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1 Estudo Complementar 1 - Aula 17 Elaborado por Maria Evanilda Tomé Valença (Iva) - Tutora a distância de LP2 Revisado por Maristela Botelho França - Coordenadora de LP2 O enunciado, o discurso e o texto, na teoria geral do enunciado Como vimos em Aulas anteriores, para Bakhtin (2010), a lingua(gem)1 significa ação, interação e diálogo entre as pessoas. Vimos, também, que a essa trama interativa que acontece entre os sujeitos, via lingua(gem), Bakhtin denomina dialogismo ou interação dialógica. Segundo ele, é nas relações dialógicas verbais (nas quais os sujeitos se posicionam com seus conhecimentos e com sua história) que a lingua(gem) vai sendo construída, tanto pela via da produção (produzir falando/escrevendo), quanto pela via da compreensão (compreender lendo/interpretando). Bakhtin argumenta que são essas atividades humanas dialógicas reais que dão o tom à lingua(gem), que a colocam em movimento. Bakhtin (idem) esclarece que, por muito tempo, os gêneros do discurso foram estudados apenas nas áreas da Arte e da Literatura e, desse modo, eles não eram considerados como ato de produção 1 Língua(gem), para se referir à Língua e à Linguagem, ao mesmo tempo. A língua(gem) significa ação, interação e diálogo entre pessoas. A essa trama interativa que acontece entre os sujeitos, via língua(gem), Bakhtin denomina dialogismo ou interação dialógica. São as atividades humanas dialógicas reais que dão o tom à língua(gem), que a colocam em movimento. 2 humana, tal como propõe a teoria dialógica de Bakhtin e, a partir dela, a teoria geral do enunciado. Veja por quê: Por que uma teoria geral do enunciado? Porque Bakhtin concebe o enunciado como unidade real da comunicação verbal. E isso, pelos seguintes motivos: a) O enunciado realiza-se pela a alternância dialógica entre sujeitos. Isso significa que a fronteira entre dois enunciados se encontra no ponto em que a comunicação do locutor termina, dando lugar para a voz do outro, o interlocutor. Por conta disso, Bakhtin defende que o enunciado seja concebido como unidade concreta da comunicação verbal. Por isso, ele propõe uma teoria própria para se estudar o enunciado: a teoria geral do enunciado. b) O enunciado não pode ser confundido com oração. Para Bakhtin, a oração/frase não possui uma relação direta com a vida real, mas apenas com os aspectos relacionados às estruturas gramaticais da língua, sem considerar a realidade dos seus diferentes usos. O enunciado, por outro lado, tem relação direta com a realidade e, portanto, possui significação completa; possui relação direta com os enunciados dos outros, gerando a resposta do interlocutor. Segundo Bakhtin, é por conta dessa confusão que se estabelece entre enunciado e oração/frase que se faz importante uma teoria geral do enunciado, por meio da qual a noção de oração/frase é substituída pela noção de enunciado. 3 Sobre o conceito de Enunciado ou de Enunciação Para Bakhtin (2010), como já vimos, as enunciações existem porque possuem a particularidade de ter um destinatário, de dirigir-se a alguém. Sem essa particularidade que lhe é própria, o enunciado não pode existir. Desse modo, o enunciado (ou a enunciação) é concebido da seguinte forma: o enunciado/enunciação é a comunicação humana real marcada pelos embates interativos reais dos sujeitos nela envolvido, cada um com sua história, sua cultura e sua vida social. Sobre o Discurso Nos termos de Bakhtin, o enunciado (seja ele constituído de uma palavra, uma frase ou uma sequência de frases) é unidade base da língua; portanto, o enunciado é o próprio discurso, já que é nele que o discurso se constrói. Segundo Bakhtin (2010), o discurso só é discurso se surgir dos enunciados dos sujeitos em interação dialógica. Portanto, o discurso não se restringe apenas à materialidade do que se diz, mas, também, a: quem diz, para quem diz, como diz, quando diz, com que intenção diz, etc. Como se vê, caro(a) aluno(a), diferentemente do conceito de texto como orações/frases soltas e desconexas, no enunciado/texto há Por enunciado/enunciação entende- se a comunicação humana real de cada sujeito com suas ideias e sentimentos, marcada pelos embates interativos reais, situados historicamente, culturalmente e socialmente. O enunciado é chamado discurso porque é nele que o discurso se constrói. 4 sempre a necessidade de haver respostas, contra respostas, réplicas. E só assim será discurso. Sobre o Texto Na perspectiva de Bakhtin, o texto, assim como o enunciado/discurso, é considerado um ato humano. Nesse sentido, o texto também ocupa lugar central, pois é considerado o espaço de constituição do sujeito e de relações sociais e, portanto, o texto considerado articulação de discursos. Assim, o objeto de análise dos estudos bakhtinianos é o enunciado com o(s) discurso(s) nele articulados, e que são materializados no texto. Portanto, os termos “enunciado”, “discurso” e “texto” se inter- relacionam e se completam. No caso da relação texto – discurso, a teoria bakhtiniana defende o seguinte: o discurso nada mais é que práticas discursivas materializadas/expressadas no texto, e todo texto é articulação de discursos. A figura 1, abaixo, é bastante ilustrativa. Veja: Figura 1: Relação Discurso - Texto. Fonte: http://linquisticoque.blogspot.com.br/. Acesso: 28/01/2013. O Texto é articulação de discursos; portanto, deve ser entendido e trabalhado em sua dimensão discursiva, como espaço de constituição do sujeito e de relações sociais. http://linquisticoque.blogspot.com.br/ 5 Nessa ótica, para Bakhtin, o texto produz e expressa sentidos, por intermédio: a) das relações que os interlocutores mantêm com a língua e entre si; b) das relações que os interlocutores mantêm com o tema sobre o qual se fala ou escreve, ouve ou lê; c) dos conhecimentos prévios, atitudes e preconceitos; d) do contexto social em que ocorre a interlocução. Tudo isso, é materializado no texto e, por isso, o texto é considerado articulação de discursos. Por que a teoria bakhtiniana não se fixa apenas nos aspectos linguísticos de uma língua, do modo em que eles aparecem na gramática? Porque os enunciados/discursos/textos, por serem produzidos por seres humanos reais, são responsáveis pela ligação da língua com a vida, com a sociedade e com o contexto histórico. Se assim o é, os aspectos puramente linguísticos, por si só, não dão conta; é preciso algo mais, relacionado com a vida real e sua história. Como argumenta Bakhtin, “a língua passa a integrar a vida através dos enunciados concretos (que a realizam); é igualmente através de enunciados concretos que a vida entra na língua”. (BAKHTIN, 2010, p. 265). Daí a necessidade de o texto ser entendido e trabalhado para além dos aspectos puramente linguísticos, isto é, em sua dimensão discursiva, já que as práticas enunciativas são nele materializadas/expressadas. Dito de outro modo, os estudos de Bakhtin propõem que o texto/enunciado/discurso - sendo a expressão da vida Quando o texto expressa juízos de valor, isto é, expressa os sentimentos do autor e de seus de interlocutores que, situados social e historicamente, interagem dialogicamente, esse texto é também considerado enunciado, discurso. 6 cotidiana por meio das ideias e das atividades dialógicas e reais dos sujeitos – deve ser analisado por uma ótica que ultrapasse os aspectos puramente linguísticos, agregando aí a perspectiva dos gêneros discursivos, no interior da teoria geral do enunciado. Desse modo, nos termos de Bakhtin, o domínio competente da língua materna enquanto significação (a composição de seu léxico e sua estrutura gramatical),não se dá pelo que aprendemos nos dicionários e nas gramáticas. Muito mais que isso, tal aprendizado acontece por meio da vivência em enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva, enquanto sentido/tema, que se efetua com os indivíduos concretos e com os quais interagimos. A figura 2, abaixo, ilustra bem o que estamos refletindo aqui: Figura 2: Relação entre texto e enunciado, língua e discurso. Fonte: http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0402/08.htm. Acesso: 28/01/2013. ATENÇÃO: No Estudo Complementar 2, da Aula 5, há uma reflexão mais detalhada sobre a Significação e o Tema. Caso necessite, retome o que está posto lá. 7 E por que é importante tomar o enunciado/discurso, como base de análise, em vez daquele modelo de texto que se fundamenta apenas na linguística textual? Porque, em Bakhtin, o enunciado/discurso/texto emerge da e se realiza nas relações dialógicas marcadas pela multiplicidade de vozes interiorizadas nos diferentes sujeitos, por meio da interação verbal. Explicando melhor: quando colocamos em prática nossos enunciados/discursos (falando, escrevendo, etc.), muitas outras vozes discursivas ali se apresentam, atravessando os nossos enunciados/discursos; ou seja, quando enunciamos, muitas outras vozes, de algum modo, se reproduzem no nosso discurso. E esses enunciados/discursos antecedentes, que permeiam o nosso dizer, não pertencem a alguém em específico, mas ao meio social, cultural e histórico de onde essas vozes ecoam. Referências Bibliográficas: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 5ª ed., 2010. CAPELLO, C. Os gêneros do discurso: as teorias. In: Língua Portuguesa na Educação 2. Módulo 2. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2006. Aula 17, p. 19 - 28.
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