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estudo unidade 2 linguistica avancada

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Uma vez tendo estudado, na unidade anterior, os conceitos de língua, fala, oralidade, escrita e discurso, nos encaminhamos, então, para o estudo da enunciação, texto, enunciador e enunciatário nesta segunda unidade.
Para tanto, abordaremos, inicialmente, Benveniste (1974 apud Neveu 2008, p.119) que analisa um enunciador, num dado quadro espaço-temporal e um enunciatário, pois para o autor a enunciação é “pôr em funcionamento a língua através de um ato individual de utilização”, sendo o produto desse ato, o enunciado. Portanto, a enunciação é uma instância de mediação 
entre língua e fala. Esse ato introduz o locutor, o “eu”, como parâmetro nas condições necessárias da enunciação que pode ser oral, escrita ou estar organizada por meio de múltiplas semioses – ou linguagens. Para o teórico, o que determina a estrutura da enunciação, do diálogo que estabelece, obrigatoriamente, entre um eu e um tu, é o que caracteriza a enunciação, ou seja, a acentuação da relação discursiva. Seus estudos consideram a linguagem a partir da irrepetibilidade, pois para ele a enunciação é única e as condições de pessoa-espaço-tempo são singulares.
O nosso percurso nos guiará pela linguística da enunciação (apresenta variações em sua definição, de acordo com a abordagem tomada) que, em um sentido amplo, trilha pelas correntes de estudo que tomam a concepção de linguagem como processo de interação.
Passaremos pelas perspectivas de alguns dos principais teóricos da enunciação, tais como: o próprio Benveniste, Bakhtin, Foucault e Fiorin - que guiará os estudos sobre enunciação nessa unidade.
Olá. Seja muito bem-vindo(a) à Unidade 2.
Conceito de enunciação 
A variedade individual de utilização da língua se manifesta na escolha que o falante faz em relação a diversos elementos que compõem a produção de um enunciado. Esta escolha depende de vários fatores, como a intenção comunicativa, a experiência linguística do falante, bem como a situação discursiva e os interlocutores presentes. Por exemplo, um falante pode optar por usar certas palavras ou estruturas gramaticais em uma conversa informal como forma de se expressar de maneira mais natural, enquanto, em um contexto formal, ele pode optar por usar outras palavras ou estruturas mais formais. Desta forma, cada falante tem uma variedade individual de utilização da língua, que reflete suas próprias características e experiências linguísticas.
Figura 1 – Enunciação – Enunciado – Enunciador 
Fonte: elaborado pela autora (2023).
Os mecanismos de instauração de pessoas, espaços e tempos no enunciado são dois: embreagem e debreagem.
A Embreagem é um processo de ocultamento ou de negação das categorias de pessoas, espaços e tempos no enunciado. É a ação de reter ou manter essas categorias no interior da instância de enunciação, de forma que elas não sejam projetadas ou tornadas visíveis no enunciado. Como a debreagem, a embreagem também é um mecanismo de instauração de pessoas, espaços e tempos no enunciado, mas ela tem a função de ocultar essas categorias. Acesse o link abaixo para aprender mais assistindo à série sobre enunciação do professor Fiorin.
Enunciação 1 – Conceito de enunciação – TVCULTURA – As três categorias da enunciação – FIORIN.
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A teoria da enunciação busca compreender os fatores que influenciam a produção e a interpretação dos enunciados. Estuda, assim, como o contexto social, ideológico, histórico e cultural condicionam a produção e a interpretação do discurso. Além disso, a enunciação estuda também os marcadores linguísticos que permitem diferenciar os enunciados de um interlocutor ou grupo de interlocutores. Para conhecer mais sobre o tema, veja o link indicado logo abaixo.
Enunciação/enunciado, por Juliana Alves Assis – Glossário CEALE:
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Sempre que você tiver dúvida sobre um termo linguístico, não se preocupe, acesse o link abaixo. Ele te proporcionará uma pesquisa de credibilidade acadêmica em consonância aos termos que você precisará aprender.
Toda vez que precisares pesquisar termos linguísticos, deve-se buscar em sites de credibilidade, como: 
Link(opens in a new tab)
Figura 2 - o enunciado depende da materialidade linguística, mas ele não é uma realidade da língua e sim uma realidade do discurso.
Fonte: elaborado pela autora (2023).
Uma oração, materializada em um enunciado, pode ser compreendida de várias formas, afinal, o sentido do enunciado depende do contexto – dos diferentes fatores contextuais da enunciação, dos conhecimentos linguísticos, das opções de sentido que podem ser projetadas. 
Teoria da enunciação de Bakhtin 
O discurso enunciativo deve ser analisado a partir da esfera social, uma vez que a língua está inserida nessa esfera que proporciona as interações do homem com o mundo. Sendo a linguagem uma forma dialógica, tem-se que toda enunciação será uma resposta à outra enunciação tomada em relação direta com a noção de enunciado.
Para Bakhtin, a enunciação se dá ideologicamente, ou seja, quando inserida em um domínio ideológico, pois advém de influências do marxismo e da filosofia da linguagem, aprofundando-se em uma perspectiva dialética da linguagem. Assim, a teoria bakhtiniana analisa o subjetivismo individualista, o objetivismo abstrato e a relação entre consciência subjetiva e a língua como sistema objetivo de normas. A enunciação se apresenta de forma social e não a partir de condições do sujeito falante, ou seja, o dialogismo é o princípio constitutivo da linguagem, não tomando o discurso como individual, pois esse se constrói entre dois interlocutores, entre dois discursos que mantém relações com outros discursos, sejam esses paralelos ou anteriores. E, por fim, compreende-se que as relações entre discursos e enunciados ocorrem em suas relações com o contexto sócio-histórico ou com o “outro” – psicanalítico.
O enunciado no pensamento de Foucault 
Já entendemos que as unidades de comunicação e interação entre os sujeitos são acontecimentos discursivos e que cada um desses é nomeado enunciado. Também já está claro que o enunciado é a unidade real da comunicação verbal e que é constituída pelas mais variadas formas de expressão linguística.
Agora vamos conhecer o pensamento de Foucault (2005), presente na obra Arqueologia do Saber, acerca do discurso e do enunciado. 
Foucault inicia o seu estudo em busca do que o enunciado não é para assim poder defini-lo. O autor esclarece, então, que a primeira percepção que se tem do enunciado não é segura, isto é, a percepção de que ele é individualizável. Para tanto, o teórico rebate a partir da construção de três interpretações, que verificam esse conceito de enunciado: 1) compreensão dos lógicos sobre a proposição (pode-se ter dois enunciados diferentes em uma mesma proposição); 2) dos gramáticos sobre as frases (um enunciado não pode ser uma frase, uma vez que a estrutura linguística da frase é, de certa forma, rígida); 3) e dos filósofos analistas a respeito do speech act (o ato de fala é o que se produz por meio da enunciação). 
É o enunciado que permite, em um nível diferente, a existência ou não da frase, da proposição, do ato de fala, não tendo, portanto, uma unidade exclusivamente material, mas também linguística. 
Caro (a) aluno (a), para aprimorar seus estudos no assunto referido, sugiro que busque conhecimento em dois livros que podem facilmente ser encontrados na internet de forma gratuita, sendo eles: 
 
A hermenêutica do sujeito – de Michel Foucault.
A Arqueologia do saber – de Michel Foucault.
Fiorin e a trajetória da enunciação 
A linguística da enunciação, assim como outras ciências linguísticas, tem como objetivo principal compreender os processos e mecanismos da língua para que se possa estabelecer uma comunicação eficaz. Essa área busca entender os métodos da enunciação, ou seja, o processo pelo qual o emissor transmite o seu discurso de forma compreensível para o receptor. Ao contrário de outras abordagens da língua, a linguística da enunciação não se preocupa somente com a forma, mas também com o significado. Ela estudao contexto, a intenção do emissor, a forma como são construídas as frases e o efeito que o discurso tem no receptor.
 
Fazem parte da linguística da enunciação estudiosos como Roman Jakobson, Émile Benveniste, Mikhail Bakhtin, Oswald Ducrot, Jacqueline Authier-Revuz, dentre outros. Dos autores mencionados, Benveniste é o que possui maior destaque, sendo considerado o fundador da linguística da enunciação e, portanto, o teórico que guiará nossos estudos a partir das colocações de Fiorin, baseado no que trouxe Benveniste em suas pesquisas.
Conceito de enunciação        
Agora, temos o prazer de entender a enunciação a partir do professor Fiorin, que inicia tratando das três categorias da enunciação: a pessoa, o tempo e o espaço. Ele explica o conceito de enunciação a partir da teoria linguística de Benveniste, que já foi apresentado a vocês.
Para tanto, o professor parte de Saussure, o fundador da linguística moderna, que apresenta a linguagem humana a partir de dois aspectos: um social e um individual. O primeiro sendo tomado como o conhecimento internalizado que temos da língua, e a esse conhecimento partilhado chamou de língua. Já o segundo aspecto é a realização individual, a fala. O que irá interessar a nós, no que concerne os escritos de Saussure, é como o conhecimento era concebido e do que era composto. A primeira observação é de que na língua existem diferenças, que são semânticas e fônicas, permitindo, assim, a criação dos significados e dos sons da língua. Cada língua possui diferenças intrínsecas a si próprias. Um dos exemplos dado por Fiorin (2001) é da palavra “porco” que em português é usada para quando o animal está vivo, em um chiqueiro, ou quando está sendo servido como um prato à mesa. Em inglês, há a diferença da palavra pig – no chiqueiro – e pork – quando está sendo servido como uma refeição. O professor também chama a atenção para as regras combinatórias que apresentarão diferenças.
Fiorin, segue, então, tratando a questão a partir do pensamento de Benveniste (1995), para quem a passagem da língua para a fala se dá por meio da enunciação – o ato de dizer (a apropriação da língua por um ato individual) – e o enunciado que é o dito. Então, para o desenvolvimento de sua teoria, Benveniste (1995) diz que a enunciação é, em primeiro lugar, a instância conjunta de categorias que cria um determinado domínio de mediação entre a língua e a fala. Nesse sentido, se faz necessário esclarecer o que se entender por categoria. Bem, categoria é a noção que vai agrupar uma classe de elementos da realidade que possui características em comum. Exemplo: o substantivo – que é uma categoria.
Benveniste irá então nos dizer que há categorias linguísticas que só ganham sentido quando “EU” tomo a palavra. “EU” é quem fala, portanto, quando eu tomo a palavra, eu sou o “EU”, mas quando ela toma a palavra, ela é o “EU”. Então, na verdade, a enunciação é a instância do ego hic et nunc – eu aqui e agora. O que leva à confirmação de que a enunciação tem um conteúdo linguístico, que são a pessoa, o espaço e o tempo. Além disso, se entende que todas as línguas possuem essas características e o que irá diferencia-las é a forma de expressão, uma vez que toda língua estabelece um “EU”, um aqui e um agora (uma pessoa, um espaço e um tempo). 
Brandão (1993) diz que o conceito de sujeito é baseado na ideia de que o “EU” é a entidade primária na relação entre locutor e alocutário. Isso significa que o “EU” é o sujeito que assume a responsabilidade de falar, enquanto o “TU” é o ouvinte. O “EU” é caracterizado como homogêneo e único, enquanto o “TU” é complementar e essencial. O “EU” é egocêntrico, pois tem ascendência sobre o “TU”. Essa ideia é usada para descrever a estrutura da enunciação, na qual o eu é responsável tanto pela produção da linguagem quanto pelo significado da mensagem.
Esses três elementos – eu, aqui e agora – são chamados de dêiticos – indicadores da pessoa, do tempo e do espaço da enunciação –, sendo também chamados de embreadores, pois colocam em relação ao conhecimento da língua com a situação de enunciação, ou seja, de comunicação.
O autor ainda reforça dizendo que a enunciação é também uma instância logicamente pressuposta pelo enunciado. Então, por exemplo, se existe um enunciado, pressupõe-se que existe um enunciador. Nesse sentido, quando Fiorin (2001) aponta que “A terra é redonda”, isso significa que um pressuposto “EU” confeccionou uma enunciação, enquanto a instância pressuposta se torna o enunciador. O “EU” colocado no enunciado é o narrador. No entanto, este pode dar voz a uma personagem que irá discursar como um pretenso “EU”, que estará em um terceiro nível, sendo apontado como o interlocutor. Um “EU’ sempre irá falar para um “TU”, portanto, para cada nível haverá um “TU” correspondente. 
Podemos explicar assim: o enunciatário é o leitor, um pressuposto, e o narratário é o “TU” a quem o narrador se dirige. Já o interlocutário é o “TU” a quem o interlocutor se dirige, portanto enunciador e enunciatário não seres do mundo real e a enunciação está submetida à ordem da história. Essa colocação é embasada pela colocação de Bakhtin quando diz que um discurso se constitui em oposição a outro discurso e essa relação de oposição dá historicidade a um texto.
Figura 3 – As parte do enunciado
Fonte: elaborado pela autora (2023).
A categoria de pessoa 
Fiorin inicia essa parte nos lembrando o que aprendemos sobre a categoria de pessoa: há 3 pessoas, a 1ª (eu – quem fala); a 2ª (tu – para quem se fala); e a 3ª (ele – de quem se fala) do singular e (nós, vós, eles) do plural. Tudo isso é revisto por Benveniste. Vejamos, então, o que teremos em seguida.
Para Benveniste (1995), o sujeito é aquele que se posiciona na enunciação por meio da utilização de índices formais, como, por exemplo, os pronomes pessoais. O sujeito pode se revelar por meio da instauração de um “EU” e de um “TU”, ambos protagonistas da enunciação. A marca da pessoa é identificada ao se referir a um indivíduo específico.
O professor Fiorin nos diz que para Benveniste o “EU” e o “TU” são as pessoas da enunciação, enquanto o “ELE” é a não pessoa. Da mesma forma, esclarece que o “NÓS” não é o plural de “EU”, mas sim, o plural do “EU” mais uma outra pessoa, isto é, o que se denomina de pessoa ampliada. O autor explica que o “EU” fala sozinho, podendo falar ao mesmo tempo que outra pessoa, contudo, não pode falar junto, enquanto o “VÓS” tem plural, pois o “EU” pode falar sozinho, mas, para uma grande quantidade de pessoas, pode ser também uma pessoa ampliada, à medida em que pode ser “TU” e “ELE” ou “TU” e “ELA”. Já o “ELES” remete, de fato, ao plural. 
A instalação de pessoas no discurso 
Nesse ponto, Fiorin trata da “Debreagem Actancial” – a instalação de pessoas no texto; as pessoas que agem. Observemos, então, a narração em 1ª pessoa ou em 3ª pessoa.
Figura 4 – Debreagem Actancial
Fonte: elaborado pela autora (2023).
Fiorin nos diz que o problema está no motivo pelo qual narramos em 1ª ou em 3ª pessoa, tomando como ponto de partida a narração em 3ª pessoa, dizendo que buscamos o efeito (pois a linguagem não tem uma natureza objetiva, a objetividade é criada por meio dos mecanismos da linguagem) de sentido de objetividade, enquanto narramos em 1ª pessoa para gerar o efeito de sentido de subjetividade.
Passemos, agora, para a Embreagem Actancial, que ocorre quando uma pessoa é usada com o valor da outra. Esse é um dos mecanismos de linguagem que serve para produzir efeitos de sentido. A Embreagem Actancial é uma forma de denegação da instância do enunciado, neutralizando as categorias de pessoa, espaço e tempo. Ela se divide em três tipos: 1) a embreagem actancial serve para neutralizar oposições na categoria de pessoa; 2) a embreagem espacial para neutralizar oposições na categoria de espaço; 3) e a embreagem temporal para neutralizar oposições na categoria de tempo. A embreagem também serve para retornar à instância que o enunciado é pressuposto por ele, produzindo um efeito de identificação entre sujeito do enunciado e sujeitoda enunciação; tempo do enunciado e tempo da enunciação; e espaço do enunciado e espaço da enunciação.
A categoria de tempo 
Fiorin inicia esse tópico dizendo que precisamos distinguir três coisas diferentes sobre o tempo: físico, cronológico e linguístico. O primeiro é o intervalo entre o início e o fim de um movimento. Já o segundo é o que marca um determinado momento do tempo físico, estabelecendo uma sucessão de acontecimentos. E o tempo linguístico é estabelecido no momento da enunciação, que estabelece o agora. O tempo é concomitante ou não concomitante ao momento da enunciação: um presente, um futuro e um pretérito.
A noção de tempo demarcado é o conceito que permite ao falante estabelecer uma relação entre o presente, o passado, ou o futuro da enunciação. É importante destacar que o tempo demarcado da língua não é o mesmo que o tempo crônico, físico, pois é um tempo específico da língua que se organiza a partir de relações entre o presente, o passado, ou o futuro. Dessa forma, o tempo demarcado é caracterizado por uma sucessão de momentos ordenados, que podem ser passado, presente ou futuro, e estão relacionados ao momento da enunciação. O tempo demarcado da língua também é caracterizado por uma duração, que pode ser curta ou longa, e por uma direção, que pode ser retrospectiva ou perspectiva.
A categoria de espaço 
A teoria da enunciação de Fiorin se baseia na ideia de que o espaço é fundamental para dar sentido ao discurso, pois é a partir dele que se estabelecem as relações de sentido entre os enunciados. A sintaxe espacial, portanto, consiste na forma como a enunciação relaciona o espaço da enunciação com o do enunciado, estabelecendo projeções que vão além do espaço físico, abrangendo ainda o espaço social, histórico, simbólico e cultural. Para Fiorin, o uso do espaço na construção do discurso é o que dá significado às palavras e às ações, pois é nele que se estabelecem as relações de sentido entre os enunciados, permitindo a interpretação da fala. 
Ele também aborda as relações entre o espaço e o tempo, destacando que o espaço pode ser entendido como um mecanismo controlador de tempo, pois ao estabelecer limites, traça fronteiras e espaços que são mapeados pelo tempo. No campo da análise do discurso, a discussão espaço-tempo é um importante pilar para explicar a organização do discurso, pois define limitações temporais. Por fim, Fiorin conclui que a análise do espaço na Língua Portuguesa se apresenta como uma hermenêutica do discurso, pois o espaço é capaz de levar ao entendimento dos sentidos implícitos e das intenções daquele que fala.
Portanto, pode-se dizer que o espaço desempenha um papel fundamental na produção de sentido textual, pois pode ser usado para neutralizar o discurso e produzir efeitos de sentido. Ele é um elemento constitutivo do discurso, juntamente com o tempo e o silêncio, desempenhando um papel importante na produção de sentido. As embreagens espaciais são exibidas em dois grupos: entre lugares distintos do sistema enunciativo e entre espaços do sistema enunciativo e enunciado. Por meio desse jogo entre instâncias espaciais, é possível produzir efeitos de sentido.
Fiorin nos diz que o espaço é marcado por um pronome demonstrativo (este, esse), por um advérbio de lugar (aqui, ali) ou por adjunto adverbial de lugar (em Recife), marcando o espaço. Ao contrário das categorias de pessoa e tempo, a de espaço pode ser implícita no texto.
A gramática diz que, em relação à marcação do espaço, é concebido uma forma triádica, ou seja, de três lugares: demonstrativos (este 1ª p., esse 2ª p., aquele 3ª p.). Contudo, o uso traz uma outra noção, que é: este/esse (espaço da enunciação), enquanto aquele é o espaço exterior ao espaço da enunciação. Isso nos leva à instalação do espaço na enunciação que será a debreagem espacial, nos trazendo de volta às debreagens enunciativa e enunciva. O professor nos chama a atenção de que há um aqui que vai marcar os outros espaços, nos dando uma debreagem espacial enunciativa, pois é dada a partir da enunciação. Já a marcação do espaço enunciva será aquela que só está no enunciado, não referida ao aqui da enunciação, ou seja, não tendo nenhuma relação com a enunciação.
A categoria do tempo: a temporalização do discurso 
A temporalidade é fundamental para a compreensão do processo de comunicação. Por meio dela é possível entender o contexto e a intenção do interlocutor, além de estabelecer um vínculo entre o locutor e o ouvinte. Essa temporalidade, porém, não se limita à literalidade do tempo, mas ao modo como o discurso é construído e interpretado. É nesse sentido que o tempo do discurso se torna um fator de intersubjetividade, pois torna o discurso compreensível tanto para o locutor quanto para o ouvinte. Assim, o tempo do discurso possibilita a compreensão mútua entre as partes envolvidas na conversa, tornando o processo de comunicação mais fluído e eficaz. 
As estruturas semionarrativas são responsáveis pela formação da narrativa, isto é, pela organização dos elementos da narrativa, de modo que formem uma estrutura significativa. Elas organizam o texto em gêneros (fábulas, lendas, contos, romances, etc), temas (amor, guerra, solidão, etc), tópicos (ação, personagem, narrador, etc) e lógicas (causalidade, analogia, etc). As estruturas discursivas se ocupam dos aspectos relacionados ao tempo, ao espaço, à personificação, à perspectiva, à voz narrativa e à intenção comunicativa. Elas são responsáveis pelo caráter temporal do discurso, pois estabelecem seu ritmo, sua sequência, sua temporalidade. Assim, a gramática semiótica e narrativa se ocupam da construção das estruturas semióticas e narrativas de superfície, enquanto as estruturas discursivas se ocupam da discursivização das estruturas narrativas. A gramática semiótica e narrativa se preocupam com sintaxe e semântica, e as estruturas discursivas se ocupam com a actorialização, temporalização, espacialização, tematização e figurativização. Ambas são importantes na produção textual, uma vez que a gramática semiótica e a narrativa estabelecem as regras básicas para a criação de textos e as estruturas discursivas permitem a produção de textos mais complexos e ricos.
Segundo Greimas e Courtés (2008), a temporalização pode ser vista como uma estrutura narrativa ou como um processo de instauração de um tempo no discurso. A temporalização é um subcomponente da Sintaxe Discursiva, pois a instauração do tempo no discurso depende da enunciação. A temporalização é o processo de colocação de atores, de um espaço e de um tempo no discurso. O termo "temporalização" é usado porque é a instauração das categorias que denotam tempo no discurso. A temporalização é importante para estabelecer a conexão entre fatos e eventos, pois permite que eles sejam organizados dentro de um contexto temporal. Além disso, a temporalização ajuda a criar sentido e significado para os discursos e narrativas.
Os autores ainda completam que a temporalização é um dos subcomponentes da discursivização (ou Sintaxe Discursiva) que envolve a mobilização de mecanismos de debreagem e embreagem que remetem à instância da enunciação. Estes mecanismos são agrupados em vários subcomponentes, sendo a programação temporal e os procedimentos de debreagem e embreagem temporais os principais. A programação temporal converte o eixo das pressuposições (ordem lógica de encadeamento dos programas narrativos) em eixos de consecuções (ordem temporal e pseudocausal dos acontecimentos). Os procedimentos de debreagem e embreagem temporais segmentam e organizam as estruturas narrativas, enquanto a aspectualização transforma as funções narrativas (do tipo lógico) em processos avaliados pelo olhar de um actante.
Fiorin nos diz que, no momento da enunciação, estabelecemos no texto um marco temporal: presente, pretérito e futuro. Em cada marco temporal desse, os acontecimentos podem ser simultâneos, anteriores ou posteriores, significando, assim, que a língua tem nove tempos, a saber: 
Figura 5 – Os nove tempos da língua
Fonte: elaborado pela autora(2023).
As narrativas podem ocorrer no presente, passado ou futuro e essa é uma escolha linguística. E a escolha causará um efeito, como, por exemplo, se narra no presente e se cria o efeito de um acontecimento se dando no momento da leitura.
GLOSSÁRIO
A categoria do tempo: a temporalização do discurso 
A temporalidade é fundamental para a compreensão do processo de comunicação. Por meio dela é possível entender o contexto e a intenção do interlocutor, além de estabelecer um vínculo entre o locutor e o ouvinte. Essa temporalidade, porém, não se limita à literalidade do tempo, mas ao modo como o discurso é construído e interpretado. É nesse sentido que o tempo do discurso se torna um fator de intersubjetividade, pois torna o discurso compreensível tanto para o locutor quanto para o ouvinte. Assim, o tempo do discurso possibilita a compreensão mútua entre as partes envolvidas na conversa, tornando o processo de comunicação mais fluído e eficaz. 
As estruturas semionarrativas são responsáveis pela formação da narrativa, isto é, pela organização dos elementos da narrativa, de modo que formem uma estrutura significativa. Elas organizam o texto em gêneros (fábulas, lendas, contos, romances, etc), temas (amor, guerra, solidão, etc), tópicos (ação, personagem, narrador, etc) e lógicas (causalidade, analogia, etc). As estruturas discursivas se ocupam dos aspectos relacionados ao tempo, ao espaço, à personificação, à perspectiva, à voz narrativa e à intenção comunicativa. Elas são responsáveis pelo caráter temporal do discurso, pois estabelecem seu ritmo, sua sequência, sua temporalidade. Assim, a gramática semiótica e narrativa se ocupam da construção das estruturas semióticas e narrativas de superfície, enquanto as estruturas discursivas se ocupam da discursivização das estruturas narrativas. A gramática semiótica e narrativa se preocupam com sintaxe e semântica, e as estruturas discursivas se ocupam com a actorialização, temporalização, espacialização, tematização e figurativização. Ambas são importantes na produção textual, uma vez que a gramática semiótica e a narrativa estabelecem as regras básicas para a criação de textos e as estruturas discursivas permitem a produção de textos mais complexos e ricos.
Segundo Greimas e Courtés (2008), a temporalização pode ser vista como uma estrutura narrativa ou como um processo de instauração de um tempo no discurso. A temporalização é um subcomponente da Sintaxe Discursiva, pois a instauração do tempo no discurso depende da enunciação. A temporalização é o processo de colocação de atores, de um espaço e de um tempo no discurso. O termo "temporalização" é usado porque é a instauração das categorias que denotam tempo no discurso. A temporalização é importante para estabelecer a conexão entre fatos e eventos, pois permite que eles sejam organizados dentro de um contexto temporal. Além disso, a temporalização ajuda a criar sentido e significado para os discursos e narrativas.
Os autores ainda completam que a temporalização é um dos subcomponentes da discursivização (ou Sintaxe Discursiva) que envolve a mobilização de mecanismos de debreagem e embreagem que remetem à instância da enunciação. Estes mecanismos são agrupados em vários subcomponentes, sendo a programação temporal e os procedimentos de debreagem e embreagem temporais os principais. A programação temporal converte o eixo das pressuposições (ordem lógica de encadeamento dos programas narrativos) em eixos de consecuções (ordem temporal e pseudocausal dos acontecimentos). Os procedimentos de debreagem e embreagem temporais segmentam e organizam as estruturas narrativas, enquanto a aspectualização transforma as funções narrativas (do tipo lógico) em processos avaliados pelo olhar de um actante.
Fiorin nos diz que, no momento da enunciação, estabelecemos no texto um marco temporal: presente, pretérito e futuro. Em cada marco temporal desse, os acontecimentos podem ser simultâneos, anteriores ou posteriores, significando, assim, que a língua tem nove tempos, a saber: 
Figura 5 – Os nove tempos da língua
Fonte: elaborado pela autora (2023).
As narrativas podem ocorrer no presente, passado ou futuro e essa é uma escolha linguística. E a escolha causará um efeito, como, por exemplo, se narra no presente e se cria o efeito de um acontecimento se dando no momento da leitura.
GLOSSÁRIO
A enunciação é uma atividade realizada a partir da comunicação, pois são necessários um emissor e um receptor para que possa haver um intercâmbio de informações. A enunciação pode ser considerada como uma fala, escrita ou outra forma de comunicação e, portanto, abrange diversos tipos de mídia, desde o diálogo entre duas pessoas ao texto de um livro. Ao realizar a enunciação, o enunciador procura dar sentido ao que está sendo dito ou escrito, ou seja, o objetivo é estabelecer um diálogo efetivo entre emissor e receptor. O enunciatário, por sua vez, deve compreender o sentido do que foi dito para que se possa estabelecer uma comunicação significativa.
Os enunciados podem ser classificados de acordo com a sua função comunicativa, que pode ser declarativa, imperativa, interrogativa e exclamativa. Também é possível classificar os enunciados quanto à estrutura, como, por exemplo, frases simples, frases complexas e frases compostas. Cada enunciado possui uma estrutura específica, que consiste em elementos linguísticos como palavras, sintagmas e orações. Esses elementos se relacionam entre si para formar o sentido do enunciado. Além disso, é importante considerar os elementos não-verbais, que são aqueles que não estão presentes na estrutura do enunciado, mas que têm um papel importante na comunicação, como entonação, gestos e expressões faciais.
José Luiz Fiorin é um linguista brasileiro renomado por suas pesquisas em pragmática, semiótica e análise do discurso. É professor do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e é considerado um dos linguistas brasileiros mais produtivos da atualidade. Seu livro, Elementos de análise do discurso, é amplamente utilizado como referência para estudantes de linguística. Ele se dedica aos estudos da enunciação, estratégias discursivas, constituição do sentido do discurso e do texto, e produção dos discursos sociais verbais.
Émile Benveniste foi um linguista francês que estudou as línguas europeias, estudo esse que lhe concedeu notoriedade, juntamente com a expansão do paradigma linguístico estabelecido por Saussure. Benveniste argumenta que a língua é um sistema de sinais, assim, a linguística deve ser entendida como a ciência da estrutura e função dos sinais da língua. Para ele, a língua não é somente um meio de comunicação, mas é também um sistema simbólico, que é usado para representar nossas ideias e sentimentos. Esta representação é feita através de regras de significação que se encontram na língua. Assim, a linguística é o estudo destas regras e da estrutura da língua. O pesquisador teve sua trajetória interrompida por um acidente vascular cerebral que o tornou afásico.
Acesse o link e você encontrará uma série de artigos e resenhas sobre enunciação, e uma entrevista com Gérard Dessons, a respeito do pensamento de Émile Benveniste. A Revel é uma revista eletrônica de livre acesso, na qual você não só tem acesso às publicações, como também poderá se atentar aos editais e candidatar alguma produção científica sua para submissão e aceite para publicação. Vale conhecê-la!
O mais importante, agora, é que você perceba, nos discursos diários que te rodeiam, os importantes elementos apontados nessa unidade. Observe a enunciação e as condições dessa enunciação empregada por você e por quem se comunica com você. Observe nos jornais, na fala das ruas, na comunicação familiar, profissional, ou seja, na comunicação que te cerca. Observe e analise como cada um desses elementos comunicativos e diários são construídos.
Agora seguem dicas, caso você se interesse por realizar uma pesquisa e análise de enunciados para fins acadêmicos. Você deverárealizar a análise após ter examinado todo o contexto histórico-social e as condições de produção, além de outras variáveis que possam ter influenciado a cosmovisão do autor do enunciado.
Refletindo sobre tudo que foi abordado ao longo da unidade, é possível entender que a enunciação se refere à atividade social e comunicacional, interacional que, por meio da língua, é colocada em funcionamento por meio de um enunciador a um enunciatário, que tem como produto um enunciado. É importante refletir sobre a complexidade do lugar enunciativo que o sujeito ocupa ao seu próprio discurso.
Chegamos ao fim dessa unidade que abordou conceitos e perspectivas importantes acerca da enunciação e suas categorias de pessoa, tempo e espaço, bem como os conceitos enunciado, enunciação e de debreagem enunciativa e enunciva. Vimos que a debreagem e a embreagem são mecanismos de linguagem que têm como objetivo trabalhar as categorias enunciativas de pessoa, espaço e tempo para produzir efeitos diversos na comunicação.
Ficou claro que a teoria do enunciado abarca o estudo do discurso no nível de sua manifestação, sua materialidade, assim como na relação com as intenções dos participantes da interação. Também apresentamos a categoria discursiva, que implica a busca de sentido na inter-relação entre o enunciador, o narrador, o narratário e os atores nomeados pelo discurso. Esta categoria se refere ao uso de gêneros discursivos, que são padrões de organização de discursos, como o noticioso, o opinativo, o poético, entre outros. Esses gêneros orientam a produção de sentidos, pois tendo suas próprias estruturas, com marcas específicas, que possibilitam diferenciar um gênero do outro. E, por último, temos a categoria de intenção, que é composta pelas intenções enunciativas do enunciador.
Resumindo, temos três categorias enunciativas: pessoa, espaço, tempo, bem como a debreagem enunciativa (eu, aqui, agora) e debreagem enunciva (ele, alhures, então).
Agora, estamos prontos para a III unidade, na qual, vamos tratar de ideologia e discurso.

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