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1 Estudo Complementar 3 - Aula 17 Elaborado por Maria Evanilda Tomé Valença (Iva) - Tutora a distância de LP2 Revisado por Maristela Botelho França - Coordenadora de LP2 Aprofundando o conceito “Gêneros Discursivos”, na teoria geral dos enunciados (ou teoria dos enunciados humanos) Como vimos no Estudo complementar 2, desta Aula 17, o termo “gênero” passou por várias maneiras de ser concebido: incialmente, no interior dos estudos da Literatura Clássica, com os chamados gêneros literários; passando a ser também conceituado no campo da Linguística Textual, por meio dos gêneros textuais; e, mais recentemente, passando a ter influência da perspectiva da “Teoria dos Enunciados Humanos” (ou “teoria geral dos enunciados”), de Bakhtin, de onde se origina o conceito de gêneros do discurso ou gêneros discursivos. O presente estudo, caro(a) aluno(a), tem como objetivo aprofundar um pouco mais seus conhecimentos a respeito dos “gêneros discursivos”. De onde se origina a necessidade de desenvolver o texto por perspectivas fundamentadas no conceito de “gêneros discursivos”? Bem, retomemos algumas as ideias de Bakhtin (2010), apresentadas no Estudo Complementar 1, desta Aula 17: Atende ao objetivo 3 da Aula 17: Situar o termo “gênero do discurso” na teoria do enunciado dialógico ou teoria dos enunciados humanos. 2 As enunciações existem porque possuem a particularidade de ter um destinatário, de dirigir-se a alguém, portanto, por ter a particularidade de ser dialógica. Segundo argumenta Rojo (2005), a denominação “gêneros do discurso” tem como base a enunciação1 e, portanto, centra-se no estudo dos enunciados/discursos produzidos em sua dimensão social e histórica. Dito de outro modo, os gêneros discursivos se manifestam em enunciados/discursos/textos que ocorrem nos contextos de atividades linguísticas reais, onde as palavras são produzidas em situações de trocas sociais, dialógicas. A partir dessa premissa, consideremos o seguinte: Não há como negar que as interações comunicativas (ou situações discursivas) são diferentes e variadas, uma vez que há, na sociedade, distintas atividades relacionadas com a utilização da língua e que se situam em diferentes áreas das atividades humanas, as quais operam com diferentes modos de produção e compreensão dos discursos. Se os enunciados/discursos/textos são produzidos no interior dessas situações comunicativo-discursivas, diferentes e variadas, eles também são, do mesmo modo, socialmente produzidos. Tais considerações vêm ao encontro da defesa de Bakhtin, segundo a qual os diferentes enunciados (ou diferentes gêneros discursivos) refletem a realidade da vida social e, portanto, são gerados segundo determinada função na sociedade (atrelada às questões da 1 Sobre a “enunciação”, reveja Estudo Complementar 1, desta aula 17. 3 vida cotidiana, de ordem científica, técnica, etc.) e segundo o contexto da comunicação verbal em que se insere. Assim, para Bakhtin, uma vez que os enunciados/textos/discursos só acontecem nas relações interativas e dialógicas entre os sujeitos envolvidos, o termo “gêneros do discurso” está diretamente relacionado à função que essas situações comunicativas ocupam no meio social concreto, ou seja, ele se atrela ao objetivo com elas pretendido. Ora, se na perspectiva dos “gêneros discursivos” os textos/discursos são considerados no seio da vida diária e, portanto, apresentam características das intenções comunicativas existentes nos diferentes contextos da vida social, então, os gêneros discursivos produzidos acompanham as mudanças ocorridas na sociedade e, por esse fato, podem desaparecer e surgir de acordo com tais mudanças. É por isso que a perspectiva dos “gêneros discursivos” trata os textos como enunciados mais ou menos estáveis, já que estes estão relacionados às atividades humanas (sociais, culturais e ideológicas) que são inesgotáveis e que se diferenciam na medida em que se desenvolvem e se transformam. (BAKHTIN, 2010). Portanto, caro(a) aluno(a), a importância de se desenvolver atividades de estudo do texto sob a ótica do conceito de “gêneros Na teoria de Bakhtin (2010), por gêneros entende-se: as práticas comunicativas que são social e historicamente construídas pelos sujeitos que delas participam, porque são influenciadas por fenômenos sociais e dependem da situação comunicativa em que ocorrem. O termo “gêneros do discurso” está diretamente relacionado à função que essas situações comunicativas ocupam no meio social concreto, ou seja, ele se atrela ao objetivo com elas pretendido. 4 discursivos” está em olhar as produções escritas para além de seus aspectos linguísticos, isto é, como produções que expressam diferentes esferas da vida cotidiana social. Qual a definição de “gêneros discursivos”? Quantos e quais são os “gêneros discursivos”? Como vimos, para Bakhtin, os “gêneros discursivos” são enunciados/discursos que ocorrem em esferas das atividades humanas, esferas essas que inúmeras, diferentes, mais ou menos estáveis e que podem aparecer e desaparecer dependendo das necessidades sociais. Exemplos? É possível citar, por exemplo, as esferas escolar, religiosa, familiar, profissional, jurídica, acadêmica, publicitária, etc. No âmbito da esfera escolar é possível produzir enunciados/discursos materializados em textos próprios de situações como reunião de pais e mestres, reunião de professores, conversas de alunos no intervalo/recreio, aula, conversas entre alunos/professores sobre atividades escolares e avaliações, etc.; na esfera religiosa, sermões ou pregações, cerimônias ou cultos, etc.; na esfera jurídica, petições, sentenças, recursos, despachos, etc.; na esfera acadêmica, pesquisa científica, artigos, palestras, congressos, seminários, etc.; na esfera publicitária, propagandas, anúncios, campanhas governamentais ou de organizações não governamentais, e assim por diante. O Portal Digital de Língua Portuguesa da editora Saraiva, 5 denominado “Português Linguagens”, e que é oferecido aos professores, apresenta um exemplo bem ilustrativo. Ao tratar do assunto “O que são gêneros”, lá se diz o seguinte: Quando estamos numa situação de interação verbal, a escolha do gênero não é completamente espontânea, pois leva em conta um conjunto de coerções dadas pela própria situação de comunicação: quem fala, sobre o que fala, com quem fala, com qual finalidade. Por exemplo, se desejamos contar a alguém uma experiência pessoal que vivemos, podemos fazer uso de um relato pessoal; se um jornal pretende contar aos seus leitores os fatos mais importantes da política, faz uso da notícia; se um leitor está insatisfeito com a orientação de sua revista semanal, pode escrever ao editor da revista e reclamar, fazendo uso de uma carta de leitor; se desejamos fazer uma exposição oral a respeito de determinado conhecimento científico, fazemos uso do seminário ou da conferência; se desejamos transmitir a outrem nosso conhecimento sobre como preparar um prato culinário, fazemos uso da receita; e assim por diante. Por conta de toda essa infinita diversidade, Bakhtin (2010) diferencia “gêneros de discursos primários” dos “gêneros de discursos secundários”. Os gêneros primários são formados nos contextos de atividades humanas em que a comunicação discursiva apresenta-se de forma mais imediata (face a face), mais simples, mais informal. De modo geral, referem-se àquelas situações comunicativas espontâneas cotidianas, que são expressas, por exemplo, num bilhete, numa conversa informal, etc. Já, os gêneros secundários são produzidos em atividades humanas culturais que se inseremem contextos mais complexos, com relativo desenvolvimento e organização, além de predominantemente 6 escrito. É o caso dos gêneros artístico, científico, sociopolítico, ideológico, publicitário, dos romances, etc. Como se dá, na prática, a organização dos “gêneros discursivos”? Na visão bakhtiniana, os gêneros do discurso são processos interativos são compostos de três elementos essenciais e indissociáveis: o conteúdo temático, a forma composicional e o estilo de linguagem, todos determinados pela situação de produção em que tais gêneros estão sendo elaborados. Vejamos mais detalhadamente cada um deles (BAKHTIN, 2010): Conteúdo temático – trata-se do tema ou assunto que está relacionado ao que pode ou não ser dito, dependendo do gênero; diz respeito às escolhas e propósitos comunicativos do autor em relação ao assunto abordado. Construção composicional - definida como a estrutura do gênero; diz respeito à organização e ao aspecto formal do gênero (se é um documento oficial, uma carta informal, um notícia, uma receita, etc.). Estilo de linguagem – refere-se à seleção pessoal do autor, ao seu modo de apresentação das palavras (vocabulário), da estrutura das frases; também suas preferências por determinados recursos linguísticos e gramaticais, pelo modo de apresentação do conteúdo (formal/informal), tudo inserido no plano composicional do gênero escolhido. São palavras de Bakhtin: O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma das esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos 7 lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e, sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2010, p. 280, negrito nosso). Referências Bibliográficas: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 5ª ed., 2010. CAPELLO, C. Língua Portuguesa na Educação 2. Módulo 2. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2006. Aula 17, p. 19 - 28. EDITORA SARAIVA. Portal Digital de Língua Portuguesa “Português Linguagens”. O que são gêneros? disponível em: http://sites.editorasaraiva.com.br/portalportugues/default.aspx?mn=2&c=9 4&s=. Acesso: 02/02/2013. ROJO, R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (org.).Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005. p. 184-207. Vídeo YouTube. Gêneros do discurso. Disponível em: http://youtu.be/mB3TwwXsbZg. Acesso: 27/01/2014. Quer aprender mais sobre os “Gêneros Discursivos”? Acesse: http://youtu.be/mB3TwwXsbZg http://youtu.be/mB3TwwXsbZg http://youtu.be/mB3TwwXsbZg
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