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RESENHA: A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO MAX WEBER ÍNDICE INTRODUÇÃO Ciência e Cultura I.Arte A. Música B. Arquitetura C. Imprensa II. Especialistas 2. Estado 3. Capitalismo 4. Renda 5. Ato de Economia "Capitalista" 6. Técnica e Capitalismo 7. Direito e Capitalismo 8. Características Peculiares do Racionalismo Ocidental 9. Conexões da Ética Econômica Moderna com a Ética Racional do Protestantismo Ascético: Um dos Aspéctos de Relação Causal I PARTE O PROBLEMA CAPÍTULO I Filiação Religiosa e Estratificação Social 10. Problema Histórico 11. Reforma 12. Calvinismo 13. Razão Econômica 14. Ensino 15. Racionalismo Econômico 16. Antíteses entre Catolicismo e Protestantismo 17. Católicos e Protestantes 18. O Calvinismo e a Reforma 19. Velho Protestantismo CAPÍTULO II O Espírito do Capitalismo 20. Espírito Capitalista 21. A História e o Objeto 22. Princípios de Franklin 23. Benjamin Franklin 24. Filosofia da Avareza 25. Jacobo Fugger 26. Utilitarismo 27. Utilidade da Virtude 28. Trabalho ou Negócio? 29. O Senhor Capital 30. Espírito Capitalista e Pré-Capitalista 31. O "Tradicionalismo" e o Moderno Capitalismo 32. Trabalho Qualificado (Intelectual) 33. Formação Religiosa e Educação Econômica 34. A "Satisfação das Necessidades" e o "Lucro" / "Tradicionalismo" 35. Modificações 36. Novo Capitalismo 37. Novos Empresários 38. Relação entre a Conduta Prática e os Princípios Religiosos 39. O "Tipo Ideal" de Empresário Capitalista 40. "Concepção de Mundo" 41. Nominalismo 42. Racionalismo Econômico CAPÍTULO III A Concepção de Vocação de Lutero Tarefa da Investigação 43. "Profissão" ou Vocação? 44. Lutero e o Espírito do Capitalismo 45. Lutero e a Vida Profissional 46. Lutero e a Estrutura Social 47. Tradicionalismo Econômico 48. Trabalho Profissional e Idéias Religiosas 49. Tauler / Lutero 50. Calvinistas, Católicos e Luteranos 51. Calvino e Seitas "Puritanas" 52. Reforma e Capitalismo II PARTE A ÉTICA VOCACIONAL DO PROTESTANTISMO ASCÉTICO CAPÍTULO IV Fundamentos Religiosos Do Ascetísmo Laico 53. Ascetismo 54. Representantes Históricos 55. "Puritanismo" X Anglicanismo 56. Conduta Moral 57. Compêndios Casuísticos 58. Moralidade Ascética e Éticas Não-Dogmáticas A - Calvinismo 59. Predestinação I.Capítulo IX: Do livre arbítrio II. Capítulo III: Do eterno decreto de Deus III.Capítulo X: Da Vocação eficaz IV.Capítulo V: Da Providência 60. Milton 61 Padres da Igreja Luterana 62. Calvinismo X Lutero e o Catolicismo 63. Puritanismo 64. O Mundo 65. A Fé 66. A Religiosidade 67. Vida Religiosa 68. A Ética Católica 69. A Igreja Católica frente ao Homem 70. A Graça Sacramental da Igreja Católica 71. O Destino do Calvinista 72. A Sustentação do Homem 73. Identidade entre Santo Inácio e Calvino 74. Metodização da Vida 75. Oposição entre Asceticismo Calvinista e Medieval 76. Racionalismo do Antigo Testamento 77. Consequência da Metodização B - Pietismo 78. Predestinados 79. A Inauguração do Pietismo 80. O Caráter Histérico da Religiosidade 81. Efeito Prático dos Princópios Pietistas 82. Representantes do Luteranismo Alemão I.Spencer II. Francke III. Zinzendorff 83. Tese Característica de Zinzendorff 84. O Elemento Ascético Racional 85. Idéias Fundamentais do Pietismo 86. A Evolução do Pietismo C - Metodismo 87. Afinidade com o Pietismo Alemão 88. Metodismo X Pietismo Alemão 89. Metodismo X Calvinismo 90. Afinidade entre o Metodismo e o Calvinismo 91. As Obras 92. Metodismo X Igreja Oficial 93. A Concepção de Regeneração D - Seitas Batistas 94. Ética 95. "Idolatria" e Religiosidade 96. Regeneração 97. Predestinação e o Caráter da Ética 98. Movimento Batista e a Vida Profissional 99. Moralidade 100. "Tunker" 101. Concepção Profissional Calvinista 102. Interesses Profissionais Econômicos 103. Efeitos do Calvinismo 104. Mercantilismo 105. Influência da Idéia Puritana sobre a Vida Econômica CAPÍTULO V A Ascese e o Espírito do Capitalismo 106. Ascese 107. Protestantismo e Atividade Econômica 108. Richard Baxter 109. Baxter e Calvino 110. Relação entre Baxter e São Tomás 111. Racionalização do Tempo 112. Racionalização da Conduta Sexual 113. O Trabalho como Fim Absoluto na Vida 114. Relação entre Baxter e São Tomás quanto ao Trabalho 115. Divisão do Trabalho 116. Religiosidade, Interesse Econômico e Profissionalização I. Concepção Econômica II. Baxter 117. Pragmatismo 118. Mentalidade Judáica e Ética Econômica 119. Burguesia Puritana 120. Vida Capitalista 121. Divertimentos Populares 122. Superstições e Irracionalismo de comportamento 123. Uniformização e Capitalismo 124. "Espírito do Capitalismo" 125. "Agricultura Racional" 126. O Moderno "Homem Econômico" 127. Religião e Riqueza 128. Raízes Religiosas e Plenitude Econômica 129. Empresário Burguês, Trabalhador e a Mais-Valia 130. Teoria dos Salários Baixos: Teoria da "Produtividade" 131. Zinzendorff, Seitas Batistas, Trabalho e Enriquecimento como Profissão 132. O Espírito do Ascetismo Cristão 133. Goethe 134. A Realização do Ascetismo 135. Capitalismo Vitorioso 136. Obra Inacabada de Weber, Ele Próprio Não Refutaria Sua Tese SUMÁRIO 137. Um Breve Relato UMA PEQUENA REFLEXÃO INTRODUÇÃO: 1. Ciência e Cultura: Índia, China, Babilônia, Egito através de conhecimentos empíricos pensaram sobre os problemas do mundo e da vida, filósofos racionalistas e teólogos fizeram suas observações, porém foi somente no Ocidente a partir de determinados fenômenos culturais é que pode-se sistematizar de forma pragmática a Ciência. É somente no Ocidente que existe uma ciência jurídica racional, contendo esquemas e categorias jurídicas do Direito romano e do Direito ocidental. I. Arte: A. Música: O mesmo se dá em relação a arte, no caso da música, apesar dos povos terem muitos conhecimentos sobre a mesma, é somente no Ocidente que a música é harmônica racional, onde a orquestra possui seu quarteto de cordas como núcleo da organização de um conjunto de instrumentos, tendo como instrumentos básicos: órgão, piano e violino. B. Arquitetura: Desde a antiguidade, na Ásia e no Oriente, o arco em ojiva foi usado como decoração, porém somente no Ocidente é que se conhece a sua utilização racional no sentido de distribuição de peso, como cobertura de espaços, bem como a utilização em edifícios monumentais, abrangendo a escultura e a pintura pela utilização racional de linhas e de perspectiva espacial e da luz. C. Imprensa: Na China havia a tipografia, mas só no Ocidente que existe uma literatura da impressão, como a de revistas e jornais. II. Especialistas: Na China e no Islão havia Ensino Superior bem semelhantes a Universidades e Academias do Ocidente, porém não havia o ensino sistematizado e racional no sentido de formar especialistas, bem como o funcionário especializado, que é de muita importância para o Estado moderno e para a moderna economia européia. O funcionário especializado fora do Ocidente não tem nenhuma importância para a ordem social. A cultura ocidental é rechassada por conter uma enorme organização de funcionários especializados, desde técnicos a jurídicos, como elementos vitais do funcionamento da vida social. 2. Estado: O Estado estamental só existe na Europa e somente no Ocidente existem Parlamentos com "representantes do povo" eleitos, com demagogos e governo de líderes com ministros responsáveis perante o parlamento. É natural que no mundo existam "partidos"no sentido de organizações que querem conquistar o mundo, ter poder. No ocidente, é que existe o "Estado" como organização política com uma "Constituição" racionalmente estabelecida, com um direito racionalmente instituido e uma administração feita por funcionários especializados. Leis fora do ocidente só existe de forma rudimentar, pois falta a combinação de elementos decisivos. 3. Capitalismo: O capitalismo como poder mais importante da vida moderna busca o lucro, o enriquecimento. A tendência para o enriquecimento, para a obtenção do lucro é cobiçada por vários membros da sociedade: médicos, artistas, funcionários corruptos, soldados, ladrões e muitos mais. Em todas as épocas e em todos os lugares da Terra, em todas as circunstâncias em que exista a possibilidade objetiva de ganhar, de obter lucro, esta tendência para o enriquecimento mostra-se como uma constante. O Capitalismo é o verdadeiro "espírito" da "ambição". O Capitalismo deveria se colocar como moderação racional do impulso irracional lucrativo, porém ele, na verdade, anda de mãos dadas com a ganância do trabalho incessante racional capitalista, a ganância sempre renovada pela rentabilidade. 4. Renda: Dentro da ordem capitalista de economia, o esforço próprio quando não direcionado no sentido de conseguir rentabilidade está condenado ao fracasso. 5. Ato de Economia "Capitalista": Coloca-se na espectativa de uma ganância própria de um jogo com probabilidade de troca, pacífica de lucro. Apesar de ser atual adquirir coisas por meios violentos, com leis próprias, não é oportuno fazê-lo, nem mesmo colocar na mesma categoria a atividade orientada para a troca. O que interessa assinalar é que a atividade econômica consiste em um cálculo de valor obtido para o modo de realização. Nesse sentido, "Capitalismo" e "empresas capitalistas" (com racionalização de cálculo de capital) existem em todos os países civilizados do mundo: China, Índia, Babilônia, Egito, Antigüidade Helênica, Idade Média e Moderna. São economias em contínuo desenvolvimento, gerando empresas capitalistas, "indústrias" estáveis. A empresa capitalista com seu empresário são produto dos tempos mais remotos difundidos universalmente. No Ocidente, o Capitalismo tem uma importância, formas, características e direções que não se tem em nenhum outro lugar. No mundo todo, existem pequenos e grandes comerciantes localizados e difundidos, negócios, bancos com várias funções, consignações e associações. Sempre houve coorporações públicas, elas já haviam aparecido na Babilônia, Grécia, China, Índia, Roma e em muitos outros lugares, estas financiavam guerras e piratarias, para construções de todo tipo: a política ultramarina serviu de empresário colonial, como compradora e cultivadora de plantações com trabalhadores escravos. O aventureiro capitalista desempenhava o papel de administrador das repartições e de impostos. Era o arrendatário, o financiador partidário, inclusive na guerra civil, "especulador" do lucro que nunca deixou de existir. No Ocidente, existe uma forma de capitalismo que não tem em nenhum outro lugar do mundo: a organização racional-capitalista do trabalho formalmente livre. A moderna organização racional do capitalismo europeu não seria possível sem a intervenção dos elementos determinantes de sua evolução: a separação da economia doméstica da indústria e a criação de uma contabilidade racional. A economia doméstica é contrária a economia ocidental. Fora do ocidente não existe organização racional do trabalho, nem mesmo um socialismo racional. Sempre houve "luta de classes" entre credores e devedores, entre latifundiários e despossuídos, entre o servo da gleba e o senhor da terra, entre o comerciante e o consumidor; a luta tem características da Idade Média Ocidental entre os trabalhadores e os exploradores do trabalho, presente em todas as partes. Somente no Ocidente é que ocorre a nova oposição entre o grande empresário e o operário livre, por isso em nenhuma outra parte tenha sido possível a ocorrência do socialismo. No que diz respeito a cultura da história universal, e do ponto de vista econômico o que mais interessa é a origem do capitalismo industrial burguês com a sua organização racional do trabalho livre, isto é, a origem da burguesia ocidental com suas características próprias, pois tem uma relação intrínsica, isto é, identifíca-se com a origem da organização capitalista do trabalho. 6. Técnica e Capitalismo: O capitalismo moderno é influenciado pelos avanços da racionalidade técnica, pelos cálculos exatos; as ciências naturais e racionais com base na matemática e na experimentação tiveram grande impulso motivadas pela técnica e sua aplicação junto a economia propiciou progresso aos capitalistas, que é o resultado econômico desejado pelo Ocidente. 7. Direito e Capitalismo: O desenvolvimento do moderno capitalismo industrial comercial necessita do Direito e da administração, com regras, para que haja uma indústria racional privada com capital fixo e cálculo seguro. Somente no Ocidente é possível um Direito e uma administração com perfeição formal técnico- jurídica. Tal desenvolvimento só foi possível por causa de um "racionalismo" específico e peculiar da civilização ocidental, pois processos de racionalização podem se dar em todas as partes e esferas de vida. 8. Características Peculiares do Racionalismo Ocidental: Estas deram origem ao mesmo. O racionalismo econômico depende da técnica e do Direito racional, bem como da capacidade e apitdão dos homens para determinados tipos de conduta racional. Os elementos mais importantes desta conduta encontam-se no passado, nos poderes mágicos e religiosos e na idéia do dever ético. Este é o ponto central mais importante, isto é, como os mesmos determinam uma "mentalidade econômica", um "ethos" econômico. 9. Conecções da Ética Econômica Moderna com a Ética Racional do Protestantismo Ascético: Um dos Aspectos de Relação Causal: Muitas culturas encontram-se em oposição a civilização ocidental, as conecções da ética religiosa são diversas entre as sociedades, cada país com sua conduta própria, tem suas influências características, que só podem ser captadas se forem confrontadas através de uma investigação etnográfica-folclórica. No aspecto antropológico, é somente no Ocidente que se tem determinados tipos de racionalização, o fundamento para tal encontra-se em determinadas causas hereditárias, na herança biológica. Todo trabalho sociológico e histórico deve descobrir as influências e conecções causais que expliquem as reações às condições ambientais. I PARTE O PROBLEMA CAPÍTULO I Filiação Religiosa e Estratificação Social São aspectos reais que tem poderosa influência na ordem externa, interessando o aspecto prático da religião, isto é, os proprietários do capital, a mão-de-obra mais qualificada, principalmente os tecnicos, os especialistas das modernas emprêsas serem protestantes. Tal consideração deve-se em parte a motivos históricos, que tem suas raízes no passado, onde a filiação religiosa não parece ser a causa de fenômenos econômicos e sim uma consequência dos mesmos. A maioria das nações mais ricas se converteram no século XVI ao protestantismo, os efeitos desta conversão beneficiaram os protestantes na luta econômica pela existência. 10. Problema Histórico: Por que eram estes e não outros que se mostraram predispostos para uma revolução eclesiástica? Possivelmente a ruptura com o tradicionalismo econômico pareceu ser no momento, favorável para uma inclinação da luta contra uma tradição religiosa e que acabou por rebelar-se contra as autoridades tradicionais. 11. Reforma: A Reforma não significava unicamente a eliminação do poder eclesiástico sobre a vida, e sim a substituição de uma forma atual do mesmopor uma diferente, que interferisse de modo maior em todas as esferas da vida pública e privada, regulando a conduta individual. Povos com economia moderna se submetem à Igreja Católica, "a qual castiga o herege mas que é indulgente com o pecador". A forma mais insuportável de controle eclesiástico sobre a vida individual é de domínio do calvinismo no século XVI e XVII em muitos países. 12. Calvinismo: Países economicamente progressivos com classes médias recém "burguesas" aceitaram essa tirania puritana até então desconhecida, inclíndo uma defesa de um heroísmo de que a burguesia não havia dado prova até então. 13. Razão Econômica: A porcentagem de católicos entre alunos e bacharéis dos centros "superiores" são inferiores à proporção demográfica. Bacharéis católicos que se dedicam a preparação para estudos técnicos e profissionais de tipo industrial e mercantil, em geral é inferior ao de protestantes. 14. Ensino: Os católicos preferem formação do tipo humanista, tal fenômeno não se explica por uma causa econômica , pelo contrário, tem que ser levado em conta para explicar a menor participação dos católicos na vida capitalista. O fato dos protestantes se lançarem mais que os católicos para postos superiores em fábricas e na burocracia industrial é porque existe uma relação causal entre a escolha de uma profissão e todo destino anterior a vida profissional que havia sido determinado pela educação de uma aptidão pessoal, em uma direção influenciada por uma atmosfera religiosa da pátria e do lugar. 15. Racionalismo Econômico: Os protestantes mostram singular tendência para o racionalismo econômico, tendência esta não encontrada entre os católicos. A razão de distinta conduta está numa determinada característica pessoal permanente e somente em uma certa situação histórico-política. 16. Antíteses entre Catolicismo e Protestantismo: Os ideais do catolicismo vão em direção a educar seus fiéis no sentido a indiferença para com os bens materiais, enquanto o protestantismo tem o "materialismo" como consequência de uma laicização. 17. Católicos e Protestantes: É explicitado nesta obra que os protestantes colocam em xeque a abnegação dos católicos, o que existe é apenas uma suposta oposição entre os dois, na realidade esta oposição não ocorre, uma vez que ambos participam da atividade capitalista. 18. O Calvinismo e a Reforma: A conjunção de uma educação ascética na juventude com a "virtude" capitalista no sentido dos negócios aliada a uma intensa religiosidade, estão em todos os atos da vida, constituindo grupos inteiros, seitas e igrejas mais importantes do calvinismo em qualquer lugar. Na época da expansão da Reforma, nenhuma religião foi vinculada a uma classe social determinada, pois é característico, "típico" por exemplo que nas igrejas francesas hugonotas, o maior número de seus adptos eram formados por monjes e industriais (comerciantes, artesãos), em toda época da perseguição. Os espanhois sabiam que a "heresia" "favorecia o espírito comercial", estava de acordo com o crescimento capitalista nos Países Baixos. Gothein qualifica a Diáspora calvinista como o "viveiro da economia capitalista". Existe uma conecção religiosa da vida e o desenrolar intenso do espírito comercial. 19. Velho Protestantismo: Lutero, Calvino e outros tem pouco a ver com o que se chama hoje de "progresso", uma vez que eram hostis a muitos aspectos da vida moderna da qual o propósito protestante atual não pode relegar. O parentesco entre o velho e o novo protestantismo não encontra-se nas manifestações do espírito materialista, e sim nas suas características religiosas. Conforme Montesquieu, a contribuição que os ingleses deram ao mundo foram: a religião, o comércio e a liberdade. Tal pensamento coincide com a superioridade da ordem industrial, sua aptidão para a liberdade. CAPÍTULO I O Espírito do Capitalismo 20. Espírito Capitalista: Não é uma definição, um conceito e sim um objeto que se investiga.. Este objeto é a "individualidade histórica", um conjunto de conexões na realidade histórica, que se agrupa conceitualmente como um todo, desde o ponto de vista de sua significação cultural. Seu conteúdo se refere a um fenômeno cuja significação radica-se em sua peculiaridade individual. Tem que se levar em consideração os distintos elementos da realidade histórica, logo a definitiva determinação conceitual só pode se dar ao término da investigação. 21. A História e o Objeto: É uma essencial característica de toda "formação de conceitos históricos", para seus fins metódicos, a articulação em conecções genéticas concretas, de ordem individual. Não se pode definir o objeto de antemão, apenas pode-se ter uma antecipação, uma descrição provisional do mesmo, do "espírito do capitalismo", espírito este que carece de uma relação direta com o religioso, sendo assim, encontra-se "isento de suposições". 22. Princípios de Franklin: - "Pensa que tempo é dinheiro". - "Pensa que crédito é dinheiro" - "Pensa que o dinheiro é fértil e reprodutivo". "Pensa que, segundo este refrão, um bom pagador é dono da bolsa alheia". "Pontualidade e justiça em todos os negócios faz progredir na vida". "As mais insiguinificantes ações podem influir sobre o crédito de um homem, por isto devem ser temidas por ele" "Procurar aparecer sempre como um homem cuidadoso e honrado, assim seu crédito aumentará". "Não deve o homem ter grandes despesas, deve economizar para o futuro". . 23. Benjamin Franklin: Escreve com peculiar estilo, o "espírito do capitalismo", mas sua obra não contém todo o entendimento sobre tal "espírito". Segundo Franklin, o homem tem "espírito capitalista", mas não sabe ganhar dinheiro. 24. Filosofia da Avareza: É o ideal do homem honrado dígno de crédito, e sobre tudo, a idéia de uma obrigação por parte do indivíduo frente a interesses, reconhecido como um fim em sí, de aumentar seu capital. Não se trata apenas de uma técnica e sim de uma "ética" peculiar, não se trata simplesmente de ensinar a "prudência nos negócios" trata-se de um "ethos" que é expresso, e isto é o mais importante a assinalar. 25. Jacobo Fugger: Segundo Fugger, ao se ganhar o bastante, era aconselhável abrir negócio próprio deixando o caminho livre para que outros tivessem a mesma oportunidade. Seu parecer, e sua aspiração de ganho, o "espírito", eram completamente distintos da posição espiritual de Franklin, a qual se manifesta como consequência de um espírito comercial atrevido e de uma inclinação pessoal de indiferença ética. O conceito deste "espírito do capitalismo" é utilizado no moderno capitalismo europeu-ocidental e americano. 26. Utilitarismo: Todas as máximas morais de Franklin foram disvirtuadas no sentido utilitarista: a moralidade é útil porque proporciona crédito, o mesmo ocorre com a pontualidade, a laboriosidade, a moderação, e são virtudes por causa disto, de onde se parte, que a aparência de honradez prestasse idêntico serviço, onde o suficiente seria um parecer honrado. Quando Franklin trata a "conversão" à virtudes, como modéstia, é no sentido dos proveitos que a mesma proporciona, beneficiando concretamente ao indivíduo. O Utilitarismo se baseia na idéia da aparência da virtude, quando assim se consegue o mesmo efeito que com a prática da virtude: consequência esta inseparável do mais estreito utilitarismo. 27. Utilidade da Virtude: Franklin se refere a uma revelação divina, no sentido de haver descoberto a "utilidade" da virtude, desta maneira havia querido mostrar à Deus a via virtuosa, declarando que aqui existe algo mais que a simples envoltura de máximas puramente egocêntricas, por isto mesmo que nesta "ética" há aquisição de mais e mais dinheiro, evitandoo gozo imoderado, como algo isento do ponto de vista utilitário, como um fim em sí, como algo transcendente frente a "felicidade" a utilidade do indivíduo em particular. Não se trata de ganância para as satisfações de necessiadades vitais materiais do homem, e sim o que este deve adquirir, por ser esta a finalidade de sua vida. Trata-se de uma "inversão" antinatural da relação entre o homem e o dinheiro, para o capitalismo, é algo evidente e natural e que ao mesmo tempo, contém uma série de sentimentos em íntima conexão com idéias religiosas. 28. Trabalho ou Negócio? A ganância do dinheiro quando se verifica legalmente, representa, dentro da ordem econômica moderna, o resultado da expressão da virtude do trabalho, e esta virtude, é fácil reconhecer, constitui o cerne da moral de Franklin, tal como ele coloca em todos os seus trabalhos e exposições. É a idéia do dever profissional, de uma obrigação que o indivíduo deve sentir e a sente dentro de sua atividade "profissional", utilizando a própria força de trabalho e "capital", esta idéia é característica da "ética social" da civilização capitalista. 29. O Senhor Capital: É o capitalismo, educa e cria pela via da seleção econômica os sujeitos (empresários e trabalhadores) que necessita. Esta seleção explica os fenômenos históricos. Esta idéia nasceu em grupos de homens. Para o materialismo histórico ingênuo, as "idéias" são "reflexos", "superestruturas" de situações econômicas na vida. Porém deve-se recordar que o "espírito capitalista" já existia antes do "desenrolar do capitalismo". Na Antiguidade e na Idade Média, uma mentalidade como a que expressa nos escritos de Franklin, haveria sido proscrita como expressão de impura avareza, de sentimentos indígnos, como também haveria de sê-lo em todos os grupos não integrados na economia especificamente capitalista ou que não sabem se adaptar a ela. 30. Espírito Capitalista e Pré-Capitalista: A diferença não está no grau de desenvolvimento do impulso de ganhar dinheiro e sim na submissão sem reservas, a um impulso incontrolado. A aquisição capitalista aventureira sempre foi natural em todas as sociedades econômicas que praticassem o comércio monetário, contendo uma ética desvalorizada. Mesmo diante do colapso da tradição a falta de ética não foi encorajada, simplesmente tida como desagradável, como fato dado e infelizmente inevitável. Tal reserva era exposta nos tempos pré- capitalistas, onde a utilização racional do capital e trabalho não haviam constituído-se em forças dominantes da atividade econômica. O capitalismo não pode utilizar como trabalhador o representante prático do liberalismo arbitrário indisciplinado, assim como não pode usar ( como ensinava Franklin) o homem de negócios que não sabe guardar a aparência de escrupolosidade. 31. O "Tradicionalismo" e o Moderno Capitalismo: O "espírito" do capitalismo repousa no sentido de um novo estilo de vida sujeito a certas normas, submetido a uma "ética" determinada. No sentido do salário desejado, tem-se que os salários não aumentaram em relação aos rendimentos dos empresários, pelo contrário, diminuíram por conta da ganância extraordinária dos mesmos. O "tradicionalismo" é expresso na conduta de que o homem quer "por natureza" não é ganhar mais e mais, senão viver pura e simplesmente, como sempre tem vivido, e ganhar o necessário para seguir vivendo. O moderno capitalismo tem a intensão de acrescentar a "produtividade" do trabalho humano aumentando sua intensidade, no sentido de obtenção de lucro. Aumentando a jornada de trabalho, rebaixando os salários para forçar os trabalhadores a trabalhar mais que o devido para que os empresários continuem a obter seu lucro. Assim existe uma correlação entre o baixo nível de salários e o aumento da ganância do empresário. O capitalismo tem como premissa básica que os salários inferiores são "produtivos", uma vez que aumentam o rendimento dos trabalhadores, tal pensamento encontra-se de acordo com o antigo calvinismo, o povo só trabalha demasiado porque é pobre. Salário inferior não é idêntico a trabalho barato. Seguindo neste ponto de vista, o rendimento do trabalhador decaí quando o salário não basta para satisfazer suas necessidades fisiológicas. 32. Trabalho Qualificado (Intelectual): Dentro do ponto de vista comercial, o salário baixo como base de desenvolvimento capitalista fracassa sempre quando se trata de conseguir produtos que exijam um trabalho qualificado (intelectual), neste caso o salário baixo não é rentável e causa efeitos contrários aos pretendidos, assim sendo é necessário levar em consideração a eterna questão de combinar a ganância costumeira com o máximo de comodidade e o mínimo de rendimento, e ainda mais, a prática do trabalho como um fim absoluto, como "profissão". Esta mentalidade é produto de um processo educativo. Para o capitalismo hoje é fácil recrutar trabalhadores em todos países industriais e , dentro de cada país, em todas as esferas da industria, porém no passado, o problema era difícil em cada caso. 33. Formação Religiosa e Educação Econômica: Quando as pessoas possuem uma específica formação religiosa, principalmente aquelas decorrentes da doutrina na predestinação são mais favoráveis a uma educação econômica, se sentem mais "obrigadas" ao trabalho, no sentido econômico, da ganância, em sua quantia, como também possuem um astero domínio sobre sí, uma moderação que aumenta sensivelmente a capacidade do rendimento do trabalho. Deste forma fica provado que é possível considerar o trabalho como um fim em sí, como "profissão", que é o exigido pelo capitalismo, logo é possível superar a parsimônia tradicionalista. Através do capitalismo atual, e de indagações é possível observar épocas distintas da formação do mesmo e fazer conecções da capacidade capitalista de adaptação com os fatores religiosos. 34. A "Satisfação das Necessidades" e o "Lucro" / "Tradicionalismo". O que Sombart chama de sistema da economia de "satisfação das necessidades" coincide com o que se chama de "tradicionalismo". Precisamente quando se compara conceitos "necessidade" e "necessidade tradicional". O que ele chama de "capitalismo" não se encontra na esfera das economias "aquisitivas", entra no âmbito das "economias de satisfação de necessidades". Neste sentido, a expressão "espírito do capitalismo (moderno)" designa uma mentalidade que aspira obter um lucro propiciando sistematicamente uma profissão, uma ganância racionalmente legítima como que exposto por Franklin, é por isto que tal mentalidade tem encontrado sua realização na moderna empresa capitalista, ao mesmo tempo, que esta pode reconhecer o mais adequado impulso espiritual. No século XVI ocorriam tipos de atividade econômica como as grandes exportações que só poderiam se dar na "forma" de empresa capitalista, mas é possível que o "espírito" que animou sua direção fosse de um estreito tradicionalismo; tanto nos negócios, como os grandes bancos de emissão não poderiam ser dirigidos de outro modo; o grande comércio ultramarino durante várias épocas se apoiou em uma base de monopólios, regulamentações de caráter rigorosamente tradicionalista. Os comércios que necessitam de ajuda do Estado, estào em marcha de mudanças, pondo fim ao tradicionalismo, acabando com as formas do antigo sistema de trabalho doméstico. No passado, a ganância era razoável, a suficiente para se viver decentemente e, capaz de contribuir para a formação de um pequeno capital, no geral, os concorrentes davam-se bem entre sí, pela grande coincidência nos princípios do negócio; visitavam-se, bebiam juntos, enfim, tinham um rítmo moderado de vida. Era uma economia "tradicionalista" , se considerar o espírito que animava os empresários: o gênero tradicional de vida, a ganância tradicional, a medida tradicional do trabalho,o modo tradicional de levar o negócio, a relação com os trabalhadores, a clientela tradicional e o modo tradicional de tratar com a mesma, de efetuar transações. Este tradicionalismo dominava a prática do negócio e pode-se dizer que constituia a base de um "ethos" deste tipo de empresário. 35. Modificações: Este bem-estar foi pertubado, se bem que não produziu uma variação fundamental na forma de organização. Tratáva-se de adaptação as novas necessidades e desejos dos compradores, uma "acomodação ao gosto" de cada um, começou-se a colocar em prática o princípio: "preço barato, grande consumo". Desta forma teria início o processo de "racionalização", o início da luta áspera entre os concorrentes, constituição de patrimônios consideráveis, que não eram simplesmente fontes de renda, mas sim voltado para negócios; a vida pacífica deu lugar a uma austera sobriedade, onde havia a preocupação em não gastar para enriquecer. O mais interessante é que não era a influência do dinheiro novo que provocava esta revolução, era o novo espírito, o "espírito do capitalismo" que havia se introduzido. 36. Novo Capitalismo: Quando este desperta e se impõe, cria as possibilidades que lhe servem de meio de ação. Porém este novo espírito não se introduz de modo pacífico. Desconfiança, ódio, indignação moral envolveu os primeiros inovadores. Este "novo estilo" fazia com que o empresário devesse manter domínio sobre sí, e para salvar-se do naufrágio moral e econômico deveria ter extraordinária firmeza de caráter; e além de sua clara visão e de sua capacidade para a ação, este deveria possuir qualidades "éticas" claras para ganhar a confiança indispensável da clientela e dos trabalhadores, devendo ter além disto força suficiente para vencer as inúmeras resistências que ele haveria de se chocar em todos os momentos. E sobre tudo isto este homem deveria ter extraordinária capacidade para o trabalho que se faz necessário para um empresário desta natureza, o que é incompatível com uma vida de prazeres. Este novo espírito encarna qualidades éticas específicas, de natureza distinta as que se adaptam ao tradicionalismo dos tempos passados. 37. Novos Empresários: Nào eram especuladores, e sim escrupulosos, de natureza própria, específica para a aventura econômica, nào eram endinheirados que criaram este novo estilo de vida retraído, porém sendo assim possibilitavam o desenvolvimento da economia. Eram homens educados na dura escola da vida, prudentes e fortes, sobrios e perseverantes, entregues ao trabalho com devoção, com concepções e "princípios" rigidamente burgueses. 38. Relação entre a Conduta Prática e os Princípios Religiosos: Muitos acreditam que qualidades morais pessoais não tem nada a ver com determinadas máximas éticas, com pensamentos religiosos, e que portanto, o fundamento próprio do sentido mercantilista da vida é de caráter negativo, e quando relacionados é também de caráter negativo. 39. O "Tipo Ideal" de Empresário Capitalista: Nada tem haver com ostentação grosseira ou refinada, evita o gôzo de seu poder, embaraça-se quando reconhecido socialmente. A regra é antes de tudo ser modesto, antes que ser reservado. Sua riqueza não é para sí, existindo somente a sensassão irracional de haver "cumprido" apropriadamente sua obrigação. Atualmente, com nossas instituições políticas, civis e comerciais, com as atuais formas da indústria e a estrutura própria de nossa economia, este "espírito" do capitalismo poderia explicar-se, como produto de adaptação. A ordem econômica capitalista necessita esta entrega a "profissão" de enriquecer, é uma espécie de comportamento perante aos bens externos, adequado a estrutura, ligado a condições de triunfo na luta econômica pela existência, não é possível hoje se falar que exista uma conexão necessária entre esse comportamento prático e uma determinada "concepção unitária do mundo". 40. "Concepção de Mundo": É determinada pela situação dos interesses político-comerciais e político-sociais. Quem não adapta sua conduta prática a condições do êxito capitalista, não consegue enriquecer. Assim como só foi possível o rompimento com as formas de constituição econômica medieval apoiando-se no poder do Estado moderno, o mesmo pode ocorrer em relação aos poderes religiosos. 41. Nominalismo: Alguns moralistas , da escola nominalista, aceitaram como dadas as formas implantadas da vida capitalista, tratando de mostrar sua licitude, sobre a necessidade do comércio, mas provando que a "indústria" desenvolvida constitua uma frente legítima de ganância, eticamente irreprovável, e ao mesmo tempo, falaram da doutrina dominante considerando como lucro inevitável o "espírito" do proveito capitalista, o qual não podiam valorizá-lo do ponto de vista ético. Desta forma, segundo eles, torna-se impossível uma doutrina "ética" como a de B. Franklin. 42. Racionalismo Econômico: É o motivo fundamental da moderna econômia. Conforme Sombart, é um crescimento da produtividade do trabalho que visa romper os estreitos limites "orgânicos" naturalmente dados da pessoa humana, quando submetido todo o processo da produção a pontos de vista científicos. Este processo de racionalização na esfera da técnica e da econômia influê sobre o "ideal de vida" da moderna sociedade burguesa. A idéia de que o trabalho está a serviço de uma racionalização de bens materiais para prover a humanidade, tem estado sempre presente na mente dos representantes do "espírito capitalista" como um dos fins que tem marcado diretrizes a sua atividade. Conforme Franklin escreveu, o racionalismo econômico se dá quando o moderno empresário, com uma alegria vital, de cunho "idealista" , proporcionada pela satisfação do orgulho de "haver dado trabalho" a muitos homens e de ter contribuído para o "florescimento" econômico de sua cidade, no sentido sensitário e comercial vê tal feito como uma das mais importantes finalidades de sua vida profissional. Uma das propriedades da econômia privada capitalista é também estar racionalizada sobre a base do mais estreito cálculo, estar ordenada com planejamento e austeridade, no sentido do êxito econômico aspirado, em oposição ao estilo de vida do campesinato, e do "capitalismo aventureiro", que atende mais ao êxito político e a especulação irracional. CAPÍTULO II A Concepção de Vocação de Lutero Tarefa da Investigação 43. "Profissão " ou Vocação? A palavra "profissão" através de distintas línguas carrega a idéia de uma missão imposta por Deus, não demorou para que todos os povos protestantes adotassem seu significado atual, no sentido de vocação, "dever", "ofício", no sentido puramente profano. Não é somente no sentido literal, mas também como idéia é nova, é produto da Reforma. Nem na Antiguidade, nem na Idade Média a idéia do trabalho implicava na idéia de uma profissão, é novo seu conteúdo de conduta moral, como sentimento de um dever no cumprimento da tarefa profissional no mundo. Como consequência, o sentido sagrado do trabalho é que engendrou o conceito ético-religioso de profissão. Em Lutero, esta idéia se desenrola durante os primeiros dez anos de sua atividade reformadora. Em princípio, seguindo a tradição medieval representada por São Tomás de Aquino, estimava que o trabalho no mundo, quando desejado por Deus, pertence a ordem da matéria sendo como um fundamento natural indispensável da vida religiosa, não suceptível de valoração ética. Segundo Lutero, é evidente que somente a vida contemplativa carece de valor para justificar-se perante Deus, sendo produto de desamor egoísta, por isso é necessário submeter-se ao cumprimento de deveres que precisa-se cumprirno mundo. Surge assim a idéia do trabalho profissional como manifestação palpável de amor ao próximo, onde o cumprimento das tarefas é o único caminho para satisfazer a Deus, e isto ocorre porque assim Deus quer, e que portanto, toda a profissão lícita possue diante de Deus o mesmo valor. 44. Lutero e o Espírito do Capitalismo: Não existe afinidade íntima entre os dois. Os círculos eclesiásticos que fizeram parte da Reforma, não são de modo algum amigos do capitalismo, em nenhum sentido. Ele era contra a usura e os juros. O efeito da Reforma, em contraste com a concepção católica, foi aumentar a ênfase moral e o prêmio religioso para o trabalho secular e profissional. O posterior desenvolvimento da concepção de vocação, passou a depender do desenvolvimento da religiosidade, que daí para frente foi se dividindo nas várias igrejas reformadas. A autoridade da Bíblia, da qual Lutero acreditava retirar a autoridade de sua concepção de vocação, favorecia em seu todo uma interpretação tradicionalista. A aspiração para acumular bens materiais em medida superior a própria necessidade, manisfesta um estado de graça insuficiente, é condenável, e só pode ter realização as custas dos outros. 45. Lutero e a Vida Profissional: Lutero estima o trabalho profissional, a medida que se engendra nas disputas e nos negócios deste mundo. O exercício de uma determinada profissão constitui um mandamento que Deus dirige a cada um, obrigando a permanecer na situação em que se encontre colocado pela divina providência. 46. Lutero e a Estrutura Social: Este tipo de conceito de estrutura social é típico da Idade Média, uma concepção tradicionalista análoga a idéia de "destino"; cada qual deve permanecer na profissão no estado em que seja colocado por Deus de uma vez para sempre e conter dentro destes limites todas as aspirações e esforços deste mundo. 47. Tradicionalismo Econômico: É resultado dessa estrutura social, que em princípio era resultado de uma indiferença, e que mais tarde passou a ser fruto da crença cada vez mais forte na predestinação, que identifica a obediência incondicional aos preceitos divinos, e a incondicional resignação como é posto em que cada qual se encontra situado no mundo. 48. Trabalho Profissional e Idéias Religiosas: Lutero baseou-se em princípios novos fundamentais para a vinculação do trabalho profissional com as idéias religiosas. A pureza da doutrina, como o único critério infalível de sua Igreja, afirmada por ele, cada vez mais rígidamente depois de vinte anos de luta, constituía em sí mesma um obstáculo para desenvolver pontos de vista novos no terreno ético. Desse modo, o conceito de profissão manteve todavia em Lutero um caráter tradicionalista. 49. Tauler / Lutero: A ética religiosa medieval traz a idéia de profissão no sentido luterano. Assim como Lutero, Tauler valorizava as profissões intelectuais e profanas e, em geral estimava menos as formas tradicionais do trabalho ascético, e consequentemente não gostava do valor exclusivo reconhecido da recepção estático-contemplativa do espírito divino pela alma. 50. Calvinistas, Católicos e Luteranos: A reforma seria inimaginável sem a evolução personalíssima de Lutero e a própria personalidade deste é que deu um selo permanente; porém sua obra não seria duradoura sem o calvinismo. Por esta razão é que os católicos e luteranos aborreciam-se igualmente com o calvinismo, a raiz está em sua ética. A relação entre a vida religiosa e as obras deste mundo é do tipo essencialmente distinto entre calvinistas, católicos e luteranos. Tal aspecto aparece incluso na literatura religiosa. 51. Calvino e Seitas "Puritanas": Quando se investiga as relações entre a antiga ética protestante e a evolução do espírito capitalista parte-se das criações de Calvino, do calvinismo e de outras seitas "puritanas", não pretende-se afirmar que os fundadores, representantes destas se encontrem no despertar do que se chama "espírito do capitalismo", como finalidade de seus trabalhos e atividades vitais. Nenhum deles considerava a aspiração aos bens terrenos como um valor ético, como um fim em sí. Nenhum dos reformadores deu importância primordial aos programas de reforma moral, não eram fundadores de associações de cultura ética nem representavam aspirações humanitárias de reforma social e de ideais de cultura. A salvação da alma e só isto era o desejo de Calvino, desejo de sua vida e sua ação. Suas aspirações éticas e os efeitos práticos de sua doutrina tinham uma finalidade primordial e eram meras consequências de princípios exclusivamente religiosos. Por isto os efeitos da Reforma na ordem da civilização, por preponderantes que se queira considerar, eram consequências imprevistas e espontâneas do trabalho dos reformadores desviadas e diretamente contrárias a que eles pensavam e se propunham. 52. Reforma e Capitalismo: Para que fosse possível a sobrevivência da novas Igrejas criadas, é evidente que deveria cooperar incontáveis condições históricas, que não se engajam em nenhuma "lei econômica", e são radicalmente insuceptíveis de ser consideradas do ponto de vista econômico; e sobre tudo influênciariam politicamente. Seria igualmente absurdo defender teses doutrinárias segundo a qual o "espírito capitalista" só poderia ter nascido por influência da Reforma, como que o capitalismo fosse um produto da mesma. Em primeiro lugar, existem formas importantes de econômia capitalista que são notoriamente anteriores a Reforma, e isto desmente as teses pretendidas. É importante assinalar a existência de influências religiosas na expansão quantitativa daquele "espírito" sobre o mundo, e que aspectos concretos da civilização capitalista se devem a elas. Dada a variedade de recíprocas influências entre os fundamentos materiais, as formas de organização político-social e o conteúdo espiritual das distintas épocas da Reforma, a investigação há de concretizar-se a fim de estabelecer se haviam existido e em que pontos, "afinidades eletivas" entre certas modalidades da fé religiosa e a ética profissional. II PARTE A Ética Vocacional Do Protestantismo Ascético CAPÍTULO IV Fundamentos Religiosos Do Ascetismo Laico 53. Ascetismo: Conjunto de práticas de abstinência com fins espirituais ou religiosos. 54. Representantes Históricos: Os representantes históricos do protestantismo ascético são fundamentalmente quatro: Calvinismo, Pietismo, Metodismo e as seitas que derivam do movimento Batista. O Metodismo nasceu dentro da Igreja oficial anglicana e depois se separou da mesma. O Pietismo veio do Calvinismo inglês e singurlamente do holandês, mais tarde se incorporou ao Luteranismo por razões dogmáticas, e mais tarde se converteu no Metodismo contra sua vontade. 55. "Puritanismo" X Anglicanismo: A massa de seguidores, como os defensores do movimento ascético, que em seu sentido mais amplo foi definido como "puritanismo" atacaram os fundamentos do Anglicanismo. A oposição dava-se principalmente pelas diferenças dogmáticas relativas a justificação e a predestinação, mesclando-se nas mais variadas combinações e de ordinário, impediam no começo do século XVII a manutenção de uma comunidade eclesiástica. 56. Conduta moral: As manifestações mais importantes da conduta moral encontram-se ao mesmo tempo em todas as seitas surgidas de uma ou da combinação de várias assinaladas anteriormente. As mesmas máximas morais, podem apoiar-se em fundamentos dogmáticos diferentes. 57. Compêndios Casuísticos: Eram escritos que constituíam uma preciosa ajuda para a cura das almas. Em relação a esses, haviam grandes semelhanças entre distintas seitas, porém diferiam notoriamente no modo de comportar- se na vida. 58. Moralidade Ascética e Éticas Não-Dogmáticas: Raízes dogmáticas da moralidade ascética, tãodistintas entre sí deixaram de existir depois de sérias lutas, porém a conexão com esses dogmas deixou a posteriori traços nas éticas não-dogmáticas, além disso, o conhecimento original de idéias pode clarear a conexão desta moralidade com a idéia do Além que estava presente entre os homens espirituais da época. Sem o poder onipotente não poderia realizar-se nehuma moral, isto é, não seria possível revolução ética alguma de modo a influir na vida. O homem daquele tempo meditava sobre dogmas aparentemente abstratos numa medida somente compreensível quando se descobre sua conexão com interesses práticos da religiosidade. A - Calvinismo É uma idéia religiosa, que foi determinante de muitas lutas em torno da religião e da cultura nos países civilizados mais progressivos do ponto de vista do capitalismo (Países Baixos, Inglaterra e França) durante os séculos XVI e XVII. Seu dogma característico é a "predestinação", é o dogma mais "essencial" da Igreja reformada. 59. Predestinação: I. Capítulo IX: Do livre arbítrio: Quando o homem caí em pecado, perde a capacidade de encaminhar-se ao bem espiritual e a salvação, de modo que afastado do bem e morto no pecado, não é capaz de converter-se e nem de preparar- se. II. Capítulo III: Do eterno decreto de Deus: Para revelar sua magestade, Deus por seu decreto destinou (predestinou) a uns homens a vida eterna e setenciou a outros a eterna morte. Aos que estão destinados à vida tem sido eleitos em Cristo para a glória eterna por Deus, antes da criação, por seu desígnio eterno e imutável, por seu decreto secreto e o arbítrio de sua vontade, por livre amor e graça, tudo é prêmio de sua graça soberana. Conforme a vontade de Deus, aos restantes mortais, seguindo o desígnio de sua vontade, ele distribuí e se reserva o direito de negar, condena-os a desonra e à ira por seu pecado para a honra de seu ilimitado poder sobre as criaturas. III. Capítulo X: Da vocação eficaz: É do agrado de Deus chamar por sua palavra e seu espírito a todos aqueles a quem destinou a vida, e somente a estes, no tempo conveniente e determinado por ele, tirando-lhes seus corações de pedra e dando-lhes um coração de carne, renovando suas vontades e decidindo-lhes, por sua firmeza onipotente, a optar pelo que é bom. IV. Capítulo V: Da Providência: No que diz respeito aos homens maus e impuros, aos que Deus como juíz justo, ele os afasta de sua graça, e por vezes lhes tira os dons que tinham e os põem em relação aos objetos de suas corrupções na ocasião de pecado, entregando-lhes aos seus próprios prazeres, as tentações do mundo e ao poder de Satanás, de onde sucede que se endurecem e pelos mesmos meios se serve Deus para abrandar aos outros. 60. Milton: Sua opinião sobre a doutrina: "Mesmo que possa ser mandado para o inferno por isto, tal vontade divina nunca receberá meu respeito". Ele ainda dizia no Paraíso Perdido: "Antes reinar no Inferno, do que servir no Paraíso". 61. Padres da Igreja Luterana: Era dogma que a graça podia perder-se, mas poderia-se recuperá-la por meio da humildade e do arrependimento, a confiança crescente na palavra de Deus e nos sacramentos. 62. Calvino X Lutero e o Catolicismo: Ao contrário de Lutero, a direção de seu pensamento lógico está em seus interesses religiosos, orientado somente à Deus e não aos homens, para ele somente um pequeno número de homens é chamado a salvar-se. Deus é livre e sua decisão não está submetida a lei alguma. O destino dos homens a Deus pertence, para além do entendimento humano, os condenados, ou os excomulgados podiam pertencer a Igreja, mas somente no sentido de submeter-se à sua disciplina, para a glória de Deus, mas não podiam salvar-se. Neste sentido existia a eliminação da salvação através da Igreja e dos sacramentos, esta era a diferença central entre o calvinismo e o catolicismo.. 63. Puritanismo: Rejeitava cerimônias religiosas ou rituais na hora da morte, para não ser reestabelecida superstições em forças de salvação mágicas. O indivíduo vive uma solidão interna, que leva a atitude negativa do puritanismo onde a cultura e a religiosidade são inúteis para salvação propiciando um individualismo pessimista, onde nem mesmo se concebe a existência de uma possível amizade entre os homens, devendo-se desconfiar de tudo e de todos, apenas ter Deus como confidente, levando ao desaparecimento da confissão e consequentemente ao isolamento espiritual. 64. O Mundo: Existe apenas para a glorificação de Deus, o homem está inserido no mundo para aumentar a glória de Deus, as obras sociais destinadas a Deus, aparecem como vocações, sob a forma de "amor ao próximo", objetivo, imparcial, intelectualizado, representando um valor ético diante do cosmos. 65. A Fé: Cada homem a princípio é escolhido por Deus, desta forma combate todas as dúvidas e ao demônio, sua autoconfiança resulta de sua fé que fortalece a dedicação na luta diária pela vida dinamizando o mercado capitalista através de uma incessante atividade profissional. 66. A Religiosidade: É o mais firme apoio a realidade, contribuíndo indiretamente para a racionalização da conduta prática. 67. Vida Religiosa: Em Lutero tende para o misticismo e para a emotividade, em Calvino para a ação ascética, onde o estado de graça tem haver com resultados objetivos, de obras realizadas por conta de uma conduta eficaz constante, significando que Deus ajuda a quem se ajuda a sí mesmo. O calvinista crê por sí mesmo a sua própria salvação, assegurando a sí mesmo, consistindo num sistemático auto-controle, cada dia encontra-se ante a alternativa: eleito ou condenado? 68. A Ética Católica: Na Idade Média, era a "ética da intenção", onde o valor de cada ação decidia sua concreta intenção, e cada ação boa ou má, era imputada a seu autor, influenciando sobre seu destino temporal e eterno. 69. A Igreja Católica Frente ao Homem: Seu pensamento tinha critério realista, que o homem não constituia em absoluto uma unidade determinada e valorosa dentro de um único ponto de vista, senão que, normalmente, a conduta humana é algo contraditório, por influência de motivações opostas. Mesmo assim a Igreja exigia do homem uma radical mudança de vida e quando este homem não correspondia ao ideal, a mesma através de seu poder e educação aplicava o instrumento do sacramento da penitência. 70. A Graça Sacramental da Igreja Católica: Estava a disposição do católico como meio de compensar sua própria insuficiência: O sacredote era um mago que fazia milagres, que tinha em suas mãos a chave do perdão, podía-se pedir ajuda a ele com humildade e arrependimento, e ele administrava penitências e outorgava esperanças de graça, segurança de perdão e garantia a emancipação da terrível angústia. 71. O Destino do Calvinista: Era inexorável, nada podia redimí-lo, não haviam conselhos amistosos e humanos e de forma alguma existia reparação por meio de boas obras das horas de debilidade e leviandade. As boas obras para o calvinista encontrava-se em sua "santidade", não havia oscilação entre o pecado, o arrependimento, a penitência, não existia um estabelecimento de um saldo expiatório por penas temporais e canceladas por meios eclesiásticos da graça. 72. A Sustentação do Homem: O que sustenta o homem é uma planificação e uma metodização, uma transformação no sentido da vida em cada hora e em cada ação. A vida do "santo" se encaminha para uma única finalidade: a salvação, por isso é que na vida tudo é racionalizado e dominado pela idéia exclusiva de aumentar a glória de Deus. Somente uma vida guiada por uma constante reflexão pode ser considerada como superação do status natural. Esta racionalização propiciou o caráter ascético e ao mesmo tempo, constitui a razão de sua íntima semelhança e de sua específica oposicão ao catolicismo,ao qual, naturalmente, não era estranha uma atitude semelhante. 73. Identidade entre Santo Inácio e Calvino: Ativo domínio de sí mesmo, reservado auto-controle, educação no sentido de levar uma vida alerta, clara e consciente, onde a tarefa principal repousava em se terminar com a despreocupação e com a espontaneidade vital. 74. Metodização da Vida: É a base do poder liberador do asceticismo, explica a maior capacidade do calvinismo frente ao luteranismo, no sentido de assegurar a consistência da Igreja reformada como eclesiástica militante. 75. Oposição entre Asceticismo Calvinista e Medieval: Radica-se na transformação do asceticismo sobrenatural em uma atividade "profana", terrena. A ordem terceira de São Francisco, por exemplo, era um potente ensaio de penetração ascética na prática cotidiana da vida, diferentemente da Idade Média, onde o monge era separado do mundo, das relações sociais. A Reforma veio converter cada cristão a monge por toda a sua vida, através da comprovação da fé na vida profissional. Os espíritos mais religiosos receberam impulso decisivo que os orientavam na prática do asceticismo, ao mesmo tempo, a fundamentação da ética profissional na doutrina da predestinação fez surgir no lugar da aristocracia espiritual dos monges situados fora da vida uma outra aristocracia, a dos "santos" no mundo, predestinados por Deus desde a eternidade, a qual estava separada do resto dos homens, condenados também desde a eternidade, por um abismo insondável e profundo. A "Bibliocracia" dos calvinistas manteve tanto os preceitos morais do Velho Testamento como apreço aos do Nôvo Testamento. 76. Racionalismo do Antigo Testamento: Possuía um caráter tradicionalista e pequeno burguês, Benjamin Franklin oferece um exemplo clássico, uma contabilidade sinóptico-estadística dos progressos realizados por ele em cada uma das virtudes. 77. Consequência desta Metodização: A consequência desta metodização da conduta ética, imposta pelo calvinismo (não pelo luteranismo), era uma penetrante cristianização de toda a existência, e esta radica a característica mais decisiva da reforma calvinista. A religiosidade calvinista, pressupõe a doutrina da predestinação como fundamento dogmático da ética puritana. A fé como ponto de partida da moral metódica mediante a doutrina da predestinação alcança sua praticidade na vida constituíndo-se na forma mais consequente da mesma. Dentro do protestantismo, as consequências desta doutrina sobre a conduta ética de seus adeptos, constitui a mais radical antítese em relação a uma certa impotência ética do luteranismo. B - Pietismo Historicamente, a idéia da predestinação constitui o ponto de partida da direção ascética que se designa correntemente como "pietismo". Este movimento se manteve somente dentro da Igreja reformada, existem calvinistas pietistas e não-pietistas. Representantes mais notáveis do puritanismo foram tidos como pietistas, portanto considera-se como uma prolongação pietista a doutrina de Calvino, que tem por intenção a conexão da idéia de comprovação da doutrina da predestinação, com a aspiração a adquirir uma certitudo salutis subjetiva. 78. Predestinados: Os predestinados eram acometidos por erros dogmáticos, e por outros pecados, a experiência ensinava que cristãos desorientados na teologia dogmática produziam os frutos mais maduros da fé, enquanto que o mero conhecimento teológico não implicava na segurança de uma regeneração, logo, o saber teológico não era garantia a eleição. 79. A Inauguração do Pietismo: Deu-se com desconfiança na Igreja dos teólogos, a que permaneceu fiel oficialmente, limitando- se a agrupar os adeptos da praxis pietatis em "conventículos" apartados do mundo. A ecclesiola dos verdadeiros convertidos podiam alcançar neste mundo a bem-aventurança, pois a prática ascética realizava a comunidade com Deus. Esta aspiração tinha alguma semelhança com a unio mystica luterana e favorecia certa preponderância do aspecto sentimental da religião, isto é o que caracteriza o pietismo dentro da Igreja reformada, pois o fator sentimental da religiosidade, orientou a prática da religião pela via do gozo terreno da bem-aventurança afastando-a da luta ascética pela segurança de um mundo futuro. 80. O Caráter Histérico da Religiosidade: Por causa do fator sentimental, muitas vezes a religiosidade foi exarcebada, através de estados de êxtasis religiosos, o que é oposto a austera e rígida disciplina que impunha ao homem puritano uma vida "santa" e sistemática. A idéia na predestinação podia converter-se em fatalismo quando era objeto de apropriação por parte dos afetos e dos sentimentos, em oposição as tendências genuínas da religiosidade calvinista racional. 81. Efeito Prático dos Princípios Pietistas: O único efeito prático dos princípios pietistas foi um controle ascético da conduta profissional muito mais severo com enraizamento mais religioso da ética profissional, do que podia ter a simples "honradez" dos cristãos reformados normais, a quem os pietistas "finos" consideravam cristãos de segunda categoria. 82. Representantes do Luteranismo Alemão: Spencer, Francke e Zinzendorff. I. Spencer : É influenciado pelos místicos, a doutrina carecia de coesão e tratou mais de descrever do que fundamentar o caráter sistemático da conduta cristã. II. Francke: Segundo ele, o trabalho profissional era um meio ascético por excelência; para ele era tão seguro, como para os puritanos, que Deus abençou dando-lhes êxito em seu trabalho. A tese sustentada por ele era que a graça só podia acontecer em algumas manifestações ocasionais e peculiares, porém trazendo "luta expiatória". III. Zinzendorff: A valorização religiosa de sí mesmo, o conduz a antiga idéia do "instrumento de Deus". Expressou com espírito puritano, a opinião de que apesar de um homem não reconhecer seu estado de graça, outros podem fazê-lo através de sua conduta. 83. Tese Característica de Zinzendorff: A ingenuidade do sentimento religioso é prova de sua autenticidade, desprezando o racionalismo da conduta. Aspira que os homens sintam a "felicidade" nesta vida, por meio do sentimento, em lugar de forçar-lhes ao trabalho racional como modo de assegurar uma outra vida. Este foi um freio para a criação de uma ética profissional racional análoga a calvinista. 84. O Elemento Ascético-Racional: No geral, dentro do pietismo, o elemento ascético-racional manteve a primasia sobre o fator sentimental. Existe uma insegurança do pietismo alemão, uma vacilação de seu ascetismo religioso em contraste com a férrea consequência do calvinismo que é devido a influências luteranas e ao caráter sentimental de sua religiosidade 85. Idéias Fundamentais do Pietismo: 1) A significação do estado de graça consiste no desenvolvimento da própria santificação no sentido de uma consolidação e perfeição crescente, controlado pela lei. 2) A providência de Deus é a que "opera" no homem perfeito, dando-se a conhecer na paciente perserverança e na reflexão metódica. 86. A Evolução do Pietismo: Na busca da salvação, não é decisivo tanto a "santificação" prática mas a "remissão dos pecados", existe a necessidade de sentir nesta vida a reconciliação e a comunidade com Deus. No todo, a evolução do pietismo, de Spencer, Francke e Zinzendorff se orientou no sentido de uma crescente acentuação do fator sentimental. O calvinismo em comparação, está mais relacionado com o legalismo e com a emprêsa capitalista burguêsa. C - O Metodismo É o pietismo continental caracterizado pela união da religiosidade sentimental, com a crescente indiferença e uma repulsa pelos fundamentos dogmáticos do asceticismo calvinista. Consiste na "metodização" sistemáticada conduta como meio de alcançar a certitudo salutis, é o que interessa em todos os momentos, em toda tendência religiosa. 87. Afinidade com o Pietismo Alemão: Está no "método" aplicado especialmente para produzir o ato sentimental da "conversão" sobre as massas. Em reuniões públicas, através de êxtases religiosos buscava-se a consciência da justificação e a reconciliação com Deus. 88. Metodismo X Pietismo Alemão: A diferença está no caráter emocional da religiosidade do metodismo que não deu lugar a um cristianismo sentimental puramente interior, a regenração dá um enfoque religioso a conduta prática. 89. Metodismo X Calvinismo: Enquanto no calvinismo se considerava enganoso a exarcebação do sentimento, para o metodismo, é o fundamento incontrovertido da certitudo salutis, da segurança absoluta do agraciado, sentida por ele, derivada do testemunho direto do espírito e cuja origem devia constatar cada dia e cada hora. A finalidade da "santificação" é difícil ser alcançada nesta vida, porém deve ser aspirada incondicionalmente, por ser ela a garantia da certittudo salutis. Embora o auto-testemunho seja decisivo, existe a necessidade da conduta "santa" inspirada na lei. 90. Afinidade entre o Metodismo e o Calvinismo: O significado da conduta era o mesmo, indispensável para controlar a verdadeira conversão. 91. As Obras: São fundamentos cognoscitivos do estado de graça, sendo realizadas exclusivamente para a glória de Deus, foram consideradas como "condição da graça", insistindo em que quem não realiza boas obras não pode ser um bom crente. Aspira racionalmente à perfeição. 92. Metodismo X Igreja Oficial: A principal diferença não estava na doutrina e sim na prática da piedade. O valor do "fruto" da fé apoiado no Evangelho de São João, I, 3, 9, considerou a conduta como claro significado da regeneração. Cada luta expiatória se unia a segurança da perseverança, havia uma segurança inabalável em ser "santo", levando a uma exaltação sentimental do tipo puritana. 93. A Concepção de Regeneração: Constitui-se na segurança da salvação nascida sentimentalmente como fruto da fé, como fundamento imprescindível da santificação, com sua consequência de liberdade, contra o poder do pecado, como prova do estado de graça. O metodismo passou a ser a doutrina da graça e da eleição. D - As Seitas Batistas 94. Ética: A ética se encontra numa base diferente da doutrina calvinista. Constiui-se na apropriação interior da obra da redenção, realizada por intermédio da revelação individual, pela ação do espírito divino em cada caso. Frente a isso perdia a importância o valor da fé como conhecimento da doutrina da Igreja como meio de receber a divina graça pelo arrependimento. Como a verdadeira Igreja de Cristo, só os regenerados são irmãos de Cristo. Uma rígida bibliocracia imperava como modelo exemplar de vida e como consequência, uma estrita separação do "mundo". 95. "Idolatria" e Religiosidade: Existia uma repulsa radical a "idolatria", era pretendida uma tenuação da veneração que só a Deus se deve, a conduta bíblica tem um caráter análogo a da conduta franciscana, onde a importância em última instância era do testemunho interior do Espírito da razão e da consciência, não concebia a doutrina eclesiástica da salvação desvalorizando os sacramentos, elevando o "desencantamento" religioso do mundo, acabou com batismo e comunhão. 96. Regeneração: Operada pelo Espírito, quando entrega-se interiormente a ele, pode ser removido o pecado, não era regra geral alcançar a perfeição, mas a aspiração é a "pureza", no sentido da conduta. O afastamento do mundo, de seus interesses e a incondicional submissão à Deus que manda a consciência eram significados seguros de uma regeneração real, e a conduta correspondente era, portanto, um requisito para se conquistar as bem-aventuranças (dom gratuíto da graça divina). 97. Predestinação e o Caráter da Ética: Esta doutrina foi abandonada, o caráter metódico da ética se baseava em "aguardar" a ação de Deus, essa silenciosa espera consiste em superar o instinto irracional, as paixões e "subjetividades" do "homem natural". 98. Movimento Batista e a Vida Profissional: A ação calma do homem possibilitou uma educação na serenidade do trabalho reflexivo e na prática cuidadosa do exame individual da consciência e a consequência foi que a prática de virtudes como serenidade, austeridade e honradez, acabaram por fazer parte do trabalho profissional, respeitando a propriedade privada, colaborando para o desenvolvimento de aspectos básicos do espírito do capitalismo. 99. Moralidade: Era rígida e severa, desde Lutero, se condenava o ascetismo sobrenatural monástico, considerando-o contrário ao espírito bíblico. 100. "Tunker": Esta seita batista condena a educação, e qualquer posse além do indispensável à vida. 101. Concepção Profissional Calvinista: A concepção profissional calvinista era análoga a que se encontrava em Spencer e nos pietistas alemães. 102. Interesses Profissionais Econômicos: 1) Não aceitação de cargos públicos 2) Hostilidade a qualquer estilo aristocrático de vida 103. Efeitos do Calvinismo: Desencadearam as energias econômicas individuais, o lucro imoderado. 104. Mercantilismo: O controle, verdadeiramente policial e inquisitorial, que as Igrejas oficiais calvinistas implantaram sobre a vida individual, podia melhor constituir na expansão das energias individuais requerida pela aspiração ascética de santificação metódica, e assim ocorreu em certas circunstâncias. Assim a regulamentação mercantilista do Estado pode implantar indústrias novas, porém não foi capaz de engendrar diretamente o "espírito capitalista", pode-se até dizer que constituiu em um freio, pois essa regulamentação exagerou seu caráter policial-autoritário. Assim também a regulamentaçào eclesiástica do ascetismo forçou a realização de uma conduta externa, porém refreiou os impulsos subjetivos que havia na conduta metódica. 105. Influência da Idéia Puritana Sobre a Vida Econômica: A doutrina do "estado religioso de graça", como um status que afastava o homem do "mundo" não podia dar-se por meios mágico-sacramentais, nem pela confissão, nem pela piedade e sim pela comprovação de mudança de vida, clara, diferenciada da conduta do "homem natural", seguía-se que a partir daí, o indivíduo controlava metodicamente sua conduta e portanto ascetizava seu comportamento na vida. porém este estilo de vida racionalizava a existência, de acordo com os princípios divinos. Este ascetismo consistia numa realização exigida a quem pretendesse ser "santo", na vida do mundo. Esta racionalização da conduta no mundo com finalidade para além deste mundo foi o efeito da concepçào que o protestantismo ascético teve da profissão. CAPÍTULV A Ascese e o Espírito do Capitalismo 106. Ascese: Exercício prático que leva efetiva realização da virtude. 107. Prostestantismo e Atividade Econômica: Para perceber as conexões das idéias religiosas do protestantismo ascético com as máximas da atividade econômica, deve-se recorrer aos escritos teológicos diretamente inspirados na prática da cura das almas; pois em uma época em que as preocupações sobre a outra vida era tudo, em que a admissão a comunhão dependia da posicão social do cristianismo, e em que a ação do sacerdote exercia uma influência da qual apenas pode-se formar idéia sobre os homens de hoje, é evidente que as energias religiosas que operam nesta prática haviam de ser necessariamente os fatores decisivos na formação do "caráter popular". 108. Richard Baxter: Representante do puritanismo inglês, nasceu no seio do calvinismo, deu a idéia de profissão seu fundamento mais consequente. De posição prática e irônica, presbiteriano, emancipou-seda tutela dogmática da ortodoxia calvinista, contrário a usurpaçào de Cronwell ( por sua hostilidade a toda revolução, sectário e fanático dos "santos"), porém tolerante ante as discrepâncias em matérias não fundamentais e sempre objetivo ante o adversário, buscou seu campo de ação no fomento da vida ético- eclesiástica e por servir esta finalidade, colocou-se a disposição do governo parlamentarista, de Cronwell e da Restauração. Seu Christian Directory é o mais amplo compêndio existente de moral puritana, e, em geral trata de satisfazer as necessidades práticas da cura das almas, acentuando especialmente os elementos ebioníticos do Novo Testamento. Segundo ele a riqueza constitui-se em sí mesma num grave perigo, suas tentações são incessantes, e aspirar a ela não só é um absurdo por comparação com a infinita superioridade do reino de Deus, como é também éticamente reprovável. 109. Baxter e Calvino: Baxter quiz ser mais realista que Calvino, pois seu ascetismo direcionava-se a matar toda a aspiração ao enriquecimento através de bens materiais. Calvino podia até considerar que a riqueza constituía-se num obstáculo para a ação dos clérigos, no entanto, propiciava um aumento de prestígio, e com o lucro podía-se aumentar um patrimônio, porém sob a condição de não ocorrer escândalo. 110. Relação entre Baxter e São Tomás: Os dois acreditam ser reprovável para a moral a existência na riqueza do gozo dos bens, em que a consequência é a sensualidade e a ociosidade levando ao desvio das aspirações à uma vida "santa". 111. Racionalização do Tempo: Baxter considerava pecado a perda de tempo por ser a duração da vida breve e preciosa, sendo condenável do ponto de vista moral, porém não considerava como Franklin que "tempo é dinheiro", mas quando é gasto na vida social rouba-se do trabalho que tem por finalidade servir a glória de Deus. Não aprovava a simples contemplação nem a ociosidade profissional, sendo favorável ao trabalho duro e continuado, corporal e espiritual, sendo meio ascético reconhecido pela Igreja ocidental em todos os tempos, previnindo as tentações. 112. Racionalização da Conduta Sexual: Concebia o sexo somente como um elemento do matrimônio, desejado por Deus, para aumentar sua glória, de acordo com o preceito: "crescei e multiplicai-vos". Era contra a tentação sexual e a angústia religiosa, precrevendo remédios tais como, dieta sóbria, regime vegetariano, banhos frios, porém acima de tudo isso, "trabalhar duramente em sua profissão". 113. O Trabalho como Fim Absoluto na Vida: Prescrito por Deus, aplicando-se incondicionalmente a todos, sentir-se disgostoso no trabalho é prova de falta de estado de graça. 114. Relação entre Basxter e Sào Tomás quanto ao Trabalho: Embora São Tomás tenha interpretado o princípio como Baxter, ele tinha o trabalho como extritamente necessário para a conservação da vida individual e social, pois segundo ele, quando não existe esta finalidade, cessa a validez do princípio, validez genérica, não individual. Deus designou a cada um, sem distinção alguma, uma profissão, que o homem deve conhecer e na qual há de trabalhar, e que não constitui, como no luteranismo, um "destino" que se tem que aceitar e com o qual tem-se que conformar, é um preceito que Deus dirige a todos os homens com a finalidade de promover a própria honra. 115. Divisão do Trabalho: O fenômeno da divisão do trabalho e da estruturação profissional já havia sido interpretado, entre outros, por São Tomás de Aquino como derivação direta do plano divino do mundo. A integração do homem neste cosmos é causa natural e era puramente casual. Para Lutero, a integração do homem na profissão e estando na ordem histórico-objetiva era derivação direta da divina vontade e constituía, portanto, um dever religioso para o homem manter-se dentro dos limites e na situação que Deus lhe havia designado. 116. Religiosidade, Interesse Econômico e Profissionalização: I. Concepção Puritana: A concepção puritana adquire matizes novas quanto ao caráter providencial da interação dos interesses econômicos-privados. Qual era um fim providencial da admissão do homem a uma profissão, se reconhece em seus frutos, segundo o esquema puritano de interpretação pragmática. II. Baxter: Baxter tecia elogios a Adam Smith, no tocante a divisão do trabalho, a especialização das profissões, porque segundo ele, possibilita a destreza do trabalhador, ocorrendo um aumento quantitativo e qualitativo do trabalho promovendo um bem geral.. O ideal é ter uma profissão fixa e não trabalhos ocasionais, a vida de quem carece de profissão não tem o caráter metódico, sistemático, que exige a ascetização da vida no mundo, que é consequência da virtude, uma comprovação do estado de graça da honradez, cuidado e método que se coloca no cumprimento da própria tarefa profissional. 117. Pragmatismo: Uma profissão é útil pela graça de Deus, é determinada em primeiro lugar por critérios éticos e, em segundo, pela importância que tem para a "coletividade" os bens que ela há de produzir, e em terceiro, o mais importante, do ponto de vista prático, o "proveito" econômico que a mesma produz ao indivíduo. É necessário seguir o caminho que Deus mostra no sentido da riqueza, pois não é bom seguir outros caminhos desviando do enriquecimento, porque significa que se colocou obstáculos a vocação negando ser administrador de Deus aceitando os dons para utilizar para seu serviço. Querer ser pobre é querer estar enfermo, seria como santificar as obras e ir contra a glória de Deus. Pode-se trabalhar para ser rico, mas não utilizar a riqueza para serviço da sensualidade e dos pecados, senão para honrar com ela a Deus, sendo este um preceito obrigatório. 118. Mentalidade Judáica e Ética Econômica: Coincide com a do capitalismo "aventureiro" do tipo político-especulativo, seu ethos, é do capitalismo pária, o puritanismo tem o ethos da indústria racional burguesa e da organização racional do trabalho, e só o que se engaja nestes moldes é que foi tomado da ética judáica. 119. Burguesia Puritana: Achava que sua conduta era irreprovável pela graça de Deus, determinando o caráter formalista, austero e correto, próprio dos exemplares representantes daquela época heróica do capitalismo. 120. Vida Capiltalista: O estilo de vida capitalista na concepção puritana de profissão é o ideal de uma conduta ascética. A ascese se dirigia contra a "despreocupação" da existência e agindo-se ao contrário, isto é, mostrando-se preocupado, tería-se alegria. 121. Divertimentos Populares: Os puritanos combateram com fúria a disposição real, que tolerava legalmente certos divertimentos populares no domingo, fora das horas dedicadas ao cumprimento dos deveres religiosos, não só porque pertubava o descanço do sábado, mas porque implicava numa direta oposição a que deve ser ordenada a conduta do "santo". O gozo desenfreado da vida, alheio ao trabalho profissional, era inimigo do ascetismo racional, bem como os jogos, ou uma frequente ida ao baile da taberna, próprio do homem vulgar, existia também uma hostilidade frente aos bens culturais quando disvinculados da vida religiosa, ou mesmo os que causassem polêmica teológica, respeitando porém a ciência. 122. Superstições e Irracionalismo de Comportamento: Os puritanos odiavam a administração mágica da graça, indo também contra o despreocupado sentido artístico da Igreja. Condenavam o teatro, o erotismo, a nudez e todo o modo irracional de comportamento, por não servir a glória de Deus, apenas ao homem.. Empregaram finalidades na utilização de motivos artísticos, e este critério racional foi inclusive aplicado nos trajes pessoais. 123. Uniformização e Capitalismo: A tendência a uniformização que tem conexão com interesses capitalistas na estandartização
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