuciosa e com o apoio 
de órgãos fomentadores, já que envolvem alto custo e longo tempo de duração. 
 
Palavras-chave: Conservação ex situ. Manejo. Reabilitação. Fauna Silvestre. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Environmental enrichment for captive animals reduces stress levels and 
stereotypic behaviour, improves reprodutive sucess, keeps natural behaviour and 
promotes the development of more behaviourally appropriate candidates for 
reintroduction. Felids attract the attention of researchers because they have a greater 
tendency to presente stereotypies and many of its species are threatened, thus the 
reintroduction of specimens is one of the methods used to mitigate the situation. 
Reintroduction is a conservation technique used to restore or enhance numeric or 
genetically fragile populations. Therefore, this bibliographic survey aims to research 
and analyze environmental enrichment methods used in felids reintroduction 
programs, compiling information from the literature, used as subsidies for future 
research and conservation actions. From all scientifc articles searched in databases, 
only 4 of them related environmental enrichment techniques with the reintroduction of 
felids were founds: all of them offered feeding and physical enrichment; 75% offered 
social enrichment and 25% offered olfactory enrichment; none offered cognitve 
enrichment. After analyzing the studies, it was concluded that there are few 
publications on the subject and, when there are publications, there’s a lack of details 
to caracterize the environmental enrichments used. Reintroduction studies using this 
technique should be encouraged whereas it is successful for captive animals. 
Researches should be conducted in a thorough manner and with financial support 
since high cost and long duration are involved. 
 
 Keywords: Ex situ conservation. Husbandry. Rehabilitation. Wild Animals. 
MEKVVRFGJITJIOHJTIJHOSUMÁRIONJOPHGJNPOHGNIO 
 
1. Introdução .......................................................................................................... 10 
1.1 Comportamento Animal e Bem-Estar .............................................................. 10 
1.1.1 Ação dos Hormônios Relacionados ao Estresse ................................. 11 
1.1.2 Corticoides como Indicadores Fisiológicos de Bem-Estar ................. 12 
1.2 Enriquecimento Ambiental .............................................................................. 14 
1.2.1 Histórico .................................................................................................. 15 
1.2.2 Formas de Enriquecimento Ambiental .................................................. 17 
 1.3 Carnívoros ...................................................................................................... 23 
1.3.1 Felinos ..................................................................................................... 24 
1.3.2 Felinos Brasileiros .................................................................................. 25 
1.4 Conservação e Reintrodução .......................................................................... 31 
2. Material e Métodos .............................................................................................34 
3. Resultados .......................................................................................................... 36 
3.1 Palavra-Chave: Reintroduction Programs ....................................................... 36 
3.2 Palavra-Chave: Felids Reintroduction ............................................................. 38 
3.3 Palavra-Chave: Rehabilitation and Reintroduction .......................................... 39 
3.4 Palavra-Chave: Reintroduction Programs Wild Felids .................................... 40 
3.5 Palavra-Chave: Rehabilitation and Environmental Enrichment ....................... 42 
3.6 Palavra-Chave: Reintrodução de Felinos no Brasil ......................................... 43 
3.7 Projetos de Reintrodução ................................................................................ 44 
3.7.1 HUNTER, L.T.B. The Behavioural Ecology Of Reintroduced Lions And 
Cheetahs In The Phinda Resource Reserve, Kwazulu-Natal, South Africa . 45 
3.7.2 HAYWARD, M.W.; ADENDORFF, J.; O’BRIEN, J.; SHOLTO-DOUGLAS, 
S.; BISSET, C.; MOOLMAN, L.C.; BEAN, P.; FOGARTY, A.; HOWARTH, D.; 
SLATER, R.; KERLEY, G.I.H. The Reintroduction of Large Carnivores to the 
Eastern Cape, South Africa: an Assessment................................................. 48 
3.7.3 SANTOS, F.C.C.; NUNES, A.F.; SANTOS, H.F. Manejo de Gato-do-
mato-pequeno (Leopardus tigrinus) (Felidae, Carnivora) em Cativeiro e 
Reintrodução em Fragmento de Mata Atlântica, Engenheiro Paulo de 
Frontin, RJ ....................................................................................................... 51 
3.7.4 HOUSER, A.; GUSSET, M.; BRAGG, C.J.; BOAST, L.K.; SOMERS, M.J. 
Pre-release Hunting Training and Post-release Monitoring are Key 
Components in the Rehabilitation of Orphaned Large Felids ...................... 52 
4. Discussão ........................................................................................................... 56 
4.1 Enriquecimento Ambiental na Reintrodução ................................................... 58 
4.2 Fatores Para Serem Considerados na Reintrodução ...................................... 63 
4.2.1 Origem do Animal: Selvagem x Cativeiro ............................................. 64 
4.2.2 Território.................................................................................................. 66 
4.2.3 Genética .................................................................................................. 68 
4.2.4 Presença de Outros Predadores ........................................................... 69 
4.2.5 Doença .................................................................................................... 69 
4.3 Reintrodução no Brasil .................................................................................... 70 
5. Conclusão ........................................................................................................... 74 
Referências Bibliográficas .................................................................................... 75 
Apêndice A................................................................................................................94 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
1. Introdução 
 
1.1. Comportamento Animal e Bem-Estar 
 
Atualmente, muitos animais silvestres são mantidos em cativeiros, em 
zoológicos, centros de reabilitação e parques (JIMENEZ, 2008; CASTRO, 2009). 
Apesar de serem motivados a realizar comportamentos naturais importantes para a 
sobrevivência (LORENZ, 1950), geralmente, nesses ambientes, não tem 
oportunidade ou até mesmo necessidade de exibi-los (MCPHEE, 2002) e, após um 
tempo, passam a apresentar padrões de comportamentos atípicos, ditos 
estereotipados (DANTZER; MORMEDE, 1983). 
 De acordo com Hickman et al. (2004), um comportamento estereotipado é 
definido como tal quando ele é executado em uma sequência ordenada e previsível. 
Entre alguns exemplos de comportamento estereotipado estão: apatia; 
automutilação, como morder-se e perseguir a cauda; marcas de agressão 
intersexual; pacing, que é caracterizado pela repetição no padrão de deslocamento; 
mastigação repetitiva (MARKOWITZ et al., 1995; WIELEBNOWSKI et al., 2002a; 
MASON, 2006); balançar a cabeça; pular (VICKERY;MASON, 2003); reingerir; 
regurgitar alimento e realizar coprofagia (LYONS et al., 1997 apud CASTRO, 2009). 
Mason (2006) sugere que a estereotipia origina-se quando há uma grande 
discrepância entre as condições oferecidas pelo cativeiro e o ambiente natural, 
fazendo o animal reagir de duas maneiras: ele substitui o comportamento natural 
pelo comportamento estereotipado ou ele não exibe nenhum dos dois. 
As estereotipias não apresentam um objetivo, função ou propósito e podem 
causar estresse ao animal: uma resposta biológica que ocorre quando um indivíduo 
percebe uma ameaça a sua homeostase (MASON, 1991; MOBERG, 2000). Essa 
resposta imediata a uma situação ameaçadora depende de experiência prévia do 
animal com o fator estressor, genética, idade e estado fisiológico e assegura a 
sobrevivência (MOBERG, 2000; HILL et al., 2008). Fisiologicamente, ocorre o 
redirecionamento do fluxo sanguíneo através da constrição e dilatação de certas 
veias e do aumento do débito cardíaco; a cognição é aguçada e a percepção de dor, 
11 
 
entorpecida (MENDONÇA-FURTADO, 2006). Tal resposta é conhecida como 
distresse quando oferece riscos ao bem estar do animal (MOBERG, 2000). 
O estresse pode ser classificado em agudo e crônico. O estresse agudo é de 
curta duração e o corpo responde com uma resposta breve; já o estresse crônico 
envolve a exposição do animal ao fator estressante por um longo período de tempo 
ou repetitivamente (HILL et al., 2008). 
O estresse crônico, indicado por níveis basais elevados de corticoides, pode 
ter um impacto negativo no sistema imunológico e reprodutivo, contribuindo para a 
prevalência de doenças e diminuindo o sucesso reprodutivo, além de inibir a taxa de 
crescimento, suprimir comportamentos exploratórios, aumentar o comportamento 
anormal, causar deficiências fisiológicas e aumentar os batimentos cardíacos 
(WIELEBNOWSKI et al., 2002a; TERIO et al., 2004; MORGAN; TROMBORG, 2007; 
HILL et al., 2008). Mudanças no ambiente ou um ambiente inadequado, por 
exemplo, pode causar estresse nos animais, o que resulta em uma alteração da 
atividade adrenal (CONFORTI et al., 2011). 
 
1.1.1. Ação dos Hormônios Relacionados ao Estresse 
 
A glândula pituitária, ou hipófise, consiste de duas porções: a posterior, 
conhecida como neurohipófise, que secreta os hormônios antidiurético (ADH) e 
oxitocina, e a anterior, conhecida como adenohipófise, que secreta glicocorticoides, 
como cortisona, cortisol e corticosterona (ECKERT et al., 1997; HILL et al., 2008). 
Os glicocorticoides são hormônios esteroides secretados em resposta ao estresse, o 
que inclui: exposição a temperaturas extremas ou outras condições ambientais 
hostis, ser forçado a se exercitar vigorosamente, experimentar condições sociais 
complicadas ou se ferir (HILL et al., 2008). 
Na resposta ao estresse, dois eixos neurais são ativados: o Sistema Nervoso 
Simpático e o eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) (SCHWABE et al., 2012). No 
eixo HPA, o estímulo primário origina impulsos nervosos que são transmitidos desde 
a periferia até o hipotálamo, onde há a secreção do fator liberador de corticotropina 
(FLC), que passa pelo sistema porta hipotálamo-hipófisário até a adenohipófise 
(GUYTON, 1988). Lá, o FLC estimula as células adrenocorticotrópicas a produzirem 
o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que é carregado até o córtex da adrenal, 
12 
 
onde estimula a secreção de glicocorticóides (Fig.1) (HILL et al., 2008). Já a 
ativação do Sistema Nervoso Simpático resulta na liberação de catecolaminas a 
partir da medula da adrenal (ECKERT et al., 1997), causando o aumento da 
frequência cardíaca e do fluxo sanguíneopara os músculos, gerando a resposta 
adequada ao estímulo estressante (JOËLS et al., 2006). 
A resposta ao estresse pode influenciar alguns aspectos fisiológicos 
reprodutivos: enquanto o estresse agudo ativa o sistema adrenomedular simpático, 
liberando as catecolaminas noraepinefrina e epinefrina, hormônios que podem estar 
relacionados com a ativação sexual, o estresse crônico tem efeitos inibitórios sobre 
a reprodução (CARLSTEAD; SHEPHERDSON, 1994). 
Sendo assim, é possível concluir que condições estressantes aumentam a 
secreção de glicocorticoides e que, elevados níveis desse hormônio, como ocorre no 
estresse crônico, influenciam vários processos fisiológicos durante a resposta ao 
estresse (HILL et al., 2008). 
 
 
Figura 1. Mecanismo de liberação de cortisol através do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal. 
Fonte: GUYTON (1988). 
 
1.1.2. Corticoides como Indicadores Fisiológicos de Bem-Estar 
 
Bem-estar animal pode ser definido como a manutenção do animal em boas 
condições de saúde física e mental, ou seja, é preciso garantir que o animal tenha 
suas necessidades atendidas, como acesso a alimento e água, conforto, melhorias 
13 
 
ambientais e prevenção de doenças infecciosas (YOUNG, 2003 apud BORGES et 
al., 2011). 
Já Broom e Molento (2004) sugerem que o bem-estar não pode ser 
considerado um estado absoluto, mas, sim, uma gama de estados, desde o 
adequado/bom até o pobre/ruim. Além disso, também sugerem uma relação entre 
estresse e bem-estar, de forma que, se houver estresse, o bem-estar pode tornar-se 
pobre. 
Hediger (1964) apud Blackshaw (1986) postulou que o bem-estar do animal 
depende da possibilidade da realização de certas atividades específicas da própria 
espécie. Segundo Clarke et al. (1995) apud Santos et al. (2005), a avaliação do 
bem-estar pode ser realizada através de dois parâmetros: fisiológicos e 
comportamentais, sendo o nível de cortisol o parâmetro fisiológico mais utilizado. Já 
em relação ao parâmetro comportamental, as estereotipias são os indicativos mais 
confiáveis (MASON; LATHAM, 2004). 
De acordo com Carlstead et al. (1992 apud MOREIRA et al., 2007) a análise 
de corticoides no sangue e na urina pode funcionar como indicador fisiológico da 
atividade da adrenal e resposta ao estresse; porém as coletas em si podem causar 
uma resposta estressante, já que envolvem a imobilização e até anestesia do animal 
(REINHARDT et al., 1990 apud MONFORT et al., 1998). Assim, o desenvolvimento 
de técnicas não invasivas de monitoramento de esteroides fecais, foi uma nova 
forma de pesquisar respostas fisiológicas estressantes (MOREIRA et al., 2007), 
sendo bem sucedido em estudos com carneiro selvagem (MILLER et al., 1991 apud 
MONFORT et al., 1998), gatos domésticos (GRAHAM; BROWN, 1996) e cães 
selvagens africanos (MONFORT et al., 1998). 
A medição de metabólitos corticoides fecais oferece diversas vantagens: é 
uma técnica simples que não interfere nos resultados do estudo, pode ser usada em 
estudos de longa duração e envolve uma análise endócrina não-invasiva e de risco 
mínimo para os animais. Além disso, esse método é muito útil para pesquisas 
envolvendo manejo, transporte, etologia, biologia da conservação e estudos 
ambientais (MOSTL; PALME, 2002). 
O trabalho realizado por Wielebnowski et al. (2002b) confirmou a importância 
do monitoramento não-invasivo de hormônios fecais como uma ferramenta valiosa 
para examinar o impacto de fatores ambientais e sociais e possíveis distúrbios nas 
funções reprodutivas e atividade adrenal em espécies selvagens. 
14 
 
Wielebnowski et al. (2002a) demonstraram que as concentrações de 
corticóides fecais refletiam corretamente as respostas da adrenal para os felídeos: 
foi observado que leopardos nebulosos contidos em recintos de baixa altura 
apresentavam maiores concentrações de metabólitos corticoides fecais se 
comparados com os animais que estavam em recintos de maior altura, isso porque 
são animais árbóreos e um recinto de maior altura possui maior área para os 
animais escalarem. 
Em outro estudo, Moreira et al. (2007) observou um aumento na concentração 
de metabólitos corticoides fecais em três fêmeas de gato-do-mato-pequeno e duas 
fêmeas de maracajá após serem transferidas de um recinto grande para um menor e 
estéril. Após enriquecer o recinto pequeno, houve uma recaída dessa concentração, 
porém, apenas nos gatos-do-mato-pequeno. 
Entretanto, Castro (2009) sugere que, para melhor compreender as respostas 
fisiológicas aos estímulos, os dados comportamentais devem se analisados 
juntamente com os de glicocorticoides. 
 
1.2. Enriquecimento Ambiental 
 
Com objetivo de reduzir os níveis de estresse e aumentar as atividades 
físicas, além de melhorar as condições de saúde e desempenho reprodutivo 
(CARLSTEAD, 1996), podem ser implementado um programa de enriquecimento 
ambiental, que é uma ferramenta usada para criar ambientes mais estimulantes e 
complexos que promovem um melhoramento psicológico e fisiológico de animais em 
cativeiro (SKIBIEL et al., 2007). 
De acordo com Yu et al. (2009), o enriquecimento ambiental reduz o estresse 
crônico causado pelas limitações do cativeiro, pela dificuldade em apresentar um 
comportamento de caça e pela perturbação causada por outros animais e humanos. 
Além disso, cria um ambiente no qual o animal possa expressar seus 
comportamentos naturais, tais como forragear, investigar, caçar e esconder-se 
quando não quiser ser visto (CARLSTEAD; SHEPHERDSON, 1994; SWAISGOOD; 
SHEPHERDSON, 2005). 
Há aspectos morais e éticos envolvidos na questão da implantação do 
enriquecimento ambiental, já que, cada vez mais os seres humanos acreditam no 
15 
 
conceito de que apresentam similaridades funcionais com outras espécies (BOERE, 
2001). Sendo assim, comportamentos estereotipados consternam o público e 
causam preocupação sobre o bem-estar e o estresse dos animais (SWAISGOOD; 
SHEPHERDSON, 2006). Além disso, para Jimenez (2008), o enriquecimento 
ambiental repercute de maneira favorável na diminuição de patologias, o que gera 
uma diminuição de custos por medicamentos, tratamentos, diagnósticos, tempo de 
manejo e gastos de pessoal e instalações. 
 
1.2.1. Histórico 
 
As primeiras tentativas feitas pelo homem de manter animais em cativeiro 
datam da pré-história e, por uma série de razões, humanos são atraídos por animais 
não-humanos (BLACKSHAW, 1986). Sendo assim, as iniciativas voltadas para a 
melhoria da qualidade de vida dos animais cativos têm sido registradas desde 1911 
(YOUNG, 2003 apud NASCIMENTO, 2010). De acordo com Linburg (1998), o 
desenvolvimento do enriquecimento ambiental ocorreu em três fases: a fase 
passiva, seguida pela fase instrumental e, por fim, a fase científica. 
Na passiva, a preocupação dos zoológicos estava focada nos custos de 
manutenção, em manter o ambiente limpo, e na comodidade para os visitantes 
(LINDBURG, 1998). Nessa época, os psicólogos E. L. Thorndyke e J. B. Watson 
desenvolveram uma metodologia de estudo através da qual, apenas eventos que 
poderiam ser diretamente observados e quantificados, eram considerados. Apesar 
de necessária e bem sucedida em sua época, essa abordagem encorajava uma 
observação mecânica dos animais, ignorando suas necessidades psicológicas, de 
um ponto de vista cientifico (SHEPHERDSON, 1998). 
O conceito geral de enriquecimento ambiental foi criado no início do século 
passado, sendo que, foi o trabalho de Yerkes com primatas, em 1925, que propôs a 
ideia de que deveriam ser oferecidas estruturas adicionais nos recintos dos animais, 
fazendo com que a importância do enriquecimento ambiental passasse a ser 
reconhecida (SHEPHERDSON, 1998; ADAMS, 2007). 
O efeito do enriquecimento ambiental tem sido examinado em diferentes 
contextos desde 1960 por psicólogos que estudam a influência do ambiente no 
aprendizado. A maioria dessas investigações compara os comportamentos, as16 
 
habilidades de aprendizado e as variáveis fisiológicas entre os animais que vivem 
em ambientes enriquecidos e não enriquecidos (SHEPHERDSON, 1998). 
Entretanto, as pesquisas mais relevantes da década de 1950 e 1960 foram 
realizadas por Hediger: em 1955, ele propôs que treinamento e brincadeiras 
deveriam ser usados como terapia ocupacional em animais cativos; em 1964, 
expandiu o conceito de enriquecimento ambiental, postulando que a qualidade do 
recinto era mais importante do que o tamanho do mesmo; por fim, em 1969, propôs 
que os recintos de zoológicos deveriam conter tudo o que fosse necessário para que 
o animal pudesse realizar os comportamentos apresentados na natureza 
(SHEPHERDSON, 1998; ADAMS, 2007; PIZZUTTO et al., 2009). 
Vários estudos com resultados significativos e importantes para o 
desenvolvimento do enriquecimento ambiental foram realizados entre as décadas de 
1960 e 1970. Em 1960, Kortland aplicou seu conhecimento em comportamento 
animal na natureza para o desenvolvimento de recintos de chimpanzés em 
zoológicos. Em 1964, Morris descreveu alguns comportamentos anormais que se 
desenvolveram quando as necessidades psicológicas dos animais eram ignoradas. 
Em 1968, a pesquisa de Meyer-Holzapfel chamou a atenção para o papel dos 
fatores ambientais no desenvolvimento de comportamentos anormais em animais de 
zoológicos (SHEPHERDSON, 1998). Em 1973, Watson realizou o primeiro estudo 
de enriquecimento ambiental em um zoológico (NASCIMENTO, 2010). 
Na segunda fase da história do enriquecimento ambiental, denominada 
instrumental, houve a introdução de vários objetos ocupacionais, muitas vezes sem 
apresentar benefícios aos animais (LINDBURG, 1998). Em 1982, Markowitz adotou 
o enriquecimento ambiental para melhorar os recintos de animais de zoológico 
(SHEPHERDSON, 1998). Isso fez com que houvesse uma mudança no foco das 
pesquisas em laboratórios e zoológicos: ao invés de serem focadas em quais 
objetos eram oferecidos, começou-se a se pesquisar o motivo de determinados 
objetos serem oferecidos e serem mais benéficos (LINDBURG, 1998). 
Por fim, a última fase, chamada de científica, é caracterizada por tentativas de 
definir, cientificamente, bem estar psicológico; há uma ênfase maior em planejar 
estratégias e responder questões teóricas, por exemplo, entender porque algumas 
abordagens funcionam e outras não (LINDBURG, 1998). Em 1990, o enriquecimento 
ambiental passou a fazer parte dos programas de manejo das instituições (ADAMS, 
2007). Dessa forma, o ambiente de cativeiro deveria replicar, ao máximo, as 
17 
 
características físicas e sociais essenciais do ambiente natural, de maneira que o 
animal conservasse seus comportamentos naturais no novo ambiente (HANCOCKS, 
1980). 
Ao longo do século passado, quando a maioria dos zoológicos foi 
estabelecida, o homem passou a ter maior ciência dos impactos que o ambiente 
fechado e restrito tinha sobre os animais selvagens e a maneira como o animal 
deveria ser apresentado também passou a ser melhor bem compreendida 
(SEIDENSTICKER; FORTHMAN, 1998). Então, a partir dessa época, alguns 
zoológicos começaram a substituir os recintos estéreis que eles possuíam por 
recintos que simulavam o habitat do animal e não permitia contato direto com o 
público (ADAMS, 2007). 
 
1.2.2. Formas de Enriquecimento Ambiental 
 
Existem diversas técnicas de enriquecimento ambiental que podem ser 
aplicadas em animais cativos. Essas técnicas são divididas em cinco categorias: 
físico, alimentar, sensorial, cognitivo e social (BOSSO, 2008; PEREIRA et al., 2009; 
CHESTER ZOO, 2015). 
 
1.2.2.1. Enriquecimento Ambiental Físico 
 
O enriquecimento ambiental físico (Fig.2) tem como objetivo aumentar a 
complexidade do recinto, o que pode ser feito com a adição de elementos físicos 
como terra, vegetação, palha e árvores, criando barreiras que providenciam abrigo 
para os animais se esconderem quando não quiserem ser vistos e promovem um 
comportamento territorial e social (SWAISGOOD; SHEPHERDSON, 2005); além 
disso, a vegetação e substrato também atraem fauna de fora, como pássaros e 
insetos, para dentro do recinto, o que oferece uma grande variedade de estímulos 
(PITSKO, 2003). Segundo Morgan e Tromborg (2007), galhos com folhagens 
providenciam proteção contra o calor excessivo, funcionando também como isolante 
térmico em caso de baixas temperaturas. Os animais também podem brincar com os 
galhos (CASTRO, 2009). A área útil do recinto pode ser aumentada ao se adicionar 
18 
 
acessórios que permitam a movimentação do animal tanto vertical quanto 
horizontalmente (MAPLE; PERKINS, 1996). 
 
 
Figura 2. Recinto de primatas enriquecido com troncos, redes e cordas, no Zoológico de 
Brasília, Brasília, Brasil. Fonte: Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (2015). 
 
Um ambiente que propicia novas fontes de informação oferece oportunidades 
para os animais desenvolverem comportamentos exploratórios, essenciais para sua 
sobrevivência, já que é através deles que os animais conseguem reunir informações 
sobre potenciais fontes de alimento e distribuição de recursos (CUMMINGS et al., 
2007; YU et al., 2009). Para isso, todos os aspectos do ambiente natural devem ser 
incorporados no recinto, na escala correta (SEIDENSTICKER; FORTHMAN, 1998). 
 
1.2.2.2. Enriquecimento Ambiental Alimentar 
 
O enriquecimento ambiental alimentar (Fig.3) tem o propósito de manter o 
comportamento de alimentação o mais parecido com o comportamento natural de 
caça (CASTRO, 2009). Segundo Szokalski et al. (2012), é possível estimular esse 
comportamento através do oferecimento de brinquedos e objetos, itens alimentícios 
diferentes e mudanças na rotina de alimentação. 
Em cativeiro, a comida oferecida é substancialmente diferente da consumida 
na natureza, por isso, alimentar-se não é um desafio para o animal (MORGAN; 
19 
 
TROMBORG, 2007). Swaisgood e Shepherdson (2006) e McPhee (2002) sugerem 
que, nesse tipo de enriquecimento, podem ser ofertadas presas vivas, com o intuito 
de estimular um comportamento de captura e, também, carcaças. Manipular a 
porção de alimento oferecida aos animais, a qualidade e a forma como ele é 
apresentado também podem afetar positivamente os níveis de estereotipias, 
entretanto, esse enriquecimento não é universalmente bem sucedido (CLUBB; 
VICKERY, 2006). 
 
 
Figura 3. Girafa interagindo com enriquecimento alimentar oferecido no zoológico de 
Honolulu, Hawai, Estados Unidos. Fonte: Zoológico de Honolulu (2015). 
 
Markowitz e Aday (1998) observaram que um enriquecimento ambiental 
envolvendo a perseguição de uma presa artificial, manteve os animais exercitados e 
saudáveis, além de permitir a detecção de uma hérnia em um dos indivíduos. 
 
1.2.2.3. Enriquecimento Ambiental Sensorial 
 
Outro tipo de enriquecimento ambiental é o sensorial (Fig.4). Segundo Yu et 
al. (2009), o odor é uma das formas mais eficientes de induzir um comportamento de 
exploração. Nesse caso, algumas especiarias podem ser ofertadas, como: canela, 
pimenta em pó, cominho (SKIBIEL et al., 2007) e cravo-da-índia (CASTRO, 2009), 
20 
 
sendo salpicadas por todo o recinto (CARNIATTO et al., 2009), além do uso de 
óleos essenciais, ervas, odores estimulantes (YU et al., 2009), fezes de outros 
animais, substratos de outros recintos (SZOKALSKI et al., 2012) e urina (CLARK; 
KING, 2008). 
Em seu estudo com leopardos, Markowitz et al. (1995) distribuiu quatro caixas 
de som ao longo do recinto que eram acionadas por sensores de movimento. Como 
resultado desse enriquecimento, houve um aumento do nível de atividade e 
diminuição de comportamentos estereotipados do animal. 
 
 
Figura 4. Urso polar interagindo com enriquecimento sensorial. Fonte: Tudo de Cão (2015). 
 
1.2.2.4. Enriquecimento Ambiental Cognitivo 
 
O enriquecimento ambiental cognitivo (Fig.5) envolve soluções de problemas 
através de atividades(CHESTER ZOO, 2015). De acordo com Bloomsmith et al. 
(1991) apud Nascimento (2010), esse enriquecimento consiste em dispositivos 
mecânicos, como quebra-cabeças, que trabalham o psicológico e a capacidade 
intelectual do animal. Em seu trabalho, Nascimento (2010) demonstra como essa 
prática é importante para o desenvolvimento mental e físico dos animais, já que, em 
seus resultados, após aplicação do enriquecimento cognitivo, houve um aumento na 
diversidade de comportamentos selvagens, do número de cópulas e do tempo de 
forrageio, ao mesmo tempo em que ocorreu uma redução dos comportamentos 
estereotipados. 
Em seu estudo com macacos-prego, Mendonça-Furtado (2006) observou que 
o uso de ferramentas (pedras) para quebra de cocos pode ser bem sucedido, 
21 
 
contanto que os animais tenham aprendido esse comportamento. Logo, os animais 
que quebraram os cocos, interagiram mais com o enriquecimento ambiental do que 
aqueles que não quebraram. 
 
 
Figura 5. Araras azuis interagindo com quebra-cabeça oferecido no Zoológico de Phoenix, 
Phoenix, Estados Unidos. Fonte: Zoológico de Phoenix (2015). 
 
Essa forma de enriquecimento é de extrema importância, pois, no caso de 
uma translocação ou de uma reintrodução, um animal com habilidades cognitivas 
reduzidas ficará mais vulnerável, terá dificuldade para se adaptar a um novo 
ambiente e sofrerá com diversos problemas, por exemplo: não conseguir realocar 
seus recursos alimentares o fará gastar muito tempo e energia procurando novos 
recursos, tornando-o suscetível a predadores (TEIXEIRA et al., 2007). 
 
 
1.2.2.5. Enriquecimento Ambiental Social 
 
O enriquecimento ambiental social (Fig.6) consiste na criação de uma 
interação intra ou interespecífica no recinto. Isso pode ser realizado através da 
introdução temporária, alternada ou permanente de casais ou grupos, sendo eles da 
mesma espécie ou de espécies diferentes (PITSKO, 2003; SOUZA, 2009; 
CHESTER ZOO, 2015). 
 
22 
 
 
Figura 6. Grupo de suricatos vivendo no mesmo recinto e interagindo com um 
enriquecimento ambiental alimentar no Zoológico de Lisboa, Portugal. Fonte: Zoológico de 
Portugal (2015). 
 
De maneira mais detalhada, Bloomsmith et al. (1991) apud Nascimento 
(2010), subdivide o enriquecimento social em: contato (co-específico e 
interespecífico) e sem contato (visão, audição, dispositivo cooperativo e humano e 
não-humano). É o tipo que traz mais resultados positivos com primatas, já que são 
animais que vivem em bandos (REINHARDT; REINHARDT, 2000 apud BOERE, 
2001). Porém, também houve resultados positivos no estudo de Macri e Patterson-
Krane (2011) com leopardo das neves: os felinos que permaneceram no recinto com 
outro indivíduo da mesma espécie passaram a apresentar comportamentos 
específicos da espécie, incluindo comportamento social e vocalização. 
Ainda dentro da prática de enriquecimento ambiental, há uma forma 
conhecida como Everything-but-the-kitchen-sink (Fig.7), no qual várias formas de 
enriquecimento são oferecidas simultaneamente, com o propósito de aumentar a 
complexidade do recinto, imitando o ambiente natural, fazendo com que, dessa 
forma, haja uma estimulação sensorial por parte do animal (SAWISGOOD; 
SHEPHERDSON, 2006), já que um ambiente mais complexo e imprevisível pode 
diminuir os comportamentos estereotipados (CARLSTEAD, 1998). Entretanto, ao 
aplicá-lo, torna-se difícil avaliar o impacto que cada enriquecimento teve sobre os 
animais (CASTRO, 2009) e a grande quantidade de estímulos recebidos 
simultaneamente pode causar estresse, gerando um efeito contrário ao esperado 
(LINDBURG, 1998). 
 
23 
 
 
Figura 7. Nesse recinto é possível identificar três tipos de enriquecimento ambiental: físico, 
alimentar e social, no Zoológico de Atlanta, Geórgia, Estados Unidos. Fonte: Gorillas Ssp 
(2015). 
 
É preciso programar e planejar quais enriquecimentos serão oferecidos, já 
que a interação do animal e o estímulo que ele recebe do ambiente do zoológico 
varia com a história natural da espécie (SEIDENSTICKER; FORTHMAN, 1998). Em 
seu trabalho, Pitsko (2003), observou que nunca é tarde para um animal ter um 
ambiente enriquecido, de forma que os animais mais velhos de seu estudo, apesar 
de menos ativos, também interagiram com os enriquecimentos ambientais 
oferecidos. Ao mesmo tempo, sexo, interação prévia com alguma forma de 
enriquecimento e nível de controle que o animal tem em procurar, interagir ou 
ignorar esse novo estímulo do ambiente também influenciam a eficácia dessa prática 
(LINDBURG, 1998; MENCH, 1998). 
 Além disso, o enriquecimento ambiental não deve ser oferecido por um longo 
período, pois perdem o sentido de novidade, como observado por Pitsko (2003). Em 
seu trabalho, Mendonça-Furtado (2006) só manteve os enriquecimentos dentro do 
recinto durante o período de observação. 
 
1.3. Carnívoros 
 
Os carnívoros fazem parte da Ordem Carnivora, dentro da Classe Mammalia, 
do filo Chordata, no reino Animalia (IUCN, 2013). Essa ordem é composta por 
animais que apresentam, em sua maioria, hábitos predatórios, possuem dentes 
24 
 
adaptados para comer carne (HICKMAN et al., 2004) e as fêmeas apresentam longo 
tempo de gestação (JULE et al., 2008). São os membros mais especializados das 
comunidades de vida livre e ocupam maiores áreas territoriais, além de 
influenciarem na abundância e comportamento de suas presas (RABINOWITZ; 
WALKER, 1991). A captura do alimento dos carnívoros envolve perseguir, correr, 
emboscar e matar a presa (LINDBURG, 1998). Além disso, esse grupo tem 
prevalência na manifestação de estereotipias, sendo que os indivíduos que 
apresentam maior estereotipia, geralmente, possuem maiores sinais de estresse 
(CLUBB; VICKERY, 2006). 
Dentro dessa ordem se encontra a família Felidae, um dos grupos com maior 
diversidade de carnívoros e que inclui espécies que variam em tamanho que vão 
desde 1 kg até mais de 230 kg (MOREIRA, 2001) e que, devido a sua história 
recente na evolução, apresentam morfologia muito similar entre si (KITCHENER et 
al., 2010). 
 
1.3.1. Felinos 
 
Felinos atraem a atenção de pesquisadores, pois tem uma tendência maior a 
apresentar estereotipias, são considerados animais carismáticos e fazem parte da 
fauna que corre risco de ameaça (CLUBB; VICKERY, 2006; HUNTER; 
RABINOWITZ, 2009). De acordo com Pitsko (2003), a megafauna carismática é 
caracterizada por apresentar espécies de grande porte, atraentes e em estado de 
conservação preocupante. 
Apesar de haver literatura sobre esses animais, são poucos os trabalhos 
práticos de enriquecimento ambiental voltado para felinos. Essa área de pesquisa 
ainda pode se expandir, mas já ocorreu um grande progresso quanto ao número de 
artigos publicados sobre enriquecimento ambiental (AZEVEDO et al., 2007). 
Também há pouca literatura sobre a reintrodução desses animais porque, apesar de 
grandes carnívoros serem tema frequente nos esforços de reintrodução, o 
monitoramento pós-soltura é pobre, então não se tem informações sobre o resultado 
dos projetos (HUNTER, 1998). Além disso, muitos projetos fracassam, com a grande 
maioria dos animais morrendo logo após a soltura, ocasionando certa relutância em 
denunciar as falhas (SARRAZIN; BARBAULT,1996; TEIXEIRA et al., 2007). 
25 
 
Na natureza, a maioria das espécies de felinos é solitária (BEKOFF et al., 
1984 apud CARNIATTO et al., 2009), entretanto, em algumas espécies, os adultos 
colaboram para defender território, recursos, parceiras ou prole própria 
(MACDONALD et al., 2010a). Sendo assim, as interações intraespecíficas podem 
ser limitadas ao período de reprodução e de cuidado da prole (SUNQUIST; 
SUNQUIST, 2002 apud MACDONALD et al., 2010b). Além disso, são considerados 
espécies-chave, pois promovem o equilíbrio direto ou indireto dos níveis tróficos, 
sendo que sua conservação determina a área e o tipo de habitat que devem ser 
protegidos (HÜBNER; LINK, 2011).Os felinos enfrentam várias adversidades em seu ambiente natural, tais como, 
caça para a comercialização de peles e para troféu; aumento na exploração de 
recursos e perda de habitat, que influencia na disponibilidade de presas e os força a 
viver próximos de comunidades humanas, resultando em conflito homem-animal, 
como ataque a pessoas e gado, o que leva à retaliação contra felinos (INSKIP; 
ZIMMERMANN, 2009; HÜBNER, LINK, 2011). A perda de habitat também pode 
causar um menor fluxo gênico entre subpopulações, aumentando, à longo prazo, as 
chances de endogamia (JOHNSON et al., 2010). 
Membros da família Felidae estão presentes em todos os continentes e nas 
ilhas de Borneo e Trindad, com exceção da Australasia e Antártica (MACDONALD et 
al., 2010b), sendo que 8 das 35 espécies tem ocorrência no Brasil (MATTERN; 
MCLENNAN, 2000): Panthera onca Linneaus, 1758, Leopardus pardalis Linneaus, 
1758, Leopardus wiedii Schinz, 1821, Leopardus geoffroyi d’Orbigny & Gervais, 
1844, Leopardus tigrinus Schreber, 1775, Leopardus colocolo Molina, 1782, Puma 
yagouaroundi (Lacépède, 1809) e Puma concolor Linneaus, 1771. 
 
1.3.2. Felinos Brasileiros 
 
A onça pintada, Panthera onca, (Fig. 8A, B), está largamente distribuída (Fig. 
8C), entretanto, é mais comum na Floresta Amazônica, Pantanal e Cerrado 
(MACDONALD et al., 2010b). É um animal de hábitos noturnos, terrestre, mas que 
apresenta afinidade pela água (MATTERN; MCLENNAN, 2000) e se alimenta, 
principalmente, de grandes ungulados (SEYMOUR, 1989). Segundo a lista de 
26 
 
espécies ameaçadas da International Union for Conservation of Nature (IUCN) 
(2014), é considerada como quase ameaçada. 
 
 
Figura 8. Onça pintada. A. Espécime adulto macho. Fonte: Panthera (2015). B. Espécime 
adulto macho melânico, no Wildcat Sanctuary, em Minnesota (EUA). Fonte: Wildcat 
Sanctuary (2015a). C. Distribuição geográfica. Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
A jaguatirica, Leopardus pardalis (Fig. 9A, B), é o único felino de porte médio 
encontrado no neotrópico e um dos mais bem distribuídos (MACDONALD et al., 
2010b), sendo encontrado em Manguezais, Pântanos Costeiros, Campos Savânicos 
e em todos os tipos de Florestas Tropicais, em todos os países ao sul dos Estados 
Unidos, menos o Chile (Fig. 9C) (NOWELL; JACKSON, 1996). Apresenta hábito 
noturno e terrestre (MATTERN; MCLENNAN, 2000) e se alimenta principalmente de 
mamíferos, como roedores e marsupiais de pequeno porte e aves (BAZILIO et al., 
2011). Seu status de conservação é pouco preocupante (IUCN, 2014). 
O maracajá, Leopardus wiedii (Fig.10A), é encontrado do México até o sul da 
América Central, na bacia do rio Amazonas, no sul do Brasil e no Paraguai (Fig. 
10B) (NOWELL; JACKSON, 1996). Apresenta hábito arbóreo (MATTERN; 
MCLENNAN, 2000), predominantemente crepuscular-noturno (OLIVEIRA, 1998). De 
acordo com Sunquist e Sunquist (2002 apud MACDONALD et al., 2010b), sua dieta 
é baseada em pássaros, répteis, frutas e insetos. Seu status de conservação é 
quase ameaçado devido ao desmatamento (IUCN, 2014). 
27 
 
 
 
Figura 9. Jaguatirica. A. Espécime adulto. Fonte: Arkive (2015). B. Distribuição geográfica. 
Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
 
Figura 10. Maracajá. A. Espécime adulto. Fonte: Globo (2013). B. Distribuição geográfica. 
Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
O gato-do-mato-grande, Leopardus geoffroyi (Fig. 11A), é encontrado em 
habitats abertos, incluindo os Pampas, Cerrado e Florestas e próximo ao Deserto, 
no noroeste da Argentina até os Andes (Fig. 11B) (MACDONALD et al., 2010b). É 
um animal de hábito terrestre, com afinidade pela água e noturno (MATTERN; 
MCLENNAN, 2000). No Brasil, pode se alimentar de peixes e sapos (SUNQUIST; 
SUNQUIST, 2002 apud MACDONALD et al., 2010b), além de pequenos roedores, 
pássaros e pequenos mamíferos (MACDONALD et al., 2010b). Em decorrência de 
ataques ao gado doméstico, é uma espécie considerada como quase ameaçada 
(IUCN, 2014). 
28 
 
Figura 11. Gato-do-mato-grande, no Wildcat Sanctuary, em Minnesota (EUA). A. Espécime 
adulto. Fonte: Wildcat Sanctuary (2015). B. Distribuição geográfica. Fonte: IUCN Red List 
(2008). 
 
O gato-do-mato-pequeno, Leopardus tigrinus (Fig.12A), habita biomas como 
Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Campos Sulinos e Amazônia (OLIVEIRA, 1994 
apud MOTTA; REIS, 2009) e está distribuído desde o norte da Costa Rica até o sul 
do Brasil e nordeste da Argentina (Fig. 12.B) (OLIVEIRA et al., 2008). Apresenta 
hábito crepuscular-noturno, mas com um tempo razoável de atividade diurna, 
alimentando-se de pequenos mamíferos, pássaros e lagartos (MACDONALD et al., 
2010b). Devido à perda de habitat, a IUCN (2013) o considera como uma espécie 
vulnerável. 
 
Figura 12. Gato-do-mato-pequeno. A. Espécime filhote. Fonte: Jabaquara News (2013). B. 
Distribuição geográfica. Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
O gato palheiro, Leopardus colocolo (Fig. 13A), habita o norte da Argentina, 
centro do Brasil, leste do Peru e Bolívia (Fig. 13B) (MATTERN; MCLENNAN, 2000). 
Sua alimentação inclui pequenos mamíferos e pássaros (NOWELL; JACKSON, 
1996). Por ser impactado pela perda e degradação de habitat e retaliação por 
29 
 
ataque a aves domésticas (MACDONALD et al., 2010b), seu status de conservação 
é quase ameaçado (IUCN, 2014). 
 
 
Figura 13. Gato palheiro. A: espécime adulto fêmea, no Zoológico de Gramado (RS). Fonte: 
Diário de Canoas (2014). B. Distribuição geográfica. Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
O gato mourisco, Puma yagouaroundi (Fig.14A), habita Floresta Tropical 
Pluvial, Desertos abertos, Matagais e Pradarias (NOWELL; JACKSON, 1996). É 
tanto terrestre quanto arbóreo, ativo durante o dia e a noite (MATTERN; 
MCLENNAN, 2000). É encontrado desde o México até a Bacia Amazônica, além do 
Paraguai e Argentina (Fig.14B) e, mesmo ameaçado pela perda de habitat, seu 
status de conservação é pouco preocupante (IUCN, 2014). 
 
 
Figura 14. Gato mourisco. A. Espécime adulto, no Zoológico de São Paulo (SP). Fonte: 
Maria Fernanda Aidar (2015). B. Distribuição geográfica. Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
30 
 
A onça parda, Puma concolor (Fig. 15A), está largamente distribuída entre os 
mais diversos habitats e ocorre desde o Canadá até o Chile e o Brasil (Fig. 15B) 
(JUNIOR et at., 2003). Tem hábito terrestre, tanto diurno quanto noturno (MATTERN; 
MCLENNAN, 2000) e alimenta-se de presas de médio porte (MACDONALD et al., 
2010b). Está ameaçada por perda e fragmentação de habitat, redução de suas 
presas selvagens e perseguição devido a ataques ao gado doméstico, porém, tem 
status pouco preocupante (IUCN, 2014). 
 
 
Figura 15. Onça parda. A: espécime adulto macho. Fonte: Wildcat Sanctuary (2015b). B. 
Distribuição geográfica. Fonte: IUCN Red List (2008). 
 
Existem cinco critérios para avaliar as sete categorias da Lista Vermelha da 
IUCN (Pouco Preocupante, Quase Ameaçado, Vulnerável, Em Perigo, Criticamente 
em Perigo, Extinto na Natureza, Extinto), são eles: redução do tamanho da 
população; distribuição geográfica sob a forma de extensão da ocorrência ou de 
área de ocupação ou ambas; tamanho estimado da população menor do que 250 
indivíduos maturos (declínio continuado em pelo menos 25%); tamanho estimado da 
população inferior a 50 indivíduos maturos e análise quantitativa que demonstra que 
a probabilidade de extinção na natureza é pelo menos de 50 % em 10 anos ou 3 
gerações. Entretanto, uma espécie classificada em uma das categorias não é 
31 
 
suficiente para determinar a prioridades para ações conservacionistas; essas 
categorias apenas apresentam uma avaliação dos riscos de extinção em 
circunstâncias atuais (IUCN, 2000). 
 
1.4. Conservação e Reintrodução 
 
Segundo Vidolin et al. (2003) apud Castro (2009), a redução da densidade 
populacional de carnívoros do topo da cadeia trófica pode afetar o ecossistema e o 
equilíbrio ecológico, por isso a conservação dessas espécies é de extrema 
importância. Uma importanteestratégia para evitar a extinção de espécies é através 
da conservação ex situ, que envolve a manutenção de indivíduos em cativeiro 
(CASTRO, 2009). O cativeiro proporciona um ambiente onde é possível realizar 
pesquisas em condições controladas, oferecendo uma oportunidade de entender os 
fatores relacionados às espécies animais com abordagens que não são viáveis em 
estudos em ambiente natural (WIELEBNOWSKI et al., 2002a). Além disso, vários 
estudos indicaram que a fecundidade e as taxas de sobrevivência são mais altas 
nos animais cativos do que nos animais selvagens (ROBERT, 2009). 
Os zoológicos, por exemplo, deveriam desempenhar vários papéis na 
conservação ex situ: manter uma população saudável e sustentável, servindo como 
fonte de genes das espécies em cativeiro e aumentar a consciência do público 
quanto às espécies e sua importância ecológica (CONFORTI et al., 2011), porém, o 
uso dos animais como ferramenta educativa é mais efetivo quando os animais 
realizam comportamentos naturais da espécie (SHETTEL-NEUBER, 1988). Além 
disso, também deveriam realizar o manejo, a propagação e a reintrodução de 
espécies ameaçadas (FORTHMAN; OGDEN, 1991). 
Apesar de importante, há alguns problemas relacionados com essa forma de 
conservação: um ambiente inapropriado de cativeiro tem efeitos danosos ao 
comportamento e à fisiologia do animal (CARLSTEAD, 1996). Além disso, manter 
uma espécie não doméstica em cativeiro pode atrapalhar a total expressão do 
potencial genético e reprodutivo dos indivíduos (CONFORTI et al., 2011). Wiggs et 
al. (1997) apud Junior et al. (2003) sugere que animais mantidos em cativeiro tem 
maiores chances de apresentar anormalidades dentárias devido ao estresse, 
nutrição e textura da dieta. 
32 
 
Os felinos, por ocuparem grandes áreas territoriais na natureza, sofrem mais 
em cativeiro e tornam-se mais vulneráveis a problemas relacionados ao seu bem-
estar (CLUBB; VICKERY, 2006); isso porque passam a maior parte do tempo de 
atividade diária fazendo escolhas sobre quando e onde forragear, o que comer, com 
qual indivíduo interagir e onde dormir e, no cativeiro, essas escolhas são limitadas 
(CUMMINGS et al., 2007). 
A conservação e sobrevivência da vida selvagem não é possível sem a 
intervenção de conservacionistas, biólogos, zoológicos, aquários e veterinários ao 
redor do mundo (KELLY et al., 2013). Um dos fatores que deve ser levado em 
consideração para o sucesso da conservação é manter os comportamentos naturais 
em animais de cativeiro para serem reintroduzidos em seus habitats naturais 
(MCPHEE; CARLSTEAD, 2010). Outro fator é a diversidade genética: a preservação 
da variabilidade genética de traços responsivos à seleção que permitam adaptação 
e mudanças evolucionárias é essencial (ALLEN et al., 2010). 
Uma maneira de restaurar a biodiversidade é através da reintrodução de uma 
espécie em uma área que já fora seu território histórico, mas de onde foi extinta e da 
translocação de indivíduos de uma área territorial para outra, esperando que esses 
animais sobrevivam, estabeleçam uma nova população e se reproduzam (GRIFFITH 
et al., 1989; MATHEWS et al., 2006; IUCN, 2013). Entretanto, programas de 
reintrodução se deparam com o balanço entre benefícios do tempo em cativeiro com 
o dano potencial que o cativeiro causou, em termos de deterioração de 
comportamento (VICKERY; MASON, 2003), de forma que as mudanças na história 
de vida e no comportamento de indivíduos dessas populações trazem uma 
desvantagem quanto à reintrodução dos animais (MCPHEE; CARLSTEAD, 2010). 
Os predadores são uma parte importante da comunidade biológica, porém a 
reintrodução de felinos é particularmente difícil pois eles vivem em baixas 
densidades, necessitam de grandes áreas territoriais com uma grande variedade de 
presas e precisam de tempo para aperfeiçoar os comportamentos de caça, 
normalmente ensinados pelos adultos da espécie (FORDER, 2006; SUNQUIST; 
SUNQUIST, 2002 apud KELLY; SILVER, 2009). Apesar disso, a reintrodução de 
animais cativos na natureza se tornou uma potencial ferramenta de conservação e é 
amplamente aceita por pesquisadores (SEIDENSTICKER; FORTHMAN, 1998). 
Assim, considerando que esses animais são espécies-chave, ou seja, 
enriquecem o funcionamento do ecossistema, de forma que a sua diminuição pode 
33 
 
induzir modificações na estrutura do ecossistema e perda da biodiversidade, 
alterando todos os níveis tróficos (GARIBALDI; TURNER, 2004) e que a 
reintrodução de felinos selvagens na natureza é de extrema importância para a 
conservação do ecossistema e das próprias espécies de felinos, o presente estudo 
de revisão bibliográfica tem como objetivo pesquisar e analisar métodos de 
enriquecimento ambiental utilizados em programas de reintrodução de felinos, 
compilando informações dispersas na literatura, servindo de subsídio para futuras 
pesquisas e ações de conservação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
2. Material e Métodos 
 
O método utilizado foi o levantamento bibliográfico e seleção de bibliografia 
ideal para o objetivo do estudo: pesquisar métodos de enriquecimento ambiental 
aplicados a felinos, para melhoria do bem-estar, da qualidade de vida e capacitação 
do animal a sobreviver no meio natural após ser reintroduzido. 
O levantamento bibliográfico dos artigos selecionados para o resultado foi 
realizado através das bases de dados Scielo, Science Direct, Google Acadêmico e 
Research Gate; de sites de organizações nacionais e internacionais, como Instituto 
Pró-Carnívoros, World Wildlife Fundation (WWF), Wildwood National Park e Projeto 
Onçafari; das revistas científicas Biological Conservation, Zoo Biology e Animal 
Applied Behaviour Science; da biblioteca online do Instituto Smithosian (Smithsonian 
Environmental Research Center), da Universidade de Cambridge e da Universidade 
de Oxford. Também foram usados livros disponíveis na biblioteca do Centro de 
Ciências Biológicas e Áreas da Saúde, da Universidade Presbiteriana Mackenzie 
(UPM), na biblioteca do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) 
e na biblioteca da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Univeridade de 
São Paulo (USP). 
Como serão analisados trabalhos que relacionam o enriquecimento ambiental 
à reintrodução dos felinos, foi feita uma seleção de bibliografias em que havia uma 
relação entre eles. Para isso, foram pesquisados artigos científicos, teses e 
dissertações com as palavras-chave ‘programas de reintrodução’, ‘reintrodução de 
felinos’, ‘reabilitação e reintrodução’, ‘enriquecimento ambiental e reintrodução’, 
‘programas de reintrodução com felinos selvagens’ e ‘reintrodução de felinos no 
Brasil’. A pesquisa foi realizada tanto em português quanto em inglês, em um 
intervalo de tempo de 20 anos, entre 1994 e 2014. 
A seleção dos artigos dependia da relação entre enriquecimento ambiental e 
reintrodução. Para escolher tais artigos, foram definidos alguns critérios de exclusão: 
o primeiro foi a base de dados escolhida; o segundo foi a palavra-chave, assim, 
artigos de outras áreas de pesquisa que não fossem relacionados ao tema do 
presente trabalho já eram desconsiderados. O terceiro critério foi as revistas 
pesquisadas, ou seja, foram escolhidas revistas que eram mais prováveis de conter 
artigos relevantes para o presente trabalho. O quarto critério era o ano da 
35 
 
publicação, de forma que se o artigo não se encontrasse dentro do período de 20 
anos da pesquisa, ele era desconsiderado. O quinto critério de seleção foi o título, se 
o artigo apresentasse palavras como ‘reintrodução’, ‘soltura’, ‘monitoramento pós-
soltura’ ou se indicasse que se tratava de um programa de reintrodução, ele era 
selecionado. O sexto critério foi a espécie, sendo que apenas trabalhos que 
envolvessem alguma espécie de felino brasileiro ou exótico, seriam selecionados. 
Por fim,o último critério envolvia a leitura do resumo do artigo: se o resumo 
estivesse de acordo com o objetivo do presente trabalho, o artigo era lido em sua 
totalidade e selecionado; se não, era desconsiderado. 
O resultado foi dividido em tópicos por palavras-chave. Dentro de cada tópico, 
foi indicado o resultado da pesquisa de acordo com os critérios explicados 
anteriormente. No final dos resultados, foram apresentados os resumos dos artigos 
selecionados que relacionavam reintrodução com enriquecimento ambiental. 
A discussão também foi dividida em tópicos: primeiramente, será discutida a 
influência do enriquecimento ambiental no sucesso dos projetos de reintrodução; em 
seguida, fatores que influenciam o sucesso da reintrodução e, por fim, será tratada a 
reintrodução no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
3. Resultados 
 
A base de dados que apresentou maior número de artigos totais foi a Science 
Direct, com 67,46% (n=1.159) dos resultados, sendo seguida pelo Google 
Acadêmico, com 20,43% (n=351), Cambridge Journal, com 12,04% (n=207) e, por 
último, base de dados Scielo, com 0,05% (n=1) dos resultados, totalizando 1.718 
artigos. Nas outras plataformas, não foram encontrados artigos de importância 
significativa para os resultados. 
Na base de dados Scielo, apenas 1 artigo foi encontrado com a palavra-chave 
‘Reintrodução Animal’, porém após a leitura de seu resumo, ele não foi selecionado 
para ser discutido. 
 
3.1. Palavra-Chave: Reintroduction Programs 
 
Na base de dados Science Direct, a pesquisa com a palavra-chave 
‘Reintroduction Programs’ resultou em 9.759 artigos. Ao selecionar as revistas 
Biological Conservation, Trends in Ecology and Evolution, Applied Animal Behaviour 
Science, Animal Behavior, Journal for Nature Conservation, e Encyclopedia of 
Biodiversity, esse número diminuiu para 1.074. Dentro do intervalo de tempo de 20 
anos, foram encontrados 876 artigos. 
Os títulos dos artigos foram lidos, de forma que foram selecionados 48 artigos 
que continham a palavra ‘reintrodução’ no título ou que o título indicava que se 
tratava de um programa de reintrodução. Após a leitura dos resumos desses 48 
artigos, nenhum deles foi selecionado para ser discutido nesse trabalho. Ambos os 
resultados estão discriminados na Tabela 1. 
A mesma pesquisa foi realizada na base de dados Google Acadêmico. Nesse 
caso, foram encontrados 26 artigos, sendo que 3 desses apresentavam a palavra-
chave no título e não apresentavam relação com felinos. Portanto, nenhum artigo 
dessa pesquisa foi selecionado. 
Através do Cambridge Journal, foram encontrados 1.464 artigos. Após 
selecionar as revistas Oryx e Animal Conservation e o intervalo de 20 anos, esse 
número diminuiu para 167. Entre eles, 3 foram selecionados pelo título, sendo 2 
37 
 
artigos do ano de 2004 e 1 artigo do ano de 2000; porém, nenhum deles foi 
selecionado pelo resumo (Tabela 2). 
 
TABELA 1. Artigos encontrados através da pesquisa na base de dados Science Direct, entre 
os anos 1994 e 2014, com a palavra-chave ‘Reintroduction Programs’. 
Ano Número de Artigos Totais Número de Artigos Relacionados ao 
Tema 
1994 15 0 
1995 25 1 
1996 33 1 
1997 22 1 
1998 14 5 
1999 29 3 
2000 19 2 
2001 31 1 
2002 27 3 
2003 34 0 
2004 47 2 
2005 43 4 
2006 47 2 
2007 68 3 
2008 39 2 
2009 46 4 
2010 50 4 
2011 66 2 
2012 44 1 
2013 111 3 
2014 66 4 
TOTAL 876 48 
 
TABELA 2. Artigos encontrados através da pesquisa no site do Cambridge Journal, entre os 
anos 1994 e 2014, com a palavra-chave ‘Reintroduction Programs’. 
Ano Número de Artigos Totais 
1998 10 
1999 19 
2000 15 
2001 7 
2002 5 
2003 14 
2004 21 
2005 14 
2006 7 
2008 3 
2009 7 
2010 5 
38 
 
Continuação Tabela 2. 
Ano Número de Artigos Totais 
2013 6 
2014 5 
TOTAL 167 
 
3.2. Palavra-Chave: Felids Reintroduction 
 
Na base de dados Science Direct, a pesquisa com a palavra-chave ‘Felids 
Reintroduction’ resultou em 183 artigos. Ao selecionar as revistas Biological 
Conservation, Applied Animal Behaviour Science, Animal Behvaiour, Tigers of the 
World, Animal Reproduction Science e Trends in Ecology and Evolution, esse 
número diminuiu para 67. Dentro do intervalo de tempo de 20 anos, foram 
encontrados 60 artigos. O resultado está discriminado na Tabela 3. 
 
TABELA 3. Artigos encontrados através da pesquisa no site Science Direct, entre os anos 
1994 e 2014, com a palavra-chave ‘Felids Reintroduction’. 
Ano Número de Artigos Totais 
1994 2 
1997 1 
1998 1 
1999 1 
2001 1 
2003 1 
2004 2 
2005 2 
2006 2 
2007 3 
2008 2 
2009 4 
2010 8 
2011 8 
2012 3 
2013 8 
2014 11 
TOTAL 60 
 
Após a leitura dos títulos, foram selecionados 4 artigos, sendo que 2 artigos 
eram do ano de 1994 e 2 eram do ano de 1995. Após a leitura dos resumos, 
nenhum deles foi selecionado para o resultado. 
39 
 
 
Na base de dados Google Acadêmico, 33 artigos foram encontrados. Desses, 
3 artigos foram selecionados devido a palavra-chave, título e ano de publicação. 
Após a leitura dos resumos, 1 (HUNTER, 1998) foi selecionado para ser discutido. 
No site do Cambridge Journal, seguindo o mesmo processo de seleção, foram 
encontrados 4 artigos; após a leitura de seus resumos, 1 (HAYWARD et al., 2007a) 
artigo foi selecionado para ser discutido. 
 
3.3. Palavra-Chave: Rehabilitation and Reintroduction 
 
Na base de dados Science Direct, a pesquisa com a palavra-chave 
‘Rehabilitation and Reintroduction’ resultou em 1.252 artigos. Ao selecionar as 
revistas Biological Conservation, Journal for Nature Conservation e Encyclopedia of 
Biodiversity, esse número diminuiu para 120. Dentro do intervalo de tempo de 20 
anos, foram encontrados 111 artigos. O resultado está discriminado na Tabela 4. 
 
TABELA 4. Artigos encontrados através da pesquisa no site Science Direct, entre os anos 
1994 e 2014, com a palavra-chave ‘Rehabilitation and Reintroduction’. 
Ano Número de Artigos Totais 
1994 20 
1997 1 
1998 2 
1999 3 
2000 3 
2001 10 
2002 3 
2003 2 
2004 7 
2005 3 
2006 7 
2007 10 
2008 6 
2009 5 
2010 4 
2011 11 
2012 3 
2013 6 
2014 5 
TOTAL 111 
40 
 
 
Após a leitura do título dos artigos, foram selecionados 3 artigos, sendo que 1 
artigo era do ano de 2000; 1 artigo era do ano de 2008 e 1 artigo era do ano de 
2013. Após leitura dos resumos, nenhum artigo foi selecionado para o resultado. 
Através da pesquisa realizada no Google Acadêmico, foram encontrados 3 
artigos, sendo que nenhum deles estava relacionado com o objetivo da pesquisa, 
portanto, nenhum foi selecionado. 
A pesquisa no Cambridge Journal resultou em 78 artigos com essa palavra-
chave; 28 encontravam-se dentro do intervalo de tempo de 20 anos entre 1994 e 
2014. Após a leitura dos títulos, nenhum artigo foi selecionado para ser discutido. O 
resultado dessa pesquisa está discriminado na Tabela 5. 
 
TABELA 5. Artigos encontrados através da pesquisa no site do Cambridge Journal, entre os 
anos 1994 e 2014, com a palavra-chave ‘Rehabilitation and Reintroduction’. 
Ano Número de Artigos Totais 
1995 3 
1997 4 
1998 3 
1999 3 
2000 5 
2004 3 
2007 3 
2008 4 
TOTAL 28 
 
3.4. Palavra-Chave: Reintroduction Programs Wild Felids 
 
Na base de dados Science Direct, a pesquisa com a palavra-chave 
‘Reintroduction Programs Wild Felids’ resultou em 129 artigos. Ao selecionar as 
revistas Biological Conservation, Applied Animal Behaviour Science, Encyclopedia of 
Biodiversity, Trends in Ecology and Evolution, Animal Behavior e Encyclopedia of 
Animal Behavior, esse número diminuiu para 47. Após selecionar o período de 
tempo de 20 anos, esse número diminuiu para 44. O resultado dessa pesquisa está 
discriminado na Tabela 6. 
Entre os 44 artigos encontrados, 10 artigos estavam relacionados a felinos; 7 
artigos estavam relacionados a carnívoros; 5 artigos estavam relacionados a 
herbívoros; 5 artigos estavam relacionados amamíferos; 1 artigo estava relacionado 
41 
 
a reintrodução; 1 artigo estava relacionado a enriquecimento ambiental e 15 artigos 
estavam relacionados a outros assuntos. A Figura 16 apresenta um resumo desses 
resultados. 
 
TABELA 6. Artigos encontrados através da pesquisa na base de dados site Science Direct, 
entre os anos 1994 e 2014, com a palavra-chave ‘Reintroduction Programs Wild Felids’. 
Ano Número de Artigos Totais 
1994 1 
1998 1 
1999 1 
2003 1 
2004 1 
2005 2 
2006 2 
2007 2 
2008 1 
2009 2 
2010 4 
2011 8 
2012 1 
2013 10 
2014 7 
TOTAL 44 
 
 
 
Figura 16. Artigos encontrados através da pesquisa no site Science Direct, entre os anos de 
1994 e 2014, com a palavra chave “Reintroduction Programms Wild Felids”. 
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Science Direct 1994-2014 
Palavra chave: Reintrodcution Programs Wild Felids 
Número Total de Artigos
42 
 
Após a leitura dos resumos dos artigos relacionados a felinos, reintrodução e 
enriquecimento ambiental, nenhum artigo foi selecionado para ser discutido. 
No Google Acadêmico, 2 artigos com a palavra chave “Reintroduction of Wild 
Felids” foram selecionados. Porém, após a leitura de seus resumos, nenhum deles 
foi escolhido. 
Através da pesquisa realizada no Cambridge Journal, foram encontrados 4 
artigos, sendo que apenas 1 estava dentro das especificações desse trabalho. Ao ler 
seu resumo, ele não foi selecionado. 
 
3.5. Palavra-Chave: Rehabilitation and Environmental Enrichment 
 
Na base de dados Science Direct, a pesquisa com a palavra-chave 
‘Rehabilitaion and Environmental Enrichment’ resultou em 1.950 artigos. Ao 
selecionar as revistas Biological Conservation, Journal of Environmental 
Management e Science of the Total Environment, esse número diminuiu para 84. 
Dentro do intervalo de tempo de 20 anos, foram encontrados 68 artigos. Após a 
leitura do título dos artigos, nenhum foi selecionado. O resultado dessa pesquisa 
está discriminado na Tabela 7. 
No Google Acadêmico, foram encontrados 8 artigos com essa palavra-chave. 
Desses, 3 foram selecionados. Após a leitura dos resumos, apenas 1 (HOUSER et 
al., 2011) foi selecionado para ser discutido. 
Por fim, a pesquisa realizada no Cambridge Journal resultou em 4 artigos, 
porém, nenhum deles foi selecionado para ser discutido. 
 
TABELA 7. Artigos encontrados através da pesquisa no site Science Direct, entre os anos 
1994 e 2014, com a palavra chave ‘Rehabilitation and Environmental Enrichment’. 
Ano Número de Artigos Totais 
1994 4 
1995 9 
1997 1 
1998 1 
2002 2 
2003 2 
2004 2 
2005 1 
2006 4 
43 
 
 
Continuação Tabela 7. 
Ano Número de Artigos Totais 
2008 3 
2009 6 
2010 9 
2011 3 
2012 9 
2013 6 
2014 6 
TOTAL 68 
 
3.6. Palavra-Chave: Reintrodução de Felinos no Brasil 
 
No Google Acadêmico, com a palavra-chave ‘Reintrodução de Felinos no 
Brasil’, em um período de 20 anos, foram encontrados 279 artigos. Após a 
classificação por título, foi selecionado 1 (SANTOS et al., 2010) para ser discutido. 
Na base de dados Science Direct e no site Cambridge Journal, a pesquisa 
não obteve nenhum resultado. O Quadro 1 apresenta o resultado final de forma 
esquematizada. 
 
Quadro 1: Resultados selecionados, com autor/ano, título do trabalho, veículo de publicação 
e base de dados onde foi encontrado, em ordem cronológica. 
Autor/Ano Título Veículo de 
Publicação 
Base de Dados 
HUNTER, 1998 The Behavioural Ecology of 
Reintroduced Lions and 
Cheetahs on the Phinda 
Resource Reserve, 
Kwazulu-Natal, South Africa 
Tese de Doutorado 
para a Faculdade de 
Ciências Biológicas e 
Agrícola, da 
Universidade de 
Petroria, África do Sul 
Google 
Acadêmico 
HAYWARD et al., 
2007a 
The reintroduction of large 
carnivores to the Eastern 
Cape, South Africa: an 
assessment 
Oryx Cambridge 
Journals 
SANTOS et al., 
2010 
Manejo de Gato-do-mato-
pequeno (Leopardus 
tigrinus) (Felidae, 
Carnivora) em Cativeiro e 
Reintrodução em 
Fragmento de Mata 
Atlântica, Engenheiro Paulo 
de Frontin, RJ 
I Simpósio de 
Pesquisa em Mata 
Atlântica 
 
Google 
Acadêmico 
 
 
44 
 
Continuação Quadro 1. 
Autor/Ano Título Veículo de 
Publicação 
Base de Dados 
HOUSER et al., 
2011 
Pre-release Hunting 
Training and Post-release 
Monitoring are Key 
Components in the 
Rehabilitation of Orphaned 
Large Felids 
South African Journal 
of Wildlife Reserach 
 
Google 
Acadêmico 
 
Contraditatoriamente, apesar da base de dados Science Direct apresentar o 
maior número de artigos, nenhum deles foi selecionado. 75% (n=3) foi encontrado 
na base de dados Google Acadêmico e 25% (n=1) através do Cambridge Journal. 
A Tabela 8 mostra uma comparação entre o número de artigos relacionados com o 
tema e o número de artigos selecionados, efetivamente, em cada base de dado. 
 
TABELA 8. Comparação entre número de artigos relacionados ao tema encontrados nas 
bases de dados e número de artigos efetivamente selecionados. 
Base de dados Artigos 
Relacionados ao 
Tema 
Artigos Selecionados 
Science Direct 6 0 
Google Acadêmico 10 1 
Cambridge Journal 5 3 
Scielo 1 0 
TOTAL 22 4 
 
Dentro do período de 20 anos, havia uma extensa lista de artigos tratando de 
programas de reintrodução, envolvendo diversas espécies de animais. Porém, 
apenas 4 artigos relacionam técnicas de enriquecimento ambiental com a 
reintrodução de felinos: Hunter (1998); Hayward et al. (2007a); Santos et al. (2010); 
Houser et al. (2011), sendo que apenas um deles, Santos et al. (2010), trata de 
espécies brasileiras. 
A seguir, serão apresentados resumos dos 4 artigos selecionados, 
explicitando os métodos empregados, os tipos de enriquecimento e o sucesso do 
programa de reintrodução (de acordo com os pesquisadores de cada estudo). 
 
3.7. Projetos de Reintrodução 
45 
 
3.7.1. HUNTER, L.T.B. The Behavioural Ecology Of Reintroduced Lions 
And Cheetahs In The Phinda Resource Reserve, Kwazulu-Natal, South 
Africa 
 
Esse projeto teve como objetivo reestabelecer a população de leões 
(Panthera leo) e guepardos (Acinonyx jubatus) na Phinda Resource Reserve, na 
província de Kwazulu-Natal, África do Sul, uma reserva de 17.000 hectares 
delimitada por cercas elétricas e próxima a outras reservas e florestas estaduais. 
Para isso, foi realizado um estudo de 40 meses, entre Maio de 1992 e Setembro de 
1995, tratando dos seguintes aspectos: reabilitação envolvendo enriquecimento 
ambiental; monitoramento pós-soltura, no qual foram registrados os movimentos dos 
animais; estabelecimento de território; características das populações; geração de 
filhotes; impacto da predação nos herbívoros e pressão dos animais sobre as 
presas. 
No total, foram reintroduzidos 13 leões e 15 guepardos, sendo que esses 
eram originados da Namíbia, África do Sul e Botswana e os guepardos, da África do 
Sul, todos nascidos na natureza. O programa foi realizado na reserva Phinda, pois 
não havia nenhum indivíduo de nenhuma das duas espécies residindo nela, porém 
havia um pequeno número de leopardos (Panthera pardus) e hienas-malhada 
(Crocuta crocuta). 
A soltura dos animais ocorreu em sete locais diferentes dentro da reserva, 
sendo que cada soltura era um evento a parte, para que os animais de cada grupo 
tivessem tempo de estabelecer um território antes da chegada de outros indivíduos. 
A primeira soltura foi de um grupo de 6 guepardos adultos, sendo 2 machos e 4 
fêmeas (nenhum deles aparentado entre si ou entre outros indivíduos 
reintroduzidos). A segunda foi de um grupo de 7 leões, sendo 2 fêmeas adultas, 2 
machos juvenis e 3 fêmeas juvenis (as fêmeas adultas não apresentavam grau de 
parentesco com nenhum outro animal do grupo ou com outros indivíduos 
reintroduzidos, enquanto os juvenis eram do mesmo bando). 
A terceira soltura foi de um trio de 3 guepardos machos adultos (sendo que 2 
deles eram irmãos e 1 não apresentava parentesco com os demais).A quarta 
soltura foi de um grupo de 6 leões, sendo 1 fêmea adulta, 3 machos juvenis e 2 
fêmeas juvenis (as 3 fêmeas não eram aparentados entre si ou entre outros 
46 
 
indivíduos reintroduzidos; 2 juvenis eram irmãos e 1 juvenil não era aparentado a 
nenhum dos outros indivíduos). A quinta foi de um trio de 3 guepardos fêmeas 
juvenis, todas da mesma ninhada. A sexta soltura foi de 1 guepardo fêmea adulta, 
cujo o grau de parentesco com os outros animais é desconhecido. Por fim, a sétima 
soltura foi de um grupo de 2 guepardos machos adultos que não apresentavam 
nenhum grau de parentesco entre si ou entre outros indivíduos reintroduzidos. 
Todos os indivíduos do grupo eram mantidos juntos, em um recinto pré-
soltura, que consistia em um espaço de 80m x 80m, com uma cerca de 3,5m de 
altura e vegetação densa para o animal se refugiar. Durante o período de 
aclimatação (6 a 8 semanas), eram oferecidas carcaças completas de ungulados a 
cada 2-5 dias, aproximadamente, 5kg de carne por dia, por indivíduo. Nesse 
período, os animais eram acostumados à presença de turistas e veículos. Depois de 
soltos, os animais não receberam comida dos tratadores. 
Para a soltura, todos os animais receberam identificações na forma de 
espécie/sexo/número, por exemplo, CM2 era a identificação para ‘cheetah male 2’ 
(guepardo macho 2) e assim por diante. Entretanto, apenas determinado macho de 
cada grupo que era reintroduzido recebeu um radiocolar, pois a reserva recebe 
visitantes que poderiam não gostar de ver uma animal com o aparelho. Então, ao 
fazer as observações dos animais após a soltura, só se conseguiriam informações 
dos animais que ficassem próximos ao que apresentava o radiocolar. 
Após a soltura, as observações eram feitas a uma distância de 20-50m. 
Durante a primeira semana após serem soltos, tanto os leões quanto os guepardos 
permaneceram dentro do raio de 1km de distância dos recintos, sendo que animais 
que foram soltos juntos, tenderam a permanecer juntos. Algumas fêmeas se 
separaram após três semanas e, no caso dos leões, os machos e as fêmeas se 
separaram logo após a soltura. Nos primeiros três meses, os animais já estavam em 
um raio de 10km de distância da área de soltura. 
Nos animais que sobreviveram depois da reintrodução, foi observado o 
estabelecimento de território muito parecido com o de outras regiões. Isso sugere 
que a reintrodução é um método viável para reestabelecer felinos em áreas de sua 
antiga distribuição. Entre os indivíduos que não sobreviveram, 38,8% (n=7) das 
mortes foram causadas pela caça com laços de arame (2 guepardos e 5 leões); 
16,6% (n=3) das mortes foram causadas após um incidente entre 3 leoas e um 
turista, que resultou em sua morte; 5,5% (n=1) das mortes ocorreram após uma 
47 
 
fêmea de guepardo com seu filhote escaparem da reserva; 5,5,% (n=1) das mortes 
foram causadas por atropelamento (guepardo); 33% (n=6) dos guepardos morreram 
devido a conflitos com outros carnívoros. No total, 8 leões e 10 guepardos 
morreram. Portanto, 5 leões e 5 guepardos sobreviveram. 
Também foi possível ter o controle do ciclo estral de todas as leoas, tendo, 
assim, o controle da época de acasalamento e do nascimento de filhotes, de forma 
que foi possível estimar que os leões geraram 7,2 filhotes por ano. Os guepardos 
também eram monitorados e geraram 8,0 filhotes por ano: 2 fêmeas de guepardos 
foram observados filhotes junto de uma delas. A morte de alguns filhotes ocorreu por 
causas naturais. 
O crescimento da população sofreu flutuações durante a primeira parte do 
estudo, o que indica o começo da reprodução e perdas logo após a reintrodução. 
Após esse período, houve um crescimento constante do número de indivíduos das 
duas espécies, ao mesmo tempo em que houve uma diminuição da mortalidade e 
aumento da reprodução. 
Após a reintrodução, tanto os leões quanto os guepardos tiveram sucesso no 
forrageamento, sendo que as presas principais dos leões eram gnus (Connochaetes 
gnou), zebras (Família Equidae), javalis (Gênero Phacochoerus) e nialas 
(Tragelaphus angasii), enquanto guepardos caçaram, principalmente, reduncas 
(Redunca redunca), nialas e impalas (Aepyceros melampus). Os padrões de 
predação dos leões e guepardos introduzidos foram semelhantes aos de animais 
selvagens. 
A predação de gnus pelos leões causou um declínio da população desses 
herbívoros na reserva. O mesmo ocorreu com a população de reduncas caçadas 
pelos guepardos. Esse é um dos problemas enfrentados ao se reestabelecer a 
relação presa-predador em uma área pequena. 
Um grande problema que a maioria dos programas de reintrodução sofre é a 
falta de monitoramento, sendo que, sem ele, é praticamente impossível saber o que 
aconteceu com os animais. O que ajudou no monitoramento dos animais da Phinda 
Reserve foi que é uma reserva protegida por cercas, então, os animais não 
poderiam sair do perímetro estabelecido e que os animais ficaram em um recinto 
pré-soltura por um tempo antes de serem, efetivamente, reintroduzidos. 
Um fator muito importante para se levar em consideração na reintrodução é o 
tamanho da reserva na qual os animais serão soltos e o número de indivíduos, para 
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que todos os animais consigam estabelecer um território e não haja cruzamentos 
consanguíneos. 
 
3.7.2. HAYWARD, M.W.; ADENDORFF, J.; O’BRIEN, J.; SHOLTO-
DOUGLAS, S.; BISSET, C.; MOOLMAN, L.C.; BEAN, P.; FOGARTY, 
A.; HOWARTH, D.; SLATER, R.; KERLEY, G.I.H. The Reintroduction of 
Large Carnivores to the Eastern Cape, South Africa: an Assessment 
 
O estudo de Hayward et al. (2007a) sobre a reintrodução de carnívoros 
africanos foi dividido em 3 artigos que foram publicados no ano de 2007, de forma 
que informações de dois deles – Hayward et al. (2007a,b) - foram utilizadas para 
maior detalhamento do processo de reintrodução. Entretanto, existem dados 
discrepantes ao se considerar os dois artigos, portanto, só os dados congruentes 
foram considerados para o presente estudo. 
Esse projeto teve como objetivo descrever a reintrodução de várias espécies 
de grandes carnívoros na Província de Eastern Cape, na África do Sul. Desde 1996, 
onze áreas de conservação delimitadas por cercas (Addo Elephant, Amakhala, 
Blaauwbosch, Great Fish River Complex, Kariega, Kwandwe, Lalibela, Pumba, 
Samara, Scotia e Shamwari) reintroduziram cães-selvagens africanos (Lycaon 
pictus), hienas malhada, hienas-marrom (Hyaena brunnea), guepardos, leopardos, 
leões e servais (Leptailurus serval). Como o presente trabalho trata da reintrodução 
de felinos, só serão expostos os resultados referentes a eles. 
Antes de serem áreas de conservação, os onze locais de soltura eram 
fazendas e áreas de pastoreio com solo pobre, que foram transformadas em 
reservas, Game Farms e parques, com o propósito de aumentar o ecoturismo da 
região. Essas terras já apresentavam chacais-de-dorso-negro (Canis mesomelas), 
caracais (Caracal caracal), lobos-da-terra (Proteles cristatus), leopardos e ratéis 
(Mellivora capensis) e populações estabelecidas de leopardos, guepardos, servais e 
caracais. 
No recinto pré-soltura, os animais foram acostumados a cercas elétricas, 
veículos e outros indivíduos da mesma espécie dentro de um novo grupo social. 
Carcaças foram oferecidas e os animais foram condicionados, de forma a associar o 
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som de um apito com alimentação; isso facilitou o manejo dos animais para 
determinadas atividades. 
A primeira reintrodução de leões foi em Scotia no ano de 1996 e envolveu 6 
indivíduos juvenis (3 machos e 3 fêmeas), com 15 meses de idade. No início, eles 
caçavam sozinhos, mas quando o número de presas disponíveis diminuiu, eles 
receberam alimentação complementar dos tratadores. Até 2005, os indivíduos se 
reproduziram 5 vezes, gerando um total de 13 filhotes, porém, 14 indivíduos foram 
removidos da população, totalizando uma população final da área de 5 indivíduos. 
Os primeiros leões

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