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RELATÓRIO FLORESTA FÓSSIL

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Relatório- Floresta Fóssil de Teresina e José de Freitas 
 
1. Introdução 
 
 Teresina é a única capital brasileira a ter uma floresta fóssil em uma área urbana, 
a floresta conta com 13 hectares, 9 mil m² e cerca de 70 troncos fossilizados, está 
localizada na zona leste teresinense, as margens do Rio Poti, e em 2010 foi tombado como 
patrimônio pelo Ministério da Cultura. Os troncos fósseis, já citados, foram notados 
primeiramente por Lisboa (1914), e se inserem numa formação rochosa denominada: 
Formação Pedra de Fogo (Santos e Carvalho, 2004). 
 O parque possui um valor imensurável para a cultura piauiense, desde 
paleontólogos, historiadores, geólogos, e todos aqueles que se interessam por este 
assunto, pois é rico em informações que contam com dados importantes sobre parte de 
como foi a “vida” na Terra no período permiano, período este, que antecede até mesmo 
os dinossauros. Podemos citar como táxons vegetais encontrados na floresta; Psaronius 
sp., e uma espécie que ficou conhecida nesse sítio, chamada de Teresinoxylon euzebioi 
(Caldas et al, 1989). 
 Infelizmente, mesmo possuindo uma grande importância, o parque vem sofrendo 
com o descaso público, o espaço possui poucas instalações que o caracterizam como sítio 
arqueológico, está praticamente abandonado pelos órgãos públicos, no local não há 
segurança, e tem lixo em alguns pontos, não há placas de sinalização, e nem profissionais 
que possam instruir o visitante, a sociedade também não possui conhecimento sobre o 
local, porque não há empenho por parte da Prefeitura em divulgar ou promover o parque. 
 Mesmo com tantas dificuldades, o Parque Municipal da Floresta Fóssil do Rio 
Poti possui um raro acervo paleontológico, desta forma, merece o total reconhecimento 
por parte de representantes políticos e da sociedade, para voltar a ser um local preservado, 
para isso, seria necessário voltar a investir em ações sociais e educativas, imediatamente. 
Com a aula de campo feita ao parque, podemos constatar toda a sua importância, e o valor 
que possui não só para estudantes e pesquisadores, mais para a ciência, educação e 
cultura, que ultrapassa o território piauiense. 
 Para a aula de campo que ocorreu em José de Freitas (JF), pôde-se perceber a 
riqueza de geodiversidade dos sítios arqueológicos da região, bem como, demonstrou na 
prática a importância dessa modalidade de ensino (aulas de campo) fundamental nas aulas 
de paleontologia, atrelando o conteúdo teórico com a prática. 
2. Objetivos 
-Observar os fósseis; 
-Analisar as condições de preservação do parque Floresta Fóssil de Teresina e dos sítios 
arqueológicos de JF. 
-Identificar os impactos ambientais que se intensificaram nos últimos anos. 
-Desenvolver um olhar educacional que evidencie a importância que a Floresta fóssil 
representa para o ensino de paleontologia e para sociedade, assim como, dos sítios 
arqueológicos. 
 
3. Metodologia 
 
 A metodologia baseou-se em aulas de campo ministrada e guiada pelo Prof. e 
paleontólogo Willian Matsumura, na qual, nos orientou sobre a floresta fóssil e sobre 
geodiversidade de sítios arqueológicos de JF, bem como, disponibilizou artigos que 
tratassem da temática, a citar: “O Parque Floresta Fóssil do Rio Poti como ferramenta 
para o ensino de Paleontologia e Educação Ambiental” (Quaresma e Cisneiros, 2013), 
também se fez necessário a busca por mais conteúdos disponibilizados na internet que 
foram utilizados como referência na produção deste trabalho. Durante as aulas obteve-se 
o registro em fotografias e anotações no caderno de campo, para ilustrar os resultados, 
alinhando-os às pesquisas realizadas. 
4. Resultados- Floresta Fóssil de Teresina 
 
 Como já supracitada, a floresta conta com cerca de setenta troncos fossilizados, 
predominando as gimnospermas e poucas pteridófitas. Entre as espécies mais conhecidas 
do parque, estão: Psaronius sp. (que eram espécies de samambaias que chegavam a 10 
metros de altura) e Teresinoxylon eusebioi (“o primeiro termo, que indica o nome 
genérico da espécie, em homenagem a Teresina; o segundo, que indica o epíteto 
específico, em referência e homenagem ao geólogo Eusébio de Oliveira, um dos pioneiros 
na pesquisa de fósseis no Piauí”). 
 Os afloramentos (troncos fossilizados) encontrados em Teresina datam dos 
Períodos Carbonífero e Permiano, avaliados, entre 345 e 225 milhões de anos atrás. 
Muitas plantas são encontradas em posição vertical (posição de vida ou de crescimento), 
representando que se tornaram fósseis naquele exato lugar em que viveram. Nota-se 
também, que apesar da Floresta fóssil está localizada dentro de uma zona intertropical, os 
fósseis de vegetais encontrados lá, sugere a presença de espécies de plantas diferentes das 
florestas desta mesma categoria. (IPHAN, 2013). (Figura 1). 
Figura 1- Tronco fossilizado em posição de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Os pesquisadores acreditam que a formação desse sítio arqueológico aconteceu 
depois que a base delas foi soterrada e com passar do tempo ocorreu o processo de 
silicificação, que é quando a sílica penetra nas partes porosas dos troncos até que eles 
fiquem petrificados. Uma demonstração de que se trata realmente de fósseis de vegetais, 
são pelos anéis de crescimento ainda presentes. (Figura 2). 
Figura 2- Anéis de crescimento de um tronco fossilizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto: Bruna Oliveira, 2022. 
Foto: Bruna Oliveira, 2022. 
 Adentrando um pouco mais no conceito de permineralização, o processo se inicia 
imediatamente após a queda do resto num ambiente de deposição de sedimentos (córrego, 
rio, lago, mar…) ou durante o soterramento num desses locais (Figura 3). 
Figura 3. Permineralização. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Para à autora Branco, este processo pode ser exemplificado da seguinte maneira: 
“O que acontece em geral, é que uma solução rica em sílica ou cálcio 
consegue preencher os espaços vazios entre as células, poros e no 
interior das células. Com o passar do tempo, a perda de água promovida 
pelo soterramento induz a formação de cristais de quartzo, no caso de 
uma solução rica em sílica, calcita, ou no caso do cálcio. Esses cristais 
possuem tamanhos diminutos, da ordem de poucos micrometros 
(1/1000 de um milímetro), que preservam a anatomia original inclusive 
das células, e por ser muito estáveis no caso da sílica, permitem a 
manutenção dos fósseis por muitos milhões de anos”. (BRANCO, 2017, 
on-line). 
 
 
 Ainda na Floresta Fóssil pode-se observar o esgoto sem tratamento que cai 
diretamente no rio Poti, prejudicando-o, pois com esse despejo há um acúmulo de sujeira 
e matéria orgânica que impede a presença de oxigênio, tornando a existência da fauna 
insustentável. (Figura 4 e 5). 
Figura 4-5. Despejo irregular de esgoto no Rio Poti. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Como supracitado, a floresta fóssil tem como formação: “Pedra do fogo”, Faria 
Jr. & Truckenbrodt (1980a, 1980b) descreveram a estratigrafia da formação, dividindo-a 
em: Membro Sílex Basal, Membro Médio e Membro Trisidela. O membro sílex basal 
intercala siltitos e bancos dolomíticos com abundantes concreções e horizontes silicosos, 
o membro médio é constituído por camadas de arenitos finos com estratificações 
cruzadas, que intercalam siltitos, folhelhos e bancos carbonáticos com pequenas 
concreções silicosas. E o membro trisidela intercala arenitos finos, siltitos, folhelos e 
bancos carbonáticos. (Figura 6 e 7). As madeiras fósseis são encontradas associadas aos 
siltitos e arenitos finos avermelhados com manchas brancas, que pertencem às partes mais 
superiores da formação. 
Figura 6-7. Formação Pedra de Fogo. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Observou-se no interior do parque uma forma estrutural erodida do leito marginal 
do rio Poti, comformações rochosas no seu interior, com material transportado pelo fluxo 
do rio. Percebeu-se também a prática de pesca extrativista no local, sem fiscalização e/ou 
regulação para esta atividade. (Figura 8). 
Figura 8. Leito do Rio Poti no Parque Floresta Fóssil de Teresina. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 As pedras encontradas no leito do rio Poti, são um registro de uma atividade 
realizada no período Paleolítico, também chamado de Pedra Lascada, durante esse 
período, os hominídeos teriam desenvolvido a habilidade de criar instrumentos e 
ferramentas, inicialmente a partir da pedra toda, depois lascando algumas para utilizar 
como objetos cortantes ou mesmo para realizar raspagens. (Figura 9). 
Figura 9. Pedras encontradas na margem do rio Poti. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Uma outra técnica utilizada antigamente, era para acender fogo, que consistia em 
provocar atrito entre um sílex e pirita. Essa fricção produz faíscas muito energéticas, com 
o intuito de acender o fogo em gramas ou folhas secas. (Figura 10). 
Figura 10. Professor demostrando como o atrito entre as pedras pode produzir faíscas. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Durante a passagem pelo parque observarmos uma vegetação de médio e grande 
porte, árvores de até 15m (aproximadamente) e arbustos, bem como, plantas rasteiras. 
Essa vegetação atual é bastante influenciada pela antropização, apresentando poucos 
exemplares nativos, a maioria das plantas é oriunda de um reflorestamento, e é uma 
vegetação composta por cerrado, caatinga e mata ciliar. (Figura 11-12). 
Figura 11-12. Vegetação do Parque Floresta Fóssil. 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Há presença de uma fauna rica e diversificada no parque, a citar: cobras, pássaros, 
iguanas, e uma grande variedade de insetos. ( Figura 13). 
Figura 13. Jiboia vista no parque. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 Observa-se na figura acima, em meio a cobra, algumas embalagens de plástico. 
Em todo o trajeto nas trilhas, bem como, no leito do rio, foi notado uma quantidade 
considerável de lixo, demonstrando um “abandono” pelo poder público. 
 
4.1 Resultados- José de Freitas 
 
 A fazenda Mocambo, local visitado para estudo, pertence à formação Piauí, 
apresenta em seus calcários, conteúdo significativo de uma fauna de invertebrados 
representada por “moluscos bivalves, anelídeos, briozoários, esponjas, ostracodes, 
fragmentos de crinoides, equinoides, holoturóides, peixes, foraminíferos arenáceos, 
conodontes, escolecodontes, braquiópodes e trilobitas”. (Figura 14, 15 e 16). 
Figura 14-15. Registros fossilíferos encontrado na visita à Fazenda Mocambo. 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
Figura 16. Registros fossilíferos encontrado na visita à Fazenda. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022. 
 As camadas da Formação Piauí foram divididas por Lima & Leite (1978) e Lima 
Filho(1992) em duas partes: a inferior, constituída de arenitos róseos, médios, com 
intercalações de siltitos vermelhos e verdes; e a superior, composta por arenitos 
avermelhados com intercalações de leitos e lâminas de siltitos vermelhos, finos leitos de 
calcários e evaporitos. (Figura 17). 
Figura 17. Formação Piauí, Mocambo-JF. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022 
 As superfícies de acamamento são de base quase horizontal. São interpretadas 
como deposição de duna eólica, que intercalam estratificações plano-paralelas, que são 
interpretadas como sedimentação interdunais. (Figura 18). 
Figura 18. Formação Piauí. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022 
 Os arenitos róseos são recobertos por folhelhos vermelhos, que intercalam marcas 
de onda e gretas de ressecamento. Ocorrem na parte central da bacia, e são interpretados 
como de origem lagunar ou lacustre. Os folhelhos avermelhados em variações laterais de 
fácies intercalam carbonatos (Calcário Mocambo). (Figura 19). 
Figura 19. Calcário Mocambo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022 
O tipo de rocha encontrado no segundo local visitado em José de Freitas, é bem 
diferente do calcário Mocambo, apesar de ser também um calcário, a diferença está na 
quantidade de calcário, que é menor, em compensação terá uma maior quantidade de 
siltito, e também uma grande quantidade de matéria orgânica, desta forma ele torna-se 
mais fino e com uma coloração cinza. (Figura 20). 
Figura 20. Rocha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022 
 Ainda pode ser dividida em uma camada mais abaixo- cinza mais escuro, divido 
em dois intervalos: uma parte superior e outra inferior. Mais acima tem uma camada de 
arenito, em vermelho (blocos de areia). Então, a parte de baixo calcário ou calcilutito, 
depois vem argila (no meio), e acima, blocos de arenito. (Figura 21). 
Figura 21. Camadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022 
 Entre os restos de animais passíveis de preservação incluem-se as estruturas 
formadas de sílica (óxido de silício), como as espículas das esponjas; a calcita (carbonato 
de cálcio), como as conchas de muitos moluscos e os corais; a quitina, substância que 
forma o esqueleto dos insetos; e/ou a celulose, encontrada na madeira. (Figura 22). 
Figura 22. Sílica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Bruna Oliveira, 2022 
5. Conclusão 
 Diante das informações aqui enunciadas, percebe-se que o Parque Floresta Fóssil 
de Teresina é um ambiente rico em dados científicos, e seria um ambiente propicio para 
imergir os alunos em aulas de educação ambiental, demonstrar através dos fósseis lá 
encontrados, fatos que marcaram a história do nosso planeta, e até da nossa região. No 
entanto, a área apresenta-se mal conservada (com lixo em toda parte) e totalmente 
desprotegida (sem fiscalização, ou segurança), com as amostras de fósseis totalmente 
vulneráveis à ação dos condicionantes naturais e do vandalismo. 
 Vale ressaltar a importância das aulas de campo, pois desenvolve capacidades nos 
alunos, a citar: observação, coletas de informação, pesquisa, e desenvolve a capacidade 
do(a) aluno(a) de atrelar o conteúdo teórico com a prática. 
 
 
Referências 
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Paleogeografia: Parque Ambiental Floresta Fóssil, Teresina/Piauí-Brasil. v.9. n.1. 
2016. Disponível em: 
https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/8391/
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https://crcfundacpiaui.wordpress.com/2015/04/08/floresta-fossil-do-rio-poti/.Acesso em: 
30 de agosto de 2022. 
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https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/07/19/interna_internacional,974
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https://www.algosobre.com.br/biologia/a-paleoflora-de-teresina.html. Acesso em 30 de 
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PINTO, T. Por que Idade das Pedras? Disponível em: 
https://www.preparaenem.com/historia/por-que-idade-das-pedras.htm. Acesso em 03 de 
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SANTOS, M. E. C. M. S; CARVALHO, M. S. S. Paleontologia das Bacias do 
Parnaíba, Grajaú e São Luis. Reconstituições Paleobiológicas. 2004. Rio de Janeiro.

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